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Carla Bertelli – 4° Período – Revisar a morfofisiologia dos glomérulos – Compreender a etiologia, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e diagnóstico da Síndrome Nefrítica. – Entender os mecanismos imunológicos na patologia da Doença Glomerular – Classificar as glomerulopatias associadas à síndrome Nefrítica. O Glomérulo renal consiste na unidade de filtração sanguínea, que auxilia na reabsorção de líquidos e solutos, concomitante com a formação de urina. Ele é formado por um tufo de capilares fenestrados que são originados de subdivisões da arteríola aferente. O sangue chega ao glomérulo por meio da arteríola aferente, circula pelas alças capilares, onde é filtrado e retorna à corrente sanguínea pela arteríola eferente, também pelo polo vascular. Enquanto isso, os líquidos e substâncias que atravessam a barreia de filtração glomerular para o espaço capsular são captados pelo túbulo contorcido proximal, no polo urinário, para futuramente serem reabsorvidos ou excretados na forma de urina. O glomérulo renal é envolto pelo Corpúsculo de Malpighi – a capsula de bowman. Existe o folheto interno ou visceral e outro externo ou parietal. Os podócitos são responsáveis por emitir prolongamentos primários, que dão origem aos prolongamentos secundários, os quais, por fim, circundam os capilares glomerulares e se fixam à membrana basal, através de proteínas integrinas. A barreira de filtração glomerular constitui uma membrana mais espessa, formada a partir da associação entre a membrana basal das células endoteliais dos capilares glomerulares e a membrana basal dos podócitos. Logo, é dotada de duas lâminas raras, uma interna, próxima às células endoteliais, e uma externa, adjunta aos podócitos, além de uma lâmina intermediária e mais elétron-densa. A lâmina intermediária apresenta características determinantes para a barreira de filtração, uma vez que representa um feltro de colágeno tipo IV e laminina em uma matriz que contém proteoglicanos eletricamente negativos (aniônicos). Dessa maneira, a barreira de filtração glomerular é capaz de filtrar solutos com base em duas propriedades: o seu tamanho e a sua carga elétrica. As moléculas negativas são capazes de reter moléculas positivas e o colágeno tipo IV, em parceria com a laminina, forma uma barreira física que atua na filtração de macromoléculas, impedindo a passagem de moléculas com mais de 10 nm e com massa molecular maior do que a da albumina. Associado à barreira de filtração, existe ainda o mesângio: um complexo de células especializadas imersas em uma matriz mesangial. As células mesangiais cercam os capilares glomerulares e garantem sustentação, sintetizam matriz extracelular e realizam a fagocitose de substâncias retidas pela barreira de filtração. Porém, além de todas essas funções, correspondem também a um importante determinante da filtração glomerular, uma vez que as propriedades contráteis das suas células são capazes de regular o fluxo sanguíneo que passa pelos capilares glomerulares ou alterar a área de superfície capilar. A filtração glomerular (FG) corresponde a 20% do fluxo sanguíneo renal e, em média, 180 litros são filtrados diariamente, dando origem a 1 litro de urina por dia. No entanto, a composição do filtrado glomerular é praticamente idêntica à plasmática, uma vez que apresentam concentrações de cloreto, glicose, ureia e fosfato semelhantes, estando a diferença localizada na quase que completa ausência de proteínas no filtrado. O que se deve à retenção dessas partículas pela barreira de filtração, em virtude do seu elevado peso molecular, sendo possível encontrar apenas mínimas quantidades de albumina. No entanto, ao levar em consideração os antagonismos entre forças pressóricas e o desprezível valor da pressão oncótica da cápsula de Bowman, pode-se concluir que a pressão efetiva de filtração é formada pela pressão hidrostática do Carla Bertelli – 4° Período sangue, que se opõe e supera a pressão osmótica dos coloides do plasma e a pressão hidrostática dos líquidos da cápsula de Bowman. çã – A filtração glomerular é influenciada diretamente pela pressão hidrostática, qualquer alteração da PA tenderia a interferir na TFG, isso não ocorre devido aos mecanismos de autorregulação glomerular. Assim, quando há um aumento da pressão arterial, ele é contrabalanceado com o aumento da resistência da arteríola aferente, de modo a promover a redução do fluxo sanguíneo renal e a manutenção da taxa de filtração. Da mesma forma que, quando há uma redução da pressão arterial, há diminuição da resistência da arteríola aferente e aumento da resistência da arteríola eferente, a fim de aumentar a pressão hidrostática glomerular e favorecer a filtração. Esse sistema só é efetivado, por sua vez, em virtude da capacidade miogênica dos capilares e do feedback tubuloglomerular. O mecanismo miogênico está relacionado à capacidade intrínseca dos vasos de responderem à alteração da pressão arterial. Portanto, quando a pressão se eleva, os vasos tendem a se contrair para aumentar a resistência e impedir o seu estiramento, bem como o aumento do fluxo sanguíneo. Já quando a pressão diminui, eles buscam reduzir a resistência vascular, por meio da vasodilatação. Associado a isso, o feedback tubuloglomerular é formado pelo aparelho justaglomerular, composto das células justaglomerulares da arteríola aferente, as células da mácula densa da arteríola eferente e as células mesangiais extraglomerulares. As células da mácula densa funcionam como sensores das variações da pressão arterial, por meio da concentração de cloreto de sódio, ou seja, a concentração reduzida é entendida como reflexo da queda de pressão. Dessa forma, essas células ativam uma via de sinalização para liberar prostaglandinas que irão reduzir a resistência da arteríola aferente, a fim de aumentar o fluxo sanguíneo renal. Concomitantemente, essas células da mácula densa também atuam de modo parácrino, induzindo a produção de renina pelas células justaglomerulares. A renina, por sua vez, irá estimular a formação de angiotensina II, que promoverá a vasoconstricção da arteríola eferente. Logo, o aumento do fluxo sanguíneo renal, associado à vasoconstricção da arteríola eferente, promoverá o aumento da pressão hidrostática glomerular e a manutenção da taxa de filtração. Em uma perspectiva semelhante, o aumento da concentração de cloreto de sódio indicará a elevação da pressão arterial e promoverá o aumento da resistência da arteríola aferente, para reduzir o fluxo sanguíneo e controlar a pressão hidrostática glomerular. Decorre do processo inflamatório do capilar glomerular. Caracteriza-se por disfunção renal de início abrupto e manifesta-se por ú ã ú á ú çã (azotemia). Ocorra redução na TFG e na fração de filtração – o fluxo plasmático renal pode não alterar, manter-se um pouco acima dos níveis normais ou sofrer queda, sempre menor que a fração de filtração. As funções tubulares são normais ou pouco alteradas, embora haja retenção de sódio e água, e consequente edema. No início ou durante a evolução podem faltar alguns elementos ou surgir certas complicações: ▪ Insuficiência Renal Aguda ▪ Encefalopatia Hipertensiva ▪ Edema Pulmonar Glomerulonefrites são a causa mais importante de Síndrome Nefrítica As síndromes nefríticas desencadeiam uma resposta inflamatória proliferativa, enquanto a síndrome nefrótica aumenta a permeabilidade do glomérulo. Como a maioria das doenças glomerulares pode causar síndromes nefrítica e nefrótica mistas, o diagnóstico definitivo geralmente depende de biopsia renal. É um processo inflamatório caracterizado por disfunção renal. Pode ser aguda, subaguda ou crônica. Pode ser causada por doença renal intrínseca ou constituir parte da doença sistêmica. – As causas clássicas da síndrome nefrítica são a glomerulonefriteinfecciosa pós-infecciosa, nefropatia por imunoglobulina A (NIgA) e nefrite lúpida. A NIgA constitui a causa mais comum de glomerulonefrite no mundo inteiro. Um subgrupo de glomerulonefrite aguda, conhecido como glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNPR) pode manifestar-se com insuficiência renal grave e Carla Bertelli – 4° Período progressiva. Como exemplos há a doença de Goodpasture, poliartrite e granulomatose de Wegener. - A epidemiologia da síndrome nefrítica varia de forma considerável de acordo com a glomerulopatia que a causa. De forma geral, a mais prevalente é a glomerulonefrite pós-estreptocócica, predominando na população masculina dos 6 aos 10 anos. Entretanto, a faixa etária mais prevalente depende da doença específica, variando entre a primeira década de vida e após os 50 anos. – Caracteriza-se por um processo inflamatório. O grau de inflamação glomerular determina, em parte, a gravidade da disfunção renal e as manifestações clínicas associadas. Muitas das glomerulopatias apresentam distúrbios imunológicos subjacentes. É causada por processos inflamatórios que obstruem os lumens dos capilares glomerulares e lesam a parede capilar. Essa lesão da parede capilar possibilita que as hemácias entrem na urina e causa as alterações hemodinâmicas que reduzem a TFG. Acumulação extracelular de líquidos, hipertensão e edema ocorrem em consequência da TFG reduzida e da reabsorção tubular aumentada de sal e água. Existem dois mecanismos básicos de lesão glomerular mediada por anticorpos: • Anticorpos que se ligam a um componente estrutural do outro material implantado nos glomérulos. Por exemplo, pode ter a formação de anticorpos circulantes dirigidos contra a membrana basal glomerular (MBG), como na doença de Goodpasture. • Formação de complexos antígeno-anticorpo circulantes que escapam do sistema reticuloendotelial e se depositam nos glomérulos. São exemplos os complexos de DNA-nucleossomo no LES e crioglobulinas na GNMP relacionada com a hepatite C. Outras doenças como a glomerulonefrite pós- estreptocócica envolvem o depósito de um antígeno nos glomérulos com a subsequente ativação do complemento. Esse processo pode resultar em lesão tecidual direta ou levar a reação inflamatória com a proliferação de células glomerulares intrínsecas, como as células mensangiais, endoteliais e epiteliais. Nos casos graves podem ocorrer a obliteração do lúmen capilar glomerular, e a ruptura do glomérulo no espaço de Bowman com a consequente formação de crescentes. çõ í – Edema, oligúria ou sintomas urêmicos. Muitos pacientes apresentam hipertensão, que pode ser maligna em alguns casos. Outros achados no exame físico dependem do distúrbio subjacente. Por exemplo, observa-se exantema malar e ulceras orais no LES, e ocorre púrpura palpável na púrpura de Henoch- Schonlein e na crioglobulinemia. ó – No Exame de Urina paciente pode apresentar hematúria macroscópica, descrita como urina cor de chá ou coca-cola. O exame microscópio revela eritrócitos dismórficos ou deformados em consequência do estresse osmótico e químico que sofrem quando passam pelo néfron. Os eritrócitos urinários com vesículas ou projeções ‘’semelhantes a bolhas’’ da membrana (acantócitos) fornecem uma forte evidência de causa glomerular para a hematúria. Podem ser observados cilindros hemáticos. A excreção urinária de proteína varia amplamente nas síndromes nefríticas, porém geralmente é inferior a 3g de proteína por dia. A proteinúria pode ser quantificada mediante coleta de urina 24h ou ser estimada com base em uma única amostra de urina. Bioquímica do Soro – Deve-se obter um perfil bioquímico para avaliar o estado eletrolítico e estimar a TFG, a fim de documentar o grau da disfunção renal. Com frequência, o hemograma completo revela anemia e possivelmente trombocitopenia ou leucopenia, conforme observado no LES. Outros exames úteis dependem da anamnese e exame físico, podendo incluir hemoculturas se houver febre e sopro cardíaco, títulos de antiestreptolisina O (ALSO) na faringite ou pesquisa para hepatite e crioglobulinas se for obtida história de uso de drogas intravenosas ou se houver hepatomegalia. São outros testes utilizados também os níveis de complemento, anticorpos anticitoplasma de neutrófilos, antiMBG e marcadores de doença por imunocomplexos, como FAN e antiDNA. É importante assinalar que até 10% dos pacientes com proteinúria maciça podem ter achados sorológico negativos na apresentação devido à perda dos anticorpos na urina ou depósito tecidual. Exames de Imagem – O Raio X de tórax pode relevar edema pulmonar ou achados sugestivos de granulomatose de Wegener ou doença de Goodpasture. O ECG pode identificar derrame pericárdico ou endocardite. A USG renal é frequentemente realizada na TFG diminuída, a fim de avaliar o tamanho dos rins. Um Carla Bertelli – 4° Período rim com tamanho <9cm pode sugerir fibrose renal extensa com baixa probabilidade de reversibilidade. Exames Especiais – Biópsia renal é realizada para estabelecimento do diagnóstico definitivo, mostrando-se útil para diferenciar as causas primárias das secundárias da doença renal, bem como os subtipos de LES. A biópsia renal possibilita o estabelecimento de um diagnóstico rápido nos casos de GNRP, em que o diagnóstico e tratamento imediatos são fundamentais para preservar a função renal, também pode fornecer informações sobre o nível de inflamação, extensão da fibrose e prognóstico global. Existem muitas formas da doença glomerular com uma patogênese que se relaciona de maneira variável com a presença de mutações genéticas, infecção, exposição a toxinas, autoimunidade, aterosclerose, hipertensão, embolia, trombose ou diabetes melito. Entretanto, muitas vezes ainda é considerada idiopática. Algumas doenças glomerulares resultam de mutações genéticas que produzem doença familiar ou um efeito fundador. A hipertensão sistêmica e a aterosclerose podem produzir um estresse tensional, isquemia ou oxidantes lipídicos que dão origem a uma glomeruloescrelose crônica. A nefropatia diabética é uma lesão esclerótica adquirida, associada ao espessamento da MBG secundária aos efeitos de longa duração da hiperglicemia, aos produtos finais da glicosilação avançada e as espécies reativas de O2. A inflamação dos capilares glomerulares é chamada de glomerulonefrite. A maioria dos antígenos glomerulares é denominada glomerulonefrite. A maioria dos antígenos glomerulares mesangiais envolvidos na glomerulonefrite imunomediada é desconhecida. A ativação local de receptores semelhante ao Toll nas células glomerulares, a deposição de imunocomplexos ou a lesão infligida pelo complemento às estruturas glomerulares induz a infiltração de células mononucleares, que subsequentemente produz uma resposta imune adaptativa atraída ao rim pela liberação local de quimiocinas. Neutrófilos, macrófagos e células T são atraídos pelas quimiocinas para o interior do tufo glomerular, onde reagem com antígenos e epítopos sobre ou próximo às células somáticas ou suas estruturas, produzindo mais citocinas e proteases que lesionam o mesângio, os capilares e/ou a MBG. Enquanto a resposta imune adaptativa assemelha-se àquela de outros tecidos, a ativação precoce das células T desempenha um papel importante no mecanismo da glomerulonefrite. Os antígenos apresentados pelas moléculas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) classe II nos macrófagos e nas células dendríticas em combinação com moléculas de reconhecimento associativo participam do repertório das células T CD4/8. As células mononucleares, por si só, podem lesionar o rim, porém os eventos autoimunes que lesionam os glomérulos produzem classicamente uma resposta imune humoral. Tipicamente, glomerulonefrite pós- estreptocócica, nefrite lúpica e nefrite membranosaidiopática estão associadas aos imunodepósitos ao longo da MBG, enquanto anticorpos anti-MBG produzem a ligação linear da doença anti-MBG. Os imunocomplexos circulantes pré-formados podem sofrer precipitação ao longo do lado subendotelial da MBG, enquanto outros imunodepósitos são formados in situ sobre o lado subepitelial. Esses últimos depósitos se acumulam quando os autoanticorpos circulantes encontram seu antígeno encarcerado ao longo da borda subepitelial da MBG. Os imunodepósitos no mesângio glomerular podem resultar da deposição de complexos circulantes pré-formados ou de interações antígeno- anticorpo in situ. Os imunodepósitos estimulam a liberação de proteases locais e ativam a cascata do complemento, produzindo complexos de ataque C5-9. Além disso, os oxidantes locais lesam as estruturas glomerulares, produzindo proteinúria e apagamento dos podócitos. Etiologias ou mecanismos fisiopatológicos superpostos podem produzir lesões glomerulares semelhantes, sugerindo que diferentes respostas moleculares e celulares sequenciais frequentemente convergem para padrões comuns de lesão. • Glomerulonefrite pós-estreptocócica • Endocardite Bacteriana Subaguda • Nefrite Lúpica • Doença Antimembrana Basal Glomerular • Nefropatia por IgA • Vasculite de Pequenos Vasos Induzida por Anca • Glomerulonefrite Membranoproliferativa • Glomerulonefrite Mesangioproliferativa A glomerulonefrite pós-estreptocócica é o protótipo para a glomerulonefrite proliferativa endocapilar aguda. Carla Bertelli – 4° Período A glomerulonefrite pós-estreptocócica aguda nos países subdesenvolvidos é epidêmica e afeta em geral crianças entre 2 e 14 anos de idade, enquanto nos países desenvolvidos, a sua ocorrência é mais típica no idoso, particularmente em associação a condições debilitantes. É mais comum no sexo masculino, e a incidência em familiares ou co-habitantes pode chegar a 40%. As infecções da pele e da garganta por determinados tipos M de estreptococos (cepas nefritogênicas) precedem a doença glomerular. A glomerulonefrite pós- estreptocócica em consequência de impetigo surge dentro de 2 a 6 semanas após uma infecção cutânea, e dentro de 1 a 3 semanas após uma faringite estreptocócica. A biópsia renal na glomerulonefrite pós-estreptocócica demonstra hipercelularidade das células mesangiais e endoteliais, infiltrados glomerulares de leucócitos polimorfonucleares, imunodepósitos subendoteliais granulosos de IgG. A glomerulonefrite pós-estreptocócica é uma doença imunomediada que envolve supostos antígenos estreptocócicos, imunocomplexos circulantes e ativação do complemento em associação com uma lesão mediada por células. A manifestação clássica é um quadro nefrítico agudo com hematúria, piúria, cilindros hemáticos, edema, hipertensão e lesão renal aguda oligúrica, que pode ser grave o suficiente a ponto de se assemelhar à GNRP. Sintomas sistêmicos de cefaleia, mal-estar, anorexia e dor no flanco (devido ao edema da cápsula renal) são relatados em até 50% dos casos. A glomerulonefrite associada à endocardite é uma complicação da endocardite bacteriana subaguda (EBS), particularmente em pacientes que permanecem não tratados por período prolongado, naqueles com hemoculturas negativas ou que apresentam endocardite do lado direito. As comorbidades comumente observadas são cardiopatia valvar, uso de drogas intravenosas, hepatite C e diabetes melito. A glomerulonefrite é incomum na endocardite bacteriana aguda, considerando a demora de 10 a 14 dias para o desenvolvimento de uma lesão mediada por imunocomplexos, período no qual o paciente já terá sido tratado, muitas vezes com uma cirurgia de emergência. Macroscopicamente, na EBS os rins evidenciam hemorragias subcapsulares com aspecto de “picada de pulga”, e a microscopia da biópsia renal revela proliferação focal ao redor de focos de necrose associados a abundantes imunodepósitos mesangiais, subendoteliais e subepiteliais de IgG, IgM e C3. A patogênese tem como base a deposição de imunocomplexos circulantes no rim, com ativação do complemento. Os pacientes apresentam hematúria macro- ou microscópica, piúria e proteinúria leve, lesão renal aguda ou GNRP com perda rápida da função renal. Pode-se observar a presença de anemia normocítica, velocidade de hemossedimentação elevada, hipocomplementemia, altos títulos do fator reumatoide, crioglobulinas tipo III, imunocomplexos circulantes e ANCA. Os níveis séricos de creatinina também podem estar elevados por ocasião do diagnóstico, porém graças à terapia moderna há pouca progressão para doença renal crônica Como variantes da glomerulonefrite associada à infecção bacteriana persistente no sangue, podem ocorrer glomerulonefrite pós-infecciosa em pacientes com derivações (shunts) ventriculoatriais e ventriculoperitoneais, infecções pulmonares, intra- abdominais, pélvicas ou cutâneas, e próteses vasculares infectadas. A nefrite lúpica resulta do depósito de imunocomplexos circulantes que ativam a cascata do complemento, levando a lesão mediada pelo complemento, infiltração de leucócitos, ativação de fatores pró-coagulantes e liberação de várias citocinas. A formação de imunocomplexos in situ após a ligação glomerular dos antígenos nucleares, particularmente nucleossomos necróticos, também desempenha algum papel na lesão renal. A presença de anticorpos antifosfolipídeo também Carla Bertelli – 4° Período pode desencadear uma microangiopatia trombótica em uma minoria dos pacientes. As manifestações clínicas, a evolução da doença e o tratamento da nefrite lúpica estão intimamente relacionados com a patologia renal. O sinal clínico mais comum de doença renal é a proteinúria, contudo é possível observar a presença de hematúria, hipertensão, graus variáveis de disfunção renal e sedimento urinário ativo com cilindros hemáticos. Os pacientes que desenvolvem autoanticorpos dirigidos contra os antígenos da membrana basal desenvolvem com frequência uma glomerulonefrite denominada doença antimembrana basal glomerular (anti- MBG). Quando ocorrem hemorragia pulmonar e glomerulonefrite, se define uma síndrome pulmão-rim denominada síndrome de Goodpasture. Os epítopos-alvo para essa doença autoimune residem na estrutura quaternária do domínio α3 NC1 do colágeno IV. De fato, a doença anti-MBG pode ser considerada uma “conformeropatia” autoimune, que envolve um distúrbio da estrutura quaternária do hexâmero α 345NC1. Células T restritas ao MHC iniciam a resposta de autoanticorpos, uma vez que os seres humanos são intolerantes aos epítopos criados por essa estrutura quaternária. Caracteriza-se classicamente por hematúria episódica associada ao depósito de IgA no mesângio. A nefropatia por IgA é uma das formas mais comuns de glomerulonefrite em todo o mundo. Existe uma predominância masculina, uma incidência máxima na segunda e na terceira décadas de vida e raros agrupamentos familiares. A nefropatia por IgA é uma glomerulonefrite mediada por imunocomplexos definida pela presença de depósitos mesangiais difusos de IgA frequentemente associados com hipercelularidade mesangial Um grupo de pacientes com vasculite de pequenos vasos (arteríolas, capilares e vênulas; raramente, pequenas artérias) e glomerulonefrite têm anticorpos séricos anticitoplasma de neutrófilo (ANCA). Os anticorpos são de dois tipos, antiproteinase 3 (PR3) ou antimieloperoxidase (MPO) Os ANCA são produzidos com ajuda das células T e ativam os leucócitos e os monócitos, que, juntos, lesionam as paredes dos pequenos vasos. A lesão endotelial também atrai mais leucócitos e exacerba a inflamação. A granulomatose com poliangeíte, a poliangeíte microscópica, a síndrome de Churg-Strauss e a vasculite limitada ao rim pertencem a esse grupo, pois são ANCA-positivas e se apresentam como uma glomerulonefritepauci-imune, com depósito de imunocomplexos em pequenos vasos e capilares glomerulares. A GNMP às vezes é denominada glomerulonefrite mesangiocapilar ou glomerulonefrite lobular. Trata-se de uma glomerulonefrite imunomediada caracterizada pelo espessamento da MBG com alterações Carla Bertelli – 4° Período mesangioproliferativas; 70% dos pacientes exibem hipocomplementemia. A GNMP tipo I costuma estar associada a infecções persistentes pela hepatite C, a doenças autoimunes como lúpus ou crioglobulinemia ou a doenças neoplásica GNMP clássica tipo I é secundária à deposição glomerular de imunocomplexos circulantes ou à sua formação in situ. Os pacientes com GNMP se apresentam com proteinúria, hematúria e piúria (30%), sintomas sistêmicos de fadiga e mal-estar que são mais comuns em crianças com a doença tipo I; ou um quadro nefrítico agudo com GNRP e uma deterioração acelerada da função renal em até 25% dos casos. A glomerulonefrite mesangioproliferativa caracteriza-se pela expansão do mesângio, às vezes associada a uma hipercelularidade mesangial; paredes capilares finas, únicas e contornadas; e imunodepósitos mesangiais. Clinicamente, pode manifestar-se com graus variáveis de proteinúria e, muitas vezes, hematúria. A doença mesangioproliferativa pode ser observada na nefropatia por IgA, na malária por Plasmodium falciparum, na glomerulonefrite pós-infecciosa em fase de resolução e na nefrite classe II devido ao lúpus. Lerma, Edgar, V. et ai. ATUAL: Nefrologia e Hipertensão . Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo A, 2011. Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Grupo GEN, 2021. Jameson, J., L. et ai. Medicina interna de Harrison - 2 volumes . Disponível em: Minha Biblioteca, (20ª edição). Grupo A, 2019.
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