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Geovana Sanches, TXXIV CÂNCER DE PRÓSTATA EPIDEMIOLOGIA O câncer de próstata é o tumor mais prevalente, representando quase 20% dos novos casos quando consideradas as neoplasias em homens. Ocupa o terceiro lugar em mortalidade, pois em geral é uma doença que evolui lentamente. Todavia, o espectro varia, podendo ser também uma doença avançada e rapidamente progressiva. FATORES DE RISCO Idade A idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata, sendo muitas vezes um achado incidental. Foi realizado um estudo para avaliação da prevalência de câncer de próstata em autópsias como achado incidental, ou seja, que não foi diagnóstico antes do óbito do paciente. Isso demonstrou que muitas vezes a doença é assintomática nos idosos, nem sempre compensando o tratamento. Etnia A raça negra apresenta risco de 1,5 a 2x maior para o desenvolvimento do câncer de próstata. Fatores genéticos A mutação de BRCA1 e BRCA2, relacionadas também ao câncer de ovário e de mama, predispõe o câncer de próstata. Fatores alimentares • Baixa ingestão de vegetais • Alta ingestão de gordura animal • Alto consumo de álcool QUADRO CLÍNICO Sintomas iniciais • Urgência urinária (necessidade iminente de urinar) • Nictúria (aumento da diurese, sobretudo noturna) Sintomas de doença mais avançada • Hematúria (sangramento na urina) • Hematospermia (sangramento na ejaculação) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O quadro clínico do câncer de próstata é muito inespecífico. Sendo assim, outras condições – inclusive mais frequentes – podem ocasionar esses sintomas, tais como infecção urinária e a hiperplasia prostática benigna. Hiperplasia prostática benigna • Aumento do tamanho e do número de células da glândula prostática • Também muito relacionado com a idade o Quanto mais idoso, maior a chance de hiperplasia prostática • Provoca compressão (estenose) da uretra e “empurra” a bexiga para cima, de forma que o paciente evolui com urgência miccional e nictúria • NÃO é um fator de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata e não tem capacidade de evoluir com metástases. Entretanto, ambas as condições podem coexistir. o É um fator de confusão Geovana Sanches, TXXIV DIAGNÓSTICO Para fins diagnósticos, são utilizados o PSA, toque retal e a biópsia, sendo esse último o responsável pela confirmação sem anatomopatológico, não há câncer! Prostate Specific Antigen (PSA) O PSA é uma glicoproteína produzida pelo epitélio prostático, cuja função é liquefazer o esperma. Na corrente sanguínea, pode estar livre ou conjugada com a albumina; em geral, ao fazermos o exame solicitamos a medida do PSA livre e total. Valor de referência Não existe valor normal para PSA, tendo em vista que ele varia com a idade e com diversas outras condições. • Valor normal: PSA < 4 ng/mL o Conceito antigo o Quando o PSA estava maior que 4, era feita a biópsia – problema, pois esse exame por si só não é fidedigno • Prevalência de CA de próstata de acordo com o PSA • Incidência de CA de próstata de acordo com o PSA inicial o Mesmo com o PSA extremamente baixo (< 1 ng/mL), ainda é possível que o paciente tenha um câncer de próstata o Conclusão: faz-se necessário utilizar outros parâmetros Velocidade de aumento do PSA • PSA basal < 4 ng/mL o Velocidade de aumento aceitável até 0,35 ng/dL • PSA basal > 4 ng/mL o Velocidade de aumento aceitável até 0,75 ng/mL • Exemplo o Paciente com PSA basal de 5,0 ng/mL chega ao consultório após um ano com novo exame indicando PSA de 5,5 ng/mL. § Não é preocupante § Velocidade de aumento foi menor que 0,75 ng/mL durante o último ano o Paciente tem PSA basal de 3 ng/mL e após um ano chega ao consultório com PSA de 3,8 ng/mL § Preocupante § Houve aumento de 0,8, enquanto o aceitável para esse paciente seria até 0,35 ng/mL Fração do PSA • Medida da relação PSA livre/ PSA total < 10% Sugere neoplasia 10% - 30% Zona de incerteza > 30% Sugere HPB • Não é muito utilizado na prática Valores de PSA de acordo com a idade Faixa etária Valores esperados de PSA 40 – 49 anos 0 – 2,5 ng/mL 50 – 59 anos 0 – 3,5 ng/mL 60 – 69 anos 0 – 4,5 ng/mL 70 – 79 anos 0 – 6,5 ng/mL Exemplo: um paciente de 75 anos chega ao consultório sem grandes queixas, mas apresenta PSA de 5,5. Não há motivos para se preocupar, considerando que por sua idade, um valor até 6,5 é aceitável. Fatores que interferem na dosagem do PSA Diversos fatores interferem nos níveis do PSA transitoriamente, os quais devem ser explicados ao paciente e questionados durante a anamnese, evitando assim resultados falseados. • Ejaculação Geovana Sanches, TXXIV o Não pode ocorrer nas 48h que antecedem a coleta • Toque retal o Não pode ocorrer nas 48h que antecedem a coleta • Massagem prostática o Não pode ocorrer nas 48h que antecedem a coleta o Ciclismo e outros exercícios em que há impacto na próstata • Medicamentos: Finasterida o Inibidor da 5-alfa redutase o Suspender 7 dias antes da coleta • Biópsia de próstata • Retenção urinária • Infecção urinária o Deve ser tratada e após alguns dias coletar o PSA • Prostatite o Inflamação da próstata o Sintomas semelhantes a HPV ou câncer de próstata o Pode aumentar o PSA Funções do PSA Rastreamento Devemos lembrar que, para um método de rastreio ser eficaz, são necessários: • Doença de alta prevalência • Teste com boa sensibilidade e baixo custo • Resulta em diminuição da mortalidade O PSA não diminui a mortalidade dos pacientes com câncer de próstata, apesar de promover o diagnóstico precoce. Sendo assim, ele NÃO apresenta esse papel, sendo ruim como método de rastreio. Diagnóstico • Velocidade de aumento do PSA • Fração do PSA Acompanhamento O PSA auxilia no acompanhamento do paciente pois, após a retirada de um câncer de próstata, espera-se que seus níveis abaixem ou fiquem indetectáveis. Caso o PSA volte a subir, isso é um sinal vermelho, pois pode indicar recorrência da doença. Prognóstico O prognóstico é um retrato do momento do diagnóstico que tenta prever o que ocorrerá posteriormente. Para o câncer de próstata, quanto maiores os níveis de PSA ao diagnóstico, pior será o prognóstico. • PSA > 20 ng/mL ao diagnóstico à alta chance de desenvolver metástases • PSA < 10 < 20 ng/mL à intermediário risco de desenvolver metástases • PSA < 10 ng/mL ao diagnóstico à baixo risco de desenvolver metástases Toque retal • Faz parte do exame urológico • Baixa sensibilidade (40%) • Permite estimar o tamanho da próstata e avaliar algumas alterações • Características clínicas o Assimetria o Nodulações o Áreas endurecidas Biópsia prostática Transretal A biópsia prostática transretal é a mais utilizada, sendo o padrão ouro. É realizada a partir de um ultrassom transretal prostático com analgesia. Método: introduz-se o ultrassom para análise anatômica, verifica áreas de alteração e, em seguida, introduz-se a agulha da biópsia para coleta do material. A agulha inicialmente é introduzida na periferia (mais fácil acesso), mas também é possível introduzi-la mais profundamente, acessando a porção anterior da próstata. Geovana Sanches, TXXIV Ambos os lados da próstata devem ser biopsiados para que a coleta seja adequada. Além disso, o número mínimo de amostras é 12, sendo seis de cada lado. Caso isso não seja seguido, a sensibilidade do exame diminui muito e dizemos que o exame é inconclusivo, indicando-se a realização de uma nova biópsia adequada. Outra indicação de repetir o exame é quando a biópsia vem normal, mas a suspeita clínica persiste. Nesses casos, se disponível, é adequado que a biópsia seja guiada por ressonância magnética. Transuretral Outra opçãopara realização da biópsia é via transuretral, mas esta não é a via de mais fácil acesso. Além disso, outro problema é que permite a biópsia apenas da região central, a qual corresponde a cerca de 40% do todo. Sendo assim, não é a forma mais adequada para realizar biópsia prostática. Todavia, muitas vezes, a uretrocistocospia não é realizada com intuito diagnóstico de CA de próstata, mas sim em um paciente admitido no PS com obstrução urinária. Nesses casos, são colhidos fragmentos da próstata e pode ser feito um diagnóstico incidental. TIPOS HISTOLÓGICOS Adenocarcinoma • Tipo histológico mais frequente • Corresponde a cerca de 99% dos cânceres de próstata Tipos histológicos raros Além das glândulas, a próstata é constituída por outras células, como as células mesenquimais, células neuroendócrinas e células linfohematopoiéticas. Todavia, o acometimento dessas são raras. • Linfomas • Tumores neuroendócrinos • Sarcomas FATORES PROGNÓSTICOS O prognóstico do câncer de próstata se baseia no estadiamento, o qual inclui parâmetros como o PSA e na classificação de Gleason. A partir disso, classificamos o tumor em baixo, intermediário ou alto risco para desenvolvimento de metástases. Classificação de Gleason A escala de Gleason baseia-se na análise dos padrões glandulares, classificando os graus de proliferação celular – quanto maior a nota, mais indiferenciado é o tumor e maior a chance de metástase. • Padrão 1: bem diferenciado e organizado • Padrão 5: menos diferenciado e mais propenso a se multiplicar, aumentando a chance de metástase Há duas notas, sendo a primeira referente ao padrão glandular mais frequente (primeira nota de Gleason) e o segundo padrão glandular mais frequente (segunda nota de Gleason). Assim, temos: • 4 + 3 o Padrão mais frequente é o 4 o Segundo padrão mais frequente é o 3 o Apresenta pior prognóstico que 3 + 4, pois nesse o padrão 3 que predomina Na classificação tradicional, a nota variava de 1 + 1 (que seria 2) até 5 + 5 (que seria 10). Todavia, com o tempo, observou-se que todos os indivíduos com Gleason 2, 3, 4, 5 e 6 apresentavam o mesmo prognóstico. Sendo assim, hoje em dia, quando um adenocarcinoma de próstata é identificado com grau baixo de diferenciação, ele receberá a nota 3 + 3 (ou seja, 6). Geovana Sanches, TXXIV Classificação Gleason Risco de desenvolver metástase < 6 Baixo 7 (3 + 4) Intermediário 7 (4+ 3) Intermediário alto 8 Alto 9 ou 10 Muito alto Principais sítios de metástase • Ossos o Principal sítio de metástase o Necessário cintilografia óssea para fazer o estadiamento o Acometimento difuso em todas as regiões marcadas com preto (escápula, coluna, pelve) – doença metastática estadio IV • Linfonodos o Locorregionais e Retroperitoniais o Avaliação com RNM de abdome e pelve • Bexiga o Avaliação com RNM ou, se não disponível, com TC o Lesão expansiva nodular da próstata, sem acometimento periprostático PSA Quanto maior o PSA ao diagnóstico, maior a chance de metástases ao já presentes ou de desenvolver metástase no futuro. • Baixo risco o PSA < 10 ao diagnostico • Médio risco o PSA entre 10 e 20 ao diagnóstico • Alto risco o PSA > 20 ao diagnóstico Estadiamento No estadiamento do câncer de próstata, estão inclusos os valores do PSA e a classificação de Gleason além do sistema TNM padrão. Pelo sistema TNM, o risco de metástase é baixo se o tumor está confinado a um lobo prostático (T2a). Sendo assim, temos: • Bom prognóstico o < T2a bom prognostico • Prognóstico intermediário o T2b intermediário • Prognóstico ruim o > T3 o Maior risco de metástase TRATAMENTO Doença localizada Cirurgia • Padrão ouro: prostatectomia radical com linfadenectomia pélvica o Retirada em monobloco de todo o órgão acometido, com margens livres • Alta chance de cura • Pode ser realizada com incisão aberta, por via videolaparoscópica ou robótica o Aberto < vídeo < robótica o O tempo de recuperação e a necessidade de transfusão reduzem nessa ordem, mas a chance de cura é semelhante Radioterapia • Apresenta eficácia semelhante à cirurgia • Efeitos adversos, principalmente nas regiões próximas à exposição da radiação (ausentes na cirurgia) o Ciscite actínica § Disúria § Hematúria o Retite actínica § Tenesmo § Diarreia Acompanhamento A ausência do tratamento do câncer de próstata é uma exceção. Pode ser realizado quando a expectativa de vida do paciente é < 10 anos e o câncer de próstata é de baixo risco. Nesses casos, o indivíduo irá a óbito por outras causas, pois o câncer é muito indolente. Geovana Sanches, TXXIV Por outro lado, em indivíduos jovens, há tempo suficiente para desenvolvimento de neoplasia mais avançada. Então, nesses casos, sempre será feito o tratamento. Efeitos adversos Tanto a radioterapia, quanto a cirurgia, podem ocasionar disfunção sexual (acomete até 70% dos pacientes) e incontinência urinária. Doença metastática Quando o paciente apresenta lesão metastática, não há sentido em realizar tratamento local. Nesses casos, a principal forma de tratamento é o bloqueio hormonal, tendo em vista que a testosterona é o principal fator de crescimento do câncer de próstata). • Castração cirúrgica o Orquiectomia bilateral o Padrão-ouro o Estigma muito grande sobre a cirurgia • Castração cirúrgica o 2ª opção o Inibidores do GnRH Nenhum dos dois tratamentos é suficiente, tendo em vista que há produção de testosterona também na glândula adrenal. Sendo assim, faz-se necessário utilizar concomitantemente um bloqueador periférico da testosterona, como a abiraterona. Efeitos adversos da castração • Diminuição da libido • Impotência sexual • Déficit cognitivo • Aumenta risco Cardiovascular e de osteoporose