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Geovana Sanches, TXXIV CÂNCER DE PULMÃO EPIDEMIOLOGIA Na década de 60 ocorreu um boom no número de casos de câncer de pulmão, o que foi relacionado ao aumento do tabagismo entre os homens nas décadas de 30 e 40. A partir disso, iniciaram-se as medidas de combate ao tabagismo, fazendo com que a incidência deste câncer esteja diminuindo. Apesar disso, continua a ser a segunda neoplasia em incidência e a primeira em mortalidade. Sobrevida em 5 anos • Todos os estágios: 17% • Doença localizada: 55% • Doença regional: 27% o Acometimento linfonodal • Doença metastática: 4% FATORES DE RISCO Tabagismo O tabagismo é, sem dúvida, o maior fator de risco para o câncer de pulmão, estando relacionado a 90% dos casos. • Cigarro, tabaco em cachimbo, charuto • Risco 20x maior que em não tabagistas • Cigarro eletrônico: estudos mostram que há relação com o câncer de pulmão, mas ainda não há tempo suficiente para determinar o Problema: porta de entrada para o tabagismo convencional Fatores que influenciam o risco • Número de cigarros/dia e duração • Idade de início • Inalação • Filtros • Aditivos Medidas para cessar o tabagismo • Aspectos importantes o ¾ dos fumantes querem parar o 50% dos fumantes já tentaram parar o Apenas um terço dos fumantes procuram ajuda • Principal medida associada a diminuição do tabagismo: tributação do cigarro • Os 5 “As” o Questionar o paciente acerca do uso do tabaco o Aconselhar o paciente a cessar o Avaliar se ele está disposto a realizar o tratamento o Realizar o tratamento o Acompanhar o paciente Fatores de risco adicionais Cerca de 10% dos cânceres de pulmão não estão relacionados ao tabagismo. Constituem outros fatores de risco: • Asbesto • Radiação (radioterapia prévia) • DPOC • Fibrose pulmonar • Susceptibilidade genética • Charuto / cachimbo • Tabagismo passivo Geovana Sanches, TXXIV RASTREAMENTO Para que uma doença seja digna de rastreamento, ela deve seguir alguns critérios: • Alta morbidade e mortalidade • Prevalência significativa • Alta chance de cura quando diagnóstico precoce • Identificação de indivíduos de alto risco O método de escolha deve ser eficaz, com boa sensibilidade e de baixo custo, permitindo uso em nível populacional. Muito se discute acerca do rastreamento para o câncer de pulmão, o qual ainda não é recomendado pelo ministério da saúde. Todavia, a NLST já recomenda o rastreamento com uso de tomografia computadorizada para pacientes de alto risco – indica-se que, quando possível, o médico solicite o exame para esse grupo populacional. National Lung Screening Trial (NLST) Metodologia • Critérios de eligibilidade o Idade entre 55 e 74 anos o 30 anos-maço o Caso tenha parado, período < 15 anos Resultados • Redução de morte por câncer de pulmão de 20% • Redução de morte por todas as causas de 6,7% Conclusão Rastreamento com tomografia em pacientes assintomáticos que foram expostos ao tabagismo por um período muito longo de tabaco pode diminuir a mortalidade por câncer de pulmão. Brasil: Ministério da Saúde • Não é recomendado a realização de TC • Foco em medidas para redução do tabagismo QUADRO CLÍNICO Sintomas intratorácicos Tosse • Acomete entre 45 e 74% dos pacientes • Mais comum em tumores centrais • Surgimento de tosse em fumantes ou ex- fumantes deve ser investigada o Atenção para a mudança no padrão para pacientes com tosse crônica • Em geral, é uma tosse seca e irritativa Dispneia • Prevalência: 37 a 58% dos pacientes • Progressiva, sem fator de piora ou melhora o Não há relação com esforço • Múltiplas causas o Pneumonia pós-obstrutiva o Atelectasia o Tamponamento cardíaco § Tríade de Beck • Hipotensão • Bradicardia • Turgência jugular o Derrame pleural neoplásico Geovana Sanches, TXXIV o Linfangite pulmonar: padrão de infiltrado difuso por todo o trajeto pulmonar o Estado de hipercoagulabilidade: presente em todo paciente com câncer em atividade; risco para TEP Dor torácica • Prevalência: 20 a 40% dos pacientes • Acometimento pleural ou mediastinal Hemoptise • Prevalência: 27 a 29% dos pacientes • Sangramento de vias aéreas • Mais frequente em tumores centrais o Necrose, ruptura de vasos sanguíneos e sangramento com ascensão Rouquidão • Prevalência: 8 a 18% dos pacientes • Decorrente do acometimento do nervo laríngeo recorrente Crise visceral A crise visceral consiste na condição cujo um órgão vital está tão acometido que se não tratado prontamente, o paciente irá a óbito rapidamente. Doença metastática • Principais sítios de metástase o Adrenal o Fígado o SNC o Ossos • Síndrome consumptiva o Perda de peso > 10% no intervalo de 2 meses • Dores ósseas Manifestações paraneoplásicas Podem ocorrer em diversos órgãos e sistemas do organismo. DIAGNÓSTICO Aproximadamente 97% das neoplasias sólidas requerem uma biópsia para confirmação diagnóstica. A partir disso, nomeia-se o câncer de acordo com o tipo histológico e os subtipos, os quais são muito importantes para o tratamento. A única exceção à biópsia é o hepatocarcinoma específico com grandes elevações de alfa-fetoproteína e imagem compatível. Biópsia A biópsia pode ser realizada tanto no sítio primário do tumor, quanto em sítios de metástase. A escolha é pelo local de mais fácil acesso, menor potencial de complicação e o que for menos mórbido para o paciente. Métodos • Biópsia transbrônquica o Utilizada para lesões periféricas o É guiada por tomografia – introduz- se a agulha no local da lesão o Necessário anestesia • Broncoscopia o Utilizadas para tumor central § Lesões próximas ao mediastino, em geral > 2 cm, com componente endobrônquico o É um exame endoscópico que permite cateterizar a traqueia, os brônquios principais e secundários, realizando biópsia sobre visão direta • EBUS o Ultrassom endoscópico acoplado a broncoscopia Geovana Sanches, TXXIV o Permite a visualização de toda a árvore brônquica, com realização da biópsia sobre visão direta o Não está muito disponível no Brasil • Biópsia transtorácica o Utilizada para lesões mais periféricas o Guiada por tomografia • Biópsia cirúrgica o Laparoscopia, robótica ou aberta o Realizada quando a bronscoscopia não é possível e a biópsia transbrônquica é inconclusiva PRINCIPAIS TIPOS HISTOLÓGICOS Câncer de pulmão não pequenas células O câncer de pulmão não pequenas células apresenta espectro variável, desde doença rapidamente progressiva até doença mais indolente, sem metástase, com sintomas de tosse progressiva. Alguns casos têm mutações driver. Quando a doença é localizada, é passível de cirurgia. Isso não ocorre no câncer pequenas células, pois mesmo lesões localizadas tem grande potencial de doença sistêmica, sendo utilizado principalmente a quimioterapia. Adenocarcinoma • Aumento da incidência • É o mais frequente dentre os cânceres não pequenas células o Até algumas décadas atrás, o carcinoma espinocelular era o mais frequente. Todavia, nos últimos anos, o adenocarcinoma o superou. o Possível relação com a diminuição do tabagismo. • Mais associado a mutações específicas passíveis de tratamento com drogas alvo (driver mutations) o Possível identificar o mecanismo que desenvolveu o câncer o 35 a 40% dos casos tem esses genes específicos o Mutações de EGRF § Responsável por até 20% dos adenocardinomas § Há inibidores específicos dessa mutação o Mutação de EML4-ALK § Já existem inibidores específicos Carcinoma espinocelular • Dentre os três, é o mais relacionado ao tabagismo • Tende a ser mais central Carcinoma de grandes células • Não é possível diferenciar se há padrão glandular ou queratinizado • Prognóstico intermediário entre os outros dois Câncerde pulmão pequenas células Geovana Sanches, TXXIV • Pior prognóstico • Alta replicação celular e metástases • Ausência de mutações driver o Não existe, portanto, droga-alvo • Tumores mais centrais • Maior relação com tabagismo ESTADIAMENTO O estadiamento é extramente importante para avaliação da extensão do tumor. Para definir quais exames serão solicitados, devemos lembrar os principais sítios de metástase: • Sistema nervoso central • Pulmão contralateral • Adrenal • Ossos • Fígado O PET-TC é o padrão ouro para o estadiamento do câncer de pulmão, tendo em vista auxilia não apenas na identificação de metástases, mas também a ver o grau de acometimento da doença loco-regional. É um exame funcional, avaliando a anatomia e a atividade celular. Consiste em uma tomografia acoplada com dispositivo que injeta radiofármacos no organismo do paciente e, através da captação desse contraste, verifica-se os locais de doença. É utilizado a fludrodesoxiglicosa (FDG), a qual é captada por toda célula com intensa proliferação celular. Esse contraste não entra na via glicolítica, de forma que fica marcada e brilha na escopia. Não é um bom exame para avaliar o sistema nervoso central, tendo em vista que este é fisiologicamente muito ativo. Sendo assim, é necessário complementar o estadiamento com uma imagem do sistema nervoso, como a ressonância nuclear magnética do crânio ou uma tomografia computadorizada com contraste. Outro ponto é que o exame não é muito sensível para lesões menores do que 1,2 cm, lesões parenquimatosas e linonodos < 1 cm. Estadiamento do mediastino O estadiamento do mediastino pode ser realizado com o EBUS (preferencialmente) ou ecoendoscopia. Está indicado quando: • Linfonodos aumentados (> 1 cm na TC) o Importante realizar biópsia para confirmação anatomo-patológica • Linfonodos de dimensões normais com captação no PET-TC Opções de estadiamento Outras opções de estadiamento, para quando o PET-TC não está disponível, são: • TC de crânio (com contraste) ou RNM de crânio • TC de abdome • Cintiligrafia óssea TRATAMENTO Pequenas células O câncer de pulmão pequenas células é uma doença muito agressiva, que na maioria das vezes já é metastática ao diagnóstico. O prognóstico é ruim, com sobrevida média que varia de 9 a 12 meses. Doença localizada • Radioterapia + quimioterapia Doença extensa ou metastática • Quimioterapia paliativa Geovana Sanches, TXXIV o Carboplatina + o Etoposite + o Atezolizumab Não pequenas células Doença localizada Quando a intensão do tratamento é curativa, em geral faz-se necessária a remoção cirúrgica do pulmão, ou seja, a cirurgia é o principal tratamento. É necessário considerar o risco cirúrgico do paciente. à Ressecção não anatômica • Ressecção em cunha à Ressecção anatômica • Pneumectomia o Retirada de todo o pulmão o Foi a primeira forma de tratamento loco-regional, mas observou-se que os pacientes apresentavam alta taxa de mortalidade e índice de infecções o Atualmente reservada para casos em que realmente não é possível manter o pulmão • Lobectomia o Menor morbimortalidade quando comparada a pneumectomia, com praticamente a mesma chance de cura o Atualmente é o Padrão-ouro • Segmentectomia o Realizado quando o volume pós- operatório pulmonar é muito pequeno e é possível preservar uma quantidade maior do órgão o Deve respeitar o feixe vásculo- nervoso do tumor o Taxas de recorrência maiores quando comparada a lobectomia • Bilobectomia o Lesão em dois lobos = tentamos deixar lobo remanescente Avaliação pré-operatória • Avaliação pré-operatória o Deve ser muito bem-feita o Avaliação do risco cardiovascular o Análise da reserva pulmonar • Fatores a serem avaliados o Volume de pulmão a ser ressecado o Função pulmonar pré-operatória § Calculada por espirometria o Outros fatores § Idade do paciente § Comorbidades § ECOG • Cálculo do volume pulmonar pós- operatório (PPO) o Cada segmento representa 5,7% da função pulmonar o Exemplo: paciente com VEF1 de 90% que precisa ressecar 3 segmentos (lobectomia superior direita) § 3 x 5,7% = 17,1% § PPO = VEF1 – (VEF1 x volume ressecado) § PPO = 90% - (90 x 0.171) § PPO = 74,61% o Classificação do risco PPO VEF1 Risco > 60% Baixo 30 % a 60% intermediário < 30% Alto o Quando o risco é intermediário, deve-se levar em consideração os demais fatores. o Quando o risco é alto, a cirurgia não está indicada e o paciente deve ser submetido a tratamento alternativo Estágios I e II com alto risco cirúrgico • Mediastino não comprometido • SBRT o Stereotaxia o Body o Radiation Geovana Sanches, TXXIV o Therapy • Identificamos a lesão pulmonar e a irradiamos por completo com altas doses de radiação; a taxa de controle local é semelhante à cirurgia, mas este não é o padrão ouro • Radiocirurgia é reservada para pacientes que não suportam a lesão pulmonar Tratamento doença metastática O objetivo do tratamento da doença metastática é melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida do paciente. Quando o tumor é não pequenas células, recomenda-se o perfilamento genético, o qual permite a identificação das mutações e, assim, o tratamento direcionado a elas. Com o advento do perfilamento genético e a identificação das mutações drivers, a sobrevida do câncer de pulmão tem melhorado significativamente. Atualmente, há pacientes com sobrevida superior a 2 anos, o que antes não era uma possibilidade. Caso não haja tratamento específico, podemos utilizar quimioterapia e imunoterapia.
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