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DISPLASIA DE DESENVOLVIMENTO DE QUADRIL (DDQ) “O termo “displasia” em ortopedia significa desenvolvimento anormal de um osso que, durante o processo de maturação, se torna deformado. “ DEFINIÇÃO • Termo genérico que descreve uma ampla faixa de anormalidades anatômicas do quadril, congênitas ou desenvolvidas durante a infância. • É uma afecção em que não há grandes alterações da articulação coxofemoral no RN, sendo mais a expressão de uma instabilidade que permite que a cabeça femoral se encaixe e se desencaixe parcialmente do acetábulo sob ação dos movimentos. EPIDEMIOLOGIA Muitas crianças ao nascer (1:100) apresentam uma instabilidade da articulação do quadril, por frouxidão ligamentar, predispondo a luxação ou subluxação subsequente. Mais comum nas meninas (9:1) Raro em negros BRASIL: maior incidência nos Estados do Sul É mais comum do lado esquerdo (60% dos casos) - causada pela posição do feto dentro do útero. É bilateral em 20% das crianças afetadas DOS CASOS DE INSTABILIDADE DO QUADRIL: • 60% evoluem com estabilização na 1ª semana • 90% nos primeiros 2 meses de vida • 10% desenvolvem subluxação, displasia ou mesmo luxação (luxação = 1/1000 RN) CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICADA EM 3 TIPOS, SEGUNDO HARTOFILAKIDIS QUADRIL DISPLÁSICO A cabeça femoral está contida dentro do acetábulo original, apesar do grau de subluxação LUXAÇÃO BAIXA A cabeça femoral articula com um falso acetábulo, que cobre parcialmente o verdadeiro em grau variável LUXAÇÃO ALTA A cabeça femoral está completamente fora do acetábulo verdadeiro e com migração superior e posterior em grau variável CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO NELSON DE PEDIATRIA • TÍPICA: a mais comum • TERATOLÓGICA: quando associada a problemas neurológicos, como espinha bífida e a artrogripose. Neste caso, a luxação é sempre congênita e o prognóstico muito pior. FATOR DE RISCO • Apresentação pélvica – especialmente o modo de nádegas • Gemelares • Primogênito • Oligodrâmnio • Joelho estendido intraútero • Sexo feminino • Interferência de hormônios maternos (RELAXINA E ESTRÓGENO) Manter a criança com os membros inferiores estendidos e aduzidos sem dúvida aumenta muito esta chance. Até o jeito com que a pediatra segura pela primeira vez o recém- nascido, pelas pernas, de cabeça para baixo, provoca súbita extensão e adução do quadril, com eventual deslocamento na criança suscetível. ETIOLOGIA • Hiperlassidão ligamentar • Excessiva antiversão femoral • Antiversão e/ou deficiência acetabular • Má posição intrauterina FISIOPATOLOGIA Displasia do desenvolvimento do quadril → envolve → deformação progressiva dos ossos do quadril → provocando → • Defeitos no fêmur proximal (anteversão exagerada) • Na cápsula articular (que se torna hipertrofiada e alongada) • Nos músculos iliopsoas e adutores (contratura) • Acetábulo (se torna mal direcionado e surge um falso acetábulo que articula a cabeça femoral luxada QUADRO CLÍNICO DO NASCIMENTO AOS 6 MESES DE IDADE • Assimetria das pregas nas coxas e na região poplítea • Encurtamento aparente do fêmur, sinal de Galeazzi positivo • Pregas inguinais normais • Assimétricas, positivo à esquerda, estendendo-se posterior e lateralmente à abertura anal. O lado direito é normal. • Positivo à direita • Bilateral, sugerindo luxação posterior bilateral do quadril DIAGNÓSTICO DE INSTABILIDADE → teste de Barlow DIAGNÓSTICO DE LUXAÇÃO → teste de ortolani DOS 6 MESES AOS 12 MESES DE IDADE Teste de ortolani pode ser negativo nas luxações pré-natais ou teratológicas e nas de diagnóstico tardio. AUMENTO DAS ALTERAÇÕES ANATÔMICAS NA ARTICULAÇÃO: • Limitação progressiva da abdução do quadril • Encurtamento aparente da coxa (SINAL DE GALEAZZI) • Postura em rotação externa, com o quadril e o joelho em extensão APÓS A MARCHA CLAUDICAÇÃO DEVIDO À • Fraqueza do músculo glúteo médio • Pelo encurtamento aparente do membro afetado EM POSIÇÃO ORTOSTÁTICA: SINAL DE TRENDELENBURG + • Lordose lombar excessiva • Abdome protuberante • Trocanter maior proeminente ADULTO • Muitos podem ser assintomáticos • Fadiga muscular (abdutores) em caminhadas longas • Estalidos articulares • Dor – inguinal, lateral, irradiada para coxa e joelho • Sinal do C – paciente coloca sua mão ao redor do quadril para tentar localizar a dor EXAME FÍSICO: • Inclinação pélvica • Escoliose • Claudicação • Marcha antálgica • Sinal de Trendelemburg • Amplitude de movimento normal ou aumentada DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO PRECOCE (0 A 3 MESES) diagnóstico → deve ser o mais precoce possível Desde que realizado antes dos três meses de vida, o êxito do tratamento tem alta porcentagem de sucesso. Tanto a luxação, a subluxção como a simples instabilidade articular (frouxidão) devem ser prontamente reconhecidas pelo exame rotineiro de todo recém-nascido e de crianças de até três meses de vida. PRIMEIRO EXAME A SER FEITO VERIFICA SE O QUADRIL JÁ ESTÁ LUXADO. MANOBRA DE ORTOLANI: faz-se uma abdução do quadril (“abrir a perna”) ao mesmo tempo que tracionamos a coxa para cima. Se o examinador observar pela palpação uma espécie de “clique” (da cabeça femoral voltando para seu lugar no acetábulo), o teste é positivo, confirmando o diagnóstico de luxação congênita do quadril. Valor preditivo: 2 meses NO EXAME FÍSICO DO QUADRIL LUXADO: podemos ainda observar assimetria das pregas cutâneas dos membros inferiores, um excesso de rotação externa e uma dificuldade em abduzir o membro inferior afetado. Valor preditivo: 2 meses MANOBRA DE BARLOW (avalia se o quadril é luxável): com a criança em decúbito dorsal, o examinador faz uma adução da coxa enquanto força-a para baixo. Se houver instabilidade, isto provocará uma luxação, sentida pela palpação pelo “clique” → seja sutil, não provoque luxação iatrogênica DE 3 A 18 MESES As manobras anteriores não têm mais efeito, agora predomina a contratura em adução do quadril. Percebemos a limitação da abdução e circundação (movimento composto) do quadril, além de um encurtamento do membro inferior. O SINAL DE GALEAZZI (OU DE ALLIS) é a altura inferior do joelho do lado afetado quando a criança está em decúbito com as coxas e os joelhos fletidos, devido ao deslocamento posterior da cabeça femoral, discrepância aparente dos MMII. (Pseudo encurtamento da coxa pela luxação do quadril correspondente) A MANOBRA DA TELESCOPAGEM costuma ser positiva: consiste em segurar firmemente a coxa e o joelho da criança com uma das mãos e, com a outra no quadril, realizar uma manobra de puxar e empurrar, percebendo-se o movimento excessivo do trocânter. APÓS OS 12 MESES Na fase de deambulação, verificaremos a alteração da marcha, que se apresenta claudicante, tipo gingado de pato (o tronco balança para o lado afetado) e o sinal de Trendelenburg: ao ficar de pé no membro inferior afetado o quadril cai para o lado oposto e o tronco desvia-se para o lado afetado. O paciente apresentará também, excesso da rotação externa do membro acometido e lordose lombar excessiva. EXAME DE IMAGEM ULTRASSONOGRAFIA (padrão ouro) RN ATÉ OS 6 MESES DE VIDA • Quadril é bem avaliado pela USG Identifica estruturas cartilagíneas do acetábulo, da cabeça e do colo do fêmur. 2 MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO DO QUADRIL: ESTÁTICO DE GRAF: analisa o fêmur proximal e o contorno da pelve – displasia cartilagínea DINÂMICO DE HARCKE: permite o exame dinâmico, com quadril em movimento, fundamentado nas manobras de Barlow e Ortolani (mede a estabilidade do quadril) INDICAÇÕES DE ULTRASSONOGRAFIA DO QUADRIL DO RN 1- Com Ortolani positivo, para avaliar e classificar o grau de displasia 2- Em Ortolani duvidoso, para estabelecer o diagnóstico 3- Presença de fatores de risco 4- Apresentação pélvica RADIOGRAFIA Bom a partir dos 4 meses → A partir desta idade começa a aparecer um pequeno núcleo de ossificação. Difícil execução e interpretação LINHA DE HILGENREINER:é uma reta horizontal traçada entre as cartilagens do acetábulo, utilizada para comparar a altura das epífises femorais LINHA DE PERKINS: reta traçada perpendicularmente á primeira, tangenciando o rebordo ósseo lateral do acetábulo Essas 2 linhas formam os 4 quadrantes de OMBREDANE ÍNDICE ACETABULAR: Ângulo formado pela linha de hilgenreiner e uma segunda linha traçada no teto acetabular (se ângulo > 30º → displasia acetabular) O atraso no aparecimento do núcleo de ossificação da epífise femoral, entre o terceiro e sexto mês de vida, leva à suspeita de DDQ. ARTROGRAFIA Definição dos limites da cápsula e por mostrar se ela está ou não aderente à parede lateral do íleo ou do acetábulo. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA Apenas para controle terapêutico Não é empregada como método diagnóstico RESSONÂNCIA MAGNÉTICA INDICADA APENAS PARA: • Estudo da cartilagem e dos tecidos moles • Diagnóstico precoce de impacto femoroacetabular • Lesão do lábio como decorrência de má evolução ou sequela DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Osteoartrite • Osteonecrose • Doença de Legg-Calvé-Perthes • Epifisiólise femoral proximal • Sinovite TRATAMENTO O tratamento é baseado em diagnóstico precoce, mantendo a congruência entre a cabeça femoral e o acetábulo displásico, o que estimula a reconstituição destas estruturas, prevenindo a displasia irreversível. A estratégia varia de acordo com a idade e se há apenas instabilidade, subluxação ou luxação. ATÉ 3 MESES (1ª ETAPA) → redução com suspensório de Pavlik (96% de cura); pode deixar o suspensório até os 6 meses. 3 MESES – MARCHA (2ª ETAPA)→ redução e aparelho gessado pélvico podálico APÓS IDADE DA MARCHA (3ª ETAPA) → redução do quadril RECÉM-NASCIDO OBJETIVO: Manter a cabeça centrada no acetábulo • Aparelhos fixos (travesseiro de Frejka) • Aparelhos dinâmicos (tirantes de pavlik) → mantém os MMII da criança em flexão e ligeira abdução (“posição humana”) DE 1 A 6 MESES Utilização dos tirantes de Pavlik Se a redução não ocorrer nas próximas 3-4 semanas, a redução incruenta está indicada: • Mantemos a criança em tração abdutora por aproximadamente 1- 3 semanas • Tenotomia percutânea dos adutores, após o qual a criança será anestesiada no centro cirúrgico e uma redução fechada é realizada (com cuidado para evitar a necrose avascular epifisária). • Em seguida, é colocada num aparelho gessado flexão e ligeira abdução (semelhante ao aparelho gessado de petrie para doença de legg-perthes). DE 6 A 18 MESES • Redução incruenta • Se não tiver sucesso → cirurgia aberta (redução cruenta) → redução → imobilização gessada em abdução por vários meses DE 18 MESES A 8 ANOS • Redução cruenta (cirurgia aberta) • Associada a tenotomia adutora e a uma osteotomia corretiva Até os 3-4 anos, usa-se mais a osteotomia de Salter, (um tipo de osteotomia inominada da pelve) Desta faixa etária aos oito anos, a osteotomia de Chiari (deslocamento medial do acetábulo) é preferível, associada à redução da diáfise femoral (ostectomia). O objetivo das osteotomias é modificar a angulação dos ossos para melhor acoplamento femuroacetabular. Após a cirurgia, a criança deve usar um aparelho gessado por 6-8 semanas, retomando paulatinamente as atividades. OBS: após os 8 anos de idade, a correção da DDQ não tem mais benefícios *uso inadequado do suspensório: leva a adução e extensão do quadril prejudicada COMPLICAÇÕES • Recidiva • Alterações permanentes de postura • Alterações permanentes de marcha Necrose avascular da cabeça femoral