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Emergências em cardiopatias congênitas no adulto Marcela Santana Devido Ana Maria Thomaz INTRODUÇÃO Ao longo dos últimos anos, com o avanço tecnoló- gico, aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas e me- lhora do tratamento clínico, tem ocorrido um gran- de aumento no número de crianças com cardiopatia congênita que chegam à idade adulta. Atualmente, a relação adulto/criança com cardiopatia congênita ultrapassa 2:1, presente em aproximadamente 3 a cada 1.000 adultos. Dessa forma, é provável que o clínico ou o emergencista se deparem não apenas com crianças com cardiopatia congênita, mas também com adultos com cardiopatia congênita, principal- mente aqueles profissionais que trabalham em hos- pitais terciários. Muitas vezes, trata-se de pacientes de alta complexidade e de difícil manejo, mesmo para a grande maioria dos cardiologistas. Não raro, esses pacientes seguem sob acompanhamento do cardiope- diatra até a idade adulta, não só pela falta de profis- sionais com formação em Cardiologia Adulta que se interessem pelas cardiopatias congênitas como tam- bém pelo grande domínio que os cardiopediatras têm sobre essas patologias. Como nem sempre há tempo hábil para consulta com um colega especia- lista, torna-se cada vez mais necessário que emer- gencistas e clínicos tenham, ao menos, uma noção PONTOS IMPORTANTES � O tratamento das cardiopatias congênitas tem avançado cada vez mais, aumentando a qualidade e a sobrevida dos pacientes e permitindo que mais pacientes cheguem à idade adulta. Esses pacientes vão aparecer no seu plantão. � As condições mais prevalentes são a comunicação interatrial e o forame oval patente. Mas as principais condições subjacentes em pacientes que procuram o pronto-socorro são: coração univentricular, transposição com- pleta de grandes artérias e tetralogia de Fallot. � A principal razão para procura do pronto-socorro é cardiovascular, incluindo: arritmia, insuficiência cardíaca, síncope, dissecção de aorta e endocardite. � A insuficiência cardíaca direita é causada por sobrecarga persistente de vo- lume nas câmaras direitas. Na disfunção aguda o paciente se apresenta com congestão venosa – congestão hepática, renal e edema de alças in- testinais e eventualmente com dor torácica. � O tratamento da disfunção aguda de ventrículo direito (VD) envolve: uso de diuréticos e restrição hídrica para obter um balanço hídrico negativo; con- sideração de hemodiálise ou ultrafiltração e vasodilatadores intravenosos. � Com acúmulo de anos de sobrecarga de VD pode haver aumento irreversí- vel da pressão pulmonar, superando a pressão da circulação sistêmica, que é denominado síndrome de Eisenmenger. � As complicações da síndrome de Eisenmenger incluem trombose, hemorra- gia, insuficiência renal, arritmias, acidente vascular cerebral, abscesso ce- rebral, endocardite infecciosa e artrite gotosa. 2 MEDICINA DE EMERGÊNCIA: ABORDAGEM PRÁTICA básica de como lidar com as cardiopatias congênitas mais comuns e conheçam as principais urgências e emergências desse crescente grupo de pacientes. COMPLICAÇÕES EM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS As complicações mais comuns que levam esses pacientes a procurar o PS nesse grupo de pacientes são a insuficiência cardíaca congestiva (ICC), arrit- mias, hipertensão pulmonar e complicações vascu- lares. A ICC pode ser com fração de ejeção preserva- da ou não; na maioria das vezes, acomete o ventrículo direito e pode cursar com dor torácica do tipo anginosa, mesmo que as coronárias sejam livres de doença. Arritmias são comuns e as mais prevalen- tes costumam ser as arritmias atriais, seja por dilata- ção do átrio direito, seja por atriotomia em algum procedimento cirúrgico prévio. A hipertensão pul- monar é a mais temida complicação, e é uma condi- ção com muitas peculiaridades; no Brasil, ainda com tratamentos escassos para casos de maior gravidade. Já as complicações vasculares envolvem principal- mente dilatação da raiz da aorta, formação de fístulas e insuficiência venosa. Outra complicação menos comum, mas ainda de maior ocorrência comparati- vamente à população em geral é a endocardite, a qual tem maior predisposição, principalmente em casos de valva aórtica bicúspide e quando há condições que predispõem à mistura de sangue arterial e venoso. Na seção a seguir apresentamos as cardiopatias congêni- tas mais comuns. Finalmente, apresentamos a sín- drome de Eisenmenger, em que pacientes não trata- dos evoluem para um quadro irreversível de hipertensão pulmonar e com aumento importante de complicações e necessidade de serviço de emergência. COMUNICAÇÃO INTERATRIAL Dentre as cardiopatias congênitas, a comunicação interatrial (CIA) é a prevalente na idade adulta, pre- dominando no sexo feminino (2:1). Trata-se de um defeito na formação do septo atrial que possibilita a passagem de sangue entre os átrios. A repercussão clínica do defeito dependerá do seu tamanho, da localização e da capacidade de enchimento dos dois ventrículos (Figura 1). Tradicionalmente, o shunt é esquerdo-direito, mas ao longo do tempo pode pas- sar a ser bidirecional ou até mesmo direito-esquerdo. As complicações em adultos costumam ocorrer ao redor da 3ª ou 4ª décadas de vida, sendo a maioria dos pacientes assintomáticos (ou com sintomas mí- nimos) até então. Complicações: � Disfunção de VD. � Arritmias. � Síndrome de Eisenmenger (ver a seguir). Exame físico No exame físico, o achado mais comum é o desdobra- mento fixo da segunda bulha (B2). Quando ocorre a evolução para hipertensão pulmonar (HP), a B2 tor- na-se única e hiperfonética. A forma mais avançada da HP é denominada síndrome de Eisenmenger. So- pro sistólico ejetivo pode ser ouvido na borda esternal esquerda alta (via de saída do ventrículo direito) e sistólico em regurgitação em foco tricúspide, quando há evolução para insuficiência cardíaca direita. Exames complementares � Radiografia de tórax: aumento de área cardíaca às custas de câmaras direitas, com abaulamen- to do tronco da artéria pulmonar (Figura 2). � Eletrocardiograma (ECG): desvio do eixo QRS para a direita, sobrecarga de átrio direito, atraso final de condução ou BRD (Figura 3). � Ecocardiograma: exame confirmatório para o diagnóstico, localiza e quantifica o defeito, mos- 1 4 2 3 Z FIGURA 1 Tipos de comunicação interatrial (CIA) vistos através do átrio direito. (1) CIA tipo ostium pri- mum; (2) CIA tipo ostium secundum; (3) CIA veia cava superior; (4) CIA veia cava inferior. EMERGÊNCIAS EM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS NO ADULTO 3 I aVR V1 V4 II V5V2aVL III aVF V3 V6 II Z FIGURA 3 Eletrocardiograma mostrando eixo cardíaco para a direita típico em várias cardiopatias congê- nitas em que há maior demanda do ventrículo direito. Em V1 observamos presença de rsR’. Sem sobrecargas. tra a direção do shunt, estima a pressão sistólica de artéria pulmonar, afere medidas e funções das câmaras cardíacas. Ecocardiograma transesofági- co pode ser necessário em pacientes com janela limitada, geralmente em adultos. FORAME OVAL PATENTE (FOP) Pode ser encontrado em até 20% da população adulta e não causa repercussão alguma na maioria das vezes. Pode permitir shunt do átrio direito para o esquerdo e com isso embolia paradoxal. Sua pre- sença ganha relevância clínica nos quadros de aci- dente vascular isquêmico (AVC) criptogênico. Cerca de 50% dos pacientes que apresentam AVC criptogênico são diagnosticados com FOP. Tal as- sociação é mais importante em pacientes com aneu- risma da fossa oval. Há controvérsias na literatura com relação ao tratamento clínico com agentes antiplaquetários associados ou não a varfarina e o fechamento com prótese. Porém, há evidências de que alguns grupos de pacientes com determinadas condições possam se beneficiar do fechamento percutâneo do defeito (prótese) – AVC criptogênico prévio, enxaqueca com aura, síndrome platpneia-ortopneia, FOP gran- de, aneurisma do septo atrial. TETRALOGIA DE FALLOT A tetralogia de Falloté o conjunto de alterações resultante do desvio anterior do septo infundibular em relação ao septo interventricular na embriogê- nese do coração. Classicamente há coexistência de quatro defeitos: estreitamento da via de saída do ventrículo direito (estenose infundibular pulmonar) que leva à comunicação interventricular (CIV) e a Z FIGURA 2 Radiografia de tórax mostrando aumen- to das câmaras direitas e do arco médio (tronco da artéria pulmonar – TP). Trama vascular pulmonar dis- cretamente aumentada. 4 MEDICINA DE EMERGÊNCIA: ABORDAGEM PRÁTICA dextroposição da aorta que cavalga o septo inter- ventricular, tendo como consequência final a hiper- trofia do ventrículo direito (VD) (Figura 4). Trata- se de uma cardiopatia cianogênica com grande variedade de apresentações, de tal forma que há casos em que os pacientes chegam à idade adulta sem jamais terem sido abordados cirurgicamente, não sendo incomuns. Dentre os adultos operados com cardiopata congênita cianogênica, a tetralogia de Fallot é a mais frequente. Após a correção cirúrgica, a so- brevida estimada ultrapassa os 90% em 30 anos. O prognóstico relaciona-se à anatomia inicial do defeito. Para sabermos quais são as possíveis compli- cações desses pacientes na idade adulta, é necessá- rio compreender a abordagem do procedimento na infância. Na correção cirúrgica, os objetivos são o fechamento da CIV e alívio da obstrução da via de saída do VD: resseção do infundíbulo e em alguns casos há necessidade de plastia da valva pulmonar ou ampliação do anel desta por uma monocúspide. Esta não impede o retorno sanguíneo anterógrado. Se, por um lado, a monocúspide pode postergar a colocação de prótese valvar até a idade adulta e reduzir o número de cirurgias cardíacas que o pa- ciente irá precisar ao longo da vida, por outro, ela quase que, inevitavelmente, fará com que o pacien- te desenvolva sobrecarga de volume (insuficiência pulmonar) e consequente disfunção de VD a longo prazo. Algumas vezes, em pacientes com anatomia não favorável e muito sintomáticos (crise de hipo- xemia), a correção total dos defeitos é precedida de uma cirurgia paliativa chamada de Blalock-Taussig (BT). Esse procedimento visa aumentar o fluxo pulmonar por meio da criação de uma derivação entre o sistema arterial e o venoso. Há várias téc- nicas para confecção do BT, desde a clássica (anas- tomose entre as artérias subclávia e pulmonar di- reitas) até as modificadas, utilizando material sintético para realização da anastomose (tubo de PTFE ou Goretex). Complicações: � Hiperviscosidade sanguínea. � Arritmias. � Disfunção de VD. � Endocardite infecciosa. � Dor torácica. � Insuficiência aórtica. � Abscesso cerebral. � Hemoptise. Exame físico O sopro característico da patologia é compatível com a obstrução da via de saída do VD – o sopro é sistólico, de ejeção, mais audível na borda esternal esquerda médio-alta, segunda bulha diminuída e acentua-se com manobras que aumentam o retor- no venoso como a inspiração profunda (Rivero- Carvallo). Pacientes que não foram tratados cirur- gicamente clinicamente se apresentam com hipóxia e podem apresentar sinais clínicos de insuficiência cardíaca direita, como hepatomegalia, turgência jugular e refluxo hepatojulgular. Exames complementares � Radiografia de tórax: mostra aumento da área cardíaca às custas de câmaras direitas. O au- mento do VD é mais bem visto no perfil (Figu- ra 5). � ECG: quase todos os pacientes apresentam BRD, e duração do QRS maior do que 180 ms está associada a pior prognóstico. Vale tam- bém ressaltar que no ECG de repouso QTc de até 500 ms é considerado normal (Figura 6). 4 2a 2 3 1 Z FIGURA 4 Tetralogia de Fallot – defeitos anatômi- cos e associados à patologia cardíaca. (1) Comunica- ção interventricular (CIV); (2) estenose valvar pulmonar; (2a) estenose infundibular pulmonar; (3) aorta aumen- tada em dextroposição e cavalgamento no septo in- terventricular; (4) hipertrofia do ventrículo direito. EMERGÊNCIAS EM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS NO ADULTO 5 I aVR V1 V4 II V5V2aVL III aVF V3 V6 II Z FIGURA 6 Eletrocardiograma de pós-operatório mostrando o bloqueio do ramo direito (BRD). � Ecocardiograma: traz informações importan- tes quanto à quantificação de possíveis defeitos residuais, função do VD e presença de eventual insuficiência aórtica (IAo) associada, porém é muito operador-dependente e poucos ecocar- diografistas têm a experiência necessária para uma avaliação fidedigna de câmaras direitas. � Ressonância magnética cardíaca: considerada padrão-ouro na avaliação do VD, tanto na quan- tificação do tamanho quanto na função desse ventrículo. Também permite quantificar a re- gurgitação valvar, além da detecção de tecido cicatricial no miocárdio ventricular. A substi- tuição da valva pulmonar normalmente é indi- cada quando o volume diastólico final do VD indexado for igual ou maior do que 160 mL/m2 ou volume sistólico final indexado de 80 mL/ m2 ou volume diastólico final do VD 2 vezes o volume diastólico final do VE. TRANSPOSIÇÃO CORRIGIDA DAS GRANDES ARTÉRIAS Na transposição corrigida das grandes artérias (TCGA) há uma discordância entre os átrios e os ventrículos e destes com as artérias, ou seja, o átrio direito está conectado ao ventrículo morfologica- mente esquerdo e dá origem à artéria pulmonar; o átrio esquerdo está conectado ao ventrículo morfo- logicamente direito e dá origem à aorta, que quase sempre será anteriorizada (Figura 7). Assim, o re- torno sanguíneo sistêmico é direcionado ao coração através das veias cavas superior e inferior, atinge o átrio direito, segue para o ventrículo morfologica- mente esquerdo e é direcionado aos pulmões através Z FIGURA 5 Radiografia de tórax de pós-operatório de correção de tetralogia de Fallot, mostrando au- mento de câmaras direitas com aumento de arco médio. Nesse caso, o arco aórtico está voltado para a esquerda. 6 MEDICINA DE EMERGÊNCIA: ABORDAGEM PRÁTICA I aVR V1 V4 II V5V2aVL III aVF V3 V6 II Valva aórtica Valva pulmonar Valva mitralValva tricúspide Z FIGURA 7 Transposição corrigida das grandes artérias – A e B mostram a posição dos ventrículos e vasos da base (aorta e artéria pulmonar). (A) Nota-se a valva mitral à direita e a valva tricúspide à esquerda. (B) A aorta fica anterior e à esquerda da artéria pulmonar. (C) Radiografia de tórax mostrando ausência de botão aórtico e aumento da área cardíaca às custas de câmaras localizadas à esquerda. (D) Eletrocardiograma típi- co onde se observa: ritmo sinusal, com sobrecarga de câmaras direitas. Ativação septal da direita para a es- querda, pode ser erroneamente interpretada como infarto agudo do miocárdio. Devido à posição anômala do sistema de condução, há maior tendência para a ocorrência de bloqueios. A B C D EMERGÊNCIAS EM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS NO ADULTO 7 da artéria pulmonar. Então o sangue oxigenado atinge o átrio esquerdo, passa pelo ventrículo mor- fologicamente direito e em seguida pela aorta. Nes- sa situação o fluxo sanguíneo é normal, porém as complicações advêm em grande parte do fato de que é o ventrículo morfologicamente direito quem su- porta a circulação sistêmica. Anatomicamente o VD não tem estrutura para as altas pressões da circula- ção sistêmica, fato este que fatalmente culminará com sua dilatação e disfunção ao longo do tempo. Há posição anômala do sistema de condução. Comumente apresenta outros defeitos cardíacos associados, principalmente comunicação interven- tricular, obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo e anomalias da valva tricúspide, os quais determinam a ausculta cardíaca. É a presença dos defeitos associados que determinará a evolução dessa cardiopatia. Nos casos de TCGA isolada, pra- ticamente não há sintomas até o início da idade adulta e a ausculta cardíaca será normal. Nesses casos, o diagnóstico muitas vezes é acidentalmente feito por meio de radiografia de tórax e/ou ECG de rotina e/ou até mesmo em achadosde autópsias. Complicações: � Arritmias. � Disfunção de VD. � Dor torácica. Exame físico O paciente adulto jovem com TCGA isolada apre- senta ausculta cardíaca normal. Serão encontradas alterações na ausculta cardíaca apenas se houver a presença de defeitos associados. Exames complementares � Radiografia de tórax: mostra aumento da área car- díaca às custas de câmaras localizadas à esquerda. Nota-se também aumento do diâmetro antero- posterior do coração, pois a câmara que sofre maior dilatação (VD) é anteriorizada (Figura 7C). � ECG: predomínio de ondas Q em precordiais direitas e ausentes nas precordiais esquerdas. Ati- vação septal da direita para a esquerda, pode ser erroneamente interpretada como infarto agudo do miocárdio. Devido à posição anômala do sis- tema de condução, há maior tendência para a ocorrência de bloqueios (Figura 7D). � Ecocardiograma: é o exame de eleição para a confirmação diagnóstica, mostrando a discor- dância entre átrios e ventrículos e entre ventrí- culos e artérias, além de ser fundamental para diagnóstico de defeitos associados. � Ressonância magnética cardíaca: confirma a anatomia e fornece dados precisos de volume e função dos ventrículos. COARCTAÇÃO DE AORTA A coarctação de aorta corresponde a um estreita- mento normalmente localizado na aorta torácica próximo ao ligamento arterioso (ou canal arterial, caso esse tenha persistido) (Figura 8). Defeitos car- díacos associados como CIV e persistência do canal arterial podem ocorrer, mas o mais prevalente de todos é a valva aórtica bicúspide, presente em até 80% dos casos. A valva aórtica bicúspide torna esses pacientes particularmente predispostos à endocar- dite infecciosa e à dissecção de aorta. O diagnóstico deve ser suspeitado em jovens com hipertensão arterial e assimetria de pulsos entre membros superiores e inferiores. A vigilância deve estar presente principalmente em pacientes já submetidos a algum tipo de intervenção, pois há o risco de recoarctação ao longo da vida. AV CoAo Z FIGURA 8 Coarctação de aorta (CoAo) do tipo justa ductal. AV: valva aórtica. 8 MEDICINA DE EMERGÊNCIA: ABORDAGEM PRÁTICA Complicações: � Hipertensão arterial. � Recoarctação após abordagem prévia (seja per- cutânea ou cirúrgica). � Formação de aneurismas. � Estenose ou insuficiência aórtica. � Endocardite infecciosa. Exame físico O sopro é de ejeção e está localizado no dorso, en- tre as escápulas. Pode apresentar sopro em focos aórtico ou aórtico acessório, o qual pode ser sistó- lico ejetivo do tipo crescente-decrescente quando há estenose aórtica ou diastólico aspirativo no caso de insuficiência aórtica. Há assimetria na palpação dos pulsos de membros inferiores e inferiores, bem como a pressão arterial, que deve ser aferida nos quatro membros. Exames complementares � Radiografia de tórax: mostra área cardíaca nor- mal, arco médio abaulado e o “sinal do três” nos casos de coarctação de aorta ístmica. Em adultos, podemos evidenciar erosões nas cos- telas naqueles pacientes com a presença de am- pla circulação colateral com corrosão das mar- gens inferiores das costelas (sinal de Hoësler) (Figura 9). � ECG: pode apresentar sobrecarga de ventrícu- lo esquerdo (Figura 10). � Ecocardiograma: pode ajudar no diagnóstico e é muito útil na definição de lesões associadas. Diferentemente das crianças, não é o exame de eleição devido à janela muitas vezes limitada dos adultos. � Angiotomografia de aorta: é o exame de esco- lha, pois além de confirmar o diagnóstico, for- nece medidas acuradas do vaso e é essencial no seguimento e/ou planejamento de abordagem cirúrgica. SÍNDROME DE EISENMENGER Os pacientes com cardiopatia congênita de shunt intracardíaco ou entre as artérias não tratados evo- luem, após alguns anos, com aumento irreversível da pressão pulmonar. Esse quadro faz com que o shunt entre a circulação sistêmica e a pulmonar, o qual tradicionalmente é definido como esquerdo- -direito, passe a ser bidirecional ou até a sua inversão direito-esquerdo, causando mistura entre sangue arterial e venoso. Dessa forma, passa a apresentar cianose progressiva (mesmo que inicialmente não tivesse). Denominamos essa situação como síndro- me de Eisenmenger, forma mais avançada da hiper- tensão arterial pulmonar (HAP), e seu desenvolvi- mento não tem associação com a complexidade da cardiopatia, mas sim com o não tratamento ade- quado da mesma. A resposta fisiológica do organismo à hipoxemia crônica é o estímulo à eritrocitose. O aumento da produção de células vermelhas causa aumento da viscosidade sanguínea. Há também ocorrência de Sinal do três Sinal de Hoësler A B Z FIGURA 9 Radiografia de tórax mostrando área cardíaca normal. (A) Destaque para o sinal do três. (B) Destaque para o sinal de Hoësler. EMERGÊNCIAS EM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS NO ADULTO 9 Síndrome de Eisenmenger Insu�ciência renal Arritmias AVC Abscesso cerebral Endocardite infecciosa Artrite gotosa Trombose/ hemorragia Z FIGURA 11 Síndrome de Eisenmenger e as complicações implicadas. AVC: acidente vascular cerebral. trombocitopenias e distúrbios na cascata de coa- gulação, além de acentuada disfunção endotelial. Complicações � Sintomas decorrentes de hiperviscosidade: ce- faleia, síncope, tontura, status mental alterado, embaçamento visual, fadiga, mialgia, fraqueza muscular. � Sangramentos: hemorragias em variados graus, hemoptise, sangramento gastrintestinal, epis- taxe, hemorragia cerebral. � Complicações isquêmicas: tromboembolismo pulmonar, AVC, ataque isquêmico transitório (AIT) e embolia paradoxal. � Deficiência de ferro: eritrocitose secundária à hipoxemia crônica, flebotomias inadequadas, anemia microcítica. I aVR V1 V4 II V5V2aVL III aVF V3 V6 II Z FIGURA 10 Eletrocardiograma de paciente com coarctação de aorta mostrando sobrecarga ventricular esquerda com alteração de repolarização deste ventrículo. 10 MEDICINA DE EMERGÊNCIA: ABORDAGEM PRÁTICA � Arritmias: taquicardias supraventriculares e ta- quicardias ventriculares. � Doenças bacterianas: endocardite infeciosa, abscesso cerebral, pneumonia. � Infecções virais. � Complicações musculoesqueléticas: hiperuri- cemia, artrite gotosa, osteoartropatia hipertró- fica. � Colecistopatia. � Insuficiência renal. � Insuficiência cardíaca. � Morte súbita. Exame físico Normalmente são pacientes hipoxêmicos crônicos, o que por sua vez resulta em constante estímulo medular para a produção de glóbulos vermelhos e a consequente poliglobulia. Cianose de mucosas e extremidades, além de baqueteamento digital, são comuns. Podem apresentar sinais de insuficiência cardíaca direita. À ausculta cardíaca pode-se por vezes ouvir estalido de abertura da pulmonar e/ou sopro sistó- lico ejetivo em borda esternal esquerda média, decorrente de turbilhonamento sanguíneo. A B2 é aumentada. Exames complementares � Radiografia de tórax: aumento da área cardía- ca, evidente dilatação do tronco da artéria pul- monar e diminuição da vasculatura pulmonar periférica. � ECG: permite identificar presença de arritmias que possam estar contribuindo para a deterio- ração do paciente. � Ecocardiograma: permite a análise qualitativa e quantitativa: caracterização dos defeitos car- díacos, estimativa das pressões pulmonares, avaliação e quantificação do shunt e detalha- mento das dimensões das câmaras cardíacas e da função ventricular. � Cateterismo: padrão-ouro para o diagnóstico de hipertensão pulmonar, permite também a pes- quisa da vasorreatividade, dado esse que será im- portante para posterior avaliação terapêutica. � Tomografia de artérias pulmonares: exame fun- damental quando se suspeita de trombos na circulação pulmonar ou hemorragia. � Tomografia de crânio: sempre deve ser solici- tada na presença de sintomas neurológicos, pois se tratam de pacientes com maior predisposi- ção a eventos cerebrovasculares e abscessos ce- rebrais. Complicações mais comunsnos pacientes com cardiopatia congênita Algumas das complicações são comuns às diversas cardiopatias congênitas. Abordaremos a seguir as mais prevalentes. Hiperviscosidade sanguínea Nesses pacientes normalmente há hiperviscosida- de sanguínea consequente ao estímulo constante para a produção de glóbulos vermelhos pela me- dula. O hematócrito costuma ser elevado e pode haver redução da produção de outras séries. Por esse motivo, pode haver trombocitopenia associa- da. É importante ressaltar que a hiperviscosidade é consequência da hipoxemia crônica e que esse grupo de pacientes apresenta maiores riscos de complicações neurológicas. Assim, sintomas neu- rológicos nunca devem ser menosprezados e in- vestigação complementar com exame de imagem deve ser considerada. Flebotomia de rotina visando ao hematócrito menor do que 65% para prevenção de eventos ce- rebrovasculares nunca está indicada, mas costuma ser um erro comum entre os médicos. Hematócri- to elevado isoladamente nunca é indicação de fle- botomia. Há apenas duas indicações para flebotomia: sintomas moderados a graves relacionados à hiper- viscosidade sanguínea (normalmente sintomas neurológicos como AVC, AIT, cefaleia, turvação visual ou intensas parestesias) ou de forma eletiva no pré-operatório a fim de melhorar a hemostasia do paciente. Quando indicada, a flebotomia deve visar a retirada de 10% da volemia estimada do paciente (máximo de 400 a 500 mL) e reposição concomitante de volume equivalente com solução cristaloide. Após o término, adiciona-se solução meio a meio de cristaloide e albumina. Medidas profiláticas para se evitar os sintomas decorrentes da hiperviscosidade sanguínea consis- tem em hidratação adequada e reposição de ferro exógeno. As diretrizes não recomendam anticoagu- lação profilática nem o uso de oxigênio suplemen- EMERGÊNCIAS EM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS NO ADULTO 11 tar em pacientes hipoxêmicos crônicos, mas há trabalhos mostrando o benefício de tais terapêuticas. Hipertensão pulmonar A hipertensão pulmonar consiste na elevação da pressão arterial nas artérias pulmonares, o que oca- siona uma série de alterações estruturais na vascu- latura pulmonar e consequentemente a arteriopatia dessa vasculatura, além de sobrecarga e disfunção ventricular direita. É definida como pressão média de tronco da pulmonar ≥ 25 mmHg no repouso na presença de pressão de capilar normal (< 15 mmHg). Esse grupo de pacientes apresenta importante disfunção endotelial, que por sua vez leva a anor- malidades da cascata de coagulação, disfunção pla- quetária, fenômenos trombóticos e muitas vezes um estado de coagulação intravascular dissemina- da crônica. Clinicamente o paciente apresenta-se com sintomas inespecíficos e principalmente conse- quentes da falência progressiva de VD, como disp- neia, fadiga, fraqueza, angina e síncope. Angina pode ser consequência da disfunção de VD ou de compressão extrínseca da coronária pelo tronco da pulmonar. Pode cursar com episódios de he- moptise pela rotura de artérias brônquicas hiper- trofiadas, rouquidão pela compressão do nervo laríngeo recorrente pela artéria pulmonar. A dila- tação significativa da artéria pulmonar pode tam- bém evoluir com rotura ou dissecção, levando a um tamponamento cardíaco. Disfunção de ventrículo direito Sobrecarga persistente de volume faz com que o VD evolua com dilatação, que por sua vez resulta em regurgitação tricuspídea, retificação do septo interventricular e redução da fração de ejeção do VE devido à interdependência deste com o VD. Ao exame clínico o paciente apresentará sinais de con- gestão venosa com consequente impacto na função hepática (síndrome cárdio-hepática) e renal (sín- drome cardiorrenal). Também pode ocorrer edema de alças intestinais, que diminui a absorção de nu- trientes e pode resultar em desnutrição e sensação constante de empachamento. Dor torácica pode ocorrer em consequência da dilatação acentuada do VD (ver a seguir). Na descompensação aguda da disfunção de VD, o tratamento deve almejar o balanço hídrico negativo com auxílio de diuréticos de alça intrave- nosos, cuja dose deve ser titulada de acordo com a resposta individual de cada paciente. Hemodiá- lise ou ultrafiltração podem ser necessárias. Vaso- dilatadores intravenosos (nitroglicerina ou nitro- prussiato de sódio) ajudam a reduzir a pós-carga e drogas inotrópicas ajudam a melhorar a contra- tilidade. Drogas inotrópicas não devem ser inicia- das rotineiramente, apenas em caso de refratarie- dade dos sintomas, pois há melhora no curto prazo, porém tendência a aumento da mortalidade no longo prazo. As drogas de escolha são dobuta- mina ou milrinone. Apesar de ambos os inotrópi- cos apresentarem desfechos clínicos semelhantes, quando não há disfunção renal nem hipotensão, há tendência para a escolha do milrinone, pois proporciona maiores reduções na pressão diastó- lica final do VD e do VE. Exames complementares � ECG: pode demonstrar sinais de sobrecarga de VD, BRD e QTc prolongado. � Radiografia de tórax: mostra a dilatação acen- tuada da artéria pulmonar, além do aumento de câmaras direitas e congestão pulmonar. � Ecocardiograma: fornece informações quanto à função de VD e estima a pressão da artéria pulmonar. � Ressonância cardíaca: é o padrão-ouro para análise da função e dimensões do VD. � Angiotomografia de artérias pulmonares: mos- tra redução da vascularização periférica dos pulmões e também é o exame de escolha quan- do há suspeita de tromboembolismo pulmo- nar (complicação comum a esse grupo de pa- cientes). � Cateterismo cardíaco direito: é o exame com maior acurácia para a confirmação do diagnós- tico de hipertensão arterial pulmonar. Forne- ce medidas acuradas da pressão sistólica e mé- dia da artéria pulmonar, da pressão capilar e das resistências pulmonares. Permite também a análise da vasorreatividade pulmonar com o uso de vasodilatadores (NO ou nitroprussiato), dados esses que serão úteis ao se planejar even- tual terapêutica medicamentosa com substân- cias especificas. 12 MEDICINA DE EMERGÊNCIA: ABORDAGEM PRÁTICA IC d ire ta a gu da P ós -c ar ga Ve nt ila çã o m ec ân ic a pr ot et or a; m in im iz ar P E E P Vo lu m e co rr en te : 4- 6 m L/ kg P B W E vi ta r hi pó xi a, hi pe rc ap ni a, ac id os e, a ut o- P E E P Va so di la ta do r pu lm on ar : ó xi do ní tr ic o ou pr os ta ci cl in a in al ad a S up or te m ec ân ic o ci rc ul at ór io : R VA D , E C M O Tr an sp la nt e C on tr at ilid ad e In ot ró pi co (m ilr in on a, ad re na lin a, n or ad re na lin a, do bu ta m in a, d op am in a) Va so pr es so r: v as op re ss in a (e vi ta r fe ni le fri na ) N ão re sp on si vo A lv o P C V 8 -1 2 m m H g C on tr ol e de r itm o e si nc ro ni a AV P ré -c ar ga H ip er vo le m ia D iu ré tic o B H n eg at iv o 0, 5- 1 L/ d C on si de ra r ul tr afi ltr aç ão s e nã o ho uv er re sp os ta H ip ov ol em ia /in fa rt o V D / TE P a gu do ? C on si de ra r vo lu m e 30 0- 60 0 m L E vi ta r re pe tir em pi ric am en te s e nã o ho uv er e fe ito Z FI G U R A 1 2 In su fic iê nc ia c ar dí ac a di re ita a gu da . AV : a tr io ve nt ric ul ar ; E C M O : o xi ge na çã o po r m em br an a ex tr ac or pó re a; IC : i ns ufi ci ên ci a ca rd ía ca ; P B W : p es o co rp or al p re di to ; P C V: p re ss ão c en tr al v en os a; P E E P : p re ss ão p os iti va e xp ira tó ria fin al ; R VA D : d is po si tiv o de a ss is tê nc ia a o ve nt ríc ul o di re ito ; T E P : t ro m bo em bo lis m o pu lm on ar ; V D : v en tr íc ul o di re ito . A da pt ad a de M eh m oo d, 2 01 6. EMERGÊNCIAS EM CARDIOPATIASCONGÊNITAS NO ADULTO 13 Tratamento � Anticoagulação oral: esse grupo tem alta pre- valência de fenômenos trombóticos e há evi- dências de que tal terapêutica possa ser bené- fica. � Diuréticos: deve-se ter atenção máxima com a volemia desses pacientes e diuréticos devem ser usados com cuidado, apenas quando há sinais de congestão direita. � Oxigênio: benéfico quando há evidências de hi- poxemia acentuada. � Digoxina: pode ser usado quando há disfunção de VD. � Drogas específicas: atualmente dispomos das seguintes classes de medicamentos: – Bloqueadores de canais de cálcio. – Antagonistas do receptor de edotelina. – Inibidores da fosfodiesterase 5. – Análogos de prostaciclina e agonistas dos receptores de prostaciclina. Arritmias As mais comuns são as arritmias atriais: fibrilação atrial, flutter e taquicardias atriais. Estas são conse- quência de atriotomia prévia ou dilatação dos átrios com o passar dos anos. Muitos dos pacientes com cardiopatias con- gênitas foram submetidos a cirurgias com atrio- tomia na infância, principalmente aqueles cujas abordagens cirúrgicas foram anteriores aos anos 2000. As regiões abordadas no átrio podem evoluir com áreas de fibrose e consequentes substratos anatômicos para arritmias. Já os pacientes com insuficiência de VD ou obstrução da via de saída do VD têm a tendência a evoluírem com dilatação volumétrica do átrio di- reito e com isso ficam mais suscetíveis ao apareci- mento de arritmias atriais. A sístole atrial pode representar até 20% do volume diastólico final do ventrículo esquerdo. Assim, sempre que possível a manutenção do ritmo sinusal deve ser almejada. Quando não houver dú- vidas de que o início da arritmia se deu há menos de 48 h, pode-se proceder imediatamente à cardio- versão elétrica (CVE), seguida de impregnação e manutenção com amiodarona. Caso a arritmia esteja instalada há mais de 48 h ou haja dúvidas quanto ao início dela, deve-se planejar a realização do ecocardiograma transesofágico e então proceder à CVE e impregnação com amiodarona apenas se o exame excluir a presença de trombos. Caso o paciente não seja anticoagulado, é re- comendável o início dessa terapêutica, além de avaliação do especialista quanto à possibilidade de estudo eletrofisiológico e/ou ablação e avaliação quanto à melhor terapêutica ambulatorial para con- troles de ritmo. A ocorrência de taquicardias ventriculares (TV) é mais rara e acomete pincipalmente portadores de tetralogia de Fallot e pacientes submetidos à ven- triculotomia e/ou nos quais foi necessária utilização de patch para fechamento de CIV. Uma vez feito o registro de TV nesses pacientes, mesmo que bem tolerada, eles também devem passar por avaliação do especialista, que irá definir o melhor tratamen- to e avaliar a possibilidade de ablação e/ou implan- te de cardiodesfibrilador implantável. Endocardite infecciosa O risco de endocardite infeciosa (EI) nessa popula- ção é consideravelmente maior e devem sempre ser orientados com relação a uma higiene bucal rigoro- sa e desencorajados de fazerem piercings e tatuagens. A profilaxia de EI é rotineiramente indicada para procedimentos dentários com manipulação gengival ou em região periapical dos dentes ou perfuração da mucosa oral, antes de implante de marca-passos cardíacos ou cardiodesfibriladores implantáveis e a pacientes submetidos à biópsia ou incisão do trato respiratório; não é mandatória, mas pode ser consi- derada em procedimentos geniturinários ou gas- trointestinais associados a lesão de mucosa. A profilaxia está indicada para todo paciente que tenha válvula cardíaca protética (ou que tenha sido submetido a procedimento com implante de material protético há menos de 6 meses), pacientes com EI prévia, pacientes cianóticos sem correção ou com defeito residual após procedimento. EI é uma hipótese diagnóstica a ser considera- da sempre que esses pacientes buscarem serviço médico com febre de origem indeterminada, cala- frios ou perda de peso insidiosa. Nesse caso estão indicados ecocardiograma transesofágico, coleta de hemoculturas e realização de ECG. O diagnóstico de EI nesses pacientes também é confirmado por meio dos critérios de Duke. 14 MEDICINA DE EMERGÊNCIA: ABORDAGEM PRÁTICA Dor torácica Quando o paciente apresentar-se com essa queixa, a abordagem inicial deve ser como a de qualquer outro paciente com dor torácica, sendo mandatória a solicitação de ECG. Além disso, uma vez conhe- cido ou suspeitado o antecedente de cardiopatia congênita, deve-se pensar também em outras etio- logias para a dor torácica e a partir de então iniciar investigação guiada para determinadas suspeitas. Anormalidades de coronárias, seja na origem ou no trajeto delas, podem ocorrer, mas são raras. Outra possibilidade é a compressão extrínseca de coronárias pelo tronco da pulmonar dilatado, si- tuação essa mais comum em pacientes com hiper- tensão pulmonar associada. Nessas situações, conhecer a anatomia coronariana do paciente é essencial para o tratamento; e a angiotomografia de coronárias é o exame de escolha. Quando o paciente apresentar antecedente co- nhecido de hipertensão em idade jovem ou coarc- tação de aorta, a investigação da dor torácica deve excluir a possibilidade de dissecção de aorta. A angiotomografia de aorta e ramos é um exame com alta sensibilidade e especificidade nessas situações. Nos casos em que há disfunção de VD, é im- portante lembrar que a etiologia isquêmica pode estar presente mesmo na ausência de fatores de risco típico para doença arterial coronariana. Dife- rentemente do VE, no VD a irrigação coronariana ocorre tanto na diástole quanto na sístole. Assim, a sobrecarga do VD cursa com aumento da pressão intramural do VD e consequente queda da pressão de perfusão coronariana, podendo gerar isquemia subendocárdica. Nesse caso, a suspeita dessa etio- logia advém após avaliação ecocardiográfica inicial. Hemoptise Pode ocorrer devido à rotura de vasos colaterais sistêmico-pulmonares. Nesse caso é importante corrigir eventuais distúrbios de coagulação. O diag- nóstico é feito por broncoscopia e angiotomografia da artéria pulmonar, sendo o cateterismo cardíaco e a radiologia intervencionista considerados para diagnóstico, mas também como tratamento. LITERATURA RECOMENDADA 1. A Scientific Statement From the American Heart Asso- cition Endorsed by the Heart Failure Society of America and International Society for Heart and Lung trabnsplan- tation. Evaluation and management of right-sided heart faillure. Circulation. 2018;137:00-00. 2. Ammash NM, Connolly HM. Ventricular septal defect in adults. Literature review current through. UpToDate; 2022. Disponível em: https://www.uptodate.com/con- tents/ventricular-septal-defect-in-adults. 3. Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, Libby P. Braunwald’s heart disease. A textbook of cardiovascular medicine, 10. ed. Elsevier; 2015. 4. Croti UA, Mattos SS, Pinto Jr. VC, Aiello VD, Moreira VM. Cardiologia e cirurgia cardiovascular petiátrica. 2. ed. Roca; 2013. 5. Everett AD, Lim DS. Illustrated field guide to congenital heart disease and repair. 3. ed. Scientific Software So- lutions; 2010. 6. Filho RK, Fuster V, Albuquerque CP. Medicina cardio- vascular: reduzindo o impacto das doenças. 1ª ed. Atheneu; 2016. 7. Gatzoulis MA, Webb GD, Daubeney PEF. Diagnosis and management of adult congenital heart disease. 3..ed. Elsevier; 2018. 8. Geva T, Martins JD, Wald RM. Atrial septal defects [re- view]. Lancet. 2014;383(9932):1921-32. 9. Lim DS, Battle RW, Everett AD. Illustrated field guide to adult congenital heart disease. 1. ed. Scientific Softwa- re Solutions; 2009. 10. Lopes AA, Mesquita SMF. Editorial. Comunicação inte- ratrial: a correção sempre cura? Arq Bras Cardiol. 2014;6:446-8. 11. Mehmood M, Frank TA. Treatment of right heart failure: is there a solution to the problem? E-Journal of Cardio- logy Practice. 2016;14(33). 12. Sutton MGJ. Identification and assessment of atrialsep- tal defects in adults. Literature review current through. UpToDate; 2022. Disponível em: http://www.uptodate. com/contents/identification-and-assessment-of-atrial- -septal-defects-in-adults. 13. The Joint Task Force for the Diagnosis and treatment of pulmonary hypertension of the European Society of Car- diology (ESC) and the European Respiratory Society (ERS). 2015. ESC/ERS Guidelines for the diagnosis and treatment of pulmonary hipertension. European Heart Journal. 2015;37;67-119. 14. The Task Force on the Management of Grown-up Con- genital Heart Disease of the European Society of Car- diology (ESC). 2010. ESC Guidelines for the management of grown-up congenital heart disese.
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