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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO MEDICINA
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES
MATHEUS BEZERRA DE LEMOS
EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM FEBRE REUMÁTICA: TRANSIÇÃO DO MODELO DE
ENSINO PRESENCIAL PARA O MODELO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA EM
SAÚDE
NATAL – RN
2022
MATHEUS BEZERRA DE LEMOS
EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM FEBRE REUMÁTICA: TRANSIÇÃO DO MODELO DE
ENSINO PRESENCIAL PARA O MODELO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA EM
SAÚDE
Trabalho Científico Obrigatório apresentado
ao Centro de Ciência da Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Medicina.
Orientadora: Profa. Ma. Gisele Correia
Pacheco Leite
NATAL – RN
2022
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS
Lemos, Matheus Bezerra de.
Educação em saúde em febre reumática: transição do
modelo de ensino presencial para o modelo de educação à
distância em saúde / Matheus Bezerra de Lemos. - 2022.
42f.: il.
Trabalho Científico Obrigatório - TCO (Graduação em
Medicina) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Medicina.
Natal, RN, 2022.
Orientador: Gisele Correia Pacheco Leite.
1. Febre Reumática - TCO. 2. Educação à distância -
TCO. 3. Práticas pedagógicas - TCO. 4. Tecnologia - TCO.
I. Leite, Gisele Correia Pacheco. II. Título.
RN/UF/BSCCS CDU
616.72-002.77
Elaborado por Adriana Alves da Silva Alves Dias -
CRB-15/474
3
MATHEUS BEZERRA DE LEMOS
EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM FEBRE REUMÁTICA: TRANSIÇÃO DO MODELO DE
ENSINO PRESENCIAL PARA O MODELO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA EM
SAÚDE
Trabalho Científico Obrigatório apresentado
ao Centro de Ciência da Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Medicina.
Orientadora: Profa. Mª Gisele Correia
Pacheco Leite
Aprovado em: 30 de Junho de 2022.
BANCA EXAMINADORA
Gisele Correia Pacheco Leite - Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Patricia Whebber Souza De Oliveira- Membro da banca examinadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Doutor Humberto Rabelo - Membro da banca examinadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
4
Dedico este trabalho ao meu maior amor, que sem
ele, eu nada seria: “mainha”.
5
AGRADECIMENTOS
À Doutora Hedyanne Guerra Pereira que se dedicou a esse Trabalho
Científico Obrigatório como se fosse seu próprio trabalho, prestando apoio e suporte.
À Professora Mestra Gisele Correia Pacheco Leite por mostrar a direção,
manter sempre a calma diante da adversidade e pelo olhar ímpar dentro da
universidade.
À Elisa, Nestor e Bruno por me guiarem e apoiarem por todos os anos de
convivência durante o período da universidade.
6
LISTA DE SIGLAS
APS - Atenção Primária à Saúde
AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem
BZT - Penicilina G Benzatina
COVID-19 - Coronavírus
CR - Cardite Reumática
CS - Coréia de Sydenham
FR - Febre Reumática
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC - Iniciação Científica
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
LACARP - Liga Acadêmica de Cardiopediatria da UFRN
OMS - Organização Mundial da Saúde
Programa FR - Programa de Assistência Multiprofissional ao paciente com FR
RN - Rio Grande do Norte
SBC - Sociedade Brasileira de Cardiologia
SPY - Streptococcus pyogenes
SUS - Sistema Único de Saúde
TC - Teste do Coraçãozinho
UBS - Unidade Básica de Saúde
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UnP- Universidade Potiguar
7
SUMÁRIO
1. Introdução…………………………………………………………………………...10
2. Método……………………………………………………………………………….12
3. Resultados…………………………………………………………………………..20
3.1. Estruturação do projeto piloto………………………………………………..20
3.1.1. Primeira etapa: atualização e/ou capacitação dos instrutores…21
3.1.2. Segunda etapa: sistematização das atribuições das pessoas em
comissões e funções……….…….………….………….………….……...22
3.2. Terceira etapa: Qualificação remota sobre Febre Reumática: um projeto
piloto…….…….…………….…………….…………….…………….……………..25
3.2.1. Pré-capacitação……………………………………………………..25
3.2.2. Capacitação Remota.……………………………………………….25
3.2.2.1. Fase pré-expositiva………………………………….……25
3.2.2.2. Fase expositiva……………………………………………28
3.2.2.3. Fase pós-expositiva………………………………………29
3.2.3. Fase pós-capacitação………………………………………………31
4. Discussão……………………………………………………………………………31
4.1. Conhecimento dos participantes da pesquisa sobre a Febre
Reumática.…………………………………………………………………………..34
4.2. Feedbacks acerca da capacitação ………..………………………………..36
4.3. Limitações…………...…………………………………………………………36
5. Conclusão……………………………………………………………………...……37
6. Referências…………………………………………………………………..……..39
8
RESUMO
A Febre Reumática (FR) é a principal causa de cardiopatia adquirida na infância. Os
profissionais de saúde precisam estar aptos e hábeis para reconhecer rapidamente
os sinais da patologia, principalmente os profissionais da Atenção Primária à Saúde,
considerada a porta de entrada para o diagnóstico e profilaxia da doença. No
entanto, percebe-se ainda déficit importante no reconhecimento, diagnóstico da
doença, seguimento e tratamento pelos profissionais de saúde. Diante disso, faz-se
necessário o desenvolvimento de capacitações para o diagnóstico precoce e
tratamento da FR, contribuindo para a diminuição da progressão da doença e
principalmente da evolução para as suas complicações. Durante a pandemia, em
função da necessidade de isolamento social, tornou-se essencial a adaptação dos
modelos de educação em saúde. Assim, considerou-se fundamental criar uma
capacitação em saúde sobre FR no formato remoto, aos moldes da educação à
distância, e avaliar a sua eficácia por meio de um projeto piloto. Para tanto,
elaborou-se um protocolo-guia, aplicado a 36 estudantes de Medicina e
Enfermagem, através de uma simulação prática realizada em quatro etapas. Este
trabalho descreveu a transição do modelo presencial para o ensino remoto de
educação em saúde em FR. Evidenciou que a capacitação virtual contribuiu para o
aumento de acerto nas temáticas abordadas sobre a FR, do ponto de vista teórico. O
modo remoto permitiu escalar as capacitações para nível regional e nacional,
contribuindo com a propagação do conhecimento e com a possibilidade de aumento
de diagnóstico da doença, tratamento e prognóstico da mesma. Concluiu-se que a
educação em saúde é essencial para o desenvolvimento e atualização do
conhecimento acerca da FR; que o modelo de ensino remoto é uma excelente
alternativa para o momento de crise mundial em que o isolamento social se fez
necessário; e que o uso de recursos tecnológicos contribui para que o conhecimento
seja acessível para um maior número de pessoas, de maneira clara e universal.
PALAVRAS-CHAVE: Febre Reumática. Educação à distância. Práticas pedagógicas.
Tecnologia.
9
HEALTH EDUCATION IN RHEUMATIC FEVER: TRANSITION FROM THE ON-SITE
EDUCATION MODEL TO THE DISTANCE EDUCATION MODEL IN HEALTH
ABSTRACT
Rheumatic Fever (RF) is the main cause of acquired heart disease in childhood.
Health professionals need to be able and skilled to quickly recognize the signs of the
pathology, especially Primary Health Care professionals, considered the gateway to
the diagnosis and profile of the disease. However, it is still important in the
recognition, diagnosis of the disease, and treatment by health professionals. The
development of capabilities for the treatment of RF began to occur, mainly, and the
increase in the progression of evolution began to occur. During the pandemic, due to
the need for social isolation, the adaptation of health education models became
essential. Thus, education to fundamental education will be created through distance
education on FR, in the mold of its education through remote project. Therefore, a
guide protocol was developed, applied to 36 Medicineand Nursing Students, through
a practical simulation carried out in four stages. This education work for remote
teaching the transition from the face-to-face model in FR. It showed that the virtual
training was complemented to increase the topic addressed on RF, from a theoretical
point of view. The region's diagnostic mode and more remote treatment can increase
as the regional diagnostic capacity and the increase capacity of the region increase.
It was concluded that health education is essential for the development and updating
of knowledge about RF; that the remote teaching model is an excellent alternative for
the moment of global crisis in which social isolation has become necessary; and that
the use of resources contributes to making technological knowledge accessible to a
greater number of people, in a clear and universal way.
KEYWORDS: Rheumatic Fever. Distance education. Pedagogical practices.
Technology.
10
1. INTRODUÇÃO
A Febre Reumática (FR) é uma doença multissistêmica, multifatorial,
determinada por resposta tardia autoimune à faringoamigdalites infecciosas
recorrentes. Esta é causada pelo Streptococcus pyogenes (SPY) – beta hemolítico
do grupo A – em indivíduos geneticamente predispostos (PEREIRA; BELO; SILVA,
2017).
Estima-se que cerca de 3% da população é geneticamente predisposta ao
desenvolvimento da FR (RAMOS; NOVAES, 2010). Esses indivíduos têm estruturas
corporais atacadas pelo próprio sistema imunológico, gerando respostas agudas e
crônicas, com sintomatologia evidente ou somente com alteração laboratorial.
Nesses casos, diferentes tecidos do corpo podem ser atingidos, ocasionando
sintomas como poliartrite, artralgia, eritema marginatum, nódulos subcutâneos,
Coreia de Sydenham (CS) e cardite reumática (CR). Dentre as manifestações
clínicas da FR, a CR crônica se constitui como a mais grave, sendo a única sequela
que pode ser irreversível e até causar a morte do portador. Globalmente, estima-se a
morte de 233.000 a 500.000 pessoas por ano em função de complicações da CR
(COSTA; DOMICIANO; PEREIRA, 2009).
A FR é mais frequente em ambientes desfavoráveis, sobretudo nos países
subdesenvolvidos, em que existe acesso restrito aos serviços de saúde, péssimas
condições de higiene, moradia e saneamento básico, além de má nutrição. Soma-se
a tais fatores, se fazem presentes os casos em que o diagnóstico precoce não
ocorre associado a exposição contínua à bactéria.
Além disso, os casos de FR são, muitas vezes, subdiagnosticados ou
reconhecidos apenas após dano valvar permanente pela CR. Nesses casos, o
diagnóstico tardio compromete a integridade do sistema cardiovascular dos
pacientes, o que poderia ser evitado com uma intervenção precoce e continuada,
por intermédio do remanejamento financeiro para implementação de programas de
diagnóstico e tratamento de FR, bem como uma adequada gestão da Atenção
Primária à Saúde (APS).
Nesse contexto, o direcionamento do olhar dos profissionais de saúde para as
dificuldades de acesso à informação, ao diagnóstico precoce e ao tratamento por
11
parte dos pacientes ajuda na compreensão da sua participação no processo de
rastreio e melhoria da qualidade de vida dos acometidos. Para tanto, o
desenvolvimento de capacitações em saúde direcionadas aos profissionais de saúde
se mostra como uma oportunidade de mudança desta realidade.
No entanto, com o advento da pandemia global pelo coronavírus (COVID-19),
a prática de capacitações direcionadas a estudantes e profissionais da saúde foram
veemente prejudicadas, dessa forma, surgem-se os debates de implementação de
modelos de educação em saúde por meio virtuais de ensino. A discussão sobre a
relevância de ambientes digitais mudou de patamar mundialmente após a chegada
da pandemia e, assim, vai progredir acentuadamente.
Partindo desse ponto, surge uma nova questão: a distinção entre a
capacitação virtual e a capacitação presencial. Para muitos, o curso virtual
encaixa-se para aludir uma adulteração dos cursos presenciais, no entanto, essa
dicotomia entre real e virtual já não cabe mais – para os jovens, já são a mesma
coisa (WILLIAMS, 2017; GROSZ, 2017). Essa reação a cursos "não presenciais"
nutre-se do próprio instrucionismo, que defende a presença física do público cativo
controlável, postulando que o estudante olhando fixamente para o docente
transmitindo conteúdo aprende melhor do que assistindo a um vídeo em casa sobre
o mesmo conteúdo. No entanto, a principal dificuldade na instalação dos Ambientes
Virtuais de Aprendizagem (AVA's) vai para além do pensamento de somente
fornecer informação, a mudança maior está na percepção e no processamento da
informação, ou seja, analisar, interpretar e transformar os dados indicadores aos
desafios que cercam uma temática específica. O aprendizado ocorre na mente do
receptor, não na aula do docente – o lugar e hora em que isso ocorre é irrelevante.
Algumas avaliações indicam que, comparando-se cursos “presenciais” e “não
presenciais”, estes acabam tendo resultados melhores, por uma ironia: muitos
cursistas “não presenciais” inscrevem-se para buscar facilidades, atalhos, um
diploma menos exigente, etc. Mas, se o curso for minimamente exigente, a maioria
desistirá, sobrando uns 25% ao final que querem estudar (DEMO, 2011c).
No entanto, os cursos de capacitações on-line crescem num ritmo da
voracidade do mercado, muitos preferem cursos com presença virtual porque
12
esperam flexibilidade organizacional e curricular que caiba em seus apertos da vida,
sendo essa a principal vantagem competitiva entre os cursos.
Logo, a educação em saúde pode representar uma resposta eficiente para a
realização do diagnóstico precoce e para reduzir a progressão da doença no Brasil,
dada a sua importância no contexto dos serviços de saúde pública (GONÇALVES,
M. C, 2008). Nacionalmente, constata-se uma carência de modelos de capacitação
de profissionais que atuam no contexto da saúde, tornando-se necessário o
desenvolvimento de capacitações que auxiliassem na disseminação de informações
sobre a FR, contribuindo para o diagnóstico precoce e para a diminuição da
progressão da doença.
Neste contexto, foi criado o Programa de Assistência Multiprofissional ao
paciente com FR (Programa FR), sendo um projeto de extensão universitário
vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) intitulado
“Programa Febre Reumática”, no qual eram realizadas ações de educação em
saúde nas Unidades Básicas de Saúde (UBS's) de Natal/RN. Trata-se de um projeto
pioneiro na capacitação em saúde a respeito da FR na região, que, a partir do início
de 2020, encontrou um novo desafio: o isolamento social em função da pandemia do
coronavírus, causada pelo vírus SARS-COV-2, que - de maneira brusca e repentina
- alterou a rotina de bilhões de pessoas e tornou necessário o desenvolvimento de
estratégias de ensino e trabalho por meio da comunicação virtual.
Assim, tornou-se essencial que o projeto também se adaptasse ao contexto
pandêmico e buscasse inserção na educação à distância de modo remoto. Então,
realizou-se um estudo piloto com o objetivo de executar uma capacitação no modelo
de ensino remoto para profissionais e estudantes da área de saúde a respeito da
FR, avaliando a eficácia dessa capacitação.
2. MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo analítico qualitativo desenvolvido no
período de agosto de 2020 a julho de 2021, a partir da necessidade de substituir as
13
capacitações em saúde do modelo presencial pelo remoto, no contexto da pandemia
pela COVID-19. O estudo teve como base as capacitações desenvolvidas pelo
projeto de extensão universitária intitulado Capacitação de Profissionais e
estudantes da área da saúde no diagnóstico e tratamento da FR, integrante do
Programa FR da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Este
Programa FR foi idealizado, planejado, elaborado e executado pela Professora
pesquisadora, sendo colocado em prática conjuntamente com os participantes dosdiferentes projetos inseridos no mesmo.
O Programa FR era composto por projetos de extensão universitária que
associavam o ensino à pesquisa e à extensão. Dentre eles, citam-se: ações de
educação em saúde junto à população e à comunidade científica; grupo de apoio
aos pacientes com FR e seus responsáveis; curso para capacitar profissionais e
estudantes da área da saúde para a administração correta da penicilina benzatina;
capacitação de profissionais e estudantes da área da saúde para o diagnóstico e
tratamento precoce da FR; capacitação dos profissionais da saúde para a coleta do
swab da orofaringe, bem como da equipe do laboratório para a cultura apropriada no
reconhecimento do Estreptococo beta hemolítico do grupo A de Lancefield.
A FR era uma das vertentes do Projeto Global, denominado Cardiopediatria
UFRN. Ao longo de dez anos este projeto macro foi sendo criado pela Professora
pesquisadora em Cardiopediatria do Departamento de Pediatria da UFRN, estando,
atualmente, com a iniciação científica e as linhas de pesquisa-ensino-extensão em
cardiopatia congênita, teste do coraçãozinho e FR. Dos projetos, citam-se: a Liga
Acadêmica de Cardiopediatria da UFRN (LACARP); Capacitação de profissionais e
estudantes da área da saúde para o Teste do Coraçãozinho (TC); o Programa Febre
Reumática (FR) e o Programa de Iniciação Científica (IC) de Cardiopediatria da
UFRN.
Este projeto foi realizado em quatro etapas diagramadas de acordo com a
figura 1.
14
Figura 1 – Etapas da transição do modelo de ensino presencial para o modelo de
educação à distância em saúde na temática Febre Reumática (FR), no período de
período de agosto/2020 a julho/2021.
Fonte: elaborado pelo autor, 2022.
A primeira etapa consistiu em uma fase teste introdutória para a transição do
projeto para o ensino remoto, teve como objetivo atualizar e/ou capacitar cerca de
30 instrutores do Programa FR (alunos do Curso de Medicina da UFRN e da
Universidade Potiguar – UnP - associados ao projeto de extensão) com relação às
bases e fundamentos teóricos, científicos e metodológicos a respeito da FR, bem
15
como avaliar o uso dos aparatos tecnológicos para o desenvolvimento de uma
capacitação virtual, testando suas limitações e benefícios.
A segunda etapa iniciou-se com a sistematização da atribuição de funções
entre os integrantes do projeto, para isso ocorreu a divisão dos instrutores em três
comissões: de pesquisa, de extensão e de mídias. Cada comissão tinha um líder,
objetivos, atribuições e um cronograma de ação detalhado. Ao longo desta etapa,
reuniões eram desenvolvidas quinzenalmente para atualizações do trabalho
desenvolvido e planejamentos.
De maneira geral, ainda nesta etapa, realizou-se o levantamento da
fundamentação teórica atual e de protocolos vigentes a respeito da FR para elaborar
e/ou atualizar o material de ensino; pesquisou-se a melhor metodologia para abordar
o material científico com o público alvo selecionado, a plataforma de reunião virtual e
o programa de edição de vídeos adequado aos objetivos propostos; a elaboração de
cinco formulários; e a produção e edição dos vídeos para a capacitação. Os achados
das pesquisas realizadas pelas comissões foram apresentados para os demais
instrutores e, juntos, eles debateram, reformularam e/ou aprovaram o que foi
necessário ser acrescentado e/ou modificado na capacitação remota.
Dos formulários supracitados descreve-se: (1) "Formulário de inscrição":
visando coletar a informação para traçar o perfil descritivo dos capacitados, bem
como coletar experiências prévias com a patologia; (2) “Formulário pré-forms”: com o
objetivo de avaliar o nível de conhecimento sobre a FR pré-exposição; (3)
“Formulário pós-forms”: com o objetivo de avaliar o nível de conhecimento
pós-exposição, a eficácia da capacitação e a presença dos participantes ao longo da
capacitação; (4) “Formulário de Dúvidas”: a fim de coletar questionamentos a
respeito do conteúdo ministrado, da metodologia utilizada ou da capacitação; e (5)
“Formulário de Feedback”: com a finalidade de receber uma avaliação da
capacitação, sugestões de melhorias na metodologia e/ou no conteúdo para as
próximas capacitações.
Para evidenciar se o aluno capacitado participou ativamente do treinamento,
foram inseridas nos vídeos palavras-chave a serem incluídas no “Formulário
pós-forms”, buscando verificar a atenção do aluno ao conteúdo exposto. As palavras
permaneciam como o único objeto em tela por um período mínimo de 15 segundos e
16
apareceram, cada uma, duas vezes até o final da capacitação. Dessa forma, essas
palavras seriam coletadas e inseridas no formulário pós-forms com objetivo de
coletar a presença do participante.
A terceira etapa foi a qualificação de alunos e profissionais de saúde
integrantes do grupo de ensino-pesquisa-extensão de Cardiopediatria da UFRN.
Essa etapa foi subdividida em três estágios principais. O primeiro consistiu na fase
pré-capacitação, na qual houve o contato com os participantes, via aplicativo de
mensagens intitulado "WhatsApp", respeitando-se as normas de isolamento social, o
agendamento da capacitação e o preenchimento do formulário de inscrição, com a
finalidade de coletar informações como nome, e-mail e idade, bem como obter
dados referentes à vivência individual, profissional e acadêmica com a FR.
O segundo estágio foi a capacitação, que aconteceu em três fases:
pré-expositiva, expositiva e pós-expositiva. Na primeira, os instrutores aguardaram o
grupo a ser capacitado na sala virtual na data e horário marcados, disponíveis para
dar suporte, preparar o ambiente para a intervenção e tirar dúvidas dos
participantes. No horário previsto para iniciar as atividades, os instrutores enviaram o
Formulário de Avaliação, um questionário produzido via Google Forms, composto
por 58 perguntas que contemplavam os oito eixos temáticos1 a serem abordados na
capacitação, os quais foram listados no Quadro 1. Esse formulário objetivou
investigar o nível de conhecimento dos participantes a respeito da FR.
Quadro 1. Descrição dos eixos temáticos relacionados à Febre Reumática e o número de
questões por eixo de acordo com as vertentes temáticas a respeito da patologia
apresentadas na capacitação no modelo remoto no período de agosto/2020 a julho/2021.
Eixos Temáticos Número de Questões
Conceitos e definições 05
Fisiopatologia 06
Diagnóstico clínico 10
Profilaxia e tratamento 10
1 Os oito eixos temáticos foram definidos a partir da pesquisa de fundamentação teórica e
identificação dos protocolos diagnósticos e terapêuticos da FR.
17
Situações específicas na abordagem 10
Apoio psicossocial 04
Modelos de intervenção de sucesso 06
Fonte: elaborado pelo autor, 2022.
Na fase expositiva teórico-prática, houve a apresentação do material
científico, que consistiu na discussão dos eixos temáticos supracitados (Quadro 1).
Esta aconteceu em um encontro remoto, via Google Meet, com duração de cerca de
quatro horas, no qual houve a exposição do conteúdo e atividades de
situações-problema sobre os eixos-temáticos, além da utilização dos recursos
tecnológicos que contribuíram para ações em saúde, com objetivo de consolidação
do conhecimento adquirido. Tais aparatos foram o Kahoot! e Mentimenter, sites que
proporcionam a montagem de dinâmicas lúdicas educativas. O "Kahoot!" é uma
plataforma de aprendizado baseada em jogos, usada como tecnologia educacional
em escolas e outras instituições de ensino. Seus jogos de aprendizado, "Kahoots",
são testes de múltipla escolha que permitem a geração de usuários com resposta
em tempo real (figura 2). Enquanto que o Mentimenter é um aplicativo usado para
criar apresentações com feedback em tempo real, possibilitando a interação e
discussão com os participantes (figura 3).
Figura 2 - Utilização da plataforma digital Kahoot! durante as capacitações de
profissionais e estudantes da área da saúde para o diagnóstico precoce e
tratamento da Febre Reumática.
18
Fonte: Google Imagens 2.Figura 3 - Utilização da plataforma digital Mentimenter durante as capacitações de
profissionais e estudantes da área da saúde para o diagnóstico precoce e
tratamento da Febre Reumática.
Fonte: Google Imagens 3.
Por fim, na fase pós-expositiva, os participantes preencheram três
questionários: o “Formulário pós-forms”, o “Formulário de Dúvidas” e o “Formulário
de Feedback”. O envio destes formulários preenchidos era um dos requisitos para o
recebimento do certificado. Os participantes tiveram um limite de quatro horas para
finalizar o preenchimento dos formulários e enviá-los para os instrutores.
As respostas obtidas por meio dos formulários utilizados neste estudo foram
tabuladas no Google Planilhas. Em seguida, realizou-se estatística descritiva, com o
objetivo de apresentar a frequência das respostas e/ou acertos dos participantes que
viabilizaram a discussão comparativa entre as fases pré-expositiva e pós-expositiva.
A quarta etapa consistiu no envio de material de apoio com conteúdo
expositivo e as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) sobre FR, via
e-mail, com o objetivo de complementar e solidificar o conteúdo abordado na
3 Disponível em: <https://www.mentimeter.com/pt-BR>. Acesso em 16 de julho de 2022.
2 Disponível em: <https://kahoot.com>. Acesso em 16 de julho de 2022.
19
capacitação. Ademais, disponibilizou-se o certificado de participação na capacitação
para os participantes que
No que concerne à participação do público-alvo neste estudo, estabeleceu-se
como critérios de inclusão: ser estudante ou profissional de saúde e preencher
integralmente os formulários da pesquisa. Foram convidados todos os participantes
de projetos de extensão ou iniciação científica na área de Cardiopediatria da UFRN:
LACARP - UFRN, o projeto (TC), o Programa FR e o Programa de Iniciação
Científica (IC) de Cardiopediatria da UFRN (figura 4).
Figura 4 – Capacitação “piloto” transicionando o modelo de ensino presencial para o
modelo de educação à distância em saúde em Febre Reumática.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022.
Inicialmente, houveram 48 participantes no estudo piloto. Dentre eles, três
eram profissionais (dois enfermeiros e um técnico de enfermagem) e os demais,
estudantes dos cursos de Enfermagem e Medicina de universidades de Natal/RN.
Entretanto, 12 foram excluídos deste estudo por não preencherem integralmente
algum dos formulários da pesquisa. Deste modo, a amostra final foi composta por 36
estudantes integrantes de algum dos projetos de Cardiopediatria da UFRN.
20
3. RESULTADOS
No período de agosto/2020 a julho/2021 foram executadas as ações de
planejamento metodológico descritas neste trabalho, partindo de uma fase teste que
forneceu bases criteriosas para a estruturação do projeto piloto geral. Dessa forma,
puderam ser atribuídas funções para transformar um projeto de extensão presencial
para um modelo de ensino virtual, descrito passo a passo abaixo.
3.1 Estruturação do projeto piloto
3.1.1 Primeira etapa: atualização e/ou capacitação dos instrutores
Fase teste
Ao iniciar o projeto, foi necessário capacitar os novos instrutores e
concomitantemente testar as bases iniciais de transição de um modelo de ensino
presencial para o ensino remoto. Dessa forma, agendou-se uma capacitação com os
instrutores nos moldes que acontecia no formato presencial, levando os recursos
utilizados no formato presencial para capacitar os estudantes. Então, os
coordenadores discentes do Programa FR apresentaram para os novos instrutores
os slides, dinâmicas e questionários que eram transmitidos nas Unidades Básicas de
Saúde (UBS's). À medida que a capacitação acontecia, era possível verificar todas
as limitações nessa transição direta de uma forma de ensino para outra, de acordo
listadas na figura 5.
Figura 5 - Descrição das limitações encontradas no primeiro teste de capacitação
virtual direcionado para os instrutores do Programa Febre Reumática da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
21
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022.
A partir das limitações encontradas, criou-se as bases de planejamento
descritas cronologicamente abaixo.
3.1.2 Segunda etapa: sistematização das atribuições das pessoas em
comissões e funções
a) Divisão e atribuições das comissões
No período de agosto de 2020 a julho de 2021, foram elaboradas propostas
de estruturação para a capacitação em formato de ensino remoto. Para tanto,
conforme supracitado, os 30 instrutores foram divididos em três comissões, sendo
cada uma composta por 10 integrantes.
A comissão de pesquisa teve como atribuições principais:
- Buscar exemplos na literatura de metodologias de ensino on-line;
- Pesquisar a necessidade de órgão regulador para emissão de
certificados;
- Corrigir o material enviado pelas outras comissões (vídeos, scripts,
material didático);
- Realizar análise estatística dos dados obtidos na capacitação; e,
22
- Publicar nas redes sociais em formato de posts educativos as
principais dúvidas geradas nas capacitações.
A comissão de extensão foi responsável por atividades, como:
- Pesquisar os melhores métodos de estruturação para o curso
(plataforma, formulários, tempo de duração);
- Atualizar os tópicos dos blocos temáticos;
- Criar scripts de apresentação;
- Elaborar questões do bloco em questão;
- Iniciar as gravações e a confecção dos slides de apresentação;
- Listar instituições de saúde aptas para receber a capacitação;
- Confecção de todos os formulários usados em capacitação na
plataforma escolhida para utilização;
- Preparar a logística de realização do curso, bem como, momento em
que se passará cada dinâmica, interação, palavra-chave;
- Estruturar equipe de apoio dividindo-os entre as funções para a
capacitação.
Por fim, a comissão de mídias foi responsável por:
- Regulamentar a criação do conteúdo no formato de ensino médico;
- Criar instruções padronizadas para a gravação dos vídeos;
- Elaborar as cartas convites para instituições de ensino e profissionais
de saúde;
- Criar identidade visual para redes sociais e slides da capacitação;
- Editar os vídeos de todas as comissões;
- Divulgar a capacitação nos meios de comunicação virtual;
- Criar um calendário de ação;
- Enviar o material complementar didático;
As comissões também tiveram atribuições comuns. Dentre as atividades
realizadas por todos os instrutores, nas suas respectivas comissões, destacaram-se
as atividades referentes a:
23
- Pesquisar conteúdo teórico e protocolos diagnósticos e terapêuticos da
FR;
- Definir os eixos temáticos a serem abordados na capacitação;
- Elaborar e/ou atualizar os tópicos dos eixos temáticos;
- Criar scripts de apresentação;
- Elaborar as questões dos eixos temáticos;
- Confeccionar os slides de apresentação; e
- Gravar os vídeos.
b) Metodologia de ensino e recursos tecnológicos para atualização
em saúde
A partir da pesquisa de fundamentação teórica e identificação dos protocolos
diagnósticos e terapêuticos da FR, foram definidos oito eixos temáticos para a
capacitação: (1) Conceitos e definições; (2) Epidemiologia; (3) Fisiopatologia; (4)
Diagnóstico clínico; (5) Profilaxia e tratamento; (6) Situações específicas na
abordagem ao paciente com FR; (7) Apoio Psicossocial; e, (8) Modelos de
intervenção de sucesso. Estes foram apresentados por meio de vídeos expositivos,
em uma reunião on-line, de maneira síncrona, intercalados com situações-problema,
dinâmicas, casos clínicos e/ou vivências da equipe, com o objetivo de discutir,
problematizar e fixar o conteúdo apresentado.
A escolha pelo uso de vídeos previamente gravados se deu em função da
possibilidade de: (1) padronização do conteúdo teórico fornecido aos capacitados, o
que permitiu que o conteúdo fosse compartilhado nas mesmas condições de ensino
para todos os participantes, eliminando possíveis vieses na transmissão do
conhecimento por ser apresentador-dependente; (2) transmissão do conteúdo para
inúmeras pessoas, de maneira clara e objetiva; (3)evitar dificuldades na execução
da capacitação em função de instabilidades nas redes de internet.
No que se refere aos recursos tecnológicos utilizados em atualizações em
saúde, constatou-se a possibilidade de utilizar quatro plataformas: o Zoom, o Google
Meet, a WebConference e o Youtube. Estas permitiam a transmissão de vídeos e
24
uso de câmeras, concomitantemente, e foram testadas através de simulações
síncronas nas quais houve a apresentação dos vídeos editados.
Para definição da plataforma adequada para a capacitação, os instrutores
utilizaram como critérios: (1) a facilidade de acesso pelo público-alvo; (2) a
viabilidade do desenvolvimento das atividades planejadas; (3) a possibilidade de
interação durante a transmissão dos vídeos, visto que se considerou relevante a
interação síncrona entre participantes e instrutores, com momentos de discussão de
dúvidas e questionamentos, que tornassem o processo de ensino-aprendizagem
menos cansativo; (4) a melhor progressão de vídeo; (5) a menor sobrecarga de
internet; (6) a maior disponibilidade de tempo de reunião remota e de acesso de
múltiplos participantes, por meio da UFRN (via e-mail institucional). Assim, a
plataforma escolhida foi o “Google Meet”.
c) Vídeos expositivos: elaboração, gravação e edição
Para elaboração dos vídeos, conforme supracitado, criou-se um roteiro de
apresentação e um material de apoio visual: os slides. Para tanto, o uso de aparatos
tecnológicos foi indispensável. Utilizou-se sites e aplicativos que possibilitaram a
criação dos slides, como "Google Apresentações" e "Canva". Estes também foram
utilizados na elaboração dos materiais científicos e interativos.
Com relação ao roteiro de apresentação para gravação das aulas,
elaborou-se um guia de instruções, que continha orientações objetivando a
padronização do material elaborado. Nele, os instrutores foram orientados quanto à
iluminação, vestimenta, local de gravação, tom e velocidade da voz, bem como a
posição da câmera.
Ao finalizar os vídeos, estes foram avaliados quanto ao cumprimento das
orientações. Ao serem aprovados, os vídeos eram encaminhados para a edição, no
qual, a gravação era associada ao material de apoio visual. Para tanto, utilizou-se
diferentes recursos, como o Shotcut, Capcut, Canva, Imovie e Videoleap. Os áudios,
por sua vez, foram editados com o auxílio de aplicativos como o Audacity, o Shotcut
e o Videoleap. A escolha do aplicativo foi feita por cada equipe responsável pela
edição, de acordo com a sua preferência de utilização e familiarização com o editor.
25
3.2 Terceira etapa: Qualificação remota sobre Febre Reumática: um
projeto piloto
3.2.1 Pré-capacitação
Convite ao público-alvo
O convite para o público-alvo do projeto piloto foi feito para o grupo de
ensino-pesquisa-extensão de Cardiopediatria da UFRN por meio de um aplicativo de
mensagens, o “WhatsApp”. Todos os participantes da capacitação possuíam
interesse na temática abordada: a FR.
Após o convite, foi disponibilizado o formulário de inscrição. Este foi
respondido e enviado via Google Forms. Posteriormente, foi enviado, via e-mail e no
grupo de mensagens, um comunicado com a confirmação de horário, data e
endereço virtual da capacitação proposta.
3.2.2 Capacitação Remota
3.2.2.1 Fase pré-expositiva
a) Participantes
Houveram a participação de 36 estudantes do curso de Medicina e de
Enfermagem de universidades localizadas em Natal/RN. A descrição detalhada do
perfil descritivo dos participantes das capacitações está presente na Tabela 1.
Tabela 1 – Perfil descritivo dos participantes da primeira simulação de capacitação no modelo
remoto de ensino em saúde sobre a Febre Reumática (FR) - Natal/RN - agosto/2020 a
julho/2021.
Variável Capacitados (n=36) 100,0%
Sexo
Feminino 26 72,2
26
Masculino
Idade dos capacitados
15 – 19 anos
20 – 24 anos
25 – 29 anos
30 – 34 anos
35 – 39 anos
10
4
23
5
1
3
27,8
11,1
63,9
13,9
2,8
8,3
Escolaridade
Graduando
Pós-graduação
Curso acadêmico
Acadêmico(a) de medicina
Acadêmico(a) de enfermagem
34
2
28
7
94,4
5,6
77,8
19,4
Fonte: elaborado pelo autor, 2022.
A partir destes dados, constatou-se uma predominância feminina na
participação da capacitação. Adicionalmente, verificou-se que cerca de 63,9% dos
participantes têm de 20 a 24 anos, apresentando uma média de 23,3 anos (± 4,7).
b) Aplicação do pré-forms
Constatou-se que 97,2% da amostra afirmou já conhecer a FR antes da
capacitação. Destes, 83,3% relataram ter conhecido por meio da formação
acadêmica. No que se diz respeito ao contato mais íntimo com a doença, 5,6%
disseram ter um familiar próximo ou um amigo/conhecido portador da FR, 2,8% da
amostra relatou ser acometido pela FR e 16,7% afirmaram conhecer apenas
pacientes com a doença.
Com relação às dificuldades para realização da profilaxia para a FR, apenas
dois entrevistados deram respostas positivas para a questão, exemplificando a
dificuldade de encontrar a Penicilina G Benzatina (BZT). Além disso, quando
questionados a respeito dos locais que fizeram profilaxia, somente 30,6% relataram
27
saber onde realizar a profilaxia: apenas um direcionou a profilaxia para a APS e os
outros direcionaram o tratamento para a atenção terciária.
No que concerne à taxa de acerto dos questionários, conforme a Tabela 2,
constatou-se que os participantes apresentaram conhecimento prévio acerca dos
conteúdos abordados e que o menor percentual médio de acerto foi de 59,3% no
eixo temático Fisiopatologia. Neste, que sugere ser um assunto mais complexo e
denso, houve perguntas que tiveram taxa de acerto de apenas 25%.
Nesse contexto, também existiram eixos temáticos que obtiveram ótimos
resultados, como os de conceitos e definições e o de apoio psicossocial, que
apresentaram, respectivamente, taxas de acerto de 87,8% e 82,6%. Trata-se de
eixos em que as temáticas apresentaram conteúdos mais gerais, incluindo conceitos
comuns a outras doenças e informações referentes à saúde mental do paciente.
Esses conteúdos não avaliaram conteúdos específicos sobre a FR, mas englobaram
informações importantes para um entendimento mais amplo da FR, incluindo
aspectos conceituais e psicossociais fundamentais para o desenvolvimento de um
cuidado seguro, efetivo e eficiente ao portador da doença.
Tabela 2 - Quantidade média de acertos de questões no Formulário pré-forms, aplicado na
fase pré-expositiva, divididos por eixo temático a respeito da Febre Reumática (FR) -
Natal/RN - agosto/2020 a julho/2021.
Temática das questões Taxa de Acerto
Temática 1 - Conceitos e definições 87,7%
Temática 2 - Epidemiologia 77,7%
Temática 3 - Fisiopatologia 59,3%
Temática 4 - Diagnóstico clínico 66,1%
Temática 5 - Profilaxia para FR 76,9%
Temática 6 - Situações específicas 70,3%
Temática 7 - Apoio psicossocial 82,6%
Temática 8 - Modelos de intervenção de sucesso 78,7%
Fonte: elaborado pelo autor, 2022.
28
3.2.2.2 Fase expositiva
O projeto piloto consistiu em uma capacitação remota realizada em uma
reunião síncrona, via Google Meet, com cerca de quatro horas de duração. Nesta,
os vídeos sobre os oito eixos temáticos, as vivências e os casos clínicos foram
compartilhados. Ademais, algumas dinâmicas foram realizadas.
O encontro estava previsto para iniciar às 8:00 horas da manhã, em um
sábado, no mês de junho de 2021. Para tanto, a sala virtual foi aberta cerca de 15
minutos antes para receber e acomodar adequadamente os participantes antes do
início das apresentações. Ao entrar na sala, uma playlist com músicas relaxantes os
aguardavam.
Após 5 minutos de tolerância, a capacitação foi iniciada. Um moderador de
sala iniciou as boas vindas e passou informações sobre a capacitação para os
participantes, direcionando um script da apresentação. Esta iniciou com uma
situação-problema de caso clínico simulado. Em seguida, indagou-se os ouvintes
acerca de possíveis hipóteses diagnósticas ou erros durante a simulação.
A capacitação foi dividida em dois períodos de tempo iguais. O primeiroperíodo foi constituído por duas situações-problema com os eixos temáticos de
conceitos e definições, epidemiologia e fisiopatologia, parando para um breve
intervalo de 15 minutos. Em seguida, retornou-se com os demais eixos temáticos
que foram: diagnóstico clínico, profilaxia e tratamento, situações específicas na
abordagem ao paciente com FR, apoio psicossocial e modelos de intervenção de
sucesso no mundo. Utilizou-se mais duas situações-problema e foi realizada
interação entre os principais tópicos abordados por meio de dois instrumentos
tecnológicos: “Kahoot!” e “MentiMenter”.
Ao longo da fase expositiva, o “Formulário de Dúvidas” foi enviado várias
vezes, para que as dúvidas pudessem ser respondidas a qualquer momento. Estes
poderiam ser preenchidos com quaisquer tipos de dúvida, a respeito do conteúdo,
do desenvolvimento da apresentação, do projeto ou da logística da capacitação.
Uma equipe estava de prontidão para receber e responder via e-mail, via chat
on-line ou no final da apresentação, no momento de discussão.
29
3.2.2.3 Fase pós-expositiva
No que se refere ao conhecimento sobre a FR avaliado após a exposição do
conteúdo e discussão dos casos, conforme Tabela 3, constatou-se um aumento na
taxa de acertos em todos os eixos temáticos, ou seja, 100% das taxas de acertos
aumentaram consideravelmente nos oito eixos. Verificou-se que os acertos foram de
mais 93% nos eixos de conceitos e definições e de apoio psicossocial.
A menor taxa de acertos se manteve no eixo Fisiopatologia. Ainda que, nesse
eixo, a taxa de acerto tenha aumentado de 59,3% no “Formulário pré-forms” para
76,9% no “Formulário pós-forms”, sendo essa a temática que apresentou maior
evolução na avaliação do percentual de acertos, constatando-se um aumento de
17,6%. A menor variação no percentual de acertos, por sua vez, foi no eixo Modelos
de intervenção de sucesso, que era de 78,7% na fase pré-expositiva e passou a ser
84,3% na fase pós-expositiva.
Em termos de taxa de acertos por questão, verificou-se que o menor
percentual de acertos foi em uma questão sobre o uso de anticoagulantes em
pacientes grávidas, no eixo temático situações específicas sobre a abordagem
clínica da FR, com 44% de acertos.
Tabela 3 - Comparativo entre a taxa de acertos a respeito da Febre Reumática (FR)
avaliada por meio dos formulários, nas fase pré e pós-expositiva - Natal/RN - agosto/2020 a
julho/2021.
Temática das questões - Eixo temático
Taxa de Acerto
100,0%
Temática 1 - Conceitos e definições
Pré-forms 87,7%
Pós-forms 93,3%
Temática 2 - Epidemiologia
Pré-forms 77,7%
Pós-forms 87,5%
Temática 3 - Fisiopatologia
Pré-forms 59,3%
30
Pós-forms 76,9%
Temática 4 - Diagnóstico clínico
Pré-forms 66,1%
Pós-forms 77,2%
Temática 5 - Profilaxia para FR
Pré-forms 76,9%
Pós-forms 88,9%
Temática 6 - Situações específicas
Pré-forms 70,3%
Pós-forms 83,6%
Temática 7 - Apoio psicossocial
Pré-forms 82,6%
Pós-forms 93,1%
Temática 8 - Modelos de intervenção de sucesso
Pré-forms 78,7%
Pós-forms 84,3%
Fonte: elaborado pelo autor, 2022.
A partir dos resultados obtidos nas avaliações pré e pós-expositiva,
constatou-se que a capacitação auxiliou na aprendizagem dos participantes sobre a
FR, contribuindo para melhorar a capacidade de reconhecimento, diagnóstico e
tratamento da FR. Assim, verificou-se que a capacitação remota foi eficaz no
contexto de educação em saúde, constituindo-se como uma alternativa para a
realização de atualizações em saúde de maneira virtual.
No que se refere às dúvidas, a maioria foram relacionadas à logística da
capacitação e respondidas via e-mail. Quanto aos feedbacks, 94,4% dos
participantes avaliaram o curso como bom, ótimo ou excelente; e apenas 5,6%,
como regular. Os mesmos percentuais se repetiram nas questões de autoavaliação
acerca do aprendizado obtido na capacitação.
Quando questionados sobre a metodologia, 47,2% ressaltaram a necessidade
de alguns ajustes, especialmente quanto à "abordagem, apresentação e dinâmica".
No entanto, tais dados foram de encontro às respostas obtidas na avaliação dos
pontos positivos da capacitação, visto que os pontos mais citados foram a
“apresentação, abordagem, metodologia e qualificação dos instrutores".
31
Além disso, o tempo de capacitação foi considerado grande; e o conteúdo,
denso. Os participantes sugeriram que os materiais fossem reduzidos e que sejam
introduzidos momentos dinâmicos em meio a apresentação dos vídeos, contribuindo
para a fixação do conteúdo abordado e para a concentração dos participantes na
capacitação.
Ainda assim, a capacitação, os conteúdos apresentados e a metodologia
utilizada receberam elogios. Um dos feedbacks recebidos foi: "Precisamos de mais
capacitações assim! Foi perfeito", o que sinalizou a importância de projetos de
atualização para profissionais e estudantes da área de saúde.
3.2.3 Fase pós-capacitação
Por fim, todos os participantes receberam o material complementar que
objetivava auxiliar no estudo e na fixação do material. Este consistiu em artigos e no
Guia de Bolso da SBC sobre a FR.
Os certificados foram produzidos e entregues, via e-mail, para os
participantes que enviaram todos os formulários, acertaram, no mínimo, 60% das
questões na fase pós-expositiva e preencheram corretamente as duas
palavras-chave apresentadas ao longo da capacitação. Estes tiveram carga horária
de 10 horas, atribuídas aos momentos síncronos e assíncronos da capacitação, e
foram enviados até 30 dias após a capacitação.
4. DISCUSSÃO
A realização de projetos de pesquisa, ensino e extensão ao longo da
formação acadêmica na área de saúde pode contribuir com o desenvolvimento de
diferentes habilidades necessárias na vida profissional dos alunos, tais como a
gestão de pessoas, a liderança, o trabalho em equipe, a oratória, a sistematização
de conhecimentos, o planejamento e a execução de projetos. Além disso, a
oportunidade de desenvolver uma capacitação remota na área de saúde pode
proporcionar o desenvolvimento da habilidade de utilizar diferentes recursos,
instrumentos e estratégias tecnológicas.
32
O uso de recursos de informática na área de educação em saúde contribui
para o manejo de adversidades, como o isolamento social, uma medida adotada
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para evitar o contágio e proliferação do
vírus SARS-COV-2; a ausência ou escassez de recursos financeiros; e a
abrangência das intervenções, visto que o acesso às redes de internet permite a
redução das fronteiras físicas e possibilita a capacitação de pessoas em diferentes
partes do mundo. Além disso, o desenvolvimento de capacitações em saúde com
vídeos gravados unificam os investimentos de tempo e recursos, pois possibilitam a
reprodução do material científico produzido em diferentes edições da capacitação,
requerendo apenas a realização de alterações e atualizações, quando necessário,
em partes específicas do material.
Considerando o recurso auxiliar na prática pedagógica estabelecida, a
inserção das tecnologias às capacitações deve ser acompanhada por uma
metodologia adequada às necessidades dos alunos, utilizando-se de maneira
adequada e significativa, questionando o objetivo que se quer atingir, levando-se em
consideração o lado positivo e as limitações que apresentam.
Evidencia-se a necessidade de uma prática de reflexão sobre a importância
dos recursos didáticos, através de uma proposta que justifique a sua utilização. Para
LORENZATO (1991),
Os recursos interferem fortemente no processo de ensino e aprendizagem; o uso
de qualquer recurso depende do conteúdo a ser ensinado, dos objetivos que se
deseja atingir e da aprendizagem a ser desenvolvida, visto que a utilização de
recursos didáticos facilita a observação e a análise de elementos fundamentais
para o ensino experimental, contribuindo com o aluno na construção do
conhecimento. (LORENZATO, 1991).
A inserção dos recursos tecnológicos dentro da educação em saúde por meio
das AVA's requer um planejamento decomo introduzir adequadamente para facilitar
o processo didático-pedagógico almejado, buscando aprendizagens significativas e
a melhoria dos indicadores de desempenho do sistema de aprendizado, onde as
tecnologias sejam empregadas de forma eficiente e eficaz. Para MORAES, “o
simples acesso à tecnologia, em si, não é o aspecto mais importante, mas sim, a
criação de novos ambientes de aprendizagem e de novas dinâmicas sociais a partir
33
do uso dessas novas ferramentas”. (MORAES, 1997). É preciso conhecer e saber
incorporar as diferentes ferramentas computacionais na educação.
Para tal, a utilização de instrumentos educativos lúdicos educacionais como o
Kahoot! e Mentimenter costumam atrair a atenção dos participantes, estabelecendo
estratégias na resolução de problemas e o desenvolvimento do raciocínio lógico
empregando e consolidando as informações adquiridas. Para Almeida, o jogo é um
procedimento didático altamente importante; é mais que um passatempo; é um meio
indispensável para promover a aprendizagem, disciplinar o trabalho do aluno e
incutir-lhe comportamentos básicos, necessários à formação de sua personalidade.
(ALMEIDA, 1984, p.32).
As tecnologias introduzem diferentes formas de atuação e interação entre as
pessoas. “Todo processo de aprendizagem requer a condição de sujeito
participativo, envolvido, motivado, na posição ativa de desconstrução e reconstrução
de conhecimento e informação, jamais passiva, consumista, submissa.” (DEMO,
2008). O projeto coletivo com proposta de educação organizada levará a práticas
pedagógicas colaborativas, flexíveis e dinâmicas, respeitando as relações de
aprendizagem que tornam o sujeito um ser ativo no seu processo de formação.
Em uma pesquisa realizada no Colégio Estadual Otalípio Pereira de Andrade
do município Campo Largo testou por meio de um questionário a importância do uso
de recursos tecnológicos para testar o aumento de interesse, participação e
motivação dos alunos. Em tal pesquisa, 100% dos professores afirmaram que os
alunos demonstraram mais interesse no conteúdo abordado, 94,4% responderam
que os alunos ficaram mais disciplinados, 88,9% afirmaram maior participação e
motivação dos alunos. Os resultados da utilização dos recursos tecnológicos para o
processo ensino-aprendizagem foram melhores para 94,4% dos professores.
Na execução deste estudo piloto, a participação majoritária de mulheres é
congruente com a predominância da presença feminina em grupos de profissionais e
estudantes na área de saúde. Este fato pode ser explicado por uma expansão da
presença feminina nos cursos universitários que vem acontecendo desde a década
de 1970 e que se mantém na atualidade.
34
No Censo de 2000, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), constatou-se uma acentuada presença feminina nos cursos mais
concorridos e prestigiados, o que demonstra a prevalência do papel feminino nos
âmbitos profissionais e universitários, ainda que a educação superior de mulheres,
inicialmente, tenha sido direcionada para cursos menos valorizados socialmente
(GUEDES, 2008).
Além disso, historicamente, a predominância da presença de mulheres no
cuidado prestados às crianças, à família, aos doentes e aos idosos é um fator
relacionado com a figura feminina em profissões na área de saúde, conforme
evidenciado neste estudo. Tais pontos também revelam como a perspectiva
materno-infantil prevaleceu e foi refletida histórica e social, refletindo inclusive nas
produções da literatura biomédica, na qual a mulher era comumente representada
como mãe ou potencialmente grávida (KRIEGER; FEE, 1994). Trata-se de um
padrão que vem sendo desconstruído ao longo dos anos, com a expressiva
ampliação do leque de carreiras nas quais a população feminina passou a integrar, a
exemplificar os papeis de pesquisa em doutorados em física quântica e engenharia
nuclear, bem como em cargos renomados como a presidência da república.
4.1 Conhecimento dos participantes da pesquisa sobre a Febre
Reumática
No que se refere ao conhecimento dos participantes da pesquisa sobre a FR
na fase pré-expositiva, constatou-se que eles apresentavam um conhecimento
básico, mas que, em alguns eixos temáticos, como a Fisiopatologia, obteve baixas
taxas de acertos. Uma possível justificativa para este resultado pode ser o fato de
que a fisiopatologia de doenças, como a FR, não é tão aprofundada na graduação
de Medicina e, possivelmente, menos ainda na graduação de Enfermagem.
Adicionalmente, trata-se de um assunto mais complexo e denso do que os
abordados nos outros eixos temáticos.
Além disso, mesmo partindo do pressuposto de que a maioria dos
participantes viram conteúdos sobre a FR na graduação, parte do assunto abordado
pode ter se perdido na medida em que outros assuntos foram estudados. Este
35
aspecto torna ainda mais relevante o desenvolvimento de intervenções de
atualização em saúde, preconizadas pelas diretrizes do Sistema Único de Saúde
(SUS), que auxiliam na aprendizagem contínua dos profissionais visando a
identificação e manejo de doenças, como a FR, que são menos conhecida e/ou
ensinadas nas grades curriculares.
Adicionalmente, enfatiza-se que a área de saúde é um dos campos do
conhecimento que mais se desenvolve ao longo dos anos, anualmente são feitas
inúmeras descobertas, dentre elas: vacinas, procedimentos cirúrgicos, práticas e
teorias, requerendo constantes atualizações. Nesse sentido, segundo Ferreira et al.
(2016), as ações de educação permanente são indispensáveis para qualificar os
profissionais para o uso de tecnologias no cuidado e atenção à saúde nos diferentes
níveis de atuação dos profissionais de saúde.
Nesse contexto, as atualizações também se tornam necessárias em função
do desconhecimento e/ou descumprimento das diretrizes do Sistema Único de
Saúde (SUS), que preconizam, por exemplo, um atendimento que priorize
intervenções nos níveis da APS. Conforme supracitado, constatou-se
desconhecimento por parte dos estudantes com relação à aplicação da Penicilina
benzatina (BZT) na APS. Esta problemática pode estar diretamente relacionada a
dois aspectos principais: o desconhecimento teórico/prático dos estudantes/futuros
profissionais ou às controvérsias que permeiam o universo da BZT no serviço básico
de saúde. Verificou-se que os estudantes/futuros profissionais não conhecem a
realidade da aplicação na BZT no contexto da saúde pública estatal, nem onde ela
realmente deveria estar acontecendo. Isso pode ser um reflexo das condutas
inadequadas de alguns profissionais dos serviços de atenção básica, que, por não
se sentirem seguros para realizar a aplicação da BZT, encaminham os pacientes
para a atenção terciária, sobrecarregando o serviço especializado com atribuições
básicas. Esse encaminhamento, na maioria das vezes, se dá por despreparo
profissional ou ausência de estrutura na UBS para lidar com uma reação anafilática.
Na fase pós-expositiva, verificou-se um menor percentual de acertos em
uma questão sobre o uso de anticoagulantes em pacientes grávidas. Este resultado
pode ser em função de a maioria dos entrevistados estarem em períodos iniciais dos
cursos, não aprendendo inicialmente sobre o uso de medicamentos, mesmo eles
36
tendo sido abordados na capacitação. Além disso, a "cultura" de aprender
posteriormente o nome dos medicamentos e das dosagens também pode ser o
motivo da dificuldade de fixação dessas informações por parte dos participantes.
4.2 Feedbacks acerca da capacitação
Apesar dos ótimos feedbacks, verificou-se que uma parte expressiva dos
participantes relatou cansaço excessivo ao participar da capacitação durante o
período de quatro horas, que é considerado um período comum de aula diária. Tais
relatos podem traduzir algumas dificuldades que o ensino remoto traz junto à
facilidade de aplicação.
A primeira dificuldade foi remetida à densidade e à quantidade de conteúdo
abordado durante a capacitação. Outra dificuldade está relacionada como próprio
ensino remoto. Sabe-se que o excesso de horas de exposição diária a tela de
aparelhos eletrônicos pode levar a dores de cabeças, insônia, cansaço visual,
envelhecimento precoce da retina, entre outros fatores, atribuídos à exposição
continuada a frequência de onda da luz azul, emitida por esses dispositivos, quando
utilizados por mais de seis horas (TOSINI; GIANLUCA; 2016).
4.3 Limitações
No que se refere às limitações, constatou-se que as principais foram
relacionadas ao método de avaliação do aprendizado e à duração da capacitação.
Para os participantes, a quantidade de questões dos formulários pré e pós-forms (58
questões em cada) pode ter tornado o tempo disponível para o preenchimento dos
formulários insuficiente, implicando em atraso no início da capacitação. Quanto à
duração da capacitação, viu-se que o tempo de duração: quatro horas, com um
intervalo de 15 minutos, fez com que esta fosse considerada um pouco cansativa e
algumas pessoas não concluíssem a capacitação.
Adicionalmente, aponta-se como limitação ao estudo piloto o fato de não ser
possível saber se os alunos que erraram as questões dos formulários realmente
assistiram a formação, visto que, por se tratar de uma capacitação remota, os
37
participantes não foram obrigados a permanecer com as câmeras ligadas, não
sendo possível saber se os participantes realmente estavam em frente à tela,
prestando atenção ao conteúdo apresentado e discutido na capacitação, mesmo que
estratégias como a coleta de palavras-chave durante a apresentação tenham sido
utilizadas para verificar se o estudante estava presente durante a apresentação.
Além disso, ao fornecer um período assíncrono para finalizar o pós-forms,
não foi possível assegurar que os participantes tenham respondido o formulário
apenas com base no conhecimento adquirido na capacitação. Por fim, outra
limitação quanto à eficácia da capacitação foi a quantidade de participantes do
estudo piloto, uma vez que houve um número limitado de participantes, já que foram
convidados apenas membros do grupo de Cardiopediatria da UFRN.
5. CONCLUSÃO
Esta pesquisa descreveu o processo de transição do modelo de educação em
saúde presencial para o formato remoto em FR; evidenciou que a capacitação
remota elaborada contribuiu para o aumento nas taxas de acertos nas temáticas
abordadas sobre a FR, do ponto de vista teórico. O modo remoto permitiu escalar as
capacitações para nível regional e nacional, contribuindo com a propagação do
conhecimento e com a possibilidade de aumento de diagnóstico da doença,
tratamento e prognóstico da mesma.
Ademais, capacitações como a descrita neste estudo corroboram com o
aprendizado acadêmico dos participantes, que têm a oportunidade de conhecer a
vivência dos profissionais e a realidade profissional atual junto ao sistema público de
saúde. Considera-se que conhecer as dificuldades dos pacientes em termos de
acesso aos serviços de prevenção e tratamento de doenças, bem como promoção
de saúde, contribui para a formação dos acadêmicos em profissionais empáticos e
que consideram todos os fatores envolvidos no tratamento de uma doença como a
FR.
Analisar o nível de conhecimento dos participantes contribuiu para a
identificação dos temas menos conhecidos e/ou dominados pelos estudantes ao
longo da capacitação. Esses dados podem auxiliar na elaboração e/ou atualização
38
das diretrizes e estratégias terapêuticas, bem como fomentar a realização de
pesquisas e atualização de conteúdos acerca da FR e de outras doenças e sinalizar
a necessidade de políticas de atenção à saúde dos portadores de FR e tornar a FR
uma doença que requer a notificação compulsória. Dessa forma, pode-se elaborar
capacitações de qualidade no ensino superior, que sejam construídas a partir das
principais dificuldades e demandas dos estudantes e profissionais de saúde.
Concluiu-se que a educação em saúde é essencial para o desenvolvimento e
atualização do conhecimento acerca da FR; que o modelo de ensino remoto é uma
excelente alternativa para o momento de crise mundial em que o isolamento social
se fez necessário; e que o uso de recursos tecnológicos contribui para que o
conhecimento seja acessível para um maior número de pessoas, de maneira clara e
universal.
39
REFERÊNCIAS
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diagnosis and management of rheumatic heart disease: a systematic review
protocol. BMJ open, v. 8, n. 2, p. e019511, 2018. Disponível em:
<http://bmjopen.bmj.com/content/8/2/e019511>.
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Professores. vol. 1. Série de Estudos Educação a Distância. Brasília: Ministério da
Educação, Seed, 2000b.
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Nexos entre enfermagem, nutrição e serviço social, profissões femininas
pioneiras na área da saúde. Revista da escola de enfermagem da Universidade de
São Paulo. (USP). Rio de Janeiro. 2008. Disponível em:
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Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Arq Bras Cardiol. 2009; 93 (3 supl.4):1-18.
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