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21 Vila Velha/ES, 30 de março de 2020. 1. Nome: GLEIDIANE BARBOSA 1. Matricula: 201803425024 ERA UMA VEZ... A LITERATURA INFANTIL NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS Gleidiane Barbosa1 Maria Adelaide Maio Rodrigues2 RESUMO Este artigo traz uma abordagem teórica abrangendo o surgimento da Literatura Infantil, a sua importância na formação de leitores, os critérios e aspectos que podem ser utilizados na prática educativa no ensino infantil através da contação de histórias e suas contribuições positivas para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem da leitura. Observa-se que o uso pedagógico da literatura infantil auxilia o docente no favorecimento do desempenho escolar da criança, no desenvolvimento de sua autonomia e de valores sociais, na interação com os livros, leitura e escrita e na ampliação de conhecimentos e saberes essas histórias proporcionam. O objetivo da pesquisa foi o de analisar a contribuição das histórias infantis nos processos de aprendizagem, desenvolvimento psicológico efetivo da criança e os critérios e aspectos utilizados pelo professor ao trabalhar com a literatura infantil. Especificamente, buscou-se pesquisar sobre o surgimento da Literatura Infantil até o momento em que ela se coloca como mediadora de práticas escolares; analisar seu favorecimento na formação de leitores; descrever os principais passos orientados para o professor em sua arte de contação de histórias em sala de aula; e, examinar como a Literatura Infantil contribui no processo de aprendizagem da leitura. Inicialmente a metodologia utilizada foi exploratória com objetivo de proporcionar visão geral acerca do tema e com o intuito de aprofundamento no tema foi utilizada a pesquisa bibliográfica, concluindo-se que o universo literário precisa ser promovido, de forma constante – o que demanda investimento. Para que tal situação aconteça, o acesso à cultura deve ser valorizado em todos os momentos da vida da criança, pois ler – de forma crítica – e interpretar são valores que acompanham a criança durante toda sua existência. Palavras-Chave: Literatura Infantil. Educação. Leitores. Contador. Aprendizagem. ________________________ 1Concluente do Curso de Licenciatura em Pedagogia na Universidade Estácio de Sá. 2Professora Orientadora da Universidade Estácio de Sá. 1. INTRODUÇÃO Na sociedade moderna, a cultura da contação de histórias na infância passou a ser resgatada a partir de estudos de teóricos que se mobilizaram à favor da atividade mediante a comprovação de seus benefícios para o desenvolvimento cognitivo, intelectual, psicológico, de personalidade, de interação social e de ampliação da visão e noções sobre o mundo para a criança, especialmente na Educação Infantil. As histórias infantis são elaboradas pelos seus autores para o deleite da criança, para infundir-lhe amor à beleza, fazê-la viajar nas asas da imaginação, porém, enquanto diverte, as histórias ensinam, desenvolvendo o poder de observação, o gosto artístico, a capacidade de dar sequência lógica aos fatos, o sentido de ordem e de justiça. Tais benefícios não podem ser negados às crianças. A escola tem buscado prover a vida das crianças desse lúdico enriquecedor, no auxílio da aprendizagem e desenvolvimento psicológico e cognitivo de seus alunos, com a finalidade de formar cidadãos plenos, de identidade legítima, de espírito crítico, de capacidade para os embates com conhecimentos que perduram para toda a vida. Este estudo se justifica porque na história lida em uma obra literária ou naquela da cultura popular contada, as palavras são carregadas de significações, imagens, experiências e compartilhamentos, em sala de aula, estrategicamente desenvolve o gosto pela leitura, fortalece os vínculos entre os atores, estreita as relações dentro e fora da escola e propicia a apreensão de conhecimentos. Olhando as histórias infantis, no contexto da sala de aula, sabe-se que é um recurso que deve estar presente nas práticas pedagógicas, não tão somente para divertir, propiciar o prazer dos momentos lúdicos, mas como forma de mediar conhecimentos, sem perder sua principal função. Com base nessas questões busca-se, através da pesquisa, investigar: Por que a arte de contar histórias deve estar presente nas práticas docentes na Educação Infantil? Como a Literatura Infantil contribui na formação de leitores e no desenvolvimento do processo de ensino da leitura? Estudos de teóricos e educadores mostram que a literatura infantil, na forma de contação de histórias ou através de leituras, tem participação fundamental no desenvolvimento da criança. Sua contribuição enriquecedora para a aprendizagem faz aumentar a apreensão de uma infinidade de conhecimentos tornando esta prática relevante para que seja incentivada a utilização de histórias infantis no cotidiano da escola. A escola deve considerar a contação de histórias e a sua leitura como meio essencial para a conscientização e construção de saberes e, desta forma, buscar estratégias para que todas as crianças tenham acesso a um pleno desenvolvimento da leitura e da escrita. O objetivo da pesquisa foi o de analisar a contribuição das histórias infantis nos processos de aprendizagem, desenvolvimento psicológico efetivo da criança e os critérios e aspectos utilizados pelo professor ao trabalhar com a literatura infantil. Especificamente, buscou-se pesquisar sobre o surgimento da Literatura Infantil até o momento em que ela se coloca como mediadora de práticas escolares; analisar seu favorecimento na formação de leitores; descrever os principais passos orientados para o professor em sua arte de contação de histórias em sala de aula; e, examinar como a Literatura Infantil contribui no processo de aprendizagem da leitura. As crianças, desde muito cedo, aprendem a ser leitoras por meio das histórias que ouvem e aprendem a ver o mundo por meio das histórias que os adultos contam. Essa apresentação de um mundo – mágico – no qual fadas e duendes coexistem com princesas e heróis revela valores que, futuramente, serão resgatados pelo indivíduo, contribuindo significativamente na formação de sua personalidade e dos valores importantes para ela. (COELHO, 1992; EMANUEL, 2010) Inicialmente a metodologia utilizada foi exploratória com objetivo de proporcionar visão geral acerca do tema e com o intuito de aprofundamento no tema foi utilizada a pesquisa bibliográfica como aponta Gil (1999), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros científicos. Este tipo de pesquisa é utilizado para desenvolver trabalhos acadêmicos fundamentados em teorias já existentes para um maior aprofundamento dos conhecimentos acerca do assunto abordado diante do fato de que as histórias contadas integram-se na escola de ensino infantil. De modo que foi reunido um considerável acervo, cujos autores embasaram a pesquisa, organizada em tópicos, seguindo um roteiro ordenado que também serve para situar o leitor. A temática foi desenvolvida de forma a abranger alguns aspectos do surgimento da Literatura Infantil, da sua utilização na educação e dos indicativos positivos para a prática escolar. O artigo aborda os aspectos benéficos introduzidos pela literatura infantil na educação das crianças e sua integração na escola para romper com limitações da prática pedagógica em relação ao desenvolvimento da leitura e à formação de leitores e como ela atua no desenvolvimento da criança para a vida, criando nelas fatores importantes para a formação da personalidade e do desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 O SURGIMENTO DA LITERATURA INFANTIL No período medieval a crença em fadas, gigantes, anões, bruxas, castelos encantados, elixires, tesouros, fontes da juventude, quebrantos e países utópicos e mágicos era disseminada para adultos e crianças, cujas histórias sobreviveram ao longo dos séculos através da transmissão oral feita por contadores de histórias, jograis e menestréis, num tempo, nunca é demais frisar, em quea vida comunitária e coletiva era intensa. A contação de histórias se confunde com a própria história da humanidade. Os povos mais antigos se juntavam ao redor de fogueiras, enquanto contavam as suas histórias e tradições, relembrando e disseminando sua cultura e os seus costumes. Assim repassavam ritos, ensinamentos e tradições por meio de mitos e lendas contadas – também - para as crianças. Os ensinamentos apreendidos não se diferenciavam das histórias contadas com intuito de divertir (COELHO, 1991). Divertir e ensinar – dualidade parecida com as histórias infantis pesquisadas e catalogadas pelos irmãos Grimm, que se mantém atuais até hoje ou pelo esforço atual de resgate de alguns valores, também por meio de histórias. De acordo com Emanuel (2010, p. 207), “o conto toma sentido literário no século XVIII, por meio do trabalho realizado pelos irmãos Grimm". Esse sentido literário promoveu histórias simples, repassadas por meio oral, à categoria de literatura. Com isso, o saber advindo de tais fontes tornou-se relevante. A produção de livros destinados a um público infantil foi iniciada no final do século XVII e durante o século XVIII, pois antes disso não existia o interesse de se escrever para as crianças, tendo em vista que elas eram vistas como adultos em miniatura, pois trabalhavam, participavam da vida pública, festas, guerras e de outros acontecimentos, sem diferenciação etária. A literatura infantil tem relativamente poucos capítulos, começa a delinear-se no início do século XVIII, quando a criança passa a ser um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria se distanciar da vida dos mais velhos e receber uma educação especial que a preparasse para a vida adulta. (CUNHA, 1999, p.22). De acordo com Zilberman (1998), no início do século XVIII, a criança ganha espaço na sociedade. Começa a ser vista e reconhecida como criança e não mais como um adulto de proporções menores e, com essa mudança, é percebido como um consumidor que precisa ser atendido. É preciso compreender como a literatura infantil produz modos de existência e o entrelaçamento entre a invenção da infância e a literatura infantil analisando a infância como sinônimo de formação, incompletude, irracionalidade, inferioridade, e que precisa ser formada, normatizada e protegida; e a infância como condição de transformação, inventividade, ruptura. As muitas transformações vividas na sociedade causaram mudanças na estrutura familiar, especialmente na infância, que ganhou um status diferenciado. A criança passa a ter privilégios sociais nunca antes percebidos na sociedade, tornando possível o surgimento de obras literárias destinadas ao público infantil. De acordo com Emanuel (2010), ainda no século XVIII, a literatura infantil é apresentada ao mundo ocidental através dos contos de fadas, com adaptações de acordo com cada cultura. Dessa forma, La Fontaine, Charles Perrault, Jacob e Wilhelm Grimm, Fénelon foram se tornando mundialmente conhecidos, bem como as suas obras. Uma figura importante na produção infantil do século XIX foi o pensador Jean-Jacques Rousseau, pois suas proposições teóricas causaram um impacto na produção literária infantil da época, no Reino Unido, França e Alemanha. O princípio do crescimento espontâneo e normal da criança dentro de um ambiente natural adequado, proclamado por Rousseau, foi percebido equivocadamente pelos escritores e educadores da época, que usaram as produções para difundir princípios moralizantes e informações escolares. Ainda nesse século, as pesquisas dos irmãos Grimm são publicadas, imortalizando personagens como Branca de Neve e Cinderela. Outro autor que teve grande destaque foi o dinamarquês Hans Christian Andersen, que apresentou ao mundo histórias como “O Patinho Feio” e “O Soldadinho de Chumbo”, em que objetos e animais são humanizados, a exemplo das fábulas de Esopo. A aceitação do público em relação às histórias infantis e contos de fadas possibilitou a evolução da literatura infantil e causou mudanças no processo de criação desse tipo de literatura. As duas mudanças mais importantes foram o destaque do lúdico em relação à instrução e definiu um gênero voltado especificamente para crianças. Entretanto, as mudanças sociais atingiram somente as camadas mais abastadas da sociedade. À criança burguesa foi possibilitado o acesso a um tipo de literatura voltado especificamente para ela, mas a criança proletária foi ignorada nesse processo, pois ainda era obrigado a trabalhar cedo ou era tratada de forma violenta. Nesse contexto, a escola ganha um significado maior, pois se tornou uma ponte entre a criança e o mundo, pois mesmo a criança proletária tem acesso ao universo literário, mediado pelo professor – e, com isso, respostas particularizadas aos anseios de sua camada social. Até o século XIX, as literaturas infantil e infanto-juvenil eram importadas, traduzidas em Portugal e transportadas para o Brasil. Isso tornava o processo custoso, fazendo com que este tipo de literatura se tornasse inacessível à maioria dos brasileiros. Também não existiam editoras no Brasil, o que fazia com que os autores brasileiros buscassem imprimir suas obras no exterior. Dentre os muitos esforços em consolidar uma literatura infantil brasileira, um personagem se torna célebre: Monteiro Lobato. A partir da publicação da “Menininha do Nariz Arrebitado”, em 1921, tem-se um novo panorama para a literatura infanto-juvenil brasileira. O que se mostrou através da obra de Monteiro Lobato foi uma literatura com problemáticas e peculiaridades brasileiras, valorizando o saber local e destacando idiossincrasias locais, como o folclore e a culinária. Neste momento, o Brasil passa a ter um representante literário que mudou os paradigmas da literatura infantil. Como também escreve Coelho (1991, p.225): A Monteiro Lobato coube a fortuna de ser, na área da Literatura Infantil e Juvenil, o divisor de águas que separa o Brasil de ontem e o de hoje. Fazendo a herança do passado imergir no presente, Lobato encontrou o caminho criador que a Literatura Infantil estava necessitando. Rompe, pela raiz, com as convenções estereotipadas e abre as portas para as novas ideias e formas que o nosso século exigia. Diversos teóricos apresentam explicações para o fenômeno da literatura infantil. Para Meirelles (1984, p. 40), “A literatura infantil é aquela que as crianças leem com agrado e não aquela que é escrita para crianças”. Destarte, a relevância da proposta estética e do caráter lúdico da literatura, como uma forma de seduzir leitores, deve ser considerada. Os contos populares sobreviveram ao longo dos séculos de boca em boca. Nas obras de literatura infantil os textos são construídos com a intenção de entrar em contato com o leitor. Ao discutir a literatura infantil, não precisamos, necessariamente, entender todas as particularidades deste tipo de obra, como se o processo estivesse encerrado. De forma repetida, a literatura infantil se mostra como um processo em construção, respondendo aos anseios do leitor que se identifica com ela. Desta forma, não há sentido em atribuir a ela função exclusivamente pedagógica ou didática. Se desconstruído o termo “literatura infantil”, é facilmente perceptível que o núcleo da expressão é “literatura”, que, de forma inequívoca, se trata de arte – “fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível realização.” (CAGNETI, 1996, p.7). A literatura infantil apresenta aos leitores, sobretudo às crianças, a descoberta de mundos onde sonhos e realidade se fundem e criam um universo híbrido, onde a realidade e a fantasia estão ligadas intrinsicamente. Neste universo, a criança se descobre em meio a uma jornada, descobrindo como atuar nesse mundo mágico em que qualquer realidade – boa ou má – pode ser transformada. Ao se pensar a história da literatura infantil, percebe-se que, apesar de sua importância, ela tem - relativamente- poucos capítulos. Essa história começa a ser delineada no início do século XVIII, quando a criança começa a ser percebida como um ser com necessidades específicas, diferentes dos adultos. Essa percepção das características e necessidades infantis cria um apelo a uma forma diferente de educar, que preparasse as crianças para uma vida adulta autônoma. Nos períodos anteriores, a criança, coexistindo socialmente com os adultos, participava também de sua literatura. Em relação a isto, existiam no século XVIII, duas realidades visíveis: a criança dos meios sociais mais abastados, orientada por preceptores, lia geralmente os grandes clássicos. No outro lado, a criança das classes desprivilegiadas lia – ou ouvia – as histórias de cavalaria ou histórias de aventuras. Além disso, lendas e contos folclóricos compunham uma literatura de cordel de grande interesse das classes populares. (COELHO, 1991). Devido à concepção de infância que estava sendo constituída, novos mecanismos e ferramentas foram necessários, de forma a “equipar” e “preparar” a criança para enfrentar – quando necessário – e se adequar ao seu próprio meio social. Neste contexto, a escola tornou-se uma instituição legalmente aberta, atendendo não apenas os interesses da burguesia, mas os diversos segmentos da sociedade. Neste quadro, a literatura infantil contribui para validar o processo de escolarização, percebendo a maneira como a escola “trabalha sobre a língua escrita, ela depende da capacidade de leitura das crianças, ou seja, supõe terem esta passada pelo crivo da escola” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 18) Se observado o roteiro percorrido na busca de uma literatura adequada para a infância, é possível observar duas tendências limítrofes daqueles que influenciavam a leitura das crianças: dos clássicos foram realizadas adaptações e do folclore nasceram os contos de fadas – os contos populares e folclóricos, até então, não eram voltados especificamente para as crianças, mas para um público mais amplo. De forma recorrente, a infância é marcada pelo “brincar”. A brincadeira está ligada, de forma indissociável, ao cotidiano da criança. Se desconsiderar essa característica, desconsidera-se a própria criança, pois na ludicidade ela descobre ferramentas para construção do próprio caráter, bem como de sua criatividade e de sua relação com o mundo. As bases da literatura infantil, desde a origem, sempre foram ligadas à diversão – o livro como uma nova maneira de brincar – ou à aprendizagem. Confiava-se que o teor deste tipo de literatura seria adequado ao nível de entendimento e de interesse do público infantil, referenciando suas peculiaridades. Como, nesse momento, a criança era vista como uma miniatura de adulto, os primeiros textos destinados ao público infantil foram adaptados ou sintetizados de textos escritos para o público adulto. Eliminadas as dificuldades de linguagem e as possíveis reflexões que estariam acima do que se considerava compreensível para o leitor infantil, retirando as situações de conflitos morais – ou situações não exemplares – e ressaltando, especialmente, ações ou peripécias de caráter aventureiro ou modelar, as obras literárias eram – de certa forma - reduzidas em suas qualidades intrínsecas, mas atingiam o novo objetivo: alcançar esse novo leitor e inseri-lo em diferentes experiências – do mundo real ou do mundo maravilhoso. Reforçando esse argumento, Zilberman (1998) afirma que: Poder-se iam definir os livros para crianças por essa característica: são os que ouvimos antes de chegar à idade adulta. Não significa que, depois, não voltemos a eles; importa, porém, que o regresso se deva ao fato de terem marcado nossa formação de leitor, imprimir-se na memória e tornarem-se referência permanente quando aludimos à literatura. (ZILBERMAN, 1998, p.10-11) Atualmente a literatura infantil tem caráter pedagógico, além de objetivos mercadológicos. Na opinião de Zilberman (1985, p. 13-14), “os primeiros textos para crianças são escritos por pedagogos e professores, com marcante intuito educativo. E, até hoje, a literatura infantil permanece como uma colônia da pedagogia”. Ou seja, a Literatura Infantil tem função formadora, pedagógica e recreativa quando utilizada adequadamente, quanto à escolha do tema diante das variadas situações vividas pelas crianças no seu cotidiano. A literatura infantil se coloca como mediadora de um universo simbólico construído pelo adulto e que deve ser transmitido à criança para além de textos pois se constitui como um espaço em que perpassam múltiplos discursos que falam sobre a infância e para a infância. 2.2 A LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DE LEITORES Os livros infantis, como tipo textual adequado a uma determinada faixa etária, surgiram no final do século XVII. Isso aconteceu no momento em que a criança deixou de ser tratada como um adulto em miniatura e passou ser vista como um tipo de indivíduo merecedor de consideração especial. De acordo com Zilberman (2003, p.25), “os primeiros livros para crianças foram produzidos no final do século XVII – e durante todo o século XVIII”. Antes disso, não se escrevia para elas, porque não existia a condição chamada de “infância”. O aprendizado de uma criança começa muito antes de sua entrada na escola. Ouvir histórias é muito importante na formação de qualquer criança. Escutá-las é o começo do processo de construção de um leitor. Existem textos e estudiosos que afirmam os benefícios de contar histórias para os bebês ainda na barriga da mãe, pois além de familiarizar a criança com a voz materna, cria o hábito de ouvir – que é recuperado quando a mãe conta histórias infantis para o filho. “Era uma vez.” Essa fala inicial apresenta as crianças ao universo das histórias infantis. Segundo Abramovich (1993, p. 16), “o primeiro contato da criança com um texto é feito oralmente, através da voz da mãe, do pai ou dos avós, contando contos de fada, trechos da bíblia, histórias inventadas”. De acordo com Abramovich (1993): [...] ouvir histórias e (re)contar histórias é um hábito imemorial, pois os mais variados povos se reuniam para narrar acontecimentos, cotidianos ou excepcionais, criando um ambiente onde as pessoas escutavam e repassavam as histórias, como forma de manterem vivas seus valores, suas tradições, crenças e a própria linguagem. No contexto da literatura infantil, a importância da interação social e da concepção da linguagem como espaço de recuperação do sujeito - como ser histórico e social - é uma zona de convergência entre os pensamentos de Vygotsky e de Bakhtin. Tomando como referência este ponto de confluência é possível afirmar que, segundo estes autores, o desenvolvimento da criança tem sua origem durante a interação social criada por meio de uma relação entre o plano individual e o plano social. Assim, o desenvolvimento linguístico infantil só pode ser entendido a partir de suas inter-relações – numa proposta dialógica permanente. Ouvir, contar e recontar histórias são atividades que permitem um diálogo, não só entre os interlocutores diretos, mas entre as diversas vozes, que ao longo do tempo criam, recriam e combinam tramas e enredos. O contato inicial com os textos permite que a criança se relacione com um mundo novo e, com seus próprios recursos imaginativos, criar novas histórias – e construir uma “biblioteca cognitiva”, que pode ser acessada a qualquer momento. A escola e a família tem um papel muito importante de apresentar ainda na primeira infância a literatura infantil, para que todas tenham oportunidade de vivenciar várias descobertas e ampliar a visão de mundo, seja conhecendo lugares e vidas, seja experimentando sensações, emoções e sentimentos. A literatura tem poder na construção intelectual e emocional do indivíduo. Segundo Bamberguerd (2000, p.70), “a literatura não pode ser uma obrigação para as crianças, pois precisa ser vivenciada de forma prazerosa, como diversão, de forma que, ouvindo e lendo histórias, as crianças possam desfrutar várias emoções e sentimentos”. A literatura infantil encanta os sentidos das criançaspor meio de palavras. Aguçam a vontade de ler ou escutar sem parar e de imaginar um mundo diferente, onde, além da linha do horizonte, moram fadas e duendes. De acordo com Abramovich (1993, p.17): [...] quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm em relação ao mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância, com medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinarem infinitos assuntos. É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica...É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia etc., sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula. Diversos dados científicos mostram que as crianças que têm a oportunidade de ouvir histórias (literárias ou não) desenvolvem mais a imaginação, a criatividade e o senso crítico. À medida que se tornam leitores e ouvintes críticos, se percebem capazes de tomar decisões e interagir com o mundo que os cerca. Contar e ler história para crianças são práticas comuns em muitas residências e escolas. Várias pesquisas, como as realizadas por Wells (1985) e Rego (1988), evidenciaram que as crianças cujos pais leem para elas apresentam mais facilidade no processo de alfabetização. Nesse tipo de prática, que não é uma brincadeira, embora seja uma atividade lúdica, as crianças se familiarizam com a linguagem literária, além de ampliarem seus repertórios textuais. Nas escolas também são frequentes as situações em que os professores leem para a turma. Nessas situações, as crianças aprendem sobre textos, sobre a linguagem escrita e sobre as interações sociais mediadas pela escrita. Elas se divertem ouvindo histórias. (BRANDÃO; ROSA, 2011, p.60). A literatura infantil se torna impactante no cotidiano, no convívio e na aprendizagem infanto-juvenil, estabelecendo um papel fundamental para o desenvolvimento da criança. No contexto da Literatura Infantil a linguagem também é reconhecida como o instrumento de interação entre as crianças, que compartilham e interagem, de forma dinâmica, o seu processo de construção subjetiva. No sentido de iniciar a criança na linguagem literária, pedagogicamente, amplia-se a linguagem oral e a comunicação. Os professores desempenham um papel fundamental no processo de auxiliar na formação de leitores, pois, no espaço escolar, é possível realizar diversas estratégias de leitura. Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas e muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descobertas e compreensão do mundo. (ABRAMOVICH, 1993, p.16). A análise da estrutura textual auxilia os alunos na aprendizagem das características textuais – no caso da Literatura Infantil, elementos narrativos - como cenários (espaço), tempo, problema, meta, ação, resultados, resolução, tema, etc. como um procedimento auxiliar para compreensão e recordação do conteúdo lido. A representação visual do texto, por sua vez, auxilia leitores no entendimento, organização e, como recurso mnemônico, de algumas das – muitas - palavras lidas, para formação de uma imagem mental do conteúdo. (COSTA, 2014). De acordo com Abramovich (1993) a literatura infantil possui uma relevância maior que ultrapassa o prazer de ouvir e/ou ler histórias, pois ela contribui, de forma efetiva, para efetivar a iniciação das crianças no mundo da leitura e, quando utilizada de maneira adequada, é um instrumento de grande importância na formação de leitores, porque faz com que as crianças despertem para o mundo da leitura e a enxerguem não apenas como ato de aprendizagem, mas também como uma atividade gostosa. A criança que “entra no mundo dos livros” descobre o universo da leitura e tem menos dificuldades na aprendizagem e na convivência no cenário escolar. A literatura infantil também tem contribuído com o processo de ensino-aprendizagem, como uma ferramenta para assimilação da leitura e da escrita, pois segundo Freire (1986), “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”. É primordial despertar o gosto pela leitura ainda na Educação Infantil. Segundo Emanuel (2010, p.124) Vygotsky define a criança como “um sujeito social, que conhece significado e passa por transformações advindas dos valores culturais do seu ambiente. Esse ambiente é também transformado, isso a torna um ser criador e, ao mesmo tempo, recriador de cultura”. Assim sendo, a criança inserida neste mundo aprende de forma lúdica e as atividades podem ser desenvolvidas através de brincadeiras, contação de histórias e jogos, pois além de estimular a autoconfiança e a autonomia, pois a literatura infantil não só contribui para a formação de leitores, mas também influencia na formação da identidade da criança que passa a conhecer e compreender o mundo em sua volta. Destarte, a escola inserida nessa proposição deve ser um ambiente aberto aos aspectos culturais, com preocupações maiores do que simplesmente “ler e escrever”, pois esses dois elementos – dinâmicos – devem estar associados a um eixo maior, vinculado a um contexto social que não pode ser reduzido à perspectiva técnico-linguística. Nessa perspectiva, a literatura infantil pode ser vista como uma ferramenta que ajuda na inserção da criança no universo literário, levando-a construir relações em mundos diversos, de aventura e fantasia. Por meio da literatura infantil, a criança aprende, através dos exemplos e das personagens, a lidar com as suas próprias emoções – se identificando com o mundo literário e (re)significando seu próprio mundo. As crianças, desde muito cedo, aprendem a ser leitoras por meio das histórias que ouvem e aprendem a ver o mundo por meio das histórias que os adultos contam. Essa apresentação de um mundo – mágico – no qual fadas e duendes coexistem com princesas e heróis revela valores que, futuramente, serão resgatados pelo indivíduo, contribuindo significativamente na formação de sua personalidade e dos valores importantes para ela. Educação não é um processo isolado, em um período específico na vida de um indivíduo, mas uma ação continua que ultrapassa limites temporais – é um processo que tem a duração de uma existência, a cada nova situação do dia a dia se aprende algo novo. De acordo com Emanuel (2010), as crianças, após esse primeiro contato com o universo das histórias, crescem e vão para a escola. À escola cabe um papel de suma importância para a continuação do processo de formação de leitores, que é o de estimular o aluno na prática da leitura, tendo como elemento norteador a fase do seu desenvolvimento na qual o aluno está compreendido, fazê-lo perceber a importância das diversas estratégias de mediação entre o aluno e o universo literário, possibilitando a formação de um leitor crítico. O papel da escola vai muito além de ensinar a criança a ler de maneira automática. É essencial que ela contribua na formação de leitores que sejam capacitados a interpretar os mais variados tipos e/ou gêneros de leitura e, de maneira crítica, criar sua opinião acerca do material lido. De acordo com Silva (2008, p.11), “a escola, então, redescobriu a literatura, e a editoras descobriram a escola. Como consequência, os livros saíram das caixas de brinquedos, onde costumavam alinhar-se junto a bonecas e carrinhos, e transferira-se para a mochila estudantil”. A escola deve considerar a leitura com o meio essencial para a conscientização e construção de saberes e, desta forma, buscar estratégias para que todas as crianças tenham acesso a um pleno desenvolvimento da leitura e da escrita. De acordo com Paiva e Rodrigues (2009, p.103). São múltiplos os fatores que contribuem para que a Literatura Infantil se faça cada vez mais presente em nossas escolas: o crescente desenvolvimento editorial da produção voltada para esse segmento; a qualidade das obras produzidas por escritores e escritoras brasileiros(reconhecida mundialmente); as políticas públicas preocupadas com a formação do leitor; a divulgação de títulos e autores brasileiros por organismos públicos e privados; as recomendações explícitas dos PCNs – Parâmetros curriculares Nacionais – para o desenvolvimento de práticas de leitura em todos os níveis de ensino; o empenho de inúmeros educadores em levar a leitura literária para as suas práticas docentes e principalmente o fato de a instituição escolar cumprir a função de democratizar o livro, num país de poucas bibliotecas e de praticamente inexistente compra de livros em livrarias por esse segmento da população que frequenta a escola pública. A literatura infantil contribui no processo formador, pois é uma ferramenta que instiga, reforça e provoca novas relações – possibilitando ao leitor, de diferentes maneiras, a apropriação de novos conhecimentos e uma nova forma de ver o mundo. A escola e o professor são componentes essenciais na mediação das fontes de informação percebidas no espaço educativo e, com isso, importância vital para formação de um leitor. Segundo Colomer (2007, p.102): “Estímulo”, “intervenção”, “mediação”, “familiarização” ou “animação” são termos associados constantemente com a leitura no âmbito escolar bibliotecário ou de outras instituições públicas e que se repetem sem cessar nos discursos educativos. Todos esses termos se referem à intervenção dos adultos encarregados de apresentar os livros às crianças. A criança que tem contato com o processo de literatura na infância desenvolve várias áreas do cérebro de forma peculiar e prazerosa. Esse hábito proporciona ao adulto a construção de pensamento e ideias mais profundas por interpretação e imaginação. Tal contato é pertinente ao contexto social em que vivem, é resultado de ações subjetivas e objetivas que o homem estabelece com seu meio social, portanto essa construção é imbricada por raízes sociais. O professor pode contribuir positivamente dando doses diárias de leituras agradáveis, sem impor, mas de maneira natural, estimulando um hábito que acompanhará o aluno por toda a vida. “O professor é o grande encantador e sedutor de crianças para que se tornem leitores e para isso lança mão de uma artimanha especial: contar histórias. Tornam a sala de aula um ambiente repleto de livros” (EMANUEL, 2010, p.219). É através da leitura que a criança possibilita se qualificar para o seu próprio desenvolvimento intelectual e para a constituição de princípios particulares, despertando distintas relações com anseios e visões de mundo – criadas ou recriadas a partir da própria percepção do aluno. As crianças que são motivadas a partir da contação de histórias aprendem a encarar seus medos, a vencer suas dificuldades, a fantasiar e a criar. Por isso, ouvir e contar histórias devem ser rotina nas escolas para as crianças, pois favorece a construção de vários conceitos essenciais, como o conceito de cultura, de civilização e tempo histórico. Em essência, a natureza da Literatura Infantil diferencia-se das demais obras literárias apenas em função do leitor, e deve ser valorizada de forma significativa e ampla no contexto de seu alcance na formação das crianças e na sua iniciação na leitura. De acordo com Bamberguerd (2000), a criança que lê com maior desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais facilmente, neste sentido, a criança interessada em aprender se transforma num leitor capaz. Algumas crianças têm oportunidade de ouvir histórias e manusear livros, jornais e revistas de forma cotidiana, mas essa não é a realidade de todos. Sabendo disso, é fundamental que a escola desenvolva trabalhos e promova a literatura infantil desde os primeiros anos escolares. A Literatura Infantil contribui para a formação do leitor, estimulando a curiosidade e fomentando a produção de novos conhecimentos, saberes e habilidades. O universo literário precisa ser promovido, de forma constante – o que demanda investimento. Para que tal situação aconteça, o acesso à cultura deve ser valorizado em todos os momentos da vida da criança, pois ler – de forma crítica – e interpretar são valores que acompanham a criança durante toda sua existência. A literatura é algo que abraça o mundo da imaginação das crianças, é um produto amplo que não se limita a ações de leitura e escrita. Ela também se idealiza a partir do ouvir, tornando-se uma ligação entre histórias e imaginação. Nesse contexto é possível mencionar a literatura infantil como parte do processo de alfabetização e letramento, aliás, podemos descrevê-la como ponto fundamental para embarcar as crianças no mundo da leitura. A literatura infantil não pode se manter estática, antes, deve manter-se em constante mobilidade, se apropriando de valores, promovendo uma reflexão que ultrapasse os ditames do saber tradicional e ajude a criança a construir sua própria individualidade – e relacionar-se, de forma plena, com o mundo que a cerca. Desenvolver atividades de contação de histórias, projetos de roda de leitura, momentos reservados para que o aluno folheie páginas do livro, e momentos para contarem histórias do seu imaginário; proporcionam a criança o afeto e o apego pelo seu próprio desenvolvimento da leitura. E essa é a chave para este processo fazer com que o aluno torne-se autor do seu desenvolvimento, que ele esteja interessado no produto final da sua trajetória. 2.3 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS Tão importante quanto ouvir é contar histórias. Para contar uma história é necessário utilizar diversos outros saberes. Contar histórias é uma arte, sendo assim, não se pode fazer isso de qualquer maneira. É necessário um conhecimento prévio do enredo e, durante a leitura, demonstrar que está habituado com as palavras e estrutura narrativa da história. No contexto das atribuições e responsabilidades do professor como mediador das histórias, Oliveira (2009) afirma: O melhor instrumento e a técnica mais eficiente são o amor e a criatividade, unidos à preocupação com os objetivos do trabalho, com o nosso público e com a mensagem a ser transmitida. É preciso que o professor goste de Literatura infantil, que ele se encante com o que lê, pois somente assim poderá transmitir a história com entusiasmo e vibração. Se o professor for um apaixonado pela Literatura Infantil, provavelmente, os alunos se apaixonarão também. Para ler um texto de Literatura Infantil é preciso ter o coração de criança. Muitas vezes lemos uma história e não gostamos, uma criança lê a mesma história e fica encantada. Isso pode acontecer porque lemos com a cabeça de adulto. (OLIVEIRA, 2009, p.15). Nessa perspectiva as histórias devem ter significados para serem compreendidas e interpretadas de diferentes maneiras, à revelia da imaginação de cada criança, na vinculação das experiências vividas na sua conjuntura sociocultural. A história para agradar deve ser boa. De acordo com Abramovich (1993, p.18), “para contar uma história – seja qual for - é bom saber como se faz”. Contar e ouvir histórias são duas artes que se complementam, pois ambas influenciam no processo de formação de leitores. Um bom narrador e uma boa história podem tornar o momento prazeroso e divertido, fazendo com que as crianças aprendam de maneira lúdica. O ouvir história pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver livro, o escrever, o querer ouvir de novo a mesma história outra vez. Afinal tudo pode nascer de um texto! (ABRAMOVICH, 1993, p.23). Cabe ao professor estimular a imaginação de cada criança e despertar o encantamento pela literatura infantil. A criança que tem contanto com livros ou com história contada, desenvolve mais a imaginação e senso crítico, além dos estímulos sonoro, emocional etc. Por isso é importante que o livro seja tocado pela criança, folheado, de forma que se tenha um contanto mais íntimo com o objeto, no caso, o livro. A contação de histórias processa-se apenas por meio da voz do contador e de sua postura, não requerendo acessórios, pois, com as mãos livres, sua força seconcentra na expressão corporal e essa “é a maneira ideal para contar uma história e a que mais contribui para estimular a criatividade” conforme ensina Coelho (1991, p.32). Observando o contexto infantil, as práticas discursivas estabelecidas, em geral, são mediadas pela professora no ambiente escolar ou pelos pais no ambiente familiar. Esses mediadores precisam estar atentos às proposições e singularidades de cada criança ao contarem histórias. E na escola, segundo Betty Coelho (1992, p.59): “Sempre que possível, convém propor atividades subsequentes. As chamadas atividades de enriquecimento ajudam a “digerir” esse alimento num processo de associação a outras práticas artísticas e educativas”. A criança que é estimulada com as histórias que lhes são contadas aprende a enfrentar seus medos, a vencer suas dificuldades, a aceitar os seus limites, é o mais importantes, a ver, a sonhar, a criar. Essa experiência lhe possibilita o exercício de se identificar com os outros, de se reconhecer enquanto ser humano, de se incluir e se sentir incluída na humanidade. É comum, nas salas de educação infantil, observarmos atividades de conversa, hora da novidade, contação de histórias, entre outras situações que buscam estimular o desenvolvimento da linguagem oral. Nesses momentos, as crianças ampliam suas habilidades de uso da linguagem. Aprendem a estruturar textos oralmente, a variar os modos de falar, a interagir de modo cada vez mais autônomo por meio da fala, aprendem a ouvir com atenção e a responder de modo ativo às perguntas que lhes são feitas. (BRANDÃO; ROSA, 2011, p. 21). Professores que oferecem pequenas porções de leitura (diluídas, fracionadas) agradável, diariamente; sem que esse processo seja forçado, mas com naturalidade, contribuirão sobremaneira no desenvolvimento do hábito de leitura, que poderá acompanhar a criança durante toda sua existência, passando a ter mais contato com a literatura infantil, apropriando-se do conteúdo literário, mergulhando em uma ferramenta que lhe proporcionará um conhecimento social da língua, isso de uma forma lúdica e prazerosa. Em relação à importância de contar e ler histórias para crianças, Margot Sunderland (2005) afirma que: As crianças não têm recursos interiores para processar e digerir sozinhas seus sentimentos perturbadores. Elas precisam de ajuda. Quando a criança não expressa seus sentimentos dolorosos e inquietantes ela pode passar a ter comportamentos difíceis e provocadores ou até neuróticos. (...) Uma boa proposta é tratar os sentimentos da criança usando a história como principal recurso. (SUNDERLAND, 2005, p.11). A importância de contar histórias para crianças se revela a partir do momento em que se percebe a inserção da criança no mundo proposto. O público infantil precisa ser estimulado e incentivado na prática da leitura. Os processos de estímulo e de incentivo na contação de histórias são muitos, mas sua “eficiência” depende, quase exclusivamente, de como o contador os utilizará. Não existe uma “fórmula mágica” que substitua a habilidade, o entusiasmo e desenvoltura do contador de história. De acordo com Abramovich (1993), quem aspira ser um bom contador de histórias, deve desenvolver alguns passos importantes em seus preparativos: 1) A história a ser contada e apresentada deve estar bem memorizada. Por isso, é imprescindível ler a história várias vezes e estar bem familiarizado com cada parágrafo do livro, para não perder “o fio da meada” e ficar procurando algum tópico durante a apresentação; 2) Destacar e sublinhar os tópicos mais importantes, interessantes e significativos, para que na apresentação recebam a devida valorização; 3) Procurar vivenciar a história. Envolver-se com ela, fazer parte dela e sentir a emoção dos personagens e ao apresenta-la atrair os ouvintes para a magia da história; 4) Ao apresentar a história, falar com naturalidade e dar destaque aos tópicos mais importantes com gestos e variações de voz, de acordo com cada personagem e cada nova situação. No entanto, é preciso cuidar para não exagerar nos gestos ou nas entonações de voz; 5) Oferecer espaço aos ouvintes que querem interferir na história e participar dela. Quem se sente tocado em seu imaginário sente necessidade de participar ativamente no desenrolar da história. O importante é que nessa hora não haja pressa, contando ou lendo tudo de uma só vez. É preciso respeitar as pausas, perguntas e comentários naturais que a história possa despertar, tanto em quem lê quanto em quem ouve. É o tempo dos porquês; 6) Toda história e toda dramatização devem ser apresentadas com entusiasmo e paixão. Sempre devem transparecer a alegria e o prazer que elas provocam. Sem esses componentes, os ouvintes não são atingidos e logo perdem o interesse pelo que está sendo apresentado. Jorge (2003, p.97), afirma: É fundamental que a criança possa vivenciar a palavra e a escuta em todas as suas possibilidades, explorando diferentes linguagens, capturando-as e apropriando-se do mundo que a cerca, para que este se desvele diante dela e se torne fonte de interesse vivo e permanente, fonte de curiosidade, de espantos de desejos e descobertas, numa dinâmica em que ela se socialize e se manifeste de forma ativa, cri(ativa), (particip)ativa em qualquer situação, não apenas “recebendo” passivamente, mas produzindo e (re)produzindo cultura. Portanto, ao utilizar essa ferramenta, o contador deve levar em consideração diversos aspectos envolvidos. A criança pode ser encantada e, a partir do encantamento inicial, se tornar um leitor/ouvinte e futuro leitor autônomo. Os mundos e vivências apresentados se tornaram parte desta criança, fornecendo elementos para criação de sua subjetividade. Ao contar uma história, a história de vida do leitor/ouvinte pode ser rescrita – e se tornar algo muito maior. 2.4 LITERATURA INFANTIL E DESENVOLVIMENTO DA LEITURA Diversos são os questionamentos que se referem à aprendizagem da leitura na educação brasileira. Muitos alunos atravessam todas as etapas do sistema escolar sem, no entanto, conseguir interpretar o significado de um texto – são um arremedo de leitores, pois apesar de conseguir decodificar símbolos linguísticos, não conseguem realizar uma leitura significativa. Assim, a incapacidade de construir relações semânticas se mostra, pois esse leitor não possui a capacidade de perceber os diversos sentidos dos textos que lê. Kleimam (2005) apresenta uma crítica à concepção utilizada, de forma frequente, no trabalho com a leitura. Ele refuta a ideia que o texto é um simplesmente depósito de conhecimentos e informações, apresentados através das palavras, do qual o leitor busca sentido em cada palavra, de forma individual, para chegar à mensagem guardada em seu interior. Esse procedimento contribui na produção de um leitor passivo, acomodado e acostumado a somente traduzir os símbolos linguísticos. Um leitor incapaz de chegar ao(s) verdadeiro(s) significado(s) do texto, tendo em vista que a leitura se dá de forma fragmentada, quebradiça. Existe, também, a leitura que possui como fim específico a construção da resposta a uma pergunta previamente formulada. Nesse caso, o leitor não precisa se demorar na leitura, pois é necessária apenas a localização da informação relevante. Costa ressalta que: A linguagem não funciona dessa maneira isolada: ela é associativa, uma rede de sentidos. Erra, mais ainda, o professor ao deixar de investigar com maior profundidade o pensamento expresso no texto. Em lugar desse questionamento, o professor transfere ao aluno a capacidade de opinar: sem que o estudante tenha sequer compreendido o texto, já está o professor a perguntar-lhe a opinião. O posicionamento critico, a concordância ou discordância com o autor. (COSTA, 2014, p.4). É primordial que se crie o hábito do posicionamento crítico, para que a criança não leia de forma passiva. A criança precisa dialogar com o texto, a fim de perceber sua intencionalidade, bem como as ideias – superficiais ou profundas. O leitor precisa, de certo modo, confrontar o autor, de formaque seus saberes contribuam na construção de novos conhecimentos. Nesse aspecto, Abaurre, citado por Costa, afirma: Se o objetivo do trabalho com a leitura de textos é a constituição de leitores com uma gama variada de habilidades de leitura, de leitores capazes de ler para informar; para estudar e entender o ponto de vista de um autor; para compará-lo com o de outros autores; para buscar e construir novos conhecimentos; para fruir, apreciar e refletir sobre o conteúdo, a estrutura textual ou os recursos de linguagem utilizados; para relacionar o texto lido com outros; para criticar aspectos do texto ou da realidade que retrata, etc, o aluno deve ser exposto a textos reais (e não artificialmente construídos, para enfatizarem um problema de ordem (gramatical “ou „temático‟) (ABAURRE,1998, p.25-26 apud COSTA,2014, p.5). A leitura ultrapassa os limites dos textos criados com o intuito de habilitar ou exercitar questões linguísticas. O texto precisa ser dialogado de forma completa, não somente através de fragmentos de informação – que, por vezes, se mostram desprovidos de sentido. A prática da leitura se revela na adequada seleção de livros e textos variados, a serem utilizados na sala de aula. No caso da educação infantil, a característica lúdica torna o processo de escolha mais importante, pois é necessário que o texto não se afaste das brincadeiras. A curiosidade – natural – do público infantil é incentivada através da literatura, pois ao entrar no mundo das palavras e de sua consequente representação escrita, a criança tem um universo inteiro para explorar. Conforme Maia, “[...] a literatura possibilita à criança uma apropriação lúdica do real, a convivência com o mundo ficcional, a descoberta do prazer proporcionado pelo texto literário e a apreensão do potencial linguístico que esse texto expressa” (apud CHAVES, 2011, p.76). A partir da aquisição da leitura e, dos trabalhos que envolvem a literatura, existe a possibilidade de estimular no aluno o prazer de ler. Para tanto, a figura do professor leitor, é imprescindível. Ao profissional compete a aquisição de um acervo acessível à criança, para ser usado em sala de aula. Além disso, é necessário manifestar envolvimento com as histórias narradas, de forma a contribuir na interação entre a criança e a história narrada. A presença da leitura literária na alfabetização suscita mudanças na vida pessoal e escolar da criança, contribuindo no processo de formação de leitores críticos, capazes de perceber diversos sentidos atribuídos ao texto. Nesse sentido, afirma Chaves: Quando a criança ouve a leitura, a contação de histórias, lê ou conta uma história, ativa uma serie de capacidades, como a memória (recorda-se de outros momentos, de histórias ouvidas ou lidas, a atenção (se a história ou recurso utilizado para a contação da história a envolve completamente, ela para ouvir assume uma atitude de ouvinte atento), a fantasia (imagina-se parte da história contada, visando mundos e personagens, ativando suas emoções).Isto é o livro traz cristalizadas em si as capacidades humanas e, na atividade de contação ou leitura de histórias, a criança vivencia e ativa o uso dessas capacidades, tornando-as individuais, parte de sua humanidade. Dentre essas qualidades humanas formadas, apropriadas e desenvolvidas socialmente estão[...] diferentes formas de linguagem e de pensamento, imaginação sentimentos, capacidade de planejamento, dentro outros. (CHAVES, 2011, p.56) A inserção da literatura em sala de aula é um ato de comunicação e interação, pois permite descobrir, criar e interagir com a própria realidade e com o mundo – real ou subjetivo. Essa prática permite que a criança exponha suas ideias e, contribui na preparação e formação de um leitor crítico e construtivo. Deste modo, a literatura permite à criança a descoberta e a criação de signos – não somente verbais, mas de uma variedade de linguagens. A partir da análise de diferentes níveis de ensino percebe-se um grande estímulo por parte dos educadores na promoção da leitura – por vezes, essa prática se dá na tentativa de reparar as diversas faltas do sistema educacional. A literatura infantil, de forma específica, passou a ser vista como uma ferramenta para possibilitar uma possível expansão no – escasso – domínio linguístico do aluno. Neste cenário, a literatura pode ser percebida como um instrumento de formação conceitual, mas também de autonomia e emancipação da sociedade, além de constituir um mecanismo de promoção do pensamento independente, uma vez que possibilita uma reformulação de conceitos e, como consequência, a superação da dependência. Desta forma, é necessário destacar a importância da literatura para o desenvolvimento linguístico e intelectual dos indivíduos. Para tanto, existe a necessidade de se trabalhar – de forma contínua - os diversos gêneros literários, objetivando a promoção do desenvolvimento cognitivo das crianças, sobretudo durante os primeiros anos do ensino fundamental. Cademartori (1997, p.8) afirma que diversos trabalhos de tendência psicanalítica, sociológica e pedagógica mostram que “a literatura para criança não é tão inócua [...], e que há algo de sério no reino encantado das histórias infantis”. Para a autora, “A obra literária recorta o real, sintetiza-o e interpreta-o através do ponto de vista do narrador e do poeta. Sendo assim, manifesta por meio do fictício e da fantasia, um saber sobre o mundo e oferece ao leitor um padrão para interpretá-lo” (CADEMARTORI, 1997, p. 23). Na literatura infantil, portanto, existe a promoção, desde os anos iniciais da alfabetização, de uma a continuidade de experiências expressivas já adquiridas. Tal fato assegura “uma relação ativa com a língua pelo conhecimento das potencialidades expressivas do código” (CADEMARTORI, 1997, p. 81). Para a escola, portanto, é necessário considerar os fatores históricos, culturais e sociais constantes no processo de construção e interpretação dos textos literários, para que aconteça, assim, a amplificação das possibilidades de situações prazerosas e significativas, que contribuam, efetivamente, para a formação de leitores autônomos e críticos. Assim, nesse processo, é primordial evidenciar a importância do leitor, do contexto em que ele está inserido, de suas experiências e, também, de seus interesses. Costa promove a reflexão de que o texto literário se diferencia dos demais gêneros textuais por suas características de ficção e de trabalho artístico com a linguagem. Observando sob essa ótica, existe o pensamento acerca da forma que a escola deveria tratar a literatura infantil, bem como sua importância no ambiente escolar. O texto literário se diferencia dos demais gêneros textuais por suas características de ficção e de trabalho artístico com a linguagem. Sob esse enfoque é que a escola deveria tratar a literatura infantil e sua importância nessa instituição, bem como seu reflexo sobre as funções que essa literatura cumpre no ambiente escolar. Essas funções acabam por determinar os objetivos do ensino da literatura infantil, envolvendo o trabalho para que este se desenvolva a contento (COSTA, 2007, p.148). De acordo com Sosa (1982, p. 105) “A literatura infantil apresenta-se à criança sob diferentes formas expressivas”. É necessário, portanto, oferecer às crianças os materiais diversificados, bem como um ambiente propício à leitura. Ao professor cabe transformar a sala de aula em um ambiente adequado, que estimule a prática da leitura e promova as mais variadas situações em que se possa manifestar livremente a compreensão e os possíveis questionamentos, surgidos a partir da leitura de textos literários. Desta forma, propor diferentes perspectivas sobre a realidade e o mundo que o circunda. É importante que o professor faça a seleção dos livros, adequados ao nível de interesse dos alunos e, de forma simultânea, contribua na construção de um processo de livre escolha, para que, de forma gradativa, os alunos possam fazer sua própria seleção e, consequentemente, ter liberdade para realizar suas própriasleituras. Para Sosa (1982, p. 32): [...] é aconselhável não proibir à criança nenhuma leitura que implique um esforço superior ao que ela realiza quase inconscientemente, na leitura corrente. [...] e nunca proibir leitura pelas quais a criança sinta interesse [...] pois com tal atitude cria-se um obstáculo a possibilidade de a criança cumprir mais rapidamente as etapas de seu desenvolvimento e, se desprezássemos o fator tempo, diríamos: a possibilidades de cumpri-las com maior profundidade. Ao realizar a leitura de uma história, o professor proporciona a aproximação entre a criança e o universo literário. Além dessa aproximação, existe a vantagem do texto contribuir na aquisição de conhecimentos linguísticos e, na produção literária. Esses conhecimentos permitem que a criança explore, através da leitura pelo professor, um universo fascinante. Em cada etapa, o aluno deve ser incentivado a se manifestar, pois ao participar ativamente, fazendo perguntas, comentários e a interpretação oral da história, ele se torna um interlocutor das vozes presentes no texto. Os gêneros literários constituem importantes mecanismos para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores – além de ser fonte transmissão do conhecimento científico. Observando que a leitura é uma atividade complexa que exige processos psicológicos de diferentes níveis e sua aquisição influencia o desenvolvimento cognitivo, são muitas as possibilidades do professor mediar esse conhecimento, pois além de existirem gêneros literários diversificados com os quais é possível trabalhar, também, de forma diversificada; cada gênero fornece uma infinidade de possibilidades de intervenção pedagógica, voltadas para o desenvolvimento cognitivo dos alunos e levando em conta suas peculiaridades. A literatura infantil, percebida como histórias, poemas ou jogos verbais – trava-línguas, parlendas, quadrinhas e outros – que cativam e seduzem as crianças ao longo dos tempos (COSTA, 2007), torna-se um instrumento imprescindível para a rotina escolar. As muitas particularidades das obras literárias em paralelo com uma organização adequada do ambiente escolar constituem elementos essenciais em um processo de mediação pedagógica voltado para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Então, a literatura – leitura e/ou leitura-ouvinte – contribui para que os alunos consigam expandir seus conhecimentos de mundo e alterar suas relações com o mesmo. Neste prisma, é essencial que o professor tenha consciência de seu papel, bem como sua relevância no processo de desenvolvimento cognitivo. É necessário que se perceba a importância da seleção, organização e planejamento de atividades que tenham como objetivo principal o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Ainda em relação à contribuição do professor, Costa (2007, p. 40) argumenta sobre a “[...] importância do trabalho de mediação do professor e dos procedimentos que devem ser realizados para obter uma boa formação de leitores, cada vez mais proficientes na leitura, em todos os níveis”. Ainda em relação ao exposto, Zilberman (2003) considera que “o trabalho com a literatura deve contar com um professor apto à escolha de obras apropriadas ao leitor infantil; ao emprego de recursos metodológicos eficazes, que estimulem a leitura, suscitando a compreensão das obras e a verbalização, pelos alunos, do sentido apreendido (apud COSTA, 2007, p. 41). Zilberman (1998, p.27) mostra que, para que o professor consiga realizar essas tarefas, é necessário que o sistema superior de ensino possa habilitá-lo, levando-o a adquirir um conjunto de ensinamentos, como: a) o conhecimento de um acervo literário representativo; b) o domínio de critérios de julgamento estético, que permitam a seleção de obras de valor; c) o conhecimento do conjunto literário destinado às crianças, considerando-se sua trajetória histórica (origem, evolução) assim como os autores atuais, nacionais e estrangeiros mais representativos; d) a manipulação de técnicas e métodos de ensino que socorram e auxiliam o mestre no processo de incremento e estímulo à leitura. Portanto, as histórias devem ter significados para serem compreendidas e interpretadas de diferentes maneiras, à revelia da imaginação de cada criança, na vinculação das experiências vividas na sua conjuntura sociocultural. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao atingir os objetivos propostos para o estudo, acredita-se que muitos saberes importantes foram abordados e podem servir de auxílio para professores pois, em decorrência desses saberes, o trabalho com a literatura infantil estará apto a produzir resultados cada vez mais eficazes e amadurecidos, em um processo de aperfeiçoamento contínuo. O ato de ler existe em um momento anterior à leitura, pois ouvir histórias, de certo modo, também é uma forma de ler. A literatura apresentada de maneira “correta” desperta o desejo por novas histórias. Aguça a curiosidade e a imaginação do ouvinte. Nesse processo, professor e aluno estão integrados, de forma a possibilitar um diálogo permanente – um intercâmbio literário, em que textos sejam moeda de troca para um ambiente produtivo e formador. A Literatura Infantil contribui para a formação do leitor, estimulando a curiosidade e fomentando a produção de novos conhecimentos, saberes e habilidades. O universo literário precisa ser promovido, de forma constante – o que demanda investimento. Para que tal situação aconteça, o acesso à cultura deve ser valorizado em todos os momentos da vida da criança, pois ler – de forma crítica – e interpretar são valores que acompanham a criança durante toda sua existência. A principal função das histórias contadas ou lidas é entreter, instruir e educar as crianças, ampliar a visão do mundo e intervir no processo de ensino-aprendizagem. É indiscutível que as histórias contribuem em diferentes tempos e aspectos da escolaridade infantil. A literatura infantil não pode se manter estática, antes, deve manter-se em constante mobilidade, se apropriando de valores, promovendo uma reflexão que ultrapasse os ditames do saber tradicional e ajude a criança a construir sua própria individualidade – e relacionar-se, de forma plena, com o mundo que a cerca. A literatura infantil precisa se apropriar dos elementos de mobilidade e representar algo maior do que o apresentado outrora, que era presente apenas na vida das crianças “letradas”. Os contos de fada são (re)apresentados de forma adaptada, diluída e, de certa forma, leve; através de filmes infantis. Desta forma, o cenário da literatura infantil é rearranjado e reorganizado e se recria através do cinema. A importância da temática para a nossa formação pessoal e acadêmica se dá no reconhecimento de que dentre as atividades pedagógicas, a contação de histórias, é “um brincar” mágico nas mãos do educador, artista que projeta a imaginação das crianças em uma viagem pela qual ampliam a visão do mundo e ganham infindos conhecimentos enquanto campeiam nas asas da imaginação. E o mundo letrado se abre como fonte de prazer e divertimento. REFERÊNCIAS ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1993. BAKHTIN, Mikhail. 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