Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
VASCULITES SISTÊMICAS Inflamação que acomete a parede do vaso sanguíneo como sítio primário ⇒ condição auto-imune; sistêmica ou de órgão único A inflamação destrói a parede dos vasos, podendo causar aneurismas, estenoses, sangramentos e isquemias Vasculites são um grupo de doenças que envolvem inflamação dos vasos sanguíneos, com destruição do tecido adjacente e/ou dos órgãos. Associadas a uma doença vascular inflamatória como condição primária ou alguma outra patologia CLASSIFICAÇÃO 1 - Primárias = ocorre por si só devido predisposição genética 2 - Secundárias = causada por outra condição, como vasculite lúpica, vasculite por quadro infeccioso, por utilização de drogas, neoplasias etc CLASSIFICAÇÃO DE CHAPEL HILL DIAGNÓSTICO Também podem ser classificadas quanto ao tamanho do vaso acometido, e o diagnóstico se diferencia através de sintomas/sinais clínicos e exames A)Grande calibre: claudicação intermitente, redução de pulsos periféricos, assimetria de pressão arterial OBS = CLAUDICAÇÃO INTERMITENTE → sintoma de doenças vasculares; dores intensas nas pernas, similares às câimbras e fisgadas, ao caminhar e realizar atividades físicas. Geralmente melhora com repouso. B)Médio calibre: angina mesentérica, livedo reticular, úlceras cutâneas, gangrena de extremidades C)Pequeno calibre: hemorragia alveolar, glomerulonefrite, púrpura palpável ● Testes sorológicos (pesquisa de autoanticorpos): vasos de pequeno calibre ● Exame histopatológico (pele, rim, pulmão, vias aéreas superiores): vasos de pequeno e médio calibres ● Exames de imagem (angio-TC, angio-RM, US com doppler colorido, TC com emissão de prótons): vasos de médio e grande calibres ARTERITE DE TAKAYASU - Vasculite de grandes vasos que acomete aorta e seus ramos principais - Predomínio: mulheres, 20-30 anos (raro após 40), asiáticas - Etiologia desconhecida, provavelmente de fator genético (HLA-B52) - Inflamação granulomatosa na adventícia, invadindo a camada média levando a substituição por processo fibroso, estenose arterial - Principal sintoma = alteração da PA QUADRO CLÍNICO ⇒ Sintomas sistêmicos - febre, fadiga, perda de peso - ausentes em 60 a 80% dos casos ⇒ Sintomas vasculares: - pulsos periféricos diminuídos ou ausentes, - claudicação intermitente - diferenças de pressão arterial entre os membros ⇒ Sintomas neurológicos: - cefaléia, vertigem, alterações visuais, convulsões, AVC ⇒ Hipertensão arterial, insuficiência aórtica, hipertensão arterial pulmonar, comprometimento coronariano ⇒ Carotidínea, dor torácica e angina mesentérica CAPITU - TXXII ⇒ Diferença nos pulsos periféricos e da pressão arterial nos membros superiores e inferiores ⇒ Períodos de recidiva e remissão ⇒ Indicativos de pior prognóstico: perda visual, insuficiência renal, HAS de difícil controle, AVC, ICC EXAMES COMPLEMENTARES Exames laboratoriais: hemograma, VHS, proteína C reativa - Anemia (normocítica, normocrômica), leucocitose, trombocitose Exames de imagem: mais indicados do que os laboratoriais ➢ ARTERIOGRAFIA: alterações crônicas, expõe o paciente a alta radiação e risco de tromboembolismo (exame invasivo) ○ Desenha por contraste toda a árvore arterial ○ Mostra a estenose do lúmen mas não mostra a inflamação do vaso ➢ ANGIORRESSONÂNCIA: edema e espessamento da parede do vaso ○ Mostra se está em atividade ou em remissão ➢ ANGIOTOMOGRAFIA: espessamento do vaso, atividade da doença, expõe o paciente a alta radiação e contraste iodado ➢ ULTRASSOM COM DOPPLER: limitação para vasos profundos e intratorácicos ➢ TOMOGRAFIA POR EMISSÃO DE PÓSITRONS: detecta atividade metabólica celular, fornece imagens do corpo inteiro, alto custo, não sabemos se define atividade da doença DIAGNÓSTICO TRATAMENTO ➔ Doença em atividade: Prednisona 40 a 60 mg/dia (glicocorticóides) ➔ Agentes modificadores de doença: metotrexate, azatioprina, micofenolato de mofetila, leflunomida, ciclosporina ➔ Anti-IL-6, anti-TNF ➔ Antiagregante plaquetário PROGNÓSTICO 74%=comprometimento das atividades de vida diária 23% ficam desempregados Sobrevida em 10 anos: 80 a 90% Principais causas de morte: insuficiência cardíaca congestiva e acidente vascular cerebral ARTERITE DE CÉLULAS GIGANTES - Antigamente = Arterite temporal - Vasculite de grandes e médios vasos - Grandes ramos da aorta, com predileção pelos ramos extracranianos das artérias carótidas, incluindo a artéria temporal - Vasculite sistêmica mais comum no idoso (+50), predomínio em mulheres - Etiologia desconhecida: ● Componente genético (HLA) ● Agentes infecciosos?Citomegalovírus, eritrovírus B19, herpes simples etc. Gatilho ainda não identificado ● Envelhecimento? QUADRO CLÍNICO -Cefaléia: sintoma mais comum, associada a aumento da sensibilidade no couro cabeludo ● Dor nunca antes percebida pelo paciente, de aparecimento repentino/recente ● Ou uma dor que mudou de característica CAPITU - TXXII ● Relatada com 50+ anos de idade ● Região temporal, normalmente unilateral, forte intensidade ● Palpação do couro cabeludo é dolorosa -Claudicação de mandíbula: sintoma mais específico ● Dor em região do masseter, dificuldade de mastigar -Neuropatia óptica isquêmica anterior: perda visual dolorosa e súbita (cegueira) precedida por sintomas visuais premonitórios (visão embaçada, diplopia, amaurose) -Acidente vascular cerebral, demências, neuropatias periféricas, manifestações vestibuloauditivas, sintomas constitucionais → manifestações dolorosas são incomuns -Polimialgia reumática: dor e rigidez matinal dos ombros, cintura pélvica, pescoço e tronco, manifestação extracraniana mais frequente DIAGNÓSTICO 1)Idade no início da doença ≥ 50 Sintomas que começaram a partir dessa idade 2)Cefaleia “nova” Início recente ou novo tipo 3)Anormalidade da artéria temporal Artérias dolorosas ou com pulso diminuído 4)VSG* elevada *Hemossedimentação ≥ 50 mm/hora 5)Biópsia positiva (de artéria anormal) Vasculite com predomínio de células gigantes multinucleadas Diagnóstico positivo se presente 3 ou mais critérios -Biópsia da artéria temporal: padrão ouro, infiltrado de células mononucleares, células gigantes multinucleadas, tamanho ideal 20 mm - VHS, proteína c reativa -Ultrassom, tomografia computadorizada, angiotomografia computadorizada, ressonância magnética, angioressonância ou tomografia por emissão de pósitrons TRATAMENTO Prednisona - 40 mg/dia (sem envolvimento oftálmico, sem arterite da aorta e seus ramos) - 60 mg/dia ou metilprednisolona EV 500 a 1000mg (formas complicadas) Metotrexate Tocilizumabe Antiagregante plaquetário PROGNÓSTICO Acidente vascular cerebral, eventos coronarianos, rotura de aneurisma e dissecção aórtica são as principais causas de mortalidade Alguns estudos relatam mortalidade aumentada no primeiro ano após o diagnóstico. Outros estudos mostram expectativa de vida semelhante à da população em geral ARTERITE TAKAYASU ARTERITE CÉLULAS GIGANTES Mulheres <40 anos Mulheres > 50 anos Diferença de PA entre membros Cefaleia nova + sensibilidade de couro cabeludo Pulso temporal diminuído/ artérias dolorosas Diminuição de pulso periférico Cegueira dolorosa e súbita Claudicação intermitente Rigidez matinal de ombro, pescoços, pelve, tronco ARTÉRIA AORTA ARTÉRIA TEMPORAL POLIARTERITE NODOSA ● Predominantemente artérias de médio calibre ○ Em especial artérias viscerais, cutâneas, musculares e de nervos periféricos CAPITU - TXXII ● Arteríolas, capilares e vênulas usualmente poupadas ● Na maioria das vezes idiopática e sistêmica (mas pode ser de órgão único) ○ Apesar disso, pode ocorrer anexa a vírus da hepatite B, hepatite C, vírus do HIV e a neoplasias (como uma síndrome paraneoplásica de leucemia de células pilosas) ● Existe um tipo de PAN (poliarterite) localizada ou órgão único, mas não é sobre essa que falaremos ● Homens > Mulheres, entre 5ª e 6ª décadas de vida ● Infecção pelo HBV é o principal gatilho ● Mesma família, judeus georgianos ou de ascendência alemã - fator genético presente HISTOLOGIA Ocorre um espessamento intimal (espessamento da camadaíntima), provocando uma trombose. A lesão na túnica elástica esgarça a túnica, gerando saculações ⇒ aneurismas QUADRO CLÍNICO - Sintomas sistêmicos, constitucionais (90%) - Mononeurite múltipla, neuropatia periférica (75%) - Nódulos cutâneos, púrpura (petéquias múltiplas e disseminadas) livedo reticular (60%) - Elevação da creatinina, hipertensão arterial, hematúria, proteinúria (50%) no exame de urina simples - Dor abdominal, sangramento retal (40%) - Dor testicular, edema (20%) EXAMES COMPLEMENTARES ● Elevação de provas inflamatórias: eleva-se VHS, PCR ● Investigação HBV HCV e HIV ● Alterações no sedimento urinário, para procurar manifestações renais ● Enzimas musculares, biópsia muscular se houver suspeita de envolvimento muscular (a. de médio calibre que irrigam músculos) ● Evidência histopatológica ● Arteriografia, angio-TC, angio-RM: estenoses e microaneurismas (saculares) As bolinhas são os aneurismas; um cachinho de uva cheio de pequenos aneurismas DIAGNÓSTICO Em pacientes com manifestações sugestivas, o diagnóstico é confirmado por biópsia do tecido acometido ou por arteriografia. Busca-se vasculite necrosante de artérias de pequeno calibre ou estenoses e microaneurismas em artérias de médio calibre. A biópsia renal auxilia na investigação de alteração renal e o exame de imagem busca aneurismas TRATAMENTO Glicocorticóides (ação mais rápida) Ciclofosfamida Infliximabe, rituximabe, tocilizumabe Metotrexate, azatioprina Pulsoterapia com metilprednisolona - Tratamento com altas doses de corticoides endovenoso; somente em situações graves por ser muito agressivo Plasmaférese - lavagem retirando imunoglobulinas, melhorando a situação imune do paciente PROGNÓSTICO Sobrevida em 5 anos: sem tratamento é de 13% Sobrevida em 5 anos: com tratamento é de 80% Sobrevida em 5 anos: com associação ao HBV, com tratamento é de 35% Órgão isolado: prognóstico favorável DOENÇA DE BEHÇET (Doença de BC) - Doença multissistêmica - Ulcerações aftosas orais e genitais -Fenômenos vasculíticos em vasos de calibres variáveis (grandes, médios e pequenos) - Final da puberdade até os 40 anos de idade. -Homens e mulheres, mas pior prognóstico em homens -Fatores ambientais (infecção) + predisposição genética (HLA-B51) CAPITU - TXXII QUADRO CLÍNICO Manifestações nas mucosas Úlceras orais e genitais Recidivantes (pelo menos 3/ano) Aftas grandes, dolorosas Obrigatoriamente orais, mas com bastante frequência, também, genitais Manifestações cutâneas: 1)Eritema nodoso Inflamação do tecido cutâneo, formando um nódulo (caroço); parece picada de inseto, mas bem endurecida e dolorida Pode aparecer de forma espontânea ou por infecções Normalmente MMII Aparece e some 2)Pseudofoliculite Inflamação da endoderme 3)Pioderma gangrenoso Manifestações oculares: Uveíte bilateral, pode ser anterior, posterior ou panuveíte Vasculite retiniana Ocorre em 50 a 70% Exige diagnóstico precoce para evitar danos permanentes Manifestações articulares: 40 a 80% dos casos Mono ou oligoarticular, assimétrico Tornozelos e joelhos (membros inferiores) Manifestações neurológicas: abre a síndrome em 20% dos casos ● Meningoencefalite asséptica recidivante ● AVC ● Trombose venosa central ● Aneurismas ● Acometimento de SNP é raro Manifestações gastrointestinais: disfagia, pirose, refluxo gastroesofágico, dor abdominal, diarréia crônica, ulcerações gástricas e intestinais (todo trato gastrointestinal) Manifestações vasculares: trombose venosa de grandes vasos, acometimento arterial, formação de aneurismas DIAGNÓSTICO Ulceração oral recorrente* Úlceras maiores ou menores, herpetiformes, com pelo menos 3 em um ano Ulceração genital recorrente Úlcera aftosa ou cicatriz Lesão ocular Uveíte anterior ou posterior, células no vítreo ao exame da lâmpada de fenda ou vasculite retiniana Lesões cutâneas Eritema nodoso, pseudofoliculite ou lesões pápulo-pustulosas ou acneiformes Teste de patergia positivo Provoca reação autoimune com o estímulo cutâneo através de uma agulha O diagnóstico consiste no critério obrigatório - úlcera oral recorrente (pelo menos 3 por ano) e pelo menos mais um outro critério da tabela (ou associadas a pelo menos outras 2 manifestações, na ausência de outras condições clínicas) TRATAMENTO Medidas tópicas, com corticoide tópico - Glicocorticóides (corticoide sistêmico) - Colchicina - Dapsona, pentoxifilina, talidomida (alternativas à colchicina) - Azatioprina, interferon alfa, anti-TNF - imunossupressores CAPITU - TXXII PROGNÓSTICO - Períodos de exacerbação e remissão - Redução da atividade por volta de 10 anos de doença - Redução da atividade por volta dos 40 anos de idade - Lesões oculares e neurológicas nem sempre totalmente reversíveis - Terapia mais agressiva desde o início do quadro parece conter a progressão da doença VASCULITE POR IgA Antes chamada de púrpura de Henoch-Schonlëin. Vasculite sistêmica mais comum na infância (33x mais comum); 4 a 7 anos de idade (sexo masculino), principalmente no outono, inverno e primavera - Antecedentes infecciosos, sobretudo trato resp. superior Vasculite que acomete pequenos vasos e se caracteriza por presença de IgA na Histopatologia Púrpura palpável não trombocitopênica (não tem plaqueta baixa, mas tem púrpura por ser de pequenos vasos) em membros inferiores e glúteos, poliartralgia e/ou artrite, angina intestinal (dor abdominal), hematúria e/ou proteinúria ● Vasculite: depósitos de IgA, complemento e neutrófilos ● Nefropatia por IgA: outra expressão da mesma doença? QUADRO CLÍNICO Pele, trato gastrointestinal, articulações e rins Tríade clássica: 1. Púrpura ➢ Púrpura palpável, simétrica, quase 100% dos casos, nádegas e membros inferiores, desaparecem em aprox. 2 semanas, mas podem recorrer, cronificar 2. Dor articular ➢ Artralgia em joelhos e tornozelos, artrite é rara 3. Dor abdominal Trato gastrointestinal: 2/3 dos casos, cólica abdominal por conta de isquemia, edema intestinal, perfuração, infartos intestinais, duodeno e íleo terminal Nefropatia: 45 a 85% dos pacientes, apresenta-se em hematúria microscópica é o primeiro sinal, proteinúria, hipertensão arterial, em crianças a insuficiência renal é rara Episclerite (inflamação ocular) orquite, miocardite, hemorragia alveolar são manifestações raras DIAGNÓSTICO TRATAMENTO Casos graves: - corticóides (controverso) - imunossupressores (micofenolato mofetil, ciclofosfamida, ciclosporina, rituximabe) Púrpura: dapsona e colchicina PROGNÓSTICO Nos adultos não há correlação entre a sintomatologia inicial e o prognóstico em longo prazo Recidivas em adultos: 20% Episódio único em crianças Nas crianças a doença geralmente é benigna e autolimitada. Em adulto mais complicações renais QUESTÕES PARA TREINAR Sara, 23 anos, relata dor que “vai e vem” nas extremidades dos membros e cefaleia. Exame físico mostrou diferença de 11 mmHg de PAS entre os MMII e ausculta revelou sopro em artérias subclávias Defenda uma hipótese diagnóstica com dados da história apresentada acima, correlacionando claramente as informações sobre a paciente com sua hipótese. CAPITU - TXXII Discuta as prováveis causas do sopro de Sara, tentando relacionar com a hipótese em questão. Solicite dois exames para fechar o diagnóstico CAPITU - TXXII
Compartilhar