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Doença das vias biliares 1 Doença das vias biliares INTRODUÇÃO Na ampola de Vater, fica o esfíncter de Oddi, o qual relaxa após a alimentação e permite o escoamento do conteúdo bílio-pancreático para o intestino. Triângulo de Calot: borda hepática, ducto hepático comum e ducto cístico. Dentro passa a artéria cística. Nessa região, fica o linfonodo de Mascagni. COLELITÍASE Presença de cálculos dentro da vesícula. Tipos de cálculo: Amarelo: formado dentro da vesícula. Provocado por estase biliar (colesterol precipita e forma o cálculo). É o mais comum. Doença das vias biliares 2 Associação com dislipidemia, mulheres (estrógeno → mais colesterol), obesidade, > 40 anos, cirurgia bariátrica (pelo processo de emagrecimento → lipólise, colesterol cai no sangue e vai pras vias biliares). Preto: formado dentro da vesícula. Hemólise crônica (anemia falciforme, esferocitose → maior quantidade de bilirrubina indireta). Forrmado por bilirrubinato de cálcio. Mais perigoso. Indica remoção da vesícula. Castanho: formado dentro do colédoco. Relacionado a infecção da via biliar (coledocolitíase primária). Secundária é quando o cálculo é formado na vesícula e vai para o colédoco. Quadro clínico: assintomático (80% dos casos). Pode haver cólica biliar (dor em HCD, transitória - <6h, é uma dor que vai melhorando). Pode estar associado a alimentação gordurosa. A cólica biliar, nesses casos, é transitória, pois o cálculo obstrui, mas volta pra dentro da vesícula, cessando a dor. Diagnóstico: USG de vias biliares → imagem hiperecogênica + sombras acústicas. Tratamento: acompanhamento clínico. Indicações cirúrgicas: Doença das vias biliares 3 Sintomas característicos de cólica biliar (afastadas outras causas); Paciente assintomático com cálculos grandes (>2,5-3cm) Os cálculos grandes podem favorecer o CA vesicular. Tem baixo risco de levar à pancreatite, diferente dos cálculos pretos. Presença de cálculo preto (hemólise) Vesícula em porcelana (calcificação da parede da vesícula) Anomalias congênitas Pólipo + cálculo. Pólipo isolado se >1cm ou se >50-60 anos e crescimento. A via preferencial é videolaparoscópica (cirurgia limpa-contaminada → fazer ATBprofilaxia). Algumas referências trazem a via aberta como preferencial nos casos de pólipos. COLECISTITE AGUDA Fisiopatologia: o cálculo, geralmente amarelo (de colesterol), é formado na vesícula e, pelos seus movimentos de peristaltismo, obstrui a saída do órgão, seja do infundíbulo seja do ducto cístico. A vesícula vai distendendo, dificultando a vascularização → processo inflamatório → infecção. Quadro clínico: febre + dor no HCD (>6h) + sinal de Murphy (interrupção da inspiração à compressão do ponto cístico) + leucocitose (ou não). Paciente pode ter história de cólica biliar de repetição (paciente vai falar que já teve essa dor antes, mas antes passava e agora não tá melhorando). Doença das vias biliares 4 Para ter icterícia, a obstrução deve ocorrer no ducto biliar principal. Em alguns casos, na fase inicial da colecistite aguda, pela distorção da anatomia, pode haver uma icterícia leve e transitória. Diagnóstico: USG de vias biliares (melhor exame) e cintilografia das vias biliares com Tc HIDA (padrão-ouro, mas não é realizado rotineiramente). Durante à USG, pode-se realizar o sinal de Murphy ultrassonográfico, sendo a compressão realizada pelo transdutor. USG: paredes espessadas (> 4mm), coleção pericolecística (edema, borramento), sombra acústica + distensão). Verde → parede espessa Vermelho → edema Azul → sombra acústica Doença das vias biliares 5 Tratamento: internação + hidratação + analgesia + ATBterapia (leve → até 24h) + colecistectomia videolaparoscópica (idealmente com <72h, mas pode operar até 7 dias). >7 dias → esfriar o processo inflamatório (ATB → CVL em 8 semanas). Se o paciente não tolera cirurgia (ex: instabilidade), realizar colecistostomia (drenagem da bile de forma percutânea através do fígado). ATB: amoxi+clavu ou cef+metro. Tokyo Guideline (TG-18): Diagnóstico → clínica + laboratório + imagem | Suspeita diagnóstico = A + B | Diagnóstico = A + B + C. A) Sinais de inflamação local: Murphy+, dor em QSD, massa. B) Sinais de inflamação sistêmica: febre, leucocitose, aumento da PCR. C) Achados ultrassonográficos. Classificação: Grau III (grave): disfunção orgânica. Grau II (moderado): sem disfunção + algum dos achados: Leucocitose > 18.000 Massa palpável e dolorosa em QSD Evolução > 72h Sinais de complicação local Grau I (leve): ausência de critérios para moderada e grave. Tratamento: Grau I (leve): CVL + ATB 24h. Grau II (moderado): CVL em centro especializado. Grau III (grave): conservador até a correção da disfunção. Após estabilizar, CVL por cirurgião experiente. Doença das vias biliares 6 Complicações: Colecistite enfisematosa: presença de gás produzido pelas bactérias na parede da vesícula biliar. É mais grave e geralmente ocorre em imunossuprimidos (DM, idosos). O melhor exame é a TC de abdome (USG não vê gás). Bactéria: Clostridium perfringers. Perfil clássico: homem diabético Colecistite alitiásica: estase biliar, gerando isquemia. Paciente NPT, grande queimado, VM e instável (paciente que tá em dieta zero muito tempo). UTI + febre + leucocitose inexplicada. Pedir USG (mesmos achados da colecistite aguda, mas sem o cálculo). Se paciente estável → colecistectomia. Se paciente instável → colecistostomia percutânea. Fístula biliar: inflamação perfurando a vesícula. Fístula colecistobiliar (Síndrome de Mirizzi) → obstrução do ducto hepático comum por cálculo no infundíbulo. Icterícia progressiva → colangite de repetição. Solicitar CPRE ou CTP → dilatação intra-hepática acima do ponto cístico. Tratamento → Classificação de Csendes. I) Obstrução sem fístula → colecistectomia + colangiografia. II) Fístula de até 1/3 da circunferência → rafia + dreno de Kehr. III) Fístula de até 2/3 da circunferência → coledocoplastia + dreno de Kehr. IV) Fístula de > 2/3 da circunferência → derivação biliodigestiva. V) Fístula colecistoentérica → colecistectomia + enterotomia. COLEDOCOLITÍASE Pode ocorrer após CVL, devido à manipulação da vesícula, sendo classificada de acordo com o surgimento da icterícia: Até 2 anos pós-CVL → residual. Depois de 2 anos pós-CVL → recorrente ou primária. Doença das vias biliares 7 Quadro clínico: os pacientes podem ser assintomáticos (50% dos casos). Quando sintomático, icterícia isolada e flutuante (vai e volta de acordo com os esforços do colédoco em empurrar o cálculo). Abordagem: quanto mais provável a chance de ser coledocolitíase, mais agressiva será a abordagem. Alto risco: USG com cálculo no colédoco, icterícia flutuante → CPRE (diagnóstico + terapia). Médio risco: USG com colédoco > 5mm + 2 de: HP de colecistite, pancreatite ou colangite ou elevação de bilirrubinas, FA ou transaminases → colangio-RM. Baixo risco: idem ao médio + colédoco < 5mm → colangio intra-operatória. Muito baixo risco: CVL. Nenhum fator para se suspeitar do diagnóstico. CPRE → você enxerga o endoscópio. Colangio-RM → não vê osso. Colangio intra-operatório → você enxerga materiais cirúrgicos. Cirurgia: colédoco > 1,5-2cm + múltiplos cálculos (>6 cálculos) ou litíase intrahepática ou coledocolitíase primária → derivação biliodigestiva. COLANGITE BACTERIANA AGUDA Causada principalmente por coledocolitíase. Doença das vias biliares 8 Coledocolitíase + colecistite (infecção) = colangite. Quadro clínico: tríade de Charcot (febre cm calafrios + icterícia + dor em HCD → colangite não complicada) e pêntade de Reynolds (Charcot + rebaixamento + hipotensão → colangite supurada, grave, complicada). Laboratório: hiperbilirrubinemia direta + aumento de FA/GGT + leucocitose com desvio à esquerda. Abordagem: Tríade de Charcot → ATBterapia + CPRE eletiva. Pêntade de Reynolds → ATBterapia + CPRE de urgência ou drenagem deurgência. ATB → cipro/cef + metro ou amoxi+clavu. Tokyo Guideline (TG-18): Diagnóstico → clínica + laboratório + imagem | Suspeita diagnóstico = A + B ou C | Diagnóstico = A + B + C. A) Sinais de inflamação sistêmica: febre, achados laboratoriais. B) Colestase: icterícia, alteração na função hepática. C) Imagem: dilatação ou evidência de obstrução (cálculo, tumor, estenose). Classificação: Grau III (grave): disfunção orgânica (pêntade). Grau II (moderado): sem disfunção + ≥ 2 dos achados: Leucocitose > 12.000 ou < 4.000 Febre > 39°C Doença das vias biliares 9 Idade ≥ 75 anos Hiperbilirrubinemia: BT ≥ 5mg/dL Hipoalbuminemia Grau I (leve): ausência de critérios para moderada e grave (Charcot). Tratamento: Grau I (leve): ATB ou drenagem para os pacientes refratários. Grau II (moderado): ATB + drenagem de urgência. Grau III (grave): ATB + drenagem de emergência. PRESCRIÇÃO - 70kg 1) Dieta zero; 2) Hidratação: RL 500mL 6h/6h + KCl 19,1% 1 ampola (10mL) a cada 500mL + SG 50% 5 ampolas a cada 500mL; 3) Tazocin 4,5g 6h/6h; 4) Morfina 10mg/mL + 9mL de SF 0,9% → 3mL 6h/6h ou SOS (exemplo de analgesia); 5) Ondasetrona 4mg EV 8h/8h; 6) Enoxaparina 40mg SC 1x/dia; 7) Omeprazol 1 ampola 1x/dia tomar de manhã em jejum; 8) Monitorização.
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