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Nutrição funcional fertilidade e gestação

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C]uJ, enl1 ~ CG/nf a, 7J'P Cenlü3 00 
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Projeto gráfico e editorial, ilustrações, diagramação, editoração: Bárbara 
F era c in Meira 
Capa: Leonardo Paschoal Rodrigues 
Impressão: A.R Femandez Pré-Impressão e Gráfica Ltda. 
1 a edição - São Paulo - SP- Brasil 
M357n 
Marques, Natália; Serpa, Fernanda; Teixeira, Michelle. 
Nutrição Clínica Funcional: da fertilidade à gestação I Natália Marques, Fernanda 
Serpa, Michelle Teixeira -- São Paulo: Valéria Paschoal Editora Ltda., 2018. --
(Coleção Nutrição Clínica Funcional). 
312 p.; 24 em x 17 em. 
ISBN 978-85-60880-33- 1 
1. Nutrição funcional. 2. Gestação. 3. Fertilidade. I. Marques, Natália. li. Serpa, 
Fernanda. III. Teix.eira, Michelle. IV. Título. 
CDU : 613.2 
Fernando Ser,oo 
Sócia-diretora Nutconsult. Nutricionista graduada pela Universidade Estadual do Rio de 
Janeiro- UERJ. Título de Residência em Clínica Médica - HUPEIUERJ. Mestrado em 
Clínica Médica - IPPMGIUFRJ. Docente dos cursos de Pós-graduação e extensão pela 
Universidade Cruzeiro do Sul, em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Pós-
graduada em Nutrição Clínica Funcional e em Fitoterapia Funcional pela Universidade 
Cruzeiro do Sul, em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Nutricionista 
militar do Quadro de Saúde do Corpo de Bombeiros do RJ. Nutricionista da Secretaria 
Municipal de Saúde do RJ. 
!'1ichelle T eixeiro 
Nunicionista pela UNIRIO. Doutora e Mestre em Fisiopatologia Clínica e Experimental 
pela UERJ. Especialista em Nutrição Clínica pela UFRJ. Pós-graduada em Nutrição 
Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul, em parceria com a VP Centro de Nutrição 
Funcional. Atualmente professora do Curso de Nutrição da UNIRIO, com área de 
conhecimento em nutrição materno infantil e avaliação nutricional. 
Natália Mo.·ques 
Nutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Nutrição 
Materno Infantil. Pós-graduada em Nutrição Esportiva Funcional e em Fitoterapia pela 
Universidade Cruzeira do Sul, em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. 
Formada pelo Institute for Functional .A1edicine. Mestre em Ciências da Saúde, setor 
de Nefrologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Doutora no setor de 
Cosmiatria da UNIFESP. Docente dos cursos de pós-graduação e extensão em Nutrição 
Clínica Funcional, Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional e coordenadora 
científica da pós-graduação em Fitoterapia Funcional, em Nutrição Clínica Funcional e 
em Nutrição Funcional da concepção à adolescência pela Universidade Cruzeiro do Sul. 
em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. 
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Comi/o Freire 
Nutricionista formada pela Universidade de Brasília com especialização em "Gastronomia 
e Saúde"- CET UNB. Curso de cozinheiro profissional SENAC- RJ."'\l", especialista em 
Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul, em parceria com a VP 
Centro de Nutrição Funcional. 
Cobrielo fV/oio 
Formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pós-graduada em 
Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul, em parceria com a VP 
Centro de Nutrição Funcional. Pós-graduada em fitoterapia (Instituto Brasileiro de 
Plantas Medicinais (IBPM/FIOCRUZ)) - 2009. Atendimento ambulatorial no hospital da 
Gamboa- Santa casa de misericórdia! RJ. Atendimento em consultório particular desde 
2009 - Ipanema!RJ. 
1'1orio Cloro Rodrigues 1'1irondo 
Nutricionista. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e Fitoterapia pela Universidade 
Cruzeiro do Sul, em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Especialista em 
Nutrição Clínica pelo GANEP. Colaboradora do livro "Nutrição Clínica Funcional: 
câncer" da VP Editora. Diplomada pelo The Institute for Funcional Medicine. Docente 
do curso de pós-graduação de Nutrição Clínica Funcional, disciplina de "Gastronomia 
Funcional" e do curso Fitoterapia Funcional, na disciplina de Ervas e Especiarias, da 
Universidade Cruzeiro do Sul, em parceria com a VP Centro de Nutrição FuncionaL 
Polomo T usset 
Nutricionista. Mestrado em Medicina: Ciências Médicas pela Universidade Federal 
do Rio Grande do Sul. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e pós-graduanda 
em Fitoterapia pela Universidade Cruzeiro do Sul, em parceria com a VP Centro de 
Nutrição FuncionaL Atualmente realiza atendimento clínico em consultório de nutrição 
e é nutricionista do Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento. Docente nos cursos 
de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul, em 
parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Sócia e responsável técnica da empresa 
Nutriente Alimentos Funcionais. 
Wagner dos Reis 
Nutricionista formado pelo Centro Universitário Newton Paiva/BH. Especialista em 
F armação Pedagógica para Profissionais de Saúde pela Escola de Enfermagem da 
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduado em Nutrição Esportiva 
Funcional e Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul, em parceria com 
a VP Centro de Nutrição Funcional. Pós-graduando em Nutrição Clínica Funcional pela 
Universidade Cruzeiro do Sul, em parceria com a VP Centro de Nutrição FuncionaL 
Docente convidado do curso de pós-graduação da Universidade Cruzeiro do Sul, em 
parceria com a VP Centro de Nutrição FuncionaL Docente da Escola Técnica Profissional 
de Nível Médio do SITIP.AJ'-l"- MG. Nutricionista e diretor do Espaço Wagner dos Reis. 
Personal Nutrition FuncionaL Realiza palestras em empresas, escolas e academias. 
Capítulo 1. Nutrição Pré-gestacional .............•...................................................... 6 
7.7 Fertilidade Masculina ...... ...... ..... .......... ... ....... ............................. ...... ............. 8 
7.2 Fertilidade Feminina ..... ... ........ ..................... ...... ...... ~ ............ ....................... 38 
Capítulo 2. A Bioquímica da Gestação ............................................................... 52 
2.1 Embriologia Humana e a Nutrição ...................... : ..................... ..................... 53 
2.2 Ajustes Fisiológicos da Gestação .... .. .......................... .............. .............. ....... 66 
2.3. Programação Metabólica ...................... ... ...... .......... ................................... 90 
Capítulo 3. Gestação na Prática da Nutrição .................................................... 12 1 
3. 1 Recomendações Nutricionais ..... ... ................................................... .......... 722 
3.2 Suplementação e Fitoterapia na Gestação ... .................. .. ...... .. ............ ..... ... 779 
3.3 Avaliação Antropométrica ..... ............ ....... ......... ....................... ... ....... ..... .... 187 
3.4Yroblemas Comuns e seus Manejos .......... ... ......... ..... .... ..... .. .. .... ... ..... .. .... ... 2 1 O 
3.4. 1 Náuseas e Vômitos ................ .... .... ................ ........................................... 2 1 O 
3.4.2 Crises Hipertensivas ............................ ................ .. ........... ..... ............. ..... 223 
3.4.3 DiabetesGestacional ...................................................................... ......... 244 
3.4.4 Infecção Urinária ...... .. ....... ...... .. .. .... ... .... ......... ........ .......... .. ................. ... 267 
Capítulo 4. Gestantes em Situações Especiais ................................................... 2 71 
4.1. Gestante Adolescente .................................................................. ... ... ........ 272 
4.2. Gestação Múltipla ....................................................... .............................. 277 
4.3. Gestante HIV Positivo ... ... .. .............. ...... ... ..... ... ........... .. .. .. ............ ... ......... 284 
Anexos - Receitas Funcionais ............................................................................ 288 
Receitas para o Desjejum ..... .. ................. .................. .................. ...................... 290 
Receitas de Lanches Intermediários .... ..... ... .... ......... ................................. ..... .... 293 
Receitas para o Almoço ....... ... .................... .. .... .... .. ... .... .... ...... ... .... .... ......... ..... 295 
Receitas para o Jantar sem Proteína Animal ............... ..... ......... ...... .... ..... ....... .... 299 
Receitas com PANC .................... .......... ........ ............ ...... .................................. 306 
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Numçéc C ír' cc ::::...;~c:cnai: c::: f2r7iliccce c ~:açrcçé:o 
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Not6/io fvlorques 
A gestação é um processo de grande desafio químico e nutricional. Por ser um 
processo intenso de divisão e diferenciação celular, o requerimento de nutrientes 
é alto, para que o embrião se desenvolva plenamente. Todavia, também é uma fase 
muito susceptível às variações do ambiente externo. Isso porque, diferente do que 
se pensava há algumas décadas, o elo de conexão mãe-embrião é a placenta, que é 
permeável para nutrientes, água, oxigênio, mas também aos xenobióticos 1• 
Xenobióticos são substâncias químicas estranhas ao organismo, que quando 
lipossolúveis passam pelo processo de modificação química da destoxificação para 
serem eliminados do corpo. Porém, a placenta sendo permeável a xenobióticos, 
os mesmos podem se depositar nos tecidos em desenvolvimento, modificando-
os em expressão gênica e acarretando doenças crônicas na vida pós-natal, 
como síndrome plurimetabólica e doenças neurológicas. A placenta é também 
permeável a diversos hormônios, sobretudo os lipossolúveis, como o cortisol, 
frequentemente aumentado de maneira negativa pelo estresse ambiental, e que 
também pode trazer modificações ao embrião2• 
Em pleno século XXI, onde os recursos médicos e a tecnologia são avançados, 
o número de doenças crônicas ainda tem aumentado, e muitas delas têm origem 
na vida intrauterina3. 
A resistência imunológica e a vitalidade positiva podem ser alcançadas com 
mudanças no padrão ambiental, e alguns dos principais pilares são a nutrição e 
a individualidade, que também devem contemplar esse momento de concepção. 
A história nutricional começa muito antes da fecundação. Bioquimicamente, os 
organismos feminino e masculino precisam se preparar, modulando as disfunções 
hormonais e nutrindo as células germinativas, conforme será elucidado no 
presente capítulo. 
Referênc ias b ib liográficos 
1. DAWSON, P.A. et ai. Review: Nutrient sulfate supply from mother to fetus: Placenta! adaptive 
responses during human and animal gestation. Placenta; 54:45-51, 2017. 
2. ZHANG, C. et ai. Prenatal xenobiotic exposure and intrauterine hypothalamus-pituitary-adrena l 
axis programming alteration. Toxicology; 325:74-84, 2014. 
3. PEMBREY, M. et ai. Human transgenerationa l responses to early- life experience: potential 
impact on development, health and biomedical research . J Med Genet; 51(9} :563-72, 2014. 
~'•Uinçéc Cín co c,...:nc:cncl: do fenidcce à :;es-cçáo 
1.1 Feri·ilidode Moscuiinc1 
Notólio fVlorques 
O processo de fertilidade diz respeito à capacidade do organismo em produzir 
gametas morfologicamente funcionais e capazes de gerar uma nova vida1• Já 
a infertilidade pode ser definida pela não ocorrência de gravidez após um ano 
de relacões sexuais sem método contraceptivo2• Alguns autores sugerem que a 
infertilidade afete, atualmente, de 9-10% da população adulta3 e esse número vem 
sendo ampliado: em 1990, a infertilidade afetava cerca de 42 milhões de casais no 
mundo e, em 2010, esse número subiu para 48,5 milhões4 . 
Os fatores complicadores podem estar tanto no sexo masculino quanto no 
feminino. Problemas masculinos respondem por 60% ·dos casos de infertilidade 
de casais5• Entre os homens, a infertilidade está principalmente relacionada à 
disfunção nas etapas da espermatogênese. Esse problema pode ser genético6•7 ou 
induzido por desequilíbrios hormonais8·9 , estresse psicológico4 ou xenobióticos 10.1 1. 
A análise da fertilidade masculina é rotineiramente analisada através do 
espermograma. Como pode ser visto no Quadro 1, considera-se como parâmetros 
de qualidade do sêmen alguns pontos como volume, pH, contagem total de 
espermatozoides, motilidade, vitalidade e morfologia. Vale lembrar que esse é 
um exame que deve ser solicitado por médico e o diagnóstico deve ser realidado 
por esse mesmo profissional. 
O critério de normalidade do esperma pela Organização Mundial da Saúde 
(World Health Oganization - WHO)l2 é de 15 milhões de espermatozoides/ml 
(Quadro 1) . Porém, pesquisadores demonstraram que a fertilidade reduz com 
uma concentração de espermatozoides inferior a 30milhões/ml e, nos últimos 
15 anos, têm relatado uma média de 41-55 milhões/ml para homens de 18-21 
anos. Contudo, a qualidade do esperma tem reduzido nas últimas décadas e as 
razões ainda não estão totalmente elucidadas, mas sugere-se a associação com 
a exposição a substâncias químicas já no ambiente intrauterino, sobretudo os 
disruptores endócrinos 13 .14• 
Q uadro 1. Parâmetros de normalidade do espermogromo. 
Liquefação 
Volume (mL) 
pH 
Parâmetro no sêmen 
Número total de esperma 
Concentração de esperma 
Motilidade total do esperma 
Motilidade progressiva do esperma 
Vitalidade 
Morfo logia normal 
Células positivas para peroxidase (leucócitos) 
Fonte: Adaptado de: World Health Organization12 
Valor de referência mínimo 
<60min 
;:: 1.5 
<:7.2 
<:39milhões I ejaculado 
<:lSmilhões l m l 
<:40% 
<:15.6milhões I ejacu lado 
<:32% 
2:12.Smilhões I ejacu lado 
<:58% 
<:22.6m ilhões I ejaculado 
<:4% 
<:1.6milhões I ejaculado 
<lmilhão/ m l 
Nu·nçêo C 'ín c ;:, =L.:-c:cr.o•: do f~r '"ilicoc~:? :: ~e~"ccóc 
O 2stress ~2 gcrcao peio infcdi lic!cd-e 
O equilíbrio emocional pode sofrer impacto da longa história de infertilidade, 
como mostrou o estudo de Moura-Ramos et al.4 com o acompanhamento de 70 
casais em tratamento hormonal para infertilidade. O insucesso da gestação por 
si só já é um processo estressante, tendo impacto negativo na vida diária e do 
casaP5. Esse fator de estresse para os homens que desejam a paternidade está 
associado ao aumento na ansiedade e sintomas depressivos. O mesmo ocorre para 
as mulheres, porém para essas, com o histórico de tentativas frutadas de gestação 
superior a 6 anos, há uma redução no processo de depressão4·15 . 
Para os casais que estão em tratamento de fertilidade, a ansiedade pode estar 
relacionada à expectativa. No início do tratamento pode haver muita frustração e 
sentimento de perda, que geram o processo depressivo. Com o passar dos anos, 
há uma adaptação emocional e redução nesse processo4 • E qual a relação dessa 
frustração e depressão com a nutrição? 
O estresse psicológico pode ser definido como uma experiência emocional 
desconfortável acompanhada por respostas bioquímicas, fisiológicas e mudanças 
comportamentais8. Para homens, a experiência da infertilidade ou uma alteração 
nos parâmetros de qualidade do sêmen podem ser fatores estressantespsicológicos. 
-A questão central é que estresse gera estresse. Nesse caso, o fator estressor de 
insucesso na gestação pode, no homem, provocar uma alteração hormonal com a 
queda na produção de testosterona e diminuição na espermatogênese. Isso porque 
o estresse age no Sistema Nervoso Central (SNC), modificando o eixo hipotálamo-
pituitária-adrenal, inibindo o eixo hipotálamo-pituitária-gonadal8·9 que, por sua 
vez, atua nas células de Leydig nos testículos. Além disso, pode resultar na queda 
da ação da testosterona e mudanças nas células de Sertoli, incluindo redução 
da barreira hemato-testicular, aumentando ainda mais a influência negativa do 
ambiente na espermatogênese9. Todas essas etapas serão descritas a seguir. 
Funcionamento 
masculino 
do sistema reprodutor 
Os gametas masculinos são os espermatozoides maduros, células haploides 
altamente especializadas, com 22 cromossomos autossomas e 1 cromossomo 
sexual, que pode ser X ou Y. São formados basicamente por 3 diferentes partes 
(Figura 1 )16 : 
a) cabeça, composta pelo acrossoma (recoberta por uma capa de glicoproteína) 
e o núcleo (de cromatina densa), onde se encontra a carga genética e uma grande 
concentração de nutrientes, que terão papel essencial na fertilização do óvulo; 
b) peça intermediária, composta pelo axonema e fibras densas, com uma 
. . 
: 9 ·. 
bainha em espiral mitocondrial, essencial para o fornecimento da energia que 
gerará o movimento do esperrnatozoide; 
c) cauda, composta por células que geram movimento, ou seja, uma bainha 
fibrosa colunas lonaitudinais e anéis circulares que compõem o segmento central 
' o 
e estão distribuídos de tal forma a garantir o movimento ondulatório. 
Figuro 1. Estruturo dos espermotozo ides maduros 
A ~·················· ... 
Hipotálamo <~~ · ·· · · ·· ·· · · · .. \ ._ 
....... '": 
"\ Kisspeptina 
~ 
GnRH 
........... 
':>. • 
..... ···· . 
..... - --~·· · · ···+ Pituitária 
_.····· FSH LH 
Peça principal 
Acrossoma 
intermediária 
mitocondrial ' . Peça term1nal da cauda 
Fonte: Adaptado de: Page et al. 16 
Célu las 
~de . 
Leydig_.-· Cü · 
: ~ 
.... -S' .. · l -tl 
,<:r ~'li 
v; .._o 
Testosterona ~ 
Interstício testicular 
DHT ~ 
Os esperrnatozoides são formados no processo de espermatogênese que ocorre 
nos túbulos seminíferos do testículo, a partir da puberdade. Há 2 tipos de células, 
as espermatogônias A e B. As espermatogônias A são células tronco (stem cells), 
que se dividem por mitose e se diferenciam em espermatogônias B e estas, no 
processo de divisão celular, se diferenciam em espermatócitos primários 17. 
O metabolismo do espermatócito primário é alto, com intensa produção de 
RNAm para a produção de protoaminas. Essas proteínas são ricas em arginina 
e cisteína, aminoácidos capazes de deslocarem as histonas nucleares (ricas em 
lisina), permitindo a compactação da cromatina. Durante a espermiogênese o 
núcleo do espermatócito reduz de tamanho, condensa seu material cromossômico 
e substitui as histcnas por protoaminas. Uma série de alterações ocorre em 
cascata para preparar o espermatócito primário para entrar em meiose I. Ao 
término dessa fase são gerados dois novos espennatócitos secundários. Esses, 
por sua vez, iniciam a meiose II, gerando duas espennátides cada. Elas entraram 
em um processo de maturação denominado espermiogênese, originando, assim, 
os espermatozoides7·17 (Figura 2). 
. . 
: 10 ·. 
Figuro 2. Modificações cpigenéticcs dL.;ronte o es~errroto­
gêncse 
. PGCs 
-->>oNA,A3K4 e H3R9desmetilãÇão -----
~~ » Apagamento do imprinting : /" 
• '» H4 desaceti tação · 
...:.. » ~pr:es.sã.o_d.e_D.~MT3~ ... DJ~MI3_B_e_DtlJl\i.1T3V 
/ ... _. ": : 
» M etilação progressiva do DNA 
» Estabelecimento da meti laçffio paterna tME!iME] 
MEJ ,,. . ... 
----~ c 
.. C G G 
G _, -
.... --
--------------------~ 
) • ) >> H3K9 metilação ~/»· H3K4 m.etilaçãp 
Histona 
» ManutençãO da: metilação do DNA 
» 9esmetilação de H3K9 
» Tra~sição deTPs P.ara protaminas ---.... 
Protaminas 
Fonte: Adaptado de: Stuppia et aP 
Todo esse processo ocorre nos testículos, os quais como outras glândulas 
do corpo, respondem a uma cascata hormonal, iniciada pelo SNC. Conforme 
observado na Figura 1, através da formação hipotalâmica da kisspeptina e do 
GnRH, a pituitária libera dois hormônios na circulação: hormônio folículo 
estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH). O LH tem ação nas células 
de Leyding, liberando a testosterona, que por sua vez tem ação nas células de 
Sertoli (localizadas nos túbulos seminíferos). A testosterona, junto com o FSH, 
libera a inibina B que gera feedback negativo na pituitária e também favorece o 
amadurecimento dos espermatozoides16• 
Há receptores de T3 (tri-iodotironina) nas células germinativas, células de 
Sertoli, Leydig e as células peritubulares. Portanto, qualquer disfunção tireoidiana 
pode ter reflexo na fertilidade. O T3 estimula a secreção de lactato, bem como a 
expressão do Ri'JAm para a inibina alfa, receptor andrógeno, IGF-1 e IGFBP-4. 
Nas células de Sertoli ainda inibe a expressão do Rl"'J"Am para aromatase, receptor 
de estradiol, proteína ligadora de andrógeno (ABP- androgen bind protein) e 
sua secreção. Nas células de Leydig aumenta os níveis de RNA..t.11. para enzimas 
envolvidas na esteroidogênese e para proteínas de regulação 18 . 
Os andrógenos são hormônios esteroidais que determinam a expressão 
do fenótipo masculino e mantêm a espermatogênese ativa. Sua ação se inicia 
pela ligação ao receptor nuclear para andrógenos (AR), que liberam fatores de 
transcrição, os quais regulam a expressão de genes responsivos aos andrógenos, 
controlando a diferenciação e o número de células funcionais de Leydig19. 
Vale lembrar que o processo de espermatogênese é altamente dependente 
da comunicação autócrina e parácrina entre os diferentes tipos celulares do 
testículo20 • A atividade dos receptores de andrógenos nas células de Sertoli inclui 
a maturação dos testículos, formação dos túbulos seminíferos e a expressão das 
tight-junctions nas células de Sertorli21. 
As células de Sertoli têm também a importante função de formar uma 
barreira hematotesticular. Esta barreira separa o túbulo seminífero em dois 
compartimentos: basal (onde ocorre o início da meiose) e adluminal (onde o 
processo da espermatogênese é finalizado). Ela é fundamental na proteção do 
processo de espermatogênese e também reduz a entrada de xenobióticos vindos da 
circulação sistêmica. A barreira também protege contra a liberação das proteínas 
produzidas no processo de meiose I para o sangue, visto que geneticamente elas 
já são diferentes das contidas nas espermatogôneas, o que poderia causar uma 
resposta imunológica com a formação de anticorpos anti-espermatozoides17•22• 
As células de Sertoli, pelo seu contato com a circulação sanguínea, é o grupo 
celular responsável pela nutrição das células espermáticas. Também produzem 
ABP, inibina, estrógenos e outras proteínas. 
O processo hormonal envolvido se baseia na presença ·de testosterona, LH 
e FSH. Mas compreende uma cascata complexa. Inicia-se com a presença do 
colesterol e das enzimas do citocromo P450 que catalisam a primeira etapa do 
processo para todos os hormônios esteroidais. Este processo envolve a utilização 
de 3 moléculas de oxigênio, 3 moléculas de NADPH e transferência de elétrons 
na mitocôndria. Este substrato serve para 3 reações sequenciais de modificação 
do colesterol. A P450 é expressa no córtex da adrenal e nos testículos, nas 
células de Leydig. A aromatase CYP 19 catalisa a conversão do andrógeno C 19, 
androstenediona, testosterona, estrógeno C 18, estrona e estradiol. Essa reação 
envolve uma transferência de elétrons do citocromo P450 redutase e 3 moléculas 
de oxigênio e NADPH 17·22. Os espermatozoides ejaculados contêm a citocromo 
P450 ativa23 , que será importante no processo da fecundação . 
Naseem et alY demonstraram que apenas altas concentrações de colesterol 
dentro das células esteroidogênicas não promovem a conversãoem testosterona. 
A testosterona seminal é fundamental para a espermatogênese. Uma redução de 
2/3 nesse nível pode não alterar diretamente a espennatogênese, mas reduz a 
razão na produção de espermatozoides. 
A expressão da aromatase no testículo corresponde à secreção do estradiol. 
A aromatase já foi detectada na célula de Leydig, mas é ausente nas células 
de Sertoli, em adultos saudáveis. Fisiologicamente, a atividade da aromatase 
contribui para a produção de estradiol, e este também participa do processo 
de espermatogênese em mamíferos25 . A ausência dessa enzima contribui com 
o • 
: 12 ·. 
a esterilidade. Entretanto, seu excesso também é prejudicial, pois acaba por 
reduzir a síntese de testosterona, aumentando os riscos de infertilidade. O uso de 
inibidores de aromatase teve sua eficiência demonstrada na melhora da relacão 
estradiolltestosterona em homens adultos26• , 
Essas estruturas celulares do testículo ainda respondem aos receptores de 
glicocorticoides que, nas células de Sertoli, auxiliam na formação dos túbulos 
seminíferos, no controle de meiose e na formação final dos espermatozoides. 
Parece, ainda, controlar a circulação de LH, a sua ligação no receptor e o 
controle hormonal de testosterona e di-hidrotestosterona. Em outras palavras, 
os glicocorticoides mantêm o funcionamento das c'élulas germinativas e as 
gonadotrofinas na circulação2í . 
Existe uma queda de funcionalidade dos espermatozoides a partir dos 30 anos, 
porém, sem comprometer diretamente a fertilidade masculina. Entretanto, uma 
pesquisa longitudinal acompanhou por 1 O anos um grupo de homens jovens na 
Finlândia, e observou que a espermatogênese é mais ativa aos 19 anos, porém, 
a capacidade funcional (motilidade e morfologia) é melhor aos 29 anos28. Os 
pesquisadores não relacionaram esse resultado diretamente à produção hormonal. 
Redução na função das células de Leydig pode ser compensada pelo aumento 
na concentração de LH combinada com a produção adequada de testosterona, 
porém, com baixa qualidade do esperma. Uma pesquisa multicêntrica, com 8182 
homens jovens, mostrou essa compensação, contudo, alegaram que uma redução 
na função das células de Leydig pode propiciar uma deficiência de testosterona 
em outro momento da vida. Nesse grupo analisado, o nível sérico de testosterona 
não estava associado à concentração de esperma, ao total na contagem de 
espermatozoides, e nem à mudança morfológica. Todavia, houve uma correlação 
inversa entre os parâmetros de sêmen e o nível sérico de LH, mostrando uma 
correlação positiva entre testosterona/LH e testosterona livre/LH29. 
Obesidade e o qualidade do esperma 
A obesidade é caracterizada por um excesso no acúmulo de gordura no tecido 
adiposo e em diversos órgãos. Atualmente, é considerada uma doença crônica 
degenerativa e está associada a diversas morbidades, como diabetes, hipertensão, 
doenças coronarianas, apneia do sono e câncer. Tem como base o processo 
inflamatório crônico, que conduz disfunções sequenciais nos sistemas endócrino, 
imunológico e neurológico. Dessa maneira, reduz a produtividade do organismo 
e aumenta o envelhecimento teciduaP0·31 . 
É um problema de saúde desde 1980 e, atualmente, de alta prevalência. 
Segundo a OMS, em 2014, eram 1,9 bilhões de adultos (a partir 18 anos) 
com sobrepeso e, aproximadamente, 600 milhões de obesos. Entre os adultos, 
39% eram de sobrepeso e 13% de obesos. Entre as crianças, os números são 
igualmente alarmantes. Estima-se que 41 milhões de crianças (sendo 35 milhões 
em países desenvolvidos) a partir de 5 anos apresentavam, em 2014, sobrepeso 
. . 
: 13 ·. 
ou obesidade31 • Outras 92 milhões de crianças já apresentavam fatores de risco 
para obesidade em 2010 e, em 2020, estima-se que serão 60 milhões de obesos 
no mundo32. 
Por um lado, é possível observar a pandemia da obesidade crescendo e, por 
outro, a fertilidade masculina decrescente. Isso porque a obesidade pode impactar 
negativamente na fertilidade tanto quanto as disfunções testiculares, como a 
varicocele e criptorquidismo. A obesidade, sobretudo pela presença do processo 
inflamatório crônico, influencia a proteômica dos espermatozoides, sua morfologia 
e a mudança na ação dos hormônios sexuais e, com isso, reduz os parâmetros de 
qualidade do sêmen33·34. Sugere-se, também, uma rehição de disfunção associada 
à produção hormonal modificada, com aumento na circulação sistêmica de 
hormônios produzidos pelo tecido adiposo33 . Ainda, homens obesos apresentam 
26% a menos de produção na inibina B, reduzindo, consequentemente, sua ação 
nas células de Sertoli e o número de células germinativas35. 
Uma análise envolvendo 423 homens de 20-22 anos demonstrou que o 
criptoquidismo está associado a uma redução testicular no volume de esperma, na 
concentração e capacidade dos espermatozoides. A varicocele, por sua vez, está 
associada a um menor volume testicular, menor concentração de espennatozoides 
e redução sérica de inibina B. Dentre os participantes com maior IMC, foi 
encontrado uma correlação negativa com o volume de esperma, com a contagem 
de esperrnatozoides, com níveis séricos de LH, inibina B, testosterona, e di-
hidrotestosterona (DHT)l3 • 
O IMC tem associação pos1ttva com a infertilidade em ambos os sexos, 
independente da faixa etária34. Um grupo de pesquisadores verificou dificuldades 
de ereção em aproximadamente 96,5% de seus participantes com síndrome 
plurimetabólica36. 
Entretanto, na fertilidade masculina, ainda não há um consenso na literatura, 
possivelmente pelo fato de a obesidade ser um processo multifatorial causador 
de múltiplas alterações. Um estudo longitudinal com dados de 4 anos de análise 
do sêmen e do sistema hormonal de 175 homens adultos, evidenciou que no 
aspecto hormonal ocorreu uma correlação negativa do IMC com testosterona 
total, testosterona livre e SHBG (proteína ligadora de hormônios sexuais). Dois 
dados interessantes demonstrados foram que um período menor que 2 dias de 
abstinência foi negativamente associado com o volume de sêmen; e a época 
do ano de verão pode ocasionar redução nos espermatozoides, por provável 
desidratação e aumento da temperatura na bolsa escrotaP. 
Bandel et aJ.38 mostraram, após análise do esperma de 1503 homens, que 75% 
dos pacientes com sobrepeso tinham condicões de fertilidade nreservadas. Os 
pesquisadores argumentaram que a presenÇa do excesso de p~so, de maneira 
isolada, não está associada à lesão de DNA no espennatozoide, ass1m como 
nenhum outro parâmetro de análise da qualidade do esperma. 
Esses resultados podem ser explicados por dois processos: a) a obesidade está 
. . 
: I 4 ·. 
,\lu--:c'Sc C:ínrcc: Fr_nc1ono.: c:o f-?r~:iicode b -::;.:::-;t-:::ctc . " . 
muitas vezes relacionada com disfunções como a inflamação crônica, diabetes e 
dislipidemia, que possuem relação positiva com o aumenta no estresse oxidativo 
celular, e esse processo pode causar toxidade e redução nas células :funcionais33 ; b) 
a prevalência de tecido adiposo no adulto é do tipo branco, que tem alta atividade 
de aromatase e alta produção de hormônios e, por conta disso, os homens obesos 
normalmente apresentam aumento do estradiol e redução de testosterona e FSH. 
Esse desequilíbrio pode ser explicado pelo aumento na atividade da aromatase do 
tecido adiposo, que transforma testosterona livre em estradioP9. 
Outro ponto importante a ser considerado é o fato de que o tecido adiposo 
visceral atua como disruptor endócrino, resultando em redução de LH e 
testosterona. Há a secreção de aproximadamente 30 peptídeos bioativos e 
proteínas, como leptina e adiponectina. Esses hormônios agem na homeostase, 
regulando o consumo alimentar e o balanço energético, ação da insulina, lipídeos 
e glicose, angiotensina, remodelamento vascular, coagulação e controle da 
pressão40• Para o sistema reprodutor, o aumento nessa produção pode acarretar 
várias consequências, como por exemplo, o aumento de leptina, que contribui 
com a redução nos níveis de andrógenos. 
Outraquestão que merece destaque é o acúmulo de xenobióticos em tecido 
adiposo. Esses podem ser acumulados também na bolsa escrotal e testículos, 
agindo como disruptores endócrinos41 , como descrito a seguir. 
-Ainda que sem um consenso na literatura, a obesidade acarreta muitas 
disfunções, e a possibilidade de mudança na proteômica do espermatozoide pode, 
ainda, acarretar polimorfismos no embrião a ser formado, aumentando o risco 
para doenças crônico-degenerativas. 
Dessa maneira, uma conduta importante é a promoção da perda de peso e 
manutenção de peso saudável para auxiliar na normalização hormonal e, dessa 
maneira, garantir a vitalidade positiva dos pais e filhos. 
Xenobióticos e o fertilidade 
A fertilidade masculina tem reduzido nas últimas décadas, conforme discutido 
no tópico anterior, juntamente com a piora na qualidade do sêmen. Apesar da 
etiologia ainda não estar totalmente esclarecida, sugere-se que o aumento da 
exposição aos xenobióticos e a menor disponibilidade de nutrientes contribuam 
para esse quadro42. Algumas patologias, como as doenças hepáticas, também 
podem afetar a produção de espermatozoides. Por exemplo, já foi demonstrado 
que aproximadamente 80% dos homens com hemocromatose apresentam 
disfunção testicular3 . 
Apesar da grande contribuição das alterações funcionais para a infertilidade 
masculina, existem duas categorias de alterações genéticas que devem ser 
consideradas: microdeleção no cromossomo Y e o polimorfismo de genes 
envolvidos na função mitocondrial. Essas deleções podem ocorrer por alteração 
no mecanismo epigenético na mitose e meiose. A interação do homem com 
. . 
-: 15 :-
i' ld r;çéc Clír 1cc =,~nc·cr~oc do 'edi1idcce c ~8'>k:côc 
meio ambiente, determinando o fenótipo, pode, por meio de agentes ambientais, 
modificar a expressão gênica, a qual pode ser passada à próxima geração, não 
como doença congênita, mas corno uma característica de vulnerabilidade ao 
ambiente7• 
Essas alterações ocorrendo nas células germinativas afetam desde a 
gametogênese até o desenvolvimento do embrião. Nos meninos, durante a vida 
fetal, a espermatogênese já começa na parede dos túbulos seminíferos, formando 
as espermatogônias. Posteriormente, na puberdade, o processo continuará. 
Dessa maneira, o ambiente interferirá no processo durante a gestação e também 
na adolescência, fases essas conhecidas pela abertura da janela de modificação 
gênica7• 
O contato com disruptores endócrinos no adulto pode afetar a qualidade 
do sêmen e também os hormônios sexuais. Apesar de ainda não totalmente 
esclarecidos, é sabido que seu efeito é cumulativo mesmo em exposição a baixas 
doses. Observar o ambiente e fazer ajustes é uma conduta adequada como medida 
de prevenção na redução da fertilidade11 • 
O problema da fertilidade pode também estar relacionado à Síndrome de 
Disgenesia testicular, com quatro condições: criptorquidismo, hipospádia, 
bloqueio de espermatogênese e câncer de testículo. A síndrome possui diversos 
sintomas interligados, incluindo genética e fatores ambientais, sobretudo a 
interferência de disruptores endócrinos, como os ftalatos . Pode ser iniciada na 
fase intrauterina, coma modificação do fenótipo masculino10. Isso porque o sexo 
masculino está susceptível à androgenização vinda de xenobióticos ambientais 
que entraram em contato com o embrião antes da diferenciação sexuaL Visto que 
as células germinativas são bipotentes, ou seja, podem se diferenciar nos dois 
sexos, há a mudança no fenótipo 10• 
Clinicamente, dentre as manifestações mais comuns da síndrome, está a baixa 
contagem de espermatozoides, porém, na forma mais severa, a síndrome pode se 
apresentar como câncer de testículo44. 
Meta is pesados 
Dos xenobióticos, um grupo que merece destaque são os metais pesados. Os 
primeiros que foram estudados na mudança na fertilidade masculina foram o 
mercúrio45 e o chumbo46. Entretanto, o arsênico é reconhecido como uma das 
toxinas mais potentes do mundo. Pode vir de emissões vulcânicas como fenômeno 
natural ou de forma mais comum através de herbicidas usados no solo e na 
produção de alimentos. Sua presença no corpo humano causa deposição e aumento 
no estresse oxidativo. No caso do sistema reprodutor masculino, esses metais 
interferem nas células germinativas ocasionando sua apoptose, com consequente 
redução do epitélio seminífero e do diâmetro dos túbulos. A exposição crônica ao 
arsênico acarreta aumento de espermatozoides com anomalias, muito relacionado 
ao aumento no estresse oxidativo celular7 • 
Procurando propor uma solução para os malefícios do arsênico no corpo, um 
grupo de pesquisadores demonstrou que quando há o uso associado de zinco 
ou vitamina C esse efeito parece ser negativado. Em modelo animal (ratos), 
mostraram que esses nutrientes podem agir como fatores protetores da morfologia 
dos espermatozoides47 • 
Bisfenol A, ftolotos e pestic idas 
Os xenobióticos mais estudados são pesticidas DDTs, DDE, organofosfatos, 
etilenedibromida, os ftalatos, PCBs, poluentes de ar, tri-halometanos (THMS). 
Podem ter ação no desenvolvimento fetal das características masculinas e, ainda, 
interferir na fertilidade da vida adulta48, atuando como disruptores endócrinos. 
Os PCBs parecem ter maior interferência na motilidade dos espermatozoides, e 
casos de subfertilidade masculina já foram relacionados à exposição aos ftalatos. 
O bisfenol A (BPA) e os ftalatos são substâncias químicas utilizadas em 
estruturas plásticas e papéis térmicos. Reconhecidos como contaminantes 
ambientais e migrantes de embalagens, são substâncias xenobióticas que podem 
causar diversas disfunções orgânicas. Pesquisadores sugeriram uma associação 
entre a exposição ao ftalato e uma variedade de disfunções reprodutivas como 
a redução na qualidade do sêmen, principalmente relacionada à morfologia do 
espermatozoide49-51 e insucessos em gestação. Sua ação ainda não está totalmente 
elucidada, mas a presença desses xenobióticos aumenta o estresse oxidativo nas 
células reprodutoras 52• 
Em homens, a concentração urinária de ftalatos é inversamente proporcional 
à redução na qualidade dos blastocistos, conforme foi mostrado na análise de 50 
casais sub férteis em processo de fertilização in vitro53 • 
Utilizando um modelo em ratos, pesquisadores analisaram a exposição ao BPA 
e ao OP ( octilfenol) por 90 dias no sistema reprodutor masculino. Comparado 
com o placebo, o grupo tratado demonstrou atrofia dos túbulos, mudanças nas 
células de Sertoli, ausência de espermatozoides e degeneração tubular. O grupo 
apenas tratado com BPA demonstrou ainda uma queda na testosterona e o grupo 
tratado com OP um aumento do hormônio. No grupo tratado com altas doses de 
OP, houve aumento também na tiroxina (T4), e no grupo com pequena dose o 
T3 já estava mais aumentado que os demais grupos (placebo e BPA)54 . Outras 
pesquisas também avaliando a exposição ao bisfenol A encontraram, ainda, 
anormalidade na morfologia, incluindo necrose das células germinativas e das 
espermatogônias no túbulo seminífero, com mudança nos linfócitos, redução de 
hemoglobina e a presença de marcadores de anemia microcística hipocrômica51 . 
Entretanto, pesquisadores associaram o uso da vitamina C ao xenobiótico. 
A quantidade de I\1DA (malondialdeído) aumentou nos grupos que estavam 
em contato com o xenobiótico, com redução de glutationa. A vitamina C não 
demonstrou efeito protetor revertendo esse quadro. Pelo contrário, histologicamente 
Nu'r;çóo Clínico r..Jr.c .or.cl. oc :ernlidcce à ~es'oçéo 
o uso conjunto da vitamina C apresentou mais atrofias, mais células germinativas 
debris, e mais anormalidades dos espermatozoides, provavelmente porque o uso 
isolado da vitamina C aumenta a taxa de estresse oxidativo, agravando a ação dos 
xeno bióticos55 . 
Com relação ao consumo de frutas e vegetais com agrotóxicos, cabe ressaltar 
que os resíduos desses pesticidas podem contribuir negativamente com a contagem 
de espermatozoides, modificando inclusivamente sua morfologia.Entretanto, a 
influência desse pesticida vindo da alimentação diária ainda é desconhecida. u!TI 
grupo de pesquisadores procurou demonstrar essa relação em 15 5 homens de 
casais subférteis relacionando com o consumo de alimentos reconhecidos por 
apresentarem pesticidas nos EUA. O total de frutas e vegetais ingeridos não se 
correlacionou com os parâmetros de qualidade do esperma. Entretanto, o alto 
conteúdo de pesticidas em frutas e vegetais ingeridos, teve associação com a 
baixa qualidade do sêmen. O consumo de pesticidas superior a 1,5 porções por dia 
teve 49% menor contagem de espermatozoides e redução de 32% na morfologia 
normal em relação aos homens que consumiam menos que 0,45 porções por dia. 
Tanto o baixo consumo quanto o consumo moderado de pesticidas tem relação 
positiva com a mudança na morfologia 5~ 
Fitoestrógenos 
-Os fitoestrógenos são compostos químicos de plantas que podem acarretar 
alterações no sistema hormonal, sobretudo em fases do ciclo de vida em que o 
sistema hormonal sexual não está fortemente presente, ou seja, na pré-puberdade, 
andropausa e menopausa. Entretanto, a ingestão diária de fitoestrógenos tem sido 
reportada com uma qualidade anormal de sêmen, especialmente por mudança nos 
níveis hormonais. 
Em uma pesquisa de modelo animal, Meena et al. 57 mostraram que o contato 
materno com a genisteína durante o desenvolvimento embrionário diminuiu a 
atividade das enzimas 3B e 17B-hidroxiesterol desid.rogenase nos testículos de 
ratos filhotes machos, com decréscimo na produção de testosterona, redução na 
produção de esperma e densidade epididimal. Na análise histológica, encontraram 
que a genisteína mudou a arquitetura testicular57 . 
Entretanto, a ingestão alimentar parece não ter uma influência direta. O 
consumo de soja foi acompanhado em 184 homens (18-51 anos) que estavam 
em processo de tratamento de infertilidade. A ingestão de alimentos com soja e 
isofiavonas não teve relação significante com as taxas de fertilização ou ainda 
com a taxa de implantação e sucessos de gestação. Os autores correlacionam 
esse processo à variação nas porções ingeridas58 . Isso reforça que a possível 
influência dos fitoestrógenos pode ocorrer em fases específicas da vida, nas quais 
a presença dos hormônios sexuais ainda não é expressiva, como no intraútero e 
na pré-adolescência, mudando, dessa maneira, o curso da fertilidade masculina 
antes mesmo da idade fértil. 
. . 
·: 16 :· 
Álcool c cofefnc 
A cafeína é um alcaloide que, no organismo humano, age como agonista do 
receptor de adenosina e pode comprometer a qualidade do esperma13• Um grupo 
de pesquisadores analisou 2135 casais e seu consumo de cafeína e evidenciaram 
uma associação positiva entre consumo de cafeína de bebidas como café, bebidas 
energéticas e outras cafeinadas com a redução da fertilidade em homens59 . Já em 
outra pesquisa com 171 homens, através da análise de amostras de esperma e de 
questionário de frequência alimentar, os autores não encontraram correlação com 
os parâmetros de qualidade do sêmen. Todavia, considerando o quartil mais alto 
de ingestão de cafeína (2:272mg/dia) e também de álcool (2:22 g/dia) os autores 
sugeriram uma possível relação, ainda que não significante6°. 
Apesar de haver divergências em literatura, o consumo de cafeína não deve 
ser estimulado, sobretudo em grandes quantidades, aos pacientes que buscam 
melhora no padrão de fertilidade. 
Medicamentos 
Medicamentos também podem afetar a espermatogênese, conforme demonstrou 
um levantamento científico sobre as drogas aprovadas pelo FDA. Os produtos à 
ba~e de hormônios e as drogas antineoplásicas estão entre as substâncias de maior 
impacto na fertilidade masculina, sendo consideradas espermatotóxicas. Além 
desses, os anti-inflamatórios também podem ter efeito negativo na fertilidade 13•61• 
Mesmo que não haja pesquisas para algumas drogas, cautela e análise das bulas 
se fazem necessárias no processo de melhora da fertilidade masculina. 
Estresse oxidotivo 
A literatura considera que de 30 a 80% dos casos de subfertilidade masculina 
estejam relacionados ao aumento no estresse oxidativo no esperma. Isso porque 
o estresse oxidativo pode causar lesão de células e tecidos, aumentar processos 
inflamatórios e ser a base de reações patológicas; além disso, os espermatozoides 
são células muito sensíveis à variação de radicais livres43•62• 
A presença das espécies reativas de oxigênio (EROs) é importante para a 
condensação da cromatina no espermatozoide, ajustando o número de células 
germinativas por apoptose ou por aumento no número de espermatogônias. Nos 
esperrnatozoides maduros, são importantes para formação acrossoma, estabilidade 
mitocondrial e motilidade do esperma. Ainda, agem como segundos mensageiros 
para a produção de NADPH oxidase e enzimas da cadeia respiratória63 . 
Entretanto, o excesso de radicais livres pode lesar a estrutura do DNA, acelerar 
a apoptose, reduzir o número de células viáveis e alterar o desenvolvimento e a 
morfologia, acarretando infertilidade43 como pode ser observado na Figura 3. 
. . 
: 19 ·. 
Nurr:çóo C líniCO Fi...n::::oncl: do r:::r+iliccd8 ~ '?es+cçéo 
Figuro 3. ~squemo dos efe itos noc!vos de EROs no ferti lidade 
masculino. 
37~ 
o Poluição ambient1a 
o Estilo de vida 
Infecção 
·= ~ 
./~ . ~:;:n; 
~---.._~~ 
Esoermatozoides anormais com um ·:: ~ 
'excesso de cltopla~ma fsld/ Leucócitos 
-- .. ~~ -~ . '-.----, 
Fonte: Adaptado de: Walczak-Jedrzejowska et al..~3 
Sistema·(_ 
~ntioxida~ 
_./""" 
J 
Um grupo de pesquisadores analisou a peroxidação lipídica e a atividade de 
enzimas antioxidantes no esperma de 105 homens férteis e 112 homens inférteis. 
Nos homens com infertilidade havia uma concentração maior de MDA, taxa 
reduzida de motilidade dos espermatozoides, maior fragmentação de DNA 
e menor presença de superóxido dismutase (SOD) e glutationa peroxidase. 
Concluíram que o equilíbrio antioxidante é fundamental para manter o status de 
fertilidadé~. 
. . 
·: 20 :· 
Uma revisão de literatura, com pesquisas randomizadas e controladas (total 
de 34 pesquisas, envolvendo 2876 casais submetidos a técnicas de reprodução 
assistida), mostrou que a ingestão oral de antioxidantes por homens pode estar 
associada a uma melhora nas taxas de sucesso na gestação quando comparado 
com aqueles que receberam placebo62 . O sistema antioxidante do sêmen é 
composto por enzimas e substâncias não enzimáticas como vitamina E, vitamina 
C, complexo B, glutationa, coenzima Q 1 O e camitina, bem como os minerais 
ativadores de enzimas, como zinco, selênio, cobre-+3. 
Uso de celulares e rede \;\;i-fi 
A redução na qualidade do sêmen observada no século 21 pode ter relação 
com o aumento do contato do ser humano com radiação eletromagnética, emitida 
por aparelhos eletrônicos, como o telefone celular e a rede wi-fi . Apesar de não 
existir um consenso na literatura sobre o real impacto desse tipo de radiação na 
fertilidade, autores sugeriram que a exposição do sêmen na área de liberação da 
radiação reduz significantemente o número de espermatozoides com movimento, 
reduzindo parâmetros de qualidade do sêmen em homens que previamente 
apresentavam normozoospermia. Além disso, a exposição direta ao celular pode 
causar fragmentação do DNA dos espermatozoides65. 
O primeiro artigo demonstrando esse resultado foi uma pesquisa in vitro com 
o sêmen de doadores saudáveis, que após a exposição por 4h à rede wireless de 
internet vinda de um laptop, apresentou redução significante na motilidade dos 
espermatozoides, com aumento na fragmentação do DNA66. 
Zilberlicht et al.67 mostraram, in vitro, que a exposição direta do espermatozoide 
à radiação do celular diminui sua qualidade, com perda progressiva de movimento 
e viabilidade. Dois anos após, um grupo de pesquisadores evidenciaram que 
o uso do celular por mais que lh/dia, principalmente durante o carregamento 
do aparelho, aumenta a razão de anormalidade na concentração do esperma. 
As disfunções aumentamquando se unem outras variáveis reconhecidas por 
aumentar a infertilidade, como o tabagismo67• 
Para os homens que querem ser pais, principalmente para os que já apresentam 
alguma alteração nos parâmetros do esperma ou apresentem fatores de risco 
associados, é melhor evitarem carregar o celular no bolso da calça ou utilizar o 
notebook no colo. 
Os pesquisadores reforçam, ainda, que a interferência do calor pode agravar 
esse resultado, ou seja, não se deve usar o laptop no colo. A temperatura do saco 
escrotal interfere na produção de espermatozoides, que pode ser reduzida em 
temperaturas superiores a 37°C. Portanto, alguns hábitos devem ser observados, 
como a prática de exercícios extenuantes diariamente, com shorts ou calças que 
retém calor, banhos muito quentes e uso de laptop e celulares no colo43·6ó. 
Atividade físico 
Entre os tratamentos indicados para infertilidade, sugere-se a perda de peso e 
a prática de atividade física, principalmente. Exercícios físicos de alta intensidade 
varecem estar associados a uma melhora qualidade do sêmen, porém, não existe 
~m consenso na literatura. Uma análise de 23 1 homens mostrou que atividade 
física moderada/intensa de 3,2h por semana aumenta em 43% a concentração de 
espermatozoides, quando comparado aos homens com baixa atividade fisica e/ 
ou sedentários. Homens que faziam atividade física outdoor por mais que 1 ,Sh/ 
semana apresentavam um aumento de 42% na concentração de espermatozoides. 
Exercício-s com peso, com frequência maior que 2h/semana, resultaram em um 
aumento de 25% na quantidade de espermatozoides .. Entretanto, a prática do 
ciclismo pareceu reduzir a concentração de espermatozoides68. 
Nu:rientes poro o ferti lidade masculino 
O consumo de alimentos e suplementos antioxidantes está entre os recursos 
mais utilizados por homens e mulheres em quadro de subfertilidade. A ação nos 
homens parece ser benéfica, apesar de não haver consenso em literatura69. 
Os nutrientes antioxidantes parecem exercer um beneficio na fertilidade 
masculina, uma vez que a presença de estresse oxidativo contribui para 
complicações na espermatogênese, como já foi demonstrado. Considerando 
que os ácidos graxos poli-insaturados e os fosfolipídeos são parte integrante 
da membrana externa dos espermatozoides (como em qualquer outra célula do 
organismo humano) estão susceptíveis ao processo de peroxidação lipídica, 
sobretudo na presença de estresse oxidativo. Uma pesquisa mostrou que o uso 
de antioxidantes (suplementados) pelos homens aumenta a taxa de gestações, 
quando em processo assistido70. 
Uma revisão sistemática foi conduzida por um grupo de pesquisadores 
com o intuito de mostrar evidências para o uso de antioxidantes no tratamento 
da infertilidade masculina. Foi analisado o uso de vitamina C, vitamina 
E, zinco, selênio, folato, carnitina e carotenoides. A metolologia incluiu 17 
estudos randomizados, apesar da combinação entre os nutrientes utilizados 
serem diferentes. 82% dos trabalhos mostraram uma melhora na qualidade do 
esperma e um aumento na razão de gestação71 . Um ano após, outro grupo de 
pesquisadores 72 compararam 24 estudos randomizados e placebo-controlados 
com os antioxidantes vitamina C, vitamina E, selênio, zinco, vitamina B9, 
N-acetil-cisteína, L-carnitina e L-acetil-carnitina, isolados ou combinados. 
Encontraram uma redução na fragmentação do DNA e melhora na gestação 
assistida. Entretanto, nenhum destes trabalhos estimou o estresse oxidativo 
seminal, o nível de vitaminas, ou a lesão oxidativa do DNA. Deve-se ressaltar 
aqui a necessidade de mais pesquisas randomizadas e placebo-controladas para 
melhor direcionamento da associação entre os nutrientes com perfil antioxidante, 
no tratamento e prevenção da infertilidade. 
Recomenda-se, portanto, o equilíbrio do estresse oxidativo, através de ajustes 
alimentares e, quando necessário, com auxílio da suplementação nutricional. 
Esse processo deve ser feito no mínimo 3 meses antes da tentativa de fecundação, 
garantindo a adequada formação e ma~ação do espermatozoide, processo esse 
·: 22 :· 
que dura aproximadamente 72 dias43 . A presença de vitamina E, glutationa, 
N-acetil-cisteína (NAC) e catalase no sêmen reduz o estresse oxidativo e previne 
a redução na motilidade. 
Entretanto, outros nutrientes e compostos ativos envolvidos com fertilidade 
masculina são estudados, como zinco, vitaminas do complexo B (ácido fólico e 
cobalamina), coenzima Ql O e carnitina, conforme descrito no Quadro 2. 
Q uadro 2. Componentes 
fertilidade masculino. 
a limentares envolvidos no 
I Dose Efeito I: 
~, 
Fontes naturais 
Arginina 20 a 30g Precursor do óxido nítrico e Nozes, sementes, arroz integral, 
espermina. Essencial para a motilidade passas, coco, t rigo mourisco, 
do esperma aveia, cevada, chocolate, 
produtos de origem animal 
L-carnitina Ate Fonte de energia e envolvimento Carne vermelha, aves, pe1xe e 
4000mg na motilidade e maturação dos laticínios 
espermatozoides 
Coenzima QlO Ate Estabi liza e protege a Pe1xes gordurosos lcavala, 
12mg/kg membrana da célula contra o estresse sardinha), vísceras, grãos 
oxidativo integrais, farelo de arroz, soja, 
nozes, vegetais 
Acido fólico 400 a Papel na síntese de DNA e na adequada Vegeta is fol hosos verde-escuros, 
(foi ato) lOOOmcg função celular. feij ões, frutas cítricas, levedura 
- Proteção contra radicais livres de cerveja, abacate, cereais 
enriquecidos, ovos e carnes 
Glutationa -- Antioxidante produzido pelo tigado. Carne fresca, rrutas e veget a1s 
M antém os antioxidantes exógenos em 
seu estado ativo, como as vitaminas 
CeE 
Licopeno -- Antioxidante Tomate e seus derivados 
N-aceti lcisteína I -- Proteção contra radicais livres Quantidade insuficiente em 
fontes alimentares 
Vitamina A 900 a Manutenção do muco Frutas e vegetais, ovos, produtos 
3000mcg de membranas (incluindo trato de origem animal, peixes oleosos 
genitourinário ). Propriedades de água salgada 
antioxidantes 
Vitamina C 
1 
90 a I Antioxidante altamente Frutas e vegetais 2000mg* concentrado em flu ido seminal 
Vitamina E Até Antioxidante. Inibe o dano induzido por Oleos vegetais, gérmen de trigo, 
400UI* radicais em membranas celulares cereais e grãos, carnes, 
ovos, laticínios, frutas, 
legumes 
Selênio 55 a Corator de enzimas antioxidantes Castanha-do-Brasil, cerea is, 
400mcg* ca rne e seus subp rodutos, frutos 
do mar, ovos 
Zinco 11 a 40mg* j Cofator para metaloenzimas, I Trigo e sementes (gergelim, 
envolvido na transcrição de DNA e síntese J girassol, semente de abóbora, 
de proteínas; al:a concentração na j etc. ) e carnes 
prostata 
*Nível max1mo de segurança (Secretaria de Vigilância Sanitária - SVS) para prescrição por 
nutricionista é de lOOOmg/dia para vitamina C, 1200UI/dia para vitamina E, 150mcg/dia para 
selênio e 30mg/dia para zinco. 
Fonte: Adaptado de: Mora-Esteves e Shin;o 
. . 
: 23 ·. 
Coen7ir .c1 QlO 
A coenzima Q 1 O é um nutriente essencial para o funcionamento mitocondrial 
em diversas células do organismo, além de desempenhar um papel antioxidante 
importante. Uma revisão sistemática e meta-analítica mostrou que em 149 homens 
usando coenzima Q 1 O como suplemento oral versus 14 7 homens em grupos 
placebo, aqueles que recebiam suplementação oral tinham maior concentração 
de coenzima Q 1 O no líquido seminal, melhor concentração e motilidade dos 
espermatozoides. Lafuente et al.73 , porém não encontraram aumento nas taxas 
de sucesso de gestação. 
Outro estudo analisou 44 pacientes diagnosticados com infertilidade idiopática 
e parâmetros anormais no espermograma e compararam com 15 pacientes 
controle (férteis). O nível da coenzima Q10 no plasma e a capacidade antioxidante 
não diferiu entre os homens férteis e inférteis. Porém, o selênio teve correlação 
positiva com os parâmetros de qualidade do sêmen, com a concentração de 
espermatozoides, motilidade e morfologia. A capacidade antioxidante do esperma 
teve uma correlação mais forte com o selênio sérico do quecom a coenzima 
Q1074. 
O grupo de Tiseo et aL75 analisou a ingestão de alimentos fontes de coenzima 
Q 1 O. Participaram 211 homens, dos quais a média de ingestão alimentar 
de_coenzima Q10 era de 19,2mg/dia, mas variava de 2,4 a 247,2mg/dia. Os 
pesquisadores não encontraram nenhuma correlação entre esta ingestão e a 
qualidade do esperma, provavelmente devido a grande variabilidade de ingestão. 
A média de ingestão foi 1 O vezes menor do que as pesquisas com suplementação 
de coenzima Q 1075 . Esses dados reforçam a necessidade da suplementação corno 
complemento da ingestão alimentar, especificamente para a coenzima QIO. 
Cornitino 
A carnitina é um aminoácido que serve como substrato energético, e está 
relacionado com o movimento dos espermatozoides. A principal fonte de energia 
destes é a oxidação de ácidos graxos, e a carnitina funciona como transportador 
de membrana na mitocôndria76• 
Pesquisadores mostraram correlação negativa entre o consumo de carnitina 
e a motilidade dos espermatozoides . O estudo envolveu 100 participantes 
suplementados com 3g/dia de L-camitina durante 4 meses, apresentou uma 
resposta positiva na motilidade dos espermatozoides e na quantidade de sêmen 
produzida77 . Outro estudo, utilizando 2g/dia de L-carnitina e lg/dia de L-acetil-
carnitina (2 meses de wash-out), encontrou resultados semelhantes em um 
período de 6 meses78• 
Ao averiguar os efeitos do uso da L-carnitina ou da L-acetil-carnitina na 
fertilidade masculina, uma meta-análise evidenciou que o uso do suplemento 
·: 24 :· 
oral melhora a razão de gestação e motilidade do espermatozoide, apesar de, 
aparentemente, não ter relação com a concentração dos espermatozoides e 
volume total de sêmen. A camitina teria um papel central na energia gerada pelas 
mitocôndrias da bainha mitocondrial da cauda dos espermatozoides, sendo assim, 
é um nutriente que não deve faltar na ingestão alimentar dos homens 79• 
7inco 
Zinco é o mineral que mais part1c1pa do sistema reprodutor masculino, 
atuando como cofator enzimático em diversos momentos da espennatogênese, 
inclusive na síntese de testosterona e na expressão proteica80. Além disso, uma 
alta concentração de zinco é ejaculada com os espennatozoides, demonstrando 
interferência no sucesso da fecundação81 . Pesquisadores sugerem que a 
testosterona sérica e a contagem de espermatozoides podem aumentar na presença 
de suplementação de 24mg de zinco elementar 2• 
Vitamina B12 
A vitamina B 12 tem uma participação ativa na replicação celular de maneira 
geral. Para o sistema reprodutor masculino, sua deficiência está relacionada com 
redução na contagem de espermatozoides, como sugerido em uma pesquisa de 
rev~são bibliográfica82. As pesquisas com suplementação de vitamina B1 2 são 
muito antigas (década de 70 e 90). Mais recentemente, as considerações são 
voltadas para os casos de deficiência de vitamina B 12 alimentar e para a disfunção 
na via química da homocisteína. O polimorfismo da metiltetrahidrofolato redutase 
(MTHFR) tem associação positiva com a infertilidade masculina, bem como 
os genes do metabolismo da colina e vitamina B 12 (PEMT e TCbiR), apesar 
da pesquisa de Murphy et al. 83 não ter encontrado significância entre os níveis 
séricos de ácido fólico, vitamina B 12 e homocisteína com os parâmetros do 
espermograma. 
Vitamina C 
O ácido ascórbico é uma vitamina antioxidante, com atuação no citoplasma 
celular. No sistema reprodutor masculino, foi demonstrado que sua concentração 
no plasma seminal é diretamente relacionada à ingestão dietética, e na sua ausência 
está relacionada à infertilidade84. O uso de l g de vitamina C suplementada 
demonstrou melhora nos parâmetros do sêmen quando em comparação com o 
placebo85 . 
Algumas pesquisas mostraram uma relação pos1t1va com a melhora na 
fertilidade masculina, sobretudo quando aliada à vitamina E86 , ao zinco87 e à 
perda de peso88. A suplementação com vitamina C aumenta a viabilidade das 
células germinativas por redução no estresse o·xidativo exacerbado, reduzindo os 
níveis de MDA86 . Ainda, aumenta significantemente a morfologia e motilidade 
. . 
: 25 ·. 
Nutrição C !ír ico =urc1oncl: cc fer+i!iccce à se<>+açêo 
dos espermatozoides87·88, além melhorar a resposta dos hormônios FSH e LH na 
espermatogênese. 
Apesar desses efeitos positivos, vale relembrar que o uso isolado da vitamina 
C pode aumentar a taxa de estresse oxidativo55, o que mostra a importância 
de uma prescrição conjunta com outros nutrientes antioxidantes e de forma 
individualizada. 
\/itcwníncJ : 
A vitamina E é uma importante vitamina antioxidante para a membrana 
celular de diversas células. Sua suplementação diminui a concentração de 
MDA e melhora a motilidade dos espermatozoides, alcançando taxa de 21 % 
de gestação ao término do estudo89. Analisando homens com baixa contagem 
de espermatozoides e utilizaram suplementação de vitamina E e selênio, os 
pesquisadores encontraram uma melhora na motilidade e parâmetros de qualidade 
do esperma após 4 meses de uso89 . 
Selênio c N-acei-ilc isteí c1 
A glutationa faz parte da linha de defesa antioxidante do espermatozoide, e 
possui uma associação positiva com sua motilidade90 . A formação da glutationa 
peroxidase depende da disponibilidade de selênio e glutationa, e representa 50% 
da ação antioxidante nas mitocôndrias do espermatozoide. 
Uma pesquisê. com suplementação de selênio em doses de 200mcg por dia, 
para 33 homens inférteis por 12 semanas, mostrou aumento na concentração 
de selênio no fluido seminal e também aumento na atividade da glutationa 
peroxidase, porém, não encontraram relação significante com a contagem de 
esperrnatozoides ou sua morfologia. Dessa maneira, podemos considerar que 
manter o status de glutationa, através da ingestão de selênio e NAC, é uma boa 
conduta para o equilíbrio antioxidante do sistema. 
A vitamina D na forma de calcitriol [1 -25 (OH)
2
D3] auxilia na manutenção 
das funções reprodutivas masculinas. Os testículos e os esperrnatozoides 
possuem o VDR (receptor de vitamina D) e as enzimas envolvidas na ativação 
do CYP2Rl, CYP27Bl. Dessa maneira, a 1,25(0H).,D3 influencia a qualidade 
dos espermatozoides. Já foi demonstrado que homens inférteis possuem 2 vezes 
menos expressão de VDR91 . 
A ativação do calcitriol no receptor VDR é de extrema importância no 
acionamento da transcrição gênica, principalmente para o bom funcionamento do 
sistema reprodutor masculino. Por exemplo, o CYP24Al possui relação positiva 
·: 26 :· 
' 
com a qualidade nos parâmetros do sêmen e é responsivo também à atividade da 
VDR. Uma vez ativado, há um aumento no Ca2+ intracelular dos espermatozoides. 
Esse aumento é por uma via não genômica de antagonismo do VDR, diminuindo 
a fosfolipase C que, por sua vez, reduz o calcitriol. Essa cascata química tem 
relação com a motilidade do espermatozoide e sua adequada morfologia92. Uma 
análise com 300 homens saudáveis mostrou que 44% apresentavam níveis de 
vitamina D insuficientes, e que esse valor era inversamente correlacionado com 
o PTH. Os níveis de vitamina D tiveram correlação positiva com a motilidade do 
espermatozoide e com a morfologia funcional 93. 
Além disso, na membrana das células de Sertoli, há uma enzima denominada 
GGT (gama-glutamil transpeptidase ), que catalisa a transferência do resíduo 
da GGT para o receptor de aminoácidos. A 1,25 (OH)2D3 estimula a atividade 
da GGT, via PKA. O hormônio aumenta a captação de glicose, assim como a 
produção de lactato, melhorando a produção energética das células de Sertoli. 
Além disso, não depleta a glutationa ou a utilização de glicogênio94. 
Pc1drão alimentar 
A qualidade do esperma tem relação direta com o padrão alimentar. Em 
humanos, foi mostrada pela primeira vez, em 2002, a relação da alimentação 
dos avós com o metabolismo dos netos. O consumo alimentar dos pais na fase 
puberal está relacionado à redução do risco de doenças cardiovasculares nos 
filhos, enquanto a alimentação dos avós no mesmo período,quando abundante, 
aumenta a mortalidade por diabetes nos netos95 . 
Carone et al.96 mostraram que ratos alimentados com dieta pobre em proteína 
tinham filhotes com expressão aumentada de genes envolvidos na síntese de 
lipídeos e colesterol, quando comparados a filhotes cujos pais tinham alimentação 
normal. 
Esse padrão alimentar adequado deve ser rico em micronutrientes e nutrientes 
antioxidantes. Dessa maneira, pesquisadores sugerem que o consumo de frutas, 
vegetais, frango, peixe e grãos integrais possuem melhor influência. Pesquisadores 
demonstraram uma relação positiva entre o consumo de frutas e motilidade 
do espermatozoide em 250 homens97, a qual possivelmente está relacionada à 
melhora no perfil antioxidante. Outros autores já demonstraram esses resultados 
positivos98 e o mesmo se dá pela suplementação de antioxidantes71 • 
Uma pesquisa demonstrou que a composição saudável das refeições (alto 
consumo de frutas, vegetais, peixes, frutos do mar, grãos integrais e baixo 
consumo de maionese, produtos de carne, grãos refinados e sobremesa) reduz a 
fragmentação do DNAe aumenta qualidade do sêmen99. Mais recentemente, outro 
grupo de pesquisadores evidenciou, em 336 homens pacientes de uma clínica 
de fertilização, que esse padrão alimentar tem uma associação positiva com a 
concentração do esperma, aumento na testosterona e redução na fragmentação do 
DNAl OO . 
Um grupo de pesquisadores analisou a dieta de 188 homens de 18 a 22 anos, 
. . 
: 27 ·. 
e correlacionou a presença desses grupos de alimentos com os parâmetros de 
qualidade do esperma (concentração de espermatozoides, motilidade, morfologia). 
Dois tipos de padrão alimentar foram comparados, o típico ocidental (alto 
consumo de carne vermelha processada, grãos refinados, pizza, snacks, bebidas 
energética e com alto conteúdo de açúcar) e o padrão saudável (peixe, frango, 
frutas, vegetais, legumes e grãos integrais). Os homens que estavam no quartil 
mais alto da dieta saudável tinham 11,3% a mais motilidade dos espermatozoides 
que aqueles que tinham padrão alimentar mais próximo do ocidental. Entretanto 
não observaram mudanças na morfologia101 • 
Em particular, a dieta do Mediterrâneo parece ter um efeito bem positivo 
na melhora da fertilidade. Essa dieta é caracterizada por alta ingestão de frutas, 
vegetais, grãos integrais, peixe e baixa ingestão de carne vermelha. As pesquisas 
demonstram que o uso da dieta do mediterrâneo por homens com problemas 
de fertilidade, melhora a qualidade do esperma102·103, provavelmente pela alta 
combinação de nutrientes essenciais ao sistema reprodutor masculino, com 
aumento de sistema antioxidante e diminuição do processo inflamatório. Sobre 
a alimentação pró-inflamatória, apesar de não ser um ponto muito estudado 
na infertilidade, está relacionada ao aumento de obesidade e de disfuncões no 
metabolismo. Fullston et al. 104 evidenciaram que o alto consumo de lipídeos 
(sobretudo saturados e trans) modifica a metilação no espermatozoide maduro, 
podendo gerar disfunções metabólicas na próxima geração104• 
O consumo de bebidas adoçadas por homens saudáveis pode ter um impacto 
negativo na fertilidade. Pesquisadores avaliaram 189 homens jovens, de 18 a 22 
anos, e avaliaram a alimentação por frequência alimentar. O consumo de bebidas 
adoçadas foi inversamente relacionado à motilidade dos espermatozoides. Os 
homens que consumiam mais que 1,3 porções/dia tinham 9,8% menor motilidade 
de espermatozoides do que os homens que consumiam menos de 0,2 porções/ 
dia. Essa associação foi mais forte com homens que apresentavam sobrepeso 
ou obesidade, apesar de não ter sido evidenciada relação com os parâmetros de 
qualidade do esperma e capacidade fértil, bem como com a produção hormonal 105 • 
De forma geral, seguir uma dieta rica em frutas, vegetais, peixe, frango e grãos 
integrais é uma maneira segura de aumentar a qualidade da espermatogênese68. 
Fitoterop ia: prós e contras 
O uso de plantas medicinais pode tanto auxiliar no processo de fertilidade 
masculina quanto ocasionar um efeito indesejado. Uso de sementes do mamão, 
por exemplo, pode acarretar infertilidade. Segue abaixo algumas importantes 
plantas, amplamente utilizadas no Brasil, que interferem no sistema reprodutor 
masculino. 
Hi.biscus sobdoriffo 
O Hibiscus sabdariffa, conhecido popularmente por hibisco, é uma planta 
atualmente muito difundida no Brasil como diurético e como auxiliar na perda de 
peso. Entretanto para os homens esta planta parece exercer um efeito negativo na 
. . 
·: 28 :· 
espennatogênese. Mahmoud 106 demonstrou que o uso do extrato de hib:sco (200 
mg/kg de pesJ por 4 semanas) causa redução no fluxo sanguíneo do testículo, 
causando anormalidades estruturais e funcionais em testículos e esnermatozoides 
J. 
de ratos 106 . 
Esse achado científico não é recente, visto que em 2004 o malefício do hibisco 
na fertilidade masculina já havia sido publicado, relacionado com a redução do 
peso absoluto dos testículos de ratos, atuando similarmente com o aumento no 
estrogênio107 . 
Sendo assim, Hibiscus sabdariffa é uma planta que deve ser evitada no 
processo da fertilidade masculina, em qualquer forma de extração. 
Quossio amora 
A Ouassia amara é uma planta popularmente conhecida no Brasil como 
pau-tenente. A casca e a raiz são utilizadas comumente como digestivo e anti-
inflamatório. Entretanto, é uma planta que também pode atrapalhar a fertilidade 
masculina. Já na década de 90, pesquisadores demonstraram a influência 
dessa planta na diminuição do peso dos testículos, do epidídimo e da vesícula 
seminal, refletindo, negativamente na contagem de esperrnatozoides. Os autores 
relacionaram essas anormalidades à redução do LH e do FSH, bem como da 
testosterona 108 . O mesmo efeito foi reforçado alguns anos após por outro grupo 
de pesquisadores, demonstrando alterações morfológicas de espermatozoides na 
cabeça e na cauda109 . 
Momordico chorontio 
A Mornordica charantia, conhecida popularmente como melão-de-São-
Caetano, tem ação em metabolismo de carboidratos, principalmente. Amplamente 
empregada para o controle glicêmico, sua ação em pacientes diabéticos tipo 2 é 
de redução na glicemia e na frutosamina, porém de forma menos significativa 
que a metformina, como foi demonstrado em estudo randomizado duplo cego110. 
Ainda assim, é uma planta que pode ser útil no tratamento de situações como a 
síndrome plurimetabólica. 
Entretanto, é uma planta que dever ser utilizada com supervisão, uma vez que 
pode apresentar efeitos colaterais como enxaqueca (pela hipoglicemia), aumento 
de GGT (garnma-glutamyl-tíansferase ), aumento da fosfatase alcalina, convulsão 
em crianças e redução da fertilidade em homens e mulheres11 L112. 
Um grupo de pesquisadores evidenciou que o meião-de-São-Caetano 
modifica a arquitetura dos túbulos seminíferos contribuindo, assim, com a 
redução da espermatogênese, além de dilatar a próstata 1t3• Outros pesquisadores 
observaram em ratos a reducão da motilidade e anormalidades morfológicas 
' -
dos espermatozoides114. Esses dados foram corroborados por outra pesquisa, a 
qual demonstrou que a Mormodica cha;antia contribu~ com a atrofia dos túbulos 
·: 29 :· 
\..~hÇéC Cl~niCO r .J~CICrcl: CC ;~diccdc;: :; ;-=->foÇéC 
seminíferos por provável redução da testosterona com 42 dias de administração. 
Houve, ainda, uma queda na testosterona seminal e no plasma de maneira 
dependente ao aumento na dose do extrato de lvformodica charantia (Figura 4) 115 . 
Fig:.Hc 4. ! estos~cTonc seminal r ::squc :do ) e níveis ele 
tcstosterono p íosmótico (direito) no dia L12. 
:1 Controle E ::1 Controle - -E 1oo.oo :: 400 mg matéria seca/ CID · 400 mg matéria seca/ - kg de peso corporal !:: 1.6 d kg de peso corporal CID 90.00 ttl !:: u -80.00 ê -· 800 mg matéria seca/ •,t; 1.4 
-~ 
800 mg matéria seca/ 
<ti 70.00 kg de peso corporal •!ti 1.2 kg de peso corpora I ... J:: -l J:: g E 60.00 "' 1.0 ttl (J) 50.00 ~ c. 0.8 -- --l "' i ro 40.00 ttl 0.6 ' J:: ---. !:: o 30.00o 0.4 - ---, ,_ l ç .... (J) 
~ 20.00 --- .... 0.2 
"' "' o 10.00 o o ..... ! .... 
"' 0.00 - - "' t~ Dia 42 ~ Dia42 
Fonte: Adaptado de: Tumkiratiwong et al.: 15 
É descrito, ainda, que a Morrnodica charantia reduz a quantidade e qualidade 
do esperma produzido diariamente, dificultando a fecundação. Esse processo 
negativo começa a aparecer com 35 dias de uso da planta. É importante lembrar 
que por ser uma planta proposta como auxiliar no tratamento do diabetes tipo 2 e 
resistência à insulina, o tratamento dificilmente será inferior a 30 dias. 
Apesar dessa ação negativa na fertilidade estar relacionada com a dose de uso, 
e ser reversíveF 16, é uma planta que deve ser evitada por homens em tratamento 
de fertilidade. 
r. '-'anca papaya 
As sementes do mamão estão entre os exemplos mais entendidos sobre a 
relação com infertilidade masculina117·118 • Uma das primeiras pesquisas encontrou 
um efeito do Carica papaya contribuindo com anomalias nos espermatozoides, 
bem como redução na densidade da cauda, redução no número de células 
viáveis e redução na motilidade117• Após, foi demonstrado que o extrato dessas 
sementes causa supressão da espermatogênese, por bloqueio na síntese de 
enzimas de produção de testosterona, 17-~ hidroxiesteroide desidrogenase e 3 -~ 
hidroxiesteroide desidrogenase119• Também promove redução do volume nuclear 
e citoplasmático nas células de Sertoli, degeneração nuclear nos espermatócitos 
e espermátides, indicando disfunção na espermatogênese. As células de Leydig 
começam a mostrar disfunção em 60 dias de uso, perpetuando o não funcionamento 
em 120 dias de uso. Porém, em 60 dias, já é evidente 100% de esterilização em 
modelo de ratos113 • 
O efeito estudado do Carica papaya na antifertilidade temporário parece ser 
temporário, ou seja, com reversão da infertilidade após 30-45 dias da suspensão 
. . 
·: 30 :· 
de uso, sendo que alguns autores só encontraram a -eversão 90 dias após a 
suspensão 1 19• 
O Lepidium meyenii, conhecido popularmente por maca peruana, é uma planta 
que parece contribuir com o funcionamento do testículo e da espermatogênese 
de maneira positiva120 . Uma revisão sistemática mostrou essa relação entre o 
Lepidium meyenii e qualidade do sêmen 121 . 
Em modelo animal utilizando o Lepidium meyenii, pesquisadores evidenciaram 
reversão de efeitos deletérios, diminuindo a fragmentação do DNA. A ação da 
planta é possivelmente por via citocromo P450, após ação deletéria ambientali22 . 
Outra pesquisa com 20 homens saudáveis de 20 a 40 anos utilizando maca 
peruana ou placebo por 12 semanas não verificou mudança no perfil hormonal, 
porém, os que estavam usando a maca tiveram um aumento na concentração e 
motilidade dos espermatozoides 123 . O mesmo resultado também foi demonstrado 
por Gonzales et al. 12'\ todavia, com um número menor de participantes e em 16 
semanas de intervenção. A contagem de espermatozoides aumentou em 84% e a 
concentração em 35%. 
A maca contém alguns alcaloides, e nem todas as suas ações orgânicas são 
completamente elucidadas. Uma pesquisa em modelo animal encontrou que a 
maca amarela exerce uma melhora na capacidade antioxidante, e a maca preta 
contribuiu para maior concentração de espermatozoides (em comparação com a 
maca amarela). Dessa maneira, a maca parece exercer um benefício na fertilidade 
masculina, entretanto, a ação depende da espécie e também da adequada 
extração125• 
Entretanto, as pesquisas em humanos ainda são escassas e as conclusões 
precisam de confirmação, pois existem discrepâncias na literatura. Além disso, 
o cuidado com a origem e processo de extração pode influenciar a ação final da 
planta. 
Tribulus terrestris 
Tribulus terrestris é uma planta popularmente associada ao aumento da 
testosterona. Entretanto, pesquisas científicas em modelo animal são escassas, 
e ainda não há publicações com humanos que suportem esta ação. Sobre a 
fertilidade masculina, o Tribulus terresr,.-is, em modelo animal, demonstrou uma 
melhora no processo de estresse oxidativo induzido por metronidazol, restaurando 
parcialmente as alterações causadas pela droga como a redução do peso testicular, 
da espermatogênese ~das atividades das enzimas antioxidantes 126. Dessa forma, 
houve uma resposta positiva na fertilidade de ratos machos, possivelmente devido 
à presença de fiavonoides, que contribuíram com o status antioxidante, e não por 
influência hormonal. Da mesma maneira, outras plantas como a Curcuma longa 
. . 
: 3 1 ·. 
e o Allium sativum poderiam contribuir para a melhora na ferti lidade via manejo 
do estresse oxidativo induzido por xenobióticos126• 
Cu(curno lar.go 
A Cu1cuma longa é uma planta com grande potencial antioxidante e anti-
inflamatório, além de ser amplamente utilizada no Brasil, em diversas formas de 
extração. Uma pesquisa em modelo animal induziu a redução da espermatogênese 
com o uso de um medicamento espermatotóxico. Houve, dessa maneira, uma 
redução na motilidade e contagem de espermatozoides e nos níveis sérios da 
testosterona. O grupo de ratos que foi tratado com o extrato de Curcuma longa 
teve complicações menos expressivas e tinham uma morfologia mais próxima 
do normal, amenizando, assim, os efeitos lesivos do medicamento na fertilidade 
masculina 127. 
1;\/dhonio somnifero 
A Withania somnifera, conhecida popularmente como ginseng indiano ou 
ashwagandha, é um adaptógeno amplamente utilizado para melhora de humor 
e disposição. Na fertilidade masculina pode contribuir positivamente como 
demonstrado em uma pesquisa com homens. Ambiye et al. 128 mostraram que o 
uso de 225mg do extrato seco padronizado em withanolídeos, por 3 vezes ao 
dia, por 12 semanas, tem ação na liberação do cortisol e modificação do eixo 
hipotálamo-hipófise-gonadal. Dessa maneira, pode contribuir positivamente com 
a produção dos hormônios sexuais e com o funcionamento do sistema reprodutor 
masculino. 
Exames lab oratoria is pré-gestocionois 
De acordo com o explanado nesse capítulo, os homens devem ser acompanhados 
nutricionalmente por pelo menos 3 meses antes da fecundação, garantindo, assim, 
o reparo em disfunções do sistema reprodutor e a adequação das rotas químicas do 
processo de esperma to gênese. Alguns exames laboratoriais podem auxiliar como 
ferramentas de diagnóstico nutricional do paciente e direcionar condutas junto 
aos sinais e sintomas apresentados, como o perfil hormonal, o perfil tireoidiano, 
o perfil inflamatório e o perfil nutricional- sobretudo os níveis de selênio, zinco 
eritrocitário e 25(0H) vitamina D. 
Dev'e-se lembrar, ainda, que o ajuste no padrão alimentar e a redução da 
exposição ambiental a xenobióticos são pilares importantes na prevenção e 
tratamento da infertilidade masculina. 
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