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Geovana Sanches, TXXIV NÓDULOS CERVICAIS (MASSAS CERVICAIS) ANATOMIA DO PESCOÇO A anatomia do pescoço é extremamente complexa, com estruturas ósseas, musculares, vasculares e nervos (IX, X, XI, XII NC e plexo cervical). Didaticamente, o pescoço pode ser dividido em alguns triângulos, sendo os dois principais o trígono cervical anterior e posterior (ou lateral). Trígono cervical anterior (TCA) • Contém em sua área o Trígono submandibular o Trígono submentoniano o Trígono muscular o Trígono carotídeo • Limites o Margem inferior da mandíbula o Margem anterior do músculo esternocleidomastoideo o Linha mediana do pescoço Trígono submandibular • Limites o Região mediana ventre anterior do m. digástrico o Região lateral: ventre posterior do m. digástrico o Superiormente: margem inferior da mandíbula • Contém em sua área a glândula submandibular e um ramo do n. facial Trígono submentoniano • Limites o Osso hioide o Ventre anterior do músculo digástrico o linha mediana do pescoço Trígono muscular • Limites o Osso hioide o Ventre superior do músculo omo- hioideo o Músculo esternocleidomastoideo o Linha mediada do pescoço na região infra-hioidea • Contém em sua região basicamente músculos e linfonodos Trígono carotídeo • Limites Geovana Sanches, TXXIV o Ventre superior do m. omo-hioideo o Parte mais inferior do m. estilo- hiloideo o M. esternocleidomastoideo • Contém em sua área o A. carótida comum o V. jugular interna o Nervos Trígono cervical lateral ou posterior (TCL) • Contém em sua área o Trígono occipital o Trígono supraclavicular • Limites o Margem posterior do M. esternocleidomastoideo o Margem anterior do M. trapézio o Margem superior da clavícula o Osso occipital Trígono occipital • Contém os grupos musculares profundos + cadeia rica de linfonodos Trígono supraclavicular • Contém cadeia de linfonodos Relevância clínica dos trígonos No contexto dos nódulos cervicais, a divisão do pescoço em trígonos nos auxilia a formular hipóteses diagnósticas: • Nódulo na região submentoneana: mais comum é o abscesso odontogênico ou linfonodomegalia • Nódulo na região submandibular: abriga alguns tumores, linfonodos ou aumento da própria glândula submandibular • Nódulo na região do triângulo carotídeo: pode-se pensar em um aneurisma de artéria carótida ou um tumor vascular (paragangliona) Cadeia de linfonodos As cadeias linfonodais são classificadas entre os níveis 1 a 7 ou de 1 a 6, dependendo do autor. Quando sabemos qual a drenagem linfática habitual de determinados tumores e identificamos uma metástase linfonodal, é possível inferir onde é o tumor primário. Nível 1 • 1A: região submentoniana (entre os dois ventres anteriores do m. digástrico) • 1B: região submandibular Nível 2 • Julgocarotídeo (percorrem a região da carótida e jugular no sentido superior para inferior) • 2A: julgocarotídeo alto anterior • 2B: Julgocarotídeo alto posterior Nível 3 • Julgocarotídeo médio Nível 4 • Julgocarotídeo baixo (inferior) Nível 5 • Cervical posterior Nível 6 • Região peritireoidea Nível 7 • Região infra-tireoidea o Abaixo da glândula tiroide, na região da traqueia ETIOLOGIA Até 15 anos Congênitos • Cisto tireoglosso • Cisto branquial • Cisto dermoide • Linfangioma Geovana Sanches, TXXIV • Hemangioma • Laringocele Inflamatórios • Adenites o Virais o Bacterianas o Granulomatosas Neoplásicos • Pouco incidentes na infância • Linfomas • Sarcomas • Tumores de tireoide o Nódulo na região anterior e central do pescoço o Em geral, são benignos na criança Entre os 15 e 40 anos Congênitos • Menos frequentes, pois muito dificilmente o diagnóstico será feito após os 15 anos • Cisto branquial • Linfangioma • Cisto tímico Inflamatórios • Adenites o Virais o Bacterianas o Granulomatosas • Sialoadenites o Submandibular o Parótida (p. ex. caxumba) Neoplásicos • Linfomas • Glômus (paraganglioma – tumor vascular) • Neurogênicos (p. ex. schwanoma) • Tireoide • Metástases • Glândulas salivares Após os 40 anos Congênitos • Baixa probabilidade • Linfangioma Inflamatórios • Adenites o Virais o Bacterianas o Granulomatosas Neoplásicos • Linfomas • Metástases o Regionais o À distância INVESTIGAÇÃO • Anamnese • Exame físico geral o Avaliar a presença de nódulos em outras regiões o Verificar se houve emagrecimento associado • Exame otorrinolaringológico minucioso • Palpação cervical o Avaliação de todos os níveis linfonodais e da glândula tireoide • Exames complementares o Nasofibroscopia e laringoscopia HISTÓRIA CLÍNICA • Identificação o Idade e sexo o Naturalidade, procedência e residência o Profissão • Forma de instalação o Rápida o Lenta e progressiva o Aumento e regressão • Tempo de evolução o Semanas? Meses? Anos? • Presença de sinais flogísticos • Bilateralidade • Saída de secreções • Sintomas associados o Disfagia, odinofagia, dispneia, disfonia, tosse, febre, hemoptise, sangramento, sintomas gripais, emagrecimento • História patológica pregressa o Infecções prévias o Trauma, especialmente em região cervical ou cirúrgico (boca, dentição...) o Medicações em uso o Cirurgia prévia • Hábitos o Etilismo o Tabagismo • História familiar o Neoplasias, especialmente dentro da CCP Geovana Sanches, TXXIV EXAME FÍSICO • Localização • Consistência • Dimensão • Mobilidade o Quanto a palpação o Quanto a movimentação da língua ou deglutição • Dor • Sinais inflamatórios Localização Medianos • Cisto tireoglosso o Congênito • Cisto dermoide o Congênito • Nódulos de tireoide • Lipomas o Crescimento lento o Geralmente não é necessário operar • Tumores cartilaginosos o Principalmente em cartilagem tireóidea e cricóide • Linfonodomegalias o Principalmente nas cadeias pré- tireoidea e submandibular Laterais • Cisto branquial o Congênito • Linfonodomegalias o Muito importantes na região lateral do pescoço • Linfomas • Paragangliomas o Glômus o Principalmente na região carotídea • Lipomas • Tumores de glândulas salivares • Linfangiomas o Congênito EXAMES COMPLEMENTARES Laboratoriais • Hemograma • Sorologias o EBV o HPV o HIV/AIDS o Sífilis o Citamegalovírus o Mononucleose o Toxoplasmose o Rubéola o Paracoccioidomicose • PPD o Avaliação de tuberculose • Cultura e antibiograma o Quando se faz a drenagem de um abscesso • PAAF o Principalmente para tumores de glândulas salivares ou nódulo no pescoço • Exame histológico / Aanatomia patológica o Incisional o Excisional § Remoção completa do nódulo Radiológicos • Ultrassonografia o Melhor exame para avaliação da glândula Tireoide • Tomografia computadorizada o É um bom exame para avaliação de linfonodos, cartilagem e ossos, além de permitir avaliar a presença de neoplasias • PETscan o Tomografia com emissão de prótons – avalia a atividade tumoral • Ressonância nuclear magnética o Avalia muito bem nódulos em contatos com grandes vasos e tumores vasculares, além de nos dar uma melhor definição da lesão • Angioressonância o Lesões pulsáveis § Se tiver suspeita no exame físico, faz ausculta o Tumores vasculares Geovana Sanches, TXXIV o Suspeita de aneurisma de artéria do pescoço • Arteriografia o Realizado durante o preparo cirúrgico e não como diagnóstico NÓDULOS INFLAMATÓRIOS Linfadenopatias As linfadenopatias (adenites) podem ser inflamatórias ou tumorais. A maioria delas (cerca de 80%) são de origem benigna. Uma característica importante desses nódulos é que, geralmente, o crescimento é muito rápido. Abscessos• Evolução rápida o Agentes bacterianos, em geral Gram-positivos o Staphilococcus aureus o Streptococcus pyogenes • Evolução lenta o Micobactérias o HIV o Sífilis o Fungos o Parasitas Tratamento • Anti-inflamatórios • Antibacterianos o Caso haja infecção bacteriana • Analgésicos • Calor local • Tratamento específico • Punção e drenagem o Nos casos de abscesso, a drenagem será necessária na maioria das vezes Caso clínico Paciente chega ao PS com dor intensa, dificuldade de abrir a boca (trismo), desidratado, estado geral regular e anorexia. Refere que fez tratamento dentário há 2 semanas e evoluiu com nódulo na região entre a parótida e a mandíbula, o qual apresenta hiperemia. Conduta • Solicitar TC o Quando o paciente apresenta muitos sintomas ou há abaulamento na região mais profunda do pescoço, é necessário que seja realizada uma tomografia • Anestesia local (xilocaína 2% com vasoconstritor) e punção o Enviar a secreção para realização da cultura e antibiograma • Iniciar o antibiótico empiricamente Resultado do exame A partir da tomografia, identificou-se que o paciente apresentava 3 grandes abscessos, os quais provavelmente irão precisar de drenagem cirúrgica. DOENÇAS CONGÊNITAS Cisto tireoglosso Epidemiologia • 65% dos casos surgem na infância • É a massa cervical mediana mais comum Origem A tireoide embrionária migra da base da língua para a região cervical através do ducto tireoglosso. Após esse processo, esse ducto deve involuir. Quando isso não ocorre e o ducto é persistente, forma-se o cisto tireoglosso. Características • Aumenta em casos de IVAS ou outras infecções • Pode sofrer infecção e fistulização, especialmente em quadros de infecção de via aérea Geovana Sanches, TXXIV • Movimenta-se com a deglutição e protrusão da língua Diagnóstico • Clínico • Ultrassom • Tomografia Tratamento • Expectante • Cirúrgico (Sistrunk) Cisto branquial Epidemiologia • Segundo cisto congênito mais frequente • Localização o Borda anterior do músculo esternocleidomastoideo o 2º arco / fenda branquial (90%) Características • Assintomático ou oligossintomático o Dependendo do tamanho, o paciente pode ter limitação da movimentação do pescoço • Aumenta com IVAS e outras infecções • Dificilmente sofre fistulização o Diferente do cisto tireoglosso Diagnóstico • Clínico • Ultrassom Tratamento • Cirúrgico Linfangioma O linfangioma, também denominado hidroma cístico, é o principal diagnóstico diferencial do cisto branquial. Características • 90% são diagnosticados nos 3 primeiros anos de vida o As vezes o diagnóstico é intra-útero (visualizado através do ultrassom) • 75% são cervicais (trígono posterior) e 20% são axilares • Oligossintomáticos o Dispneia o Disfagia Diagnóstico • Ultrassom • Tomografia • Ressonância Tratamento • Cirúrgico • Recidiva alta (15% dos casos) Cisto dermoide Os cistos dermoides são a segunda massa mediana mais comum, ocorrendo principalmente na região cervical e assoalho da boca. Características • Móveis a palpação Geovana Sanches, TXXIV • Fixos à deglutição e protusão da língua o Importante ponto para diferenciar do cisto tireoglosso, o qual se movimenta com a deglutição e protusão da língua • Assintomático ou oligossintomático o Quando no assoalho da boca, paciente pode ter dificuldade para falar e deglutir Diagnóstico • Clínico • Ultrassom Tratamento • Cirúrgico • Quando no assoalho da boca, faz-se abordagem transoral NEOPLASIAS BENIGNAS • Lipomas o Relativamente frequentes na região do pescoço (região lateral ou medial) o Diagnóstico simples, através da clínica e exame radiológico o Geralmente é móvel e fibroelástico o Problema mais estético, podendo se tornar funcional ao crescer muito (dificulta a movimentação do pescoço) • Fibromas • Neuromas • Adenomas o Tireoide o Glândulas salivares • Paragangliomas (glômus) o Geralmente localizados na região do trígono carotídeo o São tumores pulsáteis – paciente sente a pulsação no pescoço e, ao examinarmos com o estetoscópio é possível ouvir um frêmito/sopro, geralmente síncronos com o batimento cardíaco o Diagnóstico diferencial de aneurisma e schwannoma é feito por exames de imagem • Condroma NEOPLASIAS MALIGNAS Primários da região cervical As neoplasias primárias da região cervical costumam ser mais raras. Em geral, trata-se de metástases de outros tumores. Dentre os primários estão: • Linfoma Hodgkin o Região lateral • Linfoma Não Hodgkin o Região lateral • Carcinoma de tireoide o Região mediana • Carcinoma de glândulas salivares o Região lateral • Sarcomas o Região lateral Casos clínicos • Paciente com neoplasia primária de cavidade oral e múltiplas metástases. a biópsia foi realizada e identificou-se um carcinoma espinocelular • Paciente com tumor maligno da parótida e infecção do subcutâneo (celulite). Foi realizado tratamento com quimioterapia e radioterapia, o que fez com que o tumor regredisse consideravelmente • Paciente com nódulo na região da parótida e abaulamento atrás da orelha. Foi Geovana Sanches, TXXIV realizado o diagnóstico de um paraganglioma da região temporal (tumor vascular benigno). Metástases • 85% das vezes o tumor primário se situa acima da clavícula o Pode ser proveniente da cabeça, cavidade oral, faringe, laringe etc. o 15% dos nódulos não estão na região de cabeça e pescoço, podendo ser metástases a distância § Mama, pulmão, próstata e estômago • Metástases precoces o Apareceram rapidamente, às vezes antes da manifestação inicial do tumor o Buscar por neoplasias em: § Rinofaringe § Supraglote § Hipofaringe § Amígdalas § Base da língua + Orofaringe • Metástases tardias o Aparecem após um longo período desde o início do tumor primário o Buscar por neoplasias em: § Glote § Seios paranasais o Essas metástases são mais tardias devido a drenagem linfática pobre (quando comparada às regiões que cursam com metástases precoces)
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