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SÍNDROME NEFRÍTICA E SÍNDROME NEFRÓTICA SOI IV | APG 16 - SISTEMA RENAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1. Rever a morfofisiologia do glomérulo; 2. Revisar os mecanismos imunológicos envolvidos na patogênese glomerular; 3. Evidenciar as principais glomerulopatias; 4. Estudar a etiologia, epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas, complicações, diagnóstico e tratamento da Síndrome Nefrítica e Síndrome Nefrótica. MORFOFISIOLOGIA GLOMERULAR Glomérulos são tufos de capilares situados entre as arteríolas aferentes e eferentes. A membrana dos glomérulos é formada por três camadas estruturais: uma camada de células endoteliais que revestem a superfície mais interna do capilar; membrana basal; e uma camada de células epiteliais que circunda a superfície mais externa do capilar e recobre a superfície mais interna da cápsula de Bowman. As células epiteliais estão ligadas à membrana basal por prolongamentos longos semelhantes a pés (podócitos), que circundam a superfície externa dos capilares. A membrana capilar glomerular tem permeabilidade seletiva, ou seja, possibilita que água e partículas pequenas (p. ex., eletrólitos e moléculas dissolvidas, inclusive glicose e aminoácidos) deixem o sangue e entrem no espaço de Bowman; ao mesmo tempo, impedem que partículas maiores (p. ex., proteínas plasmáticas e células sanguíneas) saiam do sangue. GLOMERULOPATIAS E MECANISMOS IMUNOLÓGICOS ENVOLVIDOS Alteram as propriedades semipermeáveis da membrana capilar glomerular, as quais possibilitam que a água e as moléculas pequenas saiam do sangue e entrem no infiltrado urinário, ao mesmo tempo que impedem que hemácias e proteínas plasmáticas deixem a circulação. Agentes ou mecanismos causadores: mecanismos imunológicos, não imunológicos (DM, HAS, fármacos) e hereditários. - Mecanismos imunológicos: Pode ser lesão resultante de complexos antígeno-anticorpo circulantes retidos na membrana glomerular ou lesão resultante de anticorpos que reagem com antígenos glomerulares fixos ou antígenos depositados dentro do glomérulo. A. Anticorpos dirigidos contra a membrana basal do glomérulo deixam a circulação e interagem com antígenos existentes em sua estrutura. B. Os complexos antígeno-anticorpo circulantes no sangue ficam retidos à medida que são filtrados no glomérulo. - Mecanismos não imunológicos: Podem ser metabólicos, como a DM; hemodinâmicos como a HAS; e tóxicos, como drogas ilícitas e fármacos. - Mecanismos hereditários: Fatores de risco hereditários predispõem certos indivíduos a responder a fatores ambientais de formas que podem levar a resposta autoimune nefrogênica. A exposição a agentes etiológicos infecciosos no ambiente pode ser modificada por fatores epigenéticos e ativa o sistema imunológico inato através de interações com TLRs e complemento. 2 A conversão de uma resposta imune inata não específica ao antígeno para uma resposta imune adaptativa antígeno-específica dirigida a auto-antígenos específicos pode ocorrer por meio de várias vias que podem operar simultaneamente e em conjunto. Estas incluem defeitos na regulação da autoimunidade natural já existente, mimetismo molecular, expansão de epítopos, mudanças conformacionais dos epítopos, efeitos de espectador/adjuvante e complementaridade auto-antígeno. A resposta imune adaptativa gera linfócitos T e B antígeno-específicos, geralmente dirigidos a antígenos fixos ou “plantados” no glomérulo. Estes reagentes imunológicos, geralmente através de células efetoras inflamatórias e/ou complemento, mediam danos teciduais. Os antígenos responsáveis pelo desenvolvimento da reação imune podem ter origem endógena (autoanticorpos contra o DNA no LES) ou exógena (antígenos da membrana dos estreptococos na glomerulonefrite pós-estreptocócica). Em muitos casos, a origem do antígeno não é conhecida. Alterações celulares na doença glomerular: Aumentam as contagens de células glomerulares ou inflamatórias (proliferativas ou hipercelulares), por causa: a) da proliferação de células endoteliais ou mesangiais; b) da infiltração de leucócitos; c) da formação de crescentes (A + B) no espaço de Bowman; Causam espessamento da membrana basal (membranosa) e acarretam alterações dos componentes não celulares do glomérulo (esclerose e fibrose). Alterações glomerulares: - Difusas: envolvem todos os glomérulos e seus componentes; - Focais: quando apenas alguns glomérulos são afetados; - Segmentares: quando há envolvimento apenas de determinado segmento de cada glomérulo; - Mesangiais: quando as células mesangiais são afetadas. CLASSIFICAÇÃO DAS GLOMERULOPATIAS Em geral, as manifestações clínicas das doenças glomerulares são classificadas em cinco grupos: Síndromes nefríticas, Glomerulonefrite rapidamente progressiva, Síndrome nefrótica, Distúrbios assintomáticos do sedimento urinário (i. e., hematúria ou proteinúria) e Glomerulonefrite crônica. > SÍNDROME NEFRÍTICA A síndrome nefrítica desencadeia uma resposta inflamatória no glomérulo e caracteriza-se por hematúria com cilindros hemáticos na urina, redução da TFG, azotemia, oligúria e hipertensão. Ex.: Glomerulonefrite pós-infecciosa aguda. > GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA Consiste em proliferação focal e segmentar das células glomerulares e recrutamento de monócitos e macrófagos com formação de estruturas com configuração de crescentes, que fecham o espaço de Bowman. 6 A glomerulonefrite rapidamente progressiva pode ser causada por algumas doenças imunes, algumas sistêmicas e outras limitadas aos rins. Ex.: Síndrome de Goodpasture. > SÍNDROME NEFRÓTICA A síndrome nefrótica acarreta perda da integridade da membrana dos capilares glomerulares e evidencia-se por proteinúria maciça, hipoalbuminemia, edema generalizado, lipidúria e hiperlipidemia. Ex.: Doença de lesão mínima/nefrose lipoídica, glomerulonefrite membranosa, glomeruloesclerose segmentar focal. 3 > DISTÚRBIOS ASSINTOMÁTICOS (HEMATÚRIA, PROTEINÚRIA) A hematúria e a proteinúria assintomáticas refletem distúrbios glomerulares que não são reconhecidos ou levados à atenção de um profissional de saúde e, por esta razão, permanecem não diagnosticados. Ex.: Nefropatia por imunoglobulina A, nefrite da púrpura de Henoch-Schonlein, Síndrome de Alport. > GLOMERULONEFRITE CRÔNICA A glomerulonefrite crônica representa a fase crônica de algumas formas específicas de glomerulonefrite. As causas secundárias de doença renal glomerular são LES, diabetes melito e hipertensão. Lesões renais associadas às doenças sistêmicas: Glomerulonefrite do lúpus eritematoso sistêmico, glomeruloesclerose diabética, doença glomerular hipertensiva. SÍNDROME NEFRÍTICA A síndrome nefrítica é decorrente de uma inflamação glomerular aguda. Esta inflamação dos glomérulos pode ocorrer de forma idiopática, como doença primária dos rins, ou ser secundária a alguma doença sistêmica, como infecções e colagenoses. A síndrome nefrítica clássica tem início repentino (dias/semanas) sendo que a principal causa é a glomerulonefrite pós-estreptocócica. Independente da origem, o quadro básico é caracterizado por hematúria, proteinúria leve (não-nefrótica, ou seja, menor que 3,5g/24h) e oligúria (400 ml/dia de urina). A hematúria tem origem nos glomérulos comprometidos, e é o sinal mais característico e mais comum da síndrome nefrítica. As hemácias são dismórficas, devido à migração através de "rupturas" ou "fendas" que surgem nas alças capilares dos glomérulos inflamados.. O EAS também revela piúria e cilindros celulares (hemáticos e leucocitários). Diminui a permeabilidade glomerular e suas manifestações clínicas estão relacionadas com: redução da taxa de filtração glomerular (TFG); retenção de líquidos; e acumulação de escórias nitrogenadas. ETIOLOGIA Consequência de uma lesão glomerular devido a: - Doença renal primária, secundária a processos infecciosos (principal) (glomerulonefrite pós-estreptocócica - GNPE); ou, - Manifestação de acometimento renal associado a uma doença sistêmica. O estreptococo do grupo 12 é o mais frequentementeassociado à síndrome nefrítica após uma infecção faringotonsilar. EPIDEMIOLOGIA A incidência de GNPE em países economicamente desenvolvidos é limitada a casos esporádicos, quase exclusivamente relacionados a infecções faringotonsilar. Infecções de pele como fonte de GNPE predominam sobre a faringe em países menos desenvolvidos. É uma doença típica de crianças e adolescentes. A faixa etária em que se apresenta mais frequentemente é entre os 2 e os 12 anos. Apenas 5% dos casos têm menos de 2 anos e 10% com mais de 40 anos. 2 vezes mais frequente em homens (não se sabe o motivo). FISIOPATOLOGIA Correspondente clínico da inflamação glomerular aguda. Causada por processos inflamatórios que: - Obstruem os lumens dos capilares glomerulares; e - Lesam a parede capilar: Lesões: - Possibilitam que as hemácias entrem na urina; - Causam alterações hemodinâmicas que reduzem a taxa de filtração glomerular (TFG). TFG reduzida + aumento da reabsorção tubular de sal e água = acumulação extracelular de líquidos, hipertensão e edema. 4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 40-50% dos casos apresentam síndrome nefrítica completa. Os sintomas iniciais são: - Edema periorbitário, pré-tibial e escrotal; - Hematúria macroscópica (avermelhado escuro); - Volume de urina é diminuído. Outros sintomas menores são: dores abdominais ou lombar; astenia; anorexia; febre moderada; pressão arterial aumentada em mais de 50% dos casos. Pode haver cefaléia, vômitos, encefalopatia e sinais de insuficiência cardíaca congestiva. Em sua forma grave, apresenta início súbito de hematúria (microscópica ou macroscópica com cilindros hemáticos); graus variáveis de proteinúria; redução da TFG; oligúria; e sinais de disfunção renal. DIAGNÓSTICO Clínico, com exame físico e dados laboratoriais compatíveis com síndrome nefrítica aguda. Confirmação de etiologia infecciosa pós-estreptocócica. Diferenciar com outras doenças que cursam com hematúria, formas secundárias de glomerulonefrite, glomerulonefrite associada a doenças sistêmicas, vasculites, outras doenças pós-infecciosas com síndrome nefrótica, etc. TRATAMENTO Baseia-se em 3 pilares: - Medidas gerais (restrição de água e sal, dieta, etc.) e controle da pressão arterial, peso e diurese. - Tratamento diurético associado ou não ao tratamento hipotensor e alterações hidroeletrolíticas dependendo da diurese, edema e níveis pressóricos. - Tratamento etiológico com penicilina ou eritromicina em pacientes alérgicos por 7 a 10 dias. Não há recaídas, portanto, o tratamento de manutenção com penicilina não se justificaria. GLOMERULONEFRITE PÓS-INFECCIOSA AGUDA É considerada um subtipo de Síndrome Nefrítica. Ocorre depois da infecção por algumas cepas de estreptococos ß-hemolíticos do grupo A. Causada pela deposição de imunocomplexos de anticorpos e antígenos bacterianos. Pode ocorrer depois de infecções por outros microrganismos (estafilococos, vírus da hepatite etc.) e vários parasitos. Encontrada principalmente nas crianças (mas todas as faixas etárias podem ser afetadas). > FASE AGUDA: Crescimento difuso; Hipercelularidade dos glomérulos, causada por: - Infiltração de leucócitos (neutrófilos e monócitos); - Proliferação das células endoteliais e mesangiais. Edema das células endoteliais. Proliferação + edema + infiltração por leucócitos = fechamento dos lumens dos capilares glomerulares. Também pode haver edema + inflamação do interstício + túbulos com hemácias. Glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE): Começa depois de uma infecção estreptocócica: 7 a 12 dias antes (intervalo necessário à produção dos anticorpos). A infecção primária afeta a faringe, mas a pele também pode ser afetada. > MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: - Oligúria (uma das primeiras e ocorre à medida que a TFG diminui); - Proteinúria e hematúria (vêm em seguida como consequência do aumento da permeabilidade das membranas dos capilares glomerulares); 5 - Urina marrom escura pode ser o primeiro sinal dessa síndrome (porque substâncias na urina destroem as hemácias); - Edema principalmente da face e das mãos (por causa da retenção de sódio e água). > DIAGNÓSTICO: Laboratorial: - Aumentos dos títulos de anticorpo anti estreptocócico (ASO); - Redução das concentrações séricas de C3 e outros componentes do sistema complemento; - Formação de crioglobulinas (imunocomplexos grandes) no soro; - Depósitos granulares de IgG e componente C3 do complemento no mesângio e ao longo da membrana basal - nas primeiras semanas da doença (microscopia de imunofluorescência). > TRATAMENTO: Erradicar a infecção estreptocócica com antibióticos e instituir medidas de suporte. Esse tipo de glomerulonefrite tem prognóstico excelente e raramente causa doença renal crônica. SÍNDROME NEFRÓTICA A síndrome nefrótica não é uma doença glomerular, mas um conjunto de manifestações clínicas. É caracterizada por proteinúria maciça (superior a 3,5g/ 24 horas), com tendência a edema, hipoalbuminemia (albumina sérica inferior a 3,4g/dl) e hiperlipidemia (colesterol > 300mg/dL). A perda maciça de proteínas pela urina causa a hipoalbuminemia já que a albumina é a mais abundante na circulação. O fígado não dá conta de sintetizar a quantidade adequada da proteína para equilibrar a perda. A hiperlipidemia deve-se a uma maior síntese de proteínas de muito baixa densidade (carreadoras de triglicérides) e de baixa densidade (carreadoras de colesterol). Além disso, a hipoalbuminemia inibe a lipólise e estimula o fígado a produzir essas novas proteínas. Hematúria microscópica, hemácias dismórficas e cilindros hemáticos podem surgir, raramente, na síndrome nefrótica. EPIDEMIOLOGIA A síndrome nefrótica é mais comum em crianças pequenas, normalmente é idiopática e, na maioria das vezes, é uma doença com alterações mínimas. Em adultos, a síndrome nefrótica é geralmente secundária, mais frequentemente a diabetes ou pré-eclâmpsia. FISIOPATOLOGIA Aumento da permeabilidade da membrana glomerular → proteínas saem do plasma e entram no filtrado glomerular. Proteinúria maciça→ hipoalbuminemia. Edema generalizado (característica da síndrome nefrótica): causado pela redução da pressão coloidosmótica do sangue + acumulação de líquidos nos tecidos intersticiais. 6 Primeiro o edema acumula-se nas partes inferiores do corpo (inclusive membros inferiores), depois, torna-se generalizado à medida que a doença avança. Há retenção de sódio e água. Fatores que influenciam as manifestações: - Aumento compensatório da aldosterona; - Estimulação do SN simpático; - Redução da secreção dos fatores natriuréticos. Hiperlipidemia: níveis altos de triglicerídeos e lipoproteínas de densidade baixa (LDL). Os níveis das lipoproteínas de densidade alta (HDL) geralmente estão normais. Por causa da elevação das concentrações de LDL, é mais provável que pacientes com síndrome nefrótica desenvolvam aterosclerose ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO As anormalidades glomerulares com a nefrose podem ser primárias ou secundárias às alterações causadas por doenças sistêmicas como DM e LES. - <15 anos: causada por doenças glomerulares idiopáticas primárias; - Adultos: distúrbio secundário. Lesões glomerulares primárias: Doença de lesão mínima (nefrose lipoídica); Glomerulosclerose segmentar focal; e Glomerulonefrite membranosa. > DOENÇA DE LESÃO MÍNIMA - NEFROSE LIPOÍDICA Destruição difusa (causada por fusão) dos pseudópodos das células da camada epitelial da membrana glomerular. Encontrada mais comumente nas crianças, mas pode ocorrer ocasionalmente nos adultos. Causa desconhecida. Não evolui para insuficiência renal. Pode produzir complicações: - Predisposição às infecções por bactérias gram-negativas; - Tendência a episódios tromboembólicos; - Hiperlipidemia; - Desnutrição proteica. Na biópsia renal, a DLM não demonstra nenhuma lesão glomerular evidente à microscopia óptica, e é negativa para depósitos à imunofluorescência ou, ocasionalmente, revela pequenas quantidades de IgM no mesângio. Entretanto, a microscopia eletrônica demonstra consistentemente um apagamento dos pedicelosque sustentam os podócitos epiteliais com enfraquecimento dos poros da membrana da fenda. > GLOMERULOSCLEROSE SEGMENTAR FOCAL Caracteriza-se por esclerose (ex: aumento da deposição de colágeno) de alguns, mas não de todos, os glomérulos; Nas unidades glomerulares afetadas, apenas uma parte do tufo glomerular está afetada. Causa de síndrome nefrótica especialmente comum nas populações afro-americana e hispânica. 7 Glomerulosclerose segmentar focal (GESF). Há aumento segmentar bem definido na matriz e obliteração das alças capilares na parte direita do glomérulo, condição sine qua non para esclerose segmentar de variante sem outra especificação. Geralmente é uma síndrome idiopática. Pode estar associada: - à redução da concentração de oxigênio no sangue (p. ex., doença falciforme e cardiopatia congênita cianótica); - à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV); - ao uso de substâncias intravenosas. Pode ser um distúrbio secundário associado à fibrose glomerular em consequência de outros tipos de glomerulonefrite. O comprometimento da autofagia (processo de reparo necessário para manter a homeostase após lesão celular) seria responsável pela capacidade limitada de regeneração dos podócitos. A ocorrência de hipertensão arterial e redução da função renal diferencia a esclerose focal da doença por alteração mínima. Pessoas com doença por alteração mínima (uma manifestação de síndrome nefrótica diagnosticada por biópsia renal) evoluem posteriormente para glomeruloesclerose segmentar focal. A proteína nefrina parece ser um marcador de lesão de podócitos. A maioria dos pacientes evolui para insuficiência renal em 5 a 10 anos. > GLOMERULONEFRITE MEMBRANOSA É a causa mais comum de nefrose primária dos adultos (entre a quinta e a sexta décadas de vida). Causada por espessamento difuso da MBG (membrana basal glomerular) em consequência da deposição de imunocomplexos. Pode ser idiopática ou estar associada a alguns distúrbios: - Doenças autoimunes (p. ex., LES); - Infecções (p. ex., hepatite B crônica); - Transtornos metabólicos (p. ex., diabetes melito). Imunoglobulinas e complemento nos depósitos subendoteliais sugerem que a doença seja um distúrbio crônico mediado por imunocomplexos. A nefropatia membranosa é causada por depósitos subepiteliais, com consequente reação da membrana basal, que resulta no surgimento de projeções semelhantes a espículas na coloração pela prata (A). 8 Os depósitos são diretamente visualizados por anti-IgG fluorescente, revelando coloração de alça capilar granulosa difusa (B). À microscopia eletrônica, a localização subepitelial dos depósitos e a reação precoce da membrana basal circundante é evidente, com apagamento do pedicelo subjacente (C). A maioria dos casos de nefropatia membranosa primária é causada por anticorpos ao receptor da fosfolipase A2 (PLA2R), que está presente em podócitos, e este antígeno pode então ser detectado nos depósitos por coloração com anticorpo anti-PLA2R (D). Começa com síndrome nefrótica de início insidioso ou, em uma porcentagem pequena dos casos, com proteinúria fora da faixa nefrótica. Pode haver hematúria e hipertensão branda. A progressão da doença é variável: - Alguns pacientes têm remissões completas; - Outros apresentam remissões e recidivas repetidas; - Outros evoluem para insuficiência renal terminal e até mesmo morte. As remissões espontâneas e uma evolução relativamente benigna são mais comuns nas mulheres e nos pacientes com proteinúria fora da faixa nefrótica. Ainda existem controvérsias quanto ao tratamento. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os pacientes com síndrome nefrótica podem ter retenção de líquidos, que pode causar: - Dispnéia causada por edema pulmonar; - Derrames pleurais; - Compressão diafragmática pela ascite; - Dor abdominal (ascite ou, em crianças, edema mesentérico); - Artralgia (hidrartrose). O edema pode obscurecer os sinais da perda muscular e causar linhas brancas paralelas nos leitos das unhas (linhas de Muehrcke). Outros sintomas mais gerais: anorexia; mal-estar; urina espumosa (alta concentração de proteínas). DIAGNÓSTICO Relação proteína/creatinina ≥ 3 em amostra aleatória de urina ou proteinúria ≥ 3 g/24 h. Suspeita-se do diagnóstico em pacientes com edema e proteinúria no exame de urina, confirmado pela dosagem de proteínas urinárias em 24 h. Testes sorológicos e biópsia renal (a não ser que a causa seja clinicamente evidente). A causa pode ser sugerida pela história clínica (p. ex., lúpus eritematoso sistêmico, pré-eclâmpsia,câncer); quando a causa não é clara, indicam-se exames sorológicos adicionais e biópsia renal. 9 - Exame de urina: O achado de proteinúria significativa (3 g de proteína em uma amostra de urina de 24 h) é diagnóstico (excreção normal < 150 mg/dia). Além da proteinúria, o exame de urina pode demonstrar cilindros (hialinos, granulares, gordurosos, serosos ou de células epiteliais). Lipidúria, a presença de lipídios livres ou lipídios dentro das células tubulares (corpos de gordura ovais), dentro de cilindros (cilindros gordurosos), ou como glóbulos livres, sugere uma doença glomerular que causa síndrome nefrótica. O colesterol urinário pode ser detectado pela microscopia simples e demonstra um padrão de cruz de malta sob luz polarizada. A coloração com Sudan deve ser utilizada para demonstrar a presença de triglicerídeos. - Exames adicionais: Ajudam a caracterizar a gravidade e as complicações. As concentrações de ureia e creatinina variam de acordo com o grau de disfunção renal. A albumina sérica geralmente é < 2,5 g/dL (25 g/L). As concentrações totais de colesterol e triglicerídeos estão tipicamente elevadas. Rotineiramente, não é necessário dosar as concentrações de alfa e gamaglobulinas, imunoglobulinas, proteínas ligadoras de hormônios, ceruloplasmina, transferrina e componentes do complemento, mas também seus níveis podem estar baixos. SÍNDROME NEFRÍTICA VS NEFRÓTICA Síndrome Nefrítica: Ocorre perda abrupta da superfície de filtração → redução da excreção de líquidos, pequenos solutos, eletrólitos. Síndrome Nefrótica: Ocorre aumento da permeabilidade do capilar glomerular à passagem de proteínas → proteinúria maciça. Tem tendência a edema, hipoalbuminemia e hipercolesterolemia.
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