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Geovana Sanches, TXXIV VASCULITES SISTÊMICAS INTRODUÇÃO As vasculites sistêmicas são um grupo de doenças raras, com variação geográfica e étnica, que se caracterizam pelo envolvimento inflamatório dos vasos sanguíneos. O sítio primário do processo inflamatório é o endotélio; elas podem acometer qualquer órgão. CLASSIFICAÇÃO Atualmente, utiliza-se a classificação de Chapel Hill (CHC2021), a qual é feita de acordo com o calibre dos vasos acometidos. Vasculite de grandes vasos • Acometimento da Aorta e seus principais ramos • Arterite de Takayasu • Arterite de células gigantes Vasculite de médios vasos • Acometimento das artérias interlobares e mesentéricas • Poliartrite nodosa (PAN) • Doença de Kawasaki Vasculite de pequenos vasos • Acometimento de arteríolas, capilares e vênulas • Associadas ao ANCA o Poliangite microscópica (PAM) o Granulomatose com poliangite (GPA) § Wegener o Granulomatose eosinofiílica com poliangite (GEPA) § Chrug-Strauss • Por depósitos de imunocomplexos o Doença anti-membrana basal glomerular o Vasculite crioglobulinêmica o Vasculite por IgA § Henoch-Schonlein o Vasculite urticariforme hipo- complementêmica Vasculite de vasos variáveis • Doença de Behçet • Síndrome de Cogan Toda vez que há inflamação em um vaso, o fluxo sanguíneo fica prejudicado. Quando a inflamação acomete vasos pequenos, estes podem se romper, promovendo o extravasamento de hemácias. VASCULITE DE GRANDES VASOS Arterite de células gigantes A arterite de células gigantes é a vasculite sistêmica mais comum do adulto, acometendo a Aorta e seus grandes ramos – predileção pelos ramos extracranianos das carótidas. Epidemiologia • Mais comum em caucasianos (95%) • Mais frequente em pacientes > 50 anos o Pico aos 70 anos o Extremamente raro em pacientes < 50 anos • Mulheres são mais acometidas o M 2:1 H • 10 a 30/100.000 pessoas ao ano • A perda visual é a complicação mais comum Geovana Sanches, TXXIV Quadro clínico Manifestações cranianas • Cefaleia o Acomete 2/3 dos pacientes o Principalmente temporal e occipital o Cefaleia nova e que não responde a analgesia comum o Excelente resposta a corticoterapia • Claudicação de mandíbula o Ocorre em 30 a 50% dos pacientes o Dor na região mandibular após mastigação • Dor e hipersensibilidade no couro cabeludo o Pode haver isquemia e necrose desta região em casos graves • Complicações oftalmológicas o Acomete 1/3 dos pacientes o Amaurose fugaz, diplopia e visão borrada o Perda visual súbita é a complicação mais grave § Precedida por episódios de amaurose fugaz, cefaleia e claudicação da mandíbula § Oclusão da artéria ciliar posterior Manifestações constitucionais • Fadiga • Astenia • Perda de peso • Febre de origem indeterminada Acometimento da Aorta e grandes ramos • Clinicamente significativo em 30% dos pacientes • Dilatação, estenose e oclusões • Isquemia distal • Mais frequente na Aorta torácica e abdominal • Formação de aneurismas e dissecções Polimialgia reumática • Acomete 40 a 60% dos pacientes • Dor inflamatória + rigidez em cintura espacular pélvica • Rigidez matinal > 30 minutos • Acometimento bilateral e simétrico • Ombros são mais acometidos do que os quadris • Comumente associado com bursite subdeltoidea-subacromial • Dificuldade para levantar da cama e elevação dos membros inferiores Exames complementares • 80 a 85% apresenta elevação dos marcadores inflamatórios (PCR e VHS) • Hemograma o Anemia de doença crônica + trombocitose • Ultrassonografia doppler da artéria temporal o Sinal do Halo • Angio-TC, Angio-RM ou PET-TC podem ser usados na suspeita de acometimento de aorta e grandes ramos • Biópsia de artéria temporal o Padrão ouro o Achado: infiltrado granulomatoso composto de linfócitos, macrófagos e células gigantes multinucleadas (acúmulo de macrófagos) o Tratamento com corticoide > 2 a 4 semanas pode interferir na análise Geovana Sanches, TXXIV Diagnóstico O diagnóstico da arterite de células gigantes baseia-se na presença de ao menos 3 entre os 5 critérios. Critério Definição Idade de início > 50 anos Desenvolvimento dos sintomas > 50 anos Cefaleia nova Cefaleia nova ou mudança de padrão Anormalidade na artéria temporal Dor a palpação da artéria temporal ou redução na pulsação Elevação do VSH VSH > 50 mm/h Biópsia de artéria temporal Infiltrado granulomatoso com predomínio de células mononucleares Tratamento • Dramática resposta a corticoterapia (Prednisona) é regra • Pacientes com amaurose fugaz ou perda devem receber altas doses de corticoide EV • Desmame lento da corticoterapia para evitar recidivas • Avaliar efeitos colaterais do corticoide o DM2 o HAS o Osteoporose o Infecções o ... Arterite de Takayasu A arterite de Takayasu é uma vasculite granulomatosa de grandes vasos, com predileção pela Aorta e grandes ramos (incluindo artéria subclávia). Ela ocorre mais frequentemente na Ásia e no Oriente e acomete preferencialmente mulheres jovens. Quadro clínico • Apresentação subaguda ou crônica • Artéria subclávia é a mais acometida • Claudicação de membros superiores • Sopros (carotídeo, aórtico e abdominal) • Assimetria ou ausência de pulsos em membros superiores • Hipertensão de difícil controle e assimetria da PA entre membros • Estenose carotídea • Insuficiência aórtica “Red flags” para o Diagnóstico • Pacientes jovens (< 40 anos) • Aumento inexplicado de marcadores inflamatórios (VSH e PCR) • Carotidínia • Hipertensão • Discrepância da pressão arterial entre os braços (> 10 mmHg) • Ausência ou fraco pulso(s) periférico(s) • Claudicação de membros • Sopro arterial • Angina Exames complementares • PET-TC: capta áreas de inflamação • Angiografia • Angiotomografia • Angioressonância • USG doppler Geovana Sanches, TXXIV Tratamento • Corticoide de alta dose • Início de poupador de corticoide o Metotrexato VASCULITE DE MÉDIOS VASOS Poliarterite nodosa (PAN) A poliarterite nodosa (PAN) é uma vasculite necrotizante que acomete artérias de médio calibre, na qual não ocorre formação de granulomas. Epidemiologia • Incidência de 2 a 9 casos/milhão • Associação com hepatite B • Sem predominância entre sexo o H 1:1 M Quadro clínico • Pode acometer qualquer órgão, exceto o pulmão • Sintomas constitucionais o Febre ocorre em até 60% dos casos • Pele o Livedo racemoso o Nódulos e ulcerações (MMII) • Nervos periféricos o Mononeurite múltipla (70%) o Vasculite do vasa nervorum o Manifestação clássica: “pé caído” • Trato gastrointestinal o Acometido em 50% dos pacientes o Formação de aneurismas mesentéricos o Isquemia mesentérica • Sistema renal o Acometido em 40% dos pacientes o Microaneurismas + infartos renais o Hipertensão renovascular o Não provoca glomerulonefrite!! à Alterações na pele Exames complementares • Angiografia ou Arteriografia o Microaneurismas renais e mesentéricos são típicos • Biópsia Doença de Kawasaki A doença de Kawasaki é uma vasculite necrotizante de médios vasos, cuja principal complicação é a formação de aneurismas coronarianos. Epidemiologia • 2ª causa de vasculite na infância • 80% dos casos ocorre abaixo dos 5 anos • Predomínio no sexo masculino Quadro clínico • Febre o Presente em 100% dos pacientes • Exantema polimorfo acompanha a febre o 90% dos pacientes o Tronco e extremidades Geovana Sanches, TXXIV o Maculopapular e não pruriginoso • Hiperemia e edema da língua o “Língua em framboesa” • Hiperemia conjuntival o Acomete 80 a 90% dos pacientes o Bilateral e não purulenta • Alterações nas extremidades o Edema doloroso no dorso das mãos e dos pés seguidopor descamação em placas • Adenomegalia unilateral cervical dolorosa o Acomete 50% dos pacientes Critérios diagnósticos O diagnóstico da doença de Kawasaki é confirmado pela presença de febre (critério obrigatório) por ao menos 5 dias, associado a pelo menos 4 dos 6 critérios a seguir, desde que não haja nenhuma outra doença que explique o processo. • Hiperemia conjuntival bilateral • Alterações nas membranas mucosas da orofaringe o Lábios hiperemiados e/ou fissurados o Língua em framboesa • Alterações cutâneas o Eritema palmoplantar o Edema de mãos e pés o Descamação periungueal • Exantema poliformo o Principalmente em tronco • Adenopatia cervical o Ao menos 1 linfonodo > 1,5 cm Tratamento O tratamento tem como objetivo evitar a formação de aneurismas coronarianos. Idealmente, deve ser realizado antes do 7º ao 10º dia de doença. Ele é realizado com Imunoglobulina endovenosa + ácido acetilsalicílico em altas doses, o que reduz sequela coronariana de 25% para 5%. VASCULITES DE PEQUENOS VASOS Vasculite por IgA A vasculite por IgA (ou púrpura de Henoch- Schonlein) é uma vasculite de pequenos vasos com predomínio de IgA. Até dois terços dos casos ocorrem após uma infecção do trato respiratório. Epidemiologia • Vasculite sistêmica mais comum da infância • 90% dos casos ocorrem antes dos 10 anos de idade • Predomínio no sexo masculino o H 2:1 M Quadro clínico Pele • Púrpura palpável predominando nos membros inferiores • Biópsia demonstra vasculite leucocitoclástica com predomínio de IgA Geovana Sanches, TXXIV Articulações • Artrite migratória de grandes articulações • Artralgia Trato gastrointestinal • 60% dos pacientes cursam com dor abdominal (angina mesentérica) • 33% dos pacientes apresentam sangramento gastrointestinal (vasculite mesentérica) • Pode ocorrer intussecepção nas crianças Rim • Hematúria macroscópica recorrente • Glomerulonefrite com depósitos de IgA no mesângio Vasculites Associadas ao ANCA • ANCA: anticorpo anticitoplasma de neutrófilos • Vasculite necrotizante que acomete capilares, arteríolas e vênulas • Prevalência de 40 a 180 casos/milhão • Sem predomínio entre os sexos o H 1:1 M • Fatores ambientais o Infecção nasal por S. aureus o Exposição a sílica • Presença de anticorpos contra mieloperoxidase (MPO) e proteinase 3 (PR3) Granulomatose com poliangite • Idade típica de início o 45 aos 65 anos • Célula chave da imunidade inata o Neutrófilos • Vias aéreas superiores o Acometida em 90% dos pacientes o Rinorreia, obstrução nasal, epistaxe, crostas nasais o Erosões ósseas e deformidade nasal (“nariz em sela”) • Olhos o Pseudotumor orbitário o Esclerite • Pulmões o Tosse, hemoptise e dispneia o Nódulos pulmonares que podem cavitar o Hemorragia alveolar • Renal o Glomerulonefrite rapidamente progressiva o Hematúria, proteínua e alteração da função renal o Biópsia de pulmão: necrose vascular + microabscessos • Presença de C-ANCA e Anti-PR3+ Poliangite microscópica • Idade típica de início o 55 a 75 anos • Célula chave da imunidade inata o Neutrófilos Geovana Sanches, TXXIV • Vias aéreas superiores o Rinorreia e sinusite não destrutiva • Síndrome pulmão-rim • Pulmonares o Hemorragia alveolar o Hemoptise + insuficiência respiratória + infiltrados alveolares • Rins o Glomerulonefrite rapidamente progressiva o Proteinúria + hematúria + cilindros • Sistema nervoso o Mononeurite múltipla (“pé caído”) • Pele o Púrpura palpável o Úlceras o Livedo • Presença de P-ANCA e Anti-MPO Granulomatose eosinofílica com poliangite • Idade típica de início o 38 a 54 anos • Célula chave da imunidade inata o Eosinófilos • Vias aéreas superiores o Rinite alérgica + pólipos nasais • Pulmões o Mais de 90% dos pacientes têm história de asma § Início na idade adulta e de difícil controle § Pacientes dependentes de corticoide o Nódulos pulmonares bilaterais e migratórios • Sistema nervoso periférico o Mononeurite múltipla (vasculite do vasa nervorum) • Coração o Insuficiência cardíaca congestiva • Eosinofilia é característica (> 1500/mm3) DOENÇA DE BAHÇET A doença de Bahçet é uma vasculite sistêmica que acomete artérias e veias de qualquer calibre. Há uma predisposição genética envolvida, sendo que 50% dos pacientes apresentam o alelo HLA-B51 Epidemiologia • Predomínio na Turquia e na região da rota da seda • Sem predomínio entre os sexos o H 1:1 M • Homens jovens apresentam doença mais grave Quadro clínico • Sintomas mucocutâneos o Úlceras aftosas orais o Úlceras genitais § Grandes lábios § Escrotal o Lesões acneiformes papulopustulares Geovana Sanches, TXXIV o Eritema nodoso • Olhos o Panuveíte ou uveíte posterior bilateral e não granulomatosa o Hipópio (presença de pus na câmara anterior) • Tromboflebite • Trombose venosa profunda • Aneurismas arteriais • Manifestações neurológicas parenquimatosas • Teste da patergia o Desenvolvimento de eritema após picar com agulha esteril (reação endurada nodular > 2 mm)
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