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NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 1 PROBLEMA 2 - Gato-mia, miau Thiago, estudante, 14 anos, foi trazido por sua mãe ao ambulatório de Pneumologia da UniRV por apresentar desde a infância crises de dispnéia, tosse seca, sibilância e aperto no peito, relacionadas a poeira, e mofo, cheiros fortes, fumaça de cigarro e mudança climática. Relata melhora dos sintomas após o uso de broncodilatadores de curta duração. Refere também ficar assintomático nos períodos intercrise. Nega uso de qualquer medicação inalatória de manutenção para tratamento, mas relata uso frequente de corticoide oral e de aerolin spray. Apresenta crises frequentes, cerca de 7 ou 8 por ano, com necessidade de idas ao Pronto Socorro (última ida há cerca de 10 dias), mas nega internações prévias. Nos últimos 6 meses, refere piora do quadro com sintomas diários, necessidade de uso de aerolin spray cerca de 3 a 4 vezes ao dia, despertares noturnos frequentes (cerca de 4 vezes por semana), e faltas frequentes à escola. Gosta de jogar bola, mas ultimamente não está conseguindo direito em decorrência de piora da dispnéia e chieira no peito durante as partidas. A mãe relata que ele apresenta ainda sintomas frequentes de obstrução nasal, rinorréia anterior mucóide e espirros, principalmente se tiver contato com alérgenos e irritantes. Nega epigastralgia em queimação e pirose. Mora com os pais, e mais 3 irmãos em casa forrada e com mofos em paredes da sala e quartos. Tem 2 cachorros em casa e pai é fumante. Refere que uma tia tem asma e que 2 de seus 3 irmãos apresentam sintomas semelhantes aos seus. Ao exame físico: BEG, eupnéico, acianótico. AR: MVF com sibilos esparsos e bilateralmente. FR: 16 ipm. ACV: RCR, 2T, BNF sem sopros. Trouxe espirometria solicitada pelo clínico geral que o encaminhou. Previsto Pré BD Pós BD CVF - 3,25L 3,00L (92%) 3,05L (93%) VEF1/CVF 60% 75% VEF1 - 2,70L 1,72L (67%) 2,30L (84%) FEF 25/75% - 2,30L 1,10L (47%) 1,90L (81%) 1- B 2- A 3- C 4- A 5-B NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 2 1. ESTUDAR ASMA – DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA. DEFINIÇÃO: - É uma doença heterogênea, geralmente caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas - Tipo especial de inflamação crônica nas vias aéreas inferiores, de etiologia desconhecida, que predispõe a surtos de broncoespasmo REVERSÍVEL, acompanhados de manifestações clínicas estereotipadas (dispneia, sibilos, tosse e aperto no peito) EPIDEMIOLOGIA: - É uma das doenças crônicas mais comuns, afetando 1-18% da população em diferentes países - A maioria dos asmáticos é atópico, apresentando a chamada “asma alérgica” - Apesar de poder se iniciar em qualquer idade, incluindo idosos, o pico de incidência se dá aos 3 anos de vida. Na infância pe mais frequente em meninos, porém em adultos a prevalência se iguala entre os sexos - É comum que a doença desapareça espontaneamente na adolescência, passando anos sem incomodar o indivíduo, para depois retornar na idade adulta, quando, em geral, persiste até o fim da vida FISIOPATOLOGIA: - Não se sabe ao certo o que causa a asma, mas as evidências indicam que diferentes mecanismos etiopatogênicos podem ser operantes, ou seja, trata-se de uma condição heterogênea. Isso faz com que sejam descritos os fenótipos asmáticos ASMA ALÉRGICA (“EXTRÍNSECA”) - Forma predominante (80% dos casos) - Geralmente se inicia na infância em pacientes com história pessoal ou familiar de atopia (eczema, rinite, alergia a alimentos ou medicamentos) - A via aérea é infiltrada por eosinófilos e a resposta ao corticoide inalatório costuma ser excelente ASMA NÃO ALÉRGICA (“INTRÍNSECA”) - Tem início tardio e não está associada à atopia - A infiltração da via aérea pode ser por neutrófilos, eosinófilos ou mesmo ter pouca celularidade - A resposta ao corticoide inalatório tende a ser menor ASMA COM OBSTRUÇÃO AÉREA FIXA: - É a asma de qualquer tipo, com longa duração e tratamento inadequado ASMA RELACIONADA À OBESIDADE: - O aumento do IMC aumenta a prevalência da asma - A perda ponderal pode melhorar o quadro NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 3 FATORES DE RISCO PARA ASMA: Atopia principal fator de risco mais de 80% dos asmáticos são atópicos, mas nem todos os atópicos são asmáticos Genética Alérgenos Ocupação asma ocupacional Obesidade PATOLOGIA: - A principal alteração patológica da asma é a existência de um processo inflamatório crônico nas vias aéreas inferiores - Trata-se de um tipo especial de inflamação, marcado pela infiltração da mucosa principalmente por linfócitos Th2, eosinófilos e mastócitos - A intensidade da infiltração celular NÃO tem correlação direta com a gravidade da doença, porém, tanto as alterações patológicas quanto os sinais e sintomas clínicos melhoram com o uso de corticoide inalatório - Apesar de seus exatos mecanismos ainda não terem sido totalmente esclarecidos, sabe-se que esse tipo de processo inflamatório crônico se relaciona com a HIPER-REATIVIDADE BRÔNQUICA que caracteriza a asma - A inflamação se acompanha de uma resposta regenerativa que, quando persistente, leva ao remodelamento brônquico - Como vimos, a principal alteração fisiopatológica da asma é a obstrução variável e reversível ao fluxo aéreo, que ocorre de forma predominante na fase EXPIRATÓRIA da respiração. Isso acontece principalmente devido ao broncoespasmo (contração da musculatura lisa brônquica), mas também em consequência ao edema da mucosa e à hipersecreção de muco no lúmen da via aérea - O parâmetro espirométrico mais afetado é o Volume Expiratório Forçado no 1º segundo (VEF1) que diminui subitamente - A relação VEF1/CVF (índice de Tiffeneau) se reduz, atingindo a faixa dos distúrbios obstrutivos da ventilação (<0,75-0,80 em adultos ou < 0,90 em crianças) - A resistência das vias aéreas aumenta, e pode ocorrer hiperinsuflação pulmonar (aprisionamento aéreo), com aumento do volume residual pulmonar 2. ENTENDER O QUADRO CLÍNICO E O DIAGNÓSTICO DA ASMA. QUADRO CLÍNICO: Sibilos Dispneia Tosse Chiado Quadro recorrente NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 4 DIAGNÓSTICO: - Quadro clínico + espirometria - Espirometria é o método de escolha para diagnóstico PRINCIPAIS CRITÉRIOS CONFIRMATÓRIOS DE ASMA: - Relação VEF/CVF < 0,75-0,8 em adultos ou < 0,9 em crianças e... PROVA BRONCODILATADORA Adultos aumento do VEF1 > 12% e > 200ml em relação ao basal Crianças aumento do VEF1 > 12% do previsto - Na prova broncodilatadora ministra-se um agonista beta-2 adrenérgico inalatório de curta ação, como o salbutamol, medindo-se o VEF1 10-15 min depois. Se o paciente já estiver em uso de agonistas beta-2 adrenérgicos deve-se suspender a medicação pelo menos 4h antes no caso dos agentes de curta ação ou 12h antes no caso dos agentes de longa ação MÉTODOS DE IMAGEM: - Métodos radiográficos, como rx ou TC de tórax costumam ser normais na asma, e também não são capazes de confirmar o diagnóstico da doença - No entanto, podemos solicitá-los caso se suspeite de complicações como pneumotórax, pneumonia ou infiltrados eosinofílicos nos portadores de aspergilose broncopulmonar alérgica - Nas crises de broncoespasmo grave pode haver hiperinsuflação pulmonar (retificação das cúpulas diafragmáticas, aumento dos espaços intercostais) 3. COMPREENDER O TRATAMENTO BASEADO NOS NÍVEIS DE CONTROLE E DEFINIR A GRAVIDADE DA ASMA. AVALIAÇÃO DA ASMA: - Deve-se sempre avaliar: 1) Grau de controle dos sintomas 2) Risco de eventos adversos futuros GRAU DE CONTROLE DOS SINTOMAS: - Nas ultimas 4 semanas Sintomas diurnos mais de 2x por semana? Algum despertar noturno por causa da asma? Necessidade de medicação de resgate mais de 2x por semana? Alguma limitação nas atividades por causa da asma? - Asmacontrolada nenhuma resposta positiva - Asma parcialmente controlada 1-2 respostas positivas NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 5 - Asma não controlada 3-4 respostas positivas RISCO DE EVENTOS ADVERSOS FUTUROS: - Para avaliar, precisamos da espirometria (quantificação do VEF1) - Recomenda-se que sempre que possível, uma espirometria seja feita antes do início do tratamento (no momento do diagnóstico), repetindo-a após 3-6 meses de tratamento de controle e periodicamente a partir daí - De um modo geral, todos os asmáticos devem repetir a espirometria no mínimo a cada 1-2 anos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 6 CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE: - É feita de forma retrospectiva só pode ser estabelecida após o paciente estar com a doença sob controle utilizando a menor dose efetiva do tratamento de manutenção TRATAMENTO: OBJETIVOS: - O tratamento crônico da asma possui 2 objetivos principais: 1) Supressão dos sintomas, permitindo ao paciente levar uma vida o mais normal possível 2) Diminuição dos riscos futuros, que incluem o risco de exacerbações, o risco de desenvolver obstrução fixa ao fluxo aéreo (perda irreversível de função pulmonar) e o risco de efeitos colaterais do tratamento NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 7 - Incluem-se medidas farmacológicas e não farmacológicas - As drogas antiasmáticas se enquadram em 3 categorias: 1) Terapia de controle deve ser usada diariamente, tendo como efeito a redução da inflamação nas vias aéreas inferiores. Propicia o controle dos sintomas e diminui riscos futuros (exacerbações e perda de função pulmonar). A principal droga é o Corticoide Inalatório. 2) Terapia de resgaste combater eventuais sintomas que “escapam” ao tratamento de controle. O ideal é que o paciente não precise da terapia de resgate em nenhuma circunstância. A principal droga é o SABA 3) Terapias adicionais para portadores de asma grave e refratárias medicamentos especiais cuja prescrição está restrita aos casos em que os pacientes utilizam a terapia de controle em dose máxima e mesmo assim permanecem sintomáticos. É feita de forma individualizada. A estratégia obedece a uma ESCADA TERAPÊUTICA na qual a intensidade do tratamento de controle é ajustada em função da resposta clínica (observada após 2-3 meses de tratamento) CRITÉRIOS DE ESCOLHA DA TERAPIA MEDICAMENTOSA: NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 8 4. DISCUTIR MEDIDAS PREVENTIVAS, COM ÊNFASE NO CONTROLE AMBIENTAL E VACINAÇÃO. - Uma vez identificados os gatilhos das crises de asma, o paciente deve fazer de tudo para eliminá-los de sua vida. Quando eliminação não é possível, devemos ao menos tentar reduzir a exposição a tal alérgeno: Em casa, o paciente deve evitar ter carpetes, cortinas de tecido, sofás cobertos por tecido e bichos de pelúcia, além de evitar ter animais domésticos . A roupa de cama deve ser lavada com água quente pelo menos uma vez por semana e a casa aspirada na mesma frequência. Use roupa de cama com tecido antialérgico, principalmente no travesseiro e nas almofadas. NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 9 Evite dormir nos cômodos da casa que sejam mais úmidos. Uma umidade abaixo de 50% é a ideal. Evite ter animais domésticos. Não faça exercícios ao ar livre em dias muito frios. Evite contato com cigarro (IMPORTANTE!) Evite produtos que tenham forte odor. Evite locais com maior concentração de pólen no ar. - Com relação à Vacinação recomenda-se que os asmáticos recebam anualmente a vacina contra a gripe (Influenza).
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