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REGISTRO, IDENTIFICAÇÃO E QUESTIONAMENTO DE PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS DISFUNCIONAIS Renan Gustavo de Souza Psicólogo Terapeuta Cognitivo Comportamental e Terapias Baseadas em Mindfulness. CRP/SP: 06/129505 Pensamento: • É uma atividade mental organizada; • Com alto grau de liberdade; • Não limitada ao mundo físico. (Renê Descartes, Discurso do método, 1637 DC) • É um processo mental que permite aos seres modelarem o mundo e com isso lidar com ele de uma forma efetiva e de acordo com suas metas, planos e desejos. • É aquilo que é trazido à existência através da atividade intelectual. Pensamentos Automáticos Pensamentos Automáticos Pensamentos automáticos são um fluxo de pensamentos que coexistem com um fluxo de pensamentos mais manifestos (Beck, 1964); Eles são uma experiência comum a todos e não peculiares unicamente a pessoas com sofrimento psicológico; Na maior parte do tempo não temos consciência deles, mas são facilmente identificados e trazidos à consciência; São automáticos porque são NÂO intencionais; Pensamentos Automáticos São avaliações ou interpretações; São tomados como verdadeiros quando as situações provocam fortes emoções; Podem ser imagens ou verbais; São o foco principal da Terapia Cognitiva e normalmente são abordados no início da terapia. Pensamentos Automáticos Surgem espontaneamente e não são baseados na reflexão e deliberação; Os pensamentos são relevantes para os problemas pessoais e estão associados a emoções específicas, bem como a forma do comportamento de um indivíduo diante de uma situação. Pensamentos Automáticos O Modelo Cognitivo afirma que nossas repostas emocionais e comportamentais bem como nossa motivação não são influenciadas diretamente por situações, mas sim pela forma com processamos essas situações: Situação Pensamento Emoção Comportamento Emoções Básicas X Pensamentos Emoções Básicas X Pensamentos Emoções Básicas X Pensamentos Pensamentos Automáticos As pessoas costumam aceitar seus pensamentos automáticos como verdadeiros, sem reflexão ou avaliação. (Fonte: Judith Beck) Livro Judith “Isso é difícil demais.” “Jamais vou entender isso.” Tristeza Fecha o Livro Dor no estômago Pensamentos Automáticos A identificação, avaliação e a resposta aos pensamentos automáticos (de uma forma mais adaptativa) geralmente produzem uma mudança positiva no afeto. Pensamentos Automáticos Os pensamentos automáticos são muito breve, por isso tornamos mais conscientes da emoção que sentimos como resultado dos pensamentos do que dos próprios pensamentos. A emoção sentida, está diretamente ligada ao conteúdo do P.A. "Não entendo nada do que eu leio". (Tristeza) "E se eu não conseguir aprender TCC?" (Ansioso) "Ela não deveria fazer isso comigo" (Irritado) Especificidade Cognitiva: Correspondência entre o conteúdo dos pensamentos e a qualidade das emoções. Para MEDO - o pensamento apresenta as palavras "SE" e "SERÁ". "E se der tudo errado na festa?" Para RAIVA - o pensamento apresenta as palavras "DEVERIA" OU "NÃO DEVERIA". Por tratar-se de uma regra interna violada. "Ela não deveria ter feito isso comigo". Para TRISTEZA - o pensamento apresenta-se na forma de "constatação negativa". "As pessoas não gostam de mim, sempre me ignoram". Pensamento Automático Algumas vezes os P. A. aparecem de forma "ABREVIADA", mas podem ser facilmente explicados quando você pergunta sobre o "significado" do pensamento. Pensamentos Automáticos • Os P.As podem ser na forma verbal, visual (imagens) ou ambas. Verbal: "Eu sou um burro". "Eu não vou conseguir". Visual: "Me vejo sentado sozinho, estou bem velho e sem ninguém..." "Me vejo tremendo muito, suando frio e gaguejando..." Todas áreas da vida Si mesmo: "eu sou um fracasso". Trabalho: "Sobra tudo pra mim". Terapeuta: "Ele não vai me entender". Mundo: "A vida não é justa". Futuro: " Ficarei sozinha na vida". Exemplo de níveis de cognição disfuncionais • Os Pensamentos Automáticos (“Eles devem achar que eu estou sendo uma estúpida, que eu sou um fracasso e eles não vão gostar de mim”.) •Suposições/Crenças/Regras condicionais (“Se as pessoas me conhecem, então eles vão descobrir o quão inútil eu sou e me rejeitarão” / “Eu devo ser bom em tudo que faço, caso contrário, a minha inutilidade será revelada”.) •Crenças Centrais (“Eu sou antipático / Sou inútil” – Esquema de Desvalor) Identificação de Pensamentos Automáticos Disfuncionais. Identificando P.A.D (Beck, 1987) • Os pensamentos automáticos podem surgir em três situações durante o processo terapêutico: • 1)A partir de informações orais trazidas pelo paciente, ao expressar cognições, emoções e comportamentos que experimenta entre sessões e em áreas –problema; • 2)Cognições, emoções e comportamentos que o paciente experimenta durante a sessão; • 3) A partir de material introspectivo ou de auto-registro escrito pelo paciente como tarefa terapêutica. Questões que ajudam a identificação (Judith Beck, 1995) Você vai fazer essa pergunta: O QUE ESTAVA PASSANDO PELA SUA CABEÇA? Quando: •Quando o paciente descrever uma situação problemática que surgiu, geralmente desde a última sessão que vocês estiveram juntos; •Quando você notar uma alteração ou intensificação de afeto negativo durante uma sessão. • Alerta aos indícios verbais e não verbais do paciente para identificar as “cognições quentes” Questões que ajudam a identificação (Judith Beck, 1995) Cognições quentes – pensamentos automáticos e imagens importantes que surgem durante a sessão e que estão associados a uma alteração ou aumento da emoção. Podem ser sobre... 1. O próprio paciente – “Eu sou um fracasso” 2. O terapeuta – “Ele não me entende” 3. O assunto em pauta: “Não é justo que eu tenha tanta coisa pra fazer” • ... E poderão minar a motivação, sentimento de adequação ou valor do paciente. Elas podem interferir na concentração do paciente durante a sessão e na relação terapêutica. Questões que ajudam a identificação (Judith Beck, 1995) • O que você estava pensando em tal situação? • É possível que você estivesse pensando em … (o terapeuta apresenta um pensamento provável) • É possível que você estivesse pensando em … (o terapeuta apresenta um pensamento improvável) • Você tinha em mente alguma imagem em especial? • O que essa situação quer dizer pra você? Dificuldade de identificar o P.A? Pergunte: 1)Como você está/estava se sentindo e onde seu corpo vivenciava a emoção. (Onde você se sentiu ansiosa? Na boca do estômago) 2)Detalhe melhor a situação problema. (Que horas eram? Você estava sozinho? O que estava fazendo? O que mais estava acontecendo?) 3) Visualize a situação angustiante. (Consegue visualizar a situação como se ela estivesse acontecendo AGORA? – “Estou sentada quase no fundo da sala e estou ouvindo muito pouco...”) 4) Faça um role-play (se a situação foi interpessoal) – Que tal se nós experimentássemos uma dramatização? 5) Evoque uma imagem. (“Você tinha uma imagem na sua cabeça”? “Eu enxerguei um “C” no alto da minha prova, com uma cor vermelha”) 6) Apresentar pensamentos opostos aos que você supõe que na realidade estavam passando pela cabeça do paciente. (“Então quando você estava sentada sozinha no fundo da sala, você estava pensando como tudo estava ótimo?”) 7) Qual o significado da situação? (“O que significou pra você ter tirado um “C” na prova?) 8) Fazer perguntas de maneira diferente. (“Você acha que poderia estar pensando............... Ou ............? ) IMPORTANTE: Se o paciente continuar tendo dificuldade em identificar seus pensamentos automáticos, vocês poderão decidir colaborativamente por mudar de assunto, para evitar que ele sinta que está sendo interrogado ou se veja como um fracasso. “As vezes esses pensamentos são difíceis de identificar. Não tem problema, que tal se nós voltássemos para ... Questionandoe Avaliando Pensamentos Disfuncionais Questionando o P.A.D. Método Socrático •É atribuído a Sócrates, filósofo grego do século V a.C, e abrange uma série de questões, utilizadas para levar a pessoa a pensar por si mesma: •Conduz o paciente a pensar e a focar em informações as quais não está considerando; •Leva o paciente a reavaliar suas suposições e a construir novas ideias; Questionando o P.A.D Judith Beck (1995) Pensamento: .............................................................. Emoção: .................................................................... Avaliação: Crença no Pensamento: ........ Intensidade da Emoção: ........ Evidências: -Quais as evidências que apoiam esta ideia? -Quais as evidências contra esta ideia? Interpretações alternativas: -Qual seria a reação de outra pessoa que não sentisse e nem pensasse como você? -Qual conselho você daria para outra pessoa? -Qual outro pensamento que explique a mesma situação? -Existe uma explicação alternativa? -Quais evidências você tem a favor das alternativas encontradas? Realismo -Qual é a sua meta nesta situação? - O P.D ajuda ou atrapalha a atingir a sua meta? Descatastrofização -O que de pior pode acontecer se o P.D for verdadeiro? -Posso superar isso? -O que é o melhor que poderia acontecer? -Qual é o resultado mais realista? Re-atribuição -Qual é o efeito de se acreditar nesse P.D? -Qual é o efeito de mudar o meu pensamento? -O que eu deveria fazer em relação a isso? -Qual é o efeito de se crer em uma interpretação alternativa? Pragmatismo -Vantagens e desvantagens de continuar crendo no Pensamento Disfuncional Descoberta Guiada – Crença: -O que significa o Pensamento Disfuncional? -Reavalie novamente a crença no Pensamento Disfuncional e a intensidade da emoção. Resolvendo Dificuldades: -Como posso pensar, sentir e agir diferentemente caso a situação ocorra novamente? Reavaliação: -Crença no pensamento: ........ -Intensidade da Emoção: ........... Questionando P.A.D. Para um bom Questionamento Socrático... •Paciente deve ser capaz de responder as perguntas; •Deve ser individualizado: Boas questões socráticas para um paciente podem não ser para outro; •Devem levar aquele indivíduo em especial a reconsiderar sua forma de pensar, focando em informações as quais estavam sendo desconsideradas antes; • O paciente deve ser capaz, ao final do questionamento, de aplicar as novas informações para reavaliar suas ideias iniciais; • Deve levar o paciente a ganhar mais poder sobre sua vida. Tomar cuidado para não levar inadvertidamente o paciente a acreditar que “não sabe nada” ou que “pensa errado”. Questionando P.A.D. Questionamento do P.A.D. Oliveira, (2008) 1)Que tipo de distorção está ocorrendo? 2)Há evidências que confirmam o P.A.? 3)Há evidências contrárias, que não confirmam o P.A.? 4)Que posso fazer para testar que este P.A. é verdadeiro? 5)Há vantagens em continuar agindo de acordo com este P.A.? Quais? 6)Que outro pensamento, mais balanceado, posso fazer para contestar este P.A.? 7)Se há, anote aqui: 8)Quanto eu acredito agora no P.A. inicial? 9)Como estou me sentindo agora? Da mesma forma:___Um pouco melhor:____ Muito melhor:___ Registro de Pensamentos Disfuncionais Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD’s) modelo de Judith Beck, 1995 Situação Cognição Emoção Comportamento Onde estava? O que aconteceu? O que pensou? O que sentiu? Como reagiu? Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD’s) Modelo de Chris Padesky, 1999 Situação Estado De Humor P.A. Evidências Que apoiam Evidências que não apoiam P. Alternativo Avaliação Do humor Planilha: Registro de Pensamentos (versão simplificada) • Qual é a situação? • O que eu estou pensando ou imaginando? • O que me faz achar que o pensamento é verdadeiro? • O que me faz pensar que o pensamento não é verdadeiro ou não completamente verdadeiro? • De que outra maneira eu posso encarar isto? • Qual é a pior coisa que poderia acontecer? O que eu faria então? • Qual a melhor coisa que poderia acontecer? • O que provavelmente iria acontecer? • O que vai acontecer se eu ficar tendo o mesmo pensamento? • O que poderia acontecer se eu mudasse o meu pensamento? • O que diria à minha amiga (Pense em uma pessoa específica) se isso acontecesse com ela? • (J.S. Beck, 2011) Planilha: Registro de Pensamentos (exemplo) • Qual é a situação? Joane gritou comigo • O que eu estou pensando ou imaginando? Ela nunca mais vai me ligar. • O que me faz achar que o pensamento é verdadeiro? Ela parecia muito irritada. • O que me faz pensar que o pensamento não é verdadeiro ou não completamente verdadeiro? Ela já ficou brava comigo antes, mas parece que depois passa. • De que outra maneira eu posso encarar isto? Ela é temperamental, mas, não fica brava para sempre. • Qual é a pior coisa que poderia acontecer? O que eu faria então? Eu perderia minha melhor amiga. Eu teria que me concentrar nos meus outros amigos • Qual a melhor coisa que poderia acontecer? Ela vai me telefonar em seguida e pedir desculpas. • O que provavelmente iria acontecer? Ela vai ficar um pouco fria por alguns dias, mas aí eu vou ligar para ela. • O que vai acontecer se eu ficar tendo o mesmo pensamento? Eu vou continuar muito chateada. • O que poderia acontecer se eu mudasse o meu pensamento? Eu poderia me sentir melhor; talvez ligasse para ela logo. • O que diria à minha amiga (Pense em uma pessoa específica) se isso acontecesse com ela? Não se preocupe, apenas espere uns dois dias e depois telefone. • (J.S. Beck, 2011) Erros de Pensamento 1.Pensamento do tipo tudo ou nada (também chamado de pensamento em branco e preto, polarizado ou dicotômico): Você enxerga uma situação em apenas duas categorias em vez de um continuum. Ex: Se eu não for um sucesso total, eu sou um fracasso 2. Catastrofização (também chamado de adivinhação): Você prevê negativamente o futuro sem levar em consideração outros resultados mais prováveis. Ex: Eu vou ficar muito perturbada. Eu não vou conseguir trabalhar Erros de Pensamento 3. Desqualificar ou desconsiderar o positivo: Você diz a si mesmo, irracionalmente, que as experiências positivas, realizações ou qualidades não contam. Ex: Eu realizei bem aquele projeto, mas isso não significa que sou competente; só tive sorte. 4. Raciocínio emocional: Você acha que algo deve ser verdade porque você “sentiu” intensamente (na verdade, acreditou), ignorando ou desvalorizando as evidências em contrário. Ex: No trabalho, eu sei fazer bem muitas coisas, mas eu ainda me sinto um fracasso. Erros de Pensamento 5. Rotulação: Você coloca em você ou nos outros um rótulo fixo e global sem considerar que as evidências possam levar mais razoavelmente a uma conclusão menos desastrosa. Ex: Eu sou um perdedor. Ele não é bom 6. Filtro Mental (também chamado de Abstração Seletiva): Você dá uma atenção indevida a um detalhe negativo em vez de ver a situação como um todo. Ex: Como eu tirei uma nota baixa na minha avaliação (que também continha várias notas altas), significa que estou fazendo um trabalho malfeito. Erros de Pensamento 7. Leitura mental: Você acredita que sabe o que os outros estão pensando, não levando em consideração outras possibilidades muito mais prováveis. Ex: Ele acha que eu não sei nada sobre este projeto 8. Supergeneralização: Você tira uma conclusão negativa radical que vai muito além da situação atual. Ex: (Como eu me senti desconfortável na reunião), eu não tenho as condições necessárias para fazer amigos. Erros de Pensamento 9. Personalização: Você acredita que os outros estão agindo de forma negativa por sua causa, sem considerar explicações mais plausíveis para tais comportamentos. Ex: O encanador foi rude comigo porque eu fiz alguma coisa errada. 10. Afirmações com “deveria” e “tenho que” (também chamados de Imperativos): Você tem uma ideia fixa precisa decomo você e os outros devem se comportar e hipervaloriza o quão ruim será se essas expectativas não forem correspondidas. Ex: É terrível eu ter cometido um erro. Eu sempre deveria dar o melhor de mim. J.S. Beck, 2013 Quando o Questionamento for Ineficaz (Judith Beck 1997) 1.Há outros pensamentos e/ou imagens centrais que não foram identificados ou avaliados. 2.A avaliação do P.A foi incorreta, superficial ou inadequada. 3.O paciente não expressou suficientemente as evidências que ele acredita sustentar o P.A.D. 4. O P.A.D em si também é uma crença central. 5. O paciente entende intelectualmente que o pensamento está distorcido, mas não acredita nisso em um nível emocional. 6. O paciente desconsidera o questionamento. NAMASTÊ