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Antropologia, identidade e diversidade E-book 2 César Niemietz Neste E-book: Introdução ��������������������������������������������������� 3 Sobre as técnicas e os métodos empregados pela Antropologia ������������4 A divisão sexual relativizada por Margaret Mead �������������������������������������������� 9 E� E� Evans-Pritchard e o estudo de um grupo nilota �����������������������������������������13 Os mortos e os vivos: a noção de “pessoa” para os Krahô���������������������������21 Analisando a sociedade capitalista por óculos antropológicos ��������������������30 Considerações finais�������������������������������37 Síntese �������������������������������������������������������� 40 2 E-book 1 E-book 2 INTRODUÇÃO Se na seção anterior delimitamos o horizonte que demarca algumas das principais preocupações teóricas que a Antropologia passou a ter com os desdobramentos de suas análises centradas na no- ção de cultura, nesta unidade abordaremos alguns estudos importantes que ampliaram a perspectiva antropológica a respeito das construções sociais e culturais das identidades humanas. 3 SOBRE AS TÉCNICAS E OS MÉTODOS EMPREGADOS PELA ANTROPOLOGIA Os tipos de estudos aos quais vamos nos referir nesta unidade se caracterizam como pesquisas sis- temáticas a respeito de certas questões identitárias que envolvem grupos humanos. De saída, devemos ter em mente que a pesquisa em ciências sociais exige o cumprimento de algumas etapas, sendo que as principais são: o levantamento e a preparação da própria pesquisa; a coleta de informações; a filtra- gem dessas informações; a transformação dessas informações em dados e a interpretação desses referidos dados. Todavia, são muitas as maneiras possíveis para se realizar esses procedimentos, o que indica uma bem recebida pluralidade de abor- dagens realizadas pelos cientistas sociais. Essa diversidade de abordagens resulta na ope- racionalidade de métodos distintos de pesquisa, mas se relaciona também com uma reflexão inicial sobre os caminhos que se deseja trilhar ao longo da pesquisa. Segundo Maria Isaura Pereira de Queiroz: 4 A proposição das questões a serem estuda- das, a coleta e a análise dos dados, depen- derão em grande parte do grau de assimi- lação crítica das teorias pelo pesquisador – entendendo-se por assimilação crítica a reflexão aprofundada do pesquisador sobre os conjuntos de abstrações que já encontra prontos ao iniciar o trabalho (QUEIROZ, 1999, p. 17). Essa reflexão inicial sobre os objetivos e sobre a situação de partida do próprio pesquisador indica- rá a delimitação daquilo que podemos denominar como metodologia de pesquisa. Em linhas gerais, podemos compreender um método como a própria forma de organização da pesquisa, ou como o modo de proceder que o pesquisador empregará em sua análise, de maneira a indicar o percurso lógico que desenvolverá para o estudo de seu objeto de inves- tigação. As técnicas de pesquisa, por sua vez, são ferramentas utilizadas pelo pesquisador durante sua prática de investigação. Como observamos na unidade anterior, enquanto ciência social, a Antropologia moderna passou a enfatizar a presença do antropólogo junto ao grupo que pretende estudar. Essa imersão sinalizou uma tentativa de compreender de maneira mais refinada os costumes, valores e padrões de interação entre as pessoas que compõem o grupo a ser estudado. Distanciou-se, assim, do método de pesquisa com- parativo, operado pelos “antropólogos de gabine- 5 tes”, que consistia em comparar diferentes dados de segunda mão a respeito de culturas distantes (tal método foi particularmente difundido ao lon- go do século 19, com os autores evolucionistas). A essa mudança de paradigma metodológico deu-se o nome de observação participante. A introdução da observação participante à práti- ca do antropólogo abriu novos horizontes para a disciplina, e a etnografia – registro exaustivo das observações feitas em campo – tornou-se cada vez mais detalhada. Desde então, os antropólogos passaram a se dedicar cada vez mais às sutilezas que envolvem as produções simbólicas dos grupos, tornando necessária a ampliação de seu repertório de técnicas. Dentre essas, podemos destacar algu- mas das mais recorrentes: a) Genealogia: técnica muito comum nos primór- dios da Antropologia, que consiste em investigar a origem dos indivíduos pesquisados, de maneira a remontar as linhagens genealógicas. Esse tipo de estratégia contribui para a elucidação das relações de parentesco, e os diagramas de parentesco por sua vez, bem como das relações das diferentes matrizes genealógicas entre si, que em um grupo podem ser aliadas, rivais, cooperativas, amigáveis etc. b) Análise documental: investigação a partir de registros feitos por viajantes, instituições como o Estado, ou mesmo pelos próprios grupos e pessoas que serão analisados. Nesse tipo de pesquisa, o antropólogo busca reconstruir certas linhas narra- 6 tivas sobre o grupo ou o evento por ele pesquisado, de modo a restabelecer um determinado discurso. c) Entrevistas e depoimentos: a partir dessa técnica, há a possibilidade de se aproximar da perspectiva que as pessoas têm a respeito de si mesmas, bem como suas opiniões sobre eventos e situações que o pesquisador deseja investigar. Trata-se de material que pode ser estruturado, semiestruturado ou aber- to. Esse tipo de técnica gera materiais bastante ricos em sentidos, caracterizado por certa pessoalização do discurso (ZALUAR, 1985), embora possa trazer limites no que concerne à padronização e à busca por regularidades. d) Histórias de vida e biografias: tentativa de re- construção linear da vida de pessoas, grupos e ins- tituições. Assim como as demais técnicas, possui certas limitações, uma vez que opta por uma re- construção histórica parcial. Contemporaneamente, a técnica da prosopografia passou a se sobrepor à biografia, pois focaliza sobretudo as condições históricas e os vínculos sociais aos quais as pes- soas estão ligadas, de modo a evitar aderir a uma construção ilusória e interessada a respeito das qualidades dos indivíduos estudados. e) Estudo de caso (case study): estudo detalhado a respeito de um determinado evento. Pode-se tam- bém analisar os desdobramentos de um determina- do caso em continuidade, possibilitando o estudo sequencial de casos. 7 Deve-se ressaltar que, durante a pesquisa, raras são as situações em que o antropólogo utiliza apenas uma dessas técnicas, uma vez que a confrontação entre essas diferentes ferramentas analíticas contri- bui para o controle da objetividade da análise. Assim, por exemplo, ao reconhecer que eventualmente existem limites nos depoimentos dos informantes (lapsos de memória ou distorções propositais), o pesquisador pode lançar mão de outra técnica, a exemplo da pesquisa documental, de modo a com- parar os dois registros para se ter um certo controle sobre a informação. Tais reajustes são caracterís- ticas do próprio método científico, que, segundo Oracy Nogueira, caracteriza-se por ser progressivo e autocorretivo: Pelo recurso ao método científico, não ape- nas novas adições estão sendo constan- temente feitas ao repertório de cada uma das ciências, mas ainda conclusões de um menor grau de probabilidade estão constan- temente sendo substituídas por conclusões de um grau de probabilidade mais elevado (NOGUEIRA, 1977, p. 77). A seguir, estudaremos algumas importantes pesqui- sas realizadas no âmbito da antropologia, de modo a verificar como o conhecimento do outro pode con- tribuir para a compreensão dos limites de nossas percepções sobre identidades. 8 A DIVISÃO SEXUAL RELATIVIZADA POR MARGARET MEAD Margaret Mead (1901–1978) tornou-se uma das principais antropólogas de seu tempo, responsável pela popularização da Antropologia fora dos circui- tos acadêmicos. Inspirada pelos princípios de Franz Boas de que as diferenças entre os grupos humanos seriam condicionadas sobretudopor componentes culturais (e não biológicos, como afirmavam os evo- lucionistas), Mead foi para a Papua Nova Guiné em 1925, estudar as grupos que lá viviam, e, a partir de então, iniciou uma série de estudos a respeito de comunidades não ocidentais, resultantes de im- portantes produções etnográficas que se tornaram bastante conhecidas, a exemplo de Coming of age in Samoa (1928), Growing up in New Guinea (1930) e Sexo e temperamento em três sociedades primi- tivas (1935). Sobre a obra Sexo e temperamento em três socie- dades primitivas, pode-se afirmar que foi recebida sob polêmicas quando de sua publicação. Partindo da análise de três grupos que habitavam a região, Mead percebeu que os padrões comportamentais das pessoas variavam de maneira profunda no que concerne aos seus papéis em comparação com os costumes ocidentais – sobretudo estadunidenses, país de origem da antropóloga. 9 Figura 1: Imagem: Margaret Mead (cerca de 1928-1929) com crian- ças das Ilhas Samoa. Fonte: https://npg.si.edu/ A obra de 1935 focaliza três grupos: os Arapesh, os Mundugumor e os Tchambuli. Para o primeiro gru- po, a divisão sexual do trabalho era relativamente harmoniosa, uma vez que homens e mulheres co- operavam de maneira cordial uns com os outros. Dessa forma, não se evidenciava uma separação entre os comportamentos dos dois sexos, uma vez que a atuação dos dois segmentos tinha como meta a criação dos filhos: 10 https://npg.si.edu/ A vida arapesh está organizada em torno desta trama central: como homens e mu- lheres, fisiologicamente diferentes e dotados de potencialidades diversas, unem-se numa façanha comum, que é primordialmente ma- ternal, nutritiva e orientada para fora do eu, em direção às necessidades da geração se- guinte (MEAD, 1979, p. 41). De outro lado, os Mundugumor se apresentavam como o oposto dos Arapesh. Tratava-se de um grupo com comportamentos considerados agressivos pela antropóloga, tanto em relação aos homens quanto também em relação às mulheres. Dessa forma, não se verificava a noção ocidental de que os homens estariam mais propensos à violência, uma vez que a agressividade dos comportamentos de homens e mulheres eram semelhantes. A análise dos dois grupos investigados não indica necessariamente a ausência de diferenças, uma vez que, segundo Mead, os Arapesh acreditavam que a pintura a cores deve ser reservada aos homens, e os Mundugumor, por sua vez, defendiam que a pes- ca era um tipo de tarefa que deveria ser realizada sobretudo por mulheres. No entanto, os comporta- mentos de homens e mulheres não destoavam uns dos outros, de modo que não é possível verificar de- sigualdades que favorecem um sexo em detrimento a outro em suas funções sociais desempenhadas. Diferente é o caso dos Tchambuli, terceiro grupo estudado pela antropóloga, pois não apenas apre- 11 sentam características distintas em relação aos dois primeiros grupos, mas também designam com- portamentos específicos para homens e mulheres. Contudo, para a surpresa da antropóloga, os padrões culturais compartilhados entre eles diferiam nova- mente daqueles comumente atribuídos ao modelo ocidental. Entre os Tchambuli, homens mostravam atributos de sensibilidade intensa, dedicando-se aos cuidados da casa e das crianças, enquanto as mulheres dedicavam-se à caça, pesca e ao comércio, detendo grande poder sobre os homens do grupo. Desse modo, Mead passou a colocar em questão o senso comum ocidental de que de maneira universal os homens seriam os provedores e guerreiros, reser- vando às mulheres os papéis de mães e cuidadoras do espaço doméstico. 12 E. E. EVANS- PRITCHARD E O ESTUDO DE UM GRUPO NILOTA Edward Evan Evans-Pritchard (1902–1973) foi um antropólogo britânico que desenvolveu importantes estudos sobre grupos em continente africano. Entre suas obras mais famosas estão Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande (1937) e Os Nuer: uma des- crição do modo de subsistência e das instituições políticas de um povo nilota (1940). É sobre esta úl- tima obra que falaremos para compreender como as formas de percepção das identidades também estão sujeitas a rearranjos sofisticados no que diz respeito à organização política e social do mundo. 13 Figura 2: Figura 1: E.E. Evans-Pritchard junto ao povo Nuer durante a década de 1930. Fonte: https://www.babelio.com/auteur/Edward- Evans-Pritchard/169230. Acesso em: 27 jun. 2019. A obra de Evans-Pritchard teve como interesse inicial a realização de uma análise das formas de sub- sistência e das instituições políticas de um grupo localizado no Sudão, às margens do rio Nilo, deno- minado Nuer, composto então por aproximadamente duzentas mil pessoas. O antropólogo chegou à co- 14 munidade em 1930 e prosseguiu com seus estudos ao longo dessa década. Esse clássico estudo de Pritchard exerceu fascínio e influência sobre a ge- ração posterior de antropólogos, pois levou a sério a noção de compreender um determinado grupo em seus próprios termos culturais e sociais, esforçando- -se para deixar de lado os valores europeus e esta- dunidenses que ainda definiam a visão de mundo da maioria dos antropólogos. No que concerne à forma como os Nuer se veem, deve-se levar em consideração, em primeiro lugar, a importância que a ecologia local exerce sobre suas identidades. Desse modo, a forma como eles se percebem enquanto grupo, suas noções de tempo e de espaço, bem como a forma como os outros grupos são vistos por eles, possuem estreitas re- lações com os ciclos de colheitas e de secas, com a pecuária e outros componentes que resultam em influências importantes para se compreender quem é uma pessoa Nuer. A reflexão sobre como diversos elementos influen- ciam na definição de uma identidade pode ser desta- cada de uma passagem retirada da obra de Pritchard em que o autor aponta como o gado contribui para a definição da identidade Nuer: 15 A atitude do Nuer e seu relacionamento com povos vizinhos são influenciados pelo amor ao gado e pelo desejo de adquiri-lo. Eles nutrem profundo desprezo por povos com pouco ou nenhum gado, como os Anuak, en- quanto que as guerras contra as tribos Dinka tem objetivado tomar o gado e o controle dos pastos (PRITCHARD, 1978, p. 23). Na passagem acima, podemos notar que as formas de reconhecimento do valor do outro pelos Nuer são influenciadas pelo gado, uma vez que grupos vizinhos, a exemplo dos Anuak e os Dinka, são vis- tos com desprezo ou como motivos de disputas em função de suas relações de pastoreio. Todavia, o gado não se restringe apenas aos outros, mas tam- bém às próprias relações entre os Nuer. Prossegue o antropólogo: A malha de relações de parentesco que liga os membros das comunidades locais é cau- sada pela eficácia de regras exogâmicas, fre- quentemente colocadas em função do gado. A união do matrimônio é realizada através do pagamento em gado e todas as fases do ritual são marcadas pela transferência ou sacrifício do mesmo. O status legal dos côn- juges e dos filhos é determinado por direi- tos e obrigações sobre o gado (PRITCHARD, 1978, p. 25). 16 A importância da análise de Pritchard se tornou no- tável, uma vez que, mesmo muitas décadas depois de seu estudo, a estrutura básica de relações entre os Nuer se manteve relativamente estável, passando pelo teste da história, tal como afirma a antropólo- ga Beatriz Perrone-Moisés a respeito da organiza- ção contemporânea dos Nuer, em texto intitulado Conflitos recentes, estruturas persistentes: notícias do Sudão (2001). No artigo, Perrone-Moisés avalia as transformações ocorridas no final do século 20 entre os Nuer e seus vizinhos. Em primeiro lugar, um aumento demográfico sig- nificativo: os Nuer sudaneses, quando da pesquisa de atualização da antropóloga, correspondiam en- tão a cerca de 740 mil, com população também na Etiópia, e os Dinka – vizinhos contra quem os Nuer guerreavam – ampliaram sua população para cerca de um milhão e trezentas mil pessoas. Em segundo lugar,uma mudança drástica, decorrente da inser- ção de armas de fogo no território por estrangeiros provenientes do continente Europeu e dos Estados Unidos da América: 17 O fato é que todos os jovens dinka e nuer passaram a carregar cotidianamente armas pesadas, e as mortes se multiplicaram em proporções assustadoras. Ao longo dos anos 90, toda a faixa de fronteira Dinka/Nuer ficou vazia: as aldeias tinham sido dizimadas ou sua população tinha sido raptada e os even- tuais sobreviventes haviam fugido. Não há como calcular quantas vítimas essa guerra civil no Sudão meridional fez (PERRONE- MOISÉS, 2001, p. 130). Embora se trate de uma tragédia potencializada pela adoção de um componente externo – a arma de fogo –, há que se levar em consideração a perma- nência do conflito como motivado sobretudo pelas desavenças que remontam àquelas identificadas por Pritchard, a saber: o rapto de mulheres e o rou- bo de gado. Entretanto, para se compreender o que significa isso para os Nuer, é necessário o estudo das particularidades culturais e sociais desse grupo. As observações feitas por Perrone-Moisés, ao evi- denciar como as estruturas sociais perduram, são importantes para percebermos a importância que as pesquisas realizadas no âmbito da antropologia possuem para a compreensão e para a tradução dos dilemas com que as populações não-europeias têm que lidar. 18 SAIBA MAIS: F o n t e : h t t p s : / / p e r i o d i s t a s - e s . c o m / abrazo-la-serpiente-mito-la-esperanza-65185 F o n t e : h t t p s : / / w w w . r 7 a . c l / a r t i c l e / el-boton-de-nacar-de-patricio-guzman/ Os dois filmes tratam de questões relacionadas à identidade indígena na América Latina e seus con- tatos com povos europeus. O abraço da serpente (2017), de Ciro Guerra, traz uma série de reflexões sobre alteridade a partir da história de um viajante europeu que vai para a floresta amazônica a pretex- to de investigar a fauna local. No caminho, trava con- tato com o indígena Karamakate, que aceita condu- zi-lo durante a viagem. Já O botão de pérola (2015), dirigido por Patri- cio Guzmán, trata da relação entre o extermínio indígena na região da Patagônia e a relação da ditadura chilena com os presos políticos, mui- tos dos quais foram lançados ao mar ainda vivos. 19 https://periodistas-es.com/abrazo-la-serpiente-mito-la-esperanza-65185 https://periodistas-es.com/abrazo-la-serpiente-mito-la-esperanza-65185 El botón de nácar (O botão de pérola). 2016. 1h 22min. Dirigido por Patricio Guzmán. Produzido por Ataca- ma Productions, Valdivia Film, Mediapro. El abrazo de la serpente (O Abraço da Serpente). 2015. 2h 5min. Dirigido por Ciro Guerra. Produzido por Bu- ffalo Films, Buffalo Producciones, Caracol Televisión. 20 OS MORTOS E OS VIVOS: A NOÇÃO DE “PESSOA” PARA OS KRAHÔ Para as pessoas que habitam as sociedades urbanas e industrializadas, é comum que se entendam como indivíduos autônomos e vivos. Embora pareça óbvio, em um primeiro momento, compreender nossa iden- tidade social como a de alguém que está vivo, em oposição às pessoas que não estão, é algo que de- marca nossa experiência social, embora de maneira secundária, pois dificilmente se pensa nisso a todo o momento. Entretanto, alguns estudos indicam que essa oposição vivo/morto não é um dado universal, ou seja, algo compartilhado de maneira idêntica por todas as pessoas em diferentes contextos culturais. A separação entre vivos e mortos é algo que está presente em muitas sociedades, uma vez que a com- preensão da finitude de nossa experiência humana é uma questão que engendra ansiedades de diver- sas ordens. Mas como esse tema é tratado por gru- pos que possuem padrões culturais diferentes dos nossos? Antes de começarmos, vale refletir acerca dessa proposição em termos antropológicos. Desse modo, pode-se afirmar que a construção de nossa identidade requer pontos de referência. 21 Em termos de construção de identidades pessoais e coletivas, os estudos de Manuela Carneiro da Cunha a respeito dos índios Krahô apresentam interes- santes resultados. A autora procurou identificar o valor que a noção de pessoa possui para esse grupo indígena, tomando como ponto de partida a própria dissolução da personalidade social, ou seja, a morte. Localizados na região entre Tocantins e Goiás, no momento em que a antropóloga realizou o seu es- tudo de campo, o grupo indígena contava com cerca de 600 integrantes. Figura 3: Imagem 2: Krahô recebe de volta machadinha que se en- contrava no Museu Paulista. Fonte: Foto de Alfredo Rizzuti, 1986. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Krah%C3%B4 Podcast 1 22 https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Krah%C3%B4 https://famonline.instructure.com/files/86485/download?download_frd=1 O estudo de Manuela Carneiro da Cunha, intitulado Os mortos e os outros: uma análise do sistema fu- nerário e da noção de pessoa entre os índios Krahô (1978), traz uma série de dados colhidos pela an- tropóloga junto aos índios Krahô. Segundo a autora, para os Krahô, a oposição entre vivos e mortos é um elemento primário para a organização das identi- dades. Isso se deve ao fato de que, para os Krahô, os mortos são vistos como a alteridade máxima, ou seja, o avesso total da experiência dos vivos. Entretanto, não são apenas diferentes, uma vez que viveriam em uma espécie de antissociedade, hostil à sociedade dos vivos, uma vez que roubam seus membros. Diz Cunha que “os mortos configuram- -se assim duplamente como ‘outros’ enquanto es- trangeiros, isto é, bárbaros, e enquanto inimigos” (CUNHA, 1978, p. 3). A morte requer rituais e cerimônias específicas, sen- do que cada grupo social estabelece o seu próprio meio de lidar com esse momento. A antropóloga, dessa forma, distancia-se de uma visão redutora que identifica o significado social da morte. Em outras palavras, se a morte biológica é um processo natural, a morte social não é. Nas palavras de Cunha: 23 Não existe [...] um modo de se pensar os mortos que de tão natural seria de cer- ta foram ‘universal’. Na realidade, vivos e mortos podem ou não serem concebidos como antônimos, par de opostos em uma classificação, ou melhor, não é na realidade tanto a existência da oposição que interessa – provavelmente sempre se poderá, em certo contexto, opor vivos e mortos – mas antes a precedência desta classificação sobre as outras. Se por exemplo a linhagem onde ela exista for um operador classificatório mais importante do que a distinção vivo-morto, esta esmaecerá e passará a um segundo plano (CUNHA, 1978, p. 3). Adentrando as representações coletivas dos Krahô, a autora inicia uma busca sobre os sentidos existentes nas questões básicas de orientação da própria iden- tidade dos integrantes do grupo, uma vez que a com- preensão da morte indica uma certa orientação a respeito da própria experiência de vida. Desse modo, Cunha (1978) compreende que os ritos funerários são permeados por um conjunto de mitos muito particulares e diferentes dos nossos. Enquanto o sentido que atribuímos à morte está muito arraigado às descobertas científicas – e que, de algum modo, fazem parte dos mitos em que acreditamos –, para os Krahô a origem da morte está relacionada a duas forças antagônicas: a origem da morte, como de to- dos os males que afligem a humanidade, remonta a 24 Pëdleré, Lua, que forma com seu amigo formal, Pëd, o Sol, o par de demiurgos, cujas andanças são lon- gamente contadas em um ciclo de episódios míticos. Trata-se do próprio sentido que orienta a morte e, desse modo, também a vida. A análise desse grupo indígena ainda traz outras elucidações que podem contribuir para compreendermos como a noção de pessoa varia de acordo com os contextos culturais em que são apresentadas. Conforme Julio Cézar Mellati constatou em seu es- tudo também sobre os índios Krahô, o sistema de atribuição dos nomes segue regras que para nós talvez sejam pouco compreensíveis em um primeiro momento.Segundo Mellati: O indivíduo do sexo masculino recebe nome daqueles parentes consanguíneos a que apli- ca o termo keti, o qual engloba, entre outras categorias de parentesco, o irmão da mãe, o pai da mãe, o pai do pai e seus primos para- lelos. Já o indivíduo do sexo feminino recebe o nome pessoal das parentas consanguíneas a que aplica o termo de parentesco tïi, que abrange, entre outras categorias de paren- tesco, as de irmã do pai, filha da irmã do pai, mãe do pai, mãe da mãe e suas primas paralelas (MELLATI, 1968, p. 4). 25 Conforme o trecho anterior, os nomes destinados aos Krahô estão relacionados de maneira ampla com a totalidade do grupo, uma vez que o processo de nomeação traz consigo uma complexa rede de afirmações interrelacionais. A criação do nome e, por conseguinte, das identidades dentre os Krahô possibilita uma série de obrigações formais entre as diferentes pessoas do grupo, mesmo entre aquelas que, de outro modo, não se relacionam – ou entre as formas de amizade e as estruturas sociais. Distingue-se, desse modo, os chamados amigos formais (ikhuanare), que são evitados de maneira respeitosa (não se pronuncia os seus nomes, não se tem relações sexuais, evita-se caminhar pe- los mesmos lugares), dos amigos não formais, ou companheiros. A propósito da chamada amizade formal, pode-se compreendê-la como um “complexo que abrange ao mesmo tempo uma estrita relação de evitação (com os amigos formais) e uma relação prazenteira (com certos parentes seus)” (CUNHA, 1978, p. 83). A quebra dessas regras de distanciamento formal encerra igualmente a própria relação entre esse nível de interação. Cunha narra brevemente o caso de uma mulher que, sem saber que sua interlocutora era uma amiga formal, fez certos gracejos com ela. Posteriormente, descobriu que se tratava de uma amiga formal, embora já fosse tarde demais, uma vez que a amizade foi desfeita. Em outro texto, ainda sobre os Krahô, Cunha afirma que: 26 A amizade formal, em seu duplo aspecto de evitação e de relações prazenteira, é uma modalidade de um processo de construção da pessoa. Vimos que o amigo formal é con- ceitualmente o estranho, o outro, e enquanto tal, ele pode ser o mediador, o restaurador da integridade física e da posição social (CUNHA, 1978, p.37). De outro lado estariam os chamados ikhuionõ, con- siderados companheiros com os quais se compar- tilha as liberdades que não se tem com os amigos formais, incluindo-se a troca de mulheres nos rituais de encerramento das estações chuvosas e estações secas (CUNHA, 1978, p.88). Tem-se, a partir dessa complexa trama, funções sociais atribuídas a cada uma das pessoas: aos amigos formais atribui-se o papel de outros e aos companheiros (ikhuionõ) o papel de semelhante. Para além do caráter – aos nossos olhos, possivel- mente exótico – dessas representações, importa compreender que a noção de pessoa considerada como possuidora de autonomia e liberdade não é algo universalmente constatável. Fundamentada em seus estudos, a autora afirma que: 27 Embora cada cultura tenda a perceber sua noção de pessoa como sendo por assim di- zer natural, cada uma elabora no entanto representações específicas sobre o ser hu- mano enquanto indivíduo inserido no grupo (CUNHA, 1978, p. 89). SAIBA MAIS: Conheça a Enciclopédia dos povos indígenas do Brasil: http://pib.socioambiental.org/ Imagem 3: Página inicial do site Povos indígenas no Brasil. Fonte: http://pib.socioambiental.org/. (Acesso em 12 jun. 2019). O Instituto SocioAmbiental, organização sem fins lucrativos que conta com a participação de diversos antropólogos e lideranças indígenas ao redor do Brasil, desenvolveu uma importante pla- taforma com dados e informações diversas so- bre os vários povos que permanecem resistindo na luta pelos direitos de populações originárias. 28 http://pib.socioambiental.org/ http://pib.socioambiental.org/ Contando com vasta gama de documentos produzidos desde a década de 1970 pelo Cen- tro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), é possível encontrar informações deta- lhadas sobre povos como os Araweté, Cinta Lar- ga, Tikuna, Pataxó, Kalapalo, Bororo, Ashaninka, além de muitos outros. Podcast 2 29 https://famonline.instructure.com/files/86486/download?download_frd=1 ANALISANDO A SOCIEDADE CAPITALISTA POR ÓCULOS ANTROPOLÓGICOS Até aqui notamos o predomínio das análises antro- pológicas voltadas aos grupos não ocidentais, que, via de regra, organizam-se às margens das socie- dades capitalistas, embora não estejam totalmente apartadas destas. Embora a Antropologia tenha se consagrado como uma disciplina que procura in- vestigar o outro, em suas formas de organizações específicas, diversos antropólogos voltaram suas análises para suas próprias sociedades, ou seja, para as sociedades urbanas e industrializadas. De fato, consagrou-se, ao longo do tempo, a vertente denominada Antropologia urbana, que busca com- preender a produção das identidades nas grandes cidades. A propósito dos fundamentos das sociedades ca- pitalistas, o antropólogo Marshall Sahlins (1930–) desenvolveu uma série de reflexões profundas sobre as dinâmicas de produção de comportamentos e de disposições referentes às identidades formuladas nessas sociedades, em estudo intitulado La pensée bourgeoise: a sociedade ocidental enquanto cultura. 30 Distanciando-se das representações comuns a respeito das motivações econômicas presentes nas sociedades capitalistas – ou burguesas, como prefere o autor –, a análise de Sahlins focaliza a dimensão cultural. Diz o autor que a própria noção de produção material de bens corresponde a uma intencionalidade cultural. Dessa forma, as pessoas, nas sociedades burguesas, tenderiam a pensar seus hábitos e valores como o único modo de existência possível. Ou seja, Sahlins inverte o senso comum a respeito da lógica estritamente utilitarista. Segundo ele, o mecanismo de oferta, demanda e preço que caracteriza as sociedades capitalistas é proveniente de um código simbólico de objetos próprio de uma cultura particular que é a nossa: Essa visão da produção como a substancia- lização de uma lógica cultural deveria impe- dir-nos de falar ingenuamente da geração de demanda pela oferta, como se o produto social fosse a conspiração de uns poucos “tomadores de decisão”, capazes de impor uma ideologia da moda através dos enganos da publicidade (SAHLINS, 2003, p. 232). Em outras palavras, o que Sahlins procura enfati- zar é a relação necessária entre os símbolos que estão presentes em nossa cultura e nosso próprio pensamento. Dessa forma, deixa-se de se inter- pretar nossas ações como relacionadas apenas às necessidades materiais, o que significa dizer que o 31 cultural não está subordinado ao econômico, sendo que este sim é subsidiário dos padrões produzidos por nossa cultura: A explicação positivista de certas práticas culturais como efeitos necessários de al- guma circunstância material, seja para uma técnica específica de produção, seja para um grau de produtividade ou diversidade produ- tiva, ou para uma insuficiência de proteínas ou escassez de adubo — qualquer proposta científica desse tipo seria falsa (SAHLINS, 2003, p.232). A essas observações, o antropólogo procura inserir a importância dos símbolos sobre a própria relação de trocas existentes no capitalismo. Abaixo podemos observar uma pequena amostra da imagem sobre a qual Sahlins trabalha em seu texto, extraída da obra de Stephen Baker, que procurava orientar os publicitários estadunidenses na década de 1960: 32 Figura 4: O sexo dos objetos na publicidade. Orientação para publi- citários em Visual Persuasion, de Stephen Baker (1961), citado por Marshall Sahlins em La pensée bourgeoise: a sociedade ocidental enquanto cultura, Sahlins Fonte: Marshall Sahlins (2003, p.250), tra- dução de Sérgio Tadeu de Niemayer Lamarão. Como podemos observar na imagem anterior, re- cortada de uma imagem mais extensacontida no referido texto de Marshall Sahlins, a própria ins- trução dada aos publicitários está de acordo com formas culturais que predominam em determinados períodos históricos de nossa sociedade. A imagem original datava de 1961, o que evidentemente deve 33 ser levado em consideração, uma vez que os padrões de gêneros estão em constante modificação nas sociedades contemporâneas. Essas relações propriamente culturais também exer- cem poder sobre a formatação dos nossos gos- tos. Desse modo, podemos dizer que, sim, para a Antropologia, gosto é algo que se discute. Entretanto, essa discussão se torna mais profunda quando res- paldada por estudos rigorosos, a exemplo da pesqui- sa clássica realizada pelo sociólogo e antropólogo francês Pierre Bourdieu. Em A Distinção: crítica social do julgamento, publi- cado em 1979, Pierre Bourdieu parte do problema de se compreender como os gostos e os julgamentos são produzidos. Assim, mobilizando extenso mate- rial proveniente de pesquisas qualitativas e quanti- tativas, Bourdieu procura desvelar os mecanismos sociais que definem nossas preferências estéticas e éticas. Ao iniciar sua pesquisa sobre o assunto, Bourdieu partiu do ponto zero em relação às nossas percep- ções estéticas. Antes de mais nada, o autor procura se distanciar da noção de senso comum segun- do a qual a arte e a estética estão relacionadas a instâncias superiores e sublimes – cristalizada na expressão “arte pela arte”. Ou seja, propõe que o reconhecimento oferecido por nossa sociedade a respeito do que é e do que não é uma obra de arte deve ser colocado sob análise crítica: 34 A ciência do gosto e do consumo cultural começa por uma transgressão que nada tem de estético: de fato, ela deve abolir a fronteira sagrada que transforma a cultura legítima em um universo separado para descobrir as relações inteligíveis que unem ‘escolhas’, aparentemente incomensuráveis, tais como as preferências em matéria de música e de cardápio, de pintura e de esporte, de litera- tura e penteado (BOURDIEU, 2006, p. 14). A obra de Bourdieu tornou-se um clássico imedia- to junto às ciências sociais, pois trouxe dados que comprovavam como os gostos estão relacionados a certas posições que as pessoas ocupam nas so- ciedades em que vivem. Embora não seja necessa- riamente uma regra, tem-se a tendência de que as pessoas que vivem nas frações dominadas com- partilham de certos gostos relacionados a vestuá- rio, comida e arte, enquanto as frações dominantes desenvolvem gostos particulares que lhes conferem atributos distintivos. Em linhas gerais, de acordo com o sociólogo e antro- pólogo, os indivíduos na sociedade francesa da dé- cada de 1970 orientavam seus padrões de consumo conforme as disposições – ou, como prefere o autor, o habitus – que foram engendradas socialmente. Essas disposições, por sua vez, podem ser com- preendidas como matrizes geradoras de padrões de gostos, de maneira tal que acabam por definir um 35 certo espaço ordenado de acordo com as classes sociais das quais fazem parte. A grande inovação da análise empreendida por Bourdieu se deve ao fato de que ele conseguiu demonstrar, diferentemente de Marshall Sahlins, através de dados, essas tendências de gosto re- lacionadas com as classes sociais. Nesse senti- do, as identidades individuais estariam sujeitas às características especificas do espaço e do tempo em que as pessoas se situam. Dito de outra forma, os gostos passam por transformações – o que as classes dominadas consomem nos dias atuais é diferente do que consumiam na década de 1970 –, porém a distinção entre as classes através de seus gostos permanece como um marcador de desigual- dades sociais. Por fim, cabe ressaltar que os gostos trazem consigo símbolos culturais que tornam possível identificar a quais classes as pessoas tendem a pertencer. Esses símbolos, por sua vez, são reproduzidos por institui- ções como a família e a escola, uma vez que atuam como agentes capazes de definir o que é considera- do legítimo para cada grupo e para cada indivíduo. 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo das páginas anteriores, fizemos um per- curso que procurou indicar algumas importantes análises que os antropólogos fizeram desde que passaram a compreender a cultura como elemento fundamental dos grupos humanos. Evidentemente, muitos outros textos igualmente importantes foram deixados de lado, mas espera-se que a apresenta- ção dessas questões fomente o interesse do leitor pela produção antropológica contemporânea. Para isso, recomenda-se a busca por fontes reconhecidas pela comunidade de antropólogos, bem como suas revistas de divulgação científica. Além disso, o objetivo desta unidade também foi o de apresentar para o leitor como a identidade é formada de acordo com condicionantes que ini- cialmente estão situados externamente aos indiví- duos. Escolhemos as pesquisas de Margaret Mead, E. E. Evans Pritchard, Manuela Carneiro da Cunha, Marshall Sahlins e Pierre Bourdieu pois elas indicam que questões, mesmo categorias muito naturaliza- das por nós, estão sujeitas a processos de elabora- ções e reelaborações culturais: a divisão sexual do trabalho, o reconhecimento de nós e dos outros, as noções de vida e morte, nossos padrões de consumo nas sociedades capitalistas e nossos gostos. 37 De maneira mais abrangente, observamos que a identidade, enquanto noção de pessoa, é algo sus- cetível a diversas comparações entre culturas dife- rentes. Dessa forma, podemos afirmar que, a des- peito da base biológica que os indivíduos carregam consigo e que são nitidamente diferentes, a cultura molda os comportamentos e as percepções que tais indivíduos têm sobre si mesmos e sobre os outros. No próximo módulo, refletiremos sobre como surgem as identidades nacionais e como são construídos os afastamentos e as aproximações entre comu- nidades ocidentais e não ocidentais, segundo uma perspectiva antropológica e histórica. SAIBA MAIS: Ailton Krenak e a luta pelos direitos indígenas no Brasil Escritor e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Ailton Krenak se tornou uma das principais lideranças na luta pelos direitos indí- genas no Brasil. Abaixo estão os links para dois vídeos que apresentam um pouco a perspectiva que ele possui a respeito da identidade dos ín- dios no Brasil contemporâneo, marcado por dis- putas políticas de reconhecimento da origem ét- nica dos povos originários. O primeiro vídeo, de 1987, mostra o discurso de Krenak na Câmara dos deputados, durante o contexto de redemo- cratização do país. O segundo, mais recente, traz 38 algumas ideias compartilhadas por Krenak para a compreensão da relação entre identidade, sus- tentabilidade e consumo, através da perspectiva indígena. Discuso histórico no Plenário da Câmara dos Deputados, em 04 de setembro de 1987: https://www.youtube.com/ watch?v=kWMHiwdbM_Q (Acesso em 08 jun. 2019). Entrevista com Ailton Krenak para o canal 20ideias, realizada em 2012: https://www.youtube.com/ watch?v=f48HAu0bNPc (Acesso em 08 jun. 2019) 39 https://www.youtube.com/watch?v=kWMHiwdbM_Q https://www.youtube.com/watch?v=kWMHiwdbM_Q https://www.youtube.com/watch?v=f48HAu0bNPc https://www.youtube.com/watch?v=f48HAu0bNPc b) Pierre Bourdieu e a construção social dos gostos. a) Marshall Sahlins e o simbolismo presente nas sociedades burguesas; Analisando a sociedade capitalista por óculos antropológicos: 5 a) Estudo de Manuela Carneiro da Cunha. Os mortos e a construção dos Outros (a alteridade extrema) para os índios Krahô. Os mortos e os vivos - a noção de pessoa para os Krahô: 4 a) Organização dos Nuer segundo a ecologia local. Importância do gado para a construção das identidades internas e externas. Disputas com os Dinkas. E. E. Evans-Pritchard e o estudo de um grupo nilota: 3 a) Sexo e temperamento em três sociedades primitivas. Diferentes padrões de comportamento sexual entre os Arapesh, Mundugumor e os Tchambuli. A Divisãosexual não é natural, mas sim cultural. A divisão sexual relativizada por Margaret Mead: 2 c) Genealogia; análise documental; entrevistas e depoimentos; histórias de vida e biografias; estudos de caso. b) Observação participante: etnografia; a) Diferença entre método e técnica; Sobre as técnicas e os métodos empregados pela antropologia: 1 A ANTROPOLOGIA E OS ESTUDOS CLÁSSICOS SOBRE IDENTIDADE Referências BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica cultural do julgamento. Porto Alegre: Zouk/Edusp, 2001. CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Os mortos e os outros: uma análise do sistema funerário e da no- ção de pessoa entre os índios Krahô. São Paulo: Hucitec, 1978. CASTRO, Celso. Textos básicos de antropologia. Cem anos de tradição: Boas, Malinowski, Lévi-Strauss e outros. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. CUNHA, Manuela Carneiro da. Índios no Brasil: his- tória, direitos e cidadania. 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Evans-Pritchard e o estudo de um grupo nilota Os mortos e os vivos: a noção de “pessoa” para os Krahô Analisando a sociedade capitalista por óculos antropológicos Considerações finais Síntese bt_foward 15: Página 1: bt_foward 18: bt_foward 17: Página 41: Página 42:
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