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– Introdução Para começar a entender como funciona essa glândula é necessário compreender a fisiologia. A tireoide é uma glândula que produz dois hormônios principais: T4 e T3. Esses hormônios têm alça de feedback negativo para a hipófise e para o hipotálamo. O hipotálamo libera o TRH que estimula a hipófise a liberar TSH e ela, por fim, estimula a tireoide a produzir T3 e T4. Na histologia das células tireoidianas, temos: • As células foliculares → responsáveis pela produção de T4 e T3 • Células parafoliculares → responsáveis pela calcitonina O coloide é a região onde é formado o hormônio tireoidiano e as células foliculares tem a membrana basal que fica voltado para a parte de fora do folículo e a membrana apical voltado para o coloide. Na membrana basal existe o cotransportador de sódio e iodo (proteína NIS), concentrando iodo dentro da célula da tireoide. A tireoglobulina acopla moléculas de iodo por meio de diversos processos, dependendo principalmente da TIREOPEROXIDADE (TPO) e da PEROXIDASE. Quando se acopla uma molécula de monoiodotironina com uma de diiodotironina forma-se T3 e quando se acopla duas moléculas de diodotironina se forma T4. O T3 e o T4 são formandos a partir do aminoácido tirosina. O T4 é um hormônio constituído pelo aa tirosina conjugado a 4 moléculas de iodo; o T3 é constituído pela tirosina conjugada a 3 moléculas de iodo; o hormônio T3 reverso também. O T4 corresponde à aproximadamente 93% do total secretado, e o T3, a 7%. Entretanto, praticamente todo o T4 é convertido em T3 nos tecidos. As funções desses hormônios são qualitativamente iguais, mas diferem na velocidade e na intensidade de ação: o T3 é cerca de 4 vezes mais potente que o T4, mas está presente no sangue em menor unanimidade e persiste por tempo menor Basicamente, há 4 etapas: • Transporte de iodeto pela captação ativa, direcionamento e transporte apical do iodo para o lúmen folicular → por meio do transportador de NIS • Oxidação do iodo → Enzima Tireoperoxidase e peroxidase • Iodação dos resíduos tirosil da molécula de tireoglobulina formando iodotirosinas → os hormônios tireoidianos são formados dentro das células de tireoglobulina • Acoplamento oxidativo de duas iodotirosinas formando iodotirosinas ainda ligadas à tireoglobulina A tireoglobulina precisa ser clivada em T3 e T4 para que esses hormônios, livres, sejam liberados na circulação. O principal estimulador da liberação de hormônios tireoideanos é a ligação de TSH a seu receptor, localizado na membrana basal. A ligação estimula que se formem pseudopódes a partir da membrana apical, que cercam pequenas porções do coloide, formando vesículas pinocíticas contendo material coloidal de tireoglobulina ligada a HT. Essas vesículas, então, fundem-se a lisossomos localizados no citoplasma celular, formando fagossomos, que contêm as enzimas digestivas dos lisossomos misturadas com o coloide. As enzimas com função proteolítica, então, promovem o desligamento dos hormônios tireoideanos (e MIT e DIT) da tireoglobulina, liberando essas substâncias no citoplasma. Avaliação complementar da tireóide • TSH e T4 livre → são normalmente pedidos Lembrando que a alteração do TSH é muito mais precoce do que o T4 livre, caracterizando o Hipo/hipertireoidismo subclínico. HIPO subclínico → TSH alto com T4l normal HIPER subclínico → TSH baixo com T4l normal • USG de tireoide (A maioria dos nódulos da tireoide são benignos) Manejo dos nódulos tireoidianos Anamnese e Exame físico – • Gênero masculino, extremos de idade, histórico de radiação ionizante cervical, áreas com deficiência de iodo • História familiar – síndromes hereditárias (MENS2A) → relação com carcinoma medular • Nódulo de crescimento rápido • Sintomas compressivos e paralisia da corda vocal • Nódulo endurecido ou aderido (pouco móvel) • Linfonodomegalia ipsilateral (relacionado com metástases) • Incidentaloma ao PET. Avaliação laboratorial • TSH: 1) Baixo → pedir cintilografia para avaliar se o nódulo é quente ou frio Nódulo quente (mais captação) – Plummer (bócio nodular tóxico) – 10% dos nódulos únicos → tratamento com iodo radioativo → menor risco de malignidade Nódulo frio (hipocaptação) – Maior risco de malignidade → pedir biopsia TRAb –marcador sorológico do HIPERtireoidismo - anticorpo antireceptor de TSH → fazer diagnóstico diferencial com doença de Graves que é a principal causa de hipertireoidismo. 2) Alto → em contexto de nódulo pode indicar maior risco de malignidade (quanto mais alto o TSH maior o risco de malignidade) • Anti-TPO – avaliar a tireoidite de Hashimoto, principal causa de hipotireoidismo • Calcitonina – marcador de neoplasia (carcinoma medular) – pode ser pedido antes da cirurgia, pois valores > 500 sugerem metástases a distancia e indicam rastreio Não se pede de rotina; exceto se tiver uma citologia indeterminada • Tireoglobulina – marcador de neoplasia, usado para o acompanhamento de carcinomas diferenciados – é pedido somente pós cirurgia Não se pede rotineiramente. Exames de imagem • USG cervical – deve ser realizado em todos os pacientes com nódulos na tireoide. ➔ Sensibilidade de 95% ➔ Características sugestivas de malignidade (COBRADO EM PROVA) o Hipoecogenicidade o Margens irregulares o Microcalcificações o Diâmetro AP maior que transverso o Linfonodomegalia suspeitas o Fluxo central ao doppler → classificação de Chamas TAMANHO NÃO É CARACTERISTICA DE MALIGNIDADE A mais específica para malignidade é microcalcificação e margens irregulares. A hipoecogenicidade é mais sensível Definição diagnóstica – PAAF PAAF – Punção Aspirativa por agulha fina • Geralmente guiado por USG • Citologia • Linfonodo suspeito → dosar tireoglobulina na biopsia, se presente indica metástase. Classificação de risco para indicação da biopsia (PAAF) Classificação do TIRADS – É uma classificação que vai de 1 até 5, desde benigno até muito suspeito; TIRADS 4 é considerado um nódulo suspeito e deve ser feito biopsia se for maior que 1,5 cm Sólido + hipoecogênico → 4 pontos → TIRADS 4 É analisado: Composição, Ecogenicidade, Forma, Margens e focos ecogênicos. Possíveis indicações de PAAF em nódulos < ou igual a 1 cm: • Idade < 40 anos • Metástase a distância conhecidas • Nódulos com evidência ultrassonografica de extensão-tireoidiana ou adjacente a traqueia ou nervo laríngeo recorrente • Presença de múltiplos nódulos suspeitos a ultrassonografia • Presença de linfonodos suspeitos de metástases • Presença de hipercalcitoninemia (CA medular) • Nódulos suspeitos com TSH 2,5-4 mIU/L < 65 anos e TSH > 4 (indicação de terapia supressiva) • Desejo do paciente Resultado da biopsia – Citologia: Sistema de Bethesda (precisa decorar) I – Insatisfatório → não foi recolhido material suficiente. III – atipia se significado indeterminado IV – Neoplasia folicular → indeterminado → a citologia não consegue diferenciar se é maligno ou benigno → Na cirurgia se houver invasão de cápsula, nervo ou vasos ai é considerado maligno (carcinoma folicular) se não houver adenoma folicular. V – Suspeito de malignidade VI – Maligno Os painéis não são feitos de rotina – custo elevado (geralmente não é feito) Como proceder quando a citologia é indeterminada (Bethesda III ou IV)? ➔ Observamos a classificação ultrassonográfica – isso para Bethesda III • Benigno ou pouco suspeito (até TIRADS 3) → Conduta é somente observar • Muito suspeito (TIRADS 5) → A conduta é cirurgia • Se é suspeito intermediário (TIRADS 4) → Repetir a PAAF. Ao repetir a PAAF e for: • Benigno (Bethesda II) → observar e repetir se crescimento > 50% do volume ou característica nova •Bethesda V ou IV → cirurgia • Bethesda III ou IV → cirurgia ou painel moleculares ➔ Classificação Bethesda IV → cirurgia ou painel Câncer de tireoide A histologia divide os tipos de câncer na tireoide segundo as células 1 – Células foliculares: • Diferenciados ➔ Papilífero ➔ Folicular ➔ Células de Hurthle (variante do folicular) • Anaplásico → mais agressivo 2- Células parafoliculares • Medular ➔ Esporádico ➔ Familiar Principais características de cada tipo histológico • Papilífero (PTC) – ➔ Mais frequente em mulheres ➔ Pior prognóstico – idosos, homens e tamanho e extensão extratireoidianos (>4cm) ➔ Metástase: linfonodos e segundo lugar pulmão • Folicular (FTC) – ➔ Mais agressivo, mais metástases hematológicas mais frequentes • Hurthle ➔ Variante do folicular com pior prognóstico • Medular (MTC) ➔ 20-25% hereditários por mutações germinativas do RET – proto-oncogene • Anaplásico ➔ Raro e bastante agressivo Tratamento do carcinoma de tireoide • Cirurgia • I131 • Supressão do TSH 1 – Cirurgia Tireoidectomia total → tumor > 4cm, extensão extratireoidiana, N1 ou M1 bilateral, mutação, radiação, histórico familiar, comorbidades, hipertireoidismo ou preferencia Tireoidetomia total ou lobectomia → tumor de 1-4 cm sem outros fatores de risco Lobectomia ou observação → microcarcinoma < 1cm unifocal, sem outros fatores de risco Possíveis sequelas da cirurgia • Hipotireoidismo (tireoidectomia total → 100% e lobectomia 22%, maior se TPO +) • Hipoparatireoidismo (31% e 5% é permanente) • Paralisia das cordas vocais Congelamento • menor acurácia se FTC (folicular); • se for Bethesda III o congelamento pode ser feito • Se for Bethesda IV o congelamento não se faz Nódulos benignos > 4 cm → considerar cirurgia principalmente se sintomas Classificações • TNM ➔ Anatomopatológica ➔ Classificação de mortalidade ➔ Maioria em estágio I ou II (semelhante a mortalidade geral); III (sobrevida um pouco menor) e IV (com metástase) Abaixo de 55 → mortalidade muito baixa Acima de 55 → mortalidade maior III ou IV. • Risco de recidiva ➔ Anatomopatológico + mutações ➔ Define conduta – se iodo / TSH. Alto risco → dar Iodo >100 e THS < 0,1 • Invasão local extensa • Ressecção incompleta • M1, N1> 3cm Risco intermediário → geralmente se faz iodo (entre 30-50) e TSH 0,1-0,5 • Extensão extratireoidiana mínima • Histologia agressiva • N1 > 5 linfonodos 0,2-3 cm • Invasão vascular Baixo risco → pode ser que não use iodo < 30 (sem internamento) e TSH 0,5-2,0. • Intratireoidiano • Até 5 linfonodos < 2 mm • Classificação dinâmica ➔ Feita em todas as consultas de seguimento ➔ Padronizar consultas Resposta excelente → tireoglobulina negativa + imagem negativo Resposta indeterminada → tireoglobulina + mas não tão alta ou anticorpo anti-tireoglobulina + Bioquimica incompleta → tireoglobulina subindo ou > 1 ou anti- tireoglobulina sumindo Quando se acha a metástase no exame de imagem deixa de ser bioquímica incompleta e passa a ser estrutural incompleta Na estrutural completa com supressão < 0,1 → repor cálcio e vitamina D 2 – Papel do radioiodo no pós-operatório • Dose ablativa → ablação dos remanescentes 30- 50 mCi • Dose adjuvante → maior risco inicial – 50-100 mCi • Dose terapêutica → tratamento de metástases > 100 mCi • Dose empírica → evidencia de metástases – tireoglobulina aumentada e anticorpo anti-Tg → cintilografia após 7 dias. Seguimento pós-operatório Laboratório • TSH • Tireoglobulina e anticorpo anti-tireoglobulina (se ela for positiva, acompanha pelo anticorpo e não pela tireoglobulina) Exames de imagem • USG • Cintilografia (PCI) Na suspeita de metástases a distância, não detectadas na PCI • TC • PET-CT (>10 Tireoglobulina) Tratamento da doença metastática Carcinoma Medular de Tireoide • Tumor neuroendócrino raro • 5% dos carcinomas de tireoide • Derivado das células parafoliculares • Marcadores – calcitonina e CEA • 70-80% são esporádicos e 20-30% hereditários Neoplasia endócrina múltipla • NEM 2A ➔ CA medular ➔ Hiperparatireoidismo ➔ Feocromocitoma • NEM 2B ➔ CA medular ➔ Feocromocitoma ➔ Neuromas mucosos Protooncogene RET – • 634 – NEM 2A • 918 – NEM 2B Correlação genótipo x fenótipo A correlação do gene indica um determinado padrão de doença no carcinoma medular é bem específica. Tireoidectomia profilática: NEM 2B M918T → Risco muito alto → tireoidectomia no 1 ano de vida → rastreio de feocromocitoma aos 11 anos 634 883 → Risco alto → 5 anos ou antes se CT elevada → rastreio de feocromocitoma aos 11 anos MEN 2a risco baixo ou morderado → quando CT elevada→ rastreio de feocromocitoma aos 16 anos
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