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A crise epiléptica é a ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas devidos à atividade neuronal anormal excessiva ou síncrona no córtex cerebral. Pode ser provocada (insulto agudo ao cérebro, como AVE ou hiponatremia/hipoglicemia) e não provocada (quando não existe esse insulto). Epilepsia é a tendência patológica e duradoura a apresentar crises epilépticas. Crises focais (parciais) Ativação inicial de sistema de neurônios limitada a uma parte de um hemisfério cerebral. São dividas em parciais simples (ou focais sem perda de consciência) e parciais complexas (focais com perda de consciência). Ambas podem apresentar manifestações motoras e não motoras associadas, bem como podem evoluir para crises secundariamente generalizadas. Podem ser perceptivas (início motor) e disperceptivas (início não motor). – Crises parciais complexas temporais: o paciente costuma apresentar automatismos orais e manuais ipsilaterais, olhar fixo e postura diatônica contralateral. Geralmente há uma aura com mal-estar epigástrico ascendente ou eventos cognitivos complexos, como sensação de medo, deja-vu, alucinações olfativas ou gustativas. Paciente perde a consciência com postura de olhos bem abertos sem interagir com o meio por 30 segundos. Também é observada confusão pós- ictal por alguns minutos. A causa mais comum é esclerose mesial temporal. – Focais temporais: curta duração e a tendencia a ocorrer durante o sono. Manifestam-se como atividade motora involuntária clônica do lado contraletral quando o córtex motor primário é acometido e como posturas tônicas assimétricas (“posição do esgrimista”) quando acomete a área motora suplementar. Pode haver comportamentos hipermotores bizarros (pedalar ou automatismos sexuais) que podem lembrar eventos psicogênicos. – Focais parietais (incomum): mal caracterizadas. Podem se apresentar como sintomas sensitivos contralaterais. – Focais occipitais (incomuns): manifestações visuais como imagens distorcidas, flashes de luz ou alucinações visuais complexas. Crises generalizadas As primeiras manifestações clínicas indicam o envolvimento inicial de ambos os hemisférios cerebrais. Uma característica marcante dessas crises é o comprometimento do nível de consciência. Fatores envolvidos na epileptogênese: • Eventos intrínsecos da membrana de determinadas células; • O grau de desinibição da população neuronal; • Presença de circuitos recorrentes excitatórios; • Modulação da concentração de íons transmissores no espaço intercelular; • Presença de interações elétricas entre os neurônios. As crises epilépticas podem ser convulsivas ou não convulsivas. Define-se convulsão como sendo a manifestação motora (abalos ou contração muscular) de uma crise epiléptica. Além disso, nem toda convulsão é crise epiléptica (ex: crise não epiléptica psicogênica), assim como nem toda crise epilética representa epilepsia (ex: hipoglicemia, meningite, etc). – Tônico-clônica generalizada: perda súbita do nível de consciência muitas vezes associada a um grito seguido por rigidez e, posteriormente, abalos clônicos dos membros com duração de poucos minutos. Pode haver cianose, mordedura de língua e liberação esfincteriana. Após o quadro motor, há a fase pós-ictal (vários minutos com sonolência excessiva, agitação psicomotora ou confusão mental). – Crise de ausência: típica da infância e caracterizada por perda de consciência de breve duração (5 a 10 minutos), com olhar fixo aberto e indivíduo praticamente imóvel. – Epilepsia mioclônica juvenil: síndrome epilética generalizada iniciada geralmente em adolescentes. Combinação clínica variável e de convulsão tônico-clônica generalizada, ausência e, particularmente, mioclonias (abalos amplos e breves dos membros). – Outras: crises clônicas, mioclôncas, tônicas ou atônicas. São consideradas crises não classificadas aquelas que não se enquadram em nenhum dos tipos anteriores. Não são consideradas epilepsia. São provocadas por fatores transitórios que diminuem o limiar para crises epilépticas atuando em cérebro sadio. Epilepsia ou crise epiléptica não é um diagnóstico final, devendo sempre ser procurada a causa originária do quadro. – Genética: síndromes epiléticas de início na infância. – Estrutural: AVC, trauma craniano, tumor. – Metabólica: hipoglicemia, sepse, distúrbio eletrolítico e ácido-base, uremia, intoxicações, abstinência. – Autoimune: encefalites imunomediadas. – Infecciosa: meningoencefalites, abscesso, HIV, tuberculose, neurocisticercose. – Idiopática. Deve ser lembrada como causa extremamente frequente de escape de crises epilépticas a má aderência ao uso do tratamento com antiepilépticos. • Síncope • Crises não epilépticas psicogênicas • Ataques de pânico ou de hiperventilação • Distúrbios do movimento: coreia, balismo, distonias, blefaroespasmos, espasmo hemifacial, tiques, síndrome startle (susto) • Mioclonia benigna neonatal/da infância • Vertigem • Mioclonia do sono • Distúrbio do sono: terror noturno, distúrbio do sono REM, narcoepilepsia, paralisia do sono • Migrânea com aura • Ataque isquêmico transitório • Arritmias cardíacas • Distúrbios metabólicos • Doenças cerebrovasculares • TCE • Infecção do SNC • Doenças autoimunes envolvendo o SNC • Drogas: álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos, drogas ilícitas, etc • Crises febris • Distúrbios metabólicos Avaliação da primeira crise ou escape de crise convulsiva: glicemia, hemograma, função renal, função hepática, urina 1 e, eventualmente, exames toxicológicos. Pode revelar a presença de biomarcadores da epilepsia que são as descargas ou paroxismos epileptiformes. Exame de baixa sensibilidade (muitos pacientes com epilepsia e exame normal). Todos os pacientes com epilepsia devem ser submetidos a TC ou RNM de crânio, exceto aqueles com formas típicas de epilepsia generalizada primária. Existem duas situações básicas para realização de exames de neuroimagem em pacientes com epilepsia: indivíduos com diagnóstico recente e pacientes com epilepsia de difícil controle. As drogas antiepiléticas (DAE) nesse caso são indicadas em monoterapia se: pacientes com anormalidades epileptiformes no EEG, lesão estrutural em imagem de crânio, alteração focal no exame neurológico, crise convulsiva durante o sono, pacientes com duas ou mais crises epiléticas pelo risco de recorrência. Os DAE são divididos em amplo (crises focais e generalizadas) e curto espectro (crises focais). • Amplo espectro: valproato, lamotrigina, levetiracetam e clabazam. • Curto espectro: carbamazepina, fenitoína, fenobarbital, gabapentina e lacosamida. Isso é importante, pois caso o médico inicie medicação de curto espectro para um paciente com epilepsia generalizada, há possibilidade de piora do quadro. Indutores enzimáticos (fenitoína, fenobarbital, carbamazepina) são os fármacos com maior interação medicamentosa, principalmente com ACO, varfarina e quimioterápicos. Pacientes nefropatas devem evitar medicações com excreção renal, como gabapentina, Topiramato, levetiracetam e lacosamida. Pacientes hepatopatas não devem fazer uso de medicações com metaboslimo hepático, como valproato, fenitoína e carbamazepina. Nas crises epiléticas sem etiologia definida ou nas que não se encaixam em síndromes específicas, os fármacos podem ser utilizados conforme a clinica e o padrão do EEG. Sete passos na escolha da medicação: • Confirmar o diagnóstico • Determinar o tipo de crise • Escolher a DAE mais eficaz • Considerar as comorbidades • Considerar a velocidade e a facilidade de introdução da medicação • Avaliar o potencial para aderência • Considerar o custo da medicaçãoPacientes com epilepsia refratária após introdução de uma primeira DAE em dose adequada podem se beneficiar de um segundo antiepiléptico em combinação. Caso a refratariedade persista, deve ser considerada avaliação em centro terciário especializado em epilepsia para análise de terapias avançadas, como dieta cetogênica, estimulador vagal ou neurocirurgias específicas. Novos DAE como lamotrigina, levetiracetam e lacosamida apresentam menor potencial de interação com outras medicações, sendo isso particularmente importante para pacientes que usam anticoagulantes orais ou ACOs. É uma emergência médica, caracterizada pela permanência de crise convulsiva por mais de cinco minutos ininterruptos (ou duas crises de duração menor, mas com recuperação incompleta e consciência entre elas). As principais explicações para a persistência de uma crise epiléptica prolongada são relacionadas à não eficácia do efeito inibitório do neurotransmissor GABA e canais de potássio para cessar o evento epiléptico. Os pacientes apresentam manifestações motoras características que variam de acordo com o tipo de crise. Aqueles com estado de mal generalizado apresentam atividade motora bilateral tônico- clônica e perda de consciência. Pacientes em estado de mal focal motor podem apresentar abalos restritos a uma área do corpo, geralmente com consciência preservada. O diagnóstico é clínico! O EEG ode auxiliar a diferenciar os tipos de crise. Rápida avaliação neurológica para determinar o tipo de crise e sua etiologia, se possível. Garantir via aérea, ventilação e circulação -> MOVE. Exames laboratoriais: eletrólitos, glicose sérica e glicemia capilar, estudos toxicológicos, níveis séricos de DAEs. Esses passos devem ser realizados em no máximo 5 minutos! Independente dos exames, o tratamento com DAEs deve ser realizado de emergência. Corrigir eventuais fatores identificados na investigação laboratorial. BZP para cessar imediatamente o evento > Diazepam EV 10-20mg Em seguida, medicação IV para profilaxia de novas crises (fenitoína ácido valproico ou levetiracetam). Se o quadro persistir > IOT + sedação contínua IV (Midazolam, propofol, pentobarbital). É definida como uma síndrome convulsiva acompanhada por febre (T > 37,8°C por qualquer método de medida). Ocorre predominantemente em crianças com mais de 1 mês de vida, com pico de incidência entre os 14 e 18 meses, sem evidencia de infecção ou inflamação do SNC, alteração metabólica e sem história prévia de crise convulsiva. A etiologia do processo infecção não parece ser determinante. • Os vírus são os mais envolvidos por serem os principais agentes responsáveis por febre nessa faixa etária. • Comum associação com exantema súbito (roséola). Convulsão febril pode ser simples (começo de doenças febris e curta duração) ou complexas. Clínico, identificando o tipo de crise, o possível foco da febre e afastando infecção do SNC e outras crises sintomáticas agudas. Pesquisar intercorrências durante a gestação e o período neonatal, comorbidades, uso de drogas e traumas. Se a crise convulsiva for simples, não há necessidade de exames laboratoriais (só se precisar para pesquisar o foco da febre). Punção lombar só na suspeita de infecção do SNC, lactentes < 6 meses ou na ausência de vacinação para os agentes etiológicos possivelmente envolvidos. Toda criança que chega ao PS ainda convulsionando é considerada como estado de mal epiléptico, devendo ser tomadas medidas para a cessação da crise. Deve-se, inicialmente, acalmar os familiares e alertar quanto à benignidade do quadro da crise convulsiva febril. É importante abordar a possibilidade de recorrência e o risco levemente aumentado de se desenvolver epilepsia no futuro, mas sempre com o objetivo de que a criança leve uma vida normal. Durante a crise: tentar manter a calma, proteger a criança contra traumas, posicioná-la lateralmente para prevenir aspiração de saliva e monitorar o tempo de crise. O uso de antitérmicos não previne a recorrência das crises. A profilaxia secundária com anticonvulsivantes não se justifica nas crises convulsivas febris simples, devendo ser considerada apenas na convulsão febril complexa e na presença de fatores de risco para recorrência e epilepsia.
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