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Geovana Sanches, TXXIV DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA AGUDA (DIPA) DEFINIÇÃO A salpingite aguda ou DIPA é uma infecção nos órgãos do trato reprodutivo superior feminino; todos os órgãos podem estar envolvidos, mas as tubas uterinas têm maior importância. A fisiopatologia inclui uma quebra das ações imunológicas do colo uterino, as quais normalmente mantém as bactérias abaixo do óstio. Agentes etiológicos A DIPA é uma entidade polimicrobiana. Geralmente, está associada à: • Neisseria gonorrhoeae: provoca resposta inflamatória direta na ectocérvice, endométrio e tubas • Chlamydia trachomatis: os mecanismos imunomediados por células causam lesão tecidual • Trichomonas vaginalis FATORES DE RISCO • Duchas vaginais • Uso abusivo de substâncias • Múltiplos parceiros sexuais ou parceiros recentes • Parceiro sexual com uretrite ou gonorreia • Situação socioeconômica desfavorável • Outras ISTs • Diagnóstico anterior de DIP • Não utilização de método de barreira • Teste endocervical positivo para N. gonorrhoeae ou C. trachomatis FATORES DE PROTEÇÃO • Uso de métodos de barreira • Uso de contraceptivos hormonais: deixam o muco mais espesso, dificultando a mobilização das bactérias ESTÁGIOS DA DOENÇA • I: salpingite aguda sem irritação peritoneal • II: salpingite com irritação peritoneal • III: salpingite aguda com oclusão tubária ou abscesso tubo-ovariano • IV: abscesso tubo-ovariano roto ou sinais de choque séptico Classificação da DIP • DIP silenciosa: assintomática – diagnóstico final para infertilidade por fator tubário com histórico de infecção do trato superior • DIP sintomática o Aguda o Crônica QUADRO CLÍNICO Sintomas • Dor abdominal baixa e/ou pélvica • Secreção vaginal amarelada • Hipermenorreia e Dismenorreia • Dispareunia • Febre e calafrios • Anorexia • Náuseas e vômitos • Diarreria • Sintomas de ITU Exame pélvico bimanual • Sensibilidade à palpação de órgãos pélvicos • Dor à mobilização cervical • Peritonite abdominal DIAGNÓSTICO DA DOENÇA AGUDA Os sintomas surgem caracteristicamente durante ou logo após a menstruação. A suspeita aumenta para mulheres sexualmente ativas com risco para ISTs, que se apresentem com dor pélvica ou no abdome inferior, excluindo-se outras etiologias. • Parâmetro mínimo para suspeição da DIP o Desconforto no exame pélvico ao mobilizar o colo uterino, o útero ou os anexos uterinos • Outros achados o Temperatura acima de 38,3ºC o Corrimento vaginal mucopurulento ou purulento o Aumento de leucócitos no conteúdo vaginal o Provas de atividade inflamatória aumentadas (VSH e PCR) • Critérios específicos o Sinais de endometrite na avaliação histomorfológica de amostra endometrial o Espessamento tubário ou achado de piossalpinge na RM ou na TC o Alterações nos padrões de circulação sugestivas de infecção pélvica analisadas pela USG pélvica com doppler Geovana Sanches, TXXIV o Observação direta da infecção por laparoscopia (subsídio mais eficaz para o diagnóstico da DIP) Exames complementares Ultrassonografia Esse exame pode ser usado para identificar abscesso tubo-ovarino (ATO) ou outra patologia como fonte da dor. Na DIPA, as tubas uterinas incham e há obstrução do lúmen distalmente; ocorre distensão e as paredes e dobras internas ficam espessadas. Em pacientes com dor no quadrante superior direito sugestiva de inflamação peri- hepática, por vezes faz-se necessário Rx-tórax ou US do abdome superior para excluir outras patologias. à Achados característicos • Tuba distendida de formato ovoide repleta de líquido anecoico ou ecogênica • Espessamento de parede • Septação incompleta • Aspecto em roda dentada quando são obtidas imagens em corte transversal de tubas inflamadas Tomografia computadorizada Utilizada apenas quando o USG não fornece um diagnóstico preciso. Biópsia endometrial Alguns autores apontam que a biópsia de endométrio em pacientes com secreções mucopurulentas não acrescenta informações úteis capazes de alterar o diagnóstico ou tratamento da DIPA. à Diagnóstico de endometrite • Aguda: leucócitos polimorfonucleares na superfície endometrial • Crônica: plasmócitos na superfície endometrial o Pacientes com leiomioma ou pólipos endometriais, mas sem DIPA, podem ter essa característica. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS • Apendicite: sem relação com o ciclo menstrual • Gestação ectópica: há irregularidade menstrual, ausência de febre, HCG positivo e ecografia suspeita • Abortamento séptico: histórico de gestação e manipulação uterina • Torção ou ruptura de cisto ovariano: ausência ou elevação discreta da temperatura associada à dor pélvica • Outros diagnósticos: dismenorreia, tumor ovariano, adenomiose uterina, torção de mioma, endometriose, corpo lúteo hemorrágico, Mittelschmerz, infecção urinária, litíase renal, gastroenterite, colecistite, diverticulite TRATAMENTO Sempre que a DIPA é diagnosticada, deve- se realizar pesquisa para outras ISTs. Todos os parceiros com quem a paciente se relacionou nos últimos 60 dias devem receber cobertura contra C. trachomatis e N. gonorrhoeae. Ambulatorial • Ofloxacino 400 mg, VO, a cada 12 horas OU levofloxacino 500 mg, VO, 1 vez/dia + metronidazol 500 mg, a cada 12 horas, por 14 dias; • Ceftriaxona 250 mg, IM, dose única OU cefoxitina 2g, IM, dose única OU cefalosporina de 3ª geração, + doxiciclina 100 mg, VO, a cada 12 horas, por 14 dias + metronidazol 500 mg, VO, a cada 12 horas, por 14 dias Internação Critérios • estado geral muito comprometido • náuseas e vômitos incoercíveis • suspeita ou confirmação de abscesso tubo- ovariano • pacientes sem condições de seguimento após 3 dias do início da terapia • resposta inadequada ou intolerância à terapia ambulatorial • imunodeficientes ou com outros quadros debilitantes Tratamento • Cefoxitina 2 g, EV, a cada 6 horas + doxiciclina 100 mg, VO ou EV, a cada 12 horas; • Clindamicina 900 mg, EV, a cada 8 horas + gentamicina com dose de ataque, IM ou EV, de 2 mg/kg de peso e manutenção com 1,5 mg/kg de peso, a cada 8 horas COMPLICAÇÕES As complicações mais comuns são: infertilidade por problemas tubários; gravidez ectópica; dor pélvica crônica e abscesso tubo- ovariano.
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