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Aula 09

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João Cândido: O ano de 1910 foi marcado pela luta dos marinheiros brasileiros pelo fim dos castigos corporais. Embora o uso da chibata como castigo na Armada brasileira já houvesse sido abolido em um dos primeiros atos do regime republicano, na prática, os marinheiros, cuja grande maioria era formada por homens negros e mestiços, continuavam a receber as punições. Era um claro resquício da escravidão.
O estopim da Revolta ocorreu no dia 16 de novembro de 1910, quando foi publicado em diferentes jornais brasileiros que o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes havia sido punido com 250 chibatadas aplicadas na frente de toda a tripulação do Encouraçado Minas Gerais. Seis dias depois, lideradas pelo marinheiro e filho de ex-escravos, João Cândido, tripulações de diferentes embarcações em todo Brasil fizeram um levante por meio do qual reivindicavam a abolição da chibata na marinha, com o lema: 
“nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira”.
Foram quatro dias de muita tensão. A cidade do Rio de Janeiro estava sob a mira dos canhões da marinha e, caso as reivindicações não fossem atendidas, a cidade seria atacada. Todavia, após inúmeras negociações, os marinheiros conseguiram fazer com que as autoridades brasileiras se comprometessem a acabar com as punições e terminaram o levante.
Porém, a história não acabou aí. Ainda que o Congresso brasileiro tenha votado pela anistia dos marinheiros envolvidos, logo depois de se entregarem, grande parte dos sublevados foi presa ou morta pelas próprias autoridades. O líder, João Cândido, passou alguns anos preso na Ilha das Cobras e depois foi expulso da marinha. Ele faleceu em janeiro de 1969, aos 89 anos, esquecido por seus contemporâneos.
A trágica história de João Cândido é uma das tantas que demonstra a luta que milhares de afrodescendentes tiveram que experimentar em busca de melhores condições de vida em um país marcado pelas diferenças raciais.
O movimento abolicionista no Brasil: Existe uma vertente historiográfica que defende que o Movimento Negro surgiu ainda sob a égide da escravidão, por meio da participação negra no movimento abolicionista. Fundado na Inglaterra, no início do século XIX, o abolicionismo foi um movimento que pregava o fim do cativeiro. Tal movimento existiu em diferentes partes do mundo e foi fundamental para a abolição da escravidão em diversos países americanos. No Brasil não foi diferente.
No caso brasileiro, a manutenção da escravidão e do tráfico, mesmo após a independência em 1822, fez com que o movimento abolicionista só ganhasse força dentre as classes dirigentes do Império a partir da década de 1860. Neste período, o tráfico já havia sido extinto — por meio da Lei Euzébio de Queiroz, aprovada em 1850 — e debates sobre o futuro da escravidão, que eram pautas de praticamente todos os jornais do país.
A incerteza quanto à manutenção da escravidão facilitou a propagação dos ideais e práticas abolicionistas. Profissionais e intelectuais que eram contrários à escravidão no Brasil organizaram associações e jornais por meio dos quais pudessem divulgar suas ideias. Conforme mencionado, muitos descendentes diretos da escravidão fizeram parte deste movimento.
Periódicos como A Gazeta da Tarde, cujo editor era José do Patrocínio, e A Redenção foram instrumentos importantes na luta abolicionista. Em pouco tempo, o número de associações abolicionistas cresceu. Tais organizações não apenas faziam denúncias contra a escravidão por meio dos artigos escritos nos jornais, dos discursos feitos em praça pública e das peças teatrais encenadas em importantes teatros do Brasil, realizavam também festas e reuniões nas quais arrecadam dinheiro que seria usado na compra da alforria de alguns escravos.
Lei nº 2040 - A Lei do Ventre Livre: No ano de 1871, o Senado brasileiro aprovou a Lei nº 2040, mais conhecida como a Lei do Ventre Livre, determinando que a partir daquela data (28\09\1871) todas as crianças nascidas de ventre escravo seriam livres.
Para garantir que receberiam bons cuidados e que não seriam separados das mães, todos os senhores deveriam ficar com os recém-nascidos até eles completarem oito anos de idade. Depois disso, o senhor de sua mãe poderia escolher receber 600 mil réis do governo e dar a liberdade total para a criança ou então utilizar os serviços dessa criança até ela completar vinte e um anos.
A Lei nº 2040 ainda reconheceu que todo escravo que tivesse o dinheiro necessário poderia comprar sua liberdade, independentemente da vontade senhorial de conceder ou não a carta.
Ainda que as condições de liberdade garantidas pela lei fossem de médio prazo e que permitissem aos senhores utilizar os filhos de suas escravas durante o período em que eles tinham grande potencial de trabalho, a garantia do Estado brasileiro sobre a liberdade de todos aqueles que nasceram após 28 de setembro de 1871 deu mais força para os abolicionistas.
Indicativos Importantes: 
1879: Em 1879, André Rebouças fundou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e Joaquim Nabuco, junto com José do Patrocínio, criou a Confederação Abolicionista, ambas na cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil na época. Os poemas de Castro Alves que denunciavam as atrocidades da escravidão também foram armas importantes na luta abolicionistas.
Além do jornais e associações, o abolicionismo também virou ação. Casos de violências extremadas contra cativos passaram a ser defendidos por importantes advogados, homens e mulheres de diferentes localidades começaram a fazer doações com o intuito de comprar alforrias. As fugas massivas de escravos e a formação de quilombos passaram também a contar com a ajuda de intelectuais brasileiros.
1883: Participação Popular A população aderiu ao movimento de diferentes formas. O caso mais emblemático ocorreu no Ceará, em 1883, quando jangadeiros liderados por Francisco José do Nascimento e João Napoleão, ex-escravos, se recusaram a transportar os cativos que desembarcavam no porto cearense.
Essa manifestação rapidamente ganhou mais adeptos e teve tanta repercussão que obrigou as autoridades locais e decretaram o fim da escravidão no Ceará em 1884, quatro anos antes da extinção nacional da escravidão. Nesse mesmo ano, a província de Amazonas também a aboliu.
Ações rebeldes Embora os senhores e o governo brasileiro ameaçassem e até mesmo entrassem em confronto com abolicionistas, a pressão contra a escravidão aumentava a cada dia e os escravos intensificaram suas ações rebeldes.
1884: As fugas em massa para cidades e a formação de quilombos foram as principais estratégias utilizadas pelos escravos. Neste período, o quilombo de Jabaquara, próximo a Santos, e o quilombo do Leblon tornaram-se famosos em todo pais devido às suas estreitas relações com o movimento abolicionista.
No vale do Paraíba e no Oeste Paulista, principais regiões econômicas do Brasil naquele período, os escravos também iniciaram atos violentos contra seus senhores e suas propriedades.
1885 Lei do Sexagenário Mais uma vez, o Estado brasileiro tentou apaziguar a situação decretando mais uma lei abolicionista. Em 1885, foi promulgada a lei do Sexagenário que determinava que todos os escravos, homens e mulheres, com mais de sessenta anos estariam automaticamente livres. Todavia, essa lei pouco mudou o quadro social fomentado pelos abolicionistas e escravos.
1888: Lei Áurea Se não bastasse todo o alvoroço interno causado pelo abolicionismo, as autoridades brasileiras ainda tinham que lidar com a Inglaterra, que desde o começo do século XIX pressionava as autoridades brasileiras a acabar com a escravidão. Em meio a um contexto tão conflituoso, não havia mais nenhuma forma de mantê-la.
Deste modo, em 13 de maio de 1888, a princesa Izabel, filha do Imperador D. Pedro II que estava ausente, assinou a Lei Áurea, na qual foi "declarada extinta desde a data dessa Lei a escravidão no Brasil".
A desigualdade: Dados obtidos por diferentes órgãos de pesquisa (como o IBGE e o IPEA) indicam que a populaçãobrasileira está cindida por uma significativa desigualdade que se expressa por meio da cor. Os índices mostram que a diferença salarial, a população carcereira, a entrada nas Universidades públicas e os índices de assassinatos passam pelo crivo racial.
Nas aulas anteriores foi visto como afrodescendentes e grupos indígenas vêm lutando para mudar esse quadro. Nos últimos 40 anos essa população começou a contar com a ajuda de muitos intelectuais e até mesmo com o apoio do Estado nacional.
Lei CAÓ: Em 1985, foi aprovada a Lei nº 7.437, também conhecida como Lei CAÓ, em homenagem ao seu formulador.
Esta lei:
Incluí, entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951 ― Lei Afonso Arinos.
Art. 1º - Constitui contravenção, punida nos termos desta Lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Art. 2º - Será considerado agente de contravenção o diretor, gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na prática referida no art. 1º desta Lei.
Sistemas de cotas em universidades públicas: 
Além disso, tal garantia legal serviu de suporte para uma série de ações afirmativas no Brasil, sendo a instauração do sistema de cotas nas universidades públicas a mais conhecida.
Tal sistema reservaria uma parcela das vagas oferecidas pelas universidades para pessoas que se auto classificassem como negras, pardas ou indígenas.
De toda forma, a tentativa e a instauração do sistema de cotas revigorou o debate sobre o racismo no país e serviu como holofote para outras questões importantes, como a demarcação das terras indígenas e quilombolas.
Porém, essa é uma questão que ainda está longe de ser encerrada e, cujo debate, é fundamental para a criação de um Brasil que não faça distinções de seus habitantes.

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