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Lógica Aplicada à Advocacia_ Técnica de Persuasão - Edmundo Dantès Nascimento

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r
Índice Geral
Nota à 6a Edição
Nosso pequeno manual de Lógica aplicada à advocacia atinge a 6a edição,
graças a colegas, professores e alunos, e mercê do prestígio da Editora
Saraiva.
Nesta edição, mantivemos o número original de capítulos, e procuramos
privilegiar a sistematização de toda a obra. Assim, reorganizamos e
ampliamos os capítulos, agora expondo opiniões e definições de diferentes
autores sobre um mesmo conceito essencial para o prosseguimento do livro,
objetivando o melhor entendimento dos leitores. Mantivemos, no texto e
nos exercícios, o número de exemplos buscados no Código Civil e no
Código de Processo Civil.
Outra modificação necessária foi a melhoria da divisão de cada capítulo,
com a introdução mais frequente de títulos e subtítulos. A Súmula passa a
ser mais completa em definições e na apresentação. Os exercícios estão
mais variados e um pouco mais difíceis, para proporcionar aos leitores
maior prática no reconhecimento e identificação dos conteúdos.
A Revisora
Á GUISA DE PREFÁCIO
RAZÕES DO PRESENTE LIVRO
Ia) A perfeita colocação de Lógica, indispensável ao estudante e futuro
advogado, está prescrita e justificada por um dos maiores tratadistas de
Filosofia do Direito, nestes termos:
“Há países em que a Lógica é ensinada no primeiro ano de Direito, e outros,
como a França, em que é ensinada no último ano de Liceu. A Lógica é
ciência cujo conhecimento é susceptível de acrescer as qualidades do
advogado, porém deve ser ensinada no curso de Direito, a fim de adaptar-se
às necessidades especiais do jurista, o que não acontece no Liceu. O
advogado, o jurista, precisa de uma Lógica, que é uma Lógica estudada
nessa época da aplicação e do conhecimento do Direito” (Georges
Kalinowski, Sur l’enseignement de la logique dans les facultés de droit, in
Archives de Philosophie de Droit, v. 5, p. 319. Indicação para a Bib. Do
TJSP - E 17 - P. I. - v. 15-2) (Grifo do Autor).
2a) Aos universitários, novos advogados e candidatos a Exame da Ordem,
que não estudaram Lógica anteriormente, pretendemos facilitar o contato de
maneira simples com a arte de raciocinar corretamente e refutar os
raciocínios incorretos.
3â) Longos anos, honrados com a designação para examinador na OAB/SP
em Exame de Ordem e Estágio, na Capital e diversas faculdades do interior,
deram-nos também uma razão para este pequeno manual de Lógica aplicada
à Advocacia. O uso, ou melhor, o abuso dos “formulários” tem apartado os
novos advogados do espírito criador, tem deslustrado inteligências
brilhantes findadas a formas rígidas e quase sempre incorretas,
transmudando o profissional liberal, a cuja classe têm pertencido as
melhores inteligências e culturas do Brasil e do mundo, em mero
preenchedor de espaços vazios dos formulários.
4a) Sem raciocínio, sem técnica de linguagem e de argumentação, sem
estudo de doutrina, o bacharel será, como diz Cícero: “cautus et acautus,
procco actionum, cauto formularum, anceps syllabarum” (De Orator, I —
55). Os romanos denominavam esses “advogados” de rabu-lae,formularii,
legullei, e, os gregos, de “pragmáticos”. Os termos “rábulas” e “leguleios”
têm sentido pejorativo.
5a) Com o estudo de Lógica aplicada à Advocacia, como prescreve G.
Kalinowski, o novo advogado formulará petições iniciais, respostas,
recursos e razões, como será demonstrado neste livro, sem recorrer a
formulários, que jamais poderão abranger a gama incontável de casos; e os
alunos de Direito passarão a metodizar o estudo, principalmente de
Processo, sem recorrer à memorização. Essa nossa opinião fiilcra-se em
quarenta anos de Advocacia, e vinte anos como professor da matéria, nos
quais pudemos observar o aproveitamento e o desenvolvimento dos
estudantes, ao longo de seu curso, após um estudo regular de Lógica.
SISTEMA DE EXPOSIÇÃO
a) O Direito é uma ciência; a Advocacia é uma arte. Essa arte tem como
instrumento principal a Lógica, e, ainda, a auxiliá-la, a Retórica e a
Dialética.
b) Os elementos de Lógica que contém o presente livro estão relacionados
à técnica da arte de advogar tão somente; para tanto quase todos os
exemplos e aplicação dizem respeito àquela arte. Cada parte da Lógica,
termo, proposição e argumento, prende-se ao trabalho do advogado de
requerer, responder, recorrer, argumentar e refutar argumentos.
c) Reduzimos o estudo da Lógica ao essencial para servir à Advocacia.
Não pretendemos escrever uma lógica jurídica ou um curso de Lógica,
todavia aplicar os ensinamentos da Lógica ao mister do advogado. No
mesmo aspecto prático damos uma ligeira noção de Retórica e Dialética.
d) A Retórica volta a ter importância, como técnica de persuasão e,
portanto, interessa à Arte da Advocacia segundo se verifica das publicações
vindas da Europa, v.g.:
“Entre os Antigos assim como entre os Modernos o fim declarado da
Retórica é o de ensinar técnicas de persuasão. A ideia de ‘argumento’ e a de
‘auditório’, são nesse caso essenciais. A ligação com a Dialética, no sentido
pré-hegeliano do termo, é de tal ordem que Aristóteles começa por verificar
sua real confusão. Para o Estagirita as provas dialéticas, que se baseiam na
opinião, são colocadas na obra pelo discurso retórico que deve levar à
adesão” (Jacques Dubois et al., Rhetoriquegénérale, trad. Carlos F. Moisés e
outros, São Paulo, Ed. Cultrix, 1970).
é) A semelhança de quase todos os tratados de Lógica, iniciamos com uma
breve notícia acerca de Filosofia, apenas para situar nossa disciplina dentro
de outra maior.
j) Preferimos a transcrição de autores a uma interpretação de suas ideias,
por dois motivos:
1. o leitor terá a teoria ou opinião integralmente, sem perigo de uma
versão pessoal;
2. os textos integrais contribuirão certamente para a cultura geral e
despertarão no leitor a curiosidade de ler a obra toda.
g) Muita vez, somos propositadamente repetitivos, a fim de não remeter o
leitor a todo o instante para outro capítulo ou página, o que prejudica o
estudo.
h) Cada capítulo é finalizado com uma súmula.
Com o prestígio da Editora Saraiva, a colaboração de nossos colegas e de
professores, de quem receberemos, gratos, críticas e sugestões, aguardamos
que, apesar de muito elementar, sirva a Lógica aplicada à advocacia para
nossa classe, ao menos como iniciação e como ponto de partida para
estudos mais profundos.
O Autor
Capítulo I
Filosofia: Origem do Termo — Definição — Divisão — Métodos
Breve História da Lógica: Parmenides e Aristóteles
Lógica: Origem do Termo — Definição — Divisão — Importância
Os Princípios Lógicos e sua Aplicação à Advocacia
Definição: Nominal e Real -Leis de Definição: Gredt
Divisão: Extensão e Compreensão — Definição -Elementos - Técnicas
- Leis
A Ideia - O Termo - Gênero e Espécie - O Acidente e a Essência
A Possibilidade da Verdade e sua Relação com a Prova e a Sentença
A Ideia e o Termo do Ponto de Vista Lógico - Classificação dos
Termos
EXERCÍCIOS
EXERCÍCIOS
Silogismo: Definição, Composição, Princípios, Regras e Crítica
Silogismo: Tipos - Divisão -Figuras — Regras — Modos legítimos
O Silogismo como Método para Verificação da Verdade de
um Argumento — Peças Processsuais
Argumentos Gerais e Forenses: Definições e Regras. Aristóteles:
Tópicos
Sofisma: Definição - Tipos -Técnicas de Refutação. Aristóteles:
Argumentos Sofísticos
Capítulo XVIII Lógica e Linguagem
A Gramática à Luz da Lógica — O Estilo Lógico
A Retórica e a Dialética — Técnicas de Persuasão
Filosofia: Origem do Termo —
Definição — Divisão — Métodos
ORIGEM DO TERMO
Os primeiros pensadores da Grécia foram os poetas, que interpretaram as
tradições religiosas. São alguns nomes: Hesíodo e Homero, que se
destacaram como criadores de mitos, e o profeta Epimênides de Cnossos.
A filosofia grega começa com Tales de Mileto, um dos Sete Sábios da
Grécia, segundo Aristóteles. Cícero disse na República “que os sábios eram
homens de grande sabedoria e prestígio entre seus contemporâneos; todos
foram versados na administração pública e tinham grande liderança
administrativa; realmente, em nada se aproxima tanto a virtude humanada
divina como a fundação de novas nações ou a conservação daquelas já
fundadas”.
Sabe-se que a maioria dos sábios provinha da próspera Jônia (Ásia Menor,
hojeYenikõy,Turquia), e que viveram entre os anos 428 a 348 a. C. Eles
presenciaram momentos de significativa conturbação interna desde a
remodelação das cidades até a corajosa resistência às invasões de povos
estrangeiros, entre outras dificuldades. Seus nomes:
• Bias de Priene — viveu no século 6 a.C.
• Cleóbulo de Linos — viveu por volta de 600 a.C.
• Periandro de Corinto — 627-584 a.C.
• Pitaco de Mitilene - 650-569 a.C.
• Quilon de Esparta — viveu no século 6 a.C.
• Sólon de Atenas - 640-558 a.C.
• Tales de Mileto - 640-546 a.C.
Tales de Mileto se destacou entre os demais, e, em sua teoria, propôs como
elemento formador do mundo e de todas as coisas a Agua; e alertou para a
verdade: sem água não há Vida. Tales inovou ao não procurar buscar a
origem do mundo na acepção mítica, e sim na totalidade de tudo o que
existe: a Natureza.
O termo Filosofia, atribuído a Pitágoras, é formado por: philo — amar, e
sojia — sabedoria. Para os antigos, sabedoria era, simultaneamente: virtude
e saber. Pitágoras entendia que Filosofia era o termo apropriado para indicar
a sabedoria própria da Divindade.
Os gregos denominavam sojia a sabedoria, e sofos os sábios. Cícero diz que
Heráclides do Ponto - filósofo grego do IV século a.C., discípulo de Platão -
conheceu o pensamento de Pitágoras, filósofo nascido no ano de 570 a.C.,
na ilha de Samos, na região da Ásia Menor (Magna Grécia) e falecido entre
497 e 496 a.C. em Me-taponto (região sul da Itália).
Heráclides do Ponto narra que Leon - príncipe dos Filiásios -ficou
impressionado com o gênio e a eloquência de Pitágoras e perguntou a ele
qual era a ciência que lhe inspirava mais confiança (qua maxime arte
confideret).0 sábio respondeu que não sabia ciência alguma, mas que ele era
Jilósofo (At illum autem quidem se scire nullam sed esse philosophum).
Surpreso pela novidade do nome filósofo, Leon indagou o que eram os
filósofos, e em que se diferençavam de outros homens. Pitágoras respondeu
que “ele compara a vida do homem ao comércio que se faz na assembleia
grega durante a solenidade dos jogos públicos. Uns vão (aos jogos públicos)
para brilhar nos exercícios corporais (ginástica); outros, vendendo ou
comprando, são levados pelo lucro; ao passo que uma terceira classe, a mais
nobre, não procura aplausos nem lucro (qui nec plausum nec lucrum
quaerent), porém (está ah) para observar atentamente o que se faz e como as
coisas se passam.
Na grande feira, uns vão para procurar a glória, outros o dinheiro, porém,
um pequeno número desdenha todo o resto, e se aplica a estudar
profundamente a natureza das coisas (rerum natura studio se in-tuerentur).
Esses homens são chamados estudiosos (ou amigos) da sabedoria, isto é,
filósofos (Hos se appellare sapientiae studiosos id est enim philosophos).
Sob o ponto de vista dos jogos públicos, o partido mais nobre é o que
presencia sem espírito de lucro, e da mesma maneira acontece na vida - o
estudo e a contemplação (conhecimento) das coisas excedem a tudo (sic in
vita longe omnibus studiis contemplationem rerum cognitionem praestare)
(Tusculanarum, Lib. V, III, Virtutem ad beate vivendum se ipsa esse
contentam — Da virtude — ela é suficiente para ser feliz)”.
BREVE HISTÓRICO
A história da Filosofia “é a história do pensamento humano dedicado a
investigar os problemas do Ser no decurso do tempo, elaborar o
conhecimento que satisfaz o anseio de saber, e colocar soluções compatíveis
com a possibilidade das épocas e da capacidade intelectiva do homem, na
imensa problemática da realidade existencial” (Morente, op. cit.).
No mesmo sentido, Aristóteles diz que o desejo de saber é inato no ser
humano e se manifesta na forma de perguntas — como, por quê - desde a
infância. E continua “se o desejo de saber é essencial ao homem, deve,
então ser universal no tempo e no espaço. E esta, de fato, a lição da história;
não há povo em que não se manifeste essa inclinação natural da
inteligência. O desejo de saber é, assim, tão velho quanto a humanidade, e o
conhecimento filosófico é a mais elevada expressão da necessidade de
saber” (Metafísica, cit.).
Para Aristóteles, a Filosofia consiste “em todas as coisas que o homem
conhece, e o conhecimento dessas coisas”. Desde Aristóteles emprega-se a
palavra Filosofia com o sentido de totalidade do conhecimento humano. A
Filosofia até então englobava as coisas divinas e humanas (Scientia
divinamm humanarumque rerum).
Acreditamos que não é apropriado para a didática deste livro discutir as
várias definições de Filosofia, porém, para ilustrar, apresentamos algumas:
DEFINIÇÃO DE VÁRIOS AUTORES
í- A primeira definição tem um sentido etimológico, porém, ainda na
Grécia, o termo Filosofia passou do significado de amor à sabedoria, à
própria sabedoria.
2~ Platão distingue doxa - que é a opinião que temos sem tê-la procurado
— e epistéme — a ciência, o saber que temos porque o procuramos. Para
Platão a palavra filosofia adquire o sentido “de saber racional, reflexivo,
saber adquirido mediante o método dialético” (G. Morente).
3~ Cícero define Filosofia como o “conhecimento das coisas divinas e
humanas e dos princípios e causas de cada fato particular”.
4~ Na Idade Média, a Filosofia designa todo o conhecimento, menos o de
Deus, que era objeto da Teologia.
5~ Na Idade Moderna, a partir do século XVII, o campo da Filosofia
começa a dividir-se, constituindo-se, então, a Matemática, a Física, a
Biologia, e as ciências mais modernas, como a Cibernética. Segundo G.
Morente, “uma ciência se constitui a partir da Filosofia quando deixa de
considerar seu objeto de um ponto de vista universal” (op. cit.).
6~ Morente define Filosofia por exclusão, considerando a sua
complexidade: “Se a todo saber humano lhe tiram as Matemáticas,
a Astronomia, a Química, etc., o que resta disso é a Filosofia” (op. cit.).
7- Jolivet define que a Filosofia “é a mais elevada e a mais perfeita das
ciências, primeiro porque é perfeitamente racional ou sistemática, enquanto
visa descobrir as causas e os princípios primeiros; segundo porque ela
dispõe de método rigoroso apropriado ao seu objeto formal” (op. cit.).
8~ Diante da necessidade de oferecer uma definição, sempre entendendo a
dificuldade de conseguir abranger todo o definido, preferimos a de
Aristóteles: “Filosofia é saber racional; ciência no sentido mais geral do
termo” (Metafísica 1,1).
DIVISÃO
A divisão mais corrente de Filosofia, principalmente entre os autores
didáticos, é a seguinte:
Filosofia
Lógica
Psicologia
Moral
Metafísica
DEZ MÉTODOS EM FILOSOFIA
Como se trata de uma brevíssima introdução à Filosofia para nela incluir a
Lógica, vamos apresentar somente as linhas gerais de dez métodos em
Filosofia, uma vez que o assunto se prende ao objeto deste livro:
Ia O Masdeísmo de Zoroastro (Pérsia, atualmente Irã), o Brama-nismo e o
Livro Yi King que inspira Lao-Tseu (China) e outras manifestações não
representam a Filosofia, e sim religiões, com verdades inegáveis em
qualquer época.
2° A Filosofia Hindu, o Budismo, é Teologia, pois em essência, é um
comentário ou exposição da doutrina de seus livros sagrados, Os Vedas.
Observa-se de estudos orientais na Europa, a apresentação de uma Filosofia
Hindu, que consiste em dar ao conhecimento indu um método filosófico, ou
uma feição filosófica.
3a A Filosofia grega, segundo o testemunho de Aristóteles, como já vimos,
começa com Tales de Mileto, um dos sete sábios, que viveu nos séculos VII
eVI a.C. Somente na Grécia, a Filosofia se distingue da Religião e se torna
independente dela.
4a Anteriormente a Sócrates, os céticos e sofistas dominavam a inteligência.
Protágoras sustentou que tudo é relativo; o conhecimento das coisas é
apenas uma aparência, jamais a realidade. Ora, dizer que a verdade é uma
aparência é o mesmo que dizer que não há verdade. Desse argumento
Górgias Leontino tirou a consequência que nada existee ainda que exista
alguma coisa, ela não pode ser conhecida. A escola é ateísta, pois, se nada
existe, por que afirmar a existência de Deus?
5a Sócrates nasceu em Atenas em 470 e morreu em 400 a.C. Segundo
filósofos cristãos, salvou a Filosofia do ceticismo e dos sofistas (Balmes). A
partir de Sócrates, a Filosofia tornou-se consciente da perfeição no
conhecimento e no culto da divindade, na retidão da conduta e no preparar-
se para receber na vida extraterrena o prêmio das boas ações. Sócrates
denominou seu método “Maiêutica”, que significa interrogação. Sócrates
interrogava diversas pessoas sobre uma questão ou significado de um
termo. Certamente as respostas eram variadas e, desse modo, a definição da
coisa proposta ia-se aprimorando até a possível exatidão. Qualquer de nós
pode experimentar o método, propondo uma questão a diversas pessoas e
verificar que a definição da coisa ou da ideia proposta vai tomando feição
que não percebíamos de início.
6fl De acordo com alguns historiadores, Platão nasceu em Atenas no ano
426 a.C., ou, segundo outros, em 430 a.C. Platão aprimorou o método de
Sócrates e o transformou na Dialética, que se funda “não em opiniões
distintas, mas em uma opinião e sua crítica”, ou ainda, trata-se de “passar
de conceito em conceito, de proposição em proposição até atingir os
conceitos mais gerais e os primeiros princípios” (op. cit.). Parte-se de uma
hipótese que vai sendo melhorada com as críticas. Sabe-se que é no diálogo,
mediante afirmações e negações, que são aprimoradas as ideias. Assim, por
empregar o diálogo, Platão chamou o seu método “dialética”. Verifica-se
que a Dialética de Platão e a Maiêutica de Sócrates conservam o método de
iniciar com uma hipótese ou ideia, e melhorá-la por meio do diálogo.
Ia Aristóteles nasceu em Estagira, na Macedônia, em 384 e morreu em
Chalcis em 322 a.C. Foi discípulo e amigo de Platão. Aristóteles
desenvolveu a Dialética de Platão e a fez mudar de aspecto. Estudou e
fixou-se no movimento da razão intuitiva que, por meio da contraposição de
opiniões, vai passando de uma afirmação a outra, além de buscar as leis por
força das quais se pode fazer essa operação. Aristóteles não foi o inventor
da Lógica, pois Platão, na Dialética, havia concebido uma lógica implícita.
Entretanto, as leis do silogismo e suas figuras representam o pensamento de
Aristóteles, cujo método — a lógica - não mudou em seus aspectos
essenciais. A Filosofia para Aristóteles baseia-se na demonstração da prova:
“uma afirmação que não está provada não é verdadeira” ou pelo menos
“não sei se é ou não verdadeira”.
8flThomaz de Aquino nasceu no reino de Nápoles em 1225 e morreu em
Abadia deVossanova em 1274.E também conhecido como o Doutor
Angélico. A Lógica como método de Filosofia é aplicada rigorosamente na
Idade Média. Thomaz de Aquino, ao examinar uma questão, colocava as
opiniões dos filósofos em colunas separadas, umas contra as outras, e delas
podia extrair o verdadeiro e o falso. Tal método foi adotado pelos tomistas.
9a René Descartes nasceu em La Haye, França, em 1596 e morreu em
Estocolmo em 1650. Até Descartes, o método filosófico se apoiava no
momento posterior, ou seja, depois de obtida uma intuição — afirmação,
proposição ou tese — cabia verificar-lhe a verdade ou a falsidade. Para
Descartes, o método passa a exercitar-se antes de obter a intuição. Seu
método se resume nestes quatro princípios:
1° Princípio — Jamais aceitar como verdadeira coisa alguma que se não
conheça à evidência como tal, quer dizer, evitar a precipitação e a
prevenção, incluindo apenas nos juízos aquilo que se mostrar de modo tão
claro que não subsista nenhuma dúvida.
2° Princípio — Dividir cada dificuldade a ser examinada em tantas partes
quanto for possível, e seja necessário para resolver essas dificuldades.
3~ Princípio — Pôr o pensamento em ordem, começando pelos assuntos
mais simples e mais fáceis de serem conhecidos para atingir paulatina e
gradativamente o conhecimento dos assuntos mais complexos, supondo,
ainda, uma ordem entre os assuntos que não tenham uma ordem normal ou
natural.
4° Princípio — Fazer para cada caso uma enumeração tão exata e previsões
tão gerais que se esteja certo de que nada foi omitido (op. cit.).
10a A intuição e o método discursivo. Para muitos filósofos — cujos
principais são Bergson, Dilthey, Husserl — o único método da Filosofia é o
intuitivo, porque qualquer outro método “falsearia a verdade” (Bergson, op.
cit.).
A. Cuvilher entende por intuição,“o conhecimento direto e imediato de todo
objeto presente ao espírito” e por conhecimento discursivo “aquele que
implica movimento do espírito de um juízo a outro”. E prossegue: “se o
movimento do espírito é dirigido a uma conclusão, temos o Raciocínio”
(op. cit.).
I — Intuição significa visão rápida, percepção instintiva.
Intuição relaciona-se com intuiri — em latim ver, contemplar, fixar — e
significa o conhecimento de uma verdade evidente, de qualquer natureza,
em um único ato do espírito, sem intermediação da demonstração.
A Intuição caracteriza-se pela “forma direta e imediata, ou seja, a saída do
sujeito cognoscente em direção ao objeto, a fim de captar--lhe a natureza
essencial, isento de qualquer intermediação” (Laland, op. cit.).
São dois exemplos de intuição:
a) O princípio da contradição: “uma coisa não pode ser e deixar de ser ao
mesmo tempo”;
b) O princípio de identidade:“A é A, uma coisa é igual a si mesma”.
Ao pensar nesses dois princípios, não há nem pode haver qualquer
demonstração. O espírito conhece essas verdades com uma só visão e modo
direto, mediante uma evidência imediata. Aristóteles diz que “só um vegetal
não pode perceber o princípio de identidade” (op. cit.).
II — Discurso é “a operação intelectual que se efetua por uma série de
operações elementares e parciais e sucessivas” (Laland, op. cit.). Assim,
diz-se discursivo, o raciocínio que atinge a conclusão, ou procura a
conclusão, por meio de operações intermediárias. Ou, em outras palavras, o
método discursivo constitui-se de uma série de atos sucessivos para buscar
a realidade do objeto. E um método indireto.
São dois exemplos:
a) Os homens sensatos são bem-sucedidos; o Diretor é um
homem sensato; logo, o Diretor será bem-sucedido.
Trata-se de uma dedução, porque por meio de duas proposições atingimos
uma conclusão.
b) A Terra é um planeta e não tem luz própria; Marte também é um
planeta, assim como Vénus, Saturno, Urano; logo, os planetas não têm luz
própria.
Trata-se de uma indução, porque mediante uma série de conhecimentos
parciais chegamos a um conhecimento geral. Verifica-se facilmente que o
método discursivo é uma demonstração da verdade que se quer provar.
SUMULA
Filosofia:
1. Origem do Termo.
2. Os Sete Sábios da Grécia.
3. Tales de Mileto: o começo da Filosofia grega.
4. O termo Filosofia: Pitágoras.
5. Heráclides do Ponto.
Breve histórico: Morente e Aristóteles.
Definição de vários autores:
Ia Na Grécia: sabedoria.
2a Platão: saber racional, reflexivo, mediante a Dialética.
3a Cícero: o conhecimento das coisas divinas e humanas.
4a Na Idade Média: todos os conhecimentos, exceto a Teologia.
5a Na Idade Moderna: divisão no campo da Filosofia.
6a Morente: definição por exclusão.
7a Jolivet: a mais elevada e perfeita das ciências.
8a Aristóteles: Filosofia é saber racional; ciência no sentido mais geral do
termo.
Divisão: Lógica, Psicologia, Moral, Metafísica.
Dez métodos em Filosofia:
Ia Masdeismo, o Bramanismo e o Livro Yi King.
2a Filosofia Hindu: Os Vedas 3a Tales de Mileto: Filosofia Grega.
4a Protágoras e Górgias Leontino: Céticos e Sofistas.
5a Sócrates: Maiêutica.
6a Platão: Dialética.
7a Aristóteles: Lógica.
8aThomaz de Aquino: Confronto de Teorias.
9a Descartes: A Dúvida Metódica: os quatro princípios.
10aVários filósofos: a Intuição e o Método Discursivo.
EXERCÍCIOS
Escolha a ou b para preencher corretamente as lacunas:
1. A Filosofia grega começa com_. (a. Pitágoras; b.Tales de Mileto)
2. A inovação atribuídaa Tales de Mileto foi não buscar a origem do
Universo na acepção_, mas sim, na Natureza, (a. mítica; b. mís
tica)
3. Para os antigos, sabedoria era, simultaneamente:_ e saber. (a.
movimento; b. virtude)
4. Aristóteles diz que o desejo de saber, inato no ser humano, se manifesta
na forma de perguntas_?, por quê? (a. onde; b. como).
5. Entre os autores didáticos, a divisão mais usual da Filosofia é: Lógica,
_Moral, Metafísica, (a. Psicologia; b. Pedagogia)
6. Para Aristóteles, “Filosofia é saber racional;_no sentido mais
geral do termo (a. ciência; b. conhecimento)
7. Para Cícero, Filosofia é “o conhecimento das coisas divinas e humanas
e dos princípios e causas de_fato particular”, (a. todo; b. cada)
8. Para Platão a palavra Filosofia adquire o sentido “de saber racional,
reflexivo, saber adquirido mediante o método_”. (a. dialético;
b. discursivo)
9. _denominou seu método Maiêutica, que significa interrogação.
(a. Sócrates; b. Platão).
10. Platão entende que doxa é a opinião que temos_. (a. porque a
procuramos; b. sem tê-la procurado)
11. Para Aristóteles, a Filosofia baseia-se na tração; b. busca)
da prova. (a. demons-
12. Aristóteles fixou-se no movimento da razão intuitiva que, por meio
da_de opiniões, vai passando de uma afirmação a outra. (a.
contraposição; b. justaposição)
13. - aperfeiçoa o método de_ e denomina seu método,
Dialética, (a. Platão, Sócrates; b. Sócrates, Platão).
14. Para Descartes, o método passa a exercitar-se_obter a intui
ção. (a. depois de; b. antes de)
15 Intuição, do latim intuiri — ver, contemplar — significa o conhecimento
de uma verdade evidente, de qualquer natureza, em um
único ato do espírito,_a intermediação da demonstração, (a.
com; b. sem)
Capítulo II
Breve História da Lógica:
Parmenides e Aristóteles
A Lógica surgiu há mais de vinte séculos, embora em tempo anterior aos
gregos, no século VII a.Q, tenha havido a Escola Nyaya, cujo fundador foi
Gautama. A Escola produziu o texto Nyaya-Sutra para expor a construção
de um sistema lógico e analítico, a partir do qual toda a filosofia indiana
teve origem. A Lógica grega, entretanto, surgiu e desenvolveu-se de modo
independente da Escola Nyaya, bastando para tanto observar-se o silogismo
claro e preciso da Lógica de Aristóteles, e o silogismo de Nyaya, com cinco
proposições.
Os gregos foram os inventores no sentido etimológico — isto é,
descobridores - do termo Filosofia. Eles descobriram a razão, e a
empregaram para saber o que as coisas são.
A Filosofia hindu e a Filosofia chinesa são rebgiões, sabedoria popular e
concepções sobre o universo e a vida.
PARMENIDES: O PRINCÍPIO DE IDENTIDADE
Antecedendo Sócrates e Platão, seis séculos antes de Cristo, Parmenides
percebeu a relação entre a coerência do pensamento com a forma do
discurso e descobriu o Princípio de Identidade: todo objeto é idêntico a si
mesmo. Resumindo: o que é, é - o que não é, não é.
Outra forma de expressar este princípio é: A é A, o que significa que “uma
ideia ou conceito é igual a ele mesmo, pelo menos no momento em que se
está reafizando o pensamento” (Nérici, op. cit.).
Para mostrar a importância de Parmênides na evolução da Lógica basta
verificar que uma das bases de sua filosofia compunha-se da aplicação
rigorosa das condições do pensamento à determinação do ser.
ARISTÓTELES: O CRIADOR DA LÓGICA
As raízes da Lógica formal encontram-se na Maiêutica de Sócrates que,
aperfeiçoada por Platão, se tornou a Dialética. Em Platão estão as primeiras
análises do raciocínio. Precedido dos sofistas no estudo do discurso, e por
Platão nas primeiras análises do pensamento, está Aristóteles, fundador da
Lógica sem nenhuma inverdade histórica.
I. G. Nérici explica “que o verdadeiro criador da Lógica é Aristóteles que
lhe deu corpo, sistemarização, baseando a Lógica em princípios tais e tão
sólidos que até hoje são tidos como válidos” (op. cit.).
Marca-se o nascimento da Lógica nos seis livros de Aristóteles:
1. De Proedicamentis (categorias);
2. De interpretatione (juízo e proposição);
3. Analytica Priora (raciocínio indutivo e dedutivo);
4. Analytica Posteriora (raciocínio evidente);
5. De Topicis (raciocínio aplicado aos lugares comuns);
6. De Sophisticis Elenchis (sofismas).
Aristóteles partiu do princípio de identidade - o que é, e - descoberto por
Parmênides para escrever o Organon. Assim como Sócrates criou a
Maiêutica e Platão a Dialética, Aristóteles elaborou o Organon como
instrumento, que lhe permitisse raciocinar corretamente bem como lhe
denunciasse o raciocínio incoerente. A Lógica de Aristóteles passou a ser
conhecida como Lógica Clássica e suas bases permaneceram quase intactas
através dos séculos. Com tendências diversas, ainda pode-se citar a Lógica
de Port-Royal, passando por Stuart Mill, La-chelierm Raluer e E Schiller.
A crítica comum feita à Lógica de Aristóteles consiste “na crença de que o
pensamento poderia assimilar a linguagem, que lhe reproduziria todas as
formas”. Continua a crítica com o próprio termo logos, que significa
discurso e razão. E indiscutível que a linguagem comum não foi construída
para servir à Lógica, como também não foi criada para servir à Física, à
Química ou à Cibernética.
Desde Platão os filósofos fugiram dos termos equívocos de duas formas:
— dar a um termo comum conotação especial dentro de uma ciência;
— criar neologismos.
Sabe-se que os termos equívocos têm duas ou mais significações
completamente diversas, isto é, referem-se a dois ou mais objetos
totalmente diferentes, como: cão (animal) e cão (parte de arma).
O termo ideia foi formado por Platão, de uma raiz grega que significa visão,
intuição intelectual, ou “a simples apreensão de um objeto”. E o que se
denomina terminologia.
Diante da terminologia jurídica, um termo técnico equivale a qualquer
símbolo da Logística. E inegável que a análise dos fatos necessita do
emprego de palavras ou, mais geralmente, de símbolos ou substitutos
simbólicos segundo Marcell Boll. Verifica-se que as ciências e o Direito
encontraram aquela simbologia, como acentua Maritain, na Lógica Formal:
“é preciso que a expressão verbal se torne senhora da linguagem por um
completo sistema técnico de formas e de distinções verbais — a
terminologia” (op. cit.).
A LOGÍSTICA
Os logísticos reconhecem que seu precursor foi Raymond Lulle (1235-
1315), que, por não dispor do conhecimento e dos meios técnicos da
Álgebra, não conseguiu sua realização. Ainda, segundo os historiadores,
Leibniz (1646-1716) pretendeu a criação de uma forma ou fórmula
(característica universal) adaptada a todas as operações do espírito e
impulsionou a Logística.
Também devem ser citados Hilbert (1862-1943) e Russell sob a influência
dos quais a Lógica simbólica tem sido objeto de inúmeros estudos. Tais
estudos visam “pôr em evidência que a linguagem é decididamente
inutilizável em Lógica, porque ela não apresenta sempre um paralelismo
rigoroso com os fatos, d’onde a possibilidade da ambiguidade e de erros”
(Marcell Boll).
Aos excessos dos logísticos deve-se opor a opinião de Walter Brugger:
“Logística é aquela forma de Lógica que se apresenta num sistema de sinais
e que permite operar com estes de modo idêntico ao da Matemática.
Enquanto a Lógica aristotélica não pode deduzir uma nova conclusão, senão
partindo de duas premissas com seus três conceitos, a Logística é capaz de
deduzir, mediante o cálculo, todas as consequências que, em geral, se
possam tirar das premissas, partindo de mais de duas proposições conexivas
de grande número de conceito. Em princípio, a Logística foi vislumbrada
por Leibniz. Ela não impugnou nem tornou supérflua a Lógica tradicional,
pois sem esta a custo pode-se compreender aquela. Contudo, devemos
contar entre suas vantagens uma maior exatidão e uma integridade
sistemática que permitem aplicá-la a domínios da realidade nos quais seria
insuficiente a Lógica tradicional. Quanto ao emprego da Logística em
Filosofia, convém acautelarmo-nos contra um matematismoexagerado, o
qual de maneira nenhuma corresponde aos resultados que esperavam”
(Grifo do Autor) (op. cit.).
Para MichelVilley,“é preciso reencontrarmos o sentido da antiga Lógica
jurídica da controvérsia, chamada método dialético, do qual Pe-relman e a
Filosofia do Direito da Escola de Bruxelas, mostraram a perenidade e onde
se situa a própria lógica jurídica. O Direito jamais sairá de uma máquina.
Ele supõe que sejam ouvidas e confrontadas dialetica-mente uma e outra
parte do processo. A solução do Direito nasce do choque dos discursos
contraditórios...” (op. cit.).
Observe este exemplo de Nérici (op. cit.): A proposição, um brasileiro é
baiano, expressa-se por estes símbolos:
(x) (x E F) 3 (x E G)
A leitura é a seguinte: Seja x qual for, x é um elemento de F, implica x é um
elemento de G.
Estudando a Logística à luz do pensamento, não é difícil concluir
que:
1. para a expressão simbólica há necessidade de um discurso interior, pois
não se pensa uma demonstração logística de um só impulso;
2. para a intelecção da forma silogística tem de haver também um discurso
interior - em nosso modesto parecer, a Logística não é discursiva apenas em
sua expressão.
SÚMULA
Parmenides - o Princípio de Identidade: - o que é, é - o que não é, não é.
Aristóteles: o criador da Lógica
1. De Proedicamentis — categorias;
2. De interpretatione — juízo e proposição;
3. Analytica Priora — raciocínio indutivo e dedutivo;
4. Analytica Posteriora — raciocínio evidente;
5. De Topicis — raciocínio aplicado aos lugares comuns;
6. De Sophisticis Elenchis - sofismas.
Crítica à Lógica de Aristóteles e refutação a ela.
A Logística
O precursor: Raymond Lulle.
Opinião de Walter Brugger.
O entendimento de Michel Villey.
O exemplo de Nérici.
A Logística e sua crítica.
EXERCÍCIOS
Analise as proposições e marque Sim ou Não:
1. ( ) O texto Nyaya-Sutra, a partir do qual toda a filosofia indiana
teve origem, influenciou positivamente o desenvolvimento da Lógica
Grega.
2. ( ) Parmênides percebeu a relação entre a coerência do pensamen
to com a forma do discurso e criou o Princípio de Identidade.
3. ( ) O princípio de identidade se expressa em: “uma ideia ou con
ceito não é igual a ele mesmo, no momento em que se está realizando o
pensamento”.
4. ( ) Sócrates partiu do princípio de identidade - o que é, é - des
coberto por Parmênides para escrever o Organon.
5. ( ) As primeiras análises do raciocínio estão em Platão.
6. ( ) Os filósofos evitaram o emprego de termos equívocos com a
criação de neologismo.
7. ( ) Os gregos descobriram a razão, e a empregaram para saber o
que as coisas são.
8. ( ) Platão formou o termo ideia a partir de uma raiz grega que
significa visão, intuição intelectual, ou “a simples apreensão de um objeto”.
9. ( ) “Logística é aquela forma de Lógica que se apresenta num sis
tema de sinais e que permite operar com estes de modo similar ao da
Matemática”.
10. ( )Walter Brugger não aconselha o emprego da Logística em
Filosofia.
11. ( ) De Sophistids Príora, De Topicis, De Prodicamentis são três dos
seis
livros de Aristóteles.
12. ( ) São equívocos os termos que têm duas ou mais significações
completamente diversas.
13. ( ) O Organon é um instrumento que objetiva permitir ao seu
autor raciocinar corretamente, e também denunciar o raciocínio incoerente.
14. ( ) M.Villey entende que a solução do Direito não pode nascer
do choque dos discursos contraditórios.
15. ( ) A crítica à Lógica de Aristóteles consiste “na crença de que o
pensamento não poderia assimilar a linguagem, que lhe reproduziria todas
as formas”.
Capítulo III
Lógica: Origem do Termo —
Definição — Divisão
— Importância
ORIGEM DO TERMO
Não há certeza sobre quem criou o termo Lógica, nem sobre a época em
que referido termo começou a ser empregado no sentido moderno. Supõe-se
que tenha sido criado por comentadores de Aristóteles. O termo Lógica foi
empregado por Cícero (De Jlnibus 1,7) e se tornou corrente a partir dos
estoicos. O estoico Chrysippe entendeu o termo Lógica como uma das três
espécies de Filosofia.
DEFINIÇÃO DE VÁRIOS AUTORES
Do termo grego logos — que se traduz por razão — se origina a primeira
definição de Lógica, isto é, ciência do raciocínio ou arte do raciocínio, ou,
ainda, arte e ciência do pensamento. A última definição indica que, em se
tratando de Lógica, essa arte tem fundamento científico. O termo raciocínio
pode apresentar dois sentidos: somente a dedução, ou toda a espécie de
inferências e, portanto, dedução e indução. Assim sendo, a Lógica, em
sentido restrito, limita-se ao raciocínio dedutivo, ao silogismo; em sentido
amplo, abrange a indução.
Os compêndios de Lógica tratam, em sentido ainda mais amplo, da
definição, da classificação e da divisão, operações que essencialmente não
pertencem ao domínio do raciocínio, pois admitem perfeição ou
imperfeição, consoante suas próprias regras. As definições de Lógi-
ca são inúmeras, porém todas trazem o pensamento, o raciocínio como
fundamento.
Vamos destacar apenas cinco:
A. CUVILLIER: “Lógica é o estudo das operações da inteligência com o
fim de distinguir o verdadeiro do falso, ou o estudo das regras, métodos e
processos de alcançar a verdade, ou ainda, o estudo das condições da
verdade” (op. cit.).
G.FINGERMANN: “Lógica é a ciência das leis e das formas de
pensamento que nos fornecem normas para a investigação científica e nos
propicia um critério de verdade” (op. cit.).
L. LIARD: a Lógica tem duplo objeto: “estabelecer as leis do pensamento
considerado em si mesmo, e determinar as diferentes aplicações das
mesmas leis”. E define: “Lógica é a ciência das formas do pensamento”
(op. cit.).
I. G. NERICI: “Lógica é a ciência que estuda as leis gerais do pensamento e
a arte de aplicá-las corretamente na investigação e a demonstração da
verdade dos fatos” (op. cit.).
R.JOLIVET: “Lógica é a ciência das leis ideais do pensamento, e a arte de
aplicá-las corretamente para procurar e demonstrar a verdade. Quer seja
denominada, para Port-Royal — Arte de Pensar ou Arte de Julgar — para
Aristóteles — a Ciência do Raciocínio — para Stuart Mill — a Arte da
Consequência —, sublinha-se sempre seu papel de instrumento no exercício
do pensamento e na organização do saber” (op. cit.).
Desde logo, deve-se evidenciar que a Lógica e a Psicologia (Glo-bot) têm
objetos distintos. Assim: se for considerado o pensamento como ele é,
temos o objeto da Psicologia; à Psicologia interessa a origem e a sucessão
de nossos pensamentos, e o estudo das leis da associação de ideias, sem
maior destaque à verdade ou à falsidade dessas ideias. Se for considerado o
pensamento como deve ser, temos o objeto da Lógica. A Lógica busca a
demonstração da verdade.
DEFINIÇÃO E RACIOCÍNIO DE STUART MILL
Para Stuart Mill, 'Lógica é a ciência das operações do espírito que
concernem à estimação da prova”.
Em outras palavras, a Lógica como ciência, compreende:
Matéria — o que vai ser investigado pelas leis do pensamento.
Forma — o Método como se investiga ou como se aplica.
Observe que a definição prioriza a determinação do critério de evidência
como objetivo da Lógica
Stuart Mill também define o objetivo da Lógica: expor as provas do
verdadeiro e do falso, a fim de atingir a verdade. A partir desse momento, a
Lógica está intimamente ligada ao Processo.
COMENTÁRIOS À DEFINIÇÃO DE THOMAZ DE AQUINO
Definição: “Lógica é a Arte que dirige o próprio ato da razão, isto ê, arte
que nos permite pensar com ordem, facilmente e sem erro” Ç‘Ars directiva
ipsius actus rationis, per quam scilicet homo in ipso acto rationis ordenate,
faciliter et sine errore procedat”).
Ato da razão — As ciências procedem conforme a razão, porém a Lógica
diz respeito ao próprio ato da razão. Veremos, mais adiante, que chamamos
razão o funcionamento de nosso intelecto, quando vai pelo discurso de uma
coisa apreendida à outra.
Com ordem — É função da Lógica dispor a argumentação, ou uma cadeia
de raciocínios com ordem, a saber,da melhor maneira para mostrar que a
argumentação é concludente ou não.
Facilmente — As vezes, raciocinamos corretamente, porém de forma
obscura e difícil. A Lógica nos ensina a pensar de forma clara e fácil. A luz
do método, a Lógica deve tornar explícito por meio do discurso o que está
no pensamento, de forma implícita.
Sem erro - Todo o homem é dotado de bom senso, no entanto, somente bom
senso não é suficiente para quem pretende estudar as ciências,
principalmente a ciência do Direito. O bom senso é a faculdade de
distinguir o falso do verdadeiro, porém, no Direito e nas ciências é
necessário demonstrar o que é falso e o que é verdadeiro. Nesse ponto, a
Lógica é o único instrumento da inteligência.
O pensamento chegará, sem erros, à conclusão, depois de verificar-se a
verdade da matéria, a ordenação e o aclaramento do pen-sarnento. Afirmar
que Direito é bom senso, é ignorar ambos os conceitos.
DIVISÃO DA LÓGICA
A fim de propor a definição adotada por este livro, devemos proceder à
divisão da LógicaVamos considerar o raciocínio como uma obra de arte:
observemos uma estátua. Distinguimos nela a matéria de que é feita e sua
forma. Se o artista é bom (forma) e o material é ruim, a estátua será
imperfeita; se o material é bom e o artista é ruim, do mesmo modo a estátua
será imperfeita. A perfeição da estátua depende da matéria e da forma que
lhe dá o artista. Assim ocorre com o raciocínio. Consideram-se no
raciocínio as matérias ideais com que se raciocina e a forma que se dá às
matérias, isto é, a disposição delas de maneira a sustentar uma conclusão.
Assim sendo, a exemplo da estátua, o raciocínio deve ter matéria e forma
corretas, sob pena de ser falso. A falsidade do raciocínio ocorre
mais frequentemente na falsidade da matéria, como no exemplo seguinte:
A pintura é ciência, (A)
Ora, Portinari é pintor, (B)
Logo, Portinari é cientista. (C)
Verifica-se que a proposição (C) conclui corretamente em face das
proposições (A) e (B); logo, a forma é perfeita; entretanto, a proposição (A)
que é a matéria do raciocínio é falsa; portanto, todo o raciocínio é falso.
Jolivet entende que a noção de verdade, dominante em toda a Lógica, tem
duplo significado, ou seja, toda proposição que pretenda ser verdadeira terá,
necessariamente, estrutura formal e validade. “Entende-se por validade
todas as condições derivadas da matéria do pensamento que lhe afetam a
estrutura ou a própria forma. E daí que se origina a divisão da Lógica em
Lógica formal ou menor, e Lógica material ou maior” (op. cit.).
Considerando matéria e forma, a Lógica divide-se em:
Lógica menor, também denominada Lógica formal, prescreve as regras
gerais do pensamento para que o raciocínio seja correto e bem
construído. Para I. G. Nérici, raciocínio é “o ato pelo qual o espírito, com o
que ele já conhece, adquire um novo conhecimento”. O raciocínio bem
construído leva à conclusão coerente em relação à disposição da matéria.
Sob esse aspecto a Lógica é arte do pensamento; porquanto visa realizar
uma obra bem-feita, ou seja, a concordância do pensamento com o objeto.
Para Jolivet, na Lógica menor, “trata-se de definir as condições do
pensamento coerente consigo mesmo, independentemente de qualquer
matéria determinada”.
Lógica maior, também chamada Lógica material ou Lógica Aplicada,
“estuda a aplicação das leis particulares a cada ciência em particular, e
mostra a que condições devem corresponder os materiais do raciocínio para
que se obtenha uma conclusão verdadeira e certa sob todos os aspectos, não
só quanto à forma, mas também quanto à matéria” (J. Maritain, op. cit.).
Para Jolivet, na Lógica maior, “trata-se de determinar a forma que o
pensamento deve tomar, atendendo aos diferentes objetos aos quais o
pensamento pode se aplicar” (op. cit.).
Nota - A divisão em Lógica Menor e Lógica Maior não é essencial, é
acidental. Jolivet esclarece que “do ponto de vista lógico, a matéria do
pensamento é um puro acidente, ou seja, é um elemento que não modifica
de nenhum modo as operações lógicas em seu aspecto essencial. De fato,
examinando bem, toda Lógica éformal, enquanto está inteiramente
ordenada a definir o que deve ser a forma do pensamento correto e
verdadeiro” (J. Maritain, op. cit.).
IMPORTÂNCIA DA LÓGICA
A Lógica é entendida sob o aspecto de:
1. scientia instmmentum, para Boethium;
2. admiculum quoddam ad allias scientia, para Thomaz de Aquino;
3. propedêutica à ciência, para J. Maritain.
E conveniente enaltecer a importância da Lógica no estudo do Direito em
geral e, sobretudo, no processo: “es una creación de la inteligência, una
maquinaria hecha con sutileza y contmida según las leyes severas
de la lógica, cuya esencia resulta de la determinación jurídica de su fin
material” (Wach, op. cit.).
A importância da Lógica em todos os ramos da ciência funda-menta-se no
fato de ser ela um instrumento do saber. J. Maritain oferece brilhante lição
sobre a importância da Lógica que particularizamos desta forma:
“Quando uma pessoa deve executar um trabalho, em primeiro lugar, ela
começa por experimentar de diversos modos o instrumento que lhe foi dado
a fim de compreender bem o uso que pode e deve fazer dele.
Mas qual é o trabalho dos advogados?
E adquirir o saber jurídico.
Qual o seu instrumento?
E a razão.
Será então preciso que, antes de iniciar o trabalho, os advogados comecem
por examinar a razão, a fim de determinar a maneira pela qual devem usá-
la. O estudo da razão, do ponto de vista de seu uso no conhecimento, ou
como meio de chegar à verdade, é o que se chama Lógica” (op. cit.).
Justificando a Lógica como arte e ciência do raciocínio, citamos Stuart
Mill: “A Lógica é a arte e a ciência do raciocínio?” Ao adotar a definição de
S. Mill,Whately opôs a seguinte emenda: “a Lógica é a ciência e a arte do
raciocínio, entendendo, por ciência, a análise da operação mental que se
realiza sempre que raciocinamos, e, por arte, as regras fundadas nesta
análise para conduzir corretamente a operação”. Não pode haver nenhuma
dúvida quanto à propriedade da emenda que estabelece os objetos da
Lógica:
A Lógica Material compreende os elementos do pensamento: o raciocínio, o
juízo, a ideia.
A Lógica Formal é a chegada ao conhecimento da verdade por intermédio
do correto uso das operações mentais.
Uma correta compreensão do processo mental em si, de suas condições e
dos seus degraus, é a única base possível de um sistema de regras
apropriadas para dirigi-lo. A arte pressupõe necessariamente
o conhecimento; a arte, mesmo na sua infância pressupõe o conhecimento
científico; e se nenhuma arte possui o nome de uma ciência, é somente
porque várias ciências são frequentemente necessárias para estabelecer os
princípios fundamentais de uma única arte.
São tão complicadas as condições que governam nossa atividade prática
que, para tornar alguma coisa factível, muitas vezes é
indispensável conhecer a natureza e as propriedades de grande número de
outras coisas.
A Lógica, portanto, inclui a ciência do raciocínio tanto quanto uma arte
fundada nessa ciência. Mas a palavra raciocínio, como muitos outros termos
científicos de uso popular, é cheia de ambiguidades.
Em uma de suas acepções, raciocínio significa o processo silogís-tico, ou
seja, o modo de inferência que pode ser denominado com suficiente
exatidão para o nosso propósito como concluir do geral para o particular.
Em outro sentido, “raciocinar é, simplesmente, inferir qualquer asserção de
asserções previamente admitidas; e, aqui, a indução pode ser chamada —
tanto quanto as demonstrações de geometria — de raciocínio” (Whately, op.
cit.).
SÚMULA
Origem do termo: Cícero, De Finibus, 1,7.
Algumas definições de Lógica: A. Cuvillier, G. Fingermann, L. Liard, I. G.
Nérici e R. Jolivet.
Raciocínio e definição de Stuart Mill: ciência das operações do espírito que
concernem à estimação da prova.
Comentários à definição de Thomaz de Aquino: Lógica é a arte que nos
permite pensar com ordem, facilmente e sem erro.
Divisão da Lógica:
Lógica menor ou formal: “definiras condições do pensamento coerente
consigo mesmo, independentemente de qualquer matéria determinada”.
Lógica maior ou material: “determinar a forma que o pensamento deve
tomar, atendendo aos diferentes objetos aos quais o pensamento pode se
aplicar”.
A importância da Lógica: vários autores.
EXERCÍCIOS
Assinale as sete asserções equivocadas:
1. Supõe-se que o termo Lógica, criado por Aristóteles, denominava uma
das espécies de Filosofia.
2. O fundamento de todas as definições de Lógica é o pensamento.
3. A Lógica e a Psicologia diferem quanto ao objeto porque a Psicologia
não busca a verdade ou a falsidade das ideias, porém enfatiza a origem e a
sucessão dos pensamentos, e o estudo das leis da associação de ideias.
4. “Lógica é a Arte que dirige o próprio ato da razão, isto é, arte que nos
permite pensar com ordem, facilmente e sem erro”. A expressão com ordem
significa dispor a cadeia de raciocínios de modo a demonstrar se a verdade
é concludente ou não.
5. Jolivet entende que, obrigatoriamente, a proposição verdadeira deve
ter: estrutura formal e validade.
6. Sobre o raciocínio: o raciocínio que tem matéria e forma corretas não
pode ser falso. No raciocínio há: as matérias com que se raciocina e a forma
ou a disposição das matérias, de modo a sustentar uma conclusão.
7. A Lógica Menor, também denominada Lógica Formal, prescreve as
regras gerais do pensamento para que o raciocínio seja correto e bem
construído.
8. Para Jolivet, na Lógica menor, é preciso “definir as condições
do pensamento coerente consigo mesmo, e dependente de uma matéria
determinada”.
9. A Lógica Maior ou Lógica Aplicada ou ainda Lógica Material “estuda
a aplicação das leis gerais a cada ciência e encaminha o raciocínio para a
obtenção de uma conclusão verdadeira quanto à forma e à matéria”.
10. A divisão em Lógica Menor e Lógica Maior “não é essencial,
é acidental, porque toda Lógica é formal, e está inteiramente ordenada a
definir o que deve ser a forma do pensamento correto e verdadeiro”.
11. A divisão em Lógica Menor e Lógica Maior “não é acidental,
é essencial, porque do ponto de vista lógico, a matéria do pensamento é um
puro acidente, ou seja, é um elemento que modifica de algum modo as
operações lógicas no que elas têm de essencial”.
12. Para Jolivet, “determinar a forma que o pensamento deve
tomar, atendendo aos diferentes objetos aos quais o pensamento pode
se aplicar” é o objetivo da Lógica Maior ou Lógica Aplicada ou ainda
Lógica Material.
13. A importância da Lógica em Direito evidencia-se, principalmente,
como técnica de argumentação
14. Para Wach: O processo é uma criação da inteligência,
construído segundo as leis severas da Lógica, cuja essência resulta da
determinação jurídica de seu fim material.
15. Raciocínio é termo científico unívoco e não pode apresentar
ambiguidades. Raciocinar pode significar induzir qualquer asserção de
asserções previamente rejeitadas.
Capítulo IV
Os Princípios Lógicos e sua
Aplicação à Advocacia
OS QUATRO PRINCÍPIOS LÓGICOS
“A Lógica Formal repousa sobre quatro princípios fundamentais que
permitem todo desenvolvimento da Lógica, sendo os elementos que dão
validade a todos os atos do pensamento, com a conveniência ou
desconveniência entre si, de certas ideias ou proposições” (I. G. Nérici, op.
cit.).
Os Princípios Lógicos servem à demonstração. São eles: le O Princípio de
Identidade;
2a O Princípio de Contradição;
3fi O Princípio do Terceiro Excluído;
4Q O Princípio da Tríplice Identidade.
A teoria da demonstração supõe que, em última análise, atinjamos um
princípio indemonstrável. Efetivamente, a demonstração consiste em
prender um fato a uma generalidade já estabelecida, como neste argumento:
Deus criou o Universo — generalidade A Terra está no Universo —
fato Logo, Deus criou a Terra.
Para demonstrar uma generalidade já estabelecida é preciso recorrer a uma
generalidade maior. Prosseguindo nessa busca chegaríamos,
necessariamente, a um princípio que é o último e cuja evidência não
pode ser demonstrada. Admite-se que esse princípio não se prende a outro
princípio anterior.
Fundamentando-se em Euclides, Spencer pretendeu dar uma forma ao
postulado universal, que seria o último fundamento da certeza. Para
Spencer esse postulado é a impossibilidade de conceber-se o contrário:
quando o contrário de uma proposição for inteiramente inconcebível,
devemos admitir essa proposição como verdadeira. E compreensível que a
teoria tem justas objeções. Entre as objeções está aquela que afirma que a
inconcebilidade pode ser temporal porque representa as experiências feitas
até hoje.
Alguns filósofos consideram apenas três, os primeiros princípios do
conhecimento e afirmam que o quarto princípio — da tríplice identidade —
não é absolutamente formal e apresenta-se com mais características
empíricas. Pode-se afirmar que “estes princípios ou axiomas lógicos,
também chamados leis formais, regem todo o exercício do pensamento,
sejam quais forem os seus diversos materiais” (I. G.Nérici, op. cit.).
O PRINCÍPIO DE IDENTIDADE
Pode se apresentar de três formas:
a) AéA.
b) Pessoa é pessoa.
c) O que é, é - o que não é, não é.
“O que quer dizer que uma ideia ou conceito é igual a ele mesmo, pelo
menos no momento em que se está realizando o pensamento” (I. G. Nérici,
op. cit.).
Platão afirmou que: uma coisa é o que ela é, ou seja, uma ideia é igual a ela
mesma.
Objeção — Expressar o mesmo pensamento pela mesma palavra ou pelas
mesmas palavras não é uma inutilidade?
Resposta - Responde-se à crítica supondo a expressão do mesmo
pensamento com palavras diferentes. O princípio indica que A — pessoa -
sob outro nome ainda é A- pessoa.
Observe o exemplo: Pessoa é pessoa. Pessoa é racional. Quando dizemos A
(pessoa) é racional, apenas estamos nos repetindo, basta conhecer o sentido
das palavras. Ora, sendo pessoa racional, posso dizer: “Não se admite a um
racional (ou a uma pessoa) tal pensamento” - onde racional é igual a pessoa.
A linguagem comum e algumas vezes a linguagem técnica contêm termos
equivalentes. A linguagem técnica do Direito não deve ter sinônimos,
porém, há algumas exceções:
1. procuração — instrumento de mandato.
2. petição inicial, libelo cível inaugural, peça vestibular, peça introdutória
etc.
Essas expressões equivalentes permitem verificar a identidade A é A;
todavia, a melhor orientação em linguagem forense é empregar sempre os
termos da lei. Como compreender o Direito se um mesmo pensamento fosse
escrito e falado com termos e expressões diferentes? Imagine que o
advogado se referisse ao crime com determinadas palavras: a promotora se
reporta ao mesmo crime, com palavras diferentes, e ao condenar, ajuíza fará
uso de outras palavras. Não se saberia o resultado.
Sem o Princípio de Identidade seria impossível uma discussão, por isso os
escolásticos prescrevem: “antes de qualquer discussão dê-se o sentido que
devem ter as palavras no decorrer dela” (veja Capítulo XVIII — Lógica e
Linguagem).
Nota - Atribui-se a descoberta do Princípio de Identidade a Par-mênides, e
para atingi-lo temos que retroceder a Heráclito interrogando o que existe? -
o ser, as coisas. Os filósofos entenderam que é a água, o ar, os números etc.
Para Heráclito, ao examinar imparcialmente as coisas que temos diante de
nós, verificamos que as coisas não são em nenhum momento aquilo que
eram antes, e também não são o que vêm a ser depois. As coisas estão
mudando constantemente. Quando queremos fixar uma coisa já não é a
mesma do que era. Sua frase “nunca nos banhamos no mesmo rio duas
vezes” dá o sentido de sua filosofia: o existir é um perpétuo mudar — nada
existe porque tudo existe, existe um instante e um instante seguinte já não
existe, é outra coisa.
Parmênides critica a teoria de Heráclito desta forma: para Heráclito uma
coisa é e não é ao mesmo tempo, visto que está sempre mudando. Dentro
dessa ideia de mudança constante, uma coisa muda de ser o que é, para
tornar-se outra coisa, e tornando-se outracoisa
não é a coisa que era e nem a coisa que virá a ser na próxima mudança.
Parmênides verifica uma contradição lógica na teoria de Herácli-to: o que
existe não existe — o ser não é — como admitir um ser que se caracteriza
por não ser? A realidade mostra que a teoria de Heráclito é absurda, é
incompreensível.
A essa teoria opõe um princípio de razão: o que é, é - o que não é, não é. o
ser é (existe) — o ser não é (não existe).
Parmênides não deu nome ao princípio que descobriu, porém, mais tarde, os
lógicos passaram a identificar este princípio com o nome de Princípio de
Identidade.
O PRINCÍPIO DE CONTRADIÇÃO
Aristóteles afirmou que este é o princípio mais importante, e todos os outros
princípios se reduzem a ele.
O enunciado do Princípio de Contradição é:
Uma coisa não pode ser e deixar de ser ao mesmo tempo.
Desse modo dizemos que: das duas afirmações — x é x — x não é x —
uma das afirmações será falsa, necessariamente.
Observe o exemplo: Um ambiente não pode ser frio e quente ao mesmo
tempo. O brocardo não há direito contra direito é a aplicação desse
princípio.
Nota - “Todas as vezes que dois homens têm sobre uma mesma coisa um
julgamento contrário, é certo que um deles está enganado. Há mais: nenhum
dos dois está com a verdade, porque se um estivesse com a verdade teria
uma vista clara e nítida (evidência) e poderia expor a seu adversário de tal
maneira que ele acabaria se convencendo” (E. Garcia Máynez, op. cit.).
O PRINCÍPIO DA EXCLUSÃO DO MEIO
O Princípio da Exclusão do Meio, também conhecido como o Princípio do
Terceiro Excluído, preceitua:
Uma coisa deve ser ou não ser — ou seja, de duas coisas contraditórias uma
coisa deve ser verdadeira e a outra coisa deve ser falsa.
O princípio não determina qual juízo é verdadeiro, mas afirma que dois
juízos contraditórios não podem ser simultaneamente falsos. No estudo das
proposições veremos a aplicação do princípio; no entanto, desde já
queremos mostrar-lhes estes dois exemplos:
a) Toda pessoa é mortal.
b) Nenhuma pessoa é mortal.
E certo que uma proposição exclui a outra. Para que o princípio tenha
aplicação é preciso que se trate de matéria necessária. Neste início de curso,
adiantamos dois conceitos básicos em Filosofia, ao dizer que:
— E necessário o que sempre acontece.
— E contingente o que pode acontecer ou não.
O PRINCÍPIO DA TRÍPLICE IDENTIDADE
Esse princípio é conhecido do estudo de Matemática, e preceitua: duas
quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si:
A = C B = C A = B
Em Lógica há várias outras fórmulas para enunciar este princípio, das quais
destacamos as quatro mais usuais:
Ia “Coisas que existem com a mesma coisa coexistem entre si”.
2a “Duas coisas idênticas a uma mesma terceira (coisa) são idênticas entre
si”.
3a Ainda, para aplicação em Direito, pode-se enunciar desta forma: Duas
coisas iguais a uma terceira, sob certo aspecto, são iguais entre si, sob esse
mesmo aspecto.
4a Na forma negativa: Duas coisas das quais uma é idêntica e outra não é
idêntica à mesma terceira são diferentes entre si.
Verificamos que a forma negativa do princípio é uma expressão particular
do Princípio de Identidade: o que é, é — o que não é, não é. Para que se
realize o Princípio de Identidade, é necessário que a ter-
ceira coisa seja realmente a mesma coisa. Quando não ocorre essa condição
o raciocínio é falso e se denomina sofisma.
São dois exemplos:
a) O cão ladra.
Rex é cão.
Rex ladra.
Verifica-se que o termo cão é a mesma coisa em relação a ladra e Rex, isto
é, um animal.
b) Cão é uma constelação.
Cão ladra.
Uma constelação ladra.
O termo cão é empregado diferentemente nas duas frases. No exemplo a,
cão é um animal, e no exemplo b, cão é uma constelação. Logo, o
raciocínio é falso.
OS PRINCÍPIOS: DICTUM DE OMNI E DICTUM DE NULLO
Seguem-se dois princípios: Dictum de Omni e Dictum de Nullo. Sobre eles,
J. Maritain entende que: “estes dois princípios são conhecidos por si sós ou
evidentes por si mesmos, porquanto a natureza do universal consiste
exatamente em se encontrar um e o mesmo em todas as coisas em relação
às quais ele é universal, ou melhor, que contém em si” (op. cit.).
Estes dois princípios são expressões diferentes do Princípio de Identidade e
sua importância é dar validade ao Silogismo. Nos capítulos XIII e XIV,
iremos estudar o Silogismo de forma detalhada, porém; adiantamos duas
definições para melhor entendimento, e para dar mobilidade ao capítulo:
“Silogismo é uma série de palavras em que, sendo admitidas certas coisas,
delas resultará necessariamente alguma outra, pela simples razão de se
terem admitido aquelas” (Aristóteles, op. cit.).
“Silogismo significa ligação, pois não passa de uma argumentação na qual
de um antecedente que une dois termos a um terceiro, se
infere um consequente que une esses dois termos entre si” (I. G. Né-rici, op.
cit.).
Ia O Princípio “Dictum De Omni” (Dito do Todo).
Esse princípio é enunciado de diversas formas.Vamos reproduzir duas delas
para maior compreensão:
a) “Tudo o que é verdadeiro de uma classe inteira de objetos é verdadeiro
de todos os objetos pertencentes a essa classe” (Bain, op. cit.).
b) “Tudo o que é afirmado universalmente de um sujeito é afirmado de
tudo o que está contido nesse sujeito. Em Latim: Quidquid universaliter
dicitur de aliquo subjecto, dicitur de omni quod sub tali subjecto cotinetur
(J. Maritain, op. cit.).
O princípio se reduz, praticamente, a dizer que: o todo abrange as partes.
Por exemplo: Se afirmo: Todo vício é um mal, afirmo que: todos os vícios
são um mal.
2a O Princípio “Dictum De Nullo” (Dito de Nenhum).
Esse princípio é enunciado de diversas formas.Vamos reproduzir duas delas
para maior compreensão:
a) “Tudo que é negado de uma classe inteira de objetos é negado de todos
os objetos pertencentes a essa classe” (Bain).
b) “Tudo que é negado universalmente de um sujeito é negado de tudo o
que está contido nesse sujeito. Em Latim: Quidquid universaliter negatur de
aliquo subjecto, dicitur de nullo quod suo tali subjecto conti-netur” (J.
Maritain, op. cit.).
Assim, dizer: Toda pessoa não é imortal significa que todas as pessoas não
são imortais. O que nego da classe, nego dos objetos pertencentes à classe,
ou ainda, o que nego do todo, nego da parte.
APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS LÓGICOS À ARTE DA
ADVOCACIA
“Não demonstrada a divergência de julgado pela inexistência de identidade
ou semelhança das espécies em confronto, não se conhece do recurso
extraordinário” (STF, R.T, 523:525). A ausência da mesma lei invocada, ou
da identidade de fatos sob o mesmo aspecto, determina sempre o
indeferimento do recurso extraordinário.
O Princípio de Identidade é importante em Direito para determinar coisa
julgada. Muitas vezes propõe-se a mesma ação com nome diferente, e o juiz
deve verificar antes de tudo se a segunda ação é idêntica à primeira, ainda
que tenha nominação diferente. Se as ações forem idênticas, a saber — A é
A — e a primeira ação transitou em julgado, a segunda ação não pode
prosseguir.
E o entendimento de P. Lacoste: “En un mot, l’idée qui doit servir de guide
pour savoir s’il y a ou non identité d’objet est la suivante: en statuant sur
l’objet d’une demande, le juge est-il exposé à contradire une décision
antérieure, en affirmant un droit nié ou en niant un droit affirmé par cette
précédente décision? S’il ne peut statuer qu’en s’exposant à cette
contradiction, il y a identité d’objet, et chose jugée” (op. cit.).
Tradução livre do autor: “Em uma palavra, a ideia que deve servir de guia
para saber se há ou não identidade de objeto é a seguinte: decidindo sobre o
objeto de uma demanda, o juiz está sujeito a contradizer uma decisão
anterior, quer afirmando um direito negado,quer negando um direito
afirmado pela decisão precedente? Se o juiz não pode julgar senão supondo-
se aquela contradição, há identidade de objeto, e (portanto) coisa julgada”.
Para Lacombe Eugène, “Lorsque, tous les autres éléments des deux
instances étant d’ailleurs identiques, la secondedemande ne diffère de la
première que par le choix d’une action différente pour arriver au même but,
l’exception (de la chose jugée) ne cesse pas d’être applicable” (op. cit.).
Tradução livre do autor: “Quando todos os outros elementos das duas
instâncias são de certo modo idênticos, a segunda demanda não difere da
primeira senão pela escolha de uma ação diferente para chegar ao mesmo
fim, a exceção de coisa julgada não cessa de ser aplicável”.
Nota— A Constituição Federal de 1967 que compete ao Supremo Tribunal
Federal estava assim redigida:
“Art. 119 (...)
(...)
III — Julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única
ou última instância por outros tribunais, quando a decisão recorrida:
(...)
d) Dar à lei federal interpretação divergente da que lhe tenha dado outro
tribunal ou o próprio Supremo Tribunal Federal”.
No caso de recurso extraordinário, é necessário que a advogada demonstre
que, a fatos iguais aplicou-se diferentemente uma mesma lei federal, para
tanto invocando um acórdão do Tribunal Regional ou do Supremo Tribunal
Federal. O raciocínio consiste na aplicação do princípio lógico.
O fato A é igual sob certo aspecto ao fato B. Se se aplicou a A a lei C, pela
mesma razão deve-se aplicar a B.
Observa-se que o Código Tributário Nacional vale-se do Princípio de
Identidade no seu art. 42, estabelecendo “que a natureza específica do
tributo é determinada pelo fato gerador e não pela denominação”. E o
princípio de A é A:Tributo é Tributo qualquer que seja a sua denominação.
OS CINCO PRINCÍPIOS DE LÓGICA JURÍDICA
A Lógica Jurídica aplica os princípios lógicos de maneira teórica. Ainda
que este trabalho não tenha a pretensão de invadir o campo da Lógica
jurídica, cremos ser de utilidade prática apontar os conceitos dos cinco
princípios que se seguem, extraídos da obra La lógica jurídica, de Eduardo
Garcia Máynez:
1~ Princípio de identidade — Todo objeto do conhecimento jurídico é
idêntico a si mesmo. O que não está proibido é permitido. Se se tivesse o
direito de fazer o que está proibido (juridicamente), a mesma ação seria ao
mesmo tempo permitida e proibida, o que seria contradição; por outro lado,
o que se não proíbe é permitido.
2° Princípio de contradição — Duas normas de Direito contraditórias não
podem ambas ser válidas. A circunstância de existirem num ordenamento
jurídico prescrições contraditórias não destrói o princípio, porque no plano
da Lógica se trata do possível e do impossível. Assim sendo, como a
contradição lógica refere-se exclusivamente a juízos, o principium
contradictioni no Direito refere-se exclusivamente às normas. A contradição
geralmente é afastada pela aplicação da regra: lex posteriori derrogai priori
(veja LINDB).
3° Princípio do terceiro excluído — Quando duas normas de Direito se
contradizem não podem ambas carecer de validez, uma tem de ser válida,
outra sem validade.
4~ Princípio da razão suficiente — Todo juízo para ser verdadeiro precisa
de uma razão suficiente. A razão é suficiente quando basta por si só para
servir de apoio completo ao juízo, a fim de torná-lo plenamente verdadeiro.
Leibniz ensina que “todas as coisas devem ter uma razão suficiente pela
qual são o que são e não são outra coisa”. Em Direito toda norma para ser
válida necessita de um fundamento suficiente de validez. Esse fundamento
é o apoio em norma hierárquica superior.
5~ Princípio da causalidade — Todo evento é precedido de outro evento,
isto é, a todo evento corresponde um antecedente. E a lei ou Princípio da
Causalidade, que assim se enuncia: “A todo evento corresponde um evento
anterior, ao qual está ligado de tal maneira que se um ocorre o outro se
verifica, se um falta o outro não se verifica”. Do princípio da causalidade
seguem-se duas consequências: Primeira - Desaparecida a causa desaparece
o efeito. Essa consequência se expressa pelos seguintes brocardos
encontradiços na linguagem do foro: Sublata causa tollitur effectus e
Cessante causa, cessat effectus. Esta consequência se aplica à vigência da
lei e seus efeitos.
Segunda - Todo objeto que não pode ser afastado sem que o efeito cesse,
deve ser considerado como causa ou parte da causa.
SÚMULA
Os quatro Princípios lógicos:
Ia O princípio de identidade - Parmênides: o que é, é - o que não é, não é.
2a O princípio de contradição: uma coisa não pode ser e deixar de ser ao
mesmo tempo.
3a O princípio da exclusão do meio: de duas coisas contraditórias, uma deve
ser verdadeira e a outra deve ser falsa.
4a O princípio da tríplice identidade: “duas coisas idênticas a uma mesma
terceira (coisa) são idênticas entre si”.
Os princípios: dictum de omni e dictum de nullo:
Dictum de omni: tudo o que é afirmado universalmente de um sujeito, é
afirmado de tudo o que está contido nesse sujeito.
Dictum de nullo: tudo o que é negado universalmente de um sujeito, é
negado de tudo o que está contido nesse sujeito.
Princípios lógicos: aplicação na advocacia:
O entendimento de P. Lacoste.
O entendimento de Lacombe Eugéne.
Os cinco princípios de lógica jurídica:
Ia O princípio de identidade: todo objeto do conhecimento jurídico é
idêntico a si mesmo. O que não está proibido é permitido.
2a O Princípio de Contradição: duas normas de Direito contraditórias não
podem ambas ser válidas.
3a O princípio do terceiro excluído: quando duas normas de Direito se
contradizem, não podem ambas carecer de validez, uma tem de ser válida,
outra sem validade.
4a O princípio de razão suficiente - Leibniz: “todas as coisas devem ter uma
razão suficiente pela qual são o que são, e não são outra coisa”. 5a O
princípio da causalidade: todo evento é precedido de outro evento, isto é, a
todo evento corresponde um antecedente.
EXERCÍCIOS
Assinale as sete asserções corretas:
1. O Princípio de Identidade preceitua que A é A, ou seja, uma ideia
ou conceito é igual a ele mesmo, pelo menos no momento em que se está
realizando o pensamento.
2. Na linguagem técnica do Direito não há sinônimos e nem exceções.
3. Os escolásticos prescrevem que “antes de qualquer discussão dê-se
o sentido que devem ter as palavras no decorrer dela”, demonstrando assim
a importância do Princípio de Identidade.
4. Os três primeiros Princípios do Conhecimento são: Identidade,
Contradição e Inclusão do Meio.
5. E. Garcia Máynez entende que “todas as vezes que duas pessoas têm,
sobre uma mesma coisa, um julgamento contrário, um dos dois está com a
verdade, e poderia expor a seu adversário de tal maneira que ele acabaria se
convencendo”.
6. O Princípio do Terceiro Excluído indica qual é o juízo verdadeiro e
nega que dois juízos contraditórios não podem ser falsos ao mesmo tempo.
7. O Princípio da Tríplice Identidade tem aplicação em Direito, e é
enunciado desta forma: duas coisas iguais a uma terceira, sob certo aspecto,
são iguais entre si, sob esse mesmo aspecto.
8. “Tudo o que é verdadeiro de uma classe inteira de objetos, é ver
dadeiro de todos os objetos pertencentes a essa classe”. Trata-se do
enunciado do Princípio dictum de omni.
9. “Tudo que é negado universalmente de um sujeito é negado de
tudo o que está contido nesse sujeito”.Trata-se do enunciado do Princípio
dictum de omni.
10. Na afirmativa a seguir, há um conceito de Lógica Jurídica: “Se
se tivesse o direito de fazer o que está proibido (juridicamente), a mesma
ação seria ao mesmo tempo permitida e proibida”.
11. Definindo de modo elementar, necessário é o que sempre acontece, e
contingente o que pode acontecer ou não.
12. Segundo o Princípio do Terceiro Incluído, quando duas normas de
Direito se contradizem, ambas podem ser váfidas ou inváfidas.
13. O Princípio da Tríplice Identidade afirma: duas coisas das quais uma é
idêntica, e a outra não é idêntica à primeira coisa, são iguais entre si.
14. De acordo com o Princípio de Razão Suficiente, em Direito
toda norma para ser váfida necessita de um fundamento suficiente
de vaHdez. Esse fundamento é o apoio em norma hierárquica superior.
15. Uma das consequênciasdo Princípio da Causahdade é: todo objeto
que pode ser afastado sem que o efeito cesse deve ser considerado como
causa ou parte da causa.
Capítulo V
Definição: Nominal e Real -Leis de
Definição: Gredt
“Omnis definitio periculosa est in Jure” (Javolenus).
DEFINIR - LIMITAR
Seria impossível estudar Direito sem saber o que é posse, propriedade,
parentesco e tantos outros conceitos. O conjunto de termos técnicos
pertencentes ao Direito denomina-se Terminologia Jurídica e, para estudar
Direito, é preciso saber a significação de seus termos para não confundir um
termo com outro. Essa é a forma de proceder que possibilita o estudo do
Direito, ou de qualquer outra ciência.
Para Aristóteles: “Mesmo fora do âmbito da ciência a única forma possível
de entendimento entre os homens é a aplicação de uma palavra por meio de
outras palavras” (op. cit.).
Para Sinibaldi, definir é “dizer o que uma coisa é, ou uma palavra significa”
(op. cit.).
Para J. Maritain, “definição é um conceito complexo que expõe o que uma
coisa é, ou o que um nome significa” (op. cit.).
Definir é limitar. Limitar o quê? Limitar a extensão de um termo. Para quê?
Para torná-lo distinto de todos os demais termos. Observe o exemplo:
O homem é um animal racional — limitei o termo homem com o termo
animal, porque já excluí vegetal e mineral. E também limitei o termo
animal com o termo racional. Assim, consegui tornar o termo — homem —
único entre os demais termos, sem risco de confundi-lo com qualquer outro
termo. Observe que, ao limitar a extensão do termo, sua compreensão ficará
aumentada.
E indiscutível a importância da definição em todas as ciências. Verificamos
que as definições são comuns no Código Civil e mais raras no Código de
Processo Civil, uma vez que o Direito Civil, como direito material,
estabelece os conceitos e o Código de Processo Civil tem caráter mais
formal.
São quatro exemplos de Definição no Código Civil:
d) Art. 79. “São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural
ou artificialmente”.
b) Art. 92. “Principal é o bem que existe sobre si, abstrata
ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal”.
c) Art. 1.201. “E de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o
obstáculo que impede a aquisição da coisa”.
d) Art. 1.591. “São parentes em Unha reta as pessoas que estão uma para
com as outras na relação de ascendentes e descendentes”.
Ver também os arts. 82, 85, 86, 89,114,121,139, 586,710,818,
1.196,1.198,1.225,1.592,1.858, entre inúmeros outros.
São quatro exemplos de Definição no Código de Processo Civil:
a) Art. 103. “Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for
comum o objeto ou a causa de pedir”.
b) Art. 234. “Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e
termos do processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa”.
c) Art. 369.“Reputa-se autêntico o documento, quando o
tabeUão reconhecer a firma do signatário, declarando que foi aposta em
sua presença”.
d) Art. 467. “Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna
imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou
extraordinário”.
Ver também os arts. 54, 104, 213, 748, 852, 967, 1.020, entre inúmeros
outros.
DIVISÃO DA DEFINIÇÃO: NOMINAL E REAL
A definição nominal de nomen (= nome) fixa o emprego de uma palavra
recorrendo a outras palavras.
A definição Nominal pode ser:
I - Semântica.
II - Etimológica.
I — A Dejinição Nominal Semântica explica ou esclarece a significação
atual de uma palavra por meio de outras palavras mais claras. São dois
exemplos do Código Civil:
a) Art. 1.592. “São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto
grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da
outra.”
b) Art. 89. “São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram
de per si, independentemente dos demais.”
II — A Definição Nominal Etimológica procura a origem (étimo)
da palavra. São dois exemplos:
a) Filosofia - amor à sabedoria (de filo = amor, amigo e sofia
= sabedoria).
b) Ontem (ante — diem).
Como as palavras mudam de significação, muitas vezes a definição
etimológica não é exata como a definição semântica, e isso ocorre porque a
definição semântica acompanha a evolução gradual das palavras. São dois
exemplos:
a) Direito - o que está à direita.
b) Adúltero — alterado, que altera (Dauzat, op. cit.).
Em Direito, o conhecimento da etimologia dos termos colabora no seu
significado, isso porque grande parte da terminologia do Direito vem do
Direito Romano, escrito em Latim. São cinco exemplos:
a) Jurisdição — dictio = dizer e juris = direito — dizer o direito (CPC, art.
Ia).
b) Usucapião — usucapere: capere = tomar, e usus = uso — tomar
ou adquirir pelo uso (CC, art. 1.238).
c) Nunciação de obra nova — nuntitio = declaração, nutiare = declarar,
anunciar. Ulpiano: nunciare opus novum = embargar obra nova. (CPC, arts.
934 e s.).
d) Nuncupativo — de nuncupare = nomear de viva voz.Veja casamento
nuncupativo (CC, art. 1.540) e testamento (CC, art. 1.886).
e) Fideicomisso — de fidei = fé e commitere = cometer, entregar. Veja o
art. 1.951 do Código Civil, entre outros.
A definição real de res (= coisa). A definição real pode ser:
I - Essencial.
II — Descritiva.
I - A Definição Real Essencial se faz pelo gênero próximo e a diferença
específica. Entende-se a diferença específica como uma propriedade, ou um
traço que distingue um determinado conceito de outros conceitos
semelhantes, ou da mesma classe. Por exemplo: O homem é um animal
racional. Observe que foi tomado o gênero — animal — e a diferença —
racional. São três exemplos no Código de Processo Civil:
a) Art. 213. “Citação é o ato pelo qual se chama ajuízo o réu ou interessado
a fim de defender-se.” Verifica-se que o gênero ato é a característica que
torna esse determinado ato (citação) diferente de todos os outros atos
imagináveis (trata-se da diferença específica).
h) Art. 234.“Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e
termos do processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa.”
c) Art. 467. “Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna
imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou
extraordinário.”
Ver também os artigos do Código de Processo Civil: 54,104,369, entre
inúmeros outros.
Ver também os artigos do Código Civil: 79, 85, 86, 87,89, 92,
586,710,818,1.198 e 1.200, entre outros.
11-A Definição Real Descritiva se faz pela enumeração dos caracteres mais
marcantes de uma coisa, na falta de elementos essenciais que são: o gênero
próximo e a diferença específica. São três exemplos do Código Civil:
a) Art. 243. “A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela
quantidade.”
b) Art. 394. “Considera-se em mora o devedor que não efetuar
o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma
que a lei ou a convenção estabelecer.”
c) Art. 1.200. “E justa a posse que não for violenta, clandestina
ou precária”.
Ver também os artigos do Código Civil: 121,122,156,157,186,
534,784,1.201,1.228 e 1.361, entre inúmeros outros.
Ver também os artigos do Código de Processo Civil: 282, 317, 397,420,452,
entre inúmeros outros.
GREDT: AS CINCO LEIS DE DEFINIÇÃO
Primeira Lei: “Dejinitio sit convertibilis cum definito Tradução: A
definição deve ser convertida ao definido.
A lei acompanha o princípio de Aristóteles: “Todo predicado de um sujeito
deve necessariamente ser ou não ser conversível com ele; se conversível é
sua definição”.
São dois exemplos do Código Civil:
d) Art. 586.“O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis...” Pode ser
enunciado tomando-se o predicado pelo sujeito como
segue: E mútuo o empréstimo de coisas fungíveis.
b) Art. 92. “Principal é o bem que existe sobre si, abstrata
ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do
principal”. Convertendo: E principal o bem que existe sobre si abstrata ou
concretamente.
Segunda Lei: “Defmitio

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