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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Admilson G. de Almeida EAD Editora Universitária Adventista Presidente da Divisão Sul-Americana: Stanley Arco Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos da Silva Alves Presidente do Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp: Maurício Lima Reitor: Martin Kuhn Vice-reitor para a Educação Básica e Diretor do Campus Hortolândia: Henrique Karru Romaneli Vice-reitor para a Educação Superior e Diretor do Campus São Paulo: Afonso Ligório Cardoso Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de graduação: Edilei Rodrigues de Lames Pró-reitor de pós-graduação lato sensu e Pró-reitor da educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de desenvolvimento espiritual e comunitário: Wendel Tomas Lima Pró-reitor de Desenvolvimento Estudantil e Diretor do Campus Engenheiro Coelho: Carlos Alberto Ferri Pró-reitor de Gestão Integrada: Claudio Valdir Knoener Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes; Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante; Dr. Fabiano Leichsenring, Dr. Fabio Alfieri; Pr. Gilberto Damasceno; Dra. Gildene Silva; Pr. Henrique Gonçalves; Pr. José Prudêncio Júnior; Pr. Luis Strumiello; Dr. Martin Kuhn; Dr. Reinaldo Siqueira; Dr. Rodrigo Follis; Me. Telson Vargas Editor-chefe: Allan Macedo de Novaes Supervisora Administrativa: Rhayane Storch Responsável editorial pelo EaD: Jéssica Lisboa Pereira FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO 1ª Edição, 2023 Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Admilson Gonçalves de Almeida Doutor em Educação ( área de História e Filosofia da Educação) pela Universidade Metodista de Piracicaba Marques, Pâmela Caroline Costa Ferramentas de produtividade e gestão do tempo [livro eletrônico] / Pâmela Caroline Costa Marques. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2022. PDF Bibliografia. ISBN 978-65-5405-041-8 1. Administração 2. Gestão de negócios 3. Produtividade 4. Tempo - Administração I. Título. 22-134421 CDD-650.1 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Tempo : Produtividade : Administração 650.1 Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380 Fundamentos Filosóficos e Históricos da Educação 1ª edição – 2023 e-book (pdf) OP 00123 Coordenação editorial: Amanda Ferelli Preparação: Adriane Rodrigues Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa: Jonathas Sant’Ana Diagramação: Kenny Zukowski Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Francisco Luiz Gomes de Carvalho Doutorado em Educação: História e historiografia da Educação - (USP) Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO FILOSOFIA: CONCEITO, IMPLICAÇÃO E APLICAÇÃO ..............................10 Introdução ...........................................................................11 A era dos mitos ....................................................................11 Filosofia: a origem ................................................................14 Grécia: Sócrates, o modelo de pedagogo; Platão e Aristóteles .............................................16 Filosofia patrística (do século 1 ao 7 D.C.) ..........................................................22 Escolástica ............................................................................23 Considerações finais .............................................................26 Referências ..........................................................................27 HISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO ......................28 Introdução ...........................................................................29 Idade antiga e a história da educação romana .....................29 Esparta ........................................................................29 Atenas ..........................................................................30 Idade média .........................................................................32 As reformas religiosas ...................................................34 Idade moderna: racionalismo, empirismo, criticismo ...........................................................35 Racionalismo ................................................................36 Empirismo ....................................................................36 Criticismo .....................................................................36 Idade contemporânea: pragmatismo ..................................37 VO CÊ ES TÁ A QU I Outros atores: autores contemporâneos ...............................38 Immanuel Kant (1724 - 1804) ......................................38 Augusto Comte (1798 – 1857) .....................................39 Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) .........................39 Karl Marx (1818 – 1883) ..............................................40 Michel Foucault (1926 – 1984) ....................................40 Paulo Freire (1921 – 1997) ...........................................40 Considerações finais .............................................................41 Referências ..........................................................................41 EDUCAÇÃO E SISTEMA POLÍTICO NO BRASIL ......................................43 Introdução ...........................................................................44 O início de tudo: a educação jesuíta no Brasil colônia ..................................................................45 Método pedagógico .....................................................47 Expoentes do período Brasil colônia .............................49 Educação no Brasil império ..................................................49 Educação no Brasil república ................................................51 A primeira república (1889-1930) ................................52 A segunda república (1930 – 1937) .............................53 O Estado Novo (1937-1945) ..........................................55 A quarta república (1945-1964) ...................................56 Reformas educacionais: Benjamin Constant .........................56 A reforma educacional proposta por Benjamim Constant ................................................57 A reforma Rivadávia Corrêa (1911) ...............................58 Reforma de 1915 ..........................................................58 Reforma de 1925 ..........................................................58 Educação superior no Brasil e a formação dos brasileiros ...................................................59 Considerações finais .............................................................60 Referências ..........................................................................61 A PRÁTICA ESCOLAR E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS ............................62 Introdução ...........................................................................63 pedagogia liberal: tendência liberal tradicional ...................63 Principais características...............................................65 Pedagogia liberal: renovada progressiva ..............................66 Pedagogia liberal: tendência liberal renovada não diretiva e liberal tecnicista .............................67 Tendência liberalrenovada não diretiva .......................67 Pedagogia liberal tecnicista ..........................................68 Pedagogia progressista: tendência progressista libertadora e progressista libertária .....................................70 Tendência progressista libertadora ..............................70 Tendência progressista libertária ..................................72 Pedagogia progressista: tendência progressista crítico-social dos conteúdos .................................................73 Escola Nova ..........................................................................74 Considerações finais .............................................................78 Referências ..........................................................................79 EDUCAÇÃO E PROPÓSITO: HISTÓRIA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ ..................80 Introdução ...........................................................................81 Cosmovisão bíblica e a educação hebraica ...........................81 Educação e redenção ............................................................86 Filosofia cristã de educação ..................................................87 Valores: ética e moral ...........................................................90 A pedagogia do mestre dos mestres.....................................93 Considerações finais .............................................................97 Referências ..........................................................................97 EMENTA Estudo da constituição do pensamento pedagógico da antiguidade à contemporaneidade, com destaque na Educação Brasileira, considerando os diferentes elementos étnico-raciais. Fundamentos históricos e filosóficos que subsidiam as concepções educacionais. Constituição da escola e correntes pedagógicas no Brasil. O sujeito do processo educacional: os métodos e concepções de ensino e aprendizagem. UNIDADE 1 - Compreender a importância da reflexão sobre o campo de estudo da história e filosofia da educação; - Demonstrar compreensão do fenômeno da educação como saber indispensável à prática docente; - Organizar o processo histórico e filosófico partindo da antiguidade até contemporaneidade a partir das ressalvas sociais, culturais, políticas e econômicas que influenciaram o processo educacional; - Produzir diferentes perspectivas filosóficas aos problemas concretos relativos à educação e à sociedade; - Pesquisar os princípios educacionais que nascem das conjecturas da cosmovisão cristã; - Interpretar o verdadeiro fundamento da educação considerando o real propósito de Deus ao criar a humanidade OB JE TI VO S FILOSOFIA: CONCEITO, IMPLICAÇÃO E APLICAÇÃO 11 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO INTRODUÇÃO Seja muito bem-vindo (a) ao nosso estudo! Ao longo das próximas páginas, estaremos adentrando em uma etapa fundamental para a sua vida profissional, compreendendo os fundamentos filosóficos e históricos da educação, um tema mais necessá- rio e pertinente do que você imagina. Como ponto de partida, analisaremos mais de perto o conceito de “mito” para, em seguida, nosso compreender o surgimento da filosofia. Esta é considerada oposta aos mi- tos; ela é o caminho para a superação das narrativas inquestionáveis, pois vem para dar outro discurso para as origens, uma nova forma de observar o mundo, na busca de encontrar sentido para a vida do homem. Pensando, por exemplo, na filosofia grega, lembramos quase que automaticamente de três filósofos clássicos que você muito provavelmente já ouviu falar: Sócrates, Platão e Aristóteles, que estudaremos bre- vemente aqui. Compreenderemos também a trajetória da filosofia nos diferentes períodos históricos. Por fim, pensaremos na filosofia cristã a partir do estudo da escola patrística e escolástica, com foco na visão de Agostinho e Tomás de Aquino. Ah, você nunca ouviu falar em “patrística” ou em “escolástica”? Então, esse termo é uma referência aos pais da igreja e aos ensinamentos dirigidos pelos padres no início da Idade Média. Já a escolástica é o movimento filosófico concentrado nas escolas, o que te ajudará a compreender o nascimento das primeiras universidades ocidentais, que permitiram o aprofundamento do debate sobre vários temas, principalmente os ligados à teologia, à vida, à morte e à própria existência do homem. Muito bem, temos aqui o roteiro inicial de nossa jornada. Esperamos que ao fim, você seja capaz de: • compreender a importância da reflexão sobre o campo de estudo da filosofia da educação; • analisar os processos históricos e filosóficos estudados da antiguidade clássica até a contempo- raneidade, levando em conta aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos que influencia- ram o processo educacional; • avaliar por meio de uma reflexão crítica as relações de poder nos diferentes momentos históri- cos e suas implicações para a educação. Bom estudo! A ERA DOS MITOS Você já ouviu falar de algum mito? O folclore brasileiro, por exemplo, está recheado de narrativas e histórias míticas riquíssimas em detalhes! Um detalhe curioso a respeito de cada um desses contos é que, quando normalmente são apresentados, são contados de maneira tão enfática e eloquente que em algumas situações ganham a conotação de verdade. As narrativas geralmente giram em torno de mons- tros, guerras ou até mesmo romances; claramente, encontramos muitos desses mitos não só na cultura brasileira, mas em muitas civilizações, algumas delas pretendendo apresentar suas próprias versões da criação do mundo. Na tentativa de responder às três perguntas clássicas sobre a existência: “Quem eu sou? De onde vie- mos? Para onde iremos?”, o homem, ao longo de sua vida, desenvolveu muitos desses contos ou versões. É a todo esse conjunto de elementos que damos o nome de mito. 12 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Contudo, a grande questão é: de forma técnica, qual é o conceito de mito? Por que é importante abordá-lo dentro do estudo filosófico e histórico da educação? Pois bem, inicialmente é preciso saber que a “palavra mito vem do grego mythos. Dois verbos confluem para mythos: mytheo, que é a con- versação e a designação, e mytheyo, que é a narração, o contar algo para outro” (GHIRALDELLI JR., 2003, p. 4). Os autores ou perpetuadores das his- tórias mitológicas buscam narrar algo, visto que possuem a intenção de informar. Contudo, o que acima de tudo estes importantes agentes ao longo de toda a história buscaram constantemente é manter a estabilida- de no imaginário social dos membros de uma comunidade. Essas histó- rias lhes traziam ou trazem conforto. Crer nelas lhes permite, ainda, criar um sentimento de identidade, tão fundamental a diversas civilizações. A mitologia grega era rica nessas narrativas! Devido aos poemas, principalmente, somos conhecedores de várias alegorias míticas, oriun- das dos poetas gregos. Estes narravam explicações sobre a origem do universo, geralmente associada a uma divindade, pois havia um deus res- ponsável pelo mar, outro deus responsável pelo fogo, outro pelo trabalho etc. Sendo uma cultura politeísta, acreditavam em vários deuses. Para o homem grego, o mito vai além de curiosidades sem com- promisso com a realidade ou para a descontração popular, pois a cada narrativa criada há uma tentativa humana de explicar algum fenômeno, explicar a realidade, a origem dos deuses, o início do mundo, o princípio dos homens e de tudo que os cerca. O mito grego é uma espécie de conhecimento sagrado, inquestioná- vel, por vezes apresentando-se com um caráter sacro. Em diversas outras civilizações, o uso de uma figura divina também acompanhou comumente a tentativa mitológica de explicar o desconhecido. Há uma relação próxima entre o sagrado e mito e, na Grécia, considerada também o berço da Filoso- fia, não foi diferente. “Desde os tempos maisremotos, o mito é compreendi- do pelos homens como algo sagrado e, portanto, relacionado sempre com o divino” (SANTOS FILHO, 2013 p. 13). A narrativa sagrada é a história. Chauí (2000, p. 381) também nos acrescenta o seguinte: “Esta não é uma fabula- ção ilusória, uma fantasia sem consciência, mas a maneira pela qual uma sociedade narra para si mesma seu começo e o de toda a realidade.” A autora ainda afirma que o “mito é uma narrativa” e quem a ou- via desde sua infância a aceitava naturalmente como verdade absoluta, sem questionamento, sendo transmitida de geração para geração. Não há qualquer explicação científica para subsidiar as narrativas, sendo a criati- vidade o ponto áureo. Por exemplo, há mitos que trazem uma explicação sobre pessoas que estão amando ou estão apaixonadas, afinal, temos o amor (Eros), que representa a atração física de um ser humano pelo outro. Nas narrativas gregas, Eros possui um arco e uma flecha, e quan- do ele a atira em alguém, o indivíduo atingido se apaixona e quer logo ALEGORIA O Priberam Dicionário define alegoria como um “modo indireto de representar uma coisa ou uma ideia sob a aparência de outra”. Disponível em: https://diciona- rio.priberam.org/alegoria. Acesso em: 19 jan. 2023. 13 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO satisfazer suas necessidades amorosas e sexuais. É bom ressaltar que na linguagem grega pode haver diferentes explicações para uma palavra, como é o caso da própria palavra “amor”. Como vimos, Eros é uma espé- cie de amor que envolve a sexualidade ou o intenso desejo por algo, po- rém philia também se apresenta como um amor diferente, fraternal, entre amigos, sem envolver atração física sexual – inclusive, é justamente philia que dá origem à palavra “filosofia”, como veremos mais adiante. O amor ágape, muito presente na Bíblia, cujo Novo Testamento foi escrito em grego, faz referências ao amor divino bíblico, o amor de Deus para com sua criação, além revelar o próprio caráter de Deus, que segun- do a própria Bíblia é “amor”. Voltemos mais um tempo à questão do mito, pois ainda há de se fazer mais considerações a seu respeito: muitos filmes e séries contem- porâneos são inspirados nas narrativas mitológicas gregas - tal como a guerra de Troia, por exemplo -, ou até mesmo games e jogos de tabuleiro. Aqui vai outro exemplo que demonstra como a cultura dos mitos gregos - não somente sua filosofia -, nos afeta e influencia até hoje: historiadores afirmam que havia um período para homenagear Zeus, um deus grego que habitava em um monte chamado Olimpo. Logo, a cada quatro anos os homens disputavam provas atléticas. Se você conseguiu conectar tais eventos com um importante evento presente há décadas em todo o mun- do, provavelmente percebeu que essa é a origem histórica das Olimpía- das, também disputadas de quatro em quatro anos, não mais para home- nagear qualquer deus mítico, mas para a inclusão de diversas nações em um importante evento esportivo. Em síntese do que vimos até aqui, e segundo Chauí (2000, p. 34, 35), temos três elementos que resumem o mito: primeiro, o mito grego busca explicar como as coisas eram ou tinham sido, conforme menciona- mos mais acima; segundo, o mito narra o sobrenatural, envolvendo deu- ses que recebem características humanas, o que também visualizamos; por último, o mito não evita possíveis contradições, visto que os ouvintes confiavam plenamente no narrador – que, não raro, também acreditava no que dizia. Algumas narrativas da mitologia grega são ricas em detalhes, como as histórias dos deuses Zeus, Hera, Poseidon, Hades e diversos outros. Ou- tras famosas são as dos filhos dos deuses, como Hércules, que formam relatos incríveis. Não temos aqui a intenção de nos aprofundarmos em nenhuma das narrativas míticas, mas, somente a título de exemplo e para fecharmos bem esta questão, citaremos aqui algumas histórias clássicas para que, caso você tenha algum interesse em se aprofundar mais neste setor, você já tenha ao menos por onde começar: • os doze trabalhos de Hércules; • a guerra de Troia e a viagem de Ulisses – Ilíada e Odisseia de Homero; • Afrodite; Mitologia grega. Fonte: Shutterstock 14 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO • Orfeu; • Narciso; • o calcanhar de Aquiles etc. O mito contribuiu progressivamente para o nascimento do pensamento filosófico, pois, mesmo sen- do considerado como sagrado, ainda não se poderia considerá-lo de forma alguma como filosofia, tam- pouco como ciência ou teologia. Afinal, por que ele foi tão relevante para a origem do pensamento, então? Simples e imaginável: se era natural que fossem criados para explicar a origem das coisas, igualmente natural seria que fossem questionados! “Por que o mundo é tal como é? Por que existe a morte? O que é a vida?” As respostas a essas perguntas estavam fora dos mitos e narrativas, o que levou obrigatoriamente os primeiros filósofos a buscar uma explicação racional. Foi justamente dessa realidade que o logos, ou seja, o pensamento racional, não compactuando com o saber alegórico, permitiu a gênese da filosofia, como veremos a seguir. FILOSOFIA: A ORIGEM Observamos até aqui que as narrativas míticas cumpriram um papel importante nas comunidades gregas, visto que o mito buscou explicar os desígnios dos deuses, a origem do homem, do fogo, dentre outros fenômenos. Além disso, os gregos foram conhecidos como uma civilização que vivia do comércio e das navegações, mantendo contato com outras civilizações. As próprias profecias bíblicas, por meio do livro de Daniel, fazem referências à civilização grega e seu poder de guerra. Em Daniel 8:21, a Grécia é o reino de bronze, comanda- do por Alexandre Magno, o Grande, que é vitorioso na guerra contra o reino de prata (medos e persas). A partir dessa realidade social, política e econômica tão integrada por séculos, já não era possível res- ponder de forma racional a todos os questionamentos dos homens. Sendo assim, a filosofia nasceu como um caminho para a superação dos mitos, o que claramente não ocorreu de maneira instantânea, sendo parte de um processo gradual. Com as guerras, muitos locais foram conquistados e houve, inevitavelmente, interações culturais que apresentaram outras maneiras de conceber a realidade. As viagens pelo mar também foram um elemento importante, pois permitiram descobrir que os mitos contados sobre monstros habitando nos oceanos não tinham fundamentação. Outro fator relevante que não pode deixar de ser considerado é o aparecimento do homem urbano, já que a vida nas cidades possibilitou o crescimento do comércio e de sua expansão, criando a necessidade de escrita, de calendários, de moedas e de lideranças para governar as polis (cida- des) gregas. Todo esses elementos foram fatores que contribuíram para o nascimento da filosofia em um espaço de maior interação social e raciocínio crítico. No século 7 a.C., havia uma quantidade considerável de praças (ágora) nas polis, espaços de convi- vência pública e locais de encontro e debates. Historiadores afirmam que na Grécia antiga já havia estudos sobre diversos assuntos como geometria e política, conhecimentos opostos às explicações mitológicas. Inicialmente, a filosofia não se propôs a responder ou solucionar problemas, contudo, com o tempo a reflexão constante sobre estes assuntos por indivíduos dedicados a essa esfera passou a exigir coerência, além de novas metodologias e abordagens para responder a algumas das questões existenciais e sociais humanas. Assim, a filosofia de forma progressiva foi rompendo com a mitologia e se encontrando com a lógica e com a razão. 15 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Razão, aqui, é compreendida como consciência, com critérios e princípios para entender os problemas. A partir desse contexto, a filoso- fia nasceu com o propósitode interrogar, não aceitando mais as expli- cações aparentemente prontas que por eras deram conta de responder às perguntas humanas para boa parte da população. O questionamento passou a ser o método de exercitar a razão, o que permitiu que a filosofia nascesse vagarosamente da admiração e do espanto dos gregos com a realidade. Era outra era: as explicações míticas e as tradições humanas já não eram mais suficientes. O filósofo grego Pitágoras de Samos, que viveu no século 5 a.C., afir- mava que a sabedoria pertence aos deuses, mas que os homens podem amá-la, tornando-se filósofos. Tal pensamento ajuda a explicar o próprio significado da palavra filosofia como prometido anteriormente. Veja: a palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. As- sim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, a estima, o procura e o respeita (CHAUÍ, 2000, p. 19). A Grécia antiga é o berço da filosofia ocidental, embora seja impor- tante ressaltar que outras civilizações antigas possuíam sabedoria, ques- tionamentos e crenças que também se desenvolveram. Como exemplo, podemos citar o povo hebreu, que pode ser estudado a partir da Bíblia, quando a utilizamos também como fonte de pesquisa histórico-docu- mental. As civilizações como um todo “faziam filosofia”, questionavam parte de suas crenças ou as utilizavam como forma de progresso tecno- lógico, científico e social. A crença em si jamais deve ser vista como de- mérito e nenhuma nação permaneceu em obscuridade ou possuía como característica a ausência de pensamento reflexivo. Contudo, a civilização grega, por compor através de suas cidades o auge da urbanização em um período de imenso contato comercial e cultural entre as nações, era o ambiente propício para que boa parte do que conhecemos hoje como Filosofia emergisse a partir de diversos pensadores que escreveram e dei- xaram suas obras como herança para a humanidade. Os gregos estavam insatisfeitos com a explicação politeísta que relacionava todos os fenômenos a algum deus – deus este que possuía raiva, dor, sofrimento, atrações sexuais etc. Logo, o indivíduo grego, nesse contexto de questionamento, descobriu que o conhecimento podia ser desenvolvido de forma lógica, racional, não mais preso e reduzido à obs- curidade, aceitando tudo de forma passiva sem qualquer manifestação crítica da realidade. Ghiraldelli Jr. (2006), claramente muito mais contemporâneo a nós, conceitua parcialmente a filosofia afirmando ser ela uma ciência simples, A filosofia é útil, pois permite adquirir conhecimento além do senso comum. 16 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO por se tratar também de situações comuns do dia a dia do ser humano: filmes, esportes, contas a pagar, preocupações cotidianas e outros assuntos banais. Ao mesmo tempo, ele afirma por outro lado que ela pode ser complexa justamente no ato possível de desbanalizar o banal, o que para o autor é a pura e sim- ples atividade da filosofia lançando mão do uso da razão. Por esse motivo, a filosofia é útil, pois permite adquirir conhecimento além do senso comum, impedindo a estagnação e revelando o que está oculto na simplicidade não tão simples da vida, sendo este seu ato mais radical. Há questionamentos a serem feitos por trás de cada preocupação ou evento comum. Por isso, os primeiros filósofos faziam perguntas aparentemente banais para nós hoje, como: por que uma criança se torna adulta? Por que a doença enfraquece as pessoas? Por que existe dia e noite? De onde vem as estrelas? De onde vem a luz do sol? Os contos mitológicos não questionavam essas coisas, narran- do explicações que buscavam responder de forma transcendental todas as mesmas perguntas. A filosofia rompeu com essas tradições, sendo Tales de Mileto considerado o primeiro filósofo, atuando no final do século 7 e no início do século 6 a.C. Pois bem, a partir daqui, vamos dar continuidade à origem da filosofia e de seus principais filósofos clássicos gregos de forma mais aprofundada, analisando o legado que deixaram para o mundo pós-moder- no e, principalmente, para a área da educação. GRÉCIA: SÓCRATES, O MODELO DE PEDAGOGO; PLATÃO E ARISTÓTELES O século 6 a.C. se tornou um marco, pois pode ser considerado o século oficial do surgimento da filo- sofia nas colônias gregas. Como vimos, seu nascimento teve como contexto a necessidade de um modelo que permitisse pensar o mundo de forma reflexiva, superando a pluralidade dos mitos. Não se engane: a filosofia ainda teria de percorrer alguns caminhos até os dias de hoje. Antes de atravessá-los, contudo, será necessário lhe apresentar os quatro grandes períodos da filosofia grega. São eles: • século 6 ao 5 a.C.: período pré-socrático; • século 5 ao 4 a.C.: período socrático: Sócrates e Platão; • século 4 ao 3 a.C.: período sistemático: Aristóteles; • século 3 ao 6 d.C.: período helenístico. O primeiro período, chamado de pré-socrático, ficou conhecido também como cosmológico, pois questionava a origem do mundo e a transformação da natureza. A palavra “cosmologia” é composta de duas outras: “cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, e logia, que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento” (CHAUÍ, 2000.p. 39). Esse período, do final do século 7 ao final do século 5 a.C., teve como principal representante Tales de Mileto, já mencionado no estudo de hoje, que considerava em sua teoria que todas as coisas eram oriundas do elemento água. Os filósofos pré-socráticos, como ficaram conhecidos, deram início aos diferentes questionamentos sobre o cosmo. Recebem também esse nome pois são pensadores, em sua grande maioria, anteriores a Sócrates ou à filosofia socrática – embora houvesse contemporâneos a Sócrates também considerados representantes de um período anterior. Esses pensadores, em suma, centravam seus estudos e questionamentos na natureza, ao contrário da posterior reflexão filosófica centrada no ser humano. 17 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Antes de Sócrates, os relatos escritos e históricos são escassos, portanto menos passíveis de apro- fundamento. Os principais filósofos pré-socráticos são: Tales de Mileto - considerado o pai da filosofia -, Anaximandro - que foi discípulo de Tales -, Anaxímenes, Pitágoras e Heráclito. O segundo período, como listado anteriormente, é conhecido como socrático - ou antropológico -, durando do final do século 5 a todo o século 4 a.C.. Ele recebe o nome de antropológico pois, em grego, ântropos é igual a “homem”. Como anunciado, é a partir desse período que a filosofia passou a investigar as questões humanas. Temas como a ética, a política e as técnicas são bases dos questionamentos dos filóso- fos desse período, em uma época em que a cidade de Atenas vivia em plena democracia. Os primeiros filósofos do período socrático são chamados de sofistas (os mestres de sua época, em- bora o termo tenha ganho uma conotação cada vez mais depreciativa com o passar dos séculos). Os sofistas ensinavam aos jovens a oratória, a retórica e as técnicas de persuasão, sendo considerados professores. Seus alunos pagavam pelos ensinamentos, recebendo em troca conhecimentos amplos de diversos assuntos. Sócrates (469–399 a.C.) discordava em parte dos ensinos dos sofistas e, sendo considerado um mo- delo de pedagogo, foi conhecido por uma proposta de pensamento que era resumida em uma frase: co- nhecer a si mesmo. Sócrates nasceu na cidade de Atenas, na Grécia, em 469 a.C., sendo considerado um divisor de águas quandoo contexto é a história da filosofia. Sócrates não pertencia à nobreza ateniense, sendo seu pai um escultor e sua mãe uma parteira. Assim como os sofistas, ocupava seu tempo na arte de ensinar, embora não recebesse nada por isso. Ele o fazia como uma forma de viver, um estilo de vida que permitia que seus ensinamentos fossem ensinados e aplicados aos jovens através de diálogos e questionamentos. A metodologia socrática era ensinar por meio de indagações. Sócrates andava pela cidade (polis) questionando os cidadãos, fazendo perguntas como: o que é a coragem? O que é a justiça? Não se impor- tando com a classe social, Sócrates conversava com qualquer pessoa, de qualquer idade, em um método que ficou conhecido como maiêutica, que pode ser definido como “parto”. Historiadores afirmam que esse termo foi usado em homenagem a sua mãe, que exercia a profissão de parteira. SAIBA MAIS Segundo o portal Uol, a maiêutica socrática consistia num método de sucessivas perguntas pela essência das coisas. Sócrates lançava uma per- gunta, o interlocutor respondia-a, Sócrates tornava a perguntar ao mesmo indivíduo em cima da resposta anterior, e assim por diante. Conheça mais sobre o assunto acessando o link: https://mundoeducacao.uol.com.br/filo- sofia/maieutica.htm. Acesso em: 19 jan. 2023. O objetivo desse método de ensino era motivar os jovens e os discípulos a conceberem suas próprias ideias, inspirado no trabalho de sua própria mãe, que ajudava no nascimento das crianças. Assim era a maiêu- tica socrática, o ato de trazer à luz conhecimentos que estavam dentro do próprio homem. Outro método de ensino socrático é conhecido como ironia, que não se dava no sentido do senso comum, ou seja, não ocorria de forma depreciativa. A ironia de Sócrates está ligada a questionamentos, interrogações e interpelações. Depois de obter respostas às suas perguntas, Sócrates insistia em questionar o indivíduo até fazer com que ele reconhecesse seu próprio limite. A frase célebre que retrata esse contexto é: “Só sei que nada sei”, visto https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/maieutica.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/maieutica.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/maieutica.htm 18 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO que após ouvir todas as respostas de seu público, Sócrates percebia que o caminho mais seguro era não afirmar de forma conclusiva absolutamente nada, já que tudo poderia ser questionado. O reconhecimento de sua ignorância era o princípio da busca pela sua sabedoria! Quanto mais o homem busca conhecimento sobre um determinado assunto, mais ele deve reconhecer que pouco sabe sobre ele, o que o permite buscar constantemente o aperfeiçoamento do sa- ber e conhecer. Essa era a sua regra filosófica mais básica e ele a levava bem a sério! Sócrates, em 399 a.C., foi julgado sob acusação de graves crimes como desrespeito às tradições e corrupção da juventude. Condenado à morte em Atenas, teve de beber um veneno denominado de cicuta. A so- ciedade ateniense de sua época não estava preparada para as doutrinas e ensinamentos desenvolvidos por esse pensador, o que proporcionou, no final de seu processo, a declaração coletiva de “culpado”. Curiosamente, seu legado permanece presente até hoje, como podemos perceber. Tudo que sabemos sobre Sócrates advém de seu principal discí- pulo, Platão (427–347 a.C.), que desenvolveu os ensinamentos de seu mestre. Ateniense, oriundo de uma família nobre, é considerado um dos mais expoentes pensadores da história da filosofia. No seu currículo há a fundação de sua própria escola, denominada de Academia, uma espécie de universidade para o ensino, precursora das do mundo ocidental de séculos posteriores. Seu nome de nascimento era Arístocles, mas por sua condição física atlética acabou sendo apelidado por Platão, uma palavra grega que des- creve um indivíduo de “ombros largos”. Ele usava como método a dialé- tica (arte da discussão), cuja metodologia se assemelhava a adotada por Sócrates. Abalado pela morte de seu mestre, Platão resolveu empreender viagens pelo mundo, o que proporcionou que aumentasse seus conheci- mentos e cultura. Ao retornar para sua cidade natal, decide fundar sua escola filosó- fica, a referida Academia. “Essa escola foi uma das primeiras instituições permanentes de ensino superior do mundo ocidental”, como afirmam Co- trim e Fernandes (2016). Como ressaltamos anteriormente, a academia platônica pode ser considerada, de fato, como o protótipo de uma ins- tituição de ensino superior, em que os alunos estudavam filosofia, reali- zavam pesquisas científicas e adquiriam formação política. Platão desen- volveu a teoria das ideias como o propósito de tentar explicar como se desenvolve o conhecimento. Este deve deixar de ser simplesmente uma opinião (do grego doxa), sendo compreendido a partir da esfera da razão. “Para atingir esse mundo, o homem não pode apenas ter amor às opiniões (filodoxia), precisa desenvolver amor ao saber (filosofia)” (CO- TRIM e FERNANDES, 2016). O método dialético é o caminho traçado por Platão para atingir um autêntico conhecimento (epistéme). Em uma de Sócrates e a sociedade. Fonte: Shutterstock 19 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO suas principais obras, no livro República, Platão escreveu o Mito da caver- na, em que leva seus leitores a realizarem um exercício de imaginação. Em resumo, Platão inicia sua história solicitando que seus leitores imaginem uma caverna na qual gerações após gerações, as pessoas nas- cem e crescem aprisionadas. Por toda a sua existência, permanecem no mesmo lugar, não conseguindo sequer movimentar o pescoço, manten- do-se sempre olhando apenas para frente. Platão questiona o que acon- teceria, porventura, se um prisioneiro conseguisse se libertar da caverna, descobrindo que existe uma realidade diferente da realidade conhecida quando era ainda prisioneiro. Partindo da possibilidade de que o indivíduo resolveria voltar e contar a verdade aos demais que ainda estão no fundo da caverna, Pla- tão propõe que certamente os demais prisioneiros não acreditariam e até zombariam dele. Inclusive, caso continuasse a falar de outra realidade, acabariam por tirar-lhe a própria vida. Ao fim, Platão propõe uma analo- gia: ele afirma que a caverna é o próprio cosmo em que vivemos, que a luz exterior da caverna é a própria verdade e o prisioneiro que se liberta é o filósofo. Logo, a filosofia é comparada com a verdade, com o mundo das ideias e das transformações. O mito da caverna apresenta o caminho para a liberdade, o filósofo é o que se liberta e sai da caverna para um mundo inteligente, racional e independente. Chegamos, enfim, ao terceiro período, denominado “sistemático”, datado do final do século 4 até o final do século 2 a.C. Nesse período, houve a reunião e sistematização de tudo o que foi pensado no primeiro período e no segundo, “interessando-se sobretudo em mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensa- mento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da verdade e da ciência” (CHAUÍ, 2000, p. 48). Aqui encontramos como representante principal Aristóteles (384–322 a.C.), cujo nascimento ocorreu em Estagira, na Macedônia. Considerado um expoente da filosofia na antiguidade, foi aluno na Academia de Platão, tornando-se um dos seus principais discípulos. Aristóteles estudou quase vinte anos na Academia, tornando-se pro- fessor e, mais tarde, já fora da Academia, sendo o preceptor de Alexandre, o Grande. Aristóteles, dentre tantos outros temas, tratou especialmente de política, leis, lógica, ética e comportamento humano. Depois da morte de seu mestre Platão, fundou sua própria escola de filosofia que ficou conhe- cida como Liceu, trabalhando nesse local por mais de dez anos. Dentre os aspectos metodológicos para seusestudos, destacou-se a lógica! Finalmente, o quarto e último período é denominado de helenís- tico ou greco-romano, indo do final do século 3 a.C. até o século 6 d.C. O período helenístico pôde ser compreendido como a interação cultural dos gregos com os orientais, contando com a permanente influência das escolas de Platão e Aristóteles. Este foi, oficialmente, o último período da filosofia antiga. Platão e seus discípulos. Fonte: Shutterstock 20 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO O caminho percorrido pela filosofia é extenso e, ao longo de tantas fases históricas, ela se concentrou em vários temas e objetos de investiga- ção. Destacaremos alguns a seguir. Iniciaremos com a metafísica, que é considerada um ramo da filoso- fia, cujo significado, de forma direta, é o estudo “além da física”. A origem da palavra é grega, apontando o propósito de saber o que é real ou qual é a essência das coisas. Outro ramo da filosofia é a epistemologia; seu papel é buscar respostas para a pergunta: o que é verdade? A resposta para tal questão deve estar relacionada diretamente com o processo da confiabilidade das fontes. Sendo assim, o conhecimento está no centro do processo. Não podemos deixar de destacar a axiologia, que apresenta como principal indagação a questão: o que tem valor? Quando pensamos em valores, inevitavelmente criamos alguma ligação com a temática da ética. Esse estudo está envolvido com o comportamento, pensando em como devemos nos comportar diante de uma determinada situação. De uma maneira geral, a filosofia sempre teve profundas preocupações com a éti- ca, elemento que se intensificou após o pensamento cristão se consolidar progressivamente no império romano. Na carona da ética temos a estéti- ca, que se relaciona conceitualmente com o belo e com a arte. Antes de entrarmos no estudo sobre a patrística e a escolástica, queremos lembrá-lo que a religião cristã teve seu início no primeiro sé- culo d.C. Paulo de Tarso, convertido ao cristianismo, buscava unir a fé e a razão. A Bíblia relata, no livro de Atos, uma de suas visitas a Atenas, con- siderada a cidade origem da filosofia ocidental, lugar que ele percebeu ainda haver fontes tendenciosas ao paganismo e à idolatria. Mas quem foi Paulo? O livro bíblico de Atos dos Apóstolos cons- titui uma fonte documental com detalhes significativos sobre a vida do apóstolo Paulo de Tarso. No original grego, esse livro indica a práxis dos apóstolos, cuja história nos lembra que o cristianismo não foi bem acei- to em seu início, havendo perseguição aos adeptos dessa nova forma de religião. Essa perseguição durou três séculos até a sua tolerância no século 4 d.C. O livro Atos dos Apóstolos nos apresenta os relatos das ações evan- gelizadoras dos seguidores de Cristo. Nesse sentido, vale a pena, por mais conhecida que seja, relembrar a trajetória do apóstolo Paulo. Este, tam- bém conhecido como Saulo, era um judeu helenista que nasceu em uma cidade cujo nome era Tarso, a capital da Cilícia. Tarso era a maior cidade da Cilícia, uma região ao extremo sudeste da Ásia Menor, em frente a Chi- pre, capital da província romana, famosa por suas escolas. Ainda jovem, foi conduzido a Jerusalém com o objetivo de receber orientações teológicas, tendo como seu principal orientador o mestre Ga- maliel, um fariseu de renome na época. Por essa razão, Saulo se mostrou um judeu zeloso das doutrinas farisaica. Ao defender essas doutrinas, ele PRÁXIS: segundo o site Dicio, Práxis é uma “ativi- dade ou situação concreta que se opõe à teórica; prática”. Disponível em: https:// www.dicio.com.br/praxis/. Acesso em: 20 jan. 2023. 21 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO exerce o papel de perseguidor dos fiéis da religião nova que estava se desenvolvendo. A perseguição con- sistia em exterminar homens e mulheres seguidores dessa nova fé. Lucas, em Atos dos Apóstolos, relata a conversão deste importante personagem histórico de um modo extraordinário: de judeu fariseu, inimigo dos cristãos, destruidor de vidas, perseguidor de fiéis, Paulo se transformou em um instrumento para a pregação do evangelho de Cristo, movimento que tempo depois viria a ser chamado de Cristianismo. A conversão de Saulo, ou Paulo, possibilitou uma mudança no processo de propagação da religião de Cristo para fora dos muros de Jerusalém. Paulo levaria, a partir da transformação de suas convicções, as boas novas do evangelho de Cristo para muitas pessoas, especialmente aos gentios e aos pagãos, ou seja, aqueles que não são judeus em sua essência. Essa transformação se torna impressionante quando recorremos à Bíblia como nossa principal fon- te de pesquisa histórica. O relato do capítulo nove de Atos apresenta o início do processo do chamado de Saulo, pois quando ele caiu em terra, ouviu seu nome ser chamado por duas vezes, sendo então questionado por uma voz que o indagava: “Por que me persegues?” Sua resposta, então, vem com outra pergunta: “Quem és tu, Senhor?” A resposta é direta e definidora do destino de sua vida: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues.” Depois de ouvir essas palavras, Paulo, de acordo com o relatado no livro, recebeu instruções que deveriam ser estritamente observadas, pois o Eu Sou desejava orientar e preparar Saulo para um trabalho especial. A partir de então, Paulo se converteu ao cristianismo, passando posteriormente algum tempo no deserto da Arábia para reformular seus pensamentos. A rigorosa lei judaica deu lugar a sua nova teologia: a salvação pelos méritos de Jesus. De perseguidor, ele começou a trilhar os seus primeiros passos para se tornar o maior pregador cristão. Ao estudar a vida de Paulo, é possível afirmar que ele era missionário e peregrino incansável. Encontramos relatos de suas viagens por mar e por terra, fazendo longas caminhadas pelas estradas dominadas pelo império romano, encontrando diversas dificuldades. Seu senso de missão o motivava para enfrentar grandes dificuldades e perigos, mas nada disso o fez desistir de suas viagens missionárias, pois o evangelho sempre estava em primeiro plano. Sua estratégia era visitar os grandes centros urbanos de sua época, desejando sobretudo alcançar os helenistas. Foi dessa forma que chegou em Atenas, capital da filosofia no período clássico, à casa de filóso- fos tais como Sócrates, Platão e Aristóteles. Essas informações são relevantes para se entender realmente como o cristianismo avançou no processo da história da filosofia. Neste lugar, Paulo se defrontou com alguns filósofos, visto que Atenas ainda respirava a cultura das escolas filosóficas de Platão e Aristóteles. O que mais chamou a atenção de Paulo foi o paganismo: a cidade estava tomada de ídolos, remontando à era dos mitos gregos, presentes de forma cultural e em boa parte do credo popular. A idolatria constituía uma oposição à divulgação e ao crescimento da filosofia cristã. Mesmo assim, Paulo faz uso da palavra, o que chama a atenção dos filósofos epicureus e estoicos, que manifestaram o interesse de conhecer mais sobre a pregação de Paulo. Partindo desse interesse, Paulo é convidado a dis- cursar no Areópago, pois estavam curiosos em conhecer o que eles chamaram de novas doutrinas. Isso só foi possível pois os filósofos reconheceram em Paulo um conhecimento elevado e uma capa- cidade intelectual respeitada. Resolveram conhecer o que esse estrangeiro havia de comunicar. O Areópa- go era considerado pelos atenienses um dos locais sagrados, debates ocorriam e decisões eram tomadas nesse lugar. De acordo com o relato de Lucas em Atos, a classe intelectual da cidade chegou a se reunir nesse lugar para ouvir a filosofia de Paulo. Em seu discurso, ele fez referência ao Deus desconhecido, divindade presente na cidade ateniense. Paulo ressalta, de maneira estratégica, que a população local poderia não conhecê-lo, contudo ele o co- 22 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãOE APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO nhecia. A partir daí e nessas circunstâncias é que a filosofia cristã avança pelo ocidente. A ideia de Paulo era fazer de seu discurso uma profunda reflexão para os idólatras e filósofos atenienses, na perspectiva de con- vencê-los da existência de um Deus único, vivo e criador de todas as coi- sas. É justamente essa temática que vai subsidiar os avanços nos períodos posteriores. Curiosamente e conforme já mencionado, o início do cristianismo não foi algo fácil: muitos foram perseguidos, inclusive o próprio Paulo, que pagou com a sua própria vida de forma satisfeita e orgulhosa ao com- pletar sua carreira. Séculos depois, aproximadamente no quinto século da era cristã, a fé e a razão, ou seja, a religião e a filosofia, novamente se aproximam de forma sistemática, principalmente a partir da queda do império romano do ocidente. O cristianismo começou a crescer e a ampliar seus territó- rios. O movimento que se iniciou com um pequeno grupo após a morte de Cristo, alguns séculos mais tarde se tornou uma grande religião do ocidente. A preocupação maior dos professos crentes, contudo, de fato não era tanto filosófica, mas espiritual, buscando apresentar Jesus Cristo como um Deus que encarnou, viveu entre os homens, foi crucificado para a salvação da raça e ressuscitou. As doutrinas do cristianismo, então, seriam a partir daí temas de es- tudo tanto da patrística - inspirados na filosofia greco-romana que busca a união dos temas fé e razão -, como da escolástica, que resgata a filosofia de Aristóteles e de suas obras, agora traduzidas do grego para o latim. FILOSOFIA PATRÍSTICA (DO SÉCULO 1 AO 7 D.C.) Alguns conceitos, contribuições e características do cristianismo são relevantes e devem ser destacados para compreendermos melhor o pensamento ocidental após o fim da idade antiga. Pois bem, tendo como fonte de seus ensinamentos a própria Bíblia, a doutrina cristã apregoava o conceito de monoteísmo, diferente do politeísmo grego. Além disso, justamente por conta da nova relação do divino com o humano através de Cristo, a questão do pecado ou da morte passaram a ser temas trata- dos não mais como um problema permanente, pois com a morte de Je- sus houve solução para eles, visto que Ele mesmo venceu tanto o pecado como a morte. Utilizando esse contexto e crenças, a filosofia patrística foi desen- volvida por diversos padres e teólogos a partir do quarto século. Sua figu- ra mais importante foi Santo Agostinho de Hipona. Esse período é marca- do pelo franco crescimento do cristianismo, principalmente por conta da orientação dos escritos do apóstolo Paulo. Entramos a partir daí em um período bem significativo da história da filosofia que é o medieval, perío- O cristianismo advoga o conceito de monoteísmo (crença em um só Deus). 23 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO do, no ocidente, em que a fé cristã começou a ser observada como tema filosófico, principalmente pela pa- trística latina, visto que havia aqui uma ligação significativa com a igreja de Roma. Os primeiros padres da igreja se empenharam na preparação de numerosos escritos sobre a fé e a razão. O conjunto desses textos ficou conhecido como “patrística”, inicialmente inspirados na filosofia greco-romana. O objetivo aqui, também era o de conquistar mais adeptos para o cristianismo, iniciando uma longa jor- nada que atravessou toda a idade média. Os padres beberam na fonte da filosofia platônica, adaptando-a para o cristianismo – visto que os gregos defendiam uma ideia conceitual de politeísmo (crença em vários deuses), enquanto, na contramão, o cristianismo advogava o conceito de monoteísmo (crença em um só Deus). Novas temáticas foram desenvolvidas, trabalhando questões como a criação do mundo, pecado, a encarnação de um Deus e a coexistência da trindade. Estes temas passaram a ser uma problemática da reflexão filosófica, embora sejam hoje muito mais ligados à teologia, em nossa concepção moderna de separação entre o cientificismo e a crença ou fé. Nos tempos de outrora, a defesa de uma doutrina religiosa tinha por objetivo possibilitar a harmonia entre fé e razão. O expoente que merece destaque nessa fase histórica, como mencionamos, é Santo Agostinho (354- 430 d.C.), que traz à luz reflexões fundamentais para a história do pensamento cristão, propondo debates fundamentais sobre a temática fé e razão. Depois de viver uma vida distantes dos caminhos religiosos, tomou-se bispo em Hipona no ano de 395, considerado um dos mais relevantes pensadores da patrística e do período medieval. É autor de várias obras literárias, como A trindade e A verdadeira religião. Santo Agostinho também abordou o tema do livre-arbítrio. Para ele, é por meio desse tema que o ho- mem é capaz de fazer suas próprias escolhas, principalmente as que envolvem o bem e o mal. Influenciado pela filosofia de Platão, principalmente na questão do dualismo corpo e alma, essa dicotomia se apresenta até hoje em muitas religiões cristãs. A patrística pode ser considerada uma vertente filosófica que home- nageia de certa forma a filosofia religiosa cristã, cuja produção literária expressa justamente temas ligados diretamente à fé. ESCOLÁSTICA Carlos Magno, rei dos francos, no século 8, valorizou o ensino, principalmente fundando várias ins- tituições educacionais católicas. O conhecimento guardado nas bibliotecas dos mosteiros voltou a ser di- vulgado e o modelo que foi seguido foi a educação romana, principalmente o Trivium (três disciplinas): gramática, retórica e dialética. Posteriormente, ainda, o Quadrivium (quatro disciplinas): geometria, arit- mética, astronomia e música. Já no século 11, as primeiras universidades surgiram e, a partir do século 12, por ter sido ensinada nas escolas, a filosofia medieval também passou a ser conhecida pelo nome de “escolástica”, cujo método de expor as ideias filosóficas ficou conhecido como “disputa”, em que “apresentava-se uma tese e esta devia ser ou refutada ou defendida por argumentos tirados da Bíblia, da filosofia de Aristóteles, de Platão ou de outros padres da Igreja” (CHAUÍ, 2000, p. 54). O surgimento da escolástica está ligado ao fortalecimento do comércio e do surgimento das primei- ras universidades, como: a Universidade de Salermo, Bolonha, Paris, Oxford, Pádua, Nápoles, Toulouse, Sala- manca, Cambridge, Praga etc. Elas serviam como centros de formação eclesiástica, sendo ainda o ambiente em que eram proporcionadas as discussões e debates de forma dialética, cujas temáticas eram geralmente ligadas ao contexto religioso. O acesso das mulheres era nulo, permanecendo analfabetas, exceto no caso de algumas que viviam nos castelos e pertenciam à nobreza. 24 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO O destaque para esse período é Tomás de Aquino (1224-1274), que estudou teologia em Paris. Depois da conclusão do curso, ensinou daqui- lo que aprendeu e escreveu diversos comentários bíblicos. Escreveu tam- bém sobre metafísica, psicologia e política, fortemente influenciado por Aristóteles. Sua filosofia é de suma importância para a teologia e filosofia da educação até os dias atuais. Na questão da filosofia da educação, To- más de Aquino tinha como objeto de estudo todo o processo educacio- nal, ou seja, a análise dos processos de ensino, assim como os de aprendi- zagem, realizando reflexões nos processos de avaliação, nos modelos de aulas e nas relações entre o professor e o aluno. Talvez a partir daí você comece a perceber a importância do estudo da educação dentro do contexto da filosofia, pois o processo educacional se apresenta a todas as sociedades, nos grandes e pequenos grupos, de maneira formal e informal, afinal, no processo educacional encontramos aquele que ensina e um outro ser que aprende. É importante lembrar o que Aranha (1990, p. 50) sintetiza muito bem, poroutro lado, ao nos lembrar que a educação não é uma simples transmissão, sendo ainda um processo que perpassa pela convivência com outros seres humanos, en- volvendo o respeito pela cultura, pelos valores e pelos princípios. A filoso- fia participa desse processo analisando, estudando e questionando como todos esses elementos podem ser úteis para a ser o humano. É importante perceber a relevância da história da filosofia para compreender vários momentos de nossa própria civilização. A partir dis- so, somos capazes de perceber como a filosofia passou a colaborar com as questões pertinentes à educação. A partir daqui, inspirados na história da filosofia, é que analisaremos a filosofia da educação propriamente dita. A professora Marilena Chauí (2000), em sua celebre obra Convite à filosofia, aborda uma questão bem interessante ao afirmar que devemos estudar filosofia porque ela é útil: é útil quando abandamos a ingenui- dade, quando superamos os preconceitos e quando renunciamos a um pensamento unicamente baseado no senso comum. Estudar filosofia da educação não é desperdício de tempo. Todo aquele que pretende encarar o desafio de ser um profissional da área de educação deve constantemente ter esta pergunta em mente: como estão a minha prática e as minhas teorias pedagógicas? Este ques- tionamento é relevante, principalmente frente a realidade em que nos encontramos no século 21, visto que o mundo inteiro vive diante de mo- dificações significativas, em uma geração marcada pelo desenvolvimento da tecnologia e de novas políticas educacionais. Essa realidade, com toda certeza, questionará que tipo de educação a humanidade precisa neste momento e, enfim, é aí que entra o papel da filosofia da educação. Esse processo é bem latente, pois a “educação dentro de uma socie- dade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um ins- trumento de manutenção ou transformação social” (LUCKESI, 1994, p. 31). Muitas são as ocasiões em que um professor se utiliza de alegorias para SENSO COMUM segundo o site significados, o senso co- mum “é o conhecimento adquirido pelas pessoas a partir dos costumes, das expe- riências e vivências cotidianas”. Disponível em: https://www.significados.com.br/ senso-comum/. Acesso em: 20 jan. 2023. 25 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO facilitar a compreensão de quem está aprendendo, o que não significa que estamos criando seres passivos diante da realidade. O objetivo é exa- tamente outro: é levar os indivíduos a uma reflexão crítica de sua própria existência, de seu valor e de sua colaboração na sociedade. Filosofia e educação, pois, estão vinculadas no tempo e no es- paço. Não há como fugir a essa “fatalidade” da nossa existência. Assim sendo, parece nos ser mais válido e mais rico, para nós e para a vida humana, fazer esta junção de uma maneira conscien- te, como bem cabe a qualquer ser humano. E a liberdade no seio da necessidade (LUCKESI, 1994, p. 33). Como vimos: a filosofia traz a axiologia (valores) como um ramo de seus estudos e, claramente, você irá concordar comigo que é impossível pensar educação sem o desenvolvimento de valores. A filosofia aborda também a ética e a estética como temática de estudo, então fica ainda a pergunta: como falar de educação sem falar de comportamento ético e do belo, das artes? Outra área de estudo da filosofia é a epistemologia (conhecimento), trabalhando, neste caso, o ato de pensar uma educação que possua uma estrutura de progressão, ao trabalhar um conhecimento que seja útil e eficaz para todo a humanidade. Não importa o modelo de educação, se formal ou informal, o ho- mem sempre está em constante processo de mudança. Esse processo é contínuo, permanecendo até o encerramento da vida de qualquer indiví- duo, desde a educação primitiva até a educação na atualidade. Essa refle- xão é impossível sem o uso da filosofia. Os gregos, assim como outras civilizações, se preocuparam com a educação de seus cidadãos, pelo menos da elite social. As cidades gregas (polis), estavam se urbanizando e consequentemente crescendo, sendo assim houve a necessidade de instituições com objetivos de formação cultural, política e social. Em todo o processo histórico da filosofia da educação, encontramos representantes que nos deixaram importantes legados para a construção de uma práxis pedagógica. É válido, portan- to, para nos encaminharmos ao fim deste estudo, apresentarmos alguns importantes nomes que você deve pesquisar e conhecer ainda mais, com o objetivo de verificar como a educação vem se transformando e sendo pensada constantemente ao longo dos últimos séculos. Jan Amos Comenius (1592-1670) nasceu na Morávia, região da Eu- ropa central. Era cristão e teve uma infância sofrida por conta do faleci- mento de seus pais. Sua carreira foi eclesiástica, estudando teologia e, aos 24 anos, desempenhando a função de professor. Sua principal obra é a Didática magna; é considerado o pai da didática moderna. Francis Bacon (1561-1626) nasceu em Londres, em 22 de janeiro de 1561. Já aos 12 anos é enviado ao colégio. Seu interesse pela filoso- fia começou bem cedo, é um filósofo empirista e sua principal obra é a Nova Atlântida. A filosofia da educação levanta observações que os outros setores do campo educacional não acham pertinentes. 26 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Auguste Comte (1798-1857) nasceu na França, no seio de uma família católica; é considerado o pai de uma corrente filosófica de destaque, principalmente no Brasil, denominada de positivismo. De suas obras, destacamos Curso de filosofia positiva e Discurso sobre o espírito positivo. Charles Sanders Peirce (1839-1914) nasceu nos Estados Unidos, estudou em Harvard, foi professor universitário e é considerado um pensador adepto do pragmatismo. Jean Piaget (1896-1980) nasceu na Suíça, tendo trabalhos reconhecidos no mundo inteiro. Sua pes- quisa se concentrou, principalmente, no desenvolvimento infantil. Ele estudou filosofia e biologia e foi professor universitário em Genebra. Suas principais obras são Para onde vai a educação?, A epistemologia genética: sabedorias e ilusões da filosofia e Problemas de psicologia genética. Não é possível dar contar de todos! Portanto, ressaltamos que, caso você tenha o interesse de se aprofundar na vida e obras de um ou outro pensador ou filósofo, não deixe de pesquisar mais. A filosofia da educação recebeu essa herança cultural de proporcionar uma transformação do homem que vive na polis pós-moderna, afinal, “a filosofia da educação, por sua vez, se preocupa com a educação, levantando obser- vações que os outros setores do campo educacional não acham pertinentes” (GHIRALDELLI JR., 2006, p. 30). As práticas pedagógicas são elementos que constantemente são observadas dentro do contexto da filosofia e da educação. Sendo assim, a filosofia e a pedagogia andam de mãos dadas no processo de buscar a transformação do sujeito: o pedagogo busca a garantia de uma boa educação, já o filósofo da educação busca justificar o pedagogo. Todos, por essa razão, andam de mãos dadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final dos estudos deste material! Quanto conteúdo foi apresentado, não é mesmo? É importante ressaltar que nós atravessamos a compreensão do pensamento mítico, do discurso fictício ou imaginário do funcionamento da natureza, pela caracterização da filosofia através de sua história e forma de pensamento, bem como pelo estudo sobre a gênese da filosofia grega e sua herança para o pensamen- to e cultura ocidental. Na sequência, estudamos brevemente a filosofia clássica, conhecemos as contribuições de Sócrates para a filosofia ocidental, a relevância das alegorias e diálogos de Platão, a valorização do conhecimento científico e a lógica de Aristóteles. Depois, o estudo se concentrou na Idade Média, na origem da igreja me- dieval e das principais contribuiçõesfilosóficas de Santo Agostinho de Hipona e de Tomás de Aquino para a história e para a filosofia da educação. Este estudo teve como objetivo realizar uma breve reflexão ao trabalhar a relação entre filosofia e história da educação, a partir da antiguidade, chegando até o período moderno; portanto, os principais focos de estudo foram a filosofia clássica e medieval e seus principais autores no que tange a educação. A proposta primária foi organizar as ideias sobre aprendizagem e debater a importância de conhecer o pro- cesso histórico e filosófico para uma formação profissional. Apresentamos também os principais ramos estudado pelas filosofia e visitamos o contexto do surgi- mento do cristianismo, que de certa forma veio romper parcialmente com o contexto clássico da filosofia socrática e pós-socrática. Vimos que a filosofia cristã aborda temáticas mais ligadas à teologia. No primei- ro século da nossa época, esse pensamento teve início principalmente por conta do trabalho exímio do grande escritor do NT, Paulo de Tarso, intenso em seu propósito de pregação e divulgação de uma nova 27 FIlOsOFIA: CONCEItO, ImPlICAçãO E APlICAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO doutrina, viajando a diversas cidades gregas e defendendo a existência de um só Deus que, como homem, entregou a própria vida para a salvação de todos. É importante lembrar que, aqui, terminamos uma parte da pesquisa sobre o processo filosófico e his- tórico da educação. Contudo, esta foi somente uma introdução que, esperamos, irá lhe direcionar para um voo ainda mais alto nos estudos. Espero que você tenha sucesso e disciplina para continuar nesta jornada. Bons estudos! REFERÊNCIAS ARANHA, M. Filosofia da educação. São Paulo: Editora Moderna, 1990. BÍBLIA. Bíblia Sagrada Online, [s.d.]. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf. Acesso em: 04 jan. 2022. BÍBLIA. Bíblia Sagrada: tradução na linguagem de hoje. São Paulo. Sociedade Bíblica do Brasil, 1988. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000. COTRIM, G. e FERNANDES, M. Fundamentos da filosofia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Disponível em: http://www.joinville.ifsc.edu.br/~sergio.sell/FUNDAMENTOS_de_FILOSOFIA_Cotrim.pdf. Acesso em: 20 jan. 2022. GHIRALDELLI JR., P. Introdução à filosofia. São Paulo: Manole, 2003. Disponível em: https://biblioteca. sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=613588. Acesso em: 04 jan. 2021. _____________. Filosofia da educação. São Paulo: Editora Ática, 2006. LUCKESI, C. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994. SANTOS FILHO, F. Pedagogia filosofia da educação. Montes Claros/MG: Editora unimontes,2013. https://www.bibliaonline.com.br/acf http://www.joinville.ifsc.edu.br/~sergio.sell/FUNDAMENTOS_de_FILOSOFIA_Cotrim.pdf https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=613588 https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=613588 _Hlk88136676 Filosofia: conceito, implicação e aplicação Introdução A era dos mitos Filosofia: a origem Grécia: Sócrates, o modelo de pedagogo; Platão e Aristóteles Filosofia patrística (do século 1 ao 7 D.C.) Escolástica Considerações finais Referências História geral da educação Introdução Idade antiga e a história da educação romana Esparta Atenas Idade média As reformas religiosas Idade moderna: racionalismo, empirismo, criticismo Racionalismo Empirismo Criticismo Idade contemporânea: pragmatismo Outros atores: autores contemporâneos Immanuel Kant (1724 - 1804) Augusto Comte (1798 – 1857) Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) Karl Marx (1818 – 1883) Michel Foucault (1926 – 1984) Paulo Freire (1921 – 1997) Considerações finais Referências Educação e sistema político no Brasil Introdução O início de tudo: a educação jesuíta no Brasil colônia Método pedagógico Expoentes do período Brasil colônia Educação no Brasil império Educação no Brasil república A primeira república (1889-1930) A segunda república (1930 – 1937) O Estado Novo (1937-1945) A quarta república (1945-1964) Reformas educacionais: Benjamin Constant A reforma educacional proposta por Benjamim Constant A reforma Rivadávia Corrêa (1911) Reforma de 1915 Reforma de 1925 Educação superior no Brasil e a formação dos brasileiros Considerações finais Referências A prática escolar e as principais tendências pedagógicas Introdução pedagogia liberal: tendência liberal tradicional Principais características Pedagogia liberal: renovada progressiva Pedagogia liberal: tendência liberal renovada não diretiva e liberal tecnicista Tendência liberal renovada não diretiva Pedagogia liberal tecnicista Pedagogia progressista: tendência progressista libertadora e progressista libertária Tendência progressista libertadora Tendência progressista libertária Pedagogia progressista: tendência progressista crítico-social dos conteúdos Escola Nova Considerações finais Referências Educação e propósito: história e filosofia da educação cristã Introdução Cosmovisão bíblica e a educação hebraica Educação e redenção Filosofia cristã de educação Valores: ética e moral A pedagogia do mestre dos mestres Considerações finais Referências Botão 13:
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