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Professora Gabriela Vieira 19.10.2022 1 Anna Laura Vilela de Oliveira Assis Introdução *O feto é completamente dependente da oferta de glicose materna. *A manutenção da homeostase da glicose pode ser um grande problema para o recém-nascido. *A mortalidade perinatal em gestações diabéticas é 3 a 5 vezes maior do que a mortalidade perinatal na população em geral. • Classificação diabetes *Pré-gestacional ou clínico, DM1 ou DM2; *Gestacional; *Rastreamento do diabetes: - GJ ≥ 126 mg/dL; - HbA1C ≥ 6,5%; - Glicose aleatória ≥ 200 mg/dl, quando associado a GJ ou HbA1C alterado. Valores de glicemia na gestação *GJ < 92 mg/dl é normal; *92 ≤ GJ ≤ 125 mg/dl é DMG; *TOTG na 24º e 28º sem com GJ < 92; 1 hora < 180 e 2 horas < 153 mg/dl é normal. Fatores de risco para DMG *Idade > 25 anos; *Obesidade com IMC > 27, ou ganho excessivo de peso na gestação atual; *Disposição central da gordura corporal; *Baixa estatura; *História familiar de diabetes em parentes de primeiro grau; *Antecedentes de intolerância a carboidratos; *Hipertensão, pré-eclâmpsia, polidrâmnio e crescimento fetal excessivo na gravidez atual; *Antecedentes obstétricos de macrossomia, morte fetal ou neonatal e malformações; *Diabetes gestacional em gestação anterior; *Síndrome dos ovários policísticos. Fatores importantes a avaliar *Tipo de diabetes; *Grau de controle materno; *História das gestações anteriores e complicações; *IG (RNTp), parto cesariana e peso materno elevado antes da gestação. Características do recém-nascido filho de mãe diabética *GIG; *Pletórico; *Aspecto cushingóide; *Pode apresentar visceromegalias; *Pode apresentar perímetro cefálico diminuído proporcionalmente; *PIG; *CIUR, decorrente da insuficiência placentária. Controles Glicêmicos inadequados na gravidez *Período periconcepcional e precoce no 1º trimestre estão relacionados a: - abortos espontâneos; - atraso no crescimento inicial; - malformações congênitas importantes. *Durante o 2º trimestre: - hipertensão induzida pela gravidez; - trabalho de parto prematuros; - anomalias congênitas menores. Professora Gabriela Vieira 19.10.2022 2 Anna Laura Vilela de Oliveira Assis *Durante o 3º trimestre: - macrossomia; - trauma ao nascimento; - distócia fetal, trauma materno; - alta taxa de cesariana. *Hiperglicemia durante o trabalho de parto agrava o risco de hipoglicemia neonatal e está associada com baixos índices de Apgar. Consequências fetais e neonatais em FMD *Macrossomia; *Restrição do crescimento intrauterino; *Prematuridade; *Traumas de parto; *Desconforto respiratório; *Policitemia; *Hipoglicemia; *Hipocalcemia; *Hipomagnesemia; *Alterações do ferro; *Malformações congênitas; *Miocardiopatia hipertrófica e hipertensão pulmonar. Macrossomia neonatal *É caracterizada por: - excesso de gordura corpórea, aumento da adiposidade, com hiperplasia e hipertrofia; - visceromegalias, hepatomegalia devido maior estoque de glicogênio estimulado pela insulina; - aumento da massa muscular. *É resultado do crescimento fetal é estimulado pela insulina. *É risco isolado para outras complicações como: - desconforto respiratório, pois a hiperinsulinemia bloqueia a indução da maturação pulmonar pelo cortisol, hipoglicemia; - tocotraumatismos; *Essas potenciais lesões ao nascimento incluem: - cefalohematoma; - hemorragia subdural; - paralisia facial; - hemorragia ocular; - lesões do plexo braquial e fratura de clavícula. *É possível hemorragia de órgãos devido organomegalia associada ao FMD, especificamente o fígado e a glândula adrenal. *RCIU é relacionada a insuficiência placentária na DM complicada por HAS materna. Malformações congênitas *O controle glicêmico inadequado na concepção e durante o 1º trimestre da gravidez é a principal causa de malformações fetais. *A hiperglicemia altera o metabolismo lipídico do feto o que gera um excesso de radicais livres e ativa a apoptose, podendo resultar em malformações fetais. *A taxa de malformações fetais é ainda de 2 a 4 vezes maior nas gravidezes diabéticas tipo 1 e 2 do que na população geral. *Padrões de malformações congênitas no FMD: - síndrome de regressão caudal, que é altamente específica para diabetes materno; - malformações cardíacas, como comunicação interventricular, transposição dos vasos da base, persistência do canal arterial e situs inversus; - deformidades do sistema nervoso central, como anencefalia, espinha bífida, hidrocefalia, , encefalocele, meningomielocele e holoprosencefalia; - anomalias do trato urinário e gastrintestinal. Professora Gabriela Vieira 19.10.2022 3 Anna Laura Vilela de Oliveira Assis Hipertrofia septal assimétrica, HSA *O recém-nascido filho de mãe diabética tipo 1 e tipo 2 tem maior risco de desenvolver HSA do que recém-nascido filho de mãe diabética de DMG. *O controle rigoroso da glicose pode não ser suficiente para evitar a hipertrofia ventricular. *A secreção de insulina fetal estimula o crescimento do músculo cardíaco o que resulta em hipertrofia. *A HSA tem curso benigno e geralmente resolve espontaneamente, mas o período neonatal imediato pode ser complicado. *É sugerido que todos neonatos FMD fossem submetidos à ecocardiografia logo após o nascimento, para identificar características anatômicas e fisiológicas e permitir correlação com o cenário clínico. Síndrome de colón esquerdo pequeno *É uma anomalia transitória exclusiva dos FMD. *Acomete 5% destes neonatos, possivelmente por uma imaturidade intestinal, com defeito na migração dos plexos mioentéricos. *Clínica: o recém-nascido apresenta dificuldade em eliminar mecônio e distensão abdominal generalizada. *Diagnóstico: radiografia simples de abdome e/ou enema contrastado. Hipóxia fetal e neonatal *O diabetes mal controlado pode levar a: - redução do fornecimento de oxigênio para o feto devido a diminuição do fluxo sanguíneo placentário, possivelmente agravado por doença vascular grave, ou pelo aumento da afinidade da HbA1c pelo oxigênio que pode contribuir para a redução da transferência de oxigênio materno- fetal; - aumento do consumo de oxigênio pela unidade feto-placentária pelo excesso de combustíveis ou de hiperinsulinemia, as taxas metabólicas e de consumo de oxigênio da placenta aumentam, privando o feto de oxigênio suficiente. *O feto adapta-se à hipóxia crônica através da redistribuição do seu fluxo cardíaco, com redirecionamento para o cérebro e coração, além de aumentar a síntese de eritropoietina para aumentar a capacidade de transportar oxigênio no sangue. *Os níveis de eritropoietina do plasma fetal e do líquido amniótico elevados são marcadores de hipóxia intrauterina crônica. Policitemia *É definida como: - Ht ≥ 65% ou Hb > 22 m/dL em sangue periférico. *0 FMD apresentam maior risco de policitemia e hiperviscosidade no período neonatal. *A hiperviscosidade resultante da policitemia pode causar trombose da veia renal, acidente vascular encefálico e outros danos. *A hipoxemia fetal causa aumento da produção da EPO fetal e aumento das taxas de policitemia. *O aumento da massa de hemácias e da taxa eritropoiética pode também desempenhar um papel na hiperbilirrubinemia neonatal. Hiperbilirrubinemia *Extremamente comum nos FMD devido, em parte, à sua tendência em ter maior massa de células vermelhas. *RN com macrossomia tendem a sofrer tocotraumatismos e a reabsorção do sangue subcutâneo pode contribuir para a hiperbilirrubinemia. *A policitemia frequentemente observada no FDM pode ser o fator mais importante associado à hiperbilirrubinemia. Professora Gabriela Vieira 19.10.2022 4 Anna Laura Vilela de Oliveira Assis Deficiência de ferro *A eritropoiese aumentada exige quantidades aumentadas de ferro. *A distribuição de ferro é anormal em FMD, com concentração de transferrinamaior e níveis de ferritina menores. *Estudos concluíram que o armazenamento de ferro é reduzido no feto da mãe diabética. *A hipóxia fetal crônica e a deficiência de ferro fetal associada podem ser responsáveis pelo neurodesenvolvimento anormal em filhos de mães diabéticas. Hipoglicemia neonatal *Pode ocorrer imediatamente após o nascimento devido à interrupção abrupta do fornecimento de glicose materna, sem que ocorra o decréscimo imediato da secreção de insulina. *O hiperinsulinismo fetal é causado pela hiperglicemia materna principalmente durante o 3° trimestre, e é agravado pela hiperglicemia materna no trabalho de parto. *A asfixia neonatal e a policitemia também podem agravar a hipoglicemia, devido ao aumento da demanda de glicose. *O recém-nascido FMD tem risco aumentado de manifestar hipoglicemia neonatal prolongada, além das primeiras 48 horas de vida, com manifestações clínicas suspeitas ou incapacidade de manter concentrações de glicose > 50 nas primeiras 48 horas de vida e/ou > 60 após 48 horas de vida. Hipocalcemia *Ocorre geralmente entre 24 e 72 horas de vida. *Recém-nascido termo: Ca < 8 mg/dL; *Recém-nascido pré-termo: Ca < 7 mg/dL. *Ao nascimento tem a interrupção do Ca materno para o feto o que gera a diminuição da calcemia. *Logo após tem elevação do PTH e 1,25-OH vitamina D nas primeiras 24 horas de vida o que assegura a correção da calcemia. *No recém-nascido FMD e insulinodependente tem a persistência do estado de hipoparatireoidismo após o nascimento, por retardo na elevação do paratormônio, predispondo à hipocalcemia. *Fatores de risco para hipocalcemia neonatal nos FMD: - asfixia ao nascer; - prematuridade. Hipomagnesemia *O controle glicêmico inadequado leva à glicosúria materna, acompanhada de perda urinária de Magnésio. *A deficiência de Mg materna leva a uma deficiência de Mg fetal. *O Mg é necessário para a secreção adequada de PTH, bem como na sua ação sobre as células-alvo. *Deficiência de Mg desempenha também um papel importante na patogênese da hipocalcemia neonatal em FMD. *O tratamento depende se sintomático ou assintomático, e é individualizado. Manejo neonatal do FMD Sala de parto: *Anamnese detalhada e que tenha acesso a todos os exames realizados pela gestante no pré-natal. *Perguntas importantes: - o diabetes era anterior ou foi diagnosticado na gestação; - houve abortamento ou óbito fetal prévio? - a gestante foi tratada com insulina, hipoglicemiante oral ou dieta? Professora Gabriela Vieira 19.10.2022 5 Anna Laura Vilela de Oliveira Assis - quais exames foram realizados durante a gestação? Estavam alterados? - a mãe ganhou muito peso? - qual a idade gestacional? - a gravidez foi complicada com alguma outra doença, por exemplo, hipertensão? - foi realizada USG morfológica? - existe suspeita de alguma malformação? - há ecocardiografia fetal? - qual o tamanho estimado do feto? Alojamento conjunto *Sinais vitais a cada hora, nas primeiras 4 a 6 horas, que é o tempo em que os sinais e sintomas de complicações como hipoglicemia ou SDR podem se desenvolver. *Exame físico completo. *Triagem e manejo da HN! os FMD devem ser alimentados logo após o parto ou ainda na 1° hora de vida. *HGT com 2 horas de vida e de 6/6 horas, suspender com 12 horas de vida se valores normais. *Oferta hídrica EV inicial deve ser restrita a 60 a 70 ml/kg, se necessário e ajustada de acordo com o balanço hídrico diário. *Dosar Hb/Ht, Ca e Mg com 12 a 24 horas de vida, de preferência, com 24h de vida, no ponto mais baixo do cálcio pós-natal, ou se houver sintomas. *Ecocardiograma a partir de 24h de vida e antes da alta, para avaliar a função do coração ou presença de malformação. *USG de abdome total para os RN de mãe com diabetes pré-gestacional, diagnóstico anterior a gestação ou no primeiro trimestre, ou se sinais/sintomas de malformações. Consequências fetais e neonatais a longo prazo *Alcançar um controle metabólico adequado durante a gestação reduz, mas não previne de forma definitiva o risco de um neurodesenvolvimento ruim na prole. *Aumento dos valores da glicose materna durante a gestação estão associados a menor tamanho cerebral e atraso na maturação cerebral durante a infância. *Nos FMD, os riscos de obesidade, intolerância à glicose, secreção reduzida de insulina e hipertensão estão aumentados durante a infância tardia ou adolescência e podem persistir na vida adulta.
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