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EJA - exclusão e analfabetismo
Nanci Neves Cardim
Introdução
Para compreender o que é a Educação de Jovens e Adultos (EJA), é preciso retomar seus processos históricos,
sociais e políticos, tendo em vista a particularidade do público que é atendido nessa modalidade de educação. A
exclusão é o mote da EJA, uma vez que a existência de adultos e jovens com baixa ou nenhuma escolarização é
pressuposto básico para que eles sejam pauta de discussão no cenário educacional brasileiro. Nesse sentido, faz-
se necessário o estudo inicial dos processos históricos que constituem essa modalidade de ensino. Sempre houve
educação para jovens e adultos? Como os movimentos sociais constituem-se no processo de alfabetização da
população adulta? É na busca de respostas a essas questões que você inicia seu estudo da EJA, investigando as
primeiras soluções apresentadas para atender a esta população excluída da sociedade brasileira.
Ao final desta aula, você será capaz de:
• reconhecer a história da Educação de Jovens e Adultos, identificando as principais mudanças ocorridas 
no atendimento educacional de jovens e adultos.
O início da EJA no Brasil
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) engloba duas vertentes. A primeira diz respeito à alfabetização de jovens e
adultos, com foco no ensino da língua materna, iniciativa que, ao longo da história da educação brasileira, partiu
tanto do poder público quanto de ações populares. A segunda refere-se às ações para a escolarização de jovens e
adultos, ou seja, seu ingresso nas escolas para aprendizagem de conteúdos considerados por parte do currículo
escolar.
Apesar de parecer que a EJA é uma modalidade de ensino nova, ela surgiu na época do Brasil colônia, em que os
índios adultos eram catequizados para que aprendessem a ler, os costumes e a cultura de seus colonizadores.
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Figura 1 - O início da EJA no Brasil
Fonte: chippix, Shutterstock, 2019.
Foi somente a partir de 1940 que a EJA começou a ser constituída e a se consolidar como uma política
educacional, sendo reconhecida como uma modalidade obrigatória ao Ensino Fundamental público. Atualmente,
ela também já é garantida ao Ensino Médio público.
Os marcos históricos da EJA remontam a problemática do alto índice de analfabetismo no Brasil. De acordo com
Romanelli (2012, p. 64), na década de 1920, “mais de 90% da população escolarizável não frequentavam a
escola”. Romanelli (2012, p. 67) assinala ainda que:
Retratando a sociedade, o sistema educacional brasileiro fora, até então um sistema acentuadamente
dualista: de um lado, o ensino primário, vinculado às escolas profissionais, para pobres, e, do outro,
para os ricos, o ensino secundário articulado ao ensino superior, para o qual preparava o ingresso.
Esse fato, aliado aos interesses relativos ao ensino da leitura e escrita, culminou na criação, em 1934, de um
Plano Nacional de Educação, que entendia o ensino como obrigatório e gratuito para adultos.
FIQUE ATENTO
Somente em 1961 foi promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases, a Lei n. 4.024. Contudo,
não basta a criação de uma lei específica. Para garantia de um direito ainda há de se
estabelecer políticas públicas que observem o cumprimento desta lei.
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O pensamento de Paulo Freire e sua influência 
nos principais programas e as campanhas do 
país
A mudança social acarretada por essa medida trouxe uma prévia do que seria o tema do analfabetismo entre a
população adulta: um conjunto de ações que fariam de 1940 um período considerado áureo para essa
modalidade de educação. Em 1942 foi criado o Fundo Nacional do Ensino Primário, que incluía o ensino
supletivo para as pessoas que não foram escolarizadas em idade adequada. Em 1946, foi sancionado o Decreto-
lei n. 8.530, que contemplava o ensino supletivo como integrante na formação de professores, o que representou
um avanço no que se refere ao entendimento da educação de adultos como uma especialidade.
Figura 2 - Curso de professores passou a contemplar o ensino da EJA
Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019.
Há muito interesse implícito e controvérsias sobre a questão do analfabetismo de adultos e a inclusão no mundo
letrado.
Em 1947, ocorreu o I Congresso de Educação de Adultos, cujo era: “ ”. Noslogan ser brasileiro é ser alfabetizado
mesmo ano foi criado o Serviço de Educação de Adultos (SEA), que tinha como objetivo a coordenação dos
planos para o ensino supletivo à população adulta analfabeta. O SEA existiu até o final de 1950, quando teve
início a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), que resultou na criação de uma infraestrutura
para o atendimento à educação de jovens e adultos.
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Essa campanha surgiu em função dos movimentos sociais e internacionais que cobravam a escolarização da
população para reverter o atraso das nações. Em 1952 foi criada a Campanha Nacional de Educação Rural
(CNER) para escolarizar pessoas residentes no campo, onde a infraestrutura e formação humana em atuação
com a EJA eram precárias.
Posteriormente, em 1958, ocorreu o II Congresso Nacional de Educação de Adultos, que objetivou a reflexão
acerca de diferentes métodos de ensino para a população adulta. Foi nesse momento que se começou a delinear
um processo rico para a educação de jovens e adultos: os estudos e as ações de Paulo Freire, educador brasileiro
e militante.
O contexto no qual o método Paulo Freire está inserido remonta à dicotomia entre avanço e retrocesso. O avanço
refere-se ao que ele desenvolveu, e o retrocesso, pela maneira como suas ações findaram, com o regime militar
em 1964. Desde seu primeiro contato com a educação de adultos no SESI, Freire se voltou para a educação das
camadas populares. Em meados de 1960, foi responsável pela fundação do Movimento de Cultura Popular (MCP)
no Recife.
Paulo Freire foi também influente na campanha “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler”, no Rio Grande do
Norte. Nessa campanha, conforme Brandão (2002), o educador conseguiu alfabetizar 300 trabalhadores em três
meses. Tendo em vista o pouco tempo com que a alfabetização dos adultos envolvidos se concretizou, tais ações
projetaram Freire nacionalmente. Em 1963 participou da criação do Plano Nacional de Alfabetização. O Plano
Nacional de Educação que buscava iniciar mudanças sociais e educacionais no país foi interrompido pelo golpe
militar de 1964, pois suas ideias foram consideradas subversivas e contrarias ao novo cenário político, e Paulo
Freire foi exilado no Chile por 14 anos.
SAIBA MAIS
Os objetivos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) estão definidos na Lei de Diretrizes e Bases
n. 9.394/96. Não deixe de pesquisar sobre o tema para aprimorar seus conhecimentos.
EXEMPLO
Ana Amélia, aluna do ensino médio da EJA, ao ler a obra do escritor Guimarães Rosa, deu-se
conta de que sua origem rural possuía valor: “tudo o que sou, tudo o que tenho em meu ser, foi
o sertão que me ensinou. Não sabia que o sertão tinha valor” (ALVARES, 2012, p.27).
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Plano Nacional de Alfabetização
O regime vigente criou então o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral). O ensino supletivo assim
caracterizava-se como processo de compensação, na tentativa de suprir a escolarização de adolescentes e
adultos que não tiveram oportunidade anteriormente, e apresentava uma metodologia tecnicista.
Figura 3 - Ensino supletivo procurava compensar a falta de oportunidades
Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019.
A dimensão do Mobral pode ser entendida a partir de seu impacto no Brasil: todo o território nacional foi
envolvido nesse movimento de educação, voltado para um ensino moral e cívico. Materializava-se, assim, o
modelo de cidadania que se desejava formar: de uma população trabalhadora que visse na educação uma forma
de construir um país de oportunidades.
O plano de alfabetização era executado com métodos similares aos de Paulo Freire, mas sem considerar os
conhecimentos prévios dos educandose os debates realizados no processo de conscientização coletiva
(ARANHA, 2006). As práticas do Mobral perduraram até 1985, quando o fim da ditadura militar e o processo de
democratização reformularam os rumos da EJA no Brasil.
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Figura 4 - Educação envolve conhecimento e mobilização
Fonte: woaiss, Shutterstock, 2019.
A ditadura militar foi um marco histórico, político e social que remonta a um Brasil silenciado, de violação de
direitos e retrocessos quanto ao processo de educação para a conscientização. A EJA objetivava a erradicação do
analfabetismo, mas visando à preparação da mão de obra. Conforme Aranha (2006), excluem-se desses objetivos
a conscientização e a construção de processos reflexivos sobre as condições sociais de vida e existência, como
preconizava Paulo Freire.
Após vários movimentos populares, em 1985, adveio o fim da ditadura militar, e o Mobral foi substituído pela
Fundação Educar. Esta nova organização tinha como função o fomento e o apoio técnico a municípios, estados e
órgãos que ofertassem a educação para jovens e adultos (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Desse modo, entre o
Mobral e a Fundação Educar há pelo menos uma diferença fundamental: se aquele centralizava as ações e
materiais didáticos, este conferia mais liberdade de organização para estados e municípios.
FIQUE ATENTO
O currículo da escola está baseado na cultura dominante: ele se expressa na linguagem
dominante, ele é transmitido através do código cultural dominante. As crianças das classes
dominantes podem facilmente compreender o código, pois durante toda sua vida elas
estiveram imersas, o tempo todo, nesse código (SILVA, 2002, p. 35).
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Fechamento
Para compreender o que é a Educação de Jovens e Adultos (EJA), é preciso analisar o contexto sociocultural. A
ação de alfabetizar adultos, dentro da visão freireana, pressupõe não somente a decodificação das letras e signos,
leitura simples de palavras. Mas inclui a leitura do mundo e da percepção da sua própria condição de existência e
posição no mundo. Assim, seja qual for o gatilho que disparou a importância e a necessidade de atendimento
desta população, com certeza tem-se os interesses e relações de poder envolvidas.
A preocupação de alfabetizar adultos se iniciou com os indígenas do país, no processo claro de aculturação, e
permanece até hoje como possibilidade implícita de apreensão do pensamento crítico, de conscientização de
uma situação existencial, sendo incentivada ou negligenciada pelos mesmos motivos.
Referências
ALVARES, S. C. a beleza de ensinar e aprender com jovens e adultos. São Paulo:Educação estética na EJA:
Cortez, 2012.
ARANHA, M.L. . 2. ed. São Paulo: Moderna, 2006.História da educação
BRANDÃO, C.R . São Paulo: Brasiliense, 2002.. O que é o Método Paulo Freire
BRASIL. Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível
em: . Acesso em: 21 mai. 2019.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4024.htm
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Disponível em: . Acesso em: 21 mai. 2019.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
FREIRE, P. . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.Educação como prática de liberdade
HADDAD, S.; DI PIERRO, M.C. Escolarização de jovens e adultos. , São Paulo, n.Revista Brasileira de Educação
14, mai./jun./jul./ago. 2000. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n14/n14a07.pdf. Acesso em: 21
mai. 2019.
ROMANELLI, O.O. . 40. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.História da educação no Brasil
SILVA, T. T. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.Documentos de identidade.
	Introdução
	O início da EJA no Brasil
	O início da EJA no Brasil
	O pensamento de Paulo Freire e sua influência nos principais programas e as campanhas do país
	Curso de professores passou a contemplar o ensino da EJA
	Plano Nacional de Alfabetização
	Ensino supletivo procurava compensar a falta de oportunidades
	Educação envolve conhecimento e mobilização
	Fechamento
	Referências

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