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Anestésicos Locais Histórico: - Em 1884 foi o primeiro uso da cocaína como um anestésico local, com uma anestesia tópica para o olho. Mas, descobriram que a cocaína tinha muitos efeitos adversos. - Assim, descobriu-se a benzocaína (pois descobriu-se que a cocaína é um derivado do ácido benzoico) e depois a procaína. - Os primeiros anestésicos locais eram mais tóxicos e traziam mais efeitos adversos. Com a evolução para a lidocaína, mepi, bupi, etc., foram trazendo menos efeitos adversos para o paciente. O que é um anestésico local?: - Os anestésicos locais são substâncias que bloqueiam a condução nervosa de forma reversível, sendo seu uso seguido de recuperação completa da função do nervo periférico. Depois que passa o efeito do anestésico, a condução nervosa volta a ser exatamente como antes. - A reversibilidade é uma das características mais importantes dos anestésicos locais. Estrutura química dos anestésicos locais: - Ditam algumas das características e propriedades dos anestésicos locais. Giovanna Lopes - O anestésico local possui um anel aromático, uma cadeia intermediária (pode ser um grupo éster ou um grupo amida) e um grupamento amina. - A forma como essa cadeia intermediária se liga ao grupamento amina determina 2 tipos de anestésicos locais: os aminoésteres (grupo éster se ligando ao grupo amina) e os aminoamidas (grupo amida se liga ao grupo amina). - Aminoésteres: São os anestésicos mais antigos. - Aminoamidas: São os anestésicos mais novos. Classes dos anestésicos locais: - A degradação dos aminoésteres é feita a partir da colinesterase plasmática, tendo como resultado o ácido paraminobenzóico (PABA), um metabólito ativo. Esse PABA era o responsável pela grande maioria das reações alérgicas dos anestésicos locais de antigamente. Por isso, os aminoésteres foram abandonados da prática clínica, pois como eles possuem o PABA com um grande potencial alergênico, caiu em desuso. - A metabolização dos aminoamidas é feita a partir do citocromo P450. Com isso, não tem a formação do PABA e a meia vida se torna mais longa, se tornando os anestésicos mais utilizados na prática clínica (pois não possuem esse potencial alergênico dos aminoésteres). Como acontece a ação anestésicos locais?: - Eletrofisiologia da condução neural. - Lembrar da bomba de sódio e potássio e da geração do potencial de ação. As nossas células trabalham numa negatividade (-70, -80...), depende de cada tipo de célula. Para que haja a condução nervosa, é necessário que essa célula se despolarize, seja gerado um potencial de ação e, com isso, o estímulo nervoso consegue passar. Existe um canal de sódio que, quando chega um estímulo elétrico, há uma despolarização celular, o sódio entra e o potássio sai da célula, tornando o interior da célula positivo, gerando o potencial de ação, ocorrendo a transmissão nervosa. - O anestésico local age bloqueando o canal de sódio e, com isso, não ocorre a entrada do sódio na célula e a saída do potássio, não ocorrendo a despolarização celular e não ocorrendo a transmissão nervosa. Em repouso, o canal de sódio está fechado, o sódio está no extracelular e o potássio está no intracelular. Com a chegada de um estímulo elétrico, ocorre a abertura do canal de sódio, o sódio entra e o potássio sai, ocorre a despolarização celular e a condução elétrica. Passado o efeito do estímulo, a bomba se fecha. - Assim, o alvo chave da atividade do anestésico local é o canal de sódio (Na+). Propriedades Químicas: 1) Potência (número de carbonos da cadeia intermediária e lipossolubilidade). - Quanto maior o número de carbonos na cadeia intermediária, mais potente esse anestésico será. - Quanto mais lipossolúvel o anestésico for, mais potência ele terá. 2) Duração de ação (depende da ligação proteica). - Quanto maior for a ligação proteica, maior será a duração de ação. 3) Velocidade de ação (depende do pKa da droga e do pH fisiológico). - É o tempo necessário para o anestésico começar a agir após ter sido infiltrado. - pH fisiológico é de 7,35 a 7,45. - pKa da droga = num determinado pH a metade das moléculas do anestésico local se encontra na forma ionizada (é a forma que age) e metade na forma não ionizada (é a forma que entra na célula). - Quanto mais próximo o pKa da droga se aproxima do pH fisiológico, mais porção não ionizada estará presente e maior será a velocidade de ação do anestésico local. - Os anestésicos locais são drogas de caráter básico, pouco solúveis em água. - São representados na forma de sais de ácido forte. - No pH fisiológico: [forma ionizada] > [forma não ionizada] – mas nem sempre isso acontece, depende do pKa da droga. - Quanto mais próximo o pKa for do pH fisiológico > a forma não ionizada > a velocidade de ação. - Quanto mais distante for o pKa do pH fisiológico > a forma ionizada e < a velocidade de ação. + potente = ver pelo maior grau de lipossolubilidade = etidocaína > duração de ação = ver pela maior ligação proteica = bupivacaína > velocidade de ação = ver quem tem o pKa mais próximo do pH fisiológico = mepivacaína Aditivos para aumentar a atividade: - Por si só, os anestésicos locais possuem seu próprio tempo de duração de ação. Mas, pode-se aumentar esse tempo de duração de ação acrescentando um vasoconstritor, a epinefrina. Sempre lembrar que a ligação proteica do anestésico não é alterada, e sim a forma de absorção, metabolização e fluxo sanguíneo. Quando a epinefrina é administrada, os vasos sanguíneos ao redor do local de infiltração ficam mais constritos, fazendo com que a absorção do anestésico fique mais lenta, pois o fluxo sanguíneo passa a ser menor por conta da epinefrina. - Prolongamento do bloqueio anestésico local. - Intensidade aumentada do bloqueio. - Menor absorção sistêmica do anestésico. - Efetividade dependente: Quantidade de epinefrina, anestésico local utilizado e o tipo de bloqueio regional. - A menor dose deve ser usada (pois a epinefrina pode causar taquicardia e hipertensão). Anestésicos Locais e Fibras Nervosas: - Existem fibras que vão ser rapidamente bloqueadas pelos anestésicos locais e existem as fibras que vão demorar um pouco mais para serem bloqueadas. - Fibras C = Não possuem mielina e são de velocidade mais lenta = demoram mais para serem bloqueadas. - Fibras mielinizadas = São de velocidade mais rápida = bloqueiam mais rápido. Uso clínico: - Analgésicos: o Inibidores específicos das vias de dor. - Anestésicos locais: o Inibidores inespecíficos. o Vias sensoriais periféricas, motoras e autonômicas. o Inibição da condução de potenciais de ação (fibras aferentes e eferentes). - Anestesia Tópica: o Via aérea. o Olhos. o Pele. o Pequenos procedimentos (por exemplo: IOT). o Colocação de cateter intravenoso ou punção espinhal (peridural). - Infiltração local. - Anestesia venosa regional. - Bloqueios do neuroeixo: o Peridural e Subaracnoidea. - Bloqueios nervosos periféricos (bloqueio de plexo braquial, bloqueio de nervo peniano, bloqueio dos nervos do pé, etc.) - Anestesia combinada (raqui e peridural + anestesia geral). - A lidocaína é o único anestésico local que pode ser intravenoso. Lidocaína Intravenosa (1mg/kg): Efeitos antiarrítmicos; Diminuição da sensibilidade das vias aéreas na intubação (reflexo e fluxo de cálcio no músculo liso); Tratamento da dor pós-operatória e neuropática crônica. - Anestesia multimodal: Tenta-se bloquear diversos receptores, agindo de diversas maneiras. A grande representante é a lidocaína. Absorção Sistêmica (Regra da Absorção): - Depende da velocidade e da extensão da absorção desse anestésico: o Local de aplicação; o Dose do anestésico local; o Propriedades físico-químicas dos anestésicos locais; o Adição ou não da epinefrina. - Quanto menor a absorção sistêmica, maior seráa margem de segurança. - Áreas com maior vascularização tem captação mais rápida e completa. - Quanto maior a dose total e anestésico local injetada, maior a absorção sistêmica e a concentração sanguínea máxima. - Tudo o que foi infiltrado será absorvido na circulação sistêmica (tanto a dose usual quanto possíveis excesso de dose, tudo será absorvido e causará repercussão no organismo). - Taxa de Absorção (da maior para menor absorção): o Intravenoso > Traqueal > Intercostal > Caudal > Epidural > Plexo Braquial > Ciática/Femoral - Com isso, toda vez que formos infiltrar um anestésico local, sempre devemos ter cuidado e aspirar sempre antes de infiltrar para ter certeza que não está dentro da veia. Dependendo do anestésico utilizado (a bupivacaína, por exemplo, que é muito potente e age rápido), o paciente pode parar e não voltar mais, pois quando o anestésico cai na veia ele vai bloqueando tudo que é fibra e tudo que é canal de sódio, não só no local onde está sendo infiltrado. Dose máxima dos anestésicos locais: - Evitar a ocorrência de reações tóxicas sistêmicas; - Local de injeção; - Velocidade de injeção; - Adição ou não de epinefrina; - Dose individualizada; - Senso comum e conhecimento do anestesiologista. - Lidocaína sem vasoconstritor: 5 mg/kg – 400 mg (dose máxima) - Lidocaína com vasoconstritor: 7 mg/kg – 500mg (dose máxima) - Na anestesia intravenosa não se adiciona a epinefrina. - Quando se usa a epinefrina, pode-se usar quantidades maiores de anestésico, pois sua absorção será mais lenta. - Sempre lembrar que quanto maior a quantidade de anestésico cai na corrente sanguínea e é absorvido, maior é a concentração plasmática e maior será os efeitos adversos. - Tontura, zumbido no ouvido e entorpecimento da língua = já são os primeiros sinais de intoxicação por anestésico local = parar de infiltrar imediatamente - Quando percebemos que o paciente ficou intoxicado, começa-se as medidas de suporte = oxigênio, benzodiazepínicos em casos de convulsão, suporte de ACLS em casos de arritmias cardíacas, estar preparado para uma reanimação, intubação e sedação do paciente, controlar os demais efeitos, observar a evolução do paciente... Toxicidade para o SNC: - Convulsões, depressão do SNC. - Aumento da FC, do débito cardíaco e da PA. - Lesão do SNC (injetar o anestésico direto na medula durante uma raqui) e SNP (injetar o anestésico em um nervo periférico durante o bloqueio) por exposição direta. - Manifestações de toxicidade na medula espinal ou raízes nervosas: dor, déficit motor e sensitivo, disfunção intestinal e vesical (Síndrome da Cauda Equina). Toxicidade cardiovascular: - Doses crescentes de Lidocaína: o Hipotensão. o Bradicardia. o Hipóxia. - Doses crescentes de Bupivacaína (é muito lipossolúvel e tem uma forte ligação proteica): o Colapso cardiovascular súbito devido a arritmias ventriculares. Condutas em Toxicidade: - Profilático – é o melhor: o Técnica correta; o Dose e concentração máxima segura; o Potência do anestésico local; o Medicações em uso; o Uso de vasoconstritor e benzodiazepínico; o Monitorização durante a administração de anestésico local. - Corretivo: o Controle da convulsão; o Correção da depressão respiratória; o Suporte cardiovascular; o Reanimação cardiorrespiratória. - Intoxicação: Uso de uma solução hiperlipídica (é uma solução com uma concentração alta de lipídeo acima de 20%, o objetivo é fazer com que o anestésico não se ligue nos canais de sódio que ainda estão livres e ainda não foram bloqueados, fazendo com que essas moléculas se liguem nessa solução hiperlipídica, já que é bastante lipossolúvel). Conclusão: - Os anestésicos locais são drogas que bloqueiam de modo reversível o potencial de ação. - O alvo da atividade anestésica local é o canal de sódio, o qual é bloqueado. - Os anestésicos locais devem ser administrados observando-se atentamente a dose máxima uma vez que graves efeitos tóxicos sistêmicos podem ser desencadeados.
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