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Unidade II Liderança e Equipes de Alta Performance Comportamento Organizacional Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autor DAYANNA DOS SANTOS COSTA MACIEL A AUTORA Dayanna dos Santos Costa Maciel Olá! Meu nome é Dayanna dos Santos Costa Maciel. Sou formada em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com Mestrado acadêmico nessa mesma área de conhecimento, ênfase em Estratégia e Inovação (pela Universidade Federal da Paraíba, em 2019). Também possuo mestrado acadêmico em Gestão de Recursos Naturais (UFCG, 2014), com ênfase de pesquisa em Estratégia Ambiental focada em modelos e ferramentas de gestão nas empresas. Tenho experiência técnico-profissional no ensino da Administração, ministrando disciplinas como Marketing, Planejamento Estratégico, Cultura organizacional e liderança, Administração de Recursos Materiais e Patrimoniais, entre outras, em nível de graduação e de pós-graduação. Sou apaixonada por Gestão de Atendimento ao Cliente, e lecionar esse conteúdo, para mim, consiste em emergir junto com os discentes em um universo de possibilidades de gestão, técnicas e práticas dentro do contexto de atuação dos futuros profissionais em formação. Adoro transmitir meus conhecimentos e minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudá-lo nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO A liderança e os resultados .....................................................................12 Liderança versus Resultados: visão introdutória ....................................................... 12 Liderança orientada para os resultados ......................................................................... 17 Mantendo e desenvolvendo a equipe ................................................25 Desenvolvendo e mantendo pessoas nas equipes ...............................................25 Liderança versus emoção e sentimento: o autoconhecimento e as múltiplas inteligências .................................................................................................................33 Comunicação como ferramenta do líder ..........................................41 Comunicação: noções básicas .............................................................................................. 41 Técnicas de comunicação eficaz aplicadas à liderança: feedback assertivo e comunicação não violenta ........................................................................... 46 Leader coach e as equipes de alta performance ..........................55 Coaching ................................................................................................................................................55 O leader coach ...................................................................................................... 61 Programas de treinamento e de desenvolvimento de lideranças e equipes .................................................................................................................................................. 63 7 UNIDADE 02 Comportamento Organizacional 8 INTRODUÇÃO Você sabia que liderar e desenvolver líderes não é uma tarefa simples? Pois bem, isso envolve muitos aspectos que você pode desconhecer ou ainda tenham passado despercebidos em sua prática profissional. Dentre esses aspectos, destacamos nesta unidade: foco nos resultados; as inteligências emocional, cognitiva e social; comunicação e coaching. Nesta unidade, você irá aprender a liderar com foco para resultados, manter e desenvolver equipes e líderes (leader coach), utilizando as inteligências (emocional, cognitiva e social) e a comunicação. Esse conhecimento é fundamental para o seu desenvolvimento profissional no âmbito das organizações no que tange à gestão de equipes de alta performance. Isso porque equipes de alta performance resultam do alinhamento e do compartilhamento de valores, objetivos, bem como do engajamento de seus membros, cabendo ao líder um papel primordial de promover esses aspectos. Então, ficou curioso(a)? Prepare-se, pois ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar no universo da liderança, desvendando suas interações dentro do contexto organizacional! Comportamento Organizacional 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo(a) à Unidade II. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Exercer a liderança voltada para o atingimento dos resultados; 2. Manter e desenvolver a equipe, promovendo a redução da rotati- vidade por meio do autoconhecimento de seus integrantes, consi- derando aspectos como inteligência emocional, cognitiva e social; 3. Aplicar técnica de comunicação eficaz para propiciar o desenvolvimento de equipes de alta performance, fazendo uso do feedback assertivo e da comunicação não violenta; 4. Implementar programas de treinamento e de desenvolvimento de lideranças e de equipes (leader coach). Aprender sobre liderança é conhecer o caminho pelo qual podemos orientar pessoas ao atingimento de objetivos. Motive-se! Comportamento Organizacional 10 A liderança e os resultados INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de exercer a liderança voltada para o atingimento dos resultados. Isso será possível porque você aprenderá quais aspectos da liderança que contribuem para o alcance dos resultados dos grupos e equipes, o que é liderança voltada para resultados e os atributos do líder nesse contexto, bem como saberá avaliar os resultados obtidos pela liderança. Deter esse conhecimento será fundamental para o exercício de sua profissão, uma vez que no âmbito das organizações o líder deve estar atento a promover em seus liderados as habilidades voltadas para o alcance dos objetivos organizacionais e promover resultados alinhados com esses objetivos. E então? Motivado(a) para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Liderança versus Resultados: visão introdutória Você já parou para pensar como surgiu a perspectiva da liderança voltada para os resultados? Essa questão é respondida a partir do momento em que tomamos conhecimento da evolução das teorias sobre liderança. Mas antes de fazer essa viagem ao conhecimento, vamos recordar o conceito de liderança e entender o significado da palavra resultado, sendo esse último de forma generalista. No que tange ao que é liderança, tenha em mente a seguinte definição disposta por Robbins (2006, p. 101): Liderança é a capacidade de influenciar um conjuntode pessoas para alcançar metas e objetivos. A origem dessa influência pode ser formal, como a que é conferida por um cargo de direção em uma organização, ou informal conferida pelo respeito e/ou reconhecimento do grupo. No entanto, nem todos os líderes são administradores, nem todos os administradores são líderes. Comportamento Organizacional 11 Mas quanto a resultados? Qual o significado do emprego dessa palavra no contexto da liderança? Bem, com uma breve busca podemos encontrar os seguintes significados atribuídos ao termo “resultado”, segundo Dicio (2009-2021): Significado de resultado: substantivo masculino. O produto ou valor final de uma operação matemática. Sequência numérica sorteada num concurso: resultado da mega-sena. Consequência; aquilo que resulta de alguma coisa; o efeito de uma ação; a finalização de um problema. Solução; o que se faz com o intuito de resolver alguma coisa: esse remédio não deu resultado. Término; o momento exato em que algo se finaliza: qual foi o resultado do jogo? O lucro obtido em determinado negócio. Diante dos significados da palavra resultado, no contexto da liderança, ela é empregada como consequência, aquilo que resulta de alguma coisa, o efeito de uma ação. Ou seja, no âmbito da liderança, o resultado é o efeito da ação de liderar. DEFINIÇÃO: No contexto da liderança o resultado é o efeito da ação do líder sobre seus liderados (ROBBINS, 2006). Sendo assim, podemos entender que a liderança voltada para resultados nas organizações tem por foco os efeitos gerados pela ação do líder junto a seus subordinados rumo ao alcance de metas e objetivos. Nesse sentido, quais aspectos da liderança que contribuem para o alcance de resultados em uma equipe eficaz? Segundo Soares (2015), são aspectos presentes na liderança que contribuem para o alcance de resultados em equipes eficazes: propósito comum, metas específicas, tomada de decisões, confiança e ética. O Quadro 1 apresenta objetivamente a definição de cada um desses elementos, bem como as atribuições do líder no contexto voltado para os resultados. Comportamento Organizacional 12 Quadro 1: Aspectos presentes na liderança que contribuem para o alcance de resultados em equipes eficazes ASPECTO DEFINIÇÃO ATRIBUIÇÕES DO LÍDER Propósito comum É a visão compartilhada entre os membros de uma equipe, que oferece a eles direção e comprometimento. O líder ajuda e integra a equipe para identificar o seu propósito, bem como contribui para que ela compartilhe e busque uma visão comum entre os componentes das equipes. Metas específicas São os objetivos co- muns traduzidos em objetivos menores e específicos, que são mensuráveis e realistas. As metas melhoram o desempenho do indivíduo, mantêm a equipe focada, tornam a comunicação mais clara e direcionam a atenção para os resultados. O líder tem o papel fundamental de dis- cutir, avaliar e definir metas em conjunto com os indivíduos. É o líder que auxilia a equipe a descobrir e a construir o camin- ho para atingir as metas traçadas. Tomada de decisão É a ação de fazer escolhas conscientes para maximizar valor, dentro de certos limites. O líder deve assumir uma postura partic- ipativa, envolven- do os membros e discutindo com a equipe a tomada de decisão. Comportamento Organizacional 13 Confiança Expectativa positiva em relação a outra pessoa, esperança de que ela não agirá de má-fé. Na liderança voltada para resultados, a confiança encoraja a assumir riscos, facilita o compar- tilhamento de infor- mações, contribui para eficácia e produtividade das equipes. O líder deve inspi- rar confiança entre seus liderados, bem como promover o espírito de confiança entre os membros de uma equipe. Ética Regras e preceitos de ordem valorativa relacionados à moral de um indivíduo ou de um grupo, que inspiram um comportamento julgado como correto pela sociedade. A ética evita a tentativa de ma- nipulação das atitudes e comportamentos dos membros da equipe. O líder deve tratar seus liderados com imparcialidade, for- necer informações honestas, regulares e corretas. Líderes éticos utilizam seu carisma de maneira socialmente con- strutiva para servir aos outros em vez de utilizá-lo para au- mentar o seu poder em proveito próprio. Fonte: Adaptado de Soares (2015). Todos os elementos listados no Quadro 1, quando presentes na liderança, facilitam a obtenção de resultados esperados pelo líder no processo de liderar a equipe, contudo vamos destacar aqui a confiança devido a ela influenciar nos demais elementos. Nesse sentido, a confiança: • Permite que o liderado dê credibilidade ao propósito comum da equipe, e o processo de descoberta desse propósito por intermédio do líder. Comportamento Organizacional 14 • Credita credibilidade às metas definidas pelo líder, juntamente com a equipe. • No líder, facilita a interação dos membros no processo de tomada de decisão em grupo, além de se acreditar na escolha do líder em caso de divergências de opiniões. • Estimula o comportamento ético, assim como um líder ético exprime confiança. Sendo a confiança tão importante no âmbito da liderança, como podemos construir relações pautadas nesse elemento? São práticas que líderes podem fazer uso para desenvolver a confiança: abertura, justiça, exposição de sentimentos, falar a verdade, demonstração de consistência, cumprimento de tarefas, sigilo e competência. Assim assevera Soares (2015, p. 94) sobre a postura dos líderes: • Mantenha-se aberto: mantenha as pessoas informadas, deixe clara qual a sua forma de tomar decisões e justifique-se. • Seja justo: antes de agir ou tomar decisões, considere se elas serão percebidas como justas pelos outros. Seja impar- cial, dê crédito a quem merece e fique atento à percepção de equidade das pessoas. • Exponha seus sentimentos: ao compartilhar seus senti- mentos, você será visto como um ser humano [...] e o respei- tarão ainda mais. • Diga a verdade: as pessoas preferem ouvir aquilo que não querem a descobrir que seu líder mentiu. • Demostre consistência: analise seus valores e convic- ções e deixe que eles orientem suas decisões. • Cumpra suas promessas: mantenha sua palavra e seus compromissos, mostrando-se digno de confiança. • Mantenha sigilo sobre confidências: se uma pessoa se abrir com você, não traia a confiança dela espalhando seus segredos. Comportamento Organizacional 15 • Demonstre competência: conquiste a admiração e o respeito de seus liderados com sua capacidade técnica e profissional. Desenvolva suas habilidades de comunicação e negociação. Se você almeja ser um líder voltado para resultados, dê a devida importância para a confiança. Liderar para resultados requer a existência de confiança entre líder e liderados, bem como entre liderados e liderados de uma equipe. Quando um líder rompe a confiança dos membros de uma equipe, eles passam a estar menos satisfeitos e menos comprometidos, de modo a intencionarem, em alguns caso, até a deixar a equipe; os liderados, nesse contexto, passam a apresentar menos comprometimento com os resultados da equipe. O desenvolvimento da confiança é um processo, conforme ilustra a Figura1. Figura 1: Natureza da confiança Fonte: Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 380). Agora que você já tem uma noção básica da relação entre liderança e resultados, a seguir vamos entender como a teoria elucida a liderança voltada para os resultados. Liderança orientada para os resultados Para entendermos o contexto de surgimento da teoria a esse respeito, vejamos no Quadro 2 um breve resumo das teorias que buscaram elucidar o fenômeno da liderança. Comportamento Organizacional 16 Quadro 2: Abordagens contemporâneas de liderança Época/autores Teoria ou abordagem de liderança Características/conceitos de liderança Bennis (1993); Boyatizis, Cameron e Quinn (1993) Liderança embasadana competência. É possível aprender e desenvolver competências fundamentais que tendem a prever as diferenças entre o desempenho destacado dos líderes e liderados. Burns, Kouzes e Posner (1995); Peters e Waterman (1990); Richards e Engle (1986) Liderança vi- sionária e de aspirações. Liderança é a arte de mobi- lizar outros a quererem lutar por aspirações compartil- hadas. É uma questão de articular visões e de propiciar o ambiente em que as coisas podem ser atingidas. Os líde- res prosperam em ambientes caóticos. Drucker (1999); Jacobs e Jaques (1990); Kotter (1998); Buckingham (1999, 2001) Liderança gerencial e estratégica. A liderança representa a integração entre parcerias internas e externas. Os líderes desempenham papéis e possuem características especiais. Os requisitos de liderança dependem da épo- ca e do lugar, bem como das pessoas e das situações. Ulrich, Zenger e Smallwood (1999); Nohria, Joyce e Robertson (2003) Liderança embasada em resultados. Marca de liderança que de- screve os resultados espe- cíficos que os líderes obtêm. Os líderes são detentores de caráter, moral, integridade e energia, além de pensamento estratégico. Comportamento Organizacional 17 DePree (1992); Tichy (1998) O líder como mestre Os líderes estabelecem o ponto de vista a ser ensinado. A liderança efetiva se equa- ciona ao ensino efetivo. DePree (1992); Mintzberg (1998); Vaill (1989) Liderança como arte cênica. Os líderes empreendem ações discretas que abran- gem tudo o que o líder ou gerente faz. Fairholm (1994); Senge (1990); Schein (1992); Wheatley (1992) Liderança cultural ou holística. A liderança é a habilidade de incluir grupos interes- sados importantes, evocar companheirismo e fortalecer outros. A liderança é contex- tual e sistêmica (Wheatley). Segundo Senge, os líderes desempenham três papéis: formuladores, responsáveis e mestres. Greenleaf (1996); Spears e Frinck (1992) Liderança servidora. Os líderes lideram, principal- mente, servindo aos outros – empregadores, clientes e comunidade. Características do líder: escuta, empatia, cura, atenção, persuasão etc. DePree (1989); Etzioni (1993); Fairrholm (1997); Greenleaf (1977); Hawley (1993); Keifer (1992); Maxwell; Vaill (1989) Liderança espiritual. A liderança influencia as al- mas das pessoas mais do que controla suas ações. Fonte: Stefano et al. (2008, p. 206-207). Comportamento Organizacional 18 Conforme demostra o quadro acima, a liderança embasada nos resultados descreve os resultados específicos que os líderes obtêm e o considera detentor de caráter, moral, integridade e energia, além de pensamento estratégico. O precursor dos estudos sobre liderança para os resultados foi Ulrich (2000), e, segundo ele, existe forte vinculação entre liderança e resultado, de modo que não existe uma sem o outro. Nesse sentido, afirma Ulrich (2000, p. 44-46): [...] os atributos que não induzem ou não se conectam com os resultados não são relevantes” e “os líderes que não estão conseguindo resultados almejados não estão verdadeiramente liderando” [...] “A liderança para resultados significa a consecução de algo” [...] para avaliar os resultados são necessários quatro critérios: os resultados almejados são equilibrados, são estratégicos, são duradouros e são altruístas, ou seja, contemplam os quatro grupos principais de stakeholders. Eles “contribuem para a diferenciação e vantagem competitiva da organização”, “não sacrificam o sucesso de longo prazo pelos ganhos de curto prazo” e “trabalharam para o benefício do todo mais amplo, e não apenas para o seu grupo ou área”. Ulrich (2000), como precursor dos estudos de liderança sobre resultado, ante seu conhecimento acadêmico e experiencial (descrito na Figura 2), identificou algumas premissas da liderança para os resultados. Segundo seus achados, podemos apontá-las a seguir: • A liderança eficaz exige a combinação dos atributos da liderança e do líder aliados a resultados; • Os atributos que não induzem ou não se conectam com os resultados não são relevantes; • A verdadeira liderança é a que produz resultados almejados; • Os resultados da liderança podem ser avaliados. Comportamento Organizacional 19 Figura 2: Quem é David Ulrich Ulrich é renomado especialista de Mich- igan Dave Ulrich é professor licenciado de administração na University of Michigan, na qual integra o núcleo de programas de formação de executivos. Suas pesquisas e seus trabalhos concentram-se em como organizar uma empresa de modo a con- stantemente agregar valor aos clientes. Ele contribuiu para a implantação de ousados processos de mudança na General Elec- tric, como se lê no livro “O Work-out da GE”, escrito em parceria com Steve Kerr e Ron Ashkenas. Fonte: Ulrich (2004, p. 4). Nesse sentido, a liderança é a soma de atributos e resultados. Então, quais são os seis atributos do líder orientado para resultados? Como podemos avaliar os resultados da liderança? Respondendo ao primeiro questionamento, Ulrich (2000, p. 22-34) afirma: [...] os modelos de atributos do líder de sucesso se agrupam em quatro categorias amplas, que são: definição da trajetória, mobilização do comprometimento pessoal, desenvolvimento das capacidades organizacionais e demonstração do caráter pessoal”, de forma que os lideres conectem “o que são, o que sabem, e o que fazem com resultados”. Em suma, com base no que estudamos no início do capítulo, os atributos de um líder voltado para resultado são as atribuições do líder na prática dos aspectos presentes na liderança que contribuem para o alcance de resultados em equipes eficazes (conforme o Quadro 1), a saber: propósito comum, metas específicas, tomada de decisões, confiança e ética. E quanto aos resultados, como avaliá-los? A primeira coisa que precisamos saber é a quem se referem os resultados de uma liderança dentro Comportamento Organizacional 20 da visão voltada para resultados. Trata-se dos empregados, da organização em si, dos clientes e dos investidores (ULRICH, 2000). A respeito de como avaliar os resultados, destacam Stefano et al. (2008, p. 207-208): Para avaliar tais resultados, para Ulrich (2000, p. 46), são ne- cessários quatro critérios: os resultados almejados são equili- brados, são estratégicos, são duradouros e são altruístas, ou seja, contemplam os quatro grupos principais de stakeholders. Eles “contribuem para a diferenciação e vantagem competiti- va da organização”, “não sacrificam o sucesso de longo prazo pelos ganhos de curto prazo” e “trabalharam para o benefício do todo mais amplo, e não apenas para o seu grupo ou área”. Ressalta-se o desenvolvimento da nitidez estratégica, através do foco do negócio e da proposição de valor, que servem de base para o equilíbrio dos resultados almejados, não esque- cendo que a organização é feita de pessoas, então a sinergia é parte do processo para obtenção de resultados. Vejamos: supondo que você quer identificar e avaliar os resultados da liderança, o que objetivamente você precisa fazer? Bem, você necessita responder aos questionamentos relacionados aos quatro critérios dispostos por Ulrich (2000), os quais estão dispostos na Figura 3. Figura 3: Avaliando os resultados da liderança Quatro critérios para avaliar o foco nos resultados, segundo Ulrich Equilíbrio: os resultados contemplam igualmente quatro partes: fun- cionários, empresa, clientes e acionistas? Estratégia: os resultados estão de acordo com a estratégia e os objeti- vos da empresa? Como se relacionam com o foco da empresa e com a proposição de valor aos clientes escolhida? Por que os clientes com- pram seus produtos e serviços? Duração: os resultados geram ganhos no curto prazo, sem inibir ou evi- tar êxito no longo prazo? Generosidade: os resultados impulsionam toda a empresa para a frente e não apenas a carreira dos líderes ou o sucesso do departamento?Constroem habilidades organizacionais? Fonte: Ulrich (2004, p. 2). Comportamento Organizacional 21 Ainda é importante salientar que, na prática da liderança voltada para resultados, é necessário que as organizações detenham funcionários com habilidades relacionadas aos resultados que se almeja alcançar com o exercício da liderança. Nesse contexto, Ulrich (2000) aponta seis passos para desenvolver essas habilidades nos funcionários, são eles: aquisição, construção, benchmarking, busca de recursos, demissão e retenção. A Figura 4 apresenta de forma direta cada um desses passos. Figura 4: Desenvolvendo habilidades para resultados Seis passos para desenvolver as habilidades dos funcionários, se- gundo Ulrich 1. Aquisição: traga novos talentos por meio do recrutamento de profis- sionais de fora da empresa ou de outros departamentos da organização. 2. Construção: desenvolva o talento com treinamento na função, rotativ- idade de tarefas e empowerment. 3. Benchmarking: visite empresas que sirvam como referência nos pro- cessos profissionais voltados para o desenvolvimento. 4. Busca de recursos: estabeleça parcerias com consultores, vende- dores, clientes ou fornecedores de fora da empresa para reunir novas ideias. 5. Demissão: elimine profissionais com desempenho baixo ou inadequa- do. 6. Retenção: conserve os funcionários mais talentosos. Fonte: Ulrich (2004, p. 5). Portanto, no final deste capítulo, você já saberá o caminho a percorrer para exercer a liderança voltada para o atingimento dos resultados. Assim, sempre tenha em mente, a partir desse momento, que um líder voltado para os resultados deve, além dos seus atributos de liderança, produzir resultados que tragam benefício para a organização como um todo e a seus membros. Esse é o principal critério que diferencia um líder voltado para resultados de outro que não é. Comportamento Organizacional 22 SAIBA MAIS: Para você saber mais sobre como na prática a liderança voltada para resultados é aplicada, leia o artigo intitulado “Liderança que leva a resultados”, clique aqui. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente adquiriu a competência deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que exercer a liderança para o atingimento de resultados requer do líder atentar para os seguintes aspectos que contribuem para o alcance de resultados em equipes eficazes: propósito comum, metas específicas, tomada de decisão, confiança e ética. Nesse contexto, o líder desempenha papéis relacionados a cada aspecto, sendo um destaque dado à confiança. Liderar para resultados requer a existência de confiança entre líder e liderados, bem como entre liderados e liderados de uma equipe. Quando um líder rompe a confiança com os membros de uma equipe, eles passam a estar menos satisfeitos e menos comprometidos, de modo a intencionarem, em alguns caso, até deixar a equipe; os liderados, desse modo, passam a apresentar menos comprometimento com os resultados da equipe. Ainda neste capítulo você apreendeu que liderança é a soma de atributos dos líderes e dos resultados. Para avaliar tais resultados, segundo Ulrich (2000) são necessários quatro critérios: os resultados almejados são equilibrados, são estratégicos, são duradouros e são altruístas, ou seja, contemplam os quatro grupos principais de stakeholders, que são os empregados, a organização em si, os clientes e os investidores. Por último, você entendeu que na prática da liderança voltada para resultados é necessário que as organizações detenham funcionários com habilidades relacionadas aos resultados que se almeja alcançar com o exercício da liderança. Assim, Ulrich (2000) aponta seis passos para desenvolver essas habilidades nos funcionários: aquisição, construção, benchmarking, busca de recursos, demissão e retenção. Comportamento Organizacional https://bit.ly/3bu7iqC 23 Mantendo e desenvolvendo a equipe INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de manter e de desenvolver a equipe, promovendo a redução da rotatividade por meio do autoconhecimento de seus integrantes, considerando aspectos como as inteligências emocional, cognitiva e social. Você vai entender que as equipes são formadas por pessoas, portanto, manter e desenvolver equipes é, por essência, manter e desenvolver pessoas. Isso será possível porque a seguir você irá conhecer como treinar e desenvolver as pessoas nas organizações, além de identificar como o líder pode fazer uso de emoções e sentimentos junto aos seus liderados no âmbito das organizações. Assim, você irá elucidar como promover o autoconhecimento das pessoas, contribuindo para o melhor desempenho delas por intermédio das múltiplas inteligências (emocional, cognitiva e social). Esse conhecimento irá nortear você em sua prática profissional dentro das organizações, uma vez que um dos papéis atribuídos aos líderes é treinar e desenvolver pessoas, bem como orientá-las a lidarem com emoções e sentimentos. E então? Motivado(a) para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Desenvolvendo e mantendo pessoas nas equipes Você já parou para pensar por que as equipes se desfazem? Ou, então, por que as pessoas deixam as equipes? Sabemos que por natureza as equipes temporárias deixam de existir quando concluem a tarefa para a qual foram criadas. Mas, no caso das equipes permanentes, por que os membros, em alguns casos, deixam a equipe? Pense nas situações em que você optou ou teve que deixar de fazer parte de uma equipe de trabalho: nesses casos, quais foram suas motivações? Liste-as Comportamento Organizacional 24 mentalmente agora. Acredito que sua lista deve conter algo do tipo: não possuía conhecimento para desempenhar a atividade que era de minha responsabilidade; o trabalho em equipe não me motiva; não possuía afinidade com as pessoas dos grupos; meu trabalho não era reconhecido pela equipe; pedi demissão por não ser valorizado pela empresa etc. A partir dessa reflexão identificamos que as pessoas podem optar por deixar uma equipe por dois motivos centrais: capacitação para desenvolver as tarefas ou questões emotivas e sentimentais. Ainda temos a reestruturação das equipes e a perda de membros pela rotatividade de funcionários. DEFINIÇÃO: Para a gestão de pessoas nas organizações, a rotatividade é o movimento de entrada e de saída dos colaboradores, independentemente de ter sido motivado pelo empregador ou por decisão do empregado (PINHEIRO; SOUZA, 2013). Então, podemos concluir que as equipes podem não ser mantidas se seus membros saírem por motivações próprias ou por opção da organização. Assim, quanto menor a rotatividade dos colaboradores de uma organização, maior será a possibilidade da manutenção das equipes existentes nela. Nesse sentido, como a liderança pode ajudar na manutenção das pessoas nas organizações e, consequentemente, na permanência delas nas equipes de trabalho? Como reduzir a rotatividade? Primeiramente, deve-se entender quais as causas da rotatividade para então agir sobre elas, visto que a rotatividade é um efeito disso. A respeito dessas causas, assevera Chiavenato (2010, p. 90): A rotatividade não é causa, mas o efeito de algumas variáveis internas e externas. Dentre as variáveis externas estão a situação de oferta e procura do mercado de RH, a conjuntura econômica, as oportunidades de empregos no mercado de trabalho, etc. Dentre as políticas internas estão a política salarial e de benefícios que a organização oferece, o estilo gerencial, as oportunidades de crescimento interno, o desenho dos cargos, o relacionamento humano, as condições físicas e Comportamento Organizacional 25 psicológicas de trabalho. A estrutura e a cultura organizacional são responsáveis por boa parte dessas variáveis internas. Agora você já sabe que a rotatividade é causada porfatores internos e externos, sendo que os fatores externos não são de controle das organizações, de modo que para manter seus colaboradores e equipes é necessário agir sobre os fatores internos para reduzir a rotatividade. Em suma, os fatores internos estão relacionados, como podemos ver na colocação de Chiavenato (2010), ao desenvolvimento das pessoas (oportunidades de crescimento interno) e à gestão de emoções e de sentimentos (relacionamento humano e condições psicológicas). Então, a partir de agora você não pode esquecer que o caminho para reduzir a rotatividade é a retenção de talentos, a qual pode ser feita por meio do desenvolvimento de pessoas e da gestão das emoções e dos sentimentos. Neste tópico, vamos tratar do desenvolvimento de pessoas, com foco na manutenção das equipes; no seguinte, será enfocada a questão da gestão das emoções e dos sentimentos. IMPORTANTE: Por enquanto, temos a seguinte proposição, que devemos manter clara em nossa mente: desenvolver pessoas é uma forma de mantê-las nas organizações e nas equipes e, consequentemente, reduzir a rotatividade por meio do desenvolvimento de habilidades e pela geração de motivação e de capacitação. Agora retornamos a uma questão levantada anteriormente: como a liderança pode ajudar na manutenção das pessoas nas organizações e na permanência delas nas equipes de trabalho? A resposta é: desenvolvendo pessoas e gerenciando emoções e sentimentos. Então, vamos aqui ao entendimento de como o líder pode desenvolver pessoas dentro das organizações. Para tanto, temos a seguinte definição para desenvolver pessoas, segundo Chiavenato (2016, p. 307): Desenvolver pessoas significa apenas dar-lhes informação e apoio suficiente para que elas aprendam novos conhecimentos, Comportamento Organizacional 26 habilidades e competências e se tornem mais eficientes no que fazem. É sobretudo, dar-lhes formação básica para que aprendam novas atitudes, soluções, ideias, conceitos e que mudem seus hábitos e comportamentos e se tornem maus eficazes no que fazem. Diante da definição sobre desenvolver pessoas, o líder tem a tarefa de identificar as necessidades das pessoas nas organizações e nas equipes e de promover o desenvolvimento delas por meio do treinamento. O treinamento e o desenvolvimento de pessoas são os dois principais estratos para desenvolver pessoas, como ilustra a Figura 5. Figura 5: Estratos do desenvolvimento de pessoas Fonte: Adaptado de Chiavenato (2016, p. 308). Treinamento é definido por Chiavenato (2016, p. 310) da seguinte forma: É o processo de desenvolver qualidades nos recursos humanos para habilitá-los a serem mais produtivos e contribuir melhor para o alcance dos objetivos organizacionais. O propósito do treinamento é aumentar a produtividade dos indivíduos em seus cargos e influenciar seu comportamento. Diante da definição de treinamento, temos que no contexto da manutenção de equipes ele é o processo para desenvolver qualidades nos membros das equipes e habilitá-los a contribuírem melhor com os objetivos e permanecerem como membros. Nesse contexto, o líder deve Comportamento Organizacional 27 identificar e definir os objetivos do treinamento, os quais são apresentados na Figura 6. Figura 6: Tipos de mudanças de comportamento decorrentes do treinamento Fonte: Chiavenato (2016, p. 311). Uma vez que o líder definiu os objetivos do treinamento, ele deve fazer uso das técnicas que considerar mais adequadas em relação ao perfil dos colaboradores (membros da equipe). Algumas técnicas de treinamento encontram-se definidas no Quadro 3. Comportamento Organizacional 28 Quadro 3 – Técnicas de treinamento. Técnica Definição Vantagem Desvantagem Le itu ra s É um meio de comunicação que envolve uma situação de mão única na qual um instrutor apresenta verbalmente informação a um grupo de ouvintes. O instrutor expõe aos treinados uma quantidade máxima de informação em um determinado período. Por ser um meio de mão única, os tre- inados adotam uma postura passiva. In st ru çã o p ro g ra m ad a É uma técnica para instrução sem presença ou intervenção do instrutor humano. Pode ser com- putadorizada, e os treinados podem aprender em qualquer hora ou local, con- hecendo imedia- tamente se estão certos ou errados, e participando ativamente do processo. Não apresenta respostas cer- tas ao treina- do. Ele deve descobri-las. Tr e in am e nt o e m cl as se Treinamento fora do local do trabalho, em sala de aula. Os aprendizes são reunidos em um local e assistidos por um instrutor que transmite o conteúdo do treinamento. Situação de laboratório e isolada do local de trabalho. Comportamento Organizacional 29 C o m p u te r b as e d tr ai ni ng (C B T ) É o treinamento com a ajuda de tecnologia da informação. Pode ser feito por CDs, DVDs, etc.; contendo gráfi- cos, animações, filmes. Não há pre- sença física do instrutor. E -l e ar ni ng Uso da tecnologia da internet para entregar ampla var- iedade de soluções que aumentam o desempenho e o conhecimento das pessoas. Baixo custo e atualização con- stante. Os treinados podem ter dificuldade em fazer uso da tecnologia. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2016, p. 325- 326). Quanto ao desenvolvimento de pessoas, estamos nos referindo à contribuição do líder no desenvolvimento pessoal delas. Desenvolvimento pessoal é definido por Chiavenato (2016, p. 351) como “[...] as experiências não necessariamente relacionadas com o cargo atual, mas que proporcionam oportunidades para desenvolvimento e crescimento atual”. Nesse aspecto, o desenvolvimento difere do treinamento, uma vez que este é relacionando ao cargo, enquanto aquele pode ser relacionado ou não. No contexto das equipes nas organizações, como o líder pode promover desenvolvimento dos membros colaboradores? Bem, o líder deve escolher um ou mais métodos de desenvolvimento de colaboradores dentro do perfil e das necessidades deles. Alguns métodos de desenvolvimento são apresentados e definidos no Quadro 4. Comportamento Organizacional 30 Quadro 4: Métodos de desenvolvimento de pessoas. Método Definição Rotação de cargos Significa a movimentação das pessoas em várias posições na organização, no esforço de expandir ha- bilidades, conhecimentos e capacidades. Posições de assessoria Significa dar oportunidades para que a pessoa com elevado potencial trabalhe provisoriamente sob a su- pervisão de um gerente bem-sucedido em diferentes áreas da organização. Aprendizagem prática Consiste no trabalho de tempo integral na análise e resolução de problemas em certos projetos ou em outros departamentos da organização. Atribuição de comissões Significa uma oportunidade para a pessoa participar de comissões de trabalho, compartilhando da toma- da de decisões, aprendendo pela observação e pela pesquisa. Estudos de caso Método de desenvolvimento pelo qual a pessoa se defronta com a descrição de um problema organi- zacional a ser resolvido. Jogos de em- presas São técnicas em que as equipes de pessoas com- petem umas com as outras, tomando decisões com- putadorizadas a respeito de situações reais ou simu- ladas de organizações. Coaching O líder deve, junto às equipes, integrar vários papéis, como líder renovador, preparador, orientador e im- pulsionador. Tutoria É a assistência que executivos da cúpula oferecem a pessoas que aspiram subir a níveis mais elevados na organização. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2016, p. 352-353). Comportamento Organizacional 31 Prontinho! Agora que você já aprendeu como o líder pode manter e desenvolver equipes, reduzindo a rotatividade por meio de treinamento e de desenvolvimento das pessoas, vamos, a seguir, aprender como isso se dá no campo do autoconhecimento dos integrantes de uma equipe, considerando os sentimentos e as emoções. Liderança versusemoção e sentimento: o autoconhecimento e as múltiplas inteligências Ao colaborar com a gestão dos sentimentos e das emoções das pessoas, os líderes estão contribuindo para a manutenção e o desenvolvimento das equipes. Se você, em sua prática profissional, for desempenhar esse papel, vai precisar saber o que são emoções e sentimentos e como eles são aplicados no contexto das organizações. Além disso, você precisa entender o que são as múltiplas inteligências para que possa auxiliar os membros das equipes das organizações a se autoconhecerem. Nesse sentido, vamos começar aprendendo sobre emoção e sentimento. A esse respeito, asseveram Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 92) que: [...] as emoções são expressões afetivas intensas dirigidas a alguém ou alguma coisa.6 Podemos dizer que as emoções são uma súbita ruptura do equilíbrio afetivo de uma pessoa. Quase sempre são de curta duração e são geralmente acompanhadas de reações fisiológicas, tais como choro, batimento cardíaco acelerado, suores frios ou tremor das pernas. Sentimentos (também chamados estados de ânimo ou humores) são estados afetivos menos intensos e mais duráveis do que as emoções e que geralmente não requerem um estímulo contextual para se manifestarem. Apesar das diferenças, tanto as emoções como os sentimentos são essenciais para expressarmos a nossa afetividade. Agora você já sabe que sentimentos e emoções não são a mesma coisa, contudo, são elementos que exprimem nosso afeto por algo ou Comportamento Organizacional 32 alguém. A relação entre afeto, emoções e sentimentos é representada pela figura a seguir. Figura 7: Afeto, emoções e sentimentos Afeto Definido como uma ampla extensão de sen- sações experimentadas pelas pessoas, o afeto pode ser vivenciado na forma de emoções ou sentimentos. Emoções • Causadas por um evento es- pecífico; • De breve duração (segundos ou minutos); • Específicas e de várias nature- zas (muitas emoções específi- cas, como raiva, medo, tristeza, felicidade, aversão e surpresa); • Normalmente acompanha- das de expressões faciais ou reações físicas; • Voltadas à ação. Sentimentos • Geralmente a causa não é especí- fica a um evento ou objeto; • De duração maior que as emo- ções (horas ou dias); • Mais gerais (duas dimensões principais – afetividade positiva e afetividade negativa – que são compostas de múltiplas emoções específicas); • Geralmente não demonstradas por meio de expressões ou reações físicas distintas; • De natureza cognitiva. Fonte: Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 93). Como podemos constatar, o afeto e as emoções são inerentes a pessoas, de modo que estão fortemente presentes nas equipes e nas organizações, que são nada mais do que um conjunto de pessoas. Esses elementos não podem ser excluídos nem desconsiderados pelos gestores e líderes, precisam ser gerenciados. Para gerenciá-los e entendê-los dentro das organizações e saber suas influências no comportamento das pessoas, é necessária a aplicação de conhecimentos relacionados às Comportamento Organizacional 33 múltiplas inteligências dos indivíduos. Essas inteligências são as seguintes: emocional, cognitiva e social. Elas estão definidas no Quadro 5, com base em alguns autores clássicos. Quadro 5: As múltiplas inteligências do indivíduo Inteligência Fonte Definição Emocional Robbins, Judge e So- bral (2010) Inteligência emocional (IE) é a capaci- dade da pessoa de (1) ser autocon- sciente do seu estado afetivo (recon- hecer suas próprias emoções quando as sente), (2) detectar as emoções nos outros e (3) administrar pistas e infor- mações transmitidas pelas emoções. Cognitiva Gottfredson (1997) Capacidade mental de espectro con- ceptual que envolve a capacidade de raciocínio, de planejamento, de res- olução de problemas, de pensamento abstrato, de compreensão de ideias complexas, de aprendizagem rápida e a partir da experiência. Social Vernon (1933, p. 359) Habilidade de se relacionar bem com as pessoas em geral, técnica social ou facilidade na sociedade, conheci- mento de modos sociais, sensibilidade aos estímulos de outros membros do grupo, bem como compreensão das variações de humor ou reconhecimen- to dos traços de personalidade de pes- soas estranhas. Fonte: Elaborado pela autora, 2021. Diante das definições dispostas acima, temos que a inteligência cognitiva está relacionada ao treinamento e ao desenvolvimento (estudados anteriormente), já a emocional e social liga-se aos sentimentos e emoções, visto que eles ajudam a entender diversos aspectos dentro das organizações, conforme destacam Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 107): Comportamento Organizacional 34 [...] entendimento das emoções e dos sentimentos pode melhorar nossa habilidade de explicar e entender o processo de recrutamento e seleção, a tomada de decisão, a criatividade, a motivação, a liderança, o conflito interpessoal, a negociação, o atendimento ao cliente, as atitudes no trabalho e os desvios de comportamento no ambiente de trabalho. [...] os gestores podem influenciar os sentimentos de seus funcionários. E como o líder pode conduzir as pessoas à melhor gestão dos sentimentos e das emoções? Resposta: elucidando como funciona e como se prática a inteligência emocional, visto que ela incorpora também aspectos da inteligência social. Dentre os estudiosos sobre inteligência emocional, destacamos Goleman (2015) por vinculá-la à liderança em seu livro intitulado “Liderança e a inteligência emocional na formação do líder de sucesso”. VOCÊ SABIA? Daniel Goleman é um escritor, jornalista, psicólogo, consultor empresarial americano e doutor em Psicologia pela Universidade de Harvard. Ele dedicou-se a uma coluna sobre psicologia e ciência do cérebro para o jornal The New York Times ao longo de anos e escreveu vários livros que buscam explicar a inteligência emocional. Considerando os achados de Goleman (2015), temos que a inteligência emocional é composta pelos seguintes atributos: autoconsciência, autogestão, empatia e habilidade social. Para facilitar o nosso entendimento, o Quadro 6 define os atributos que os líderes podem focar para direcionar as pessoas nas organizações a adotarem uma abordagem correta de desenvolvimento de sua inteligência emocional. Comportamento Organizacional 35 Quadro 6: Atributos da inteligência emocional segundo Goleman (2015) e Goleman, Boyatzis e Mckee (2002) Atributo Definição Implicações A u to co ns ci ê nc ia Autoconsciência significa uma compreensão profunda das próprias emoções, forças, fraquezas, necessidades e impulsos. - As pessoas com autoconsciência forte não são nem críticas demais nem irrealisticamente esperançosas. Pelo contrário, são honestas consigo e com os outros. - Pessoas com alto nível de auto- consciência reconhecem como seus sentimentos afetam a elas, às outras pessoas e o seu desempenho profis- sional. - Uma pessoa autoconsciente, que sabe que não consegue bons resulta- dos sob prazos apertados, planeja seu tempo com cuidado e termina seu trabalho antecipadamente. - A autoconsciência também está ligada à compreensão que as pessoas têm de seus próprios valores e metas. Alguém muito autoconsciente sabe para onde está indo e por quê. Comportamento Organizacional 36 A u to g e st ão É como uma conversa interi- or contínua, é o componente da inteligência emo- cional que liberta as pessoas de serem prisioneiras de seus senti- mentos. - As pessoas engajadas em tal con- versa sentem mau-humor e impulsos emocionais como todas as outras, mas acham meios de controlá-los e até mesmo de canalizá-los de formas úteis. - Pessoas que estão no controle de seus sentimentos e impulsos — ou seja, pessoas racionais — são capazes de criar um ambiente de confiança e equidade. Em tal ambiente, a politica- gem e as rivalidades são fortemente reduzidas e a produtividade é alta. Pessoas talentosas acorrem à orga-nização e não sentem vontade de deixá-la. E o autocontrole tem um efeito multiplicador. - Pessoas que dominaram suas emoções são capazes de acompan- har as mudanças. Quando se anuncia um programa novo, elas não entram em pânico. Pelo contrário, conseg- uem suspender o julgamento, buscar informações e ouvir os executivos ex- plicarem o novo programa. À medida que a iniciativa avança, essas pessoas conseguem acompanhá-la. Comportamento Organizacional 37 E m p at ia Empatia significa levar em conta ponderadamente os sentimentos dos colabora- dores da orga- nização — junto com outros fatores — no pro- cesso de tomar decisões inteli- gentes. - Empatia ajuda a reter pessoas devido ao número cada vez maior de equipes, o ritmo veloz da globalização e a necessidade crescente de reter os talentos. - Ajuda a lidar com os efeitos da globalização, que é outro motivo da importância crescente da empatia para líderes empresariais. O diálogo intercultural pode facilmente levar a erros de comunicação e mal-enten- didos. A empatia é um antídoto. As pessoas que a possuem estão sinton- izadas com as sutilezas da linguagem corporal. Elas conseguem ouvir a mensagem sob as palavras sendo proferidas. Além disso, possuem uma profunda compreensão tanto da existência como da importância das diferenças culturais e étnicas. - Empatia desempenha um pa- pel-chave na retenção dos talentos, particularmente na atual economia da informação. H ab ili d ad e s o ci al Capacidade de uma pessoa se relacionar com outras. - Pessoas socialmente hábeis tendem a ter um amplo círculo de conheci- dos e têm um dom para chegar a um denominador comum com pessoas de todos os tipos — um dom para desenvolver afinidades. Fonte: Adaptado de Goleman (2015, p. 12-23). Com base no disposto do Quadro 6, líderes que buscam manter e desenvolver equipes necessitam de inteligência emocional, ou seja, ser possuidores de autoconsciência, autogestão, empatia e habilidade social. Além disso, esses líderes devem conduzir as pessoas ao seu autodescobrimento, a fim de que elas possam desenvolver inteligência emocional. Comportamento Organizacional 38 RESUMINDO: E agora? Você se sente capaz de manter e de desenvolver a equipe, promovendo a redução da rotatividade por meio do autoconhecimento de seus integrantes, considerando aspectos como as inteligências emocional, cognitiva e social? Para garantirmos uma resposta positiva a esses questionamentos, vamos rever o que você aprendeu neste capítulo. Inicialmente, você aprendeu que, para a gestão de pessoas nas organizações, a rotatividade é o movimento de entrada e saída dos colaboradores, independentemente de ter sido motivado pelo empregador ou por decisão do empregado (PINHEIRO; SOUZA, 2013). Assim, quanto menor a rotatividade dos colaboradores de uma organização, maior será a possibilidade da manutenção das equipes existentes nela. Então, o líder pode reduzir a rotatividade, manter e desenvolver equipes por meio de treinamento de desenvolvimento de pessoas, assim como pela gestão das emoções e sentimentos. Treinar pessoas é desenvolver qualidades nos recursos humanos para habilitá-los a serem mais produtivos e contribuírem melhor para o alcance dos objetivos organizacionais. Já desenvolver pessoas é proporcionar a elas experiências não necessariamente relacionadas com o cargo atual, mas que proporcionam oportunidades para desenvolvimento e crescimento atual. Por fim, a gestão das emoções está diretamente relacionada a múltiplas inteligências, em especial a emocional e a social. Inteligência emocional (IE) é a capacidade da pessoa de (1) ser autoconsciente do seu estado afetivo (reconhecer suas próprias emoções quando as sente), (2) detectar as emoções nos outros e (3) administrar as pistas e informações transmitidas pelas emoções. Quanto à inteligência social, ela remete à habilidade de se relacionar bem com as pessoas em geral, técnica social ou facilidade na sociedade, conhecimento de modos sociais, sensibilidade aos estímulos de outros membros do grupo, bem como compreensão das variações de humor ou reconhecimento dos traços de personalidade de pessoas estranhas. Comportamento Organizacional 39 Comunicação como ferramenta do líder INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de aplicar técnicas de comunicação eficaz para propiciar o desenvolvimento de equipes de alta performance, fazendo uso do feedback assertivo e da comunicação não violenta. Isso será possível porque você irá aprender noções básicas de comunicação (conceito, funções, processo e barreiras), definição e os componentes de uma comunicação eficaz e as técnicas desse tipo de comunicação. Quanto às técnicas, você irá aprofundar os conhecimentos sobre feedback assertivo e comunicação não violenta. Esse conhecimento será importante em sua prática profissional no uso da liderança, uma vez que nas equipes cabe ao líder mediar essas construções e influenciar positivamente seus membros, e isso só pode ser feito por uma comunicação eficaz. E então? Motivado(a) para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Comunicação: noções básicas O líder deve fazer uso da comunicação para orientar, argumentar e influenciar os membros de uma equipe no processo de liderança, tendo como foco os resultados dessa equipe. Mas o que é comunicação? Quais as suas funções e como ela acontece no dia a dia das relações dentro das organizações? Vamos responder a essas questões no decorrer de nossos estudos aqui. Começamos definindo o que é comunicação. A esse respeito, afirma Daft (2005, p. 425): “Comunicação [...] pode ser definida como o processo pelo qual as informações são transmitidas ou entendidas por duas ou mais pessoas, geralmente com a intenção de motivar ou influenciar o comportamento”. Já Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 93) elucidam o seguinte sobre a comunicação no contexto das organizações: Comportamento Organizacional 40 A comunicação deficiente é provavelmente a principal fonte de conflitos interpessoais no trabalho. Como as pessoas passam quase 70 por cento das horas em que estão acordadas se comunicando — escrevendo, lendo, falando, escutando —, parece razoável afirmar que uma das principais forças inibidoras do bom desempenho de um grupo é a falta de uma comunicação eficaz. Ter uma boa capacidade de comunicação é essencial para o sucesso na carreira. Estudos feitos com analistas de recrutamento e seleção revelaram que quase sempre as habilidades de comunicação encontram-se entre as mais importantes características de um candidato ideal. Nenhum indivíduo, grupo ou organização podem existir sem a transferência de significados entre seus membros. Apenas por meio dela as informações e ideias podem ser transmitidas. A comunicação, contudo, é mais do que simplesmente transmitir um significado: esse significado também precisa ser compreendido. [...] Portanto, a comunicação precisa incluir a transferência e a compreensão do significado. Na definição de comunicação e nas observações de sua presença nas organizações dispostas acima, é possível destacarmos dois aspectos que a definem objetivamente: a transmissão e o entendimento de informações. DEFINIÇÃO: A comunicação no contexto da liderança de equipes de alta performance é o processo de pelo qual as informações são transmitidas e entendidas por líderes e liderados, em que o líder tem a intenção de motivar ou influenciar o comportamento dos membros da equipe (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). Agora que você já sabe o que é comunicação, vamos deixar claras as suas funções como ferramenta utilizada pelos líderes. São elas: controle, motivação, expressão emocional e informação. O Quadro 7 explica cada uma delas. Comportamento Organizacional 41 Quadro 7: Funções da comunicação como ferramenta do líder Comunicação para o controle: a comunicação age no controle do comportamento das pessoas de diversasmaneiras. As organizações possuem hierarquias e orientações formais que devem ser seguidas pelos funcionários. Quando eles são informados de que devem, por exemplo, comunicar qualquer problema de trabalho primeiro a seu superior imediato, seguir suas instruções de trabalho ou, ainda, adequar- se às políticas da empresa, a comunicação está desempenhando uma função de controle. Mas a comunicação informal também controla o comportamento. Quando um grupo de trabalho hostiliza um membro que está produzindo demais (e, assim, faz com que o resto do grupo seja mal avaliado), esses indivíduos estão se comunicando informalmente e controlando o comportamento do colega. Comunicação para motivação: a comunicação também facilita a motivação por esclarecer aos funcionários o que deve ser feito, qual a qualidade de seu desempenho e como melhorá-lo se estiver abaixo do esperado. O estabelecimento de metas específicas, o feedback do progresso em relação a elas e a recompensa pelo comportamento desejável estimulam a motivação e requerem comunicação. Comunicação para expressão emocional: para muitos funcionários, seu grupo de trabalho é a fonte primária de interação social. A comunicação dentro do grupo é um mecanismo fundamental para que seus membros expressem suas frustrações ou sua satisfação. A comunicação, portanto, possibilita a expressão emocional de sentimentos e a satisfação de necessidades sociais. Comunicação para informação: a função final da comunicação é facilitar a tomada de decisões. Ela proporciona as informações de que as pessoas e os grupos precisam para tomar decisões ao transmitir dados para que se identifiquem e avaliem alternativas. Nenhuma dessas quatro funções é mais importante que as demais. Para apresentar um bom desempenho, os grupos precisam ter algum tipo de controle sobre seus membros, estimulá-los a se esforçar, oferecer os meios para sua expressão emocional e para a tomada de decisões. Comportamento Organizacional 42 Praticamente todas as interações de comunicação que ocorrem dentro de um grupo ou de uma organização exercem uma ou mais dessas quatro funções. Fonte: Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 326). Para que a comunicação cumpra as funções dispostas acima, ela deve seguir um processo, e para entendimento dele é necessário, a priori, definirmos alguns termos básicos: emissor, receptor, canal, mensagem informação, ruído ou barulho, codificação, decodificação e feedback. O processo de comunicação pode ser representado pela Figura 8. A definição desses temos é apresentada no Quadro 8. Figura 8: Um modelo do processo de comunicação Transmissor codifica a mensagem Receptor decodifica a mensagem Canal Canal Barulho Círculo do Feedback Retorna a mensagem codificada Fonte: Adaptado de Daft (2005, p. 426). Perceba na Figura 8 que, para haver uma comunicação, é necessário no mínimo duas pessoas, em que a primeira envia uma mensagem que é entendida pela segunda, e que por sua vez responde à primeira. No Quadro 8, vamos conhecer melhor os elementos da comunicação. Quadro 8: Alguns conceitos relacionados ao processo de comunicação Comportamento Organizacional 43 Termo Definição Emissor ou trans- missor É aquele que deseja transmitir uma ideia ou um conceito para os outros, buscar informações ou expressar um pensamento ou emoção. O transmissor codifica a ideia selecionando símbolos com os quais deseja compor a mensagem. Receptor O receptor é a pessoa para quem a mensagem é enviada. Ele decodifica os símbolos para interpretar o significado da mensagem. Mensagem A formulação tangível de uma ideia a ser enviada para um receptor. Codificação Seleção de símbolos para compor uma mensagem. Decodificação Tradução dos símbolos usados em uma mensagem com o propósito de interpretar seu significado. Feedback Uma resposta do receptor para o transmissor da comunicação. Canal O meio pelo qual a mensagem é enviada pelo emissor. Barulho ou ruído Distorção na transmissão da mensagem. Fonte: Adaptado de Daft (2005, p. 426). Se você chegou até aqui, já sabe como se dá a comunicação entre as pessoas e agora necessita entender como essa comunicação pode se dar de maneira eficaz. Comportamento Organizacional 44 Técnicas de comunicação eficaz aplicadas à liderança: feedback assertivo e comunicação não violenta Aprendemos que a comunicação existe quando o receptor compreende a mensagem enviada pelo emissor, mas quando é que isso ocorre de maneira eficaz? O que é, afinal, uma comunicação eficaz? No mundo das organizações, ela é definida da seguinte forma por Silva (2019, p. 240): A comunicação eficaz no mundo corporativo é definida como aquela que converge palavras em ações. Ou seja, quando a comunicação é eficiente, ela transforma e muda a atitude das pessoas. E só se atinge a eficácia na comunicação organizacional com muito trabalho e dedicação. Assim, a condição para que uma comunicação seja eficaz é ela conduzir a uma ação, ou seja, ao que definimos anteriormente como feedback do receptor. Podemos entender por comunicação eficaz aquela que leva à ação, ou seja, a mensagem transmitida pelo emissor é entendida pelo receptor e gera nele uma ação relacionada ao conteúdo da mensagem. No âmbito da liderança, a ação esperada pelo líder é influência no comportamento dos liderados. No âmbito da liderança, a comunicação eficaz é aquela em que o líder consegue influenciar o comportamento do liderado. Desse modo, ela produz um resultado. Para alcançá-lo, Efraym (2017) lista alguns componentes que devem estar presentes em uma comunicação eficaz: conteúdo, dinâmica, emoção, modelos mentais, imagem e simplificação. Eles são descritos no Quadro 9. Comportamento Organizacional 45 Quadro 9: Componentes de uma comunicação eficaz 1. O CONTEÚDO RELEVANTE Critérios que fazem um conteúdo ser relevante • o fato de que quem vai “ouvir” esteja previamente interessado nele: se você tentar “falar” pra quem não está interessado em “ouvir”, você tem que ser muito bom pra não estar perdendo o seu tempo e gastando o da outra pessoa. • um conteúdo é relevante quando o comunicador possui domínio do tema comunicado: quando alguém domina aquilo de que fala, essa pessoa tende a se fazer entender melhor porque ela trata do tema como se estivesse transitando sua experiência por conheci- mento de causa. 2. A DINÂMICA PASSO A PASSO Remete ao ciclo do conteúdo da mensagem a ser passada, ou seja, da introdução até a conclusão. Componentes básicos da dinâmica de uma comunicação eficaz • Hierarquia: partir do geral para o particular, ou seja, o que vem pri- meiro e o que vem depois. Quanto mais domínio se tiver do tema, mais fácil fica cumprir com essa exigência. A hierarquia define a im- portância de cada parte dentro do contexto. Mas a “importância” de- pende das circunstâncias. Hierarquia é uma escala de importância do conteúdo da comunicação. • Cronologia: é uma escala de necessidades. Definir as necessidades do púbico e apresentá-las de acordo com a sua ordem cronológica, assim envolvendo emocionalmente o público ao mesmo tempo em que se parte do particular para o geral na comunicação. Comportamento Organizacional 46 3. O ENVOLVIMENTO EMOCIONAL O envolvimento emocional é o nível de afinidade, de aproximação que o emissor deve construir em sua relação com os receptores. No contexto da liderança, é a afinidade entre o líder e os indivíduos liderados. Estratégias que têm o poder de gerar envolvimento emocional para uma comunicação eficaz • Gatilhos mentais: nome dado aos recursos que têm o poder de disparar na mente das pessoas reações automáticas. Essas reações são previamente conhecidas e é por isso que podem ser aplica- dos estrategicamente. São três as principais estratégias de gatilho mental que podem ser usadas para uma comunicação eficaz, a sa- ber: curiosidade, controvérsia e antecipação. Seguem as definições, com exemplos: - Controvérsiacontraria o senso comum. Exemplo: se eu disser que “seu defeito é uma virtude”, eu gero uma controvérsia, ou seja, eu vou de en- contro ao que o senso comum entende sobre essas coisas. - Curiosidade prende a atenção. Exemplo: as pessoas acham que “de- feito” é o oposto de “virtude” (ficou curioso, né?). É isso! A curiosidade está embutida na controvérsia, mas não é a mesma coisa. - Antecipação coloca em expectativa. Exemplo: as pessoas acham que “defeito” é o oposto de “virtude” (ficou curioso, né?). É isso! A curiosidade está embutida na controvérsia, mas não é a mesma coisa. Por outro lado, ao dizer isso e gerar curiosidade em você, eu crio uma tensão na sua mente que o projeta para o futuro, onde a solução da controvérsia está. Isso quer dizer que eu gerei uma antecipação para prender a sua atenção. • Elementos de simpatia: simpatia quer dizer vibrar junto, ou seja, emissor e receptor devem estar na mesma frequência no momento da comunicação. São elementos que promovem a simpatia: organi- zação, autenticidade, coerência, charme, fluência, convicção, dar a razão ou o porquê das coisas, timing no humor, simplicidade, con- sistência. Comportamento Organizacional 47 4. MODELOS MENTAIS Modelos mentais podem ser descritos como uma visão ampla do mun- do, adquirida por meio de experiências passadas. São pressupostos, generalizações ou mesmo imagens arraigadas que influenciam a nossa forma de ver o mundo e de agir. São utilizados na comunicação eficaz para gerar simpatia e influenciar comportamentos. O emissor pode usar qualquer experiência da sua própria vida ou algo que leu ou viu aconte- cer como modelo mental presente na comunicação. Esse modelo deve seguir um percurso, servindo pra gerar um estado emocional específico: “história alegre”, “história triste”. 5. IMAGENS As imagens podem estimular e orientar uma ação. Do ponto de vista do planejamento do emissor, o uso de cada imagem depende de até onde ele pretende chegar, do tema da sua apresentação, da sua capacidade de discernimento na identificação do contexto em que elas se encaixam etc. Exemplo: gráficos e tabelas se encaixam muito bem naquela apre- sentação da organização em que o emissor pretende mostrar a relação custo-benefício favorável que sua proposta tem aos receptores. Os di- agramas são ótimos para produzir visualização de uma estrutura com- plexa, como o organograma de uma organização. 6. SIMPLIFICAÇÃO O emissor deve simplificar, delimitando a comunicação a partir do princípio da suficiência. Suficiência não é algo que o emissor aprende, mas que ele sente! Lembra do “já deu!”, “assim está bom” etc.? É o seu senso de suficiência definindo limites. É o limite do momento atribuído pelo bom senso do emissor. Os componentes listados no quadro 8 devem ser utilizados pelo líder no processo de comunicação eficaz com equipes de alto desempenho, de modo que o emissor é o líder e os receptores são os membros da equipe sob sua liderança. Contudo, diversas barreiras podem dificultar ou distorcer a comunicação eficaz. São elas: filtragem, percepção seletiva, sobrecarga de informações, emoções, idioma, silêncio, modo da comunicação e diferença de gêneros. Essas barreirais são de fácil identificação e entendimento, mas vamos destacar aqui a Comportamento Organizacional 48 definição de três que são significativas: filtragem, percepção seletiva e medo da comunicação. Essas barreirais são assim definidas por Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 343 -344): Filtragem se refere à manipulação da informação pelo emissor para que o receptor a veja de maneira mais favorável. Quando um gestor diz a seu superior exatamente aquilo que acredita que o chefe quer ouvir, ele está filtrando a informação. [...] no processo de comunicação vê e escuta seletivamente, com base nas próprias necessidades, motivações, experiências, histórico e outras características pessoais. Os receptores também projetam seus interesses e expectativas quando decodificam as mensagens. [...] Medo da comunicação [..] Tensão e ansiedade com relação à comunicação oral, escrita ou ambas. Agora você já sabe o que é uma comunicação eficaz e está ciente de que podem existir barreiras em seu processo. Nesse sentido, como o líder de uma equipe pode superar essas barreiras que podem bloquear a comunicação eficaz? A resposta é simples: aplicando algumas técnicas, e dentre elas temos: escuta ativa, feedback assertivo, clarificação, reformulação e comunicação não violenta. Quanto à comunicação não violenta, vamos aprofundar nossos estudos, já as demais técnicas são apresentadas objetivamente na Figura 9. Comportamento Organizacional 49 Figura 9: Técnicas para uma comunicação eficaz Fonte: Adaptado de Tavares (2020, p. 16-17). Dentre as técnicas que podem ser utilizadas pelo líder para obtenção de uma comunicação eficaz, vamos aprofundar aqui a comunicação não violenta devido a sua importância nas relações entre líderes e liderados. Segundo Rosenberg (2006), a comunicação não violenta (CNV) é uma forma de comunicação pela qual os envolvidos são levados a se entregarem de coração. Mas essa definição ainda não é suficiente para entendermos efetivamente o que é a CNV, portanto vamos considerar a seguinte definição e explicação fornecida por Stapeen (2020, p. 6): A CNV é uma maneira de pensar e de falar que pretende incluir a compreensão e o respeito mútuo nas trocas. Ela ajuda cada um a se reconectar com a parte de si mesmo capaz de compreender com o coração e de se fazer ouvir sem agredir. Quando tentamos viver e aplicar essa maneira de se Comportamento Organizacional 50 relacionar, não nos preocupamos somente com o que deve ser produzido, mas com que cada um está vivendo. Isso permite abordar o outro mantendo-se em sintonia com a sua própria humanidade e, desse modo, estimula-se a benevolência em si e no outro. A confiança e o gosto pela cooperação seguem naturalmente e cada um sai ganhando com isso. [...] Quando nos familiarizamos com a CNV, desenvolvemos a consciência de que não ganhamos sozinhos ou às custas de alguém. Diante do exposto, podemos definir, no contexto da liderança, que a CNV é uma técnica de comunicação cuja a preocupação é promover pela comunicação eficaz um resultado ganha-ganha entre líderes e liderados, o qual é obtido por meio da cooperação e confiança natural. Um líder que faz uso dessa técnica na liderança de equipes não se preocupa somente com o que deve ser produzido pela equipe e seus membros, mas também com o que cada membro está vivendo no contexto do desenvolvimento da equipe. DEFINIÇÃO: CNV é uma técnica de comunicação cuja preocupação é promover na comunicação eficaz um resultado ganha- ganha entre líderes e liderados, o qual é obtido por meio da cooperação e da confiança natural (STAPEEN, 2020). Em teoria a CNV é um processo de comunicação composto por quatro etapas, representadas pela ilustração disposta na Figura 10. Figura 10: O processo de CNV Fonte: Adaptado de Stapeen (2020). Comportamento Organizacional 51 Assim, no processo de comunicação não violenta o líder observa os fatos presentes na equipe e permite que os membros expressem sentimentos e necessidades; e por fim passa a mensagem referente à comunicação em forma de pedido. Essa técnica, portanto, facilita que esse pedido gere resultados (influências no comportamento dos liderados), o que passa a caracterizar a comunicação como eficaz. Para facilitar seu entendimento, o Quadro 10 lista os aspectos relacionados a cada uma das etapas do processo de CNV. Quadro 10: Etapas do processo de CNV Etapas Aspectos relevantes Observação dos fatos O líder deve formular suas observações de ma- neira neutra, descrevendo simplesmente os fa- tos, sem opinar ou interpretá-los. A observação é importante ponto na resolução de conflitos porque faz a distinção entre o que é e o que se pensa sobre. Expressão (facultativa) de sentimentos O líder deve permitirque os liderados exprimam seus sentimentos. Para a CNV, sentimentos in- cluem, ao mesmo tempo, sensações físicas, emoções e sentimentos. Expressão das necessidades (origem dos sentimentos) O líder deve expressar e permitir que os lider- ados exprimam suas necessidades. Segundo a concepção da CNV, necessidade é o que é indispensável à nossa vida quanto a que lhe dá segurança e sentido. Engloba, portanto, neces- sidades vitais, de segurança e de desenvolvi- mento. Formulação do pedido Para a realização do pedido, o líder deve es- tar atento aos seguintes critérios: dirige-se a alguém específico; refere-se ao instante pre- sente; ele é concreto; é expresso em linguagem positiva; é realizável; deixa a opção de escolha. Fonte: Adaptado de Stapeen (2020). Prontinho! Ao fim deste capítulo você já sabe então como aplicar técnicas de comunicação eficaz, e isso é muito importante para a sua Comportamento Organizacional 52 prática profissional, uma vez que a comunicação é um elemento central da liderança. Portanto, a partir de agora você não pode esquecer que um líder eficaz se comunica fazendo uso de técnicas de comunicação como escuta ativa, feedback assertivo, clarificação, reformulação e comunicação não violenta. RESUMINDO: E agora? Você se sente capaz de aplicar técnicas de comunicação eficaz para propiciar o desenvolvimento de equipes de alta performance, fazendo uso do feedback assertivo e da comunicação não violenta? Se você chegou até aqui sua resposta é sim. Isso porque neste capítulo você aprendeu que, no âmbito da liderança, a comunicação eficaz é aquela em que o líder consegue influenciar o comportamento do liderado. E uma comunicação eficaz deve possuir alguns componentes para a geração de resultado, tais como conteúdo, dinâmica, emoção, modelos mentais, imagem e simplificação. Nesse sentido, para desenvolver equipes de alta performance, o líder pode fazer uso das seguintes técnicas de comunicação eficaz: escuta ativa, feedback assertivo, clarificação, reformulação e comunicação não violenta. Com destaque tem-se as técnicas de feedback e de comunicação não violenta (CNV), sendo essa uma técnica de comunicação cuja preocupação é promover na comunicação eficaz um resultado ganha-ganha entre líderes e liderados, o qual é obtido por meio da cooperação e da confiança natural. Comportamento Organizacional 53 Leader coach e as equipes de alta performance INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de implementar programas de treinamento e de desenvolvimento de lideranças e de equipes (leader coach). Sabendo que o campo de atuação do líder são as organizações, você vai entender o papel delas na formação dos líderes por meio do coaching o e leader coach. Isso porque você vai aprender os tipos de coaching, e os pressupostos e princípios para a atuação desses, bem como o perfil, habilidades e ferramentas do leader coach. Deter esse conhecimento será fundamental para o exercício de sua profissão, uma vez que permitirá a você criar e implementar programas de treinamento e de desenvolvimento de liderança e de equipes. E então? Motivado(a) para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Coaching O coaching tem ganhado grande repercussão nas mídias digitais, bem como é objeto do conteúdo de vários livros. Com certeza você já deve ter ouvido essa palavra, e geralmente ela é aplicada a um contexto relacionado ao desenvolvimento de carreira e de pessoas. Mas, enfim, o que ela significa no contexto das organizações e da liderança? Para facilitar, vejamos no Quadro 11 algumas definições atribuídas a esse termo. Comportamento Organizacional 54 Quadro 11: Definições de coaching Autor Definição Parsloe (1995, p. 18) “O coaching é diretamente relacionado com o aprimoramento imediato de desempenho e o desenvolvimento de habilidades, através de uma forma de tutoria ou instrução.” Whitmore (1992, p. 8) “Coaching é o desbloqueio do potencial de um indivíduo de forma a maximizar seu desempenho. É ajudar o outro a aprender ao invés de ensiná-lo.” Stober e Parry (2005, p. 13) “Coaching é um processo colaborativo que visa facilitar a habilidade de um cliente para auto-diri- gir seu aprendizado e crescimento, sendo eviden- ciado por mudanças significativas na auto-com- preensão, auto-conceito e comportamento.” Grant (2005, p. 4) “Coaching pode ser compreendido como uma metodologia genérica usada para aprimorar as habilidades e desempenho, assim como o desenvolvimento de indivíduos. É um processo sistematizado no qual indivíduos são ajudados a explorar seus problemas, estabelecer metas, desenvolver planos de ação e agir, monitorar e avaliar seu desempenho de forma a melhor alca- nçar suas metas [...].” Milaré e Yoshida (2007, p. 88) “A essência do coaching é ajudar o indivíduo a resolver seus problemas e a transformar o que aprendeu em resultados positivos para si e para a equipe a qual lidera.” Cox, Bachkirova e Clutterbuck (2014, p. 1) “O coaching é um processo de desenvolvimento humano que envolve o uso de interações estru- turadas e focadas e de estratégias, ferramentas e técnicas apropriadas para promover mudanças desejáveis e sustentáveis, visando o benefício do indivíduo e, potencialmente, de outros stakehold- ers.” Fonte: Oliveira-Silva et al. (2018, p. 367). Comportamento Organizacional 55 Com base nos conceitos acima, o coaching é um processo. A esse respeito asseveram Lotz e Gramms (2014, p. 17): O coaching é um processo que estimula reflexões para potencializar o desempenho e aprendizado de um indivíduo, promovendo o desenvolvimento pessoal e profissional. O processo envolve a parceria entre dois atores; o coach e o coachee. O coach é o profissional que aplica o coaching, municiado pelo domínio de metodologias e ferramentas para tal propósito. O coachee, ou cliente é o indivíduo que passa pelo ciclo do coaching. DEFINIÇÃO: O coach é o profissional que aplica o coaching, municiado pelo domínio de metodologias e ferramentas para tal propósito. Assim, definimos coaching como um processo de reflexão voltado para o desempenho do indivíduo e que gera o desenvolvimento pessoal e profissional. Esse processo é composto pelos seguintes elementos: coach, coachee e ferramentas ou metodologias. As ferramentas veremos quando relacionarmos coaching à figura do líder. A respeito do processo de coaching elucidam Lotz e Gramms (2014, p. 17): O processo de coaching ocorre por meio de conversas entre o coach e o coachee. Nesse diálogo, o papel do primeiro é fazer perguntas e aplicar ferramentas com o propósito de estimular o segundo a observar sua situação sob um novo prisma. Com isso, abre possibilidades para a escolha de novos comportamentos, favorecendo o alcance de diferentes patamares de resultados. Por ser um processo reflexivo e baseado na conversa entre duas pessoas, muitas pessoas confundem a prática do coaching com a psicoterapia ou um aconselhamento. Outras, pelo fato de buscar desenvolver os indivíduos na profissão, confundem essa prática com o treinamento. Contudo, existem diferenças, conforme mostra a Figura Comportamento Organizacional 56 11. Além disso, existem vários tipos de coaching, conforme apresenta o Quadro 12. Quadro 12: Diferenças entre coaching e psicoterapia, coaching e aconselhamento e coaching e treinamento Coaching Psicoterapia - Voltado para o desempenho profissional; - Ênfase no futuro; - Rápido e superficial; -Preocupa-se com o que está falando; - Visa à ação. - Enfoca, Fundamentalmente, o indivíduo e seus problemas pessoais; -Ênfase maior no passado; - Longa e profunda; - Preocupa-se com o que está errado; - Visa modificações na person- alidade. Coaching Aconselhamento - Destina-se a qualquer funcionário; - Menos direto; - Fornece elementos para que o cliente decida se convém mudar. - Destina-se ao funcionário que tem problemas; - Mais direto, procura chamar a atenção do empregado
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