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Resenha Crítica do Livro “A Loucura do Trabalho” de Christopher Djours
O objeto inicial de Djours é a psicopatologia do trabalho. Ele pretende pôr em discussão "aquilo que, no enfrentamento do homem com sua tarefa, põe em perigo sua vida mental". Partindo da psicopatologia do trabalho francesa, que tem trabalhos importantes nos anos 50, Djours vai enfocar as vivências subjetivas do trabalho, sempre diferenciadas e irredutíveis umas às outras, que dão conta das experiências concretas dos trabalhadores. Ele inicia seu livro narrando sintaticamente a história da saúde dos trabalhadores e chama a atenção que os avanços em saúde do trabalhador só se dão por uma luta perpétua dos trabalhadores por sua saúde, pois as melhorias das condições de trabalho e saúde foram conseguidas sempre desta forma.
A constituição do trabalho taylorista-fordista de produção torna o trabalhador parte do maquinário da produção, neste momento histórico o modelo de Recursos Humanos e a concepção de administração estavam ligados à visão advinda da engenharia. No séc. XIX a luta pela saúde, identifica-se com a luta pela sobrevivência: viver, para o operário, é não morrer. Os literários vão definir essa época como miséria operária.
Segundo Dejours a psicopatologia tradicional está baseada na fisiopatologia das doenças que afetam o corpo. O corpo é a primeira vítima do sistema rígido de produção, e em segundo lugar o aparelho psíquico. Dejours orientou suas investigações através das estratégias que os trabalhadores utilizam para enfrentar a situação de trabalho e não direcionadas especificamente as doenças metais. Dejours categorizou o sofrimento como uma vivência subjetiva mediadora entre doença mental e o conforto psíquico. Assim, o sofrimento deixa de ser representado como algo negativo e passa a significar também criatividade, uma maneira que o trabalhador encontra de criar formas defensivas para lidar com as opressões da organização do trabalho.
Os trabalhadores passam a utilizar estas estratégias defensivas contra o sofrimento para propiciar a manutenção do aparelho psíquico, sendo na sua maioria consideradas, segundo Dejours, Abdoucheli e Jayet (1994 apud HELOANI e CAPITAO, 2003) na sua maioria, de ordem coletiva. Esses autores definem as estratégias como mecanismos pelos quais o trabalhador busca modificar, transformar e minimizar a percepção da realidade que o faz sofrer. Os autores apontam também, que a diferença entre um mecanismo de defesa individual e um coletivo está, no fato de que o primeiro permanece sem a presença física do objeto, que se encontra interiorizado. Ao passo que o segundo depende da presença de condições externas e se sustenta no consenso de um grupo específico de trabalhadores.
A categoria de sofrimento que gera o desgaste físico e mental é apresenta através da vivência de sofrimento relacionada ao corpo, que se articula com as exigências cognitivas relativas à preocupação com erros, retrabalho e ritmo, gerando o esgotamento mental. A categoria de sofrimento gerada pela falta de reconhecimento manifesta-se pela insatisfação e descontentamento dos operários, e se remete ao sofrimento psíquico.
As estratégias do tipo defensivas, de negação e controle da situação geradora de sofrimento são mais utilizadas nestas ocasiões de insatisfação. Percebe-se que o sofrimento é pouco verbalizado, mesmo quando falam em cansaço, falta de reconhecimento, tristeza e dor física e moral, pois os trabalhadores encontram formas de justificar tais sentimentos, utilizando na maioria das vezes, o mecanismo de racionalização, expresso em atitudes e comportamentos como explicações lógicas, brincadeiras e necessidade de sobrevivência.
Segundo Mendes (1996, apud HELOANI e CAPITAO, 2003), a racionalização é utilizada diante da frustração para explicar de forma lógica os motivos que causam o sofrimento, tais como: a separação entre planejamento e execução e pela desestruturação das relações psicoafetivas com colegas; o individualismo é uma estratégia utilizada diante do sentimento de impotência e por meio dela os trabalhadores naturalizam o contexto histórico dos fatos que produzem o sofrimento. A passividade é uma estratégia contra o tédio, em função de situações de ameaça de perder o emprego e de manutenção do status na empresa.
 Ferreira e Mendes (apud HELOANI e CAPITAO, 2003) em seus estudos salientam que para lidar com as vivências de sofrimento originadas do trabalho o trabalhador constroem estratégias de mediação, individuais ou coletivas que podem ser de mobilização coletiva ou de defesa. A primeira distinguida pelo modo de agir coletivo dos trabalhadores e tem o objetivo de transformar o contexto de produção já a mobilização coletiva busca promover o predomínio de vivências de prazer por meio da criação de um espaço público de discussão, construído e baseado na cooperação e na confiança mútuas dos trabalhadores no ambiente de trabalho. Porém, as estratégias defensivas apenas amenizam o sofrimento, mas não modificam os aspectos adoecedores presentes na situação de trabalho e ainda propicia a alienação do indivíduo que o mobiliza diante desta situação desfavorável.
O texto de Dejours afirma que efetuar uma tarefa sem envolvimento material ou afetivo exige esforço de vontade que em outras circunstâncias é suportado pelo jogo da motivação e do desejo. Para ele, no que diz respeito à relação do homem com a significação do trabalho, é possível se considerar dois componentes: o conteúdo significativo em relação ao sujeito e o conteúdo significativo em relação ao objeto. Quando o progresso e o avanço dessa relação são bloqueados por algum motivo, observa-se o aparecimento do sofrimento.
O sofrimento, pode aparecer originário das ações mecânicas, relacionados aos conteúdos ergonômicos da tarefa, é o corpo e não o aparelho mental; e o psiquismo será afetado pela insatisfação originada pelo significado da tarefa a ser executada, transformando em sofrimento bem particular, cujo alvo, antes de tudo, é a subjetividade, ou seja, a mente. Esta evitação do sofrimento por parte do trabalhador pode não ser só através de uma condição externa, por exemplo, quando o empobrece e o restringi em sua ação a mecanismos defensivos repetitivos e ineficazes, que não lhe possibilita medir, de acordo com suas atividades, a satisfação de determinadas vontades, que, quando não satisfeitas, geram angústia, estados depressivos, ansiedade, medos e inespecíficos, sintomas somáticos. Prazer e sofrimento originam-se internamente das situações e da organização do trabalho. São consequências das atitudes e dos comportamentos instituídos pela organização e constitui-se das relações subjetivas e de poder.
Dejours (1992) distingue o sofrimento como criador e patogênico, este último surge quando todas as possibilidades de transformação, aperfeiçoamento e gestão da forma de organizar o trabalho já foram tentadas e assim restam somente pressões fixas, rígidas, repetitivas e frustrantes, configuram uma sensação generalizada de incapacidade. Em sua pesquisa Barros e Mendes (2003) descrevem que as condições de trabalho dos operários terceirizados da construção civil são precárias e não colaboram com as regras rígidas determinadas pela organização do trabalho (produtividade acelerada), o que implica em riscos de acidentes e em aumento do sofrimento oriundos de sentimentos como ansiedade, medo e insatisfação. Concluem ainda que nas relações sociais de trabalho demonstra-se existir um suporte social dado pelos colegas e gestores, o que possivelmente favorece a neutralização do sofrimento advindo da organização e da precariedade das condições de trabalho.
 Elas identificaram categorias de sofrimento em relação ao desgaste físico e mental demonstrada na vivência de sofrimento relacionada ao corpo, que se articula com as exigências cognitivas relativas à preocupação com erros, retrabalho e ritmo, gerando o esgotamento mental e categoria de falta de reconhecimento manifesta pela insatisfação e descontentamento dos operários, que também remete ao sofrimento psíquico. Dejours(1987), ainda salienta que as situações de medo e tédio são responsáveis pela emergência do sofrimento, que se reflete em sintomas como a ansiedade e a insatisfação. O autor relaciona a esses sintomas à incoerência entre o conteúdo da tarefa e as aspirações dos trabalhadores, a desestruturação das relações psicoafetivas com os pares, a despersonalização com o produto e sentimento de frustração e adormecimento intelectual.
Podemos constatar que as mudanças ocorridas no mundo do trabalho são responsáveis pela sobrecarga elevada na produção e, associada à exigência pelo aumento de produtividade, o que torna o sofrimento inevitável. Segundo Dejours (1992), o sofrimento tem origem na mecanização e robotização das tarefas, nas pressões e imposições da organização do trabalho, refletindo no trabalhador um sentimento de incapacidade e incompetência diante dessa realidade. Identifico através de questionamentos junto aos empregados na empresa que trabalho, que ao longo dos anos para se enquadrarem nas novas exigências do mercado os funcionários mais antigos tiveram que se adaptarem muito rapidamente, sem uma preparação anterior, muitas vezes sem uma estrutura física, ambiental e psicológica para desenvolver novas tarefas de trabalho. Um bom exemplo foi à obrigatoriedade, por parte da empresa, da utilização de componentes eletrônicos sem uma preparação anterior, o que causou um grande estresse entre eles; e ainda a comparação destes funcionários com funcionários recém-contratados que conseguiam manusear muito bem estes equipamentos já que nos requisitos de contratação seria o manuseio era exigido, gerando um clima de competição desleal e constrangedor.
O que se verifica é que a qualidade de vida do trabalhador, especialmente dos que vivem no terceiro mundo, vem-se degradando dia após dia. Doenças como a LER/Dort tornaram-se comuns a todos, e difundiram-se como doenças infectocontagiosas. Estas doenças em geral, não são facilmente diagnosticadas o que prejudica o processo de tratamento. Parece até que, pelo encolhimento do mercado de trabalho, as lutas dos trabalhadores restringem-se apenas à sobrevivência, assim como o quadro histórico encontrado no início do século passado, em que a luta era para não morrer, não importando o preço que teria de ser pago… viver como um estado apenas emergencial. Dejours em sua conclusão nos diz que é necessário um duplo movimento, de transformação da organização do trabalho e de dissolução dos sistemas defensivos, que poderá acontecer uma evolução da relação saúde mental e trabalho.
HELOANI e CAPITAO, 2003 aponta que, se a qualidade de vida do trabalhador é vista, pelo menos como uma política de relações públicas, ou como uma meta quase recorrente, deve-se perguntar o que no trabalho pode ser apontado como fonte específica de nocividade para a vida mental. A trama em que essa questão está envolta é quase evidente: a luta pela sobrevivência leva a uma jornada excessiva de trabalho, e as condições em que o trabalho se realiza repercutem diretamente na fisiologia do corpo.
O trabalho atua como regulador social é fundamental para a subjetividade humana, e essa condição mantém a vida do sujeito; quando a produtividade exclui o sujeito podem ocorrer várias situações que influencia diretamente na sua qualidade de vida. A solução então, não é a retirada do trabalhador do mercado de trabalho, como vemos, que são as soluções praticadas por muitas empresas, mais sim encontrar soluções que ponha fim, ou que trabalhe com esses sofrimentos oriundos do trabalho.

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