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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO MEDICINA HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES MATHEUS BEZERRA DE LEMOS EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM FEBRE REUMÁTICA: TRANSIÇÃO DO MODELO DE ENSINO PRESENCIAL PARA O MODELO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA EM SAÚDE NATAL – RN 2022 MATHEUS BEZERRA DE LEMOS EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM FEBRE REUMÁTICA: TRANSIÇÃO DO MODELO DE ENSINO PRESENCIAL PARA O MODELO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA EM SAÚDE Trabalho Científico Obrigatório apresentado ao Centro de Ciência da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina. Orientadora: Profa. Ma. Gisele Correia Pacheco Leite NATAL – RN 2022 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Lemos, Matheus Bezerra de. Educação em saúde em febre reumática: transição do modelo de ensino presencial para o modelo de educação à distância em saúde / Matheus Bezerra de Lemos. - 2022. 42f.: il. Trabalho Científico Obrigatório - TCO (Graduação em Medicina) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Medicina. Natal, RN, 2022. Orientador: Gisele Correia Pacheco Leite. 1. Febre Reumática - TCO. 2. Educação à distância - TCO. 3. Práticas pedagógicas - TCO. 4. Tecnologia - TCO. I. Leite, Gisele Correia Pacheco. II. Título. RN/UF/BSCCS CDU 616.72-002.77 Elaborado por Adriana Alves da Silva Alves Dias - CRB-15/474 3 MATHEUS BEZERRA DE LEMOS EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM FEBRE REUMÁTICA: TRANSIÇÃO DO MODELO DE ENSINO PRESENCIAL PARA O MODELO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA EM SAÚDE Trabalho Científico Obrigatório apresentado ao Centro de Ciência da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina. Orientadora: Profa. Mª Gisele Correia Pacheco Leite Aprovado em: 30 de Junho de 2022. BANCA EXAMINADORA Gisele Correia Pacheco Leite - Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte Patricia Whebber Souza De Oliveira- Membro da banca examinadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte Doutor Humberto Rabelo - Membro da banca examinadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte 4 Dedico este trabalho ao meu maior amor, que sem ele, eu nada seria: “mainha”. 5 AGRADECIMENTOS À Doutora Hedyanne Guerra Pereira que se dedicou a esse Trabalho Científico Obrigatório como se fosse seu próprio trabalho, prestando apoio e suporte. À Professora Mestra Gisele Correia Pacheco Leite por mostrar a direção, manter sempre a calma diante da adversidade e pelo olhar ímpar dentro da universidade. À Elisa, Nestor e Bruno por me guiarem e apoiarem por todos os anos de convivência durante o período da universidade. 6 LISTA DE SIGLAS APS - Atenção Primária à Saúde AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem BZT - Penicilina G Benzatina COVID-19 - Coronavírus CR - Cardite Reumática CS - Coréia de Sydenham FR - Febre Reumática IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IC - Iniciação Científica INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais LACARP - Liga Acadêmica de Cardiopediatria da UFRN OMS - Organização Mundial da Saúde Programa FR - Programa de Assistência Multiprofissional ao paciente com FR RN - Rio Grande do Norte SBC - Sociedade Brasileira de Cardiologia SPY - Streptococcus pyogenes SUS - Sistema Único de Saúde TC - Teste do Coraçãozinho UBS - Unidade Básica de Saúde UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte UnP- Universidade Potiguar 7 SUMÁRIO 1. Introdução…………………………………………………………………………...10 2. Método……………………………………………………………………………….12 3. Resultados…………………………………………………………………………..20 3.1. Estruturação do projeto piloto………………………………………………..20 3.1.1. Primeira etapa: atualização e/ou capacitação dos instrutores…21 3.1.2. Segunda etapa: sistematização das atribuições das pessoas em comissões e funções……….…….………….………….………….……...22 3.2. Terceira etapa: Qualificação remota sobre Febre Reumática: um projeto piloto…….…….…………….…………….…………….…………….……………..25 3.2.1. Pré-capacitação……………………………………………………..25 3.2.2. Capacitação Remota.……………………………………………….25 3.2.2.1. Fase pré-expositiva………………………………….……25 3.2.2.2. Fase expositiva……………………………………………28 3.2.2.3. Fase pós-expositiva………………………………………29 3.2.3. Fase pós-capacitação………………………………………………31 4. Discussão……………………………………………………………………………31 4.1. Conhecimento dos participantes da pesquisa sobre a Febre Reumática.…………………………………………………………………………..34 4.2. Feedbacks acerca da capacitação ………..………………………………..36 4.3. Limitações…………...…………………………………………………………36 5. Conclusão……………………………………………………………………...……37 6. Referências…………………………………………………………………..……..39 8 RESUMO A Febre Reumática (FR) é a principal causa de cardiopatia adquirida na infância. Os profissionais de saúde precisam estar aptos e hábeis para reconhecer rapidamente os sinais da patologia, principalmente os profissionais da Atenção Primária à Saúde, considerada a porta de entrada para o diagnóstico e profilaxia da doença. No entanto, percebe-se ainda déficit importante no reconhecimento, diagnóstico da doença, seguimento e tratamento pelos profissionais de saúde. Diante disso, faz-se necessário o desenvolvimento de capacitações para o diagnóstico precoce e tratamento da FR, contribuindo para a diminuição da progressão da doença e principalmente da evolução para as suas complicações. Durante a pandemia, em função da necessidade de isolamento social, tornou-se essencial a adaptação dos modelos de educação em saúde. Assim, considerou-se fundamental criar uma capacitação em saúde sobre FR no formato remoto, aos moldes da educação à distância, e avaliar a sua eficácia por meio de um projeto piloto. Para tanto, elaborou-se um protocolo-guia, aplicado a 36 estudantes de Medicina e Enfermagem, através de uma simulação prática realizada em quatro etapas. Este trabalho descreveu a transição do modelo presencial para o ensino remoto de educação em saúde em FR. Evidenciou que a capacitação virtual contribuiu para o aumento de acerto nas temáticas abordadas sobre a FR, do ponto de vista teórico. O modo remoto permitiu escalar as capacitações para nível regional e nacional, contribuindo com a propagação do conhecimento e com a possibilidade de aumento de diagnóstico da doença, tratamento e prognóstico da mesma. Concluiu-se que a educação em saúde é essencial para o desenvolvimento e atualização do conhecimento acerca da FR; que o modelo de ensino remoto é uma excelente alternativa para o momento de crise mundial em que o isolamento social se fez necessário; e que o uso de recursos tecnológicos contribui para que o conhecimento seja acessível para um maior número de pessoas, de maneira clara e universal. PALAVRAS-CHAVE: Febre Reumática. Educação à distância. Práticas pedagógicas. Tecnologia. 9 HEALTH EDUCATION IN RHEUMATIC FEVER: TRANSITION FROM THE ON-SITE EDUCATION MODEL TO THE DISTANCE EDUCATION MODEL IN HEALTH ABSTRACT Rheumatic Fever (RF) is the main cause of acquired heart disease in childhood. Health professionals need to be able and skilled to quickly recognize the signs of the pathology, especially Primary Health Care professionals, considered the gateway to the diagnosis and profile of the disease. However, it is still important in the recognition, diagnosis of the disease, and treatment by health professionals. The development of capabilities for the treatment of RF began to occur, mainly, and the increase in the progression of evolution began to occur. During the pandemic, due to the need for social isolation, the adaptation of health education models became essential. Thus, education to fundamental education will be created through distance education on FR, in the mold of its education through remote project. Therefore, a guide protocol was developed, applied to 36 Medicineand Nursing Students, through a practical simulation carried out in four stages. This education work for remote teaching the transition from the face-to-face model in FR. It showed that the virtual training was complemented to increase the topic addressed on RF, from a theoretical point of view. The region's diagnostic mode and more remote treatment can increase as the regional diagnostic capacity and the increase capacity of the region increase. It was concluded that health education is essential for the development and updating of knowledge about RF; that the remote teaching model is an excellent alternative for the moment of global crisis in which social isolation has become necessary; and that the use of resources contributes to making technological knowledge accessible to a greater number of people, in a clear and universal way. KEYWORDS: Rheumatic Fever. Distance education. Pedagogical practices. Technology. 10 1. INTRODUÇÃO A Febre Reumática (FR) é uma doença multissistêmica, multifatorial, determinada por resposta tardia autoimune à faringoamigdalites infecciosas recorrentes. Esta é causada pelo Streptococcus pyogenes (SPY) – beta hemolítico do grupo A – em indivíduos geneticamente predispostos (PEREIRA; BELO; SILVA, 2017). Estima-se que cerca de 3% da população é geneticamente predisposta ao desenvolvimento da FR (RAMOS; NOVAES, 2010). Esses indivíduos têm estruturas corporais atacadas pelo próprio sistema imunológico, gerando respostas agudas e crônicas, com sintomatologia evidente ou somente com alteração laboratorial. Nesses casos, diferentes tecidos do corpo podem ser atingidos, ocasionando sintomas como poliartrite, artralgia, eritema marginatum, nódulos subcutâneos, Coreia de Sydenham (CS) e cardite reumática (CR). Dentre as manifestações clínicas da FR, a CR crônica se constitui como a mais grave, sendo a única sequela que pode ser irreversível e até causar a morte do portador. Globalmente, estima-se a morte de 233.000 a 500.000 pessoas por ano em função de complicações da CR (COSTA; DOMICIANO; PEREIRA, 2009). A FR é mais frequente em ambientes desfavoráveis, sobretudo nos países subdesenvolvidos, em que existe acesso restrito aos serviços de saúde, péssimas condições de higiene, moradia e saneamento básico, além de má nutrição. Soma-se a tais fatores, se fazem presentes os casos em que o diagnóstico precoce não ocorre associado a exposição contínua à bactéria. Além disso, os casos de FR são, muitas vezes, subdiagnosticados ou reconhecidos apenas após dano valvar permanente pela CR. Nesses casos, o diagnóstico tardio compromete a integridade do sistema cardiovascular dos pacientes, o que poderia ser evitado com uma intervenção precoce e continuada, por intermédio do remanejamento financeiro para implementação de programas de diagnóstico e tratamento de FR, bem como uma adequada gestão da Atenção Primária à Saúde (APS). Nesse contexto, o direcionamento do olhar dos profissionais de saúde para as dificuldades de acesso à informação, ao diagnóstico precoce e ao tratamento por 11 parte dos pacientes ajuda na compreensão da sua participação no processo de rastreio e melhoria da qualidade de vida dos acometidos. Para tanto, o desenvolvimento de capacitações em saúde direcionadas aos profissionais de saúde se mostra como uma oportunidade de mudança desta realidade. No entanto, com o advento da pandemia global pelo coronavírus (COVID-19), a prática de capacitações direcionadas a estudantes e profissionais da saúde foram veemente prejudicadas, dessa forma, surgem-se os debates de implementação de modelos de educação em saúde por meio virtuais de ensino. A discussão sobre a relevância de ambientes digitais mudou de patamar mundialmente após a chegada da pandemia e, assim, vai progredir acentuadamente. Partindo desse ponto, surge uma nova questão: a distinção entre a capacitação virtual e a capacitação presencial. Para muitos, o curso virtual encaixa-se para aludir uma adulteração dos cursos presenciais, no entanto, essa dicotomia entre real e virtual já não cabe mais – para os jovens, já são a mesma coisa (WILLIAMS, 2017; GROSZ, 2017). Essa reação a cursos "não presenciais" nutre-se do próprio instrucionismo, que defende a presença física do público cativo controlável, postulando que o estudante olhando fixamente para o docente transmitindo conteúdo aprende melhor do que assistindo a um vídeo em casa sobre o mesmo conteúdo. No entanto, a principal dificuldade na instalação dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA's) vai para além do pensamento de somente fornecer informação, a mudança maior está na percepção e no processamento da informação, ou seja, analisar, interpretar e transformar os dados indicadores aos desafios que cercam uma temática específica. O aprendizado ocorre na mente do receptor, não na aula do docente – o lugar e hora em que isso ocorre é irrelevante. Algumas avaliações indicam que, comparando-se cursos “presenciais” e “não presenciais”, estes acabam tendo resultados melhores, por uma ironia: muitos cursistas “não presenciais” inscrevem-se para buscar facilidades, atalhos, um diploma menos exigente, etc. Mas, se o curso for minimamente exigente, a maioria desistirá, sobrando uns 25% ao final que querem estudar (DEMO, 2011c). No entanto, os cursos de capacitações on-line crescem num ritmo da voracidade do mercado, muitos preferem cursos com presença virtual porque 12 esperam flexibilidade organizacional e curricular que caiba em seus apertos da vida, sendo essa a principal vantagem competitiva entre os cursos. Logo, a educação em saúde pode representar uma resposta eficiente para a realização do diagnóstico precoce e para reduzir a progressão da doença no Brasil, dada a sua importância no contexto dos serviços de saúde pública (GONÇALVES, M. C, 2008). Nacionalmente, constata-se uma carência de modelos de capacitação de profissionais que atuam no contexto da saúde, tornando-se necessário o desenvolvimento de capacitações que auxiliassem na disseminação de informações sobre a FR, contribuindo para o diagnóstico precoce e para a diminuição da progressão da doença. Neste contexto, foi criado o Programa de Assistência Multiprofissional ao paciente com FR (Programa FR), sendo um projeto de extensão universitário vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) intitulado “Programa Febre Reumática”, no qual eram realizadas ações de educação em saúde nas Unidades Básicas de Saúde (UBS's) de Natal/RN. Trata-se de um projeto pioneiro na capacitação em saúde a respeito da FR na região, que, a partir do início de 2020, encontrou um novo desafio: o isolamento social em função da pandemia do coronavírus, causada pelo vírus SARS-COV-2, que - de maneira brusca e repentina - alterou a rotina de bilhões de pessoas e tornou necessário o desenvolvimento de estratégias de ensino e trabalho por meio da comunicação virtual. Assim, tornou-se essencial que o projeto também se adaptasse ao contexto pandêmico e buscasse inserção na educação à distância de modo remoto. Então, realizou-se um estudo piloto com o objetivo de executar uma capacitação no modelo de ensino remoto para profissionais e estudantes da área de saúde a respeito da FR, avaliando a eficácia dessa capacitação. 2. MÉTODO Trata-se de um estudo descritivo analítico qualitativo desenvolvido no período de agosto de 2020 a julho de 2021, a partir da necessidade de substituir as 13 capacitações em saúde do modelo presencial pelo remoto, no contexto da pandemia pela COVID-19. O estudo teve como base as capacitações desenvolvidas pelo projeto de extensão universitária intitulado Capacitação de Profissionais e estudantes da área da saúde no diagnóstico e tratamento da FR, integrante do Programa FR da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Este Programa FR foi idealizado, planejado, elaborado e executado pela Professora pesquisadora, sendo colocado em prática conjuntamente com os participantes dosdiferentes projetos inseridos no mesmo. O Programa FR era composto por projetos de extensão universitária que associavam o ensino à pesquisa e à extensão. Dentre eles, citam-se: ações de educação em saúde junto à população e à comunidade científica; grupo de apoio aos pacientes com FR e seus responsáveis; curso para capacitar profissionais e estudantes da área da saúde para a administração correta da penicilina benzatina; capacitação de profissionais e estudantes da área da saúde para o diagnóstico e tratamento precoce da FR; capacitação dos profissionais da saúde para a coleta do swab da orofaringe, bem como da equipe do laboratório para a cultura apropriada no reconhecimento do Estreptococo beta hemolítico do grupo A de Lancefield. A FR era uma das vertentes do Projeto Global, denominado Cardiopediatria UFRN. Ao longo de dez anos este projeto macro foi sendo criado pela Professora pesquisadora em Cardiopediatria do Departamento de Pediatria da UFRN, estando, atualmente, com a iniciação científica e as linhas de pesquisa-ensino-extensão em cardiopatia congênita, teste do coraçãozinho e FR. Dos projetos, citam-se: a Liga Acadêmica de Cardiopediatria da UFRN (LACARP); Capacitação de profissionais e estudantes da área da saúde para o Teste do Coraçãozinho (TC); o Programa Febre Reumática (FR) e o Programa de Iniciação Científica (IC) de Cardiopediatria da UFRN. Este projeto foi realizado em quatro etapas diagramadas de acordo com a figura 1. 14 Figura 1 – Etapas da transição do modelo de ensino presencial para o modelo de educação à distância em saúde na temática Febre Reumática (FR), no período de período de agosto/2020 a julho/2021. Fonte: elaborado pelo autor, 2022. A primeira etapa consistiu em uma fase teste introdutória para a transição do projeto para o ensino remoto, teve como objetivo atualizar e/ou capacitar cerca de 30 instrutores do Programa FR (alunos do Curso de Medicina da UFRN e da Universidade Potiguar – UnP - associados ao projeto de extensão) com relação às bases e fundamentos teóricos, científicos e metodológicos a respeito da FR, bem 15 como avaliar o uso dos aparatos tecnológicos para o desenvolvimento de uma capacitação virtual, testando suas limitações e benefícios. A segunda etapa iniciou-se com a sistematização da atribuição de funções entre os integrantes do projeto, para isso ocorreu a divisão dos instrutores em três comissões: de pesquisa, de extensão e de mídias. Cada comissão tinha um líder, objetivos, atribuições e um cronograma de ação detalhado. Ao longo desta etapa, reuniões eram desenvolvidas quinzenalmente para atualizações do trabalho desenvolvido e planejamentos. De maneira geral, ainda nesta etapa, realizou-se o levantamento da fundamentação teórica atual e de protocolos vigentes a respeito da FR para elaborar e/ou atualizar o material de ensino; pesquisou-se a melhor metodologia para abordar o material científico com o público alvo selecionado, a plataforma de reunião virtual e o programa de edição de vídeos adequado aos objetivos propostos; a elaboração de cinco formulários; e a produção e edição dos vídeos para a capacitação. Os achados das pesquisas realizadas pelas comissões foram apresentados para os demais instrutores e, juntos, eles debateram, reformularam e/ou aprovaram o que foi necessário ser acrescentado e/ou modificado na capacitação remota. Dos formulários supracitados descreve-se: (1) "Formulário de inscrição": visando coletar a informação para traçar o perfil descritivo dos capacitados, bem como coletar experiências prévias com a patologia; (2) “Formulário pré-forms”: com o objetivo de avaliar o nível de conhecimento sobre a FR pré-exposição; (3) “Formulário pós-forms”: com o objetivo de avaliar o nível de conhecimento pós-exposição, a eficácia da capacitação e a presença dos participantes ao longo da capacitação; (4) “Formulário de Dúvidas”: a fim de coletar questionamentos a respeito do conteúdo ministrado, da metodologia utilizada ou da capacitação; e (5) “Formulário de Feedback”: com a finalidade de receber uma avaliação da capacitação, sugestões de melhorias na metodologia e/ou no conteúdo para as próximas capacitações. Para evidenciar se o aluno capacitado participou ativamente do treinamento, foram inseridas nos vídeos palavras-chave a serem incluídas no “Formulário pós-forms”, buscando verificar a atenção do aluno ao conteúdo exposto. As palavras permaneciam como o único objeto em tela por um período mínimo de 15 segundos e 16 apareceram, cada uma, duas vezes até o final da capacitação. Dessa forma, essas palavras seriam coletadas e inseridas no formulário pós-forms com objetivo de coletar a presença do participante. A terceira etapa foi a qualificação de alunos e profissionais de saúde integrantes do grupo de ensino-pesquisa-extensão de Cardiopediatria da UFRN. Essa etapa foi subdividida em três estágios principais. O primeiro consistiu na fase pré-capacitação, na qual houve o contato com os participantes, via aplicativo de mensagens intitulado "WhatsApp", respeitando-se as normas de isolamento social, o agendamento da capacitação e o preenchimento do formulário de inscrição, com a finalidade de coletar informações como nome, e-mail e idade, bem como obter dados referentes à vivência individual, profissional e acadêmica com a FR. O segundo estágio foi a capacitação, que aconteceu em três fases: pré-expositiva, expositiva e pós-expositiva. Na primeira, os instrutores aguardaram o grupo a ser capacitado na sala virtual na data e horário marcados, disponíveis para dar suporte, preparar o ambiente para a intervenção e tirar dúvidas dos participantes. No horário previsto para iniciar as atividades, os instrutores enviaram o Formulário de Avaliação, um questionário produzido via Google Forms, composto por 58 perguntas que contemplavam os oito eixos temáticos1 a serem abordados na capacitação, os quais foram listados no Quadro 1. Esse formulário objetivou investigar o nível de conhecimento dos participantes a respeito da FR. Quadro 1. Descrição dos eixos temáticos relacionados à Febre Reumática e o número de questões por eixo de acordo com as vertentes temáticas a respeito da patologia apresentadas na capacitação no modelo remoto no período de agosto/2020 a julho/2021. Eixos Temáticos Número de Questões Conceitos e definições 05 Fisiopatologia 06 Diagnóstico clínico 10 Profilaxia e tratamento 10 1 Os oito eixos temáticos foram definidos a partir da pesquisa de fundamentação teórica e identificação dos protocolos diagnósticos e terapêuticos da FR. 17 Situações específicas na abordagem 10 Apoio psicossocial 04 Modelos de intervenção de sucesso 06 Fonte: elaborado pelo autor, 2022. Na fase expositiva teórico-prática, houve a apresentação do material científico, que consistiu na discussão dos eixos temáticos supracitados (Quadro 1). Esta aconteceu em um encontro remoto, via Google Meet, com duração de cerca de quatro horas, no qual houve a exposição do conteúdo e atividades de situações-problema sobre os eixos-temáticos, além da utilização dos recursos tecnológicos que contribuíram para ações em saúde, com objetivo de consolidação do conhecimento adquirido. Tais aparatos foram o Kahoot! e Mentimenter, sites que proporcionam a montagem de dinâmicas lúdicas educativas. O "Kahoot!" é uma plataforma de aprendizado baseada em jogos, usada como tecnologia educacional em escolas e outras instituições de ensino. Seus jogos de aprendizado, "Kahoots", são testes de múltipla escolha que permitem a geração de usuários com resposta em tempo real (figura 2). Enquanto que o Mentimenter é um aplicativo usado para criar apresentações com feedback em tempo real, possibilitando a interação e discussão com os participantes (figura 3). Figura 2 - Utilização da plataforma digital Kahoot! durante as capacitações de profissionais e estudantes da área da saúde para o diagnóstico precoce e tratamento da Febre Reumática. 18 Fonte: Google Imagens 2.Figura 3 - Utilização da plataforma digital Mentimenter durante as capacitações de profissionais e estudantes da área da saúde para o diagnóstico precoce e tratamento da Febre Reumática. Fonte: Google Imagens 3. Por fim, na fase pós-expositiva, os participantes preencheram três questionários: o “Formulário pós-forms”, o “Formulário de Dúvidas” e o “Formulário de Feedback”. O envio destes formulários preenchidos era um dos requisitos para o recebimento do certificado. Os participantes tiveram um limite de quatro horas para finalizar o preenchimento dos formulários e enviá-los para os instrutores. As respostas obtidas por meio dos formulários utilizados neste estudo foram tabuladas no Google Planilhas. Em seguida, realizou-se estatística descritiva, com o objetivo de apresentar a frequência das respostas e/ou acertos dos participantes que viabilizaram a discussão comparativa entre as fases pré-expositiva e pós-expositiva. A quarta etapa consistiu no envio de material de apoio com conteúdo expositivo e as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) sobre FR, via e-mail, com o objetivo de complementar e solidificar o conteúdo abordado na 3 Disponível em: <https://www.mentimeter.com/pt-BR>. Acesso em 16 de julho de 2022. 2 Disponível em: <https://kahoot.com>. Acesso em 16 de julho de 2022. 19 capacitação. Ademais, disponibilizou-se o certificado de participação na capacitação para os participantes que No que concerne à participação do público-alvo neste estudo, estabeleceu-se como critérios de inclusão: ser estudante ou profissional de saúde e preencher integralmente os formulários da pesquisa. Foram convidados todos os participantes de projetos de extensão ou iniciação científica na área de Cardiopediatria da UFRN: LACARP - UFRN, o projeto (TC), o Programa FR e o Programa de Iniciação Científica (IC) de Cardiopediatria da UFRN (figura 4). Figura 4 – Capacitação “piloto” transicionando o modelo de ensino presencial para o modelo de educação à distância em saúde em Febre Reumática. Fonte: Elaborado pelo autor, 2022. Inicialmente, houveram 48 participantes no estudo piloto. Dentre eles, três eram profissionais (dois enfermeiros e um técnico de enfermagem) e os demais, estudantes dos cursos de Enfermagem e Medicina de universidades de Natal/RN. Entretanto, 12 foram excluídos deste estudo por não preencherem integralmente algum dos formulários da pesquisa. Deste modo, a amostra final foi composta por 36 estudantes integrantes de algum dos projetos de Cardiopediatria da UFRN. 20 3. RESULTADOS No período de agosto/2020 a julho/2021 foram executadas as ações de planejamento metodológico descritas neste trabalho, partindo de uma fase teste que forneceu bases criteriosas para a estruturação do projeto piloto geral. Dessa forma, puderam ser atribuídas funções para transformar um projeto de extensão presencial para um modelo de ensino virtual, descrito passo a passo abaixo. 3.1 Estruturação do projeto piloto 3.1.1 Primeira etapa: atualização e/ou capacitação dos instrutores Fase teste Ao iniciar o projeto, foi necessário capacitar os novos instrutores e concomitantemente testar as bases iniciais de transição de um modelo de ensino presencial para o ensino remoto. Dessa forma, agendou-se uma capacitação com os instrutores nos moldes que acontecia no formato presencial, levando os recursos utilizados no formato presencial para capacitar os estudantes. Então, os coordenadores discentes do Programa FR apresentaram para os novos instrutores os slides, dinâmicas e questionários que eram transmitidos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS's). À medida que a capacitação acontecia, era possível verificar todas as limitações nessa transição direta de uma forma de ensino para outra, de acordo listadas na figura 5. Figura 5 - Descrição das limitações encontradas no primeiro teste de capacitação virtual direcionado para os instrutores do Programa Febre Reumática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 21 Fonte: Elaborado pelo autor, 2022. A partir das limitações encontradas, criou-se as bases de planejamento descritas cronologicamente abaixo. 3.1.2 Segunda etapa: sistematização das atribuições das pessoas em comissões e funções a) Divisão e atribuições das comissões No período de agosto de 2020 a julho de 2021, foram elaboradas propostas de estruturação para a capacitação em formato de ensino remoto. Para tanto, conforme supracitado, os 30 instrutores foram divididos em três comissões, sendo cada uma composta por 10 integrantes. A comissão de pesquisa teve como atribuições principais: - Buscar exemplos na literatura de metodologias de ensino on-line; - Pesquisar a necessidade de órgão regulador para emissão de certificados; - Corrigir o material enviado pelas outras comissões (vídeos, scripts, material didático); - Realizar análise estatística dos dados obtidos na capacitação; e, 22 - Publicar nas redes sociais em formato de posts educativos as principais dúvidas geradas nas capacitações. A comissão de extensão foi responsável por atividades, como: - Pesquisar os melhores métodos de estruturação para o curso (plataforma, formulários, tempo de duração); - Atualizar os tópicos dos blocos temáticos; - Criar scripts de apresentação; - Elaborar questões do bloco em questão; - Iniciar as gravações e a confecção dos slides de apresentação; - Listar instituições de saúde aptas para receber a capacitação; - Confecção de todos os formulários usados em capacitação na plataforma escolhida para utilização; - Preparar a logística de realização do curso, bem como, momento em que se passará cada dinâmica, interação, palavra-chave; - Estruturar equipe de apoio dividindo-os entre as funções para a capacitação. Por fim, a comissão de mídias foi responsável por: - Regulamentar a criação do conteúdo no formato de ensino médico; - Criar instruções padronizadas para a gravação dos vídeos; - Elaborar as cartas convites para instituições de ensino e profissionais de saúde; - Criar identidade visual para redes sociais e slides da capacitação; - Editar os vídeos de todas as comissões; - Divulgar a capacitação nos meios de comunicação virtual; - Criar um calendário de ação; - Enviar o material complementar didático; As comissões também tiveram atribuições comuns. Dentre as atividades realizadas por todos os instrutores, nas suas respectivas comissões, destacaram-se as atividades referentes a: 23 - Pesquisar conteúdo teórico e protocolos diagnósticos e terapêuticos da FR; - Definir os eixos temáticos a serem abordados na capacitação; - Elaborar e/ou atualizar os tópicos dos eixos temáticos; - Criar scripts de apresentação; - Elaborar as questões dos eixos temáticos; - Confeccionar os slides de apresentação; e - Gravar os vídeos. b) Metodologia de ensino e recursos tecnológicos para atualização em saúde A partir da pesquisa de fundamentação teórica e identificação dos protocolos diagnósticos e terapêuticos da FR, foram definidos oito eixos temáticos para a capacitação: (1) Conceitos e definições; (2) Epidemiologia; (3) Fisiopatologia; (4) Diagnóstico clínico; (5) Profilaxia e tratamento; (6) Situações específicas na abordagem ao paciente com FR; (7) Apoio Psicossocial; e, (8) Modelos de intervenção de sucesso. Estes foram apresentados por meio de vídeos expositivos, em uma reunião on-line, de maneira síncrona, intercalados com situações-problema, dinâmicas, casos clínicos e/ou vivências da equipe, com o objetivo de discutir, problematizar e fixar o conteúdo apresentado. A escolha pelo uso de vídeos previamente gravados se deu em função da possibilidade de: (1) padronização do conteúdo teórico fornecido aos capacitados, o que permitiu que o conteúdo fosse compartilhado nas mesmas condições de ensino para todos os participantes, eliminando possíveis vieses na transmissão do conhecimento por ser apresentador-dependente; (2) transmissão do conteúdo para inúmeras pessoas, de maneira clara e objetiva; (3)evitar dificuldades na execução da capacitação em função de instabilidades nas redes de internet. No que se refere aos recursos tecnológicos utilizados em atualizações em saúde, constatou-se a possibilidade de utilizar quatro plataformas: o Zoom, o Google Meet, a WebConference e o Youtube. Estas permitiam a transmissão de vídeos e 24 uso de câmeras, concomitantemente, e foram testadas através de simulações síncronas nas quais houve a apresentação dos vídeos editados. Para definição da plataforma adequada para a capacitação, os instrutores utilizaram como critérios: (1) a facilidade de acesso pelo público-alvo; (2) a viabilidade do desenvolvimento das atividades planejadas; (3) a possibilidade de interação durante a transmissão dos vídeos, visto que se considerou relevante a interação síncrona entre participantes e instrutores, com momentos de discussão de dúvidas e questionamentos, que tornassem o processo de ensino-aprendizagem menos cansativo; (4) a melhor progressão de vídeo; (5) a menor sobrecarga de internet; (6) a maior disponibilidade de tempo de reunião remota e de acesso de múltiplos participantes, por meio da UFRN (via e-mail institucional). Assim, a plataforma escolhida foi o “Google Meet”. c) Vídeos expositivos: elaboração, gravação e edição Para elaboração dos vídeos, conforme supracitado, criou-se um roteiro de apresentação e um material de apoio visual: os slides. Para tanto, o uso de aparatos tecnológicos foi indispensável. Utilizou-se sites e aplicativos que possibilitaram a criação dos slides, como "Google Apresentações" e "Canva". Estes também foram utilizados na elaboração dos materiais científicos e interativos. Com relação ao roteiro de apresentação para gravação das aulas, elaborou-se um guia de instruções, que continha orientações objetivando a padronização do material elaborado. Nele, os instrutores foram orientados quanto à iluminação, vestimenta, local de gravação, tom e velocidade da voz, bem como a posição da câmera. Ao finalizar os vídeos, estes foram avaliados quanto ao cumprimento das orientações. Ao serem aprovados, os vídeos eram encaminhados para a edição, no qual, a gravação era associada ao material de apoio visual. Para tanto, utilizou-se diferentes recursos, como o Shotcut, Capcut, Canva, Imovie e Videoleap. Os áudios, por sua vez, foram editados com o auxílio de aplicativos como o Audacity, o Shotcut e o Videoleap. A escolha do aplicativo foi feita por cada equipe responsável pela edição, de acordo com a sua preferência de utilização e familiarização com o editor. 25 3.2 Terceira etapa: Qualificação remota sobre Febre Reumática: um projeto piloto 3.2.1 Pré-capacitação Convite ao público-alvo O convite para o público-alvo do projeto piloto foi feito para o grupo de ensino-pesquisa-extensão de Cardiopediatria da UFRN por meio de um aplicativo de mensagens, o “WhatsApp”. Todos os participantes da capacitação possuíam interesse na temática abordada: a FR. Após o convite, foi disponibilizado o formulário de inscrição. Este foi respondido e enviado via Google Forms. Posteriormente, foi enviado, via e-mail e no grupo de mensagens, um comunicado com a confirmação de horário, data e endereço virtual da capacitação proposta. 3.2.2 Capacitação Remota 3.2.2.1 Fase pré-expositiva a) Participantes Houveram a participação de 36 estudantes do curso de Medicina e de Enfermagem de universidades localizadas em Natal/RN. A descrição detalhada do perfil descritivo dos participantes das capacitações está presente na Tabela 1. Tabela 1 – Perfil descritivo dos participantes da primeira simulação de capacitação no modelo remoto de ensino em saúde sobre a Febre Reumática (FR) - Natal/RN - agosto/2020 a julho/2021. Variável Capacitados (n=36) 100,0% Sexo Feminino 26 72,2 26 Masculino Idade dos capacitados 15 – 19 anos 20 – 24 anos 25 – 29 anos 30 – 34 anos 35 – 39 anos 10 4 23 5 1 3 27,8 11,1 63,9 13,9 2,8 8,3 Escolaridade Graduando Pós-graduação Curso acadêmico Acadêmico(a) de medicina Acadêmico(a) de enfermagem 34 2 28 7 94,4 5,6 77,8 19,4 Fonte: elaborado pelo autor, 2022. A partir destes dados, constatou-se uma predominância feminina na participação da capacitação. Adicionalmente, verificou-se que cerca de 63,9% dos participantes têm de 20 a 24 anos, apresentando uma média de 23,3 anos (± 4,7). b) Aplicação do pré-forms Constatou-se que 97,2% da amostra afirmou já conhecer a FR antes da capacitação. Destes, 83,3% relataram ter conhecido por meio da formação acadêmica. No que se diz respeito ao contato mais íntimo com a doença, 5,6% disseram ter um familiar próximo ou um amigo/conhecido portador da FR, 2,8% da amostra relatou ser acometido pela FR e 16,7% afirmaram conhecer apenas pacientes com a doença. Com relação às dificuldades para realização da profilaxia para a FR, apenas dois entrevistados deram respostas positivas para a questão, exemplificando a dificuldade de encontrar a Penicilina G Benzatina (BZT). Além disso, quando questionados a respeito dos locais que fizeram profilaxia, somente 30,6% relataram 27 saber onde realizar a profilaxia: apenas um direcionou a profilaxia para a APS e os outros direcionaram o tratamento para a atenção terciária. No que concerne à taxa de acerto dos questionários, conforme a Tabela 2, constatou-se que os participantes apresentaram conhecimento prévio acerca dos conteúdos abordados e que o menor percentual médio de acerto foi de 59,3% no eixo temático Fisiopatologia. Neste, que sugere ser um assunto mais complexo e denso, houve perguntas que tiveram taxa de acerto de apenas 25%. Nesse contexto, também existiram eixos temáticos que obtiveram ótimos resultados, como os de conceitos e definições e o de apoio psicossocial, que apresentaram, respectivamente, taxas de acerto de 87,8% e 82,6%. Trata-se de eixos em que as temáticas apresentaram conteúdos mais gerais, incluindo conceitos comuns a outras doenças e informações referentes à saúde mental do paciente. Esses conteúdos não avaliaram conteúdos específicos sobre a FR, mas englobaram informações importantes para um entendimento mais amplo da FR, incluindo aspectos conceituais e psicossociais fundamentais para o desenvolvimento de um cuidado seguro, efetivo e eficiente ao portador da doença. Tabela 2 - Quantidade média de acertos de questões no Formulário pré-forms, aplicado na fase pré-expositiva, divididos por eixo temático a respeito da Febre Reumática (FR) - Natal/RN - agosto/2020 a julho/2021. Temática das questões Taxa de Acerto Temática 1 - Conceitos e definições 87,7% Temática 2 - Epidemiologia 77,7% Temática 3 - Fisiopatologia 59,3% Temática 4 - Diagnóstico clínico 66,1% Temática 5 - Profilaxia para FR 76,9% Temática 6 - Situações específicas 70,3% Temática 7 - Apoio psicossocial 82,6% Temática 8 - Modelos de intervenção de sucesso 78,7% Fonte: elaborado pelo autor, 2022. 28 3.2.2.2 Fase expositiva O projeto piloto consistiu em uma capacitação remota realizada em uma reunião síncrona, via Google Meet, com cerca de quatro horas de duração. Nesta, os vídeos sobre os oito eixos temáticos, as vivências e os casos clínicos foram compartilhados. Ademais, algumas dinâmicas foram realizadas. O encontro estava previsto para iniciar às 8:00 horas da manhã, em um sábado, no mês de junho de 2021. Para tanto, a sala virtual foi aberta cerca de 15 minutos antes para receber e acomodar adequadamente os participantes antes do início das apresentações. Ao entrar na sala, uma playlist com músicas relaxantes os aguardavam. Após 5 minutos de tolerância, a capacitação foi iniciada. Um moderador de sala iniciou as boas vindas e passou informações sobre a capacitação para os participantes, direcionando um script da apresentação. Esta iniciou com uma situação-problema de caso clínico simulado. Em seguida, indagou-se os ouvintes acerca de possíveis hipóteses diagnósticas ou erros durante a simulação. A capacitação foi dividida em dois períodos de tempo iguais. O primeiroperíodo foi constituído por duas situações-problema com os eixos temáticos de conceitos e definições, epidemiologia e fisiopatologia, parando para um breve intervalo de 15 minutos. Em seguida, retornou-se com os demais eixos temáticos que foram: diagnóstico clínico, profilaxia e tratamento, situações específicas na abordagem ao paciente com FR, apoio psicossocial e modelos de intervenção de sucesso no mundo. Utilizou-se mais duas situações-problema e foi realizada interação entre os principais tópicos abordados por meio de dois instrumentos tecnológicos: “Kahoot!” e “MentiMenter”. Ao longo da fase expositiva, o “Formulário de Dúvidas” foi enviado várias vezes, para que as dúvidas pudessem ser respondidas a qualquer momento. Estes poderiam ser preenchidos com quaisquer tipos de dúvida, a respeito do conteúdo, do desenvolvimento da apresentação, do projeto ou da logística da capacitação. Uma equipe estava de prontidão para receber e responder via e-mail, via chat on-line ou no final da apresentação, no momento de discussão. 29 3.2.2.3 Fase pós-expositiva No que se refere ao conhecimento sobre a FR avaliado após a exposição do conteúdo e discussão dos casos, conforme Tabela 3, constatou-se um aumento na taxa de acertos em todos os eixos temáticos, ou seja, 100% das taxas de acertos aumentaram consideravelmente nos oito eixos. Verificou-se que os acertos foram de mais 93% nos eixos de conceitos e definições e de apoio psicossocial. A menor taxa de acertos se manteve no eixo Fisiopatologia. Ainda que, nesse eixo, a taxa de acerto tenha aumentado de 59,3% no “Formulário pré-forms” para 76,9% no “Formulário pós-forms”, sendo essa a temática que apresentou maior evolução na avaliação do percentual de acertos, constatando-se um aumento de 17,6%. A menor variação no percentual de acertos, por sua vez, foi no eixo Modelos de intervenção de sucesso, que era de 78,7% na fase pré-expositiva e passou a ser 84,3% na fase pós-expositiva. Em termos de taxa de acertos por questão, verificou-se que o menor percentual de acertos foi em uma questão sobre o uso de anticoagulantes em pacientes grávidas, no eixo temático situações específicas sobre a abordagem clínica da FR, com 44% de acertos. Tabela 3 - Comparativo entre a taxa de acertos a respeito da Febre Reumática (FR) avaliada por meio dos formulários, nas fase pré e pós-expositiva - Natal/RN - agosto/2020 a julho/2021. Temática das questões - Eixo temático Taxa de Acerto 100,0% Temática 1 - Conceitos e definições Pré-forms 87,7% Pós-forms 93,3% Temática 2 - Epidemiologia Pré-forms 77,7% Pós-forms 87,5% Temática 3 - Fisiopatologia Pré-forms 59,3% 30 Pós-forms 76,9% Temática 4 - Diagnóstico clínico Pré-forms 66,1% Pós-forms 77,2% Temática 5 - Profilaxia para FR Pré-forms 76,9% Pós-forms 88,9% Temática 6 - Situações específicas Pré-forms 70,3% Pós-forms 83,6% Temática 7 - Apoio psicossocial Pré-forms 82,6% Pós-forms 93,1% Temática 8 - Modelos de intervenção de sucesso Pré-forms 78,7% Pós-forms 84,3% Fonte: elaborado pelo autor, 2022. A partir dos resultados obtidos nas avaliações pré e pós-expositiva, constatou-se que a capacitação auxiliou na aprendizagem dos participantes sobre a FR, contribuindo para melhorar a capacidade de reconhecimento, diagnóstico e tratamento da FR. Assim, verificou-se que a capacitação remota foi eficaz no contexto de educação em saúde, constituindo-se como uma alternativa para a realização de atualizações em saúde de maneira virtual. No que se refere às dúvidas, a maioria foram relacionadas à logística da capacitação e respondidas via e-mail. Quanto aos feedbacks, 94,4% dos participantes avaliaram o curso como bom, ótimo ou excelente; e apenas 5,6%, como regular. Os mesmos percentuais se repetiram nas questões de autoavaliação acerca do aprendizado obtido na capacitação. Quando questionados sobre a metodologia, 47,2% ressaltaram a necessidade de alguns ajustes, especialmente quanto à "abordagem, apresentação e dinâmica". No entanto, tais dados foram de encontro às respostas obtidas na avaliação dos pontos positivos da capacitação, visto que os pontos mais citados foram a “apresentação, abordagem, metodologia e qualificação dos instrutores". 31 Além disso, o tempo de capacitação foi considerado grande; e o conteúdo, denso. Os participantes sugeriram que os materiais fossem reduzidos e que sejam introduzidos momentos dinâmicos em meio a apresentação dos vídeos, contribuindo para a fixação do conteúdo abordado e para a concentração dos participantes na capacitação. Ainda assim, a capacitação, os conteúdos apresentados e a metodologia utilizada receberam elogios. Um dos feedbacks recebidos foi: "Precisamos de mais capacitações assim! Foi perfeito", o que sinalizou a importância de projetos de atualização para profissionais e estudantes da área de saúde. 3.2.3 Fase pós-capacitação Por fim, todos os participantes receberam o material complementar que objetivava auxiliar no estudo e na fixação do material. Este consistiu em artigos e no Guia de Bolso da SBC sobre a FR. Os certificados foram produzidos e entregues, via e-mail, para os participantes que enviaram todos os formulários, acertaram, no mínimo, 60% das questões na fase pós-expositiva e preencheram corretamente as duas palavras-chave apresentadas ao longo da capacitação. Estes tiveram carga horária de 10 horas, atribuídas aos momentos síncronos e assíncronos da capacitação, e foram enviados até 30 dias após a capacitação. 4. DISCUSSÃO A realização de projetos de pesquisa, ensino e extensão ao longo da formação acadêmica na área de saúde pode contribuir com o desenvolvimento de diferentes habilidades necessárias na vida profissional dos alunos, tais como a gestão de pessoas, a liderança, o trabalho em equipe, a oratória, a sistematização de conhecimentos, o planejamento e a execução de projetos. Além disso, a oportunidade de desenvolver uma capacitação remota na área de saúde pode proporcionar o desenvolvimento da habilidade de utilizar diferentes recursos, instrumentos e estratégias tecnológicas. 32 O uso de recursos de informática na área de educação em saúde contribui para o manejo de adversidades, como o isolamento social, uma medida adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para evitar o contágio e proliferação do vírus SARS-COV-2; a ausência ou escassez de recursos financeiros; e a abrangência das intervenções, visto que o acesso às redes de internet permite a redução das fronteiras físicas e possibilita a capacitação de pessoas em diferentes partes do mundo. Além disso, o desenvolvimento de capacitações em saúde com vídeos gravados unificam os investimentos de tempo e recursos, pois possibilitam a reprodução do material científico produzido em diferentes edições da capacitação, requerendo apenas a realização de alterações e atualizações, quando necessário, em partes específicas do material. Considerando o recurso auxiliar na prática pedagógica estabelecida, a inserção das tecnologias às capacitações deve ser acompanhada por uma metodologia adequada às necessidades dos alunos, utilizando-se de maneira adequada e significativa, questionando o objetivo que se quer atingir, levando-se em consideração o lado positivo e as limitações que apresentam. Evidencia-se a necessidade de uma prática de reflexão sobre a importância dos recursos didáticos, através de uma proposta que justifique a sua utilização. Para LORENZATO (1991), Os recursos interferem fortemente no processo de ensino e aprendizagem; o uso de qualquer recurso depende do conteúdo a ser ensinado, dos objetivos que se deseja atingir e da aprendizagem a ser desenvolvida, visto que a utilização de recursos didáticos facilita a observação e a análise de elementos fundamentais para o ensino experimental, contribuindo com o aluno na construção do conhecimento. (LORENZATO, 1991). A inserção dos recursos tecnológicos dentro da educação em saúde por meio das AVA's requer um planejamento decomo introduzir adequadamente para facilitar o processo didático-pedagógico almejado, buscando aprendizagens significativas e a melhoria dos indicadores de desempenho do sistema de aprendizado, onde as tecnologias sejam empregadas de forma eficiente e eficaz. Para MORAES, “o simples acesso à tecnologia, em si, não é o aspecto mais importante, mas sim, a criação de novos ambientes de aprendizagem e de novas dinâmicas sociais a partir 33 do uso dessas novas ferramentas”. (MORAES, 1997). É preciso conhecer e saber incorporar as diferentes ferramentas computacionais na educação. Para tal, a utilização de instrumentos educativos lúdicos educacionais como o Kahoot! e Mentimenter costumam atrair a atenção dos participantes, estabelecendo estratégias na resolução de problemas e o desenvolvimento do raciocínio lógico empregando e consolidando as informações adquiridas. Para Almeida, o jogo é um procedimento didático altamente importante; é mais que um passatempo; é um meio indispensável para promover a aprendizagem, disciplinar o trabalho do aluno e incutir-lhe comportamentos básicos, necessários à formação de sua personalidade. (ALMEIDA, 1984, p.32). As tecnologias introduzem diferentes formas de atuação e interação entre as pessoas. “Todo processo de aprendizagem requer a condição de sujeito participativo, envolvido, motivado, na posição ativa de desconstrução e reconstrução de conhecimento e informação, jamais passiva, consumista, submissa.” (DEMO, 2008). O projeto coletivo com proposta de educação organizada levará a práticas pedagógicas colaborativas, flexíveis e dinâmicas, respeitando as relações de aprendizagem que tornam o sujeito um ser ativo no seu processo de formação. Em uma pesquisa realizada no Colégio Estadual Otalípio Pereira de Andrade do município Campo Largo testou por meio de um questionário a importância do uso de recursos tecnológicos para testar o aumento de interesse, participação e motivação dos alunos. Em tal pesquisa, 100% dos professores afirmaram que os alunos demonstraram mais interesse no conteúdo abordado, 94,4% responderam que os alunos ficaram mais disciplinados, 88,9% afirmaram maior participação e motivação dos alunos. Os resultados da utilização dos recursos tecnológicos para o processo ensino-aprendizagem foram melhores para 94,4% dos professores. Na execução deste estudo piloto, a participação majoritária de mulheres é congruente com a predominância da presença feminina em grupos de profissionais e estudantes na área de saúde. Este fato pode ser explicado por uma expansão da presença feminina nos cursos universitários que vem acontecendo desde a década de 1970 e que se mantém na atualidade. 34 No Censo de 2000, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou-se uma acentuada presença feminina nos cursos mais concorridos e prestigiados, o que demonstra a prevalência do papel feminino nos âmbitos profissionais e universitários, ainda que a educação superior de mulheres, inicialmente, tenha sido direcionada para cursos menos valorizados socialmente (GUEDES, 2008). Além disso, historicamente, a predominância da presença de mulheres no cuidado prestados às crianças, à família, aos doentes e aos idosos é um fator relacionado com a figura feminina em profissões na área de saúde, conforme evidenciado neste estudo. Tais pontos também revelam como a perspectiva materno-infantil prevaleceu e foi refletida histórica e social, refletindo inclusive nas produções da literatura biomédica, na qual a mulher era comumente representada como mãe ou potencialmente grávida (KRIEGER; FEE, 1994). Trata-se de um padrão que vem sendo desconstruído ao longo dos anos, com a expressiva ampliação do leque de carreiras nas quais a população feminina passou a integrar, a exemplificar os papeis de pesquisa em doutorados em física quântica e engenharia nuclear, bem como em cargos renomados como a presidência da república. 4.1 Conhecimento dos participantes da pesquisa sobre a Febre Reumática No que se refere ao conhecimento dos participantes da pesquisa sobre a FR na fase pré-expositiva, constatou-se que eles apresentavam um conhecimento básico, mas que, em alguns eixos temáticos, como a Fisiopatologia, obteve baixas taxas de acertos. Uma possível justificativa para este resultado pode ser o fato de que a fisiopatologia de doenças, como a FR, não é tão aprofundada na graduação de Medicina e, possivelmente, menos ainda na graduação de Enfermagem. Adicionalmente, trata-se de um assunto mais complexo e denso do que os abordados nos outros eixos temáticos. Além disso, mesmo partindo do pressuposto de que a maioria dos participantes viram conteúdos sobre a FR na graduação, parte do assunto abordado pode ter se perdido na medida em que outros assuntos foram estudados. Este 35 aspecto torna ainda mais relevante o desenvolvimento de intervenções de atualização em saúde, preconizadas pelas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), que auxiliam na aprendizagem contínua dos profissionais visando a identificação e manejo de doenças, como a FR, que são menos conhecida e/ou ensinadas nas grades curriculares. Adicionalmente, enfatiza-se que a área de saúde é um dos campos do conhecimento que mais se desenvolve ao longo dos anos, anualmente são feitas inúmeras descobertas, dentre elas: vacinas, procedimentos cirúrgicos, práticas e teorias, requerendo constantes atualizações. Nesse sentido, segundo Ferreira et al. (2016), as ações de educação permanente são indispensáveis para qualificar os profissionais para o uso de tecnologias no cuidado e atenção à saúde nos diferentes níveis de atuação dos profissionais de saúde. Nesse contexto, as atualizações também se tornam necessárias em função do desconhecimento e/ou descumprimento das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), que preconizam, por exemplo, um atendimento que priorize intervenções nos níveis da APS. Conforme supracitado, constatou-se desconhecimento por parte dos estudantes com relação à aplicação da Penicilina benzatina (BZT) na APS. Esta problemática pode estar diretamente relacionada a dois aspectos principais: o desconhecimento teórico/prático dos estudantes/futuros profissionais ou às controvérsias que permeiam o universo da BZT no serviço básico de saúde. Verificou-se que os estudantes/futuros profissionais não conhecem a realidade da aplicação na BZT no contexto da saúde pública estatal, nem onde ela realmente deveria estar acontecendo. Isso pode ser um reflexo das condutas inadequadas de alguns profissionais dos serviços de atenção básica, que, por não se sentirem seguros para realizar a aplicação da BZT, encaminham os pacientes para a atenção terciária, sobrecarregando o serviço especializado com atribuições básicas. Esse encaminhamento, na maioria das vezes, se dá por despreparo profissional ou ausência de estrutura na UBS para lidar com uma reação anafilática. Na fase pós-expositiva, verificou-se um menor percentual de acertos em uma questão sobre o uso de anticoagulantes em pacientes grávidas. Este resultado pode ser em função de a maioria dos entrevistados estarem em períodos iniciais dos cursos, não aprendendo inicialmente sobre o uso de medicamentos, mesmo eles 36 tendo sido abordados na capacitação. Além disso, a "cultura" de aprender posteriormente o nome dos medicamentos e das dosagens também pode ser o motivo da dificuldade de fixação dessas informações por parte dos participantes. 4.2 Feedbacks acerca da capacitação Apesar dos ótimos feedbacks, verificou-se que uma parte expressiva dos participantes relatou cansaço excessivo ao participar da capacitação durante o período de quatro horas, que é considerado um período comum de aula diária. Tais relatos podem traduzir algumas dificuldades que o ensino remoto traz junto à facilidade de aplicação. A primeira dificuldade foi remetida à densidade e à quantidade de conteúdo abordado durante a capacitação. Outra dificuldade está relacionada como próprio ensino remoto. Sabe-se que o excesso de horas de exposição diária a tela de aparelhos eletrônicos pode levar a dores de cabeças, insônia, cansaço visual, envelhecimento precoce da retina, entre outros fatores, atribuídos à exposição continuada a frequência de onda da luz azul, emitida por esses dispositivos, quando utilizados por mais de seis horas (TOSINI; GIANLUCA; 2016). 4.3 Limitações No que se refere às limitações, constatou-se que as principais foram relacionadas ao método de avaliação do aprendizado e à duração da capacitação. Para os participantes, a quantidade de questões dos formulários pré e pós-forms (58 questões em cada) pode ter tornado o tempo disponível para o preenchimento dos formulários insuficiente, implicando em atraso no início da capacitação. Quanto à duração da capacitação, viu-se que o tempo de duração: quatro horas, com um intervalo de 15 minutos, fez com que esta fosse considerada um pouco cansativa e algumas pessoas não concluíssem a capacitação. Adicionalmente, aponta-se como limitação ao estudo piloto o fato de não ser possível saber se os alunos que erraram as questões dos formulários realmente assistiram a formação, visto que, por se tratar de uma capacitação remota, os 37 participantes não foram obrigados a permanecer com as câmeras ligadas, não sendo possível saber se os participantes realmente estavam em frente à tela, prestando atenção ao conteúdo apresentado e discutido na capacitação, mesmo que estratégias como a coleta de palavras-chave durante a apresentação tenham sido utilizadas para verificar se o estudante estava presente durante a apresentação. Além disso, ao fornecer um período assíncrono para finalizar o pós-forms, não foi possível assegurar que os participantes tenham respondido o formulário apenas com base no conhecimento adquirido na capacitação. Por fim, outra limitação quanto à eficácia da capacitação foi a quantidade de participantes do estudo piloto, uma vez que houve um número limitado de participantes, já que foram convidados apenas membros do grupo de Cardiopediatria da UFRN. 5. CONCLUSÃO Esta pesquisa descreveu o processo de transição do modelo de educação em saúde presencial para o formato remoto em FR; evidenciou que a capacitação remota elaborada contribuiu para o aumento nas taxas de acertos nas temáticas abordadas sobre a FR, do ponto de vista teórico. O modo remoto permitiu escalar as capacitações para nível regional e nacional, contribuindo com a propagação do conhecimento e com a possibilidade de aumento de diagnóstico da doença, tratamento e prognóstico da mesma. Ademais, capacitações como a descrita neste estudo corroboram com o aprendizado acadêmico dos participantes, que têm a oportunidade de conhecer a vivência dos profissionais e a realidade profissional atual junto ao sistema público de saúde. Considera-se que conhecer as dificuldades dos pacientes em termos de acesso aos serviços de prevenção e tratamento de doenças, bem como promoção de saúde, contribui para a formação dos acadêmicos em profissionais empáticos e que consideram todos os fatores envolvidos no tratamento de uma doença como a FR. Analisar o nível de conhecimento dos participantes contribuiu para a identificação dos temas menos conhecidos e/ou dominados pelos estudantes ao longo da capacitação. Esses dados podem auxiliar na elaboração e/ou atualização 38 das diretrizes e estratégias terapêuticas, bem como fomentar a realização de pesquisas e atualização de conteúdos acerca da FR e de outras doenças e sinalizar a necessidade de políticas de atenção à saúde dos portadores de FR e tornar a FR uma doença que requer a notificação compulsória. Dessa forma, pode-se elaborar capacitações de qualidade no ensino superior, que sejam construídas a partir das principais dificuldades e demandas dos estudantes e profissionais de saúde. Concluiu-se que a educação em saúde é essencial para o desenvolvimento e atualização do conhecimento acerca da FR; que o modelo de ensino remoto é uma excelente alternativa para o momento de crise mundial em que o isolamento social se fez necessário; e que o uso de recursos tecnológicos contribui para que o conhecimento seja acessível para um maior número de pessoas, de maneira clara e universal. 39 REFERÊNCIAS ABDULLAHI, Leila Hussein et al. Task sharing to improve the prevention, diagnosis and management of rheumatic heart disease: a systematic review protocol. BMJ open, v. 8, n. 2, p. e019511, 2018. Disponível em: <http://bmjopen.bmj.com/content/8/2/e019511>. ALMEIDA, Maria Elisabeth Bianconcini de. ProInfo: Informática e Formação de Professores. vol. 1. Série de Estudos Educação a Distância. 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