Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DENGUE ETIOLOGIA Os vírus dengue (pertencentes à família Flaviviridae, gênero arbovírus) são transmitidos por mosquitos do gênero Aedes (principalmente o Aedes aegypti e o Aedes albopictus), sorologicamente classificados em quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV- 4. Evidências indicam que, imediatamente após a infecção por um dos sorotipos, o indivíduo estará imune à infecção pelos outros sorotipos por período variável (3 a 6 meses). EPIDEMIOLOGIA Entre 2021 e 2022 houve um aumento de 189,1% nos casos de dengue no Brasil, de acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde. Sendo assim, ocorreram 1.337.413 casos prováveis de dengue (taxa de incidência de 627,0 casos por 100 mil hab.) no Brasil. Para o ano de 2022, a Região Centro- Oeste apresentou a maior taxa de incidência de dengue, com 1.867,3 casos/100 mil hab., seguida das Regiões: Sul (1.018,0 casos/100 mil hab.), Sudeste (494,4 casos/100 mil hab.), Nordeste (398,5 casos/100 mil hab.) e Norte (227,6 casos/100 mil hab.). Foram confirmados 1.304 casos de dengue grave (DG) e 16.114 casos de dengue com sinais de alarme (DSA). foram confirmados 854 óbitos por dengue, sendo 737 por critério laboratorial e 117 por critério clínico epidemiológico. FISIOPATOLOGIA Resposta imune: IFN-y é uma citocina essencial no controle da replicação do vírus da dengue e no processo de cura – concentrações altas dessa citocina foram relacionadas como fator protetor contra febre e alta viremia e também com maiores chances de sobrevivência. Níveis elevados de TNFa, contudo, foram associados a maior severidade no quadro da dengue e trombocitopenia – essa citocina aumenta a permeabilidade endotelial in vitro e níveis elevados foram relacionados a apoptose do endotélio e hemorragia em ratos. Patogênese: é influenciada tanto por fatores do hospedeiro quanto por fatores do vírus, os quais ainda são poucos compreendidos. Acredita-se que a maior permeabilidade vascular na dengue severa é mediada pelo complexo antígeno-anticorpo- complemento: ativação excessiva do sistema complemento contribuiu para o extravasamento dos vasos na dengue grave. QUADRO CLÍNICO Suspeita de dengue: febre, entre 2 a 7 dias de duração, e duas ou mais (náuseas, vômitos, exantema, mialgias, artralgia, cefaleia, dor retro orbital, petéquias, prova do laço positiva, leucopenia). *é necessário notificar todo caso suspeito de dengue* GRUPO A Dengue sem sinais de alarme, sem condição especial, sem risco social e sem comorbidades. GRUPO B Dengue sem sinais de alarme, com condição especial, ou com risco social e com comorbidades. Condições clínicas especiais e/ou risco social ou comorbidades: lactentes (<2 anos), gestantes, adultos > 65 anos, com hipertensão arterial OU outras doenças cardiovasculares, diabetes, DPOC, doenças hematológicas crônicas, doença renal crônica, doença ácido péptica e doenças autoimunes. Devem ter acompanhamento diferenciado. GRUPO C Sinais de gravidade presentes e sinais de alarme ausentes Sinais de alarme para dengue • Dor abdominal intensa • Vômitos persistentes • Acúmulo de líquidos • Hipotensão postural • Hepatomegalia maior do que 2cm abaixo do rebordo costal • Sangramento de mucosa • Letargia e/ou irritabilidade • Aumento progressivo do hematócrito GRUPO D Dengue grave As formas graves da doença podem manifestar-se com: extravasamento de plasma, levando ao choque ou acúmulo de líquidos com desconforto respiratório, sangramento grave ou sinais de disfunção orgânica como o coração, os pulmões, os rins, o fígado e o sistema nervoso central (SNC). Derrame pleural e ascite podem ser clinicamente detectáveis, em função da intensidade do extravasamento e da quantidade excessiva de fluidos infundidos. O extravasamento plasmático também pode ser percebido pelo aumento do hematócrito, quanto maior sua elevação maior será a gravidade, pela redução dos níveis de albumina e por exames de imagem (exemplo: RX de pulmão, USG de abdome). Choque O choque ocorre quando um volume crítico de plasma é perdido através do extravasamento, o que geralmente ocorre entre os dias 4 ou 5 (com intervalo entre três a sete dias) de doença, geralmente precedido por sinais de alarme. Período de extravasamento plasmático e choque leva de 24 a 48 horas, devendo a equipe assistencial estar atenta à rápida mudança das alterações hemodinâmicas. O choque na dengue é de rápida instalação e tem curta duração. Podendo levar o paciente ao óbito em um intervalo de 12 a 24 horas ou a sua recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada; Hemorragias graves Em alguns casos pode ocorrer hemorragia massiva sem choque prolongado e este sangramento massivo é critério de dengue grave. Este tipo de hemorragia, quando é do aparelho digestivo, é mais frequente em pacientes com histórico de úlcera péptica ou gastrites, assim como também pode ocorrer devido a ingestão de ácido acetil salicílico (AAS), anti-inflamatórios não esteroides (AINES) e anticoagulantes. DIAGNÓSTICO Fase inicial (<5 dias): a dengue pode ser identificada por meio do isolamento do vírus (detecção de RNA). >5 dias de infecção: detecção de IgM e/ou IgG. MANEJO GRUPO A Exames complementares: a critério médico. Sintomáticos: paracetamol e/ou dipirona. Bromoprida ou Ondansetrona. *não receitar AAS ou AINES Hidratação oral: Adultos: 60 ml/kg/dia, sendo 1/3 com solução salina e no início com volume maior. Para os 2/3 restantes, orientar a ingestão de líquidos caseiros (água, suco de frutas, soro caseiro, chás, água de coco etc.), utilizando-se os meios mais adequados à idade e aos hábitos do paciente. Crianças e adolescentes: 60 a 80 ml/kg/dia, sendo um terço contendo sais de reidratarão oral e os dois terços restantes formados por líquidos caseiros. *deve-se orientar ao paciente/responsáveis quais são os sinais de alarme da dengue Retorno: a critério do médico e imediato em caso de sinais de alarme. GRUPO B Exames complementares: hemograma completo (resultado em 2-4 horas) – avaliar hemoconcentração. Outros exames devem ser solicitados à critério médico. Manter o paciente em observação e em hidratação oral do grupo A até resultados dos exames. Hematócrito normal: tratamento em regime ambulatorial com reavaliação clínica diária. Orientar sobre sinais de alarme e mesmas prescrições que o grupo A. Hematócrito aumentado e/ou sinais de alarme: conduta do grupo C. GRUPO C Reposição volêmica imediata Exames complementares obrigatórios: • Hemograma completo • Dosagem de albumina sérica e transaminases • Exames de imagem: RA de tórax e ultrassonografia de abdome. • De acordo com a necessidade: glicose, ureia, creatinina, eletrólitos, gasometria, ecocardiograma. • Exames específicos de sorologia/isolamento viral. Tratamento adulto: • Fase de expansão: hidratação IV 20 mL/kg/h em duas horas, com soro fisiológico; • Reavaliação clínica e de hematócrito em 2h após a etapa de hidratação; • Repetir fase de expansão até 3 vezes se não houver melhora do hematócrito ou dos sinais hemodinâmicos. Se mesmo assim não melhorar, conduzir como grupo D. • Fase de manutenção: o 25mL/kg em 6 horas o Se melhora: 25ml/kg em 8 horas sendo 1/3 de soro fisiológico e 2/3 de soro glicosado GRUPO D Exames diagnósticos: • Hemograma completo • Dosagem de albumina sérica e transaminases • Rx de tórax e USG de abdome. • Outros exames conforme necessidade: glicose, uréia, creatinina, eletrólitos, gasometria, TPAE, ecocardiograma. • Sorologia/ isolamento viral; Conduta terapêutica: • UTI • Reposição volêmica o 20 mL/Kg em até 20 mino Repetir até 3 vezes, se necessário • Reavaliação clínica a cada 15 minutos e de hematócrito a cada duas horas. • Em caso de melhora: retornar para conduta do grupo C • Em caso de resposta inadequada: o Hematócrito em ascensão + choque = utilizar expansores plasmáticos (albumina ou coloides sintéticos) o Hematócrito em queda + choque = investigar hemorragias e coagulopatia de consumo o Se hemorragia, transfundir hemácias o Avaliar necessidade de uso de plasma, vitamina K e crioprecipitado em caso de coagulopatia. • Em caso de hematócrito em queda sem sangramentos: o Se instável, investigar hiper volume, ICC, tratar com diminuição da infusão de líquido, diuréticos e inotrópicos, quando necessário; o Se estável = melhora clínica CRITÉRIOS DE ALTA HOSPITALAR Devem ter todos os 6 critérios: • Estabilização hemodinâmica durante 48 horas • Ausência de febre por 48 horas • Melhora visível do quadro • Hematócrito normal e estável por 24 horas • Plaquetas em elevação e acima de 50.000 CLASSIFICAÇÕES Caso confirmado de dengue clássica: caso suspeito confirmado laboratorialmente. Febre hemorrágica da dengue: caso confirmado laboratorialmente e com todos os seguintes critérios: • Febre ou história de febre recente de sete dias • Trombocitopenia (<100 mil) • tendências hemorrágicas evidenciadas por um ou mais dos seguintes sinais: prova do laço positiva, petéquias, equimoses ou púrpuras, sangramentos de mucosas do trato gastrintestinal e outros • extravasamento de plasma devido ao aumento de permeabilidade capilar, manifestado por: o hematócrito apresentando aumento de 20% sobre o basal na admissão; o queda do hematócrito em 20%, após o tratamento adequado; o presença de derrame pleural, ascite ou hipoproteinemia.
Compartilhar