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1 Rafaela Pamplona RESUMO I – HEMATOLOGIA INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA ..................................................................................................................................................... 1 ANEMIAS I ................................................................................................................................................................................................ 5 ANEMIA II ................................................................................................................................................................................................ 10 TERAPIA TRANSFUSIONAL .................................................................................................................................................................. 17 DISTÚBIOS DA HEMOSTASIA ............................................................................................................................................................... 21 INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA Hemograma Importante saber os valores de referência Sexo masculino Sexo feminino Hemoglobina (g/dL) 13 – 16,5 12 – 16 Hemácias (milhões/mm3) 4,5 – 6,5 4 – 5,5 Hematócrito (%) 40 – 54 36 – 48 VCM (fL) 80 – 96 HCM (pg) 28 – 32 CHCM (g/dL) 32 – 36 RDW (%) 11 – 15% Leucócitos (/mm3) 4.000 – 11.000 Neutrófilos (/mm3) 1.500 – 7.000 Plaquetas (/mm3) 150.000 – 450.000 • Análise quantitativa e qualitativa dos elementos figurados do sangue ▪ Hemácia/Eritrograma (série vermelha) - Avaliação das células responsáveis pelo transporte do oxigênio no organismo - As células vermelhas, também chamadas de eritrócitos ou hemácias - Determina o perfil hematológico das células vermelhas por meio da contagem de eritrócitos, dosagem de hemoglobina, hematócrito e avaliações morfológicas ▪ Leucócito/Leucograma (série branca) - Análise das células destinadas à defesa imunológica - As células brancas ou leucócitos, incluindo-se neutrófilos, monócitos, linfócitos, basófilos e eosinófilos - Revela o perfil hematológico das células brancas por meio da contagem e análises morfológicas dos leucócitos ▪ Plaqueta/Plaquetograma - Envolve a contagem e a avaliação da morfologia das plaquetas, que são os elementos responsáveis pela coagulação sanguínea • Hemograma auxilia no diagnóstico e acompanhamento da evolução de doenças • Técnica manual (microscópio) ou automatizada • Coleta em tubo com anticoagulante (EDTA) – tampa roxa Eritrograma • Geralmente é apresentado no início do hemograma • Caracteriza os eritrócito, também chamados de hemácias ou glóbulos vermelhos • Através dele, pode-se diagnosticar pacientes com anemias diversas • Hemácias: vivem no organismo por 120 dias, formadas por hemoglobina e globulina • Hemoglobina: proteína vermelha que contém ferro, sendo responsável pelo transporte de oxigênio no sangue • Hematócrito: é o percentual de hemácias no volume total de sangue e é proporcional a quantidade de hemoglobina AVALIAÇÃO QUANTITATIVA 1. Contagem de hemácias/eritrócitos (milhões/mm3) ▪ Mede o número de eritrócitos presentes em uma amostra ▪ Referência - Homem: 4.500.000 – 6.500.000mm3 - Mulher: 4.000.000 – 5.500.000mm3 ~ Baixa concentração: hemorragia, anemia por deficiência nutricional ou hemólise ~ Alta concentração: policitemia, insuficiência respiratória, desidratação ou sepse https://hilab.com.br/blog/sepse/ 2 Rafaela Pamplona 2. Hemoglobina – Hb (g/dL) (OMS) Homem Mulher Gestante Criança Hb: 13 – 16,5g/dL Hb: 12 – 16g/dL Hb: ≥11g/dL Hb: ≥11g/dL - Baixa concentração: pode sugerir gravidez, anemia por deficiência de ferro, anemia megaloblástica, talassemia, câncer, desnutrição, doença hepática ou lúpus - Alta concentração: pode ser associado a policitemia, insuficiência cardíaca, doenças pulmonares e deslocamento para altitudes elevadas ▪ O valor da Hb define anemia e as alterações nas hemácias ▪ Hb deve ser o primeiro item a ser analisado para saber se o paciente apresenta anemia ou não ▪ Hemocentro: valor para mulher ser considerada apta para doar é Hb ≥ 12g/dL 3. Hematócrito – Ht/Hct (%) ▪ Homem: 40 – 54% ▪ Mulher: 36 – 48% - Baixa %: pode haver diminuição de hemácias ou de hemoglobina no sangue, o que sugere um quadro clínico de anemia, perda excessiva de sangue, doença renal, deficiência de ferro e de proteínas ou sepse - Alta %: indica desidratação, policitemia e sepse AVALIAÇÃO QUALITATIVA 1. Volume corpuscular médio – VCM (fL) ▪ Mede o tamanho das hemácias ▪ Referência: 80 – 96fL - Microcítica: VCM < 80 ~ Pode haver um quadro de anemia por deficiência de ferro ou de origem genética - Normocítica: 80 < VCM < 96 - Macrocítica: VCM > 96 ~ Pode indicar alguns tipos de anemia, alcoolismo ou alterações na medula óssea 2. Hemoglobina corpuscular média – HCM (pg) ▪ Indica a concentração total de hemoglobina presente em uma hemácia, por meio da analise do tamanho e coloração das hemácias ▪ Ajuda a identificar o tipo de anemia - Valores acima ou abaixo podem ocorrer por anemia ferropriva, talassemia, consumo excessivo de álcool, uso de alguns medicamentos, alterações de tireoide ou deficiência de B12 e ácido fólico ▪ Referência: 28 – 32pg - Hipocrômica: HCM < 28 - Normocrômica: 28 < HCM < 32 - Hipercrômica: HCM > 32 3. Concentração de hemoglobina corpuscular média – CHCM (g/dL) ▪ Demonstra a concentração de hemoglobina por hemácia ▪ É a divisão HCM pelo VCM ▪ Referência: 32 – 36g/dL - CHCM < 32: sugere quadros de anemia, insuficiência cardíaca, hipotireoidismo ou interação medicamentosa - CHCM > 36: relacionado ao elevado consumo de álcool ou problemas na glândula tireoide 4. Red Distribution Width – RDW (%) ▪ Descreve a porcentagem de variação de tamanho entre as hemácias de uma amostra de sangue ▪ Referência: 11 – 15% - RDW normal: população eritrocitária homogênea ~ Talassemia, anemia de doença crônica - RDW aumentado: população eritrocitária heterogênea (desvio a esquerda) ~ Anemia ferropriva, anemia sideroblástica Leucograma • Avaliação do sistema imune • Relacionado as infecções, autoimunidade • Leucócitos ▪ Leucocitose: acima de 11.000 ▪ Leucopenia: abaixo de 4.000 • Os valores dos leucócitos por si só não indica muito, é importante identificar a linhagem responsável pela alteração • Grandes elevações podem ocorrer nas leucemias • Leucopenias ocorrem por lesões na medula óssea, pode ser quimioterapia, drogas, invasão de celular cancerígenas ou microrganismos 3 Rafaela Pamplona • Não é possível concluir um diagnóstico só com os exames, tem que ter a clínica do paciente também • É importante saber os valores de referência dos leucócitos e os valores mínimos de neutrófilos e linfócitos Leucócitos 4.000 – 11.000 Neutrófilos 1.500 – 7.500 Linfócitos 1.000 – 3.500 (5.000) Eosinófilos 0 – 500 Monócitos 0 – 800 Basófilos 0 – 200 Reação leucemoide: leucócitos > 50.000 A. Polimorfonucleares (granulócitos) ▪ Neutrófilos - 1º linha de defesa imunológica - Especializados no combate a bactérias - Neutrofilia: > 7.500 ~ Desvio a esquerda: aumento de neutrófilos não segmentados ou imaturos no sangue periférico ~ Infecções bacterianas (granulações tóxicas) ~ Inflamações: artrite, vasculite ~ Estresse: trauma, queimadura, exercício ~ Reacional: medicamentoso, cirurgia, neoplasias sólidas - Neutropenia: redução dos neutrófilos ~ Leve: 1.000 – 1.500 ~ Moderada: 500 – 1.000 ~ Grave: < 500 (maior risco de infecção) ▪ Eosinófilos - Importante na defesa contra infecções parasitarias e alergias - Eosinofilia: > 500 ~ Alergia: rinite, asma, urticaria etc ~ Parasitose e fungos ~ Neoplasias ~ Reacional/inflamatório~ Primária – síndrome hipereosinofílica ▪ Basófilos - Função de liberar histamina e heparina, funcionando em respostas alérgicas e evitando a coagulação do sangue - Basofilia: > 200 ~ Semelhante aos eosinófilos B. Mononucleares (agranulócitos) ▪ Linfócitos - Faz parte da defesa imediata do corpo, atuando contra células cancerígenas e infecções - Alguns tipos de linfócitos produzem anticorpos e atuam nos mecanismos de memória imunológica contra infecções recorrentes por um mesmo agente - Linfocitose: > 5.500 ~ Crianças até 12-14 anos é fisiológico, ter menos neutrófilos e mais linfócitos Tem que diferenciar os exames das crianças e dos adultos, pois é fisiológico ter linfocitose > 5.000 ~ Infecções virais ~ Reacional ~ Neoplasia - Linfopenia: < 1.000 ~ Benigno, familiar, étnica: negro, judeus, árabes, indianos ~ Infiltração medular, leucemia ~ Nutricional: vitamina B12, ácido fólico ~ Autoimunidade: LES ~ Medicamentoso, quimioterapia, agentes tóxicos ~ Aplasia displasia mielofibrose ~ Infecções: AIDS ~ Hereditária e imunodeficiência ▪ Monócitos - Atuam em infecções, ajudam na remoção de tecidos mortos ou danificados, além de combater células cancerosas e substâncias estranhas - Monocitose: > 800 4 Rafaela Pamplona ▪ Plasmócitos - Células diferenciadas a partir de linfócitos B - Responsável pela produção de anticorpos - Ao sofrerem mutações transformam-se em células malignas e produzem grande quantidade de anticorpos anômalos que se acumulam no sangue - Quando aumentados: mieloma Plaquetograma • Avaliação quantitativa plaquetária • Importância na hemostasia primária ▪ É o processo inicial da coagulação desencadeado pela lesão vascular. Consiste na formação do tampão hemostático pela agregação plaquetária ▪ A lesão endotelial expõe a matriz extracelular (MEC), favorecendo a aderência e ativação plaquetária, resultante da alteração de seu formato (de discos arredondados para placas planas) ▪ Imediatamente, mecanismos locais produzem vasoconstrição, alteração da permeabilidade vascular com produção de edema, vasodilatação dos vasos tributários da região em que ocorreu a lesão e adesão das plaquetas ❤ Agregação – entre plaquetas Adesão – entre plaqueta e vaso • Plaquetas são muito importantes no processo de coagulação e controle de hemorragias ▪ Referência: 150.000 – 450.000mm3 - Plaquetopenia: aumenta o risco de sangramento ~ Classificação Leve: 150.000 – 100.00 Moderada: 100.00 – 50.000 Grave: < 50.000 ▫ 20 – 30.000 – maior correlação com hemorragia ~ Etiologia Agregação pela coleta/ EDTA Nutricional Medicamentoso Infecção/ CIVD Autoimunidade Aplasia/ displasia/ neoplasia infiltrativa Hiperesplenismo PTI/ PTT - Plaquetose/trombose: > 450.000 ~ Aumenta o risco de formação de coágulos e trombos ~ Etiologias Reacional: anemia ferropriva, infecção Medicamentoso Neoplasia mieloproliferativa Hematoscopia • Analise do esfregaço de sangue periférico ▪ Avalia de forma qualitativa as hemácias, leucócitos e plaquetas • Rouleaux: empilhamento de hemácias ▪ Mieloma múltiplo • Leptócitos: hemácias em alvo ▪ Hemoglobinopatia SC, talassemias, anemia falciforme • Drepanócitos: hemácias em foice ▪ Síndromes falcêmicas • Esferócitos: hemácias esféricas ▪ Anemia hemolítica • Esquizócitos: fragmentos de hemácias ▪ Anemia hemolítica microangiopática • Corpúsculos de Heinz ▪ Deficiência de G6PD • Neutrófilos hipersegmentados ▪ Anemia megaloblástica 5 Rafaela Pamplona ANEMIAS I Introdução • Definição ▪ Estado de diminuição da concentração de hemoglobina no sangue para idade, sexo e altitude levando a redução da capacidade de transporte de oxigênio aos tecidos Homem Mulher Gestante Criança Hb: 13 – 16,5g/dL Hb: 12 – 16g/dL Hb: ≥11g/dL Hb: ≥11g/dL Hematopoese • Do grego “fabricação de sangue” • Processo pelo qual são formadas as células do sangue ▪ Célula tronco da medula óssea é pluripotente, se diferenciando em linhagem linfoide e mieloide ▪ A linhagem mieloide dá origem as hemácias • Local da hematopoese muda ao longo do tempo - Feto (0-2 meses) Saco vitelino - Feto (2-7 meses) Fígado e baço - Feto (6-9 meses) Medula óssea - Infância (0-2 anos) Medula óssea (todos os ossos) - Adulto Medula óssea (vértebras/ costelas/ crânio/ esterno/ pelve/ epífises) • Principais características da célula-tronco hematopoiética ▪ Autorrenovação: a celularidade geral da medula, em condições estáveis de saúde, permanece constante ▪ Proliferação/ multiplicação ▪ Diferenciação/ amadurecimento ❤ As características dão o princípio do transplante de medula • Fatores de crescimento ▪ São hormônios glicoproteicos que regulam a proliferação e a diferenciação ▪ Não possuem uma função única, podendo ser relevantes para a sobrevivência das células-tronco ou ser importantes para a função de células diferenciadas ▪ Principais fatores de crescimento - G-CSF (fator estimulador de colônias granulocítico) ~ Estimula o crescimento de precursores de neutrófilos e inibe a apoptose dos neutrófilos maduros ~ O medicamento Granulokine evita neutropenia febril em pacientes oncológicos - M-CSF (fator estimulador de colônias monocítico) ~ Regula a proliferação e diferenciação dos monócitos ~ Ativa os macrófagos maduros - GM-CSF (fator estimulador de colônias de granulocítico e monocítico) ~ Inibe a migração, aumenta a atividade fagocítica e induz a citotoxicidade dependente de anticorpos dos neutrófilos polimorfonucleares do sangue - Eritropoetina: sintetizada no renal ~ Atua na estimulação e no controle de produção das hemácias ~ Pacientes renais crônicos precisam repor eritropoetina - Trombopoetina: sintetizada no fígado ~ Estimula a produção de megacariócitos da medula e a liberação de plaquetas ~ Pacientes com hepatopatia crônica possuem plaquetopenia – Revolade aumenta produção de plaqueta 6 Rafaela Pamplona Papel dos fatores de crescimento na hematopoese normal Eritropoese • É o processo de produção e maturação dos glóbulos vermelhos (eritrócitos/hemácias) que ocorre na medula óssea em adultos normais e no baço ou fígado em fetos ou pacientes com anemias graves • Vida média: 120 dias (4 meses) ▪ Bolsa de sangue dura ≈42 dias • Anemia provoca um processo semelhante ao “desvio a esquerda” dos neutrófilos ▪ O aumento da produção de hemácias e liberação de reticulócitos (reticulocitose) indica que a eritropoese está aumentada • Eritropoetina ▪ Sintetizada no rim ▪ Regula a eritropoese - Possui sensibilidade à concentração de oxigênio no sangue, atua estimulando as células mieloides para a produção de eritrócitos, auxiliando a maturação das células, síntese da hemoglobina e aumento da taxa de reticulócitos no sangue ▪ Indicações clínicas para reposição de EPO - Insuficiência renal - Neoplasias - Doenças inflamatórias crônicas - Síndrome mielodisplásica - Prematuridade • Hemácias e hemoglobina ▪ A hemácia é um “pacote” de Hb ▪ Hb tem função de transportar O2 e CO2 7 Rafaela Pamplona • Componentes da Hb ▪ 4 globinas: alfa, beta, gama, delta - Cada globina tem uma porção Heme ~ No centro do heme tem 1 Fe2+ capaz de se ligar ao O2 ▪ Cada Hb é capaz de se ligar a 4 moléculas de O2 • Qualquer alteração nos componentes ou nos substratos pode causar anemia ▪ Alteração na cadeia alfa ou beta – talassemia ▪ Diminuição de ferro – anemia ferropriva ▪ Defeito na síntese do heme – anemia sideroblástica ▪ Deficiência de B12 – anemia perniciosa ▪ Substratos fundamentais - Metais: ferro/ cobre - Vitaminas ~ Complexo B B1 (tiamina) B2 (riboflavina) B3 (niacina) B6 (piridoxina) B9 (folato) B12 (cobalamina) ~ Vitamina C ~ Vitamina E - Hormônios ~ Tiroxina ~ Andrógenos ~ Cortisol ❤ Exames que auxiliam para avaliar a causa da anemia: dosagem de ferro, função renal, B9 e B12, TSH ▪ Exame – Eletroforese de hemoglobina (HPLC) Hb A Hb A2 Hb F α2β2 α2δ2 α2γ2 RN 0 – 20% 0 – 1% 80 – 100% (> 4-6 meses) 96 – 98% 2,5 – 3,5% 0 – 1% - HbA (α2β2): 96-97% da Hb do adulto normal, contém na globina 2 cadeias polipeptídicas alfa e 2 cadeias beta - HbF (α2γ2): hemoglobina fetal é composta por 2 cadeias alfa e 2 gama. É a principal hemoglobina do feto e recém- nascido. No fim do período fetal diminui progressivamente a síntese das cadeias gama, que vão sendo substituídas pelas cadeias beta - HbA2 (α2δ2): 2 cadeias alfa estão ligadas a 2 cadeias delta. A síntese inicia-se tardiamente no estágio fetal e aumenta gradualmente durante o 1º ano de vida Anemia • Define clinicamente a queda da Hb no sangue, frequentemente acompanhado de queda de hematócrito e da contagem de hemácias no sangue • Sinais e sintomas ▪ Astenia, tontura, palpitação, cefaleia, palidez cutaneomucosa, sopro cardíaco, dispneia aos esforços • Fatores que influenciam nos sinais e sintomas ▪ Tempo de instalação ▪ Intensidade ▪ Idade • Valores de referência – OMS Homem Mulher Gestante Criança Hb ≥ 13g/dL Hb ≥ 12g/dL Hb ≥ 11g/dL Hb ≥ 11g/dL Idoso não é consensual • Classificação – OMS Leve Grau I Hb 10-13g/dL Moderada Grau II Hb 8-9,9g/dL Grave Grau III Hb 6-7,9g/dL Grave Grau IV Hb < 6g/dL • Classificação – MS/hemocentros Leve Hb 10-12,4g/dL (mulher) Hb 10-12,9g/dL (homem) Moderada Hb 7-9,9g/dL Grave Hb < 7g/dL • Avaliar a historia clínica e exame físico VCM < 80 (Microcitose) VCM 80 – 100 (Normocitose) VCM > 100 (Macrocitose) Deficiência de Ferro Doenças Crônicas Deficiência Vitamina B12/ Ácido Fólico Talassemias (Alfa/ Beta) Medicamentos Reticulocitose (Hemólise/ Reposição...) Infecções Etilismo/ Hepatopatia/ Medicamentos Condições Mistas Hipotireoidismo Outros Aplasia/ Mielodisplasia *Complementar: reticulócitos, microscopia, leucócitos, plaquetas • Classificação das anemias ▪ Morfológica: baseia-se nas características físicas das hemácias – VCM, HCM e CHCM ▪ Funcional: baseia-se na função da medula óssea – contagem de reticulócitos 8 Rafaela Pamplona Morfológica Funcional Anemia ferropriva • Principal anemia do mundo ▪ Atinge cerca de 500 milhões de pessoas • Tipicamente microcítica hipocrômica • Diagnóstico diferencial com talassemia/ doenças crônicas • Grupos de risco ▪ Lactentes (6m – 2 Anos) ▪ Gestantes • Sintomas específico ▪ Glossite indolor ▪ Queilite/ estomatite angular ▪ Unhas friáveis em forma de colher (coiloníquia) ▪ Perversão do apetite - Pagofagia: vicio em mastigar gelo ▪ Crianças: irritabilidade, déficit de função cognitiva, atraso no desenvolvimento psicomotor • Etiologia ▪ Diminuição da ingestão alimentar – em países subdesenvolvidos - Fonte de ferro alimentar (animal > vegetal) ~ Carne bovina, fígado bovino, rim/ vísceras bovinas, fígado de frango e nozes, semente de girassol, suco de ameixa ▪ Perda de sangue – em países desenvolvidos - Hematêmese ou melena, menorragia, hemorragia traumática, parto, hematúria, hemoptise - Outros: doação de sangue excessivo, exames diagnósticos excessivos, parasitas gastrointestinais (ancilostomose e estrongiloidíase) hemodiálise ▪ Redução da absorção – melhor absorção é no duodeno - Doença celíaca (glúten), gastrite atrófica, gastrite (H. pylori), cirurgia bariátrica/ gastrectomia parcial ou total, medicamentos (IBP) • Ciclo do ferro ▪ Após ser ingerido, o ferro no duodeno e se liga com uma proteína produzida pelo fígado e que ser secretada na bile, chamada apotransferrina - Ferro + apotransferrina = transferrina, permite a absorção no TGI, sendo levado ao plasma sanguíneo ▪ Destino no plasma - Transportado para o citoplasma e armazenado em forma de ferritina. Ferritina abaixa indica deficiência de ferro - A ferroportina se liga a transferrina, entra nos eritroblastos para a formar a hemoglobina ▪ A reciclagem do ferro se dá com a morte das hemácias ▪ Excreção ocorre pelas fezes ▪ Ferroportina pode ser inibida pela hepcidina - Hepcidina: dificulta a absorção de ferro em situações inflamatórias ~ É um hormônio sintetizado pelo fígado que tem a capacidade de se ligar a ferroportina, inibindo o transporte de ferro para o plasma ~ A hipoxia inibe a síntese enquanto as citocinas inflamatórias estimulam sua produção Pacientes com infecção não é prudente repor ferro VO, pois a absorção estará comprometida 9 Rafaela Pamplona • Distribuição de ferro no organismo ▪ Proporção pelo sexo - Homem: 3 – 4g Mulher: 2 – 3g Local Ferro Hemoglobina 2g (65%) Proteínas (Mioglobina)/ Enzimas 400mg Transferrina 5mg Ferritina 1g (30%) • Avaliação diagnóstica laboratorial Parâmetro Valor de referência Ferro <60 Ferritina – proteína de fase aguda <40 Saturação de transferrina (IST) <20% TIBC (capacidade de fixação do ferro) Aumentado • Avaliação do ferro – padrão ouro ▪ Ferro medular – coloração azul da Prússia/ Perls - Avaliação das reservas orgânicas de ferro e diagnóstico diferencial das anemias • Microscopia ▪ Microcitose ▪ Hipocromia ▪ Célula em Alvo e ‘Lápis’ ▪ Plaquetose ▪ Anisocitose ▪ Reticulocitopenia ▪ Normal • Avaliação etiológica complementar ▪ Anamnese/ hábitos alimentares ▪ USG pélvica transvaginal ▪ Endoscopia digestiva alta ▪ Colonoscopia ▪ Parasitológico de fezes ▪ Avaliação da coagulação/ hemostasia • Tratamento ▪ Reposição de ferro ▪ Tratamento da etiologia de base ▪ Anemia grave/ sintomática - Hb < 7 – 8gdL e/ou Instabilidade hemodinâmica (taquicardia/hipotensão) - Transfusão de hemácias ~ 1 concentrado de hemácias eleva 1g/dL - Reposição de ferro parenteral em seguida ▪ Anemia leve/ moderada - Reposição de ferro oral ~ Sulfato ferroso, Neutrofer, Noripurum etc - Indicações de ferro parenteral ~ Falha de resposta/ intolerância gástrica/ VO indisponível ~ Pré-operatório (< 3 meses) ~ Doença inflamatória intestinal ~ Gastrectomia/ cirurgia bariátrica ~ Doença renal crônica dialítica 10 Rafaela Pamplona • Reposição de ferro parenteral ▪ Noripurum (sacarato de hidróxido de ferro) 100mg/5mL - Diluir em SF 0,9% - Infusão em 30-60min - Máximo 200mg 3x/ Semana - Cálculo = 2,4 x Peso x ∆Hb + 500 (total de ferro) ▪ Ferinject (carboximaltose férrica) 50mg/ml - Diluir em SF 0,9% - Infusão em 15-30min - Administração semanal - 1 Ampola ~ 5 Ampolas de Noripurum ANEMIA II Anemia megaloblásticas • Anemias macrocíticas (VCM > 100) • Relacionadas a deficiência de folato (B9) ou cobalamina (B12) • Assincronia na maturação núcleo-citoplasma: síntese defeituosa de DNA ▪ A célula cresce, mas não consegue se dividir por falta de nutrientes • Fonte de cobalamina: animal (carne bovina/ fígado/ peixe/ laticínios) • Fonte de folato: vegetal/ grãos • Etiologia – Deficiência de B12 ▪ Nutricional: socioeconômico/ vegetarianismo ▪ Anormalidade gástrica - Anemia perniciosa: anti-célula parietal/ fator intrínseco - Gastrite: H.pylori - Gastrectomia - Cirurgia bariátrica - Atrofia gástrica senil ▪ Doença do intestino delgado - Doença de Crohn - RCU - Doença celíaca - SII - Ressecção ileal ▪ Medicamentoso - Metformina - IBP ▪ Deficiência intrínseca de transcobalamina II 11 Rafaela Pamplona • Etiologia – Deficiência de B6 ▪Nutricional - Etilismo - Abuso de drogas - Socioeconômico ▪ Mal absorção - Doença celíaca - Doença inflamatória intestinal - Síndrome do intestino curto ▪ Medicamentos - Metotrexato - Trimetropima - Sulfassalazina - Anticonvulsivantes (fenitoína) ▪ Aumento da necessidade - Gravidez-lactação - Hemólise crônica - Dermatite esfoliativa • Quadro clínico ▪ Astenia ▪ Glossite, queilite angular, ulceras orais ▪ Icterícia ▪ Desconforto abdominal, diarreia ▪ Hiperpigmentação da pele - Síntese de melanina aumentada - Típico de pessoas com pele escura - Resolução após tratamento ▪ Alterações neuropsiquiátricas (mais comum na def de B12) - Cognitiva/ irritabilidade/ demência ▪ Neuropatia periférica – devido a desmielinização subaguda da coluna dorsal posterior - Sensitiva/ parestesia – membros inferiores - Fraqueza, ataxia, parestesia paraplegia • Quadro laboratorial ▪ Anemia com hemácias macrocíticas ▪ Leucopenia e ou plaquetopenia ▪ Reticulocitopenia ▪ Neutrófilos hipersegmentados ▪ LDH aumentado ▪ Hiperbilirrubinemia indireta • Teste diagnóstico para suspeita de vit B12 ou folato ▪ Condição subjacente ou dieta associada a deficiência ▪ Anemia macrocítica com baixa contagem de reticulócitos ▪ Pancitopenia leve ▪ Neutrófilos hipersegmentados ▪ Anormalidades neuropsiquiátricas inexplicáveis Medir os níveis de B12 e folato 1 ou ambos def 1 ou ambos limítrofes Ambos normais Medir MMA e homocisteína ↑ MMA ↑ homocist Normal MMA ↑ homocist MMA homocist Normais ↓ ↓ ↓ Def de B12 e/ou folato confirmada Def de B12 confirmada Def de folato confirmada Def de B12 e folato excluída ▪ Associação da homocisteína e do ácido metilmalônico pode ajudar no diagnóstico diferencial - Ácido metilmalônico (MMA) é o indicador mais sensível da deficiência de vitamina B12 ~ Quanto mais elevado, maior a deficiência da vitamina ~ Porém não é específico, pois ocorre também na IR, gravidez, doenças da tireoide, condições de hemoconcentração e no aumento intestinal de bactérias produtoras de ácido propiônico, precursor de ácido metilmalônico - Homocisteína se eleva na deficiência de vit B12 e de ácido fólico, enquanto o ácido metilmalônico se apresenta elevado somente na deficiência de Vitamina B12 Homocisteína Metilmalônico Resultado Normal Normal Ausência de deficiência Elevado Normal Deficiência de folato Elevado Elevado Deficiência de cobalamina 12 Rafaela Pamplona Normal Borderline* Baixo Ácido fólico > 9nmol/L 5 – 9nmol/L < 5nmol/L Vitamina B12 > 300pg/mL* 200 – 300pg/mL < 200pg/mL * Europa/Japão > 500 – 550pg/mL • Metabolismo da metilcobalamina e cobalamina ▪ Cél parentais do estômago secretam um fator intrínseco (FI) ▪ A vitamina B12 necessita desse fator para ser absorvida, formando o complexo FI + B12, que será absorvido na mucosa ileal, que possui receptores para este complexo - Qualquer alteração no TGI acima influencia na absorção ▪ No organismo – metilcobalamina ▪ A cobalamina liberada do complexo penetra na mucosa unida a proteína celular que permite sua interiorização ▪ É liberada e cedida ao plasma ▪ Absorção da B12 ocorre no íleo Anemia perniciosa • 75% das deficiências de vitamina B12 • Avaliação de anticorpos ▪ Anti-fator intrínseco (50%) ▪ Anti-célula parietal (90%) • Associado com neoplasias do TGI ▪ Realizar EDA ao diagnóstico, depois se sintomas repetir • Deficiência de B12 em paciente ambulatorial ▪ Anemia sintomática ou grave (Hb<8g/dL) ▪ Sintomas neuropsiquiátricos ou neurológicos ▪ Possível ou provável má absorção ▪ Preocupação com adesão ou acompanhamento SIM - Terapia parenteral inicial ~ Respondeu ao tratamento → terapia de manutenção ~ Não respondeu ao tratamento → reavaliar Possíveis outras causas Dosagem mais intensa NÃO - Terapia parenteral ou oral ~ Respondeu ao tratamento → terapia de manutenção ~ Não respondeu ao tratamento → reavaliar Adesão Dosagem mais intensa Possíveis outras causas • Tratamento (adaptado) ▪ Folato 1-2mg/dia - Usual: tomar ácido fólico 5mg – 01 cp oral 3x/ semana ou diário ▪ Vitamina B12 - Cianocobalamina (Citoneurin) oral ou parenteral - Ataque: 5.000mcg/ semana (4 semanas) - Manutenção: 5.000mcg mensal (contínuo) • Tratamento – via parenteral ▪ Anemia sintomática ou Hb <8g/dL ▪ Sintomas neurológicos ou psiquiátricos ▪ Sinais de má absorção ▪ Dificuldade de adesão ao tratamento Anemias hemolíticas • Definição: anemia devido a sobrevida reduzida das hemácias pela destruição prematura • Principais etiologias ▪ Hemorragia ▪ Reposição de nutrientes ▪ Hemólise • Fórmula de correção 𝐶𝑅𝐶 = 𝑅𝐸𝑇 𝑥 𝐻𝐸𝑀𝐴𝑇𝑂𝐶𝑅𝐼𝑇𝑂 45 13 Rafaela Pamplona • Hemólise extravascular e intravascular ▪ Sistema reticuloendotelial ou sistema mononuclear fagocitário - Macrófagos, medula óssea, fígado, baço – esplenomegalia ▪ Extravascular - Hemólise de uma fonte fora dos eritrócitos - Ocorre de maneira fisiológica – hemácias velhas são fagocitadas por macrófagos - Aumento da hemólise sobrecarrega o fígado, causando aumento de bilirrubina indireta - Causas: medicamentos, alterações imunológicas, infecções, toxinas ▪ Intravascular - Decorrente de um defeito dentro dos eritrócitos - Anomalias eritrocitárias intracelulares costumam ser hereditárias - Mais grave, - O sangue periférico sobrecarrega o rim, causando hemoglobinúria, consumindo haptoglobulina (proteína inflamatória que se liga a Hb livre) - Causas ~ Alterações da membrana eritrocitária ~ Metabolismo celular ~ Estrutura da hemoglobina • Diagnóstico laboratorial ▪ Reticulocitose ▪ LDH aumentado ▪ Bilirrubina indireta aumentada ▪ Haptoglobina diminuída – pouco pedido por demorar, mas é importante • Principais etiologias ▪ Autoimune: anemia hemolítica autoimune ▪ Idiopática ▪ Hereditária - Hemoglobinopatias: anemia falciforme, talassemias alfa e beta - Defeitos de membrana: esferocitose/ eliptocitose/ estomatocitose - Deficiência enzimática: G6PD/ piruvatoquinase (PK) Anemia hemolítica autoimune ▪ Autoanticorpos contra as hemácias - Anticorpo quente (IgG) e complemento (C3d) ▪ Teste direto de antiglobulina (TAD) = Coombs direto positivo - Encontrar o IgG e o complemento que se ligou a hemácia e provocou a hemólise ▪ Etiologia - Idiopática (50%) - Secundaria (50%) ~ Infecções: HIV, hepatites ~ Neoplasias: LLC, linfomas ~ Doenças autoimune: LES ▪ Aspectos clínicos e laboratoriais - Ambos os sexos - Idade variada - Esplenomegalia - Doença recidivante - Quando associado a PTI (Sd. De Evans) - Astenia - Icterícia - Presença de esferócitos - Policromasia (reticulocitose) 14 Rafaela Pamplona ▪ Tratamento - Tentar controlar ou eliminar a causa base - Corticosteroides ~ Prednisona 1mg/Kg ou pulsoterapia com metilprednisolona 1g/dia (3 – 5 dias) - Imunossupressores ~ Azatioprina, ciclofosfamida, ciclosporina, micofenolato - Imunoglobulina humana (IgIV) - Anti-CD20 (Rituximabe) - Esplenectomia - Repor ácido fólico - Suporte transfusional Anemia falciforme • Patologia ▪ Troca de base nitrogenada: adenina → tiamina ▪ Ácido glutâmico → valina • Fisiopatologia ▪ Glóbulos vermelhos falciformes bloqueiam a circulação sanguínea ▪ Doença hereditária monogênica mais comum do Brasil ▪ Ocorre uma mutação de ponto (GAG→GTG) no gene da globina beta da hemoglobina, originando uma hemoglobina anormal, denominada hemoglobina S (HbS) ▪ Ocasionando menor tempo de vida dos glóbulos vermelhos, aumento da bilirrubina, gerando icterícia ▪ Também ocorrem fenômenos de vasooclusão e episódiosde dor e lesão de órgão ▪ Quadro clínico e complicações - Dores difusas (crise vaso-oclusiva) ~ Frio, desidratação, infecções, exercício intenso, estresse metabólico - Disfunção renal - Disfunção cardiopulmonar - Ulceras nas pernas - AVC em criança e adolescente - Osteomielite, osteonecrose asséptica da cabeça do fêmur - Hipodesenvolvimento somático e sexual - Asplenia - Colelitíase - Retinopatia - Priapismo - Infecções (germes encapsulados) ▪ Diagnóstico - Eletroforese de hemoglobina ~ Fisiológica: A ~ Falciforme S ~ AS: traço falciforme não causa doença ▪ Tratamento multiprofissional - Ácido fólico 1 – 2mg/dia - Vacinação completa - Profilaxia infecciosa até 5 anos de idade (Penicilina benzatina) - Intercorrências vaso-oclusivas ~ Hidratação e analgesia escalonada - Intercorrências infecciosas ~ Antibioticoterapia - Avaliações de rotina ~ Laboratorial – sorologias ~ USG abdominal ~ DTC ~ Proteinúria ~ ECG ~ Ecocardiograma ~ Fundoscopia 15 Rafaela Pamplona - AVC ~ Profilaxia secundária com hipertransfusão - Hidroxiureia - Suporte transfusional Alfa – talassemia • Padrão de herança ▪ Formas - Portador assintomático de talassemia alfa - Doença de HbH – sintomático - Hidropsia fatal Portador/ traço Sintomático Grave Alteração Deleção de 1 ou 2 genes Deleção de 3 genes Deleção de 4 genes Clínica Assintomático/ anemia leve Anemia moderada Hidropsia fetal Laboratorial Microcitose/ hipocromia/ ferro normal Microcitose/ hipocromia/ ferro normal Hemoglobina Barts (quatro cadeias γ) Diagnóstico* Genético- molecular Microscopia – hemoglobina H Tratamento Nutricional suficiente Ácido fólico 1-2mg/dia * Eletroforese de hemoglobina: normal • Hemoglobina H ▪ Corante azul de Cresil - Semelhante a bola de golfe Beta – talassemia • Diagnóstico ▪ Eletroforese de hemoglobina - ↓ HbA - ↑HbA2 > 3,5 – 4% Menor Intermédia Maior Anemia Leve Moderada Grave Laboratorial Hb10-12g/dL Hb 7-10g/dL Hb < 7g/dL Microscopia Microcitose/ hipocromia/ reticulocitose Microcitose/ hipocromia/ reticulocitose/ morfologia alterada Microcitose/ hipocromia/ reticulocitose/ Morfologia alterada Quadro clínico Assintomático Astenia Hipo desenvolvimento hepato- esplenomegalia Tratamento Ácido fólico Ácido fólico/ transfusões esporádicas Transfusão periódica (intervalo 2-5 sem)/ quelação do ferro. • Microscopia • Quadro clínico ▪ Hiperplasia eritroide medular e extramedular ineficaz ▪ Mortalidade = infecções/ sobrecarga de ferro cardíaca 16 Rafaela Pamplona Anemias hereditárias • Defeitos de membrana: hemácia fica menor e mais frágil ▪ Esferocitose (esférica) - Herança autossômica dominante (75%) - Anemia de grau variado - Icterícia - Colelitíase - Esplenomegalia - Diagnóstico ~ Hemograma: HCM ou CHCM elevados ~ Teste de fragilidade osmótica eritrocitária Confirma a presença de esferócitos no sangue - Tratamento ~ Ácido fólico 1 – 2mg/dia (suporte) ~ Esplenectomia Anemia sintomática Colelitíase Úlcera em membros inferiores Atraso no desenvolvimento ▪ Eliptocitose (ovalocitose) - Caracterizado pela presença de hemácias elípticas - Defeito na proteína do citoesqueleto - A proteína de membrana da hemácia mais afetada nesta anormalidade é a espectrina ▪ Estomatocitose (halo central) - Eritrócitos halo central, semelhante a boca de peixe • Deficiência enzimática ▪ G6PD (glicose-6-fosfato-desidrogenase) - Reduz o estresse oxidante - Vantagem evolutiva por resistência a malária - Herança ligada ao sexo ~ Cromossomo sexual X, acometimento predominante masculino - Microscopia: corpúsculos de Heinz ~ Hemoglobina oxidada - Tratamento ~ Evitar alguns fármacos/ substâncias Dapsona/ quinolona/ nitrofurantoína/ pyridium/ primaquina/ naftalina/ henna/ fava ~ Tratar infecção subjacente ~ Transfusão de hemácias se anemia grave/ sintomática 17 Rafaela Pamplona TERAPIA TRANSFUSIONAL Doação de sangue • Voluntária/ Anônima/ Altruísta • Peso Mínimo: 50Kg • Idade: 16-69 Anos ▪ Primeira Doação: Limite 60 Anos Sexo masculino Sexo feminino Intervalo mínimo 2 meses Máximo 4 vezes por ano Hb: 13g/dL ou Ht: 39% Intervalo mínimo 3 meses Máximo 3 vezes por ano Hb: 12,5g/dL ou Ht: 38% • Entrevista por profissional de ensino superior • Triagem infecciosa na bolsa de sangue ▪ HIV 1/2 ▪ HTLV 1/2 ▪ Hepatite B ▪ Hepatite C ▪ Doença de Chagas ▪ Sífilis Principais inaptidões temporárias • Quadro Infeccioso: 2 Semanas após Recuperação • Uso de Álcool: 12 Horas ▪ Etilismo crônico: inapto definitivo • Maconha: 12 Horas • Endoscopia digestiva alta: 6 Meses • Crack/ Cocaína/ Droga Injetável: 12 Meses • Piercing/ Tatuagem/ Maquiagem definitiva: 12 Meses ▪ Piercing em região oral/genital: inapto definitivo • Múltiplos Parceiros Sexuais = 12 Meses Coleta de sangue • Hemocomponentes e hemoderivados ▪ Os hemocomponentes são distribuídos para o atendimento hemoterápico e os hemoderivados encaminhados para a indústria farmacêutica Bolsa centrifuga • Buddy-coat ou camada leucoplaquetária ▪ Em função das diferentes densidades e tamanhos das células sanguíneas, o processo de centrifugação possibilita a separação do sangue total em camadas - Hemácias ficam depositadas no fundo da bolsa. - Acima das hemácias forma- se o buffy-coat - Acima do buffy-coat fica a camada de plasma que contém plaquetas dispersas Hemocomponentes – concentrado de hemácias • Solução aditiva SAG-M (SF 0,9%/ Adenina/ Glicose/ Manitol) • Temperatura: 4⁰C (+/- 2⁰C) • Armazenamento: 42 dias • Volume: 220-280mL • Avaliação clínica ▪ Idade do paciente ▪ Tempo de instalação ▪ História natural da anemia ▪ Avaliar comorbidades ▪ Avaliar terapêutica clínica preferencialmente - Ferro - Ácido Fólico - Vitamina B12 - Eritropoietina - Levotiroxina • Uso clínico ▪ Anemia grave aguda (Hb<7g/dL sintomática) - Taquicardia (FC: 100-120bpm) - Hipotensão arterial - Redução urinária - Taquidispneia - Enchimento capilar (>2s) - Alteração do nível de consciência ▪ Tempo de Infusão: 1 – 2h (máx 4h) ▪ Resposta Terapêutica 1CH = Hb: 1g/dL ou Ht: 3% ▪ Pediatria: 10-15mL/Kg 18 Rafaela Pamplona • Situações especiais ▪ Cardiopatia isquêmica aguda (Hb < 9-10g/dL) ▪ DPOC (Hb < 10g/dL) ▪ Idoso > 65 Anos (Hb < 9g/dL) ▪ Cirurgia (Hb < 7-8g/dL) Hemocomponentes – concentrado de plaquetas • Volume: 50-60mL • Temperatura: 22⁰C (+/- 2⁰C) • Armazenamento sob agitação • Validade: 5 dias • Uso clínico ▪ Falência medular (doença hematológica/ QTx/ RTx/ TMO) - Plaquetometria < 10.000 - Plaquetometria < 20.000 (se Hemorragia/ Febre...) ▪ Procedimentos invasivos/ cirúrgicos - Coleta de LCR – Plaquetometria < 30.000 - Broncoscopia/ EDA com Biópsia– Plaquetometria <50.000 - Cirurgia Geral – Plaquetometria < 50.000 - Cirurgia Neuro/ Oftalmológica – Plaquetometria <100.000 ▪ Paquetopatia funcional - Trombastenia de Glanzmann - Síndrome de Bernard-Soulier • Situações especiais ▪ Transfusão maciça (troca de ≥ 1 volemia) - Plaquetometria < 50.000 - Plaquetometria < 100.000 ~ Distúrbio da Hemostasia/ Politrauma/ TCE ▪ Coagulação intravascular disseminada (CIVD) - Plaquetometria < 20.000 (hemorragia associada) ▪ Plaquetopenias imune (PTI/ dengue hemorrágica) - Se hemorragia grave/ risco de morte • Uso clínico ▪ Dose adulto: 1 unidade/10Kg ou 1 – 2 unidades Buffy-coat ▪ Tempo de infusão: 30min▪ Incompatibilidade ABO/ Rh - Não contraindica transfusão Hemocomponentes – plasma fresco congelado • Congelamento até 8h da coleta • Temperaturas ▪ -25⁰C a -18 ⁰C → validade: 12 meses ▪ < -25⁰C → validade: 24 meses • Volume: 180 – 250mL • Uso clínico ▪ Hemorragia em hepatopatias - Profilaxia de procedimentos invasivos/ cirúrgicos ▪ Hemorragia em coagulação intravascular disseminada - Sepse/ choque/ trauma ▪ Hemorragia por uso de anticoagulante (Varfarina) - Fatores vitamina K dependentes (II, VII, IX, X) ▪ Transfusão maciça - Coagulopatia do trauma ▪ Deficiência de fatores de coagulação não padronizados - Fator XI/ Fator V ▪ Púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) • Contraindicações ▪ Hemorragia sem Coagulopatia – TP/TTPa ≥ 1,5 ▪ Coagulopatia sem Hemorragia ▪ Hipovolemia ▪ Hipoalbuminemia/ Desnutrição ▪ Imunodeficiências ▪ Hemofilias • Uso clínico ▪ Dose adulto: 1 unidade/10Kg ou 10-20mL/Kg ▪ Tempo de infusão: até 60min ▪ Descongelar em banho-maria ▪ Uso até 6h em temperatura ambiente ▪ Proibido recongelar Hemocomponente – crioprecipitado • Derivado do PFC ▪ Composição - Fibrinogênio - Fator VIII - Fator de Von Willebrand - Fator XIII • Remoção de proteínas precipitadas em torno de 2–6⁰C • Volume: 10-40mL • Validade: 12 meses (recongelado) • Uso clínico ▪ Hipofibrinogenemia (<10mg/dL) - CIVD, transfusão maciça, reversão de trombólise ▪ Disfibrinogenemia ▪ Deficiência Fator XIII 19 Rafaela Pamplona • Contraindicações – utilizar o concentrado específico/ recombinante ▪ Hemofilia A ▪ Doença de Von Willebrand • Uso clínico ▪ Dose Adulto: 1 Unidade/10Kg ▪ Tempo de infusão: imediata ▪ Descongelar em banho-maria ▪ Uso até 6h em temperatura ambiente ▪ Proibido recongelar Transfusão maciça • Situações e definições ▪ Reposição de sangue em torno de 1 volemia em 24h (10-12 unidades) ▪ Reposição de sangue em 50% da volemia em 3 horas ▪ Reposição de ≥ 4 unidades em 1 hora • A coagulopatia é comum, quando presente, difícil correção • Manter hemostasia adequada ▪ Fatores de coagulação (>40%) / Plaquetas > 50.000 • Terapia intensiva e precoce com hemocomponentes ▪ PFC/ plaquetas • Protocolo de Maryland ▪ Iniciar reposição com cristaloide e concentrados de hemácias (O negativo) - Relação 1:1 - Concentrado de hemácias/ plasma fresco congelado/ concentrado de plaquetas ▪ Esclarecer cenário hemorrágico Reação transfusional • Efeito ou resposta indesejável observado em uma pessoa, associado temporalmente com a administração de sangue ou hemocomponente Breve histórico • Ano 1667: Jean Baptiste Denis (Paris) – Transfusão Heteróloga • Ano 1818: James Blundell – Transfusão Humana • Ano 1901: Karl Landsteiner – Sistema ABO • Ano 1940: Karl Landsteiner – Sistema Rh • Ano 1941: Banco de Sangue – Porto Alegre/Rio de Janeiro • Ano 1942: Banco de Sangue – Recife Legislação • RDC nº 34, 11 de junho de 2014 • Portaria nº158, 04 de fevereiro de 2016 Classificação quanto ao tempo • Imediata ▪ Ocorrência da RT durante a transfusão ou até 24h após o início • Tardia ▪ Ocorrência da RT após 24h do início da transfusão Tempo máximo para correlação não é determinado Classificação quanto a gravidade Classificação quanto a casualidade 20 Rafaela Pamplona Reação febril não hemolítica – RFNH • Definição: febre (≥38⁰C) com aumento na temperatura de pelo menos 1⁰C até 4 horas* (24 Horas) da Transfusão • Etiologia: citocinas liberadas por leucócitos residuais do doador ou anticorpos antileucocitários do receptor • Epidemiologia: até 6% para CH Simples e até 0,5% para CH Filtrado (Reação Mais Comum). • Quadro clínico: febre (≥ 38⁰C), tremor/ calafrios. possível náusea, vômito e cefaleia • Conduta: interromper transfusão, SF 0,9%, antitérmico • Profilaxia: hemocomponente filtrado/ leucorreduzido Reação alérgica • Definição: Reação de Hipersensibilidade até 4 horas após início da transfusão • Etiologia: anticorpos geralmente IgE pré-formados do receptor contra proteínas do doador • Epidemiologia: leve até 3% e grave até 1:20.000 (2º reação mais comum) • Quadro leve (2 sinais/sintomas): eritema, pápulas, prurido, urticária, tosse, rouquidão, edema palpebral/ labial/ oral • Reação anafilática: estridor laríngeo, cianose, dispneia, broncoespasmo, IRpA, choque, descartar hemocomponente • Conduta: interromper transfusão, SF 0,9%, oxigênio. Em casos leves pode reinstalar o hemocomponente • Profilaxia: lavar o hemocomponente para remover plasma/ proteínas Reação por contaminação bacteriana • Definição: hemocomponente infectado por bactéria igual a identificada no receptor e/ou febre (≥38⁰C) com aumento de pelo menos 2⁰C durante ou até 24h da transfusão, sem sinal de infecção prévia • Quadro clínico: tremores, calafrios, hipotensão, taquicardia, dispneia, náusea, vômito, choque, CIVD, insuficiência renal • Epidemiologia: CP 1/3.000-38.000 e CH 1/25.000-172.000. Maior Associação com CH: Gram (-) e CP: Gram (+). • Etiologia: triagem, antissepsia para coleta, estocagem e manipulação inadequadas • Conduta: interromper transfusão, SF 0,9% Reação hemolítica aguda imune – RHAI • Definição: rápida hemólise intravascular de hemácias incompatíveis transfundidas devido anticorpos pré-formados na circulação do paciente • Quadro clínico: dor punção/torácica/lombar, febre/calafrios, náusea/vômito, mal-estar, hipotensão, ansiedade, agitação, sensação de morte iminente, ins. renal • Etiologia: falha de identificação/ troca de amostras • Diagnóstico: TAD Anti-IgG ou Anti-C3 (+)/ ↓Hb/Ht/ ↑DHL/ ↓Haptoglobina/ Hemoglobinúria/ ↑Bil. Indireta • Conduta: Interromper Transfusão, SF 0,9% Lesão aguda pulmonar – TRALI • Definição: desconforto respiratório agudo durante ou até 6h do início da transfusão sem evidência de lesão prévia • Quadro clínico ▪ Imagem pulmonar com infiltrado bilateral sem congestão (BNP e PVC Normais) ▪ Hipoxemia (StO2 < 90% e/ou PaO2/FiO2 < 300mmHg) ▪ Dispneia/Irp ▪ Febre, Tremores, Taquicardia, Hiper/Hipotensão, Cianose • Diagnóstico clínico e de exclusão • Epidemiologia: pode variar de 1/3.000 a 1/5.000 transfusões • Etiologia: 70% dos casos devido anticorpos antileucocitários no plasma do doador dirigidos contra HLA I/II ou neutrófilos. Em 5-20% dos casos anticorpos presentes no receptor e minoria não identificado • Conduta: suporte clínico-respiratório (O2 até AVM). Melhora de 80% dos casos até 48-96h • Profilaxia: se identificados anticorpos no receptor, fazer leucorredução do produto. Não utilizar Plasma de doadoras que já foram gestantes e de hemocomponentes com histórico de TRALI. Se realmente necessário, remover plasma do hemocomponente Reação hemolítica aguda não imune • Definição: hemólise por fatores externos durante ou até 24h da transfusão. Pode não ter sinais clínicos • Etiologia: lesão térmica (calor/ frio excessivos), lesão osmótica (contato com soluções hipotônicas/ SG5% ou com adição de medicamentos), lesão mecânica (agulhas finas, compressão da bolsa, CEC) • Diagnóstico: evidência clínico-laboratorial de hemólise descartada etiologia imune em situação de risco • Conduta: hidratação para proteger função renal • Profilaxia: obedecer normas técnicas para transfusão 21 Rafaela Pamplona Sobrecarga circulatória • Definição: Edema Pulmonar até 6h do início da transfusão. • Quadro clínico – 4 Critérios dos seguintes Dispneia ↑BNP/ PVC Taquicardia Hipertensão Edema pulmonar Balanço hídrico positivo Ins. ventricular esquerda • Epidemiologia: incidência de 4,3% em 2014 (3º Causa) • Etiologia: Rápida infusão ou elevado volume. Comum em reserva cardíaca baixa, anemia crônicagrave, Ins. Renal, Hipoalbuminemia, baixo peso, extremos de idade. • Conduta: interromper transfusão, cabeceira elevada, medidas de suporte/ oxigênio • Profilaxia: Avaliar Aliquotagem e velocidade de infusão Resumindo – ATENÇÃO • Febre e/ ou calafrios (elevação de 1⁰C) • Náusea e/ ou vômitos • Dor local da infusão, torácica, abdominal, lombar • Hipertensão ou hipotensão • Dispneia, taquipneia, hipóxia • Agitação, ansiedade, taquicardia • Prurido, eritema, edema local/ generalizado Medidas gerais • Interromper transfusão • Manter acesso venoso com SF0,9% • Sinais vitais (FC, FR, PA, Tax, StO2) • Checar RT, prontuário, receptor • Mandar equipo e bolsa para hemoterapia • Exames se suspeita de reação hemolítica, TRALI ou sepse • Coletar amostra de outro sítio periférico • Registrar medidas no prontuário e notificar DISTÚBIOS DA HEMOSTASIA Hemostasia fisiológica • É um processo fisiológico encarregado de parar o sangramento e ao mesmo tempo iniciar o reparo tecidual • Etapas – ocorrem simultaneamente ▪ Primária: vasos e plaquetas - A lesão vascular leva a vasoconstrição, restringindo a quantidade de sangue que chega ao local, em seguida chegam as plaquetas formando uma adesão - Estanca o sangue pela formação de trombo ou tampão plaquetário ▪ Secundaria: fatores de coagulação e fibrinólise - Fatores de coagulação evitam o ressangramento pela formação de uma rede adesiva de fibrina que consolida o trombo (a partir daí chamado coágulo) - Fibrinólise: contra regulação, responsável pela dissolução do trombo e reestabelecimento da circulação normal 22 Rafaela Pamplona Hemostasia primária • A formação do tampão plaquetário no sitio de injuria vascular requer a integração de três sistemas: adesão, ativação e agregação • Se refere à interação entre as plaquetas circulantes, a parede lesada dos vasos sanguíneos e as proteínas adesivas • O espaço subendotelial é ALTAMENTE trombogênico porque contém COLÁGENO, fator tecidual, fator de Von Willebrand e Laminina ▪ Um vaso sanguíneo que sofreu injúria com exposição do espaço endotelial e subendotelial é um potente iniciador da cascata da coagulação • As plaquetas NÃO aderem ao endotélio vascular intacto, MAS se aderem FORTEMENTE ao colágeno e ao fator de Von Willebrand, ambos muito abundantes no espaço subendotelial • Adesão e agregação plaquetária ▪ A lesão vascular expõem o fator de Von Willebrand (FVW), local onde a plaqueta irá aderir, que funciona como uma ponte entre o colágeno endotelial e os receptores plaquetários de superfície (GpIb) ▪ A interação entre: VWF, colágeno e receptor GpIb da superfície plaquetária, resultam em adesão plaquetária ▪ A plaqueta possui 2 receptores - GpIb: se liga ao FVW, que faz adesão plaquetária - GpIIb-IIIa: permite a agregação plaquetária, por meio do pontes de fibrinogênio • Plaquetogênese – secreção plaquetária ▪ Megacariócito: células gigantes polinucleadas que dão origem as plaquetas ▪ Plaquetas possuem 3 tipos de grânulos, que após a adesão liberam diferentes fatores, incluindo cálcio que é essencial para a ativação plaquetária e de outros fatores de coagulação - Alfa: mais numerosos, contêm fatores de coagulação, FVW, fibrinogênio, β-tromboglobulina, fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGD) outras proteínas - Densos: contêm ATP, ADP, cálcio e serotonina - Lisossomos contêm enzimas hidrolíticas Hemostasia secundária • Por meio dos processos de adesão, ativação e agregação plaquetárias, forma-se o plug plaquetário ou plug hemostático inicial, responsável pelo controle inicial do sangramento • Esse mecanismo é estabilizado pela ação dos fatores de coagulação, que levarão à deposição de redes insolúveis de fibrina, formando o plug hemostático secundário ou trombo • O processo de formação de fibrina é conhecido como hemostasia secundária • Cascata de coagulação, melhor chamada de feedback de coagulação ▪ Via extrínseca - Iniciada pela lesão tecidual que expõe o fator tecidual (tromboplastina), ativador do FVII - Principal: fator VII ▪ Via intrínseca - Iniciada quando o sangue entra em contato com superfícies de carga negativa, como a membrana de uma plaqueta ativada ou com ativantes de contato (colágeno, a calicreína e o quininogênio de alto peso molecular) - Principais fatores: XII, XI, IX e VIII ▪ Via comum - As duas vias ativam o fator X ❤ RivaroXabana - O FXa se liga ao FV e ao cálcio, formando o complexo protrombinase, responsável pela conversão da protrombina em trombina ~ Converte de fibrinogênio em fibrina ~ Ativa o FXIII, que age nas redes de fibrina, fortalecendo e estabilizando o trombo 23 Rafaela Pamplona • Exame para avaliar as vias ▪ Extrínseca: tempo e atividade da Protrombina TAP e TP ▪ Intrínseca: tempo de tromboplastina parcial ativada TTPa Hemostasia – avaliação laboratorial • Triagem ▪ Hemograma – contagem plaquetária ▪ Tempo de Protrombina (TP/ INR) ▪ Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado (TTPa/ Ratio) ▪ Tempo de Sangramento - Tempo necessário para que um pequeno corte superficial na pele pare de sangrar - Depende da hemostasia primaria e da integridade vascular cutânea, não sendo muito fidedigno ~ Ivy: pele do antebraço ~ Duke: lobo da orelha - Normal: 5 – 9min - > 10min + Plaquetometria normal ~ Doença de Von Willebrand ~ Distúrbios genético da função plaquetária (trombastenia de Glanzmann, síndrome de Bernard-Soulier) ~ Distúrbios adquirido da função plaquetária (uremia, circulação extracorpórea, paraproteinemia) ▪ Tempo de Trombina (TT): avalia a função do fibrinogênio • Específico ▪ Agregação plaquetária: trombastenia de Glanzmann, síndrome de Bernard-Soulier ▪ Fibrinogênio ▪ Fator de Von Willebrand ▪ Fatores de coagulação: XIII, IX, XI etc ▪ Tromboelastografia: moderno, útil durante cirurgias de transplante, por avaliar em tempo real o que é necessário corrigir Purpura trombocitopênica imune – PTI • Autoanticorpos contra as proteínas da membrana plaquetária, reduzindo o tempo de vida (normal 7 a 10dias), culminando em trombocitopenia • Presente 50% (baixa sensibilidade) • Os autoanticorpos, classe IgG, são capazes de ligarem-se a múltiplos antígenos plaquetários, fazendo com que os macrófagos do sistema reticuloendotelial do baço e do fígado fagocitem as plaquetas, tirando-as da circulação • Esse aumento do consumo periférico de plaquetas estimula a proliferação medular de megacariócitos, tornando possível que o paciente tenha uma típica hiperplasia megacariocítica na medula óssea • Fagocitose pelo sistema monocítico-macrofágico • Baço/ Fígado/ Medula Óssea/ Linfonodos • Classificação temporal ▪ Aguda: < 3 meses ▪ Persistente: 3 – 12 meses ▪ Crônica: > 12 meses PTI aguda • Predomínio na infância • Etiologia ▪ Infecciosa (principalmente viral) ▪ Pós-vacinação (principalmente SCR) ▪ Idiopática/ primária • Autolimitada: remissão espontânea e com boa resposta terapêutica • 5 – 10% de cronificação 24 Rafaela Pamplona • Quadro clínico ▪ Assintomático 1/3 dos casos ▪ Plaquetopenia < 20 – 30.000 (valor necessário para causar sangramento) ▪ Hemorragia insidiosa de pele e mucosas - Petéquias, equimoses, epistaxe, gengivorragia, menorragia ▪ Fadiga/ indisposição ▪ Anemia incomum: secundária a hemorragia/ carencial ▪ Ausência de demais alterações clínicas ou laboratoriais - Adenopatia/ hepatoesplenomegalia/ leucopenia ▪ Púrpura imune - Plana/ digitopressão negativa/ gravidade dependente/ sem prurido ▪ Sangramento grave incomum* (SNC/ TGI < 1%) * Plaquetas jovens na circulação/ maior eficiência • Diagnóstico ▪ Clínico e de exclusão ▪ Diagnósticodiferencial com demais causas de plaquetopenias - Medicamentos - Hepatopatia - Hiperesplenismo - HIV - Colagenose - Carencial - Neoplasia ▪ Mielograma não é obrigatório - Indicado se quadro clínico-laboratorial atípico - Resultado inespecífico: megacariócitos normal ou aumentado • Tratamento – para quadros sintomáticos ▪ Pacientes assintomáticos ou que apresentam sangramento apenas cutâneo e pouco expressivo, sem fatores de risco, pode ser manejados de forma conservadora - Fatores de risco ~ Plaquetas < 10.000/mL com sangramento cutâneo extenso ~ Plaquetas < 20.000/mL com sangramento em mucosas ~ Condições que aumentam a chance de hemorragia, independente da contagem de plaquetas (TCE recente) ▪ Corticosteroides (1ª opção) - Prednisona 1mg/Kg ou Metilprednisolona 1g/dia (3 – 5 dias) Dexametasona 40mg/dia (4 dias) ▪ Imunoglobulina humana – para casos graves ou refratários - 1g/Kg/dia (2 dias) ou 400mg/Kg/Dia (5 dias) ▪ Imunossupressão: Azatioprina, ciclosporina, ciclofosfamida ▪ Anticorpos monoclonais: Rituximabe (anti-CD20) ▪ Agonistas da trombopoetina: estimulam a produção de plaquetas pela medula óssea - Eltrombopag (oral) ou Romiplostim (SC) ▪ Esplenectomia: > 12 Meses (indicado nos casos crônicos) PTI crônica • Principalmente mulheres, entre 20 – 40 anos • Pode ocorrer após PTI Aguda: não traz sangramento, mas traz desconforto • Início insidioso e marcado por curso flutuante • Tratamento conservador (meta) ▪ Plaquetas > 20 – 30.000 assintomático ▪ Corticoide, esplenectomia, rituximabe, agonistas do receptor de trombopoetina • Etiologia secundária associada ▪ Infecções (reação cruzada): HIV, hepatites B e C, EBV, CMV, Varicela Zoster, H. pylori ▪ Síndromes autoimune: LES, SAF, AR, DII, Sd. Evans (AHAI associada) ▪ Neoplasias: linfoma, LLC ▪ Medicamentos: antibióticos/ anticonvulsivantes/ heparina ▪ Vacinas Púrpura trombocitopênica trombótica – PTT • Trombocitopenia adquirida (principal) ou hereditária • Morbidade rara • Mulheres, entre 30 – 50 anos • Raça negra • Obesidade • Gravidez • Fisiopatologia – injuria endotelial ▪ A oclusão trombótica disseminada da microcirculação, levando a síndrome de anemia microangiopatia, trombocitopênica, sintomas neurológicos, febre e IR ▪ As células do endotélio liberam substâncias que ativam plaquetas, principalmente FVW de maior tamanho, que são capazes de induzir a aglutinação plaquetária Não trata se estiver assintomático! Ver doença de base 25 Rafaela Pamplona ▪ Anticorpos IgG contra ADAMTS13, provocando acúmulo de FVW de maior tamanho – atividade da enzima ADAMTS13 reduzida (< 10%) - ADAMTS13 é a enzima responsável por clivar o FVM ▪ Microtrombos constituídos de plaqueta e FVW e pouca fibrina se formam nas arteríolas terminais e na rede capilar, causando danos de órgãos – alta mortalidade • Anemia hemolítica microangiopática ▪ Fragmentação eritrocitária pelos microtrombos plaquetários - Esquizócitos – sinal de microangiopatia trombótica, não é patognomônica, mas é sugestiva. - Outras causas de esquizócitos que não é PTT: valvoplastia metálica, hemodiálise • Quadro clínico clássico – Pêntade ▪ Anemia hemolítica microangiopática* - Hemólise com esquizócitos (Hb < 10g/dL) ▪ Trombocitopenia - Geralmente < 20-30.000 - Suficiente para diagnóstico ▪ Alteração neurológica: cefaleia/ desorientação/ convulsão/ coma ▪ Disfunção renal ▪ Febre ▪ Queixas TGI inespecíficas ▪ Dor abdominal/ náusea/ vômito/ diarreia • Quadro laboratorial ▪ Reticulocitose ▪ Hiperbilirrubinemia indireta ▪ Aumento LDH ▪ Redução da haptoglobina ▪ Esquizócitos (>1%) ▪ Microesferócitos ▪ Coombs direto negativo ▪ Plaquetopenia ▪ Hemoglobinúria (hemólise intravascular) • Tratamento – TEM QUE TRATAR ▪ Plasmaférese (troca de plasma) - Remove autoanticorpos e FvW - Reposição da enzima ADAMTS13 ▪ Corticosteroides ▪ Imunossupressores ▪ Rituximabe ▪ Esplenectomia (recidivas) Plaquetopatias – defeitos funcionais • Trombastenia de Glanzmann ▪ Herança autossômica recessiva ▪ Hemorragia de pele e mucosas (moderada a grave) ▪ Quadro inicial na infância/ menarca ▪ Defeito da GpIIb-IIIa: receptor fundamental para a ligação do fibrinogêno, responsável agregação plaquetária ▪ Teste de agregação plaquetária Adrenalina ADP Colágeno Ristocetina Ausente Ausente Ausente Presente • Síndrome De Bernard-Soulier ▪ Herança autossômica recessiva ▪ Presença de macroplaquetas ▪ Grau variável de plaquetopenia ▪ Hemorragia de pele e mucosas (leve) ▪ Quadro inicial na infância/ menarca ▪ Defeito da GpIb: responsável pela ligação ao fator de Von Willebrand durante a adesão plaquetária ao endotélio ▪ Teste de agregação plaquetária Adrenalina ADP Colágeno Ristocetina Presente Presente Presente Ausente • Tratamento ▪ Anti-fibrinolíticos - Ácido Tranexâmico – Transamin - Ácido Aminocaproico ▪ Transfusão de plaquetas ▪ Desmopressina (DDAVP) ▪ Fator VIIr Plaquetopatias secundárias • Medicamentos: aspirina, AINE • Hepatopatia • Uremia • Circulação extracorpórea • Coagulação intravascular disseminada (CIVD): sepse, trauma 26 Rafaela Pamplona • Paraproteinemias (hiperviscosidade): mieloma múltiplo, macroglobulinemia de Waldenstrom • Neoplasias mieloproliferativas crônicas: leucemia mieloide crônica, policitemia vera • Diabetes • Lúpus eritematoso sistêmico Hemofilia • Doença hemorrágica hereditária • Ligado ao sexo X – quase exclusivo do sexo masculino • Deficiência dos fatores de coagulação ▪ Hemofilia A (fator VIII) – 80% ▪ Hemofilia B (fator IX) – 20% • Epidemiologia – coagulopatias • Genética • Hereditariedade • Quadro clínico – relacionais a hemostasia secundária ▪ Sangramentos intra-articulares (70-80%) - Hemartrose: joelho>cotovelo>tornozelo>quadril ▪ Hematoma muscular (10-20%) - Podem comprimir nervos periféricos e provocar síndrome compartimental etc ▪ Outros sangramentos maiores (5-10%) ▪ Hemorragia intracraniana (<5%) • Diagnóstico ▪ História familiar (70% dos casos) ▪ Hemorragia intensa após procedimentos invasivos (cirurgia/ dente) ▪ TTPa geralmente alargado ▪ Dosar fatores VIII e IX - Leve: 5 a 40% do normal - Moderada: 1 a 5% do normal - Grave: < 1% do normal • Classificação da gravidade da hemofilia em relação ao nível plasmático do fator VIII ou fator IX e manifestação hemorrágicas • Tratamento ▪ Fatores de coagulação (plasmático/ recombinante) - Fator VIII (meia vida = 12 horas) - Fator IX (meia vida = 24 horas) ▪ Desmopressina (DDAVP): ↑ atividade do fator 4-6x ▪ Anti-fibrinolíticos - Ácido Tranexâmico - Ácido Aminocaproico ▪ Agentes de Bypass: CCPA, FVIIr Doença de Von Willebrand • Doença hemorrágica hereditária • Padrão autossômico dominante: predominância variável • Coagulopatia mais comum: subdiagnosticada • Mutação do Fator de Von Willebrand ▪ Quantitativa e qualitativa • Diversidade fenotípica abrangente 27 Rafaela Pamplona • Fator de Von Willebrand ▪ Síntese pelo endotélio e megacariócitos ▪ Responsável pela adesão plaquetária no sitio de lesão vascular ▪ Forma complexo com fator VIII, funcionando como proteína de transporte e impedindo que seja rapidamente depurado no plasma • Quadro clínico ▪ História pessoal e familiar de hemorragia ▪ Hemorragia de pele/ mucosas: epistaxe, gengivorragia, equimose, menorragia, pós-trauma, TGI ▪ Hemorragia articular/ muscular: hemartrose • Classificação Subtipos Alteração Tipo 1 Quantitativa leve (75%) Tipo 2 Qualitativa (função) 2A 2B 2M 2N Tipo 3 Quantitativa grave • Avaliação laboratorial ▪ Triagem inespecífica - Tempo de sangramento - TTPa ▪ Exames confirmatórios e diagnósticos- Fator de Von Willebrand - Atividade de Von Willebrand (cofator de Ristocetina) - Fator VIII - Avaliação dos multímeros • Tratamento ▪ Desmopressina (DDAVP) ▪ Anti-fibrinolíticos ▪ Fator VIII-FvW