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Localizadas no polo superior dos rins. O tamanho varia com a idade e as condições fisiológicas do indivíduo, e as duas glândulas de um adulto pesam cerca de 10 g. Cada glândula suprarrenal consiste em duas glândulas endócrinas em uma Glândula direita: piramidal, posição apical, relação pilar direito do diafragma, veia cava inferior e fígado Glândula esquerda: meia lua, posição medial, relações com o baço, estomago e pilar esquerdo do diafragma As glândulas adrenais recebem várias artérias que entram por vários pontos ao seu redor. Suprida por até 60 pequenas artérias suprarrenais, que formam três grupos: as artérias suprarrenais superiores provenientes da artéria frênica inferior, as artérias suprarrenais médias provenientes da parte abdominal da aorta e as artérias suprarrenais inferiores provenientes da artéria renal. Os ramos dessas artérias formam um plexo subcapsular do qual se originam três grupos de vasos arteriais: (1) artérias da cápsula; (2) artérias do córtex, que se ramificam repetidamente entre as células da camada cortical e que acabam formando capilares sanguíneos que deságuam em vasos capilares da camada medular; e (3) artérias da medula, que atravessam o córtex e se ramificam, formando uma extensa rede de capilares na medula Há, portanto, um suprimento duplo de sangue para a medula, tanto arterial (diretamente pelas artérias medulares) como venoso (pelos capilares derivados das artérias do córtex). O endotélio capilar é fenestrado e muito delgado, havendo uma lâmina basal contínua abaixo do endotélio. Os capilares da medula, juntamente com vasos capilares que proveem o córtex, formam as veias medulares que se unem para constituir as veias adrenais ou suprarrenais. A veia suprarrenal esquerda drena o sangue para a veia renal e depois para a veia cava inferior, enquanto a veia suprarrenal direita drena para a veia cava inferior Drenagem linfática é feita pelos capilares linfáticos que drenam para o hilo renal onde ocorre a drenagem para o resto do corpo O suprimento nervoso é formado quase exclusivamente por fibras simpáticas para a medula da glândula suprarrenal originados do plexo suprarrenal O córtex e a medula secretam hormônios de tipos químicos completamente diferentes, mas todos os hormônios suprarrenais ajudam os indivíduos a lidar com situações extremas associadas a perigo, terror ou estresse. As glândulas suprarrenais são semelhantes à hipófise pelo fato de derivarem de tecido neuronal e epitelial. O córtex tem origem no epitélio celomático, sendo, portanto, mesodérmico, enquanto a medula se origina de células da crista neural, isto é, tem origem neuroectodérmica. Encapsulado por tecido conjuntivo denso e envia delgados septos ao interior da adrenal. É dividido em duas camadas concêntricas: uma periférica espessa, de cor amarelada, denominada camada cortical ou córtex adrenal, e outra central menos volumosa, acinzentada, a camada medular ou medula adrenal. Essas duas camadas podem ser consideradas dois órgãos distintos, de origens embriológicas diferentes, apenas unidos anatomicamente. As duas camadas apresentam funções e morfologia diferentes, embora seu aspecto histológico geral seja típico de uma glândula endócrina formada de células dispostas em cordões cercados por capilares sanguíneos. O estroma consiste basicamente em uma rede rica de fibras reticulares, as quais sustentam as células secretoras. Córtex adrenal O espesso córtex secreta uma série de hormônios, esteroides baseados em lipídio. A porção externa da glândula suprarrenal, desenvolve-se a partir de células mesodérmicas nas vizinhanças do polo superior dos rins em desenvolvimento. Essas células formam cordões de células endócrinas epiteliais. As células do córtex desenvolvem-se em células esteroidogênicas. Logo após a formação do córtex, células derivadas da crista neural associadas ao gânglio simpático, chamadas células cromafins, migram para o córtex e são encapsuladas pelas células corticais. Desse modo, as células cromafins estabelecem a porção interna da glândula suprarrenal, que é chamada de medula da suprarrenal As células do córtex adrenal têm a ultraestrutura típica de células secretoras de esteroides em que a organela predominante é o retículo endoplasmático liso As células do córtex não armazenam os seus produtos de secreção em grânulos, pois a maior parte de seus hormônios esteroides é sintetizada após estímulo e secretada logo em seguida. Os esteroides, sendo moléculas de baixo peso molecular e solúveis em lipídios, podem difundir-se pela membrana celular e não são excretados por exocitose. Em virtude de diferenças na disposição e na aparência de suas células, o córtex adrenal pode ser subdividido em três camadas concêntricas cujos limites nem sempre são perfeitamente definidos em humanos: a zona glomerulosa, a zona fasciculada e a zona reticulada Essas camadas ocupam, respectivamente, em torno de 15%, 65% e 7% do volume total das glândulas adrenais. Da externa para a interna, tais zonas são: A zona glomerulosa se situa imediatamente abaixo da cápsula de tecido conjuntivo e é composta de células piramidais ou colunares, produz mineralocorticoides (aldosterona), organizadas em cordões que têm forma de arcos envolvidos por capilares sanguíneos. Células organizadas em agrupamentos esféricos A zona fasciculada tem arranjo das células em cordões de uma ou duas células de espessura, retos e regulares, semelhantes a feixes, entremeados por capilares e dispostos perpendicularmente à superfície do órgão As células da zona fasciculada são poliédricas, contêm um grande número de gotículas de lipídios no citoplasma e aparecem vacuoladas em preparações histológicas rotineiras devido à dissolução de lipídios durante a preparação do tecido. Por causa dessa vacuolização, essas células são também chamadas espongiócitos. Produção de glicocorticoides (cortisol) A zona reticulada, a região mais interna do córtex situada entre a zona fasciculada e a medula, contém células dispostas em cordões irregulares que formam uma rede anastomosada. Essas células são menores que as das outras duas camadas e contêm menos gotas de lipídios que as da fasciculada. Grânulos de pigmento de lipofuscina são grandes e bastante numerosos nessas células em adultos. Células estão organizadas em uma rede ramificada e coram intensamente com corante rosa eosina. Produção de androgênios Medula adrenal Localizada centralmente, faz parte do SNA. A medula da glândula suprarrenal parece-se mais com um agrupamento de neurônios do que com uma glândula, deriva da crista neural e participa da parte simpática do SNA Suas células cromafins medulares esféricas são neurônios simpáticos pós-ganglionares que secretam os hormônios derivados de amina epinefrina e norepinefrina no sangue para melhorar a resposta de lutar ou fugir. Esses hormônios são armazenados em vesículas secretórias dentro da célula As células cromafins da medula da suprarrenal têm o potencial de desenvolvimento em neurônios simpáticos pós-ganglionares. Elas são inervadas por neurônios simpáticos pré-ganglionares colinérgicos e podem sintetizar o neurotransmissor norepinefrina a partir da tirosina. Contudo, os altos níveis de cortisol que drenam para a medula a partir do córtex da suprarrenal induzem a expressão da enzima feniletanolamina N- metiltransferase (PNMT), que transfere um grupo metila para uma norepinefrina produzindo o hormônio epinefrina, o principal produto hormonal da medula da suprarrenal A medula adrenal é composta de células poliédricas organizadas em cordões ou aglomerados arredondados, sustentados por uma rede de fibras reticulares. Além das células do parênquima, há células ganglionares parassimpáticas. Todas essascélulas são envolvidas por uma abundante rede de vasos sanguíneos. Em razão do mecanismo de controle de secreção do córtex, pacientes que são tratados com corticoides por longos períodos nunca devem cessar de receber esses hormônios subitamente – a secreção de ACTH nesses pacientes está inibida, e, se ocorrer a retirada súbita de corticoides exógenos, o córtex não é induzido de imediato a produzir corticoides endógenos, resultando em alterações graves nos níveis de sódio e potássio no organismo. Disfunções do córtex adrenal podem ser classificadas como hiper ou hipofuncionais. Tumores do córtex podem resultar em produção excessiva de glicocorticoides (síndrome de Cushing). A síndrome de Cushing em geral se deve a um adenoma da hipófise que resulta em produção excessiva de ACTH; mais raramente, é causada por hiperplasia adrenal ou tumor adrenal. Córtex fetal ou provisório A glândula adrenal do recém-nascido é proporcionalmente muito maior que a do adulto porque há uma camada conhecida como córtex fetal ou córtex provisório entre a medula e o delgado córtex definitivo. Essa camada é bastante espessa, e suas células estão dispostas em cordões. Depois do nascimento, o córtex provisório involui enquanto o córtex definitivo se desenvolve, diferenciando-se nas suas três zonas características. Uma função importante do córtex fetal é a secreção de conjugados sulfatados de andrógenos, que, na placenta, são convertidos a andrógenos ativos e estrógenos que agem no feto. As células do parênquima se originam de células da crista neural, as quais aparecem durante a formação do tubo neural na vida embrionária, e que migraram para o interior da adrenal, constituindo lá a camada medular. O citoplasma das células da medular têm grânulos de secreção que contêm epinefrina ou norepinefrina, pertencentes a uma classe de substâncias denominadas catecolaminas. Glicocorticoides Os glicocorticoides, dentre os quais um dos mais importantes é o cortisol, são secretados principalmente pelas células da zona fasciculada e em menor grau por células da zona reticulada para ajudar o corpo a enfrentar situações estressantes como o jejum, a ansiedade, o trauma, as multidões e a infecção. Os glicocorticoides regulam o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, exercendo, portanto, ações no organismo inteiro. Os glicocorticoides também suprimem a resposta imune, redirecionam os linfócitos circulantes para os tecidos linfáticos e periféricos, onde se encontra a maioria dos patógenos. No entanto, quando presentes em grande quantidade, os glicocorticoides deprimem a resposta inflamatória e inibem o sistema imune. O sistema de defesa do organismo e o córtex adrenal estão, portanto, associados, porque o cortisol tem propriedades anti-inflamatórias por inibição de atividade dos leucócitos, por supressão de citocinas e também por ação imunossupressora. Alguns glicocorticoides também apresentam atividade mineralocorticoide, porém de maneira mais fraca que a aldosterona. Os glicocorticoides mantêm suficientemente elevados os níveis de glicose sanguínea para suportarem as atividades cerebrais, obrigando ao mesmo tempo a maioria das outras células do corpo a escolher as gorduras e os aminoácidos como fontes de energia. Controle de secreção dos hormônios do córtex O controle inicial da secreção pelo córtex adrenal ocorre pela liberação de hormônio liberador de corticotropina (CRH) na eminência mediana da hipófise. Esse é transportado para a pars distalis da hipófise, onde estimula as células corticotróficas a secretarem hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), também chamado de corticotropina, que estimula a síntese e a secreção de hormônios no córtex adrenal onde sinaliza a secreção de glicocorticoides e mineralocorticoides. Glicocorticoides circulantes podem inibir a secreção de ACTH tanto no nível do hipotálamo como da hipófise A glândula suprarrenal responde ao estresse de curto prazo e ao estresse prolongado. A inervação simpática da medula da glândula suprarrenal ativa a resposta ao estresse de curto prazo. Em resposta ao estresse prolongado, o hipotálamo libera o hormônio liberador de corticotropina (CRH). A zona fasciculada produz o hormônio glicocorticoide cortisol. Essa zona consiste em um tecido ativamente esteroidogênico composto por cordões retos de células grandes. Essas células apresentam um citoplasma “esponjoso” porque são cheias de gotículas lipídicas que representam ésteres de colesterol (CEs) armazenados. Essas células fabricam algum colesterol novo, porém importam uma quantidade significante de colesterol do sangue na forma de lipoproteína de baixa densidade (LDL). As partículas de LDL ligam-se a seu receptor (LDLR) e sofrem endocitose. No interior dos endolisossomos, o colesterol livre (FC) é liberado dos CEs por uma lipase lisossomal e o FC é transportado para fora do endolisossomo pelas proteínas de Niemann-Pick C (NPC). O colesterol livre é armazenado em gotículas lipídicas no citoplasma após a esterificação pela acil-CoA-colesterol aciltransferase (ACAT) O colesterol armazenado é continuamente transformado outra vez em colesterol livre pela lipase hormônio-sensível (HSL), um processo que aumenta em resposta ao hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) Toda a síntese de hormônios esteroides começa nas mitocôndrias, onde a primeira enzima, é fixada à membrana mitocondrial interna. Embora várias proteínas pareçam estar envolvidas na transferência do FC para a matriz mitocondrial interna, uma proteína chamada StAR é indispensável neste processo A proteína StAR tem vida curta e é rapidamente ativada após a tradução (fosforilação) e transcrição por hormônios tróficos hipofisários. Na zona fasciculada, o colesterol é convertido sequencialmente em pregnenolona, progesterona, 17- hidroxiprogesterona, 11-desoxicortisol e cortisol Uma via paralela na zona fasciculada envolve uma via que evita a 17-hidroxilação, na qual progesterona é convertida em 11-desoxicorticosterona (DOC) e então corticosterona Essa via é menos importante em humanos, mas na ausência de CYP11B1 ativa (atividade de 11-hidroxilase), a produção de DOC é significante. Uma vez que DOC age como um mineralocorticoide fraco, níveis elevados de DOC causam hipertensão. TRANSPORTE E METABOLISMO DO CORTISOL O cortisol é transportado no sangue predominantemente na forma ligada à globulina ligação de corticosteroides [CBG] (também chamada de transcortina), que se liga a aproximadamente 90% do cortisol, e a albumina, que se liga a 5% a 7% do cortisol. O fígado é o local predominante da inativação de esteroides. Ele inativa o cortisol e conjuga os esteroides ativos e inativos com glicuronídeo ou sulfato para que possam ser excretados com maior rapidez pelos rins. A meia-vida circulante do cortisol é de aproximadamente 70 minutos. O cortisol é inativado de modo reversível pela conversão em cortisona. Essa ação é catalisada pela enzima 11β- hidroxiesteroide desidrogenase tipo 2 (11β-HSD2). A inativação do cortisol por 11β-HSD2 ocorre em células que também expressam o receptor de mineralocorticoide (MR) e constituem as células alvo da aldosterona A conversão de cortisol em cortisona impede a ligação do cortisol a MR e a presença de ações mineralocorticoides inapropriadas nestas células. A inativação de cortisol por 11β-HSD2 é reversível porque outra enzima, a 11β-HSD1, converte cortisona de volta em cortisol. Essa conversão ocorre nos tecidos que expressam o receptor de glicocorticoide (GR), incluindo fígado, tecido adiposo e SNC, assim como a pele. MECANISMO DE AÇÃO DO CORTISOL O cortisol age basicamente pelo receptor de glicocorticoide, que regula a transcrição gênica. Na ausência do hormônio, GR está situado no citoplasma em umcomplexo estável com várias chaperonas moleculares, incluindo proteínas de choque térmico e ciclofilinas. A ligação cortisol-GR promove a dissociação das proteínas chaperonas, seguida por: 1. Translocação rápida do complexo cortisol-GR no núcleo. 2. Dimerização e ligação aos elementos de resposta de glicocorticoides (GREs, tanto GREs “positivos” quanto GREs “negativos”) próximos aos promotores basais dos genes reguladores de cortisol. 3. Recrutamento de proteínas coativadoras e recrutamento de fatores de transcrição, provocando aumento ou diminuição da transcrição dos genes alvo. Em alguns casos, GR interage com outros fatores de transcrição, como o fator de transcrição do fator nuclear pró-inflamatório (NF)-κB, e interfere na sua capacidade de ativar a expressão gênica. AÇÕES FISIOLÓGICAS DO CORTISOL O cortisol tem uma ampla faixa de ações e muitas vezes é caracterizado como um “hormônio de estresse”. Em geral, o cortisol mantém os níveis sanguíneos de glicose, a função do SNC e a função cardiovascular durante o jejum e aumenta a glicose sanguínea durante estresse às custas da proteína muscular. O cortisol protege o organismo contra os efeitos nocivos de respostas inflamatórias e imunológicas desenfreadas. O cortisol também poupa energia para lidar com o estresse ao inibir a função reprodutora. Tem vários outros efeitos sobre ossos, pele, tecido conjuntivo, trato GI e no feto em desenvolvimento, que são independentes de suas funções relacionadas ao estresse. Ações Metabólicas O cortisol é um hormônio esteroide do córtex da suprarrenal que regula a glicose sanguínea. Ele aumenta a glicose sanguínea ao estimular a gliconeogênese O cortisol aumenta a expressão gênica da principal enzima gliconeogênica hepática. Diminui a captação de glicose mediada por GLUT4 no músculo esquelético e no tecido adiposo. Durante o período interdigestivo (baixa razão insulina-glucagon), o cortisol promove um efeito poupador de glicose pela potencialização dos efeitos de catecolaminas sobre a lipólise, consequentemente disponibilizando FFAs como fontes de energia. O cortisol inibe a síntese proteica e aumenta a proteólise, especialmente no músculo esquelético, fornecendo assim uma rica fonte de carbono para a gliconeogênese hepática. Durante o estresse, o cortisol age em sinergia com catecolaminas e glucagon para promover uma resposta metabólica lipolítica, gliconeogênica, cetogênica e glicogenolítica, ao mesmo tempo em que mantém a sinergia com catecolaminas para promover uma resposta cardiovascular apropriada. Durante uma elevação crônica de cortisol, secundária a uma superprodução patológica, o cortisol age em sinergia com a insulina no contexto de níveis elevados de glicose (devido ao aumento de apetite) e hiperinsulinemia (devido a uma elevação de glicose e intolerância à glicose) para promover lipogênese e adiposidade no tronco (abdominal/visceral). Ações Cardiovasculares O cortisol reforça seus efeitos sobre a glicose sanguínea por meio de efeitos positivos sobre o sistema cardiovascular. O cortisol tem ações permissivas sobre catecolaminas ao aumentar a expressão do receptor adrenérgico e consequentemente contribuir para aumentar o débito cardíaco e a pressão arterial. O cortisol estimula a síntese de eritropoietina e por isso aumenta a produção de eritrócitos. A anemia ocorre quando o cortisol é deficiente e policitemia ocorre quando os níveis de cortisol são excessivos. Ações Anti-Inflamatórias e Imunossupressoras Inflamação e respostas imunológicas muitas vezes fazem parte da resposta ao estresse. Contudo, a inflamação e as respostas imunológicas carregam um potencial de dano importante e podem causar a morte se não forem mantidas em um equilíbrio homeostático. Como um hormônio de estresse, o cortisol tem um papel importante para manter a homeostasia imunológica. O cortisol, juntamente com a epinefrina e a norepinefrina, reprime a produção de citocinas pró-inflamatórias e estimula a produção de citocinas anti-inflamatórias. A resposta inflamatória à lesão consiste em dilação local dos capilares e aumento da permeabilidade capilar, com edema local resultante e acúmulo de leucócitos. Estas etapas são mediadas por prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos. O cortisol inibe a fosfolipase A2, uma enzima essencial na síntese de prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos. O cortisol também estabiliza as membranas lisossomais, consequentemente diminuindo a liberação das enzimas proteolíticas que aumentam o edema local. Em resposta à lesão, os leucócitos normalmente deixam o sistema vascular e migram para o local de lesão. Esse processo complexo geralmente é inibido pelo cortisol, assim como a atividade fagocitária dos neutrófilos, embora a liberação dos neutrófilos pela medula óssea seja estimulada. Análogos de glicocorticoides frequentemente são usados farmacologicamente devido a suas propriedades anti-inflamatórias. O cortisol inibe a resposta imune e por esse motivo análogos de glicocorticoides são usados como imunossupressores em transplantes de órgãos. Altos níveis de cortisol diminuem o número de linfócitos T circulantes (particularmente linfócitos T auxiliares) e reduzem sua capacidade de migração para o local de estímulo antigênico. Glicocorticoides promovem a atrofia do timo e outros tecidos linfoides. Embora os corticosteroides inibam a imunidade celular, a produção de anticorpos pelos linfócitos B não é comprometida. Efeitos do Cortisol Sobre Sistemas Reprodutores A reprodução requer um custo anabólico considerável do organismo. Em seres humanos, o comportamento e a função reprodutiva são atenuados em resposta ao estresse. O cortisol diminui a função do eixo reprodutivo nos níveis hipotalâmico, hipofisário e gonadal. Efeitos do Cortisol Sobre o Osso Os glicocorticoides aumentam a reabsorção óssea. Eles têm múltiplas ações que alteram o metabolismo ósseo. Os glicocorticoides diminuem a absorção intestinal de Ca++ e a reabsorção renal de Ca++. Os dois mecanismos servem para reduzir [Ca++] sérico. Quando [Ca++] sérico diminui, a secreção do paratormônio (PTH) aumenta e PTH mobiliza Ca++ do osso ao estimular a reabsorção óssea. Além dessa ação, os glicocorticoides inibem diretamente as funções de formação óssea dos osteoblastos. Embora os glicocorticoides sejam úteis no tratamento da inflamação associada à artrite, seu uso excessivo produzirá perda óssea (osteoporose). Ações do Cortisol Sobre o Tecido Conjuntivo O cortisol inibe a proliferação de fibroblastos e a formação de colágeno. Na presença de quantidades excessivas de cortisol, a pele fica delgada e é lesada com mais facilidade. O suporte de tecido conjuntivo para os capilares é comprometido e as lesões capilares, ou contusões, aumentam. Ações do Cortisol Sobre os Rins Inibe a secreção e a ação do hormônio antidiurético (ADH) e, portanto, é um antagonista do ADH. Na ausência de cortisol, a ação do ADH é potencializada, o que faz que seja difícil aumentar a eliminação de água livre em resposta à carga de água e aumenta a probabilidade de intoxicação hídrica. Embora o cortisol ligue-se ao receptor mineralocorticoide com alta afinidade, essa ação normalmente é bloqueada pela inativação de cortisol em cortisona pela enzima 11β-HSD2. Contudo, a atividade mineralocorticoide (ou seja, retenção renal de Na+ e excreção de H2O, K+ e H+) do cortisol depende da quantidade relativa de cortisol (ou glicocorticoides sintéticos) e da atividade de 11β-HSD2. Alguns agentes (p. ex., compostos no alcaçuz) inibem 11β-HSD2 e como consequência aumentam a atividade mineralocorticoide do cortisol. O cortisol aumenta a taxa de filtração glomerular tanto por meio de um aumento do débito cardíaco quanto pela ação direta nos rins. Ações do Cortisol Sobreos Músculos Quando os níveis de cortisol são excessivos, fraqueza e dor muscular são sintomas comuns. A fraqueza tem múltiplas origens. Em parte, ela é o resultado da proteólise excessiva produzida pelo cortisol. Altos níveis de cortisol podem resultar em hipocalemia (por ações mineralocorticoides), que pode produzir fraqueza muscular porque hiperpolariza e estabiliza a membrana das células musculares e consequentemente dificulta a estimulação. Ações de Cortisol Sobre o Trato Gastrintestinal Exerce um efeito trófico sobre a mucosa GI. Na ausência de cortisol, a motilidade GI diminui, a mucosa GI sofre degeneração e a produção de ácidos e enzimas GI diminui. Uma vez que o cortisol estimula o apetite, o hipercortisolismo frequentemente está associado a um ganho de peso. A estimulação do ácido gástrico e secreção de pepsina mediadas por cortisol aumentam o risco de desenvolvimento de úlceras. EFEITOS PSICOLÓGICOS DO CORTISOL Distúrbios psiquiátricos estão associadas a níveis excessivos ou deficientes de corticosteroides. Um excesso de corticosteroides pode produzir inicialmente uma sensação de bem-estar, mas a exposição excessiva contínua eventualmente provoca labilidade emocional e depressão. Psicose franca pode ocorrer com excesso ou deficiência do hormônio. O cortisol aumenta a tendência de insônia e diminui o a fase REM do sono. Pessoas com deficiência de corticosteroides tendem a ser deprimidas, apáticas e irritáveis. EFEITOS DO CORTISOL DURANTE O DESENVOLVIMENTO FETAL O cortisol é necessário para o desenvolvimento normal do SNC, retina, pele, trato GI e pulmões. O efeito de cortisol mais estudado é no sistema pulmonar, onde o cortisol induz a diferenciação e a maturação de células alveolares do tipo II. No final da gestação, essas células produzem o surfactante, que reduz a tensão superficial nos pulmões e permite então o início da respiração ao nascimento. REGULAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CORTISOL A produção de cortisol pela zona fasciculada é regulada por um eixo hipotálamo-hipófise-adrenal padrão envolvendo o hormônio liberador de corticotrofina (CRH), ACTH e cortisol. O hipotálamo e a hipófise estimulam a produção de cortisol e o cortisol realiza retroalimentações negativas sobre o hipotálamo e a hipófise para manter seu ponto de ajuste. Formas de estresse neurogênico (p. ex., medo) e sistêmico (p. ex., hipoglicemia, hemorragia, citocinas) estimulam a liberação de CRH. O CRH também está sob uma intensa regulação rítmica diurna emergente do núcleo supraquiasmático, de modo que os níveis de cortisol atingem um pico no início do período pré-amanhecer e horas da manhã e então declinam continuamente ao longo do dia e à noite. O CRH estimula agudamente a liberação de ACTH e aumenta de modo crônico a expressão do gene de pró- opiomelanocortina (POMC) e hipertrofia e proliferação de corticotrofos. Alguns neurônios parvocelulares coexpressam CRH e ADH, o que potencializa as ações de CRH. ACTH liga-se ao receptor de melanocortina 2 (MC2R) localizado nas células da zona fasciculada. Os efeitos de ACTH podem ser subdivididos em três fases: 1. Os efeitos agudos do ACTH ocorrem dentro de minutos. O colesterol é mobilizado rapidamente a partir de gotículas lipídicas pela ativação pós-translacional da enzima colesterol éster hidrolase e é transportado para a membrana mitocondrial externa. O ACTH aumenta rapidamente a expressão do gene da proteína StAR e ativa a proteína StAR por meio de uma fosforilação dependente de proteína quinase A (PKA). Em conjunto, essas ações agudas de ACTH aumentam os níveis de pregnenolona. 2. Os efeitos crônicos do ACTH ocorrem ao longo de um período de várias horas. Esses efeitos envolvem o aumento da transcrição dos genes que codificam as enzimas esteroidogênicas e suas coenzimas. O ACTH também aumenta a expressão do receptor de LDL e do receptor scavenger BI (SR-BI; o receptor de HDL). 3. As ações tróficas do ACTH sobre a zona fasciculada e a zona reticular ocorrem ao longo de um período de semanas e meses. Esse efeito é exemplificado pela atrofia da zona fasciculada em pacientes que recebem níveis terapêuticos (ou seja, suprafisiológicos) de análogos de glicocorticoides por no mínimo três semanas. Nessas condições, os corticosteroides exógenos reprimem completamente a produção de CRH e ACTH, resultando assim na atrofia da zona fasciculada e declínio da produção endógena de cortisol. No fim da terapia, esses pacientes precisam ter sua dose de glicocorticoides exógenos reduzidas lentamente para permitir o restabelecimento do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e da zona fasciculada com o objetivo de aumentar e produzir quantidades adequadas de cortisol. O cortisol inibe tanto a expressão do gene POMC nos corticotrofos quando a expressão do gene pró-CRH no hipotálamo. Contudo, o estresse intenso pode se sobrepor aos efeitos de retroalimentação negativa de cortisol no hipotálamo e redefinir o “ponto de ajuste” em um nível mais elevado.