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ANOMALIAS DA DIFERENCIAÇÃO SEXUAL INTRODUÇÃO • São condições em que o desenvolvimento do sexo cromossômico, gonadal ou dos órgãos genitais é atípico Diagnóstico pré-natal • Quanto mais precoce, melhor • No período pré-natal – é muito difícil identificar as anomalias • Pelo ultrassom é possível ter definição do sexo fetal após 16 semanas • A dificuldade em identificar o sexo fetal na US leva à suspeita de possibilidade de ADS • Pode ser feita a sexagem fetal e o cariótipo do feto – por meio de punção • Diagnóstico na maioria das vezes é ao nascimento Diferenciação • Durante o período embrionário até a 7º semana não há diferenciação sexual • O que determina a diferenciação é o cromossomo Y – especialmente o gene SRY – faz com que a gônada indiferenciada se transforme em testículo → produção de testosterona e diferenciação dos órgãos sexuais internos e externos masculinos → hormônio anti- mulleriano • Na ausência de SRY, ou seja, se for XX → segue o processo para diferenciação em genitália feminina • Ducto de muller forma trompa, útero e terço superior da vagina • Se embrião for masculino, o SRY faz regredir o ducto de muller e faz desenvolver ducto de wolff (estimulado pela testosterona) • Sexo genético – gonadal e fenotípico → distúrbio de diferenciação pode acontecer em qualquer estágio de desenvolvimento • Embrião indiferenciado: tubérculo genital, pregas urogenitais e saliência lábio-escrotais, • No homem: glande do pênis, pênis e escroto • Na mulher: tubérculo genital - glande do clitóris, pregas urogenitais – pequenos lábios e saliência lábio-escrotal – grandes lábios • Seio urogenital: origina a uretra e vagina Células de sertoli: • Por influência de SRY – há produção do hormônio antimulleriano, o qual é importante para regressão dos ductos de muller e descida dos testículos • No homem adulto os níveis deste hormônio são baixos Células da granulosa • Na mulher, o hormônio antimulleriano é produzido pelas células da granulosa e faz com que atrase o desenvolvimento do folículo • Sem esse hormônio, todos os folículos seriam amadurecidos ao mesmo tempo • Tem função de inibição da meiose do oócito – faz com que o oócito fique em stand-by • Importante na investigação de infertilidade • Ex: em mulher de 30 anos, o valor é de 3 a 7. Se tiver dosagem menor que 3, significa que os folículos não estão sendo inibidos, assim sua reserva ovariana é pequena. Em pesquisa de infertilidade, quanto maior o valor, melhor. ETIOLOGIA DAS ANOMALIAS DE DIFERENCIAÇÃO SEXUAL • Podem ter 3 origens • Anomalia por excesso de androgênio – provoca a virilização de um feto feminino (46XX) • Defeito da síntese ou da ação androgênica – ocasiona a hipovirilização de um feto masculino. Feto masculino com deficiência na síntese de testosterona ou testosterona é produzida, mas não consegue entrar na célula por defeito nos receptores da testosterona ou Deficiência da enzima que transforma a testosterona em di-hidrotestosterona • Anormalidadeda formação das gônadas - nos cromossomos sexuais – pode ser feto masculino ou feminino com diversas alterações – pode ser indeterminado (ADS por disgenesia gonadal) ADS 46, XX • Virilização do feto feminino e com ovários • Pode ter origem fetal ou materna • A principal causa é a Hiperplasia adrenal congênita (HSRC), devido à deficiência da enzima 21-hidroxilase • Essa enzima medeia a esteroidogênese. Sua diminuição leva a redução na produção de cortisol e de aldosterona, acumulando 17-OH-progesterona • Para progesterona se transformar em desoxicorticosterona e 17-OH-progesterona precisa da 21- hidroxilase – para formar aldosterona e cortisol • Sem esta enzima, há grande produção de testosterona • Aumento do tubérculo genital, seio urogenital pode não aparecer • Presença de trompas, ovários e terço superior da vagina, indiferenciação apenas na genitália externa • Nas primeiras semanas de vida manifesta-se como: ambiguidade genital, insuficiência suprarrenal, hiponatremia, hiperpotassemia, acidose, criança em desidratação e choque • Pode apresentar como forma não clássica • Eleva: 17-OH-progesterona, androstenediona, testosterona, renina e potássio • Reduz: cortisol, aldosterona, sódio, glicemia • Incialmente, estabilizar a criança e necessita uso de corticoide a vida toda Estruturas embrionárias afetadas • Precisa ser definida o mais breve possível • Tratamento: diminuir clitóris, organizar dobras labioescrotais e se há orifio do seio urogenital – fazer o quanto antes • Se não visualiza seio urogenital – só pode fazer reconstrução da vagina na adolescência • O que determina se a cirurgia será realizada mais cedo ou mais tarde – é a presença do seio urogenital HSRC-NC • Forma não clássica: diminuição da atividade da 21- hidroxilase não é tão intensa • Genitália externa normal • Quadro clínico: pubarca precoce, hirsutismo, infertilidade • Diferencial com SOP Deficiências por outras enzimas podem ocorrer, mas são mais raras e geralmente associadas à virilização materna. ADS 46XY • Alterações no processo de virilização de um feto masculino - hipovirilização • Exposição insuficiente a androgênios em um feto 46xy devido: defeitos na produção de androgênios, falha na conversão da testosterona em DHT ou defeito no receptor andrgoênico • Grave hipovirilização, pacientes são estéreis • Testosterona não está agindo por falta de produção e não consegue atuar • O testículo é presente – abdominal ou inguinal • Útero ausente • Na genitália externa, o tubérculo genital não se diferencia, eminencia lábio escrotal não funde para formar o escroto, seio urogenital não se funde para formar a base da uretra no pênis • Na maioria das vezes, são pacientes na puberdade que procuram por: amenorreia primária, sem telarca, virilização. Apresentam genitália externa feminina, com vagina em fundo cego e testículos abdominais ou inguinais – não funcionam mais • Tratamento: retirada de testículos (pode virar neoplasia), construir vagina para ter vida sexual • São inférteis, sem útero e ovário • Necessita de reposição de estrogênio a vida toda – para desenvolver mama, ter lubrificação vaginal e não ter osteoporose Hipoplasia de células de Leydig • 46XY com pouca testosterona • Insensibilidade parcial aos androgênios • Testosterona não consegue atuar na célula Deficiência de 5a redutase • Genitália feminina ou ambígua • Sem ginecomastia • Redução de pêlos corporais • Elevação de testosterona • Aumento da relação t/dht Insensibilidade parcial aos androgênios – PAIS • Genitália Indiferenciada ou masculina - ambígua • Mamas bem formadas • Elevação testosterona e LH • Relação T/DHT normal ou elevada Insensibilidade completa aos androgênios • Genitália feminina • Mamas formadas • Redução de pelos corporais • Elevação de testosterona e LH • Aumento da relação T/DHT DDS POR ANORMALIDADE DOS CROMOSSOMOS SEXUAIS • Truner (45,X), Klinefelter (47,XYY) • Diversas formas de genitália externa • Diferentes formas de desenvolvimento de ductos de muller e wolff – podendo possuir útero ou tubas conjuntamente com tecido testicular DIAGNÓSTICO • Nascimento de uma criança com genitália indiferenciada gera incertezas e angústias desde a sala de parto • Sugere-se que esses pacientes não sejam registrados até o fim da investigação etiológica • Além dos RN, também devem ser investigadas adolescentes com amenorreia, desenvolvimento deficiente de mamas ou virilização, bem como os meninos com ginecomastia, hipovirilização ou hematúria cíclica • O atendimento deve ser feito por equipe multidisciplinar ANAMNESE • Consanguinidade • HF de indiferenciação genital • Amenorreia primaria ou infertilidade • Morte perinatal na família • Uso de medicação virilizante ou feminilizante na gestação • Virilização materna na gestação• Intercorrências gestacionais EXAME FÍSICO • Palpar sempre a região inguinal em qualquer RN • Avaliação da genitália externa: medida do falo e palpação para identificação de corpos cavernosos • Verificar a posição e inserção do meato uretral em relação ao falo, bem como a identificação e relação com o introito vaginal • Palpar regiões inguinais e pregas labioescrotais a fim de identificar as gônadas • Classificação e prader: Avalia a genitália masculina e feminina do normal feminino ao normal masculino. Avaliando: tamanho de falo, prega lábio-escrotal • Estágio I – feminina levemente virilizada, suave hipertrofia do clitóris sem fusão labial; estágio II – presença de fusão labial posterior com razão anogenital > 0,5, clitoromegalia, orifício vaginal pequeno mas separado do meato uretral; estágio III – fusão labial completa somente com seio urogenital e falo aumentado; estágio IV – parece mais masculino que feminino, com bolsa escrotal vazia e falo com tamanho de um pênis normal com possível encurvamento ventral, e orifício único que pode corresponder à uretra/vagina na base ou no corpo do falo que pode ser considerado uma hipospadia em um menino, mas é um seio urogenital; estágio V – virilização completa masculina, com orifício único na ponta ou próximo dela de um pênis normal, mas pode corresponder a seio urogenital longo, e a bolsa escrotal é vazia; e genitália masculina normal. Exames de imagem • US abdominal e pélvico: auxiliam na pesquisa de gônadas intra-abdominais, útero, tubas, remanescentes mullerianos, hidronefrose e suprarrenais. • OBS: Quando são identificadas suprarrenais maiores que 20 mm no sentido longitudinal e 4 mm no transversal ou 4 mm transversal com superfície lobulada e ecotextura pontilhada, a possibilidade de HSRC deve ser considerada. • US transperineal Avaliação por métodos invasivos • Algumas vezes necessário • Laparoscopia e uretrocistoscopia • A laparoscopia possibilita a visualização dos órgãos intra- abdominais e permite a realização de biópsias gonadais. Também possui caráter terapêutico, possibilitando gonadectomia e ressecção de remanescentes müllerianos, quando pertinente, ou inclusive o auxílio da descida do testículo, quando necessário. Laboratório • Coleta de cariótipo • Pesquisa do gene SRY por PCR • Pesquisa da região determinante do sexo XY • Exames basais de sódio, potássio e colesterol • Se gônadas impalpáveis: diagnóstico provável de ADS 46, XX por HSRC – coletar 17-OH progesterona, cortisol e ACTH no 3º dia de vida • Gônadas palpáveis: diagnóstico provável de ADS 46,XY – dosagem de LH, FSH, ACTH, cortisol, testosterona, androstenediona e DHT TRATAMENTO • Multidisciplinar • 46, XX: se HSRC, glicocorticoide toda a vida e em alguns casos, mineralocorticoide • 46, XY: retirada de testículos e reposição com estrogênio • Casos de genitália indiferenciada – genitoplastia → deve ser feita precocemente (6 semanas a 15 meses) ANOMALIAS CONGÊNITAS MULLERIANAS • Na ausência de cromossomo Y, há desenvolvimento de ovários. Sem testosterona, os ductos de Wolff regridem e permitem o desenvolvimento dos ductos de muller • Já, a regressão dos ductos Muller exige a presença de AMH (secretado pelos testículos). Na ausência de AMH, ductos de muller se desenvolvem formando tubas nas porções superiores e formando útero, colo do útero e porção da vagina na porção inferior • Alterações nesse processo causam as anomalias mullerianas • Mulher, 46 XX • Quando não há fusão completa dos ductos – problemas na forma do útero ou colo do útero • 5 tipos de anomalias • Mais rara e pior: anomalia em que não há formação de nada – sem útero e sem trompa Agenesia vaginal e síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser – síndrome de Rokitansky • Classe I • Não tem útero, trompa e terço superior da vaginal – alteração mais grave • 8 a 10% das anomalias • Sem alterações fenotípicas ao nascimento e são diagnosticadas apenas na puberdade • Paciente com amenorreia primária, desenvolvimento dos caracteres sexuais normais (tem estrogênio e progesterona normais) • 46XX – mulher normal com agenesia vaginal, sem útero e trompas • Agenesia vaginal ou quando associada a ausência de útero é chamada de Rokitansky • Diagnóstico ao ultrassom • Pode ter filho por barriga de aluguel • Tratamento: dilatadores (primeira opção) e criação de vagina funcional – neovagina (comprimento ideal de 6 a 13 cm) • Podem estar associadas a anomalias do trato urinário – agenesia renal, rim pélvico, em ferradura etc. Também associadas a anomalias de coluna vertebral Útero unicorno • Classe II • Falha de desenvolvimento de um dos dois ductos de Muller • Dificuldade para engravidar • Diagnóstico por exame de imagem • Pode engravidar, mas chance de não evoluir a gravidez é alta Útero didelfo • Classe III • Não há fusão dos cornos uterinos • Presença de 1 ou 2 colos e 2 cornos não unidos • Relação com dismenorreia e endometriose Útero bicorno • Classe IV • Incompleta fusão dos cornos. Se fundem, mas não há fusão completa – cornos bem separados • Segundo anomalia mais frequente Útero septado • Anomalia mais comum – classe V • Há fusão, mas o septo que separa um corno do outro não é reabsorvido adequadamente • Responsável por 50% de todas as anomalias • Permite a gestação, mas tem menor capacidade de manter
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