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FUNDAMENTOS 
SOCIOLÓGICOS DA 
EDUCAÇÃO
Jefferson de Andrade
EAD
Editora Universitária Adventista
Presidente da Divisão Sul-Americana: Stanley Arco
Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos da Silva Alves
Presidente do Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp: Maurício Lima
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Editor-chefe: Allan Macedo de Novaes
Supervisora Administrativa: Rhayane Storch
Responsável editorial pelo EaD: Jéssica Lisboa Pereira
FUNDAMENTOS 
SOCIOLÓGICOS DA 
EDUCAÇÃO
1ª Edição, 2023
Editora Universitária Adventista 
Engenheiro Coelho, SP
Jefferson Ricardo de Andrade
Mestre em Educação: História, Política e 
Sociedade pela PUC-SP
Marques, Pâmela Caroline Costa
Ferramentas de produtividade e gestão do tempo [livro eletrônico] / Pâmela Caroline Costa 
Marques. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2022.
PDF
Bibliografia.
ISBN 978-65-5405-041-8
1. Administração 2. Gestão de negócios
3. Produtividade 4. Tempo - Administração I. Título.
22-134421 CDD-650.1
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Índices para catálogo sistemático:
1. Tempo : Produtividade : Administração 650.1
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380
Fundamentos Sociológicos da Educação
1ª edição – 2023
e-book (pdf)
OP 00123
Coordenação editorial: Luciana Lima 
Preparação: Luciana Lima 
Projeto gráfico: Ana Paula Pirani e Kenny Zukowski
Diagramação: Kenny Zukowski
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Editora Universitária Adventista
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Metre me Letras pela Universidade Federal de São João del-Rei
Editora associada:
Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. 
Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da 
editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
VO
CÊ
 ES
TÁ
 A
QU
I
SUMÁRIO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS, 
CONTEMPORANEIDADE E EDUCAÇÃO ..............................................7
Introdução ...................................................................................................................8
Sociedade e transformações sociais .............................................................................8
Educação contextualizada do passado ao presente .....................................................11
Educando com Durkheim, Marx e Weber: 
a perspectiva dos clássicos ..........................................................................................16
Dados internacionais da educação ..............................................................................25
Considerações finais ....................................................................................................27
Referências .................................................................................................................28
EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO ..................................31
Introdução ..................................................................................................................32
Durkheim e a educação ...............................................................................................32
Capitalismo e sistema público de ensino .....................................................................36
Os percalços na educação brasileira .............................................................................40
A influência da escolha do currículo 
e a reprodução das desigualdades ...............................................................................46
Fracasso escolar e violência simbólica .........................................................................53
Considerações finais ....................................................................................................56
Referências .................................................................................................................57
EMENTA
Estudos dos fundamentos sociológicos 
com aplicação nas questões atuais da 
Educação Brasileira. Análise das relações 
entre desigualdades sociais e desigualdades 
escolares, articulado com a visão dos Direitos 
Humanos e a pluralidade cultural; análises 
sobre a escola, seus sujeitos e seus contextos 
socioculturais. 
EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E 
ENSINO PÚBLICO
UNIDADE 2
32
EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
INTRODUÇÃO
A educação nem sempre foi como é hoje e provavelmente não será no futuro como está sendo agora. 
Nessa perspectiva, cabe perguntar: qual a origem da educação e da escola tal como temos hoje? No estudo 
de hoje, veremos como Durkheim inaugura a sociologia da educação a partir de sua teoria do consenso 
social. Veremos também como a escola se enquadra nas necessidades de uma sociedade em que o sistema 
capitalista se consolida cada vez mais como sistema ideológico e econômico, e quais as implicações na 
concepção de educação nos sistemas públicos escolares nos séculos XIX e XX. 
Qual é o papel da escola em relação à moral, civilização, imaginação e ao pensamento crítico? Vamos 
entender como alguns sociólogos enxergam essas relações e refletir sobre a educação atual. Como vem se 
desenvolvendo a educação pública no Brasil? Quais dificuldades tivemos para sua implementação? E ainda 
temos sua consolidação? 
Outra importante pergunta que pode ser feita é: para que serve a escola? Você já parou para pensar 
sobre isso? Toda escola tem um plano de ação chamado projeto pedagógico. Neste documento, estão o ob-
jetivo e a razão de a escola estar no contexto social em que está inserida. Podemos dizer que, quanto maior 
a inserção escolar, mais democrática é a elaboração do projeto. Além da Constituição Federal de 1988, a 
educação brasileira se regula pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei nº 9.394/96) e pelo Plano 
Nacional de Educação (2014-2024). 
Entre outras leis, normas e diretrizes (portanto, na proposta oficial e com base legal), todo brasileiro, 
seja homem ou mulher, tem direito à educação. Fundamentado nessa premissa, poderíamos dizer que a 
escola busca ser universal, gratuita e de qualidade. Respondendo à nossa pergunta inicial, a escola serve 
para oferecer condições de escolaridade para a população. Serve para ensinar as letras, a leitura, as opera-
ções matemáticas, as ciências, a história, a cultura e a arte, dentre outros temas transversais ou opcionais. 
Infelizmente, não são todas as pessoas que têm acesso à escola e ao ensino. Vários são os motivos 
que podem fazer com que a educação não atinja suas metas. Entreeles, o principal é a desigualdade so-
cial. As desigualdades sociais e as formas como a organização escolar colabora para a perpetuação dessas 
desigualdades são desafios constantes aos educadores e às famílias que buscam na educação uma forma 
de ascensão social. No estudo de hoje, também estudaremos os fatores que nos permitirão entender as re-
lações entre esses dois grupos ou instituições sociais. O certo é que a escola sozinha não conseguirá alterar 
todos esses aspectos, mas sem ela esses alunos muito pouco, ou até mesmo nada, conseguirão.
Venha embarcar nessa jornada de contextualização social, histórica e política da educação no Brasil e 
no mundo a partir do desenvolvimento de nossa sociedade ocidental, suas mazelas e virtudes.
DURKHEIM E A EDUCAÇÃO
Durkheim escreveu várias obras, entre elas podemos destacar “A divisão do trabalho social”, “O sui-
cídio”, “As formas elementares da vida religiosa” e “Educação e sociedade”, a qual, por sinal é o foco desta 
parte neste estudo. Já deve ser de seu conhecimento alguns dos conceitos que baseiam a teoria de Émile 
Durkheim, tais como os de solidariedade mecânica, solidariedade orgânica e anomia. Um dos principais 
conceitos para entendermos a perspectiva e analisarmos a sociedade de Durkheim é o de fato social. 
Para o autor (apud GIDDENS, 2005, p. 8), devemos “estudar os fatos sociais como coisas”. O que isso 
significa? Para ele, por intermédio da sociologia, seria possível estudar o mundo social como se estuda o 
mundo natural, por meio das ciências, da mesma forma como acontece com a matemática, biologia, física e 
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
outras ciências ditas duras. Para isso, seria necessário estudar o mundo social com o mesmo rigor metodo-
lógico e objetividade dessas outras ciências. Os fatos sociais possuem três características principais, como 
podemos ver na Figura 06, sendo elas:
Figura 06 - Principais características dos fatos sociais
Coercitivos: os fatos sociais agem sobre os sujeitos de maneira 
a condicionar seu pensamento e suas ações. São exemplos de 
fatos sociais coercitivos: a linguagem, as relações familiares, as 
relações religiosas, entre outros
Externos: eles não fazem parte dos sujeitos e exercem sua força 
de fora para dentro do sujeito.
Objetivos: eles existem, independentemente dos sujeitos.
Fonte: elaborada pelos autores (2017)
A educação entraria, nessa perspectiva social da época de Durkheim, como uma ferramenta de cons-
trução de uma moral coletiva que, sendo estabelecida pela coletividade, reproduz os princípios de sua 
época (a continuidade da sociedade capitalista, individualista e liberal). Porém, ele não aceita esse modo 
de pensar e constituir a sociedade, por não se construir uma sociedade se esta estiver calcada em um indi-
vidualismo, princípio básico do capitalismo e liberalismo. Como se constituiria, então, essa nova socieda-
de? A partir de uma solidariedade orgânica. 
Durkheim viveu períodos de grandes crises, como as de 1870, com superprodução de mercadorias, 
e a Primeira Guerra Mundial. Por isso, a necessidade de uma nova moral coletiva foi fundamental para a 
manutenção da sociedade. Ele não tinha uma visão positiva de sociedade. Muito pelo contrário, acreditava 
que, se ela continuasse da forma como estava, haveria grandes problemas e dificuldades de continuidade. 
As crises e guerras são resultantes da desagregação moral da sociedade. Por isso, havia o desafio de des-
cobrir como os indivíduos constituem a sociedade e como conseguir consenso em seu interior para, assim, 
estruturar a teoria da solidariedade. 
Resumidamente, Durkheim vê dois tipos de sociedade. Dessa forma, podemos entender o conceito 
de solidariedade do seguinte modo: a mecânica e a orgânica. Na mecânica, os homens estão unidos por se-
rem semelhantes em valores, religião, tradição e sentimentos comuns. Por isso, não há diferenciação entre 
eles, pelo contrário, há uma coerência. Já na orgânica não há um consenso, este é resultante da diferencia-
ção e desta deve fazer surgir. São diferentes e, como tal, a união só é possível porque uns dependem dos 
outros para que possam se realizar em sociedade. O certo é que esse conceito é central na obra desse autor.
A sociedade tem prioridade sobre a individualidade e, como tal, passa a exercer um papel preponde-
rante sobre os indivíduos. Assim, a sociedade se organiza por meio do direito, que pode se apresentar de 
duas formas: o repressivo, que, como explicita a palavra, pune quem não estiver seguindo seus preceitos; 
e o cooperativo, que cria regras para organizar a cooperação entre os indivíduos. Não precisamos de mui-
to esforço para escolher um dentre os dois como ideal, ainda que perdurem em nossa sociedade dizeres 
como “bandido bom é bandido morto”, próprios das sociedades de solidariedade mecânica, embora não 
possamos classificar nossa sociedade dessa maneira. 
Diante desses e outros fatos apresentados pelo autor, é importante pensar a educação como uma 
forma de elaboração dos fundamentos para uma sociedade voltada à construção de uma moral coletiva 
que vai fundamentar a solidariedade orgânica. A educação será a ação que os membros de uma geração 
social exercem sobre os outros. 
34
EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Apesar de pensar solidariedade, Durkheim também pensa os homens exercendo essa solidariedade 
de modos diferentes, até mesmo porque a solidariedade orgânica é a solidariedade da sociedade da dife-
renciação. Assim, se somos diferentes, nem todos têm ou são feitos, como diz ele, para refletir. A reflexão 
é um ato próprio de homens sensíveis. Na sociedade orgânica, que é maior, há a necessidade dos homens 
da ação, pois uns fazem serviços para os outros. Por exemplo, se um faz a roupa, para esse alguém outro 
faz a casa, outro o sapato e assim sucessivamente. O trabalho é dividido para que um possa fazer algo para 
o outro. Isso é importante porque, ao nos distanciarmos, conseguimos constituir a sociedade. Portanto, 
a educação é um fenômeno social e tem como tarefa preparar o indivíduo para a socialização; logo, uma 
pessoa educada é a que está preparada para participar da sociedade. Assim, não há um modelo de insti-
tuição de educação: cada sociedade terá um modelo que lhe convém e esse modo é construído a partir da 
história de cada uma.
REFLETINDO
A disciplina tem o objetivo de ser um instrumento da moral. A moralidade 
de uma classe depende da firmeza do educador. Uma classe indisciplinada 
é um perigo, porque é o levante da coletividade. Seria possível concordar 
com essa maneira de pensar? Por que sim e por que não?
Toda educação tem como objetivo levar os educandos a fixar e aderir a determinadas ideias. Logo, 
cada sociedade constrói seu protótipo de pessoa ou de indivíduo. Mas educar é também preparar para a 
especialização, em que cada um vai adquirir condições pelas quais poderá desenvolver sua existência nes-
se corpo social ao qual pertence. A educação molda um espírito de disciplina que instiga as pessoas, que, 
ao serem vigiadas, medidas e avaliadas, agem de modo adulto, diferentemente do modo de ser infantil, 
que é movido pelas paixões sem imposição de limites. Quando há limites, os alunos poderão saber o que 
é o bem e o mal, o que se deve fazer ou não. Se houver disciplina, há saúde e bom humor e cada aluno se 
sente bem onde estiver. 
Isso tudo é necessário, pois naturalmente temos um egoísmo que nos move (nesse sentido, Dur-
kheim tem um ar de John Locke, que vê na necessidade da cidade uma forma de dominar o impulso ani-
malesco em nós; assim como em Hobbes, em que há a afirmação de que o homem é o lobo do próprio 
homem e a criação do Estado - Leviatã - seria necessária para controlar os impulsos existentes, permitindo 
a possibilidade de convívio social). 
Devemos estar atentos a essa forma de educação. Diferentemente do que podemos imaginar, não há 
um intuito mesquinho e desnaturalizador do ser humano, massim de engrandecer sua humanidade. Para 
tal, o Estado tem um papel importante, pois cabe a ele vigiar para que a educação seja desse modo, sem 
defender interesses particulares e nem gerar conflitos. 
Cabe observar, porém, que há uma diferença entre o que é pensado como sendo o ideal de Estado 
e o que efetivamente ocorre. Claro que devemos buscar sempre o melhor, o ideal, mas nem sempre esse é 
atingido. Cabe ver que há proposições, há compromissos que não devem ser esquecidos e até cobrados, 
mas tudo sempre depende da forma como a sociedade se organiza, de como a sociedade consegue atin-
gir um ou outro estágio. O estágio social, em especial de uma democracia, depende sempre de como a 
sociedade se articula para efetivar o proposto (ideal) e o executável. No Brasil, sofremos sérios modismos 
educacionais e às vezes nem mesmo uma teoria se afirma e já surgem outras, fazendo com que os próprios 
educadores sintam dificuldades em entendê-las e implementá-las. 
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Concluindo as reflexões sobre o pensamento de Durkheim, podemos dizer que sua abordagem se 
aproxima das duas perspectivas que Elias (1994) aponta como insuficientes sobre a sociedade: a da socie-
dade como externa ao indivíduo e a do indivíduo como determinante da sociedade. O fato social em Dur-
kheim coloca a sociedade como determinante externo e coercitivo às ações dos indivíduos. Dessa forma, 
Durkheim vai conceber seu estudo sobre a educação. Sendo um dos pioneiros da criação de um método 
sociológico, foi também pioneiro nos estudos de sociologia da educação. Ele revela uma preocupação 
com a manutenção da ordem social, entendendo a sociedade como um organismo social. Podemos ver, a 
seguir, sua definição de educação:
A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda 
preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados 
físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a 
que a criança, particularmente, se destine. (DURKHEIM, 2005, p. 49).
O autor entende, assim, a educação também como uma forma de adaptação e socialização conforme 
as necessidades apresentadas por sua sociedade. A escola, para Durkheim, aparece como uma necessidade 
de ajuste social, na medida em que é responsável pelos processos de socialização e civilização dos indiví-
duos. Portanto, teria papel moral na formação do indivíduo, de forma que este apreendesse os principais 
traços morais positivos para a manutenção da ordem social, para se enquadrar no sistema político vigente, 
no caso da época em que viveu Durkheim: o capitalismo.
[...] salta aos olhos que toda a educação consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de 
ver, de sentir, e de agir às quais ela não teria chegado espontaneamente. Esta coação permanente exercida 
sobre a criança é a pressão do meio social que tende a moldá-la à sua imagem, e da qual os pais e os pro-
fessores não passam de representantes e de intermediários. (DURKHEIM apud CARLINI, 1993, p. 68).
Conforme um fato social, Durkheim entende que a educação coage o educando e o molda para 
que este se integre à sociedade. Socialização e coerção são elementos fundamentais para que a educação 
cumpra seu papel de ajuste dos indivíduos para a realidade social. O estudo de Durkheim, além de fun-
damentar os primeiros estudos sociológicos sobre a educação, desvela sua característica ideológica, uma 
vez que ela responde ao funcionamento de determinado tipo de sociedade, de acordo com sua época e 
constituição política (Estado, sistema econômico etc.).
REFLETINDO
Durkheim apresenta uma perspectiva de consenso social em que a 
educação e a escola são vistas como meio de manutenção da ordem social. 
Para você, qual papel a educação e a escola devem assumir em relação à 
política e à moral? É possível pensar em uma educação transformadora da 
realidade social?
A perspectiva de Durkheim sobre a educação não é a única perspectiva sociológica sobre educação, 
mas esteve condicionada ao momento histórico de consolidação da sociologia enquanto disciplina. É im-
portante percebermos de que forma o momento histórico-político-social influencia na concepção educa-
cional, como veremos no ponto a seguir. No Brasil, a sociologia se institucionalizou nas universidades e ali 
fez sua morada inicial. Aos poucos, a sociologia da educação foi sendo mais fortemente influenciada pelos 
educadores e pedagogos do que propriamente pelos sociólogos.
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
SAIBA MAIS
Vale a pena consultar o artigo de Rodrigo Manoel Dias da Silva, “Políticas 
socioculturais brasileiras e os interesses formativos do Programa Cultura 
Viva”, em que o autor produz uma análise a respeito das “[...] políticas 
formativas de natureza sociocultural cujo objetivo parece situar-se na 
dinamização de novos ordenamentos sociais, econômicos e políticos, mas, 
concomitantemente, associados a ações centradas na formação dos atores 
sociais” (SILVA, 2013, p. 249). O texto está disponível no seguinte endereço: 
http://www.scielo.br/pdf/rbeped/v94n236/13.pdf. Acesso em 09 jan. 2023.
A influência de Durkheim no contexto brasileiro se deu em várias áreas, como, por exemplo: no di-
reito com Paulo Egídio Carvalho, que aplica o método sociológico às normas jurídicas; e com Fernando 
Azevedo, que traz a reflexão sobre a importância de Durkheim para as ciências sociais e valoriza também 
as contribuições de pensadores como Gilberto Freire. Azevedo também se torna um dos fundadores do 
curso de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP). Nessa mesma universidade, houve pensadores 
franceses que contribuíram muito para o pensamento sociológico, por exemplo, Paul Bastide, Claude Lévi-
-Strauss, entre outros. 
O livro sobre educação e sociologia de Durkheim foi traduzido pela primeira vez no Brasil em 1939 e 
depois em 1966. Foi um livro altamente indicado nos cursos de Pedagogia ou na área de educação por ser 
muito didático e fugir do pragmatismo americano (outra perspectiva educacional em voga no Brasil). Uma 
autora da atualidade que tem feito grandes reflexões na parte educacional de Durkheim é Barbara Freitag. 
Por uma razão ou outra, Durkheim teve grande importância no Brasil como um pensador de sociologia e 
de sociologia da educação, e isso é perceptível toda vez que se levantam pensamentos sobre a história da 
sociologia no Brasil ou mesmo da sociologia da educação.
CAPITALISMO E SISTEMA PÚBLICO DE ENSINO
A educação se fortificou e passou ao domínio do Estado com o fortalecimento dos países, especial-
mente na Europa e mais tarde em outros continentes. Até então, grande parte do conhecimento estava sob 
responsabilidade da Igreja, principalmente a Católica, que ditava os princípios de verdade que deveriam 
ou não ser aceitos. Nesse contexto, o Renascimento foi a primeira tentativa que se fez de reinterpretação 
do passado (em especial da filosofia grega) e de busca por uma nova perspectiva: o destaque para a impor-
tância do ser humano e o quanto ele deve assumir seu papel no mundo. 
Esse modo de pensar vai aos poucos alterando a forma de se fazer educação. O Renascimento se for-
taleceu entre os séculos XV e XVI, principalmente na Itália, e depois se propagou para Inglaterra, Alemanha, 
Países Baixos e em menor grau na Espanha e Portugal (que devido à forte influência católica não aderiram 
tanto a esse movimento de renascer). A principal mudança que esse movimento trouxe é uma alteração de 
valores da Idade Média para o surgimento de uma burguesia emergente, que passa a tomar cada vez mais 
lugar na sociedade. 
Nesse contexto de ressurgimento, não podemos desconsiderar o que vem ocorrendo em muitos 
países da Europa: uma reforma em vista a um enfrentamento de um poder que estava nas mãos de alguns 
– o conhecimento. Quem sabia ler ou quem podia estudar eramapenas os filhos de senhores ou quem 
http://www.scielo.br/pdf/rbeped/v94n236/13.pdf
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
entrava para os conventos ou escolas, até então católicas, para se iniciar nas letras. A reforma protestante 
foi uma grande alternativa apresentada pela sociedade, pois possibilitou que se pudesse colocar na mão 
das pessoas o livro mais publicado e lido até então (a Bíblia), que agora passava a ter acessibilidade a todos 
na medida em que fora traduzida para as línguas nacionais. Mas não só em termos de educação a reforma 
mexe com a sociedade em geral, pois provocou mudanças políticas, econômicas, religiosas, morais, filosó-
ficas, literárias e nas muitas instituições que existiam na sociedade de então.
Olhando para a perspectiva da educação, a reforma causou uma série de alterações, pois quem tinha 
a responsabilidade da educação e o poder sobre o que podia ou não ser lido era a Igreja. Rompe-se, assim, 
uma tradição, surgindo de uma forma mais efetiva os estados nacionais, impulsionados por uma classe 
economicamente mais abastada – uma classe média de sua época -, que buscava espaço para se firmar e 
obter as devidas garantias para as atividades que desenvolveria. A demanda, afinal, seria de uma situação 
bem concreta, uma maior difusão da educação como necessidade para que a sociedade se alterasse. A edu-
cação entra com uma perspectiva de formação do ser humano olhando-o a partir de um papel de quem 
deve assumir as diretrizes de sua vida e da sociedade. 
Assim, vê-se o homem (havendo a possibilidade de incluir também a Deus), mas de modo integral 
como ser, alterando-se também sua concepção intelectual, moral e física. Estimula-se a criação da escola 
para toda as pessoas e para atender às demandas apresentadas pela sociedade de então. Fortalece-se a 
concepção geográfica, política, econômica, intelectual e religiosa - uma das concepções que valeria pes-
quisar seria a de que agora o lucro não é mais visto como usura ou pecado, mas sim como algo possível 
e que promove a sociedade, a faz crescer, se desenvolver. A partir desse movimento de reforma surge 
a perspectiva da educação pública, universal e gratuita, bandeiras presentes a partir daí até agora, em 
especial para quem não tem condições de pagar. Entende-se educação pública aqui aquela que é criada, 
organizada e mantida pelas autoridades constituídas nas esferas municipais, estaduais ou de províncias e 
do governo central (federal).
AGORA É COM VOCÊ
Baixe e leia o texto “a reforma e a educação” de Ismael Forte Valentim e veja como ocorre essa nova 
perspectiva educacional. Disponível em: http://www.ipbg.org.br/phocadownload/mensagens/. 
Acesso em: 09 jan. 2023.
Outro movimento que ganhou forma, fazendo finalmente com que a educação abrandasse horizon-
tes, foi o Iluminismo. Esse movimento fez com que a forma como a educação é concebida fosse alterada 
para sempre. O Iluminismo foi um movimento que começou na Europa e inspirou diversas partes do mun-
do no século XVIII. Ele pressupunha que todos deveriam buscar o conhecimento verdadeiro e se libertar 
das trevas, induzindo assim, também, às concepções científicas que têm reverberado e permanecido como 
método nos dias de hoje.
Concomitantemente a esses movimentos de recolocação do papel do homem no mundo surgem 
os Estados modernos, que vêm ocupar um lugar com a fragmentação do mundo medieval. Isso ocorre de 
modo mais efetivo a partir do século XV, em que temos os primeiros indícios de poder de um rei na Ingla-
terra denominado João Sem Terra (por não ter herdado nenhuma terra de seu pai, morto em batalha). A pri-
meira carta constitucional nos moldes do mundo moderno é assinada por esse mesmo rei em 1215, sendo 
um marco na constituição e formação dos Estados posteriores. O surgimento do Estado e da burguesia faz 
com que os dois se unam para defender os interesses dessa nova classe detentora dos meios de produção, 
do capital e da hegemonia do governante (inicialmente o rei ou seus mandatários). 
http://www.ipbg.org.br/phocadownload/mensagens
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
A partir do mundo moderno, não se pode mais separar o Estado do capital. Cada vez mais se unem 
com o intuito de se protegerem: o Estado com o poder de seus exércitos e a burguesia com os recursos 
econômicos (operando mutuamente). Para se sustentar, o capitalismo necessita de um Estado estruturado 
para garantir que haja a mais-valia. O primeiro grande movimento que se organizou e foi notório na his-
tória é a Revolução Francesa de 1789. Embora tivesse como lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, foi 
uma ação altamente violenta e que teve como resultado a instituição formal do capitalismo. 
Tal processo se dá pela constituição de um parlamento (congresso) com códigos jurídicos, um exér-
cito com uma estrutura diferenciada dos exércitos anteriores (em que muitos, inclusive, eram mercenários 
que lutavam com o intuito de conseguir uma forma de sustento). Assim estruturou-se o capitalismo e 
estrutura-se até hoje, com as devidas adaptações e perspectivas em cada época. A partir da Revolução In-
dustrial (iniciada na Europa entre os séculos XVIII e XIX), o capitalismo avançou cada vez mais como sistema 
econômico-ideológico dominante. Isso não ocorreu sem resistência: a exploração dos trabalhadores indus-
triais, as condições precárias de trabalho e a baixa remuneração fizeram com que a classe trabalhadora se 
organizasse cada vez mais. 
Por ser um sistema político e econômico altamente adaptável e que alimenta os sonhos das pessoas, 
o capitalismo não se extinguiu (como fora apregoado por Marx). O trabalhador, ou seja, a pessoa que vive 
no sistema capitalista, crê sempre na perspectiva de que melhorará suas condições, desde que se esforce 
suficientemente. Nessa perspectiva, temos duas contradições capitalistas: a provocação da desigualdade 
social versus a produção da riqueza e de situações novas para o desenvolvimento do mundo. Assim, para 
alguns, ocorreu a melhoria da qualidade de vida, ao mesmo tempo que possibilitou a mão de obra e a ne-
cessidade da população escolarizada. 
O que vimos e vemos historicamente é que os detentores do capital sempre se apoderaram e se 
apoderam cada vez mais dos recursos gerados socialmente sob a custódia do Estado. Infelizmente, os 
exemplos que temos no mundo moderno de tentativas de alterar essa forma de concentração capitalista 
foram impossibilitados de perdurar, muitas vezes por força ou ditadura. O que os ditos regimes comunis-
tas ou socialistas conseguiram foi criar um capitalismo de Estado, em que este era o detentor dos meios 
de produção e os distribuía a seu bel-prazer (especialmente para quem se afinava com o modo de pensar 
do sistema). 
Assim, o esclarecimento racional por todos os indivíduos no período iluminista era considerado um 
grande passo para a conquista da igualdade. Os estudos sobre política ganharam um forte endosso a partir 
dos iluministas John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Thomas Hobbes e Montesquieu, que ficaram conhe-
cidos por suas pesquisas sobre o contrato social (sendo assim, conhecidos como contratualistas), as quais 
buscavam compreender a natureza humana e a partir de quais preceitos deveriam se organizar em socie-
dade. Embora altamente constituídos, esses pensamentos não tiveram a possibilidade de se implementar 
nos Estados vigentes, mas foram tentativas que visavam ajudar na construção de um Estado tal qual era 
proposto por esses pensadores.
SAIBA MAIS
Segundo tratado sobre o governo civil é uma das principais obras de John 
Locke. Locke é tido como o pai do Iluminismo e suas ideias influenciaram 
o pensamento liberal e o direito. Entendemos que a natureza do homem 
é boa e que ele só faz guerra para proteger sua propriedade. Sugerimos a 
leitura dessa obra.
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
O principal meio para que a sociedade atingisse o estadoiluminado da racionalidade para os ilumi-
nistas da época seria a instrução, a qual possibilitaria a igualdade por meio da garantia a todos de ascender 
às luzes, deixando de lado a passionalidade individual e dando lugar à racionalidade que muito interessa 
à sociedade civil (CURY, 2002). A educação passou a ser, então, relacionada intrinsecamente à formação 
cidadã. Conforme Oliveira (2000 apud CURY, 2002, p. 181),
[...] Locke adverte, o caminho que leva à construção desta sociedade implica um processo gigantesco de 
educação, e não apenas a educação entendida no sentido da transmissão do conhecimento, mas no sen-
tido da formação da cidadania.
Nesse sentido, a educação é também política, faz parte do planejamento e organização da sociedade 
e de suas instituições. Na sociedade moderna, o ente principal de organização política é o Estado:
Daí a instrução se tornar pública como função do Estado e, mais explicitamente, como dever do Estado, a 
fim de que, após o impulso interventor inicial, o indivíduo pudesse se autogovernar como ente dotado de 
liberdade e capaz de participar de uma sociedade de pessoas livres. (CURY, 2002, p. 248).
A educação passou a ser entendida como um direito inalienável dos cidadãos, de forma que o Esta-
do passou a ter que oferecer a educação primária. Insere-se nesse cenário a legislação como garantia do 
cumprimento desse direito. A obrigatoriedade da gratuidade da educação primária parte do princípio da 
igualdade (CURY, 2002). Mas, para chegar a esse estágio, precisamos ver como chegamos até a educação 
escolar como um direito. De encontro com esses sentimentos, vão ganhando força pensamentos socialis-
tas, primeiramente elaborados pelos socialistas utópicos Charles Fourier, Robert Owen e Saint-Simon, e 
depois elaborados pelos socialistas científicos Karl Marx e Friedrich Engels. 
A luta pelos direitos dos trabalhadores industriais fez parte da luta por direitos sociais, que ganhou 
impulso no século XIX, de maneira que a educação passou a ser vista como um bem imprescindível para 
que outros direitos sociais fossem garantidos como a educação, com foco no ensino das habilidades de ler 
e escrever. Na Europa, o Estado liberal (ou seja, o Estado que tem por intuito promover uma intervenção 
mínima na forma de organização da sociedade) abre uma exceção em relação à intervenção na educação, 
de maneira que no fim do século XIX a educação primária passasse a se tornar obrigatória e gratuita para 
todos os cidadãos ingleses (CURY, 2002). 
Buscou-se, assim, a formação cidadã e de mão de obra qualificada. Nesse sentido, a educação apa-
receu em dois âmbitos: liberdade e obediência. A educação garantiria a igualdade de oportunidade para 
chegar às luzes (e, por conseguinte, à liberdade), ao mesmo tempo em que seria um instrumento de ade-
quação social dos indivíduos, de obediência às normas e regras sociais, bem como à legislação estatal.
É importante percebermos que a educação se sistematiza à medida que se passa a viver em sociedade. 
Em sociedade, é necessário o desenvolvimento do trabalho, em especial o trabalho especializado. A melhor 
forma de desenvolver trabalhadores especialistas era por meio da educação. Assim, é importante termos em 
mente que, quanto mais complexa a sociedade, maior a necessidade de uma organização educacional. 
Em uma sociedade de classes como a capitalista, a educação contribuiu para dividir os homens, pois 
reproduziu a forma de organização social. Por meio da transmissão de valores, atitudes, comportamentos 
e conhecimentos, a educação serviu como uma reprodução do que a sociedade tem em seu ser social 
(pautada pelos interesses das classes sociais dominantes). Os filhos da classe dominante preparam-se nas 
melhores escolas de formação de dirigentes sociais; já os filhos de trabalhadores preparam-se em escolas 
que têm como intuito instruí-los nos conhecimentos básicos e necessários para a execução de uma profis-
são, para a execução de tarefas laborativas. 
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Concluindo, podemos dizer que a educação no sistema capitalista está direcionada para satisfazer às 
necessidades do processo de expansão e acumulação do capital. A geração de riquezas está a serviço de 
quem as detém, com certeza não os trabalhadores, que são preparados para serem a mão de obra do siste-
ma (ou, nos dizeres marxistas, de serem fornecedores de mais-valia). Tudo o que se produz é para satisfazer 
a alguns, que são quem de certo modo decide o que e como a sociedade deve se constituir e funcionar. 
A educação, nesse modo de ser e de se efetivar, é um instrumento a serviço da manutenção do status 
quo, do establishment de uma sociedade constituída assim (e que muitos se conformam em admitir como 
normal). O desafio de todo educador que não deseja ser um instrumento na mão do Estado capitalista é 
buscar formas de fazer pensar e ajudar seus alunos a serem diferentes do que são. Dessa forma, deve-se 
conseguir mudar ou ao menos buscar formas de maiores equilíbrios sociais, seja na ordem social, política, 
econômica ou religiosa.
OS PERCALÇOS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
As perspectivas educacionais propostas nos países capitalistas e liberais têm sido condicionantes 
para a educação. Como um país capitalista, o Brasil não é diferente em sua organização educacional. O 
objetivo nesse momento é entendermos como o sistema econômico brasileiro veio a influenciar e ainda 
influencia no sistema público de educação, que vai levar a outro fenômeno em nosso país: o desenvolvi-
mento tardio de um processo maior de universalização da educação. 
Em algumas regiões, o acesso à educação ainda não é tão universal por falta de interesse político por 
serem lugares mais distantes, por possuírem uma população mais dispersa (o que dificulta ter uma escola 
que centralize os alunos), entre outros motivos. A perspectiva econômica tende a monopolizar os currícu-
los a partir de seus interesses e a não realizar um desenvolvimento holístico e humanitário dos educandos. 
O que se prima e se tem como importante é a formação de trabalhadores para o próprio sistema; logo, 
reprodutores destes e adaptáveis a estes interesses. 
As pessoas são mais formadas para serem assalariadas, terem suas carteiras de trabalho assinadas 
e terem um emprego do que para serem empreendedoras. É possível dizer que elas são “adestradas” para 
serem integrantes de uma sociedade industrial e economicista para a qual devem se enquadrar. Os agentes 
econômicos passam a determinar as necessidades educativas dos indivíduos, pois monopolizam o objeto 
educativo e têm como foco a competição, a qualidade, a eficiência e a rentabilidade. Isso parece ser bem 
visível na escola quando os melhores alunos são premiados por suas notas e os melhores são valorizados 
por serem os que mais se “esforçam” para responder ao que lhes é solicitado. 
Historicamente, sempre vimos a educação escolar como a forma de se ultrapassar a barreira da su-
peração de um país de economia agrária para um país industrial. Esse modo de ver a educação como um 
trampolim para sair de uma situação para outra se consolidou em nossa forma de ver e entender a educa-
ção. Não há nenhum demérito nisso, mas essa não deve ser a única condição.
Alguns exemplos (aos quais já nos referimos) são os testes ou provas de avaliação, como Enem, Ena-
de, Pisa e Prova Brasil, que são instrumentos de avaliação aplicados em todo o território nacional, sem olhar 
perspectivas diferentes de se fazer a educação. Há uma exigência universal para medi-la. Não queremos, 
com isso, desmerecer a avaliação, mas uma que fuja dessa perspectiva leva os alunos a terem notas diferen-
tes e isso será critério de aplicação de recursos e de verbas públicas para um desenvolvimento educacional. 
Também vimos que a educação não tem um processo universal de uniformização. Pensá-la desse modo 
é fazer o que os enciclopedistas tentaram fazer, colocar todo o conhecimento necessário dentro de um 
modo de ser (um ou várioslivros) e de se fazer educação. 
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
O PISA, por exemplo, tem como objetivo avaliar as habilidades consideradas essenciais para o mercado de 
trabalho e a inserção na vida econômica, a disciplina, a pontualidade e o respeito aos professores (que são con-
dições propostas para o sucesso do aluno na escola). Cabe lembrar o que Durkheim previa como qualidade de 
educação, que tinha também nas disciplinas um dos requisitos importantes para medir a boa educação. Nesse sen-
tido, o Brasil está muito abaixo de outros países. Se compararmos com a China, por exemplo, estamos 200 pontos 
abaixo, o que representa um atraso de cinco anos educacionais. E não é só nas escolas públicas que “estamos mal” 
nesse parâmetro de avaliação: nas particulares, o aumento desses índices não chega a ser tão expressivo. 
Pensar a educação desse modo faz perpetuar desigualdades, pois está pensada pela meritocracia, que 
tem como objetivo fazer com que determinados privilégios beneficiem sempre a classe dominante. São ne-
cessárias mudanças da ação pedagógica que visem a formação integral e de inserção dos sujeitos na socie-
dade como protagonistas, não como membros de uma sociedade que os vê como mão de obra e fator de 
produção. Pensar a educação escolar e sua relação econômica envolve muitas variáveis, mas sem dúvida não 
podem ser deixadas de lado as relações históricas, culturais e as heranças que recebemos de nossos antepas-
sados (o que algumas vezes demonstra o descompasso entre a economia e a educação).
A função primeira da escola é dar a seus alunos instrumentos de que necessitam para navegar no mundo: 
o domínio básico da escrita e das operações matemáticas. Sem elas, é impossível funcionar de maneira 
autônoma. Depois a escola precisa transmitir aos alunos uma vasta base factual, expondo-os ao conheci-
mento acumulado pela humanidade. Não apenas porque esse conhecimento é indispensável para o de-
senvolvimento do raciocínio (falo mais sobre isso em artigo futuro, sobre neurociência), nem porque, se 
bem ensinado, é intelectualmente estimulante, uma vez que as crianças são naturalmente curiosas, mas 
também porque essa exposição é necessária para que demos às crianças a chance de ter contato com suas 
reais vocações. (IOSCHPE, 2012, p. 105-106).
Historicamente, a educação sempre fora proposta como sendo algo relevante e, quando as pessoas 
ou povos não a aceitavam, eram denominados “rebeldes” por quem detém a cultura. Para os ditos “cultos”, 
a recusa a se adentrar no mundo letrado era uma forma de não aceitação de algo valioso, de permanência 
em um submundo em relação às pessoas que dominavam a escrita e a leitura, era uma forma de recusa a 
entrar no moderno. É só observarmos como os indígenas que se rebelaram contra a cultura imposta pelo 
europeu foram taxados e até hoje são vistos por muitos como preguiçosos, pois não trabalham dentro do 
modelo capitalista industrial e produtivo.
AGORA É COM VOCÊ
Relacione quais são as características da educação de etnias indígenas brasileiras e faça um paralelo 
com a escola indígena proposta pelo governo ou sistema educacional oficial. Reflita sobre que tipo 
de contribuições o modo oficial de educar pode preservar os traços culturais dessas etnias.
O trabalho na sociedade capitalista sempre foi visto como uma forma de dignificação do ser humano. 
Por isso, o “aposentado” passa a ser visto por essa sociedade capitalista e produtiva como alguém de segun-
da classe, um preguiçoso. Mesmo quando os dominadores portugueses ousaram dominar a educação com 
a reforma proposta por Pombal, podemos observar que não conseguiram ir muito além do que já estava 
sendo feito, tanto em Portugal e muito menos no Brasil (onde abrir uma escola dependia sempre da “auto-
rização” e complacência do poder imperial ou central).
Posteriormente, quando a corte portuguesa chegou ao Brasil (século XIX) fugindo das guerras euro-
peias, a educação continuou sendo para as elites. Africanos, afrodescendentes e indígenas permaneciam 
excluídos da educação e das escolas.
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
AGORA É COM VOCÊ
Leia o Decreto-lei nº 1.331-A, de 17 de fevereiro de 1854, e veja como a educação brasileira desde 
seu início foi altamente regrada. Veja quem podia ser professor ou professora; o que cabia às 
mulheres solteiras, as matérias que deveriam ser ensinadas; a separação dos alunos por sexo, uma 
escola para cada sexo, não havia as escolas mistas; que tipo de livros podiam ser admitidos; veja 
que os escravos não podiam frequentar escolas e assim por diante (art. 69). Disponível em: http://
www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-
publicacaooriginal-115292-pe.html. Acesso em 09 jan. 2023.
Veja que a legislação busca abranger todos os aspectos possíveis de serem pensados e coordenados 
pelo Estado. Assim, a educação nacional nasce totalmente controlada pelo poder central e assim perma-
nece até hoje. Não que não se deva ter leis e regulamentos, mas em decretos que visem uma regulação 
universal, como pensar nos alunos a partir de uma perspectiva inovadora de startups, de diferenciação e 
de criação? Vinte e quatro anos após a publicação dessa lei, quando ainda nem havia ocorrido a abolição 
da escravatura, um novo decreto regulou a possibilidade de negros estudarem, o que só poderia ocorrer 
se tivessem no mínimo 14 anos e em cursos noturnos: condições estabelecidas pelo Decreto nº 7.031-A, de 
06 de agosto de 1878. 
Essas legislações estão disponíveis no portal do MEC e da Câmara Federal. Ainda que sejam docu-
mentos antigos, podem servir para mostrar como nunca estivemos isentos de regulações, pois demons-
tram o quanto a educação brasileira nasce elitista. O que fica claro é que é justamente a classe dominante, 
detentora dos poderes políticos e econômicos, que determinava quem poderia ter ou não espaço na socie-
dade e onde esse espaço poderia existir para uns e não para outros. Assim, muitas vezes, não havia espaço 
para crianças negras, mesmo que livres, e em algumas situações meninas não tinham possibilidade de 
frequentar a escola. O resultado é um sistema educacional altamente aristocrático e excludente.
Com o advento da República (1889), havia a necessidade de um trabalhador mais qualificado para 
setores que se iniciavam no país. Consequentemente, havia a necessidade de formar mão de obra para esse 
novo contexto. A escola passou a ser a grande selecionadora de quem servia para atividades de dirigente, 
de gestor e quem não tinha condições para tal. A exclusão tornou-se evidente e a forma característica de 
fazer isso é por um processo seletivo de eterna repetência e de determinação de quem tinha ou não capa-
cidade para aprender. É a realidade da mais-valia sendo exercida na prática. 
Já no século XX, o país passou por várias mudanças políticas, mas não econômicas, pois os deten-
tores do capital continuavam a dominar o poder político. Mesmo assim, a educação passou por algumas 
mudanças, como as que ocorreram em 1910, com Benjamin Constant e Francisco Campos.
A Reforma de Benjamim Constant (1890-1891) e a Reforma de Francisco Campos (1930-1932). Ambas as 
reformas são caracterizadas por um conjunto de decretos que legiferaram sobre diversos aspectos da edu-
cação e de seus níveis de ensino, considerando-se que a primeira esteve restrita, com exceção do ensino 
superior, a regulamentar o ensino na Capital Federal (Rio de Janeiro), e a segunda regulamentou o ensino 
em âmbito nacional, caracterizando um marco nesse sentido (DELANEZE, 2007, p. 2).
Embora essas duas tenham se notabilizado, outras reformas ocorreram nesse período: em 1911, com 
Rivadavia Correia, e em 1926, com Anísio Teixeira, reformas essas que não foram abrangentes ao ponto de 
pensar a inclusão de negros, índios e adultos. Esses continuaram sendo excluídos da educação e como tal 
tinham que buscar sua sobrevivência dentro do que“sobrava” para fazer. 
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292-pe.html
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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Um documento que também marcou época e deixou clara a posição de para quem deve ser a educa-
ção é o “Manifesto dos pioneiros da educação nova”. “Refere-se a um documento escrito por 26 educadores, 
em 1932, com o título A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo. Circulou em âmbito na-
cional com a finalidade de oferecer diretrizes para uma política de educação” (MENEZES, 2001, s.p.). Nesse 
documento fica claro que a produção só pode ocorrer se houver o preparo de aptidões para esse exercício.
Após esse momento, veio outro manifesto que se tornou conhecido entre os anos de 1958/1959. 
Ele foi redigido novamente por Fernando de Azevedo, aparecendo como signatários 189 grandes nomes 
da cultura brasileira, tais como: Anísio Teixeira, Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de 
Holanda, Fernando Henrique Cardoso, Darci Ribeiro, Álvaro Vieira Pinto, entre outros. 
Não podemos esquecer que, nesse período, tivemos grandes mudanças no Brasil, entre elas a criação 
de uma nova Capital Federal, a entrada com grande força da indústria automobilística e o desenvolvimento 
dos grandes centros urbanos. Há um imenso deslocamento da população rural para a área urbana (êxodo 
rural) e, consequentemente, a necessidade, mais uma vez, de adaptar essa mão de obra às necessidades 
desse boom econômico nos centros industriais e urbanos. Esse movimento resgata:
O ideário liberal definido no “Manifesto dos Pioneiros”, o “Mais uma vez convocados” se posicionava contra 
o discurso da Igreja Católica sobre a “liberdade de ensino”, discurso esse que se transformou em plataforma 
política do deputado Carlos Lacerda, para defender a atuação da rede privada de ensino na oferta da edu-
cação básica. O manifesto prossegue reafirmando a educação como bem público e dever do Estado. Nele 
reaparece a proposta dos pioneiros da educação nova, de uma escola pública, laica, obrigatória e gratuita 
(BOMENY, 2013, s.p.).
Com o advento do regime civil-militar no Brasil (1964-1985), teremos novas mudanças no regula-
mento da educação e de incentivos para que o ensino atendesse às demandas de quem agora estava no 
poder e possibilitasse a formação de trabalhadores para os moldes socioeconômicos que se traçaram no 
período. Por exemplo: houve aumento das matrículas na Educação Básica, mas isso não correspondeu a um 
aumento de verbas para sua manutenção ou para a formação docente (esta, quando havia, era altamente 
censurada pela ditadura). 
Posteriormente, com a Constituição de 1967, a União ficou desobrigada de investir uma quantidade 
mínima em educação, fato que estava em discordância com a LDB de 1961, que determinava o investimen-
to em educação de recursos específicos mínimos de 12% do Produto Interno Bruto (PIB). Estados e muni-
cípios também tinham que aplicar 20% de seus recursos em educação. Essa legislação tem seu aspecto de 
exclusão, pois desobrigava de frequentar a escola: os filhos de pais pobres e sem condições de mantê-los 
na escola, as crianças com insuficiência e doenças, além daqueles que tivessem qualquer anomalia. 
A educação estava temporalizada em sete anos de ensino primário, sendo que após o quarto ano 
os alunos deveriam realizar um exame denominado de admissão. Caso fossem aprovados, poderiam fre-
quentar o período do 5º ao 7º ano e depois mais três ou quatro anos (dependendo do tipo de ensino que 
viessem a escolher): se a escolha fosse pelo ginasial (profissionalizante), seriam quatro anos; se a opção fos-
se pelo colegial, seriam mais três anos (esse era “mais apropriado” para aqueles que desejassem continuar 
estudando no Ensino Superior).
Em “O legado educacional do Regime Militar”, Saviani (2008) demonstra que o governo federal redu-
ziu as verbas para a educação: em 1970 esse índice chegou a 7,6% do PIB e reduziu ainda mais em 1975, 
chegando a 4,31%, e com leve recuperação em 1978, atingindo um pouco acima dos 5%. A educação nesse 
período também passou por profundas mudanças: o ensino primário de sete anos e com um exame de ad-
missão foi abolido e passou a vigorar o ensino de oito anos, o que aumentou significativamente o número 
de alunos na escola, mas não necessariamente a qualidade da educação. 
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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Todas essas mudanças vieram acompanhadas de uma nova refor-
ma educacional, com a LDB de 1971. Com esse declínio acentuado nas 
verbas destinadas à educação, as estruturas físicas das escolas estavam 
arruinadas, e os professores não tinham a obrigação de uma formação 
mais elevada para ministrarem aulas. Havia professores com apenas o 
1º grau (o que hoje denominamos Ensino Fundamental Básico) que mi-
nistravam aulas. Professores com baixo nível de formação e pouca verba 
para educação resultaram em uma educação de pouca qualidade ou de 
qualidade indesejável. Quem frequentava essas escolas eram geralmente 
representantes das classes trabalhadoras, que aprendiam a “ler e escre-
ver” um pouco e acabavam não dando continuidade a seus estudos.
Nesse período, surgiu também o Movimento Brasileiro de Alfabeti-
zação (Mobral), cuja função era a de levar a educação para a população 
adulta. Essa foi também outra política com boas intenções, mas que na 
verdade possibilitou apenas um mínimo de educação para que as pes-
soas pudessem ler e assinar seu nome – condição exigida para a inserção 
no mercado de trabalho ou para exercer o direito de voto (analfabetos 
não votavam). 
Durante esse período, houve um forte desenvolvimento da edu-
cação privada. Além das instituições privadas de ordens religiosas, aos 
poucos vão aparecendo colégios, universidades e faculdades particulares 
de caráter laico. Essas instituições eram espaço para que as elites pudes-
sem ter ainda maior acesso à educação, pois eram as que podiam pagar e 
manter esse tipo de ensino. Os filhos dos ricos passaram a ter possibilida-
de de ensino de qualidade e de acesso ao Ensino Superior, enquanto aos 
pobres restava uma educação precarizada e praticamente sem acesso à 
universidade.
Nesse período da ditadura civil-militar, ainda devemos destacar que 
fazia parte do currículo o ensino de Educação Moral e Cívica e de Organi-
zação Social e Política Brasileira (OSPB), que tinham como intuito reforçar 
os princípios morais e de obter uma “ordem” que pudesse possibilitar o 
desenvolvimento da nação. Foi o momento em que obras gigantescas fo-
ram construídas, como a Transamazônica (1969-1974) e a Usina de Itaipu 
(1975-1982), simbolizando o desenvolvimento e a integração brasileira.
As manifestações democráticas eram totalmente proibidas e a as-
sociação de estudantes era altamente reprimida. Assim, a União Nacional 
de Estudantes (UNE) foi extinta e conseguiu sobreviver na clandestinida-
de, tentando empreender um movimento de repulsa ao regime e à forma 
de educação recebida. Com o fim do regime militar, o Brasil iniciou seu 
processo de redemocratização. O primeiro grande marco foi a criação de 
uma constituinte, culminando na aprovação da Constituição de 1988. Po-
rém, uma nova lei sobre educação só surgiu em 1996, com a LDB nº 9.394, 
que vigora até hoje. O grande avanço trazido por essas duas legislações 
foi a criação de uma gestão democrática de educação (gestão que não é 
assim tão livre, pois envolve jogos políticos em que o poder econômico 
dita as normas).
Educação excludente, um derruba 
o outro. 
Fonte: Unsplash
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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Ainda que se tenha quase uma universalização da educação, as 
classes menos favorecidas, em sua maiorias, ainda estão alijadas de uma 
educação de qualidade. O número de escolas aumentou e foi estabeleci-
do um piso nacional para os professores. A exigência de uma formação 
de nível superiorpara os docentes representa avanços; mas, por outro 
lado, ainda há muitas pessoas das classes menos favorecidas que não têm 
acesso a uma formação de nível superior. 
Várias políticas foram estabelecidas em relação à educação, algu-
mas muito polêmicas, como o sistema de cotas para alunos oriundos de 
escolas públicas, negros e indígenas. Essa repulsa geralmente parte das 
classes sociais que sempre foram as que tiveram chance de entrar nas 
universidades públicas e sempre tiveram seu espaço garantido, pois dis-
putavam a vaga somente dentro da mesma classe social. Com o sistema 
de cotas, há uma mudança nessa política e houve uma redistribuição ini-
cialmente pequena e, aos poucos, gradual (dependendo da faculdade) 
até chegar em algumas universidades a garantia de 50% pelo sistema de 
entrada tradicional e 50% pelo sistema de cotas. 
Com essa política, a perspectiva da entrada de pessoas nas univer-
sidades mudou, pois possibilitou o ingresso no ensino superior àqueles 
que nunca se faziam representar enquanto aqueles que sempre tiveram 
essa chance viram o número de vagas diminuir. Criou-se, a partir daí, a 
celeuma em relação ao sistema de cotas. O importante é vermos de dois 
modos: um é o que relatamos anteriormente (de que alguns membros 
das classes menos favorecidas podem agora entrar nas universidades pú-
blicas), e o outro é o que nos lembra que a educação e qualidade deve-
riam estar em todos os espaços escolares, para que não houvesse esse 
tipo de necessidade de reserva de cotas. 
A discussão é longa, sempre a partir de olhares de nosso lugar so-
cial e da perspectiva que tivermos para vermos a situação de entrada nas 
universidades públicas. O Programa Crédito Educativo foi um dos que 
abriu as portas para o ingresso de alunos no Ensino Superior. Vale a pena 
consultar no site do próprio MEC um histórico desse programa (dispo-
nível em: http://portal. mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/mcreduc.pdf ). Esse 
programa, dos idos anos de 1975, tem caráter federal e possui o intuito 
de possibilitar aos estudantes que preencherem os critérios (em especial, 
o de carência social) o acesso à faculdade ou universidade credenciada 
pelo MEC.
Programas como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Pro-
grama Universidade para Todos (ProUni) e o salário básico para os profes-
sores do Ensino Fundamental (Básico e Médio) são resultados de políticas 
desenvolvidas que tiveram grande repercussão e, em alguns casos, pos-
sibilitaram melhorias no salário dos professores e facilitaram o acesso ao 
Ensino Superior. Em um país com altas carências como o Brasil, ainda que 
tenhamos nos esforçado muito, é preciso admitir que as nossas necessi-
dades são ainda maiores. 
A ditadura militar foi muito conhe-
cida pela repressão de diferentes 
ideias. 
Fonte: Unsplash
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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
É necessário ainda elaborar políticas que busquem a integração e integralização de todos em espa-
ços escolares (desde o maternal ao Ensino Superior). Também é preciso que haja, principalmente, espaço 
para a democratização da educação e que esta seja efetivada em parceria entre as universidades (que são 
celeiros do pensamento) e as próprias escolas (que são os celeiros das práticas). É necessário que se apli-
quem as verbas estabelecidas na legislação: 25% das verbas dos municípios e estados e 18% para a União, 
a fim de que a educação não seja pensada como gasto, mas como investimento em pessoas. Só assim será 
possível construir um país que quer se pensar como uma nação de incluídos e não de excluídos. 
Mas, como vimos, o gasto em educação não é garantia de uma educação de qualidade. É necessário 
muito mais do que apenas “gastar”: é preciso fazer com que esse gasto seja efetivo em um investimento 
inclusivo, principalmente das classes menos favorecidas e que sempre estiveram alijadas de um processo 
de educação de qualidade.
NA PRÁTICA
Lembrando a sua infância e como foi sua vivência na instituição escolar de Ensino Básico, busque 
compreender a conjuntura social e política que fez parte de sua história educacional. Como ela 
influenciou na pedagogia escolar que você viveu? Busque relacionar a resposta com os períodos da 
educação brasileira, segundo Demerval Saviani (2007; 2008).
A INFLUÊNCIA DA ESCOLHA DO CURRÍCULO 
E A REPRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES
O currículo não é apenas o conjunto das disciplinas elencadas uma a uma em uma planilha que é 
entregue no início do período letivo a cada aluno. Ele representa tudo aquilo que se deseja ensinar e qual 
a intencionalidade com o ensino daqueles conteúdos. Entender o currículo vai tanto orientar as ações es-
colares como fazê-las acontecer e determinar qual a finalidade do que se realiza. 
Na escolha do currículo, estão expressas as intenções a serem alcançadas, o modelo de escola que se de-
senvolve nesse ambiente, além da perspectiva social que será apresentada aos educandos. Portanto, em cada 
currículo são expressos conceitos filosóficos e sociopolíticos educacionais, além dos recursos tecnológicos a 
serem utilizados em sala de aula. A LDB expressa assim a ideia de currículo, no artigo 26 (BRASIL, 1996, s.p.):
Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, 
em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas caracte-
rísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela [...] § 1 [...] devem abranger, 
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e na-
tural e da realidade social e política, especialmente do Brasil. § 2 O ensino da arte constituirá componente 
curricular obrigatório. Assim como o §3 expressa a obrigatoriedade de educação física. § 4 A história do 
Brasil levará em conta as contribuições culturais e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente 
das matrizes indígenas, africana e europeia.
Desenvolvendo o que está expresso nesse conjunto de princípios, criou-se a Base Nacional Comum 
Curricular (BNCC).
Aplica-se à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), e indica conhecimentos e competências que se espera que todos os 
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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos 
traçados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN), a BNCC soma-se aos propósitos 
que direcionam a educação brasileira para a formação humana integral e para a construção de uma socie-
dade justa, democrática e inclusiva. (BRASIL, 2017, p. 7).
Esse documento é fundamental para visualizarmos a concepção oficial expressa em um documento 
recente, o qual, em suas 386 páginas, busca expressar as matrizes curriculares. Quanto ao Ensino Médio, 
estamos em um processo de alteração de sua forma de estruturação. No site do Ministério da Educação 
(MEC), há uma série de explicações sobre o que está ocorrendo e sendo proposto:
A reforma do ensino médio é uma mudança na estrutura do sistema atual do ensino médio. Trata-se de 
um instrumento fundamental para a melhoria da educação no país. Ao propor a flexibilização da grade 
curricular, o novo modelo permitirá que o estudante escolha a área de conhecimento para aprofundar seus 
estudos. A nova estrutura terá uma parte que será comum e obrigatória a todas as escolas (Base Nacional 
Comum Curricular) e outra parte flexível. Com isso, o ensino médio aproximará ainda mais a escola da 
realidade dos estudantes à luz das novas demandas profissionais do mercado de trabalho. E, sobretudo, 
permitirá que cada um siga o caminho de suas vocações e sonhos, seja para seguir os estudos no nível 
superior, seja para entrar no mundo do trabalho. (BRASIL, 2017, s.p.).
Seria importante analisar neste site quais mudanças estão sendo propostas e o que sepretende com 
a educação fundamental média, pois os meios de comunicação estão divulgando números que indicam 
uma aceitação. Se buscarmos informações na página da União Nacional dos Estudantes (UNE), temos uma 
perspectiva diferente. Isto é, tudo o que é propalado pelos números da educação oficial não se confirma 
na pesquisa da UNE. 
Analise a Figura 7 abaixo:
Figura 7 - Alunos da Escola Humberto Soares (no Acre) customizam salas de aula 
Fonte: Agência de Notícias do Acre (2015)
A Figura 7 acima nos chama a atenção para alguns fatores. Observe que as carteiras estão organizadas 
em um modelo bastante tradicional, mas ao mesmo tempo vemos uma parede enfeitada com flores, borbo-
letas e alguns outros elementos. Essas transformações e personalizações podem ser razões para pensarmos 
em modelos de currículos que possam ser alterados pelos alunos e pela escola, a fim de que se possa ir apre-
sentando determinadas situações à medida em que os alunos vão adquirindo novos conhecimentos. 
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Até aqui nos referimos à educação escolar, em que os sinais anteriormente citados são mais visíveis 
e as exigências levam os educandos a tomarem determinadas posturas. Quando estas não são correspon-
didas, causam desconexão entre o que é proposto e o que é atingido. Mais do que uma estrutura rígida, 
o currículo deve ser pensado de uma maneira dinâmica e que atenda às realidades e especificidades da 
realidade em que está inserido. Isso é fundamental para que a realidade não se torne amorfa, sem vitali-
dade e sem que o interesse dos educandos seja despertado. Conforme vimos anteriormente, essa é uma 
perspectiva prevista pela legislação. 
A pergunta que podemos fazer é: por que, apesar dessa possibilidade de mudança, o que se encon-
tra nas escolas é quase uma uniformidade curricular e de conteúdos? Se desejarmos olhar em um contexto 
maior, a educação envolve não só a sua natureza formal, mas também a denominada informal, que corre 
fora do ambiente escolar. Esses espaços podem ser as organizações sindicais, os grupos de reflexão na co-
munidade e os veículos de comunicação autônomos (como rádios comunitárias, boletins etc.).
Para compreendermos ainda melhor a análise que fizemos sobre o currículo e a sociologia da edu-
cação, é necessário irmos além nos conceitos sociológicos e filosóficos: é preciso conceituar “ideologia”. A 
escola, a Igreja, a família, o sistema jurídico, político, sindical e os meios de comunicação e informação se 
constituem em aparelhos ideológicos. Estes podem ser utilizados por quem os detém, ou em especial pelo 
Estado, para difundir ideias a serem internalizadas por quem as visualiza, fazendo com que as pessoas pas-
sem a viver de acordo com as propostas difundidas (ALTHUSSER, 1985). 
De fato, Louis Althusser, analisando a escola como uma ferramenta de opressão para as classes des-
privilegiadas, considerou, de acordo com Marques (2012, p. 35), que “De todos os aparelhos ideológicos 
que utilizam o consenso, [...] a escola como o mais eficaz de todos porque conduz os indivíduos ao consen-
so, à aceitação da ideologia dominante”. As instituições com poder são responsáveis pela perpetuação das 
ideologias. Segundo Silva e Moreira (2000, p. 21), essas instituições por meio das “[...] ideias [...] transmitem 
uma visão de mundo social vinculada aos interesses dos grupos situados em posição de vantagem na or-
ganização social”. 
Essa concepção entende que por trás das questões ideológicas estão as estruturas de poder. O mar-
xismo, seguindo esse mesma lógica, definiu em 1860, com a publicação da obra “O manifesto comunista”, 
que há um conflito de classes sociais: de um lado, existem os donos dos meios de produção e de outro lado, 
o proletariado. Segundo Marques (2012, p. 32):
Consideramos o sistema capitalista como natural, como a única forma possível de produção. Para muitos, 
incluindo Marx e Engels, a história da sociedade é sinônima da luta das classes. Em qualquer sociedade, há 
uma que domina e há outra ou outras que são dominadas. Quando as subjugadas lutam contra a opressão, 
um novo sistema é construído.
A constante tensão entre classes dominantes e dominadas gera a dinâmica de uma sociedade que 
está sempre buscando transformação. As discussões políticas e ideológicas, ainda que nos meios informais, 
ocupam o cotidiano dos cidadãos. As manifestações ocorrem constantemente: algumas de forma organi-
zada e vultosas, outras por meio de transgressões e desorganização, mas que têm o objetivo de “furar” a 
ordem vigente.
A partir desses conceitos e realidades apresentados (isto é, de uma dominação de classes), surgem 
os processos de exploração da mão de obra, a mais-valia, a acumulação primitiva do capital e outros temas. 
Há um real interesse dos grupos em situação de vantagem com o intuito de perpetuar a sua condição e as 
ideias que corroboram com esse status são difundidas por eles mesmos. Marques (2012, p. 31) afirma que:
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
O sistema de produção capitalista, realizado em alta escala, visando mais rapidez na produção e, con-
sequentemente, mais vendas e lucros, não só levou à especialização excessiva dos trabalhadores, como 
também estabeleceu a troca do trabalho por um salário. Isto é, em troca de uma determinada quantidade 
de horas diárias, os operários passaram a receber um pagamento, quase sempre injusto.
A divisão de classes sociais estabelece um “princípio de desigualdade”. Na sociedade ocidental mo-
derna não se estabeleceram os estamentos ou as castas. Entretanto, no sistema capitalista existe, a priori, 
a divisão entre duas classes sociais: os trabalhadores (que vendem sua força de trabalho) e os burgueses 
ou os donos das riquezas (comerciantes de diversos produtos, inclusive de seres humanos escravizados). 
Segundo Huberman (2008, p. 146), “Particularmente interessante como fonte de acumulação de capital 
foi o comércio de seres humanos, os negros nativos da África”. Após Marx ter chamado a atenção para o 
fato, a acumulação de capital tem sido sempre uma constante nas discussões e na elaboração de estudos 
ideológicos, capitalistas, operários, sindicais etc. Bresser-Pereira (1991, p. 1) assim expressa a forma como 
a acumulação ocorre:
A acumulação de capital e a obtenção de lucro são dois fatores econômicos centrais no processo de de-
senvolvimento capitalista, da mesma forma que o consumo do excedente pelas elites dominantes era o 
fenômeno econômico dinamizador das sociedades pré-capitalistas [...].
Por meio da difusão ideológica, a sociedade capitalista incute nos trabalhadores a consciência de 
que é pelo trabalho que se enobrece e que aquele realizado com afinco pode retirá-los de uma condição e 
elevá-los para outra. Nesse sentido, a educação tem sido a grande motivadora dessa ideologia, pois afirma 
que se as pessoas estudarem podem mudar sua condição - o que não deixa de ser verdade, mas um diplo-
ma por si só não garante uma mudança de condição social ou econômica.
SAIBA MAIS
Uma música de um compositor brasileiro chamado Max Gonzaga faz uma 
crítica irônica à denominada classe média. Ouça a música, disponível em: 
https://www.letras.mus.br/max-gonzaga/471737/, e relacione-a com a se-
guinte afirmação de Karl Marx: “Existem apenas duas classes distintas: a 
burguesia e o proletariado”.
O processo de hegemonia também é outro conceito filosófico que precisa ser entendido na reflexão 
que fazemos sobre desigualdades sociais e na escola. A hegemonia representa a conformação com as ideo-
logias veiculadas pelos aparelhos ideológicos do Estado (a escola, o direito, os sindicatos e, em especial, no 
mundo atual, a propaganda, que é paga pelo Estado ou por quem tem interesse em difundir uma deter-
minada ideologia). Se nos aprofundarmos na história do Brasil, veremos nitidamente como os sindicatos 
foram e são, muitas vezes, partes integrantes do aparelho ideológico do Estado. 
Desdea República Velha até os dias de hoje, algumas centrais sindicais servem de esteio para interes-
ses e apoio a partidos políticos. Outro meio que não podemos deixar de abordar quando pensamos sobre 
ideologia são os meios de comunicação: o que vemos é o que querem que vejamos ou a intepretação de 
quem detém o poder e acreditamos ser essa a verdade ou a realidade. Não há uma neutralidade em ter-
mos da absorção das ideologias: há certo interesse, ou uma necessidade inconsciente, de que a sociedade 
funcione da forma como as ideias românticas são postas. Aos poucos, a classe “dominada” se aprisiona nas 
ideias e ela mesma as perpetua.
https://www.letras.mus.br/max-gonzaga/471737/
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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Os processos ideológicos criam mecanismos diversos para perpe-
tuar aquilo que conforma as pessoas à realidade posta. A conformação 
com as ideias dadas e a indisposição de fazer um novo caminho são con-
sequências de séculos de exploração de uma classe dominante sobre ou-
tra que se permite dominar. Quando visualizamos o sistema escolar bra-
sileiro, percebemos que ele privilegia uma minoria, o que terá resultados 
muito visíveis: a evasão e o fracasso escolar, aspectos esses recorrentes 
em todas as análises feitas quando se pensa a educação escolar. 
Se por um lado são temas recorrentes, os modos de abordá-los são 
diversos. E se formos olhar para quem detém o poder ideológico, perce-
bemos diversos exemplos de situações constrangedoras ou até mesmo de 
violência contra quem passa por essa situação. Um rótulo que não pode ser 
esquecido é o que classifica os que fracassam na escola como incapazes (de 
aprender, de conviver etc.), isso tudo em oposição aos que vencem porque 
são capazes (vencedores, captam o que a escola deseja etc.). 
Cabem as perguntas: quem são os que geralmente fracassam? 
Quem geralmente é o vencedor? Pelo que temos visto até aqui, as res-
postas são claras: os perdedores são os mais pobres e os filhos das classes 
trabalhadoras e os vencedores são os detentores do poder e do capital. 
O resultado de tudo isso é que a escola, que deveria ser um dos meios de 
inserção social, torna-se um fator de exclusão (assim tem sido no decorrer 
de nossa história). A escola ajuda a estratificar, assim como o faz o restan-
te da sociedade manipuladora e elitista. Tudo isso é repassado por um 
discurso afirmativo da meritocracia: isto é, de que quem vence o faz por 
seu próprio esforço e o fracasso se dá pela falta de talento, de condições 
para ascender.
SAIBA MAIS
Embora represente uma realidade diferente, o filme “Entre os 
muros da escola” apresenta uma visão escolar francesa, mas 
que nos permite traçar alguns paralelos com a situação escolar 
brasileira. Para conhecer uma análise do filme, acesse: https://
www.youtube.com/watch?v=uO6YBToNeMI.
Até o início do século passado, a educação no Brasil não tinha uma 
perspectiva universal. A perspectiva de universalização da educação sur-
ge a partir dos anos 1930 e estava assentada sobre um tripé: “obrigatorie-
dade, universalidade do ensino e gratuidade”: a obrigatoriedade como 
uma forma de fazer com que todos estejam ao menos incluídos nas esco-
las, embora não se pergunte como estão; a universalidade que a princípio 
é ótima, mas que deve levar em conta o fato de que se somos tão diferen-
tes, será que todos devem aprender e ver o mundo do mesmo jeito?; e, 
por fim, a gratuidade, que é sem dúvida o aspecto mais complicado desse 
tripé, pois não há espaço para todos na escola gratuita.
A propaganda é a melhor e maior 
forma de difusão ideológica. Há 
um ditado popular que diz: “a pro-
paganda é a alma do negócio”. 
Fonte: Freepik
https://www.youtube.com/watch?v=uO6YBToNeMI
https://www.youtube.com/watch?v=uO6YBToNeMI
https://www.youtube.com/watch?v=uO6YBToNeMI
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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
A proposta de universalização na educação de modo tão rápido fez com que se errasse muito, sem 
uma reconfiguração para atingir as pessoas de diferentes classes e situações sociais, econômicas etc. No-
vamente, os resultados não poderiam ser outros, senão a evasão e a exclusão escolar. Diante de tais fatos, 
as reflexões desenvolvidas, em especial nos cursos de licenciatura, começaram a questionar os métodos de 
ensino e a atuação docente. Por fim, passam a refletir sobre os motivos de a escola não conseguir atingir os 
alunos, sendo ineficaz para um bom grupo deles. 
Ainda podemos citar (e o que é muito bem retratado no filme sugerido) a diversidade cultural, além 
das diferenças de gênero, raça e etnias, que vão ter uma implicação direta na reflexão sobre a educação. 
Esse modo de pensar abre horizontes para uma realidade que até então não era muito explorada pelos 
estudiosos: ver a cultura como um elemento diverso, mesmo dentro de uma mesma região ou lugar. O 
olhar sobre as minorias e a diversidade vai colocar em xeque a escola e toda a educação até então, abrindo 
espaço para várias perspectivas pedagógicas. A educação envolve vários aspectos e, sem dúvida, um deles 
é muito considerado pelas classes dominantes: o científico (um dos mais excludentes). Mas também há os 
aspectos esportivo, político e linguístico, que são reprodutores da herança social e que muitas vezes não 
encontram um espaço de expressão. 
Nessas visões expressas, o rendimento escolar será visto como resultante também da presença da 
família, ou do investimento que a família faz para atingir os objetivos propostos. Um autor que se aprofun-
dou muito a respeito do papel da escola foi o sociólogo francês Pierre Bourdieu. Em um livro intitulado “A 
reprodução”, que escreve com Jean Claude Passeron, Bordieu conclui que, em vez de ser um sistema trans-
formador, a escola fortalece as desigualdades sociais, solidificando as diferentes estruturas da sociedade a 
partir de uma perspectiva conservadora. Podemos citar alguns exemplos de como isso ocorre a partir de 
alguns aspectos relacionados à linguagem, como: as correções gramaticais, a padronização e aceitação de 
um determinado sotaque, a supervalorização da habilidade na utilização das palavras etc. Tudo isso tem 
relação direta com a ordem estabelecida.
Vivemos no Brasil uma grande discussão sobre o que é arte e de que maneira ela deve ser expressa-
da. Acompanhamos debates realizados por causa de determinadas expressões de arte. Aqui não estamos 
julgando se uma determinada forma de arte é boa ou ruim; aliás, nenhum julgamento está sendo feito. O 
que estamos pensando e discutindo é o conceito de arte: quem propõe esse conceito? E a partir de que 
lugar social está quem defende uma ou outra posição? Dessa forma, Bourdieu se afasta da concepção mar-
xista que analisa a questão social a partir do aspecto econômico. Sua análise tem outra perspectiva, que 
também não se coloca sob julgamento como sendo a mais certa ou errada. 
É importante analisar que, ao entrarem na escola, os estudantes já são vistos a partir dos conheci-
mentos que têm e do que trazem a partir de seus traços culturais, a postural corporal, a habilidade de falar 
em público e assim sucessivamente. Tudo isso leva a um alto grau de frustração escolar, leva muitas famílias 
a investir menos no aprendizado formal. As obras de Bourdieu que tratam da educação são muitas e estão 
traduzidas para o português, o que facilita a leitura e a interação com esse modo de pensar.
REFLETINDO
Modo de vestir, modo de falar, hábitos alimentares e de postura, bullying, 
aparência, material escolar, brinquedos, livros etc. são vistos como manifes-
tações de uma posição social. Como essas manifestações, no modo de ser e 
ter, podem ser vistas como sentimento de superioridade no âmbito escolar?
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EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA E ENSINO PÚBLICO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
Cabe ressaltar que Bourdieu e Passeron (2008) também viam na escola uma possibilidade de ir além 
de reprodutoras das realidades sociais. Elas podem ser produtoras à medida que apresentarem

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