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PSICANÁLISE
No início de suas elaborações acerca do que afetava as histéricas, fortemente influenciado por suas experiências junto a Charcot e seu trabalho conjunto com Breuer, Freud defende que a histeria é o produto de um conflito psíquico gerado por um evento traumático que deixou marcas, mas que não é lembrado no estado de vigília.
Na obra conjunta, "Sobre o mecanismo psíquico de fenômenos histéricos: comunicação preliminar", Breuer e Freud afirmam que "os histéricos sofrem principalmente de reminiscências" (Freud, 1893/1996a, p. 43). Restos de eventos que haviam sido esquecidos retornam no corpo causando paralisias, dores inexplicáveis, cegueira (apud Maia; Medeiros; Fontes, 2012).
Profa Erika Gelenske
Freud e a histeria
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Método hipnótico
Inicialmente, ele vai experimentar a hipnose. Posteriormente Freud abandona a hipnose e passa a utilizar associação livre (em 1904) de impulsionar seus pacientes a relatarem conteúdos desagradáveis que eles insistiam em dizer que não lembravam. Como decorrência dessa abertura para a fala fora da hipnose, suas pacientes começam a falar do que as afeta.
Por qual motivo ele abandona a hipnose?
Limitação dele;
Encobrimento das resistências.
Profa Erika Gelenske
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O conceito de resistência
A resistência refere-se à existência no indivíduo de forças profundas e alheias à sua vontade que impedem o contato com o conteúdo inconsciente. A interpretação das resistências é parte essencial da análise, possibilitando o acesso ao material reprimido.
Para Freud a simples comunicação a um paciente de uma ideia reprimida por ele em determinada circunstância não proporcionava de início efeito algum em seu estado mental, podendo até ser novamente reprimida da consciência. Contudo, quando o paciente tendia a reviver a situação nele por meio de sentimentos e percepções associados às figuras parentais, ou pessoas significativas do passado, porque introjetou a figura do analista e projetando nele suas figuras do passado, a análise dessa situação resultava em bom desempenho para o processo terapêutico ter continuidade. 
 
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Transferência e operacionalização na clínica
A transferência se torna um grande instrumento por meio do qual o analista pode trabalhar o passado do paciente. Dessa forma, o manuseio da transferência é considerado uma importante parte da técnica de análise.
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Transferência e operacionalização na clínica
Profa Erika Gelenske
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Transferência e operacionalização na clínica
Profa Erika Gelenske
Freud usa o termo transferência pela primeira vez em Interpretação dos sonhos (1900), praticamente como sinônimo de deslocamento. 
Em A Dinâmica da Transferência, Freud (1912) distinguia duas atitudes básicas do analisando: de um lado, a cooperação, e de outro, a resistência. Estas atitudes, que se contrapõem entre si, foram incluídas na transferência. A teoria da transferência em Freud permite, assim, discriminar: uma transferência positiva; e outra transferência negativa (quando o vínculo transferencial adquire um caráter hostil, seja de um modo aberto ou velado).
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Transferência e operacionalização na clínica
Ou seja...
Profa Erika Gelenske
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Vários estudos de Freud tratam da transferência. 
“A Dinâmica da Transferência”, de 1912, e “Recordar, Repetir e Elaborar”, de 1914. 
Além das “Conferências Introdutórias sobre Psicanálise”, de 1916-1917. 
Profa Erika Gelenske
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Para Greenson (1965 apud CORDIOLI, 2008), também é importante, ao abordar o manejo da transferência, falar sobre a relação terapêutica. Segundo esse autor, a aliança é a relação racional, e não-neurótica, do paciente com o seu terapeuta. Os elementos básicos da aliança são o desejo racional e consciente, por parte do paciente, de cooperar e sua capacidade de seguir as instruções e as compreensões do terapeuta. 
Há uma unanimidade entre os diferentes autores de que uma boa relação do paciente com seu terapeuta é essencial para o bom aproveitamento em qualquer forma de terapia. O paciente deve gostar do terapeuta e aceitá-lo.
Determinadas patologias podem dificultar o estabelecimento de uma relação de confiança com o terapeuta: personalidades esquizóides, paranóides ou narcisistas.
Profa Erika Gelenske
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Transferência e operacionalização na clínica
Profa Erika Gelenske
No início do tratamento psicanalítico, em continuidade com a experiência humana em geral, há uma transferência já presente, espontânea, em relação à qual incidirá o manejo especificamente psicanalítico, distinto das demais formas culturais de se lidar com o fenômeno. 
Freud comenta que a transferência inicial tende a se manifestar como repetição em ato na sessão, e não como recordação:
[...] O paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas expressa-o pela atuação. Ele o reproduz não como lembrança, mas como ação; repete-o, sem, naturalmente, saber que o está repetindo. Por exemplo, o paciente não diz que recorda que costumava ser desafiador em relação à autoridade; em vez disso, comporta-se dessa maneira para com o médico. [...]
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A transferência em nosso cotidiano
A transferência, no entanto, não está apenas presente nas sessões psicanalíticas e nos divãs. De um modo geral, ela é um aspecto inerente à personalidade humana. Ela perpassa os mais diversos nichos de relacionamentos que se estabelece entre as pessoas. Quando projetamos em alguém expectativas irreais  que gostaríamos que essa pessoa assumisse.
 
Profa Erika Gelenske
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Contratransferência
Toda análise é perpassada, inevitavelmente, pela contratransferência. Esse fenômeno constitui-se numa das questões fundamentais e mais problemáticas da teoria e técnica psicanalíticas, pois afeta o analista no cotidiano de sua clínica e o remete à sua análise pessoal, supervisão ... em face da inquietante estranheza da transferência. 
Freud afirma que o analista deve funcionar como um órgão receptor. Para tanto, ele precisa passar pela purificação analítica, um processo de análise ao qual o próprio analista é submetido para evitar que os pontos inconscientes não solucionados nele funcionem como um ponto cego em sua percepção analítica. 
Profa Erika Gelenske
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Contratransferência
No primeiro momento, Freud (1909, citado por McGuire, 1976) afirma serem as emoções vivenciadas no contexto terapêutico pelo analista que irão possibilitar melhor compreensão do psiquismo humano. No segundo momento, afirma ser tal aspecto da subjetividade do analista uma interferência no processo analítico e, como tal, deve ser controlada. 
Profa Erika Gelenske
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Para as psicoterapias de orientação psicanalítica, a observação dos aspectos transferenciais na relação terapêutica ê a principal fonte de informações sobre padrões de relacionamento do paciente, na medida em que se repetem com o terapeuta padrões primitivos de relações de objeto. A interpretação sistemática de tais deslocamentos possibilitaria a sua modificação.
Freud compara a análise ao jogo de xadrez. Ele será diferente a cada jogo e as “jogadas” do analista vão depender da “jogada” do paciente. É esse meio que constitui o manejo da transferência e da resistência, um manejo sempre singular e que varia de paciente para paciente, e de acordo com o momento do tratamento.
Profa Erika Gelenske
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INTERPRETAÇÃO
A interpretação é a principal ferramenta do analista. A finalidade básica da interpretação segue fielmente a um pressuposto presente desde os primórdios da psicanálise: tornar consciente o inconsciente. Pode-se entender como interpretação toda intervenção que tem por objetivo explicitar o funcionamento psíquico do paciente, seja evidenciando mecanismos defensivos, o padrão de relações objetais ou o conteúdo latente a partir do material trazido à sessão por meio da livre associação.
Profa Erika Gelenske
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O Analista
É importante que ele se apresente como um receptáculo dos conflitos, uma tela em que o mundo interno do paciente vai sendo pintado gradativamente por ele e por seu analista.
Ou seja, ele deve funcionarcomo um espelho, mostrando ao paciente apenas aquilo que ele próprio – paciente – mostrou ao analista.
Profa Erika Gelenske
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Tratamento de ensaio – Diagnóstico diferencial
Em ‘Sobre o início do tratamento’ (1913) Freud aponta duas razões significativas para esse seu procedimento: por permitir ao analista conhecer o caso e avaliar se seria apropriado ou não tomá-lo em análise e por possibilitar o estabelecimento do diagnóstico diferencial, sobretudo entre neurose e psicose, algo nem sempre fácil de ser feito e tão essencial para a direção do tratamento.
Profa Erika Gelenske
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Tratamento de ensaio – Diagnóstico diferencial
 Objetivos: 
ligar o paciente ao seu tratamento e ao seu analista;
estabelecer o diagnóstico diferencial entre neurose e psicose.
Nesta fase, estimula-se o paciente a falar sobre tudo e o analista deve ficar mais calado para que o paciente prossiga com sua fala trazendo o seu sofrimento e suas questões relacionadas a ele.
Profa Erika Gelenske
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“Tratamento de Ensaio, para Freud. Diferentes modos de se referir ao tratamento inicial ou dispositivo de porta de entrada para a análise e que compreende três funções lógicas: sintomal, diagnóstica e transferencial” (QUINET, 1991, p.19).
Profa Erika Gelenske
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Quinet (1991) afirma: “É preciso que essa queixa se transforme numa demanda endereçada àquele analista e que o sintoma passe do estatuto de resposta ao estatuto de questão para o sujeito, para que este seja instigado a decifrá-lo” (p. 20-21). 
Profa Erika Gelenske
‹#›
O que será avaliado no tratamento de ensaio (Urrutigaray, 2018)
Capacidades de insight, como é a dinâmica pessoal do paciente, se ele tem ou não capacidade de suportar as frustrações, de aguentar a angústia, o desejo de mudança e os limites previsíveis à mudança, ou prognóstico do caso. 
Para esta visão diagnóstica, o terapeuta deverá ser hábil em verificar as seguintes questões que o paciente costuma recorrer: a) Ao ponto de vista tópico nas relações entre ego-superego-id; b) Ao ponto de vista econômico, percebendo como se dão as relações objetais e a presença da estrutura narcísica; c) Ao ponto de vista dinâmico, por meio da importância e flexibilidade e mobilidade possível dos conflitos. 
Sintoma
O conceito de sintoma é fundamental na psicanálise, orienta a sua práxis.
A dor do vivido (trauma) é substituída pelo sintoma.
Profa Erika Gelenske
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O ano de 1900 é lembrado como o ano de fundação da psicanálise, com a publicação de "A interpretação dos sonhos". Sempre na tentativa de compreender a origem dos sintomas, Freud postula que os sonhos são fenômenos que deixam “escapar” os conteúdos inconscientes.
Para ele, os sonhos são realizações de desejos. Em alguns, essa realização é obvia, mas mesmo nos sonhos de angústia ela está presente, de forma distorcida. Essa distorção deve-se aos mecanismos de defesa, utilizados para manter encoberto o sentido do sonho, possibilitando ao sonhador a satisfação desejada, sem o desagrado de se dar conta de conteúdos inconvenientes.
Profa Erika Gelenske
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Assim como os sonhos, o sintoma também é a realização de um desejo, que é sempre sexual. Este, no entanto, aparece em uma versão mais aceitável. Desse modo, o sujeito que sofre com seu sintoma não reconhece nele uma satisfação.
O sintoma, portanto, é um produto transfigurado pelo impulso de satisfação inconsciente da libido, e pela proteção exercida pelo recalque, atendendo num só momento a dois senhores, mantendo o equilíbrio entre essas instâncias, até que o sofrimento que o acompanha convoque o indivíduo a buscar outra solução.
Cabe lembrar que, até este momento da obra freudiana, estamos sob a regência dos princípios da realidade e do prazer que visam a manutenção da vida do sujeito e sua adaptação ao meio em que vive.
Profa Erika Gelenske
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O que Freud vai encontrando em sua prática clínica é que os sintomas carregam em si uma satisfação que torna o tratamento difícil. Ele se dá conta que é com muita resistência que os pacientes abrem mão de seus sintomas e, ainda assim, não de modo total e definitivo. 
 
Profa Erika Gelenske
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Em 1920 Freud publica "Além do princípio do prazer". Nesta obra, ele apresenta mudanças na sua concepção do aparelho psíquico e uma nova formulação acerca das forças que organizam o funcionamento deste aparelho. Aponta para uma pulsão de destruição (pulsão de morte) que age no indivíduo.
Assim, a partir de 1920 o conceito de sintoma passa a ter duas faces: o sintoma como mensagem, passível de interpretação, e o sintoma como satisfação pulsional, que é o que resiste ao tratamento analítico.
Profa Erika Gelenske
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Inconsciente
Se presentifica - Alheio à vontade consciente do indivíduo que determina as escolhas e pensamentos do paciente que compõem o dia-a-dia. 
Fazem parte do inconsciente:
As fantasias, os desejos e impulsos, as representações internalizadas de relações objetais e os mecanismos de defesa que protegem o indivíduo do contato indesejável com algum aspecto da realidade externa e com o conteúdo do próprio inconsciente. 
Sonhos, sintomas, atos falhos.
Profa Erika Gelenske
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O método psicanalítico
Inconsciente
Interpretação
Resistência
Transferência
Hipnose > catarse > análise
Associação livre
Atenção flutuante
Sonhos
O setting analítico
Freud concebia o setting analítico como um lugar específico para que a relação terapêutica se desenvolvesse. É composto por um conjunto de elementos que podem ser compreendidos como variáveis independentes, que devem permanecer sob controle, para assegurar o êxito do tratamento: o analista; o paciente; o cerimonial; o tempo; o dinheiro; a regra fundamental; a atenção flutuante.
Espaço físico
Contrato
Transferência / contratransferência
Divã anterior à psicanálise (hipnose > sugestão).
O divã permite maior reflexão. Respostas como sorrisos, etc nem sempre ajudam. Terapeuta tem que se manter neutro, conter suas reações.
O olhar é uma forma de pulsão (analista e analisando como objetos). Às vezes atrapalha. Dizer determinadas coisas.
Convite ao divã muitas vezes marca o início da análise.
Indicações da psicanálise (Urrutigaray, 2018)
Neuroses, particularmente as chamadas "neuroses de transferência", como a neurose de angústia, histeria, neurose obsessiva, neurose fóbica. 
Contraindicações: casos psicóticos e perversões, ainda que, se aplique em certas condições a estados psicóticos ou perversos. 
Em geral, os estados tidos como agudos não são tratados na psicanálise. 
Fator idade não é mais uma questão.
Critérios socioculturais: necessária situação de abertura pessoal, de um comprometimento com o reconhecimento de suas questões psicológicas.
Uma paciente tem sua primeira sessão no divã, após duas ou três entrevistas preliminares, nas quais disse categoricamente que jamais seria capaz de conversar com alguém que não pudesse ver, já que o essencial para ela é justamente poder olhar nos olhos do interlocutor. Desse modo, a análise precisaria ser feita com a paciente sentada, em face a face, ou ela não poderia garantir sua permanência; "afinal, o divã é para gente muito perturbada, é uma técnica antiquada" etc. Tudo é dito com muita veemência; expressões faciais variadas alternam-se com gestos teatrais com as mãos, enquanto esta moça, atraente e esbelta, desfia seus argumentos.
Não obstante, eu lhe digo que vale a pena experimentar o divã, e na sessão inicial, ela concorda em se deitar. A razão para minha intransigência no assunto é que, a meu ver, este caso é uma indicação clara de análise clássica, e esta exige o divã como recurso técnico. 
A paciente deita-se e diz que uma pessoa obesa não poderia ocupar o divã, por ser ele estreito; seu marido, que é obeso, opõe-se tenazmente à idéia de que ela faça uma análise, e recusa-se a ajudá-la no pagamento das sessões. Após falar um pouco mais do marido, ela associa com seu filho, um garoto que acabou de passar por uma cirurgia plástica – o peito era demasiado protuberante, e isto o envergonhava muito, a pontode, na praia, ele não querer tirar a camiseta para evitar que os outros meninos o ridicularizassem. A cirurgia ocorrera há poucos dias; o filho ainda não queria se olhar no espelho, temeroso de ver cicatrizes, ou talvez de perceber que a operação não o deixara com o aspecto imaginado. A mãe lhe disse: "que bobagem, você pode se olhar sem problemas, não há nada de errado com seu peito".
Esta seqüência é suficiente para ilustrar os tópicos essenciais do método analítico como, aliás, qualquer outra tirada de qualquer outra análise. O que temos aqui? No nível mais imediato, uma série de relatos sobre a família da paciente, dados de realidade, como se costuma dizer. Mas o analista não os ouve assim: considera que estas associações se referem não só ao lá, mas também ao aqui; são representações adequadas ao jogo dos afetos mobilizados pela sessão, e por este motivo são elas as que surgem na consciência, de preferência a quaisquer outras, que seriam as escolhidas se as condições fossem diferentes.
Do que fala a paciente? Nos dois fragmentos, de sua oposição a outras pessoas (marido e filho). O seu discurso pode ser assim resumido: "é, mas ...". Fala de duas vontades, uma positiva (fazer análise, olhar-se ao espelho) e outra negativa (oposição à análise, medo de olhar-se no espelho). Estamos, assim pensa o analista, diante de um conflito interno a ela, porém projetado no conflito entre ela e algum outro. Conflito mais aberto e claro no caso do marido, menos evidente no caso do filho. O analista gira estes elementos uns sobre os outros, como num caleidoscópio, e observa as configurações que vão se formando. 
Neste caso, o que aparece é o desejo da paciente de começar sua análise, mas com o medo de se olhar no espelho e se descobrir obesa, ou pelo menos diferente do que sua auto-imagem lhe diz que é. As duas associações têm como referente o corpo (obesidade, cirurgia); na segunda, sobre o filho, fala do temor de se desnudar e de ser reprovada pelos outros. Há aqui um complexo jogo de vários elementos, nos quais os temas subjacentes formam um certo desenho: o que vou descobrir no espelho da análise? Será que este outro eu cabe no divã? O que o analista (os outros meninos) vai pensar do que eu lhe mostrar, se e quando tirar a camiseta da consciência? Eu mesma não ficarei assustada ou decepcionada? Estas são as significações latentes mais imediatas que podem ser discernidas, simplesmente tomando-se como ponto de partida que o discurso – qualquer discurso – tem sempre no mínimo dois referentes: aquilo de que se fala (filhos, marido etc.) e quem fala; de te fabula narratur, dizem os romanos. Há também outras camadas, como por exemplo a indisfarçável aura erótica evocada pela idéia de desnudar os seios perante o analista, e outras mais; porém, para meus propósitos, bastam as já mencionadas.
Nesta breve seqüência, encontramos os elementos que Freud considerava essenciais ao trabalho analítico: o inconsciente é o objeto da atenção do analista – a paciente fala, e diz muito mais do que pensa estar dizendo; a transferência – ao falar da família, ela está criando um cenário para o drama que começa a se desenrolar entre paciente e analista; a resistência – ao iniciar-se o processo regressivo induzido pelas coordenadas da situação analítica, surge o medo, no caso medo do que poderia acontecer, e aparece a imagem do marido que se opõe à análise, ou seja, uma figuração da parte do psiquismo dela que se opõe à análise; antes havia se expressado dizendo que o divã era para gente muito perturbada, que ela precisava olhar nos olhos (isto é, controlar o interlocutor) etc. A interpretação da resistência e da transferência é o que acabei de lhes apresentar: compreender o que a paciente diz como a ponta de um iceberg, cuja parte submersa está formada pelo jogo de forças e contra-forças descrito pela metapsicologia. (Mezan, 1996).
Referências:
CORDIOLI, A. V (Org.), Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed; 2008.
FREUD, S. Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
QUINET, A. As 4+1 Condições da Análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1991.
SANTOS, Manoel Antônio dos. A transferência na clínica psicanalítica: a abordagem freudiana. Temas psicol.,  Ribeirão Preto ,  v. 2, n. 2, p. 13-27, ago.  1994 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1994000200003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  17  mar.  2018.
MEIRELLES, Carlos Eduardo Frazão. O manejo da transferência. Stylus (Rio J.),  Rio de Janeiro ,  n. 25, p. 123-135, nov.  2012 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-157X2012000200012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  17  mar.  2018.
ZAMBELLI, Cássio Koshevnikoff et al . Sobre o conceito de contratransferência em Freud, Ferenczi e Heimann. Psicol. clin.,  Rio de Janeiro ,  v. 25, n. 1, p. 179-195, jun.  2013 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-56652013000100012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  17  mar.  2018.
MAIA, Aline Borba; MEDEIROS, Cynthia Pereira de; FONTES, Flávio. O conceito de sintoma na psicanálise: uma introdução. Estilos clin., São Paulo , v. 17, n. 1, p. 44-61, jun. 2012 . 
OCARIZ, M. O sintoma e a clínica psicanalítica. São Paulo: Via Lettera, 2003.
URRUTIGARAY, Maria Cristina Fontes. Teorias e técnicas psicoterápicas. Rio de Janeiro: SESES, 2018.
MEZAN, Renato. Psicanálise e psicoterapias. Estud. av.,  São Paulo ,  v. 10, n. 27, p. 95-108,  ago.  1996 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141996000200005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  25  fev.  2020.  https://doi.org/10.1590/S0103-40141996000200005.
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