Buscar

AD2 BLUMA MARIAH CALASANS CAMPOS LIMA

Prévia do material em texto

AD2 – LITERATURA BRASILEIRA III 
BLUMA MARIAH CALASANS CAMPOS LIMA
MATRÍCULA: 20113120283. POLO: PARACAMBI
QUESTÃO 1) 
Os modernistas se insurgiram contra um estilo de literatura que consideravam estagnado, contemplativo e anacrônico. Eles buscavam uma estética de reação, uma arte que fosse libertadora e condizente com o tempo em que viviam. Menotti del Picchia, em seu discurso na Semana de Arte Moderna, critica o faquirismo, que representa uma postura passiva e estagnada diante da arte e da vida.
Uma das passagens do texto que corrobora essa resposta é quando del Picchia afirma: "O que nos agrupa é a ideia geral de libertação contra o faquirismo estagnado e contemplativo, que anula a capacidade criadora dos que ainda esperam ver erguer-se o sol atrás do Partenon em ruínas." Nessa passagem, fica claro que os modernistas se insurgiam contra uma postura contemplativa e passiva diante da arte, representada pelo faquirismo, que anulava a capacidade criadora dos artistas.
Outra passagem que reforça essa resposta é quando del Picchia diz: "E que o rufo de um automóvel, nos trilhos de dois versos, espante da poesia o último deus homérico, que ficou, anacronicamente, a dormir e sonhar, na era do jazz-band e do cinema, com a flauta dos pastores da Arcádia e os seios divinos de Helena!" Nessa passagem, del Picchia critica a anacronia do último deus homérico, representando uma postura antiquada e desconectada com a realidade moderna. Ele menciona o jazz-band e o cinema como exemplos do contexto cultural moderno, contrastando com a flauta dos pastores da Arcádia, que representa uma referência antiquada e ultrapassada.
Em resumo, os modernistas se insurgiram contra um estilo de literatura considerado passivo, estagnado e anacrônico, buscando uma estética de reação que fosse libertadora e condizente com o tempo em que viviam, conectada com a realidade moderna e suas transformações culturais e sociais.
QUESTÃO 2)
No trecho destacado de "Memórias de um sargento de milícias", de Manuel Antonio de Almeida, é possível observar como a malandragem é tratada pelo autor ao abordar a vida dos indivíduos marginalizados da sociedade da época. A malandragem é retratada como uma forma de luta por espaço e oportunidade por parte das pessoas que não tinham muitas chances de ascensão social.
O autor descreve a vida dos personagens principais, Leonardo e seu padrinho, que são indivíduos pertencentes à camada mais pobre da sociedade. Leonardo, o protagonista, é apresentado como um vadio, um rapaz que não se ocupa em coisa alguma, que se recusa a entrar em algum ofício e prefere levar uma vida ociosa. Seu padrinho, por sua vez, é um barbeiro que também não possui muita estabilidade financeira e busca oportunidades para melhorar a vida do afilhado.
O antagonista, José Manuel, é retratado como um esperto, astuto e insinuante, que se aproveita da riqueza e idade avançada de D. Maria, uma mulher rica e velha, para fazer a corte a ela e, assim, conseguir uma oportunidade de ascensão social por meio do casamento com sua sobrinha, Luisinha. José Manuel representa a figura do oportunista que usa artimanhas para se aproveitar das oportunidades que surgem, inclusive se relacionando com pessoas mais abastadas para alcançar seus objetivos.
O autor também apresenta a figura da comadre, uma mulher que sugere que Leonardo entre para a Conceição, ou seja, se torne um soldado do regimento da Conceição, como uma forma de ter uma ocupação e uma oportunidade de vida mais estável. No entanto, Leonardo recusa-se a seguir esse caminho, pois tomou gosto à vida de vadio, preferindo se envolver em confusões e pensar em maneiras de eliminar seu rival, José Manuel.
A forma como a malandragem é retratada no texto de Manuel Antonio de Almeida difere dos romances urbanos do período romântico brasileiro, que muitas vezes idealizavam os protagonistas e retratavam uma sociedade aristocrática e idealizada. Em "Memórias de um sargento de milícias", o autor apresenta personagens marginais, como vadios, barbeiros e comadres, que não seguem os padrões sociais da época, mas lutam por sobrevivência e oportunidades da forma que podem. A malandragem é retratada como uma estratégia de enfrentamento da realidade adversa e uma forma de sobrevivência em um contexto social desfavorecido.
Dessa forma, Manuel Antonio de Almeida se distancia dos romances urbanos do período romântico brasileiro ao apresentar uma visão mais realista e crítica da vida dos marginalizados, destacando suas ações diárias em busca de sobrevivência, suas motivações e conflitos internos, em contraste com a idealização romântica dos protagonistas em outros romances da época. Isso torna a obra mais próxima da realidade social da época e oferece uma visão mais complexa e matizada dos personagens e suas circunstâncias, abordando a malandragem como uma forma de enfrentamento em um contexto de desigualdade social e falta de oportunidades.
Outro aspecto interessante sobre a questão da malandragem em "Memórias de um sargento de milícias" é como o autor aborda a dualidade moral dos personagens. Leonardo, o protagonista, é retratado como um vadio, um malandro que vive de pequenas trapaças e artimanhas para conseguir o que deseja, muitas vezes agindo de forma antiética. Por outro lado, seu padrinho, apesar de também estar envolvido em atividades ilícitas, é mostrado como alguém que tenta melhorar a vida do afilhado e procura ajudá-lo de alguma forma.
Essa dualidade moral dos personagens é interessante, pois mostra como a malandragem pode ser vista de diferentes perspectivas. Por um lado, é uma forma de sobrevivência e estratégia de enfrentamento em um contexto social adverso, onde as oportunidades são escassas. Por outro lado, pode envolver ações questionáveis e moralmente ambíguas, como pequenos golpes, trapaças e enganações.
Outro ponto importante é a crítica social presente na obra. Manuel Antonio de Almeida retrata a sociedade carioca da época como corrupta, hipócrita e cheia de contradições. Os personagens das diferentes classes sociais são mostrados como envolvidos em atividades ilícitas, com interesses pessoais e buscando sua própria vantagem, em detrimento dos outros. Isso revela a falta de ética e moralidade em diversas esferas da sociedade, incluindo a elite, a classe média e os marginalizados.
Além disso, o autor também faz uma crítica ao sistema social da época, que perpetuava a desigualdade e a falta de oportunidades para os menos privilegiados. Leonardo é um exemplo disso, um rapaz que não tinha acesso à educação, nem oportunidades de trabalho digno, e que acaba se envolvendo em atividades ilegais como forma de buscar sua sobrevivência.
Por fim, "Memórias de um sargento de milícias" apresenta a malandragem como um fenômeno complexo, que vai além da mera figura do "malandro" estereotipado. Os personagens são retratados com suas contradições, motivações e lutas pessoais, em um contexto social desafiador. A obra de Manuel Antonio de Almeida oferece uma visão mais realista e crítica da malandragem, mostrando como ela era uma estratégia de enfrentamento e sobrevivência em uma sociedade desigual e injusta.
QUESTÃO 3)
O poema "História pátria" de Oswald de Andrade, parte do livro "Primeiro caderno do alumno de poesia Oswald de Andrade" de 1927, é uma crítica à formação histórica e cultural do Brasil, apresentando de forma irônica e provocativa as especificidades desse processo ao longo dos versos.
O poema começa com uma repetição da estrutura "Lá vai uma barquinha carregada de...", seguida por uma lista de palavras que representam diferentes grupos que contribuíram para a formação do Brasil, como aventureiros, bacharéis, cruzes de Cristo, donatários, espanhóis, flibusteiros, governadores, holandeses, índios e degradados. Essa repetição cria um efeito acumulativo, dando a sensação de uma sucessão de eventos e personagens que foram chegando ao Brasil ao longo da história.
A forma como os versos são estruturados, com a repetição das palavras e a ausência de pontuação, dá uma sensação de velocidade e fluxo, comose estivéssemos acompanhando o fluxo dos acontecimentos históricos. Além disso, a ausência de pontuação também pode ser interpretada como uma crítica à falta de delimitação clara entre os diferentes grupos que contribuíram para a formação do Brasil, resultando em uma mistura e confusão de culturas e identidades.
A ironia presente no poema é evidente quando o poeta menciona os "espanhóis, paga prenda, prenda os espanhóis!", "holandeses" e "índios", seguido de "outra de degradados, outra de pau de tinta", sugerindo uma crítica às atitudes de exploração, opressão e violência dos colonizadores europeus em relação aos povos indígenas e aos africanos trazidos como escravizados para o Brasil. O poema também faz referência aos "transatlânticos" que chegaram ao Brasil, simbolizando a chegada de imigrantes de diversas nacionalidades que contribuíram para a formação da sociedade brasileira.
O poema de Oswald de Andrade relaciona-se com o conteúdo estudado sobre a formação brasileira no Modernismo brasileiro, que foi marcado pela busca por uma identidade cultural própria e pela valorização das especificidades do Brasil. Oswald de Andrade, assim como outros poetas modernistas, critica a formação histórica do Brasil, evidenciando as contradições, a mistura de culturas, as opressões e a complexidade desse processo. O poeta questiona a construção da história oficial e faz uma reflexão provocativa sobre as diferentes influências e impactos na formação da sociedade brasileira, apresentando uma visão crítica e irônica sobre a história do país.
O uso da repetição das palavras "barquinha carregada de" seguida por uma lista de palavras que representam diferentes grupos é uma forma de destacar a diversidade de influências na formação do Brasil. O poeta utiliza essa repetição para enfatizar a multiplicidade de povos, culturas e eventos que contribuíram para a construção da identidade brasileira, mostrando como essa formação foi complexa e multifacetada.
Além disso, o poema apresenta uma crítica à construção da história oficial, destacando a presença de diferentes grupos e personagens que muitas vezes são negligenciados ou esquecidos na narrativa tradicional. Ao mencionar os "degradados" e "pau de tinta", Oswald de Andrade faz referência aos marginalizados e excluídos da sociedade, evidenciando a injustiça social e a desigualdade presente na formação do Brasil.
A frase "Até que o mar inteiro se coalhou de transatlânticos" sugere o impacto e a magnitude das chegadas sucessivas de imigrantes ao Brasil, transformando a composição étnica e cultural do país ao longo do tempo. A expressão "raça misturada no litoral azul de meu Brasil" pode ser interpretada como uma crítica à visão simplista e excludente de raça e identidade, apontando para a complexidade e diversidade da população brasileira.
Em relação a outros textos estudados em unidades anteriores, o poema de Oswald de Andrade pode se relacionar com a valorização da diversidade cultural e a crítica às desigualdades sociais presentes na literatura brasileira modernista. Por exemplo, pode-se estabelecer conexões com a obra "Macunaíma", de Mário de Andrade, que também aborda a formação do Brasil de forma irônica e crítica, destacando a multiplicidade cultural e a complexidade das identidades brasileiras.
Além disso, o poema de Oswald de Andrade também pode ser relacionado com a valorização do regionalismo e do folclore na literatura modernista, que buscava resgatar elementos culturais autênticos do Brasil, incluindo a cultura indígena, afro-brasileira e popular. O poeta utiliza a ironia e a provocação para questionar as narrativas tradicionais de formação do Brasil, trazendo à tona a diversidade de influências e a complexidade histórica do país.
Em resumo, o poema "História pátria" de Oswald de Andrade apresenta uma visão crítica e irônica da formação do Brasil, destacando a diversidade cultural, as desigualdades sociais e a complexidade histórica do país. O poeta utiliza a repetição, a ironia e a provocação para questionar as narrativas tradicionais e destacar a multiplicidade de influências na formação da identidade brasileira, relacionando-se com os temas de valorização da diversidade cultural, crítica social e resgate do folclore presentes na literatura modernista brasileira.

Mais conteúdos dessa disciplina