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DPOC É uma patologia respiratória prevenível, tratável, caracterizada pela presença de obstrução crônica do fluxo aéreo, parcialmente reversível (pode ter uma melhora, mas é uma obstrução fixa). É uma doença progressiva e lenta. Vem de uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases tóxicos. O agente causal mais comum é o tabagismo (mais de 70% dos casos). Enfisema e bronquite crônica são consideradas a mesma doença, tudo é DPOC. DPOC Giovanna Lopes Com o envelhecimento, as pessoas apresentam uma queda natural da capacidade respiratória. Tem uma prevalência na América Latina de 6 a 15%. É a 5ª causa de internação no SUS (morbidade). Está entre a 4 e a 7ª causa de óbitos no Brasil (mortalidade). A DPOC não é algo que acontece de imediato após a exposição. Geralmente, o diagnóstico é feito em pessoas que tem mais de 45 anos (é quando os sintomas iniciais da doença se manifestam) e começaram o hábito do tabaco com 16 ou 18 anos, por exemplo. O fato da pessoa ter parado de fumar não significa que o risco dela de desenvolver DPOC foi eliminado. Fatores de risco: - O principal é o tabagismo. - Exposições a fumaças no geral pode ser um gatilho. - Exposições ocupacionais (pessoas que trabalham em escavações, ruínas, mineradoras, agricultura, fábricas de juta). As pessoas acabam inalando essas partículas. - Infecções respiratórias graves do passado que deixou sequelas (tuberculose grave...). - Bebês que nascem muito prematuros e ficam muito tempo em ventilação mecânica. Não é todo mundo que vai fumar e vai ter DPOC. Pra doença surgir é uma combinação de fatores individuais que abrange a susceptibilidade genética e a exposição ambiental. É preciso ter um combinado dessas 2 coisas para que a patogênese da doença comece. Começando com esses fatores individuais que favorecem o desenvolvimento da doença e inicia-se um processo de inflamação. Gera ali um estresse oxidativo, desequilíbrio de proteinases e vários mecanismos de reparos vão sendo ativados. A própria tentativa do corpo de fazer os mecanismos de reparo na área inflamatória vai gerando um remodelamento da via aérea (processo inicial da doença). Lâmina do pulmão mostrando uma parede super fina dos alvéolos. Mostra acúmulo de células inflamatórias (mais escurinho). Há também a perda da elasticidade dos alvéolos, o leito vascular capilar vai sendo destruído, proliferando as células inflamatórias. Quando suspeitar de DPOC?: - Geralmente a doença se manifesta depois dos 45 anos. - O paciente se queixa de uma dispneia predominantemente aos esforços e progressiva (começa aos grandes esforços, depois passa ser aos médios...), tosse crônica e produção crônica de muco (bem maior do que o normal). - Também é sempre necessário suspeitar uma exposição ao fator de risco. Como investigar e diagnosticar?: - Se levanta a suspeita com sintomas e se avalia por meio da espirometria (é o método inicial e padrão ouro para avaliar se tem uma obstrução ao fluxo de ar). - Solicitar exames de imagem para fazer diagnóstico diferencial, já que tosse e dispneia pode ser sintomas de várias outras doenças. - Se ao exame físico o paciente tiver na oximetria inicial uma saturação inferior a 90% será necessário fazer uma gasometria arterial. - Junta-se a história clínica compatível + fator de risco identificado + obstrução ao fluxo de ar presente na espirometria = fecha o diagnóstico de DPOC. Classes terapêuticas usadas no tratamento: - Geralmente são drogas inalatórias e o grupo principal são os broncodilatadores. - B2 agonistas (broncodilatador) de curta e longa ação, anticolinérgicos (broncodilatador) de curta e longa ação e corticoides inalatórios (para casos selecionados). - Os de curta ação são usados para alívio e os de longa ação são usados para tratamento. Radiografia de tórax: - O exame não é obrigatório para fechar diagnóstico. Ele é solicitado para diagnóstico diferencial, para ver se possui alguma outra comorbidade associada. - Principais achados na radiografia: Refletem o que já é encontrado no exame físico: aumento do diâmetro antero-posterior do tórax, hiperinsuflação (ao invés de 9 espaços intercostais visualizados, se vê 10, 11, 12...), arcos costais retificados... Se o paciente for tabagista e parou de fumar há menos de 15 anos e tem mais de 55 anos, é feito a tomografia para triagem de neoplasia de pulmão (é uma chance de diagnosticar precocemente, já que essa neoplasia tem sintomatologia tardia). - Quando observamos um enfisema (áreas mais enegrecidas), podemos notar áreas de destruição alveolar. As áreas de enfisema no meio do parênquima são chamadas de enfisema centrolobular. - Pacientes com hipoxemia (insuficiência respiratória crônica) evoluem para o baqueteamento digital. Às vezes começa com o hipocratismo (“unhas de relógio”) e depois pro baqueteamento (“dedos em baqueta de tambor”). - As áreas de enfisema mais na periferia do parênquima são chamadas de enfisema paraseptal. É notório a destruição do parênquima e da área alveolar (mais pretinho). O mais cinza é o parênquima normal. Quando solicitar gasometria arterial?: - Todos os pacientes que tenham o VEF1 inferior a 40% do predito. - Sinais clínicos de insuficiência respiratória (uso de musculatura acessória, taquidispneia, hipocratismo ou baqueteamento digital – sinais que a oxigenação não está boa). - Sinais de falência do ventrículo direito (edema de MMII, ascite, hepatomegalia – sinais de congestão). - Todos os pacientes com saturação de oxigênio (SPO2) menor ou igual a 90%. - É um exame que não é feito em coleta regular de laboratório, pois precisa ser colhido por um médico ou um enfermeiro. - É um procedimento muito doloroso. - É importante porque confirmar se o paciente tem hipoxemia (se o paciente precisa ser direcionado para uma oxigênio-terapia domiciliar continua) ou se ele tem hipercapnia (se está retendo muito CO2 por conta da dificuldade respiratória). Classificação da gravidade – Critérios de GOLD: - Essa classificação auxilia a avaliar o risco de o paciente ter mais quadros mais graves e auxiliar na decisão terapêutica. - Quando o paciente já tem o diagnóstico de DPOC, usa-se 3 variáveis para classificá-lo quanto à gravidade: sintomas (escala da dispneia, número de exacerbações nos últimos 12 meses, valor de VEF1 pós-broncodilatador na espirometria). - O MRC e o CAT são escalas de sintomas pra ver quem está pior. O que diferencia o nível A do B é a gravidade de sintomas. - São 4 níveis de gravidade: o Nível A: Paciente pouco sintomático, pouco exacerbador e tem um VEF1 pós-BD > 50%. o Nível B: Não exacerba muito, tem um VEF1 bom, mas é um pouco mais sintomático (se for um paciente com VEF1 bom, mas muito exacerbador, pula pro nível C). o Nível C: Paciente muito exacerbador, VEF1 pós-BD < 50%. o Nível D: Paciente muito exacerbador, VEF1 ruim e com muitos sinomas. É uma escala subjetiva e mais demorada. O 0 é não ter o sintoma perguntado e o 5 é ter o sintoma de forma mais intensa. A pontuação é somada no final, dependendo da nota que o paciente der para cada sintoma. CAT < 10 = paciente pouco sintomático CAT > ou = 10 = paciente muito sintomático Objetivos do tratamento: + exacerbação = + rápido o paciente progride para um quadro grave - Para atingir esses objetivos é necessário eliminar o fator de risco (se é tabaco, usar adesivos de nicotina, ir para programas de cessação de tabaco, fazer terapia de grupo, usar bupropiona...). - Orientar na mudança de estilo de vida: o paciente precisa ser mais ativo (quando o paciente sente a dispneia, ele deixa de fazer certas coisas para evitar de sentir a dispneia de novo. Ele fica mais tempo sentado, mais tempo parado, evoluindo para uma sacopenia, vai emagrecendo, perde massa magra. Soma-se uma fadiga muscular a uma fadigarespiratória). Fazer uma orientação mais fechada, dizer pro paciente fazer tal exercício (caminhada, hidroginástica, subir escada), tantas vezes na semana, tantas repetições, tantos minutos, oferecer metas para o paciente, dizer para se movimentar dentro de casa também... - Reabilitação pulmonar: é como se fosse uma academia assistida por fisioterapeutas e educadores físicos. - Vão ser trabalhados exercícios que vão reforçar a musculatura respiratória, de MMSS e de MMII para o paciente conseguir ter mais autonomia. - Os pacientes podem fazer esses exercícios mesmo em uso do oxigênio. - As vacinas ajudam a reduzir exacerbações e o risco de mortalidade futura. - A Influenza é anual, a Pneumocócica é para pacientes com idade > ou = a 65 anos. - SAMA = Broncodilatador anticolinérgico de curta ação - SABA = Broncodilatador adrenérgico de curta ação - LAMA = Antagonista muscarínico de longa duração - LABA = Beta-agonista de longa duração - Grupo A = Usa somente o broncodilatador. Pode ser broncodilatador de curta ação quando necessário (são paciente pouco sintomáticos). - Grupo B = Usa broncodilatadores de longa ação (LABA ou LAMA). Se for pra usar separadamente o melhor é o LAMA. - Grupo C = Usa o LAMA. - Grupo D = Pode usar o LAMA isolado ou terapia dupla (LAMA + LABA) ou LABA com corticoide inalatório. - As exacerbações precisam ser reduzidas (para o paciente não ter uma progressão rápida de declínio de função e ter mais risco de mortalidade). O que temos de maior evidência para reduzir a exacerbação é o corticoide inalatório e esse mesmo medicamento pode aumentar o risco de pneumonia nos pacientes mais graves. - Uso de corticoide inalatório: o É fortemente recomendado se usar o corticoide inalatório no paciente que tem uma história de hospitalização por exacerbação de DPOC (particularmente se for no último ano) mesmo em tratamento certinho / Se o paciente teve um número > ou = a 2 exacerbações moderadas de DPOC ao longo do ano / Se o paciente tem uma contagem de eosinófilos > ou = 300 / Se o paciente tem história ou uma sobreposição de quadro de asma junto da DPOC. o É considerável usar o corticoide inalatório no paciente que tem uma contagem de eosinófilos periféricos entre 100 e 300 / Se o paciente teve 1 exacerbação moderada no último ano. o Não se deve usar corticoide inalatório se o paciente tem história de pneumonia de repetição / Se o paciente tem eosinófilos abaixo de 100 / Se o paciente tem história de infecção por micobactéria. - Observação: Não é uma amostra isolada de eosinófilos alterados que já serve de guia para indicar corticoide inalatório. Isso serve apenas quando o paciente vem continuamente apresentando os eosinófilos alterados (avaliações semestrais, por exemplo. Se já vier com eosinofilia 2 vezes consecutivas, já dá pra considerar que não é transitório e investigar). - Se o paciente está usando LABA ou LAMA e não melhorou da dispneia ou melhorou muito pouco, você junta os dois e faz LABA + LAMA. Se ainda assim o paciente não melhora, considerar trocar o dispositivo inalatório ou a molécula, e investigar e tratar outras possíveis causas de dispneia. Se o paciente já estava usando um LABA com corticoide inalatório e não melhorou da dispneia, iniciar terapia tripla (LABA+LAMA+corticoide inalatório). - Se o paciente está usando LABA ou LAMA, exacerbou de forma grave e internou, preenche o critério para corticoide inalatório, junta com o LABA; se não melhorou, iniciar terapia tripla. Se o paciente está usando LABA ou LAMA, exacerbou, mas não precisou de internação, sem eosinófilos altos, não tem critério para corticoide inalatório, fazer terapia dupla (LABA+LAMA); se não melhorou e ele tiver eosinófilos < 100 = iniciar roflumilast – atua numa via inflamatória e a principal indicação é pacientes muito exacerbadores e que tenham o VEF1 < 50%; principal efeito adverso é muita diarreia (se o paciente for tabagista, a alternativa é a azitromicina – esquema de bronquiectasia infectada, se usa 3x na semana. Usar com cautela porque não tem evidências o suficiente para DPOC e é uma medicação que possui cardiotoxicidade). A exacerbação é uma piora que foge do normal do paciente. A grande maioria das exacerbações são infecciosas (origem viral, bacteriana). Nem sempre é pneumonia. É necessário o paciente estar dentro do ambiente hospitalar para essa avaliação. CO = corticoide oral VNI = ventilação não invasiva Realizar a anticoagulação profilática se o paciente for ficar internado (fica mais restrito ao leito). VM = ventilação mecânica Com a evolução da doença, o paciente pode evoluir para uma hipoxemia crônica. Se o paciente é deixado cronicamente hipoxêmico, ele pode desenvolver um quadro de cor pulmonale (o paciente vai ter sintomas de congestão – edema em MMII, crepitações). Essa hipoxemia vai gerar um estresse oxidativo, uma reatividade vascular no leito periférico pulmonar e gerar a hipertensão pulmonar (cor pulmonale). - Se o paciente tem SaO2 < 88% na avaliação ambulatorial, se tem PaO2 < 55 mmHg = TEM INDICAÇÃO DE OXIGÊNIO SUPLEMENTAR - Pacientes com hematócrito alto (acima de 55 em mulheres e 60 em homens), eritrocitose, hemoglobina alta = POLICITEMIA SECUNDÁRIA À HIPOXEMIA. - PaO2 entre 55 e 60 mmHg associado a sintomas de falência do VD ou à policitemia = INDICAÇÃO DE OXIGENOTERAPIA DOMICILIAR - A prescrição do oxigênio deve ser titulada para manter a SaO2 > ou = 90% (o ideal é não ultrapassar 94% nesse tipo de paciente – com insuficiência respiratória crônica -, pois há uma modificação na forma de receber essa informação, o paciente acaba retendo muito CO2, fazendo hipercapnia – caso a saturação fique muito alta). - A hipercapnia leva à acidose respiratória, difícil de manejar (tomar cuidado sempre com a saturação do paciente não ultrapassar os 94%). - A prescrição da oxigenoterapia precisa ser reavaliada depois de 60 a 90 dias (não é para sempre). Se o paciente precisou do oxigênio por conta de uma exacerbação, depois desse tempo ele já vai estar melhor e essa terapia vai ser retirada.
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