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1 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Check list IESC Conhecer a abordagem à Saúde Mental na APS /Habilidades de comunicação Compreender a abordagem de Sintomas depressivos e de ansiedade na APS. Compreender a utilização de Psicofármacos na APS Conhecer aspectos referentes à Reforma Psiquiátrica Sistematizar o conhecimento sobre desprescrição e polifarmácia na APS. Refletir acerca da abordagem à saúde mental de grupos vulneráveis (idoso, criança, adolescente, indígena, população de rua). Refletir a respeito da saúde e espiritualidade Conhecer as práticas integrativas e complementares (PICs) 2 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Semana 1 Abordagem em saúde mental na APS APS e Saúde mental-> Grande parte da demanda da APS é de pessoas com algum tipo de sofrimento psíquico, independente da origem, estando elas em uma crise vital ou um transtorno psiquiátrico bem definido. Estudo referem que uma pessoa traz a consulta em média 5 ou mais queixas e que, em torno de 60% das vezes, o principal motivo é um problema de saúde mental. Como fazer a abordagem emocional em uma consulta: • Perceber as emoções que estão em jogo. • Reconhecer na emoção uma oportunidade de compreensão do que está no íntimo da pessoa, para estabelecimento de uma relação de confiança (tem que transparecer que você é confiável). • Ouvir com empatia, legitimando os sentimentos (sem julgamentos). • Ajudar a pessoa a encontrar as palavras e a identificar a emoção que está sentindo. • Explorar estratégias para solução do problema em questão (a mesma pessoa que traz os problemas, é que vai te ajudar a criar recursos, sociais, ambientais, que podem resolver essas questões). Tudo isso está ligado ao MÉTODOD CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA (explorar a saúde, a doença e o fato de adoecer – saber como a pessoa se relaciona com a doença, como isso atrapalha a vida/ a função dela, como as outras pessoas que ela convive enfreta essa questão, e qual o plano em conjunto para o manejo da doença). Isso é importante para intensificar a relação médico paciente. EXAME DO ESTADO MENTAL: Além da anamnese, existem áreas de alteração que devem ser observadas duramente a consulta, e são elas que vão sinalizar onde está o problema do paciente. Uma das áreas é a • ATENÇÃO (aprosexia, distração, hipoprosexia e hiperprosexia voltado a pensamentos paranoicos) • SENSOPERCEPÇÃO (sensação – é um efeito ao estímulo, como luz e som ou sensibilidade visceral, sobre os órgãos do sentido (paciente sente uma dor muito forte, mas quando faz exames, não vem alteração – pq ele tem uma dor alterada a uma dor que não incomodaria tanto outras pessoas) e percepções (alterações de percepção ligada a ilusões – acha que tem bichos subindo nele); hiperestesia; hipoestesia, anestesia, analgesia) • REPRESENTAÇÃO (são reapresentação de percepções passadas, alucinações, ou seja, estímulo sensorial percebido sem que tenha sido verdadeiramente produzido – sempre indicam perturbações graves da função mental). Podem ser visuais, auditivas, táteis, olfativas, gustativas, cinestesicas (movimento/ equilíbrio) e cenestésicas (sensações no corpo) • MEMÓRIA: Alterações podem ser: Qualitativas: anterógrada (para fatos recentes ) ou retrógrada (para fatos passados) Quantitativas: hipermnesia (acentuação da memória); hipomnésia ou amnésia (graus de 3 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 diferentes de perda de memória por sua diminuição) • ORIENTAÇÃO (em tempo e espaço); Desorientação autopsíquica (em relação a si próprio) ou alopsíquica (em relação aos demais e ao ambiente). • CONSCIÊNCIA (é o Glasgow – lúcido, obnubilado, confuso); • PENSAMENTO (alteração do raciocínio, inibição do pensamento, fuga das ideias, pensamento vago, concretismo do pensamento, pensamento obsessivo, prolixo e demencial. Pode ter alteração do juízo: delírios e seus subtipos); • INTELIGÊNCIA (mensurada por testes psicológicos – avalia pelo nível de escolaridade e habilidade laboratorial); • LINGUAGEM (as alterações do pensamento são expressas pela fala. Alteração orgânica da linguagem: Disartria; dislalia e afasia; Alteração funcional: logorreia ou taquilalia; bradilalia e mutismo); • AFETIVIDADE (é a capacidade de expressar emoções, inclui estado de ânimo, de humor e paixões. Hipertimia; Hipotimia; Apatia; Sentimento de insuficiência (como a depressão); sentimento de irritabilidade patológica; sentimento de instabilidade afetiva; incontinência emocional ou ambivalência. • Conduta ou comportamento: Estados de excitações motora; hipobulia ou abulia; estupor e negativismo). Aplicando o exame do estado mental na prática: nem sempre é fácil fazer uma hipótese diagnóstica. A forma mais fácil e objetiva, pode SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO: Classificação internacional da Atenção Primária (CIAP-2 – se restringe aos sintomas sem requisitos mínimos) ou a classificação internacional de doença (CID10 – exige um grupo de sintomas persistentes) e o manual diagnostico de transtorno mentais (DSM-5). Depois de uma avaliação diagnóstica, qual os manejos na APS? • O médico pode manejar sozinho (farmacoterapia, psicoterapia ou ambos); • Manter o atendimento continuado com o auxílio e apoio de um profissional de saúde mental Qual o plano inicial de abordagem: 1. Construir uma lista de problemas 2. Conhecer a história dos problemas, tratamento prévio e atuais (se ele já usou um remédio e deu certo, ele deve ser a primeira escolha) 3. Conceitualizar o caso/buscar classificar as queixas 4. Estabelecer objetivos de curto longo prazo 5. Selecionar a modalidade de tratamento, os objetivos e as intervenções 6. Estimar o tempo e frequência do tratamento (o mínimo é de 6 meses). 7. Considerar a necessidade de referenciamento e recursos externos disponíveis. 4 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Semana 2 Abordagem dos transtornos depressivos Definição A depressão representa a segunda causa de consulta em ambulatórios gerais Maioria dos deprimidos apresentam comprometimento laboral e sociofamiliar. Pode ser classificada como leve, moderada ou grave. Um episódio pode durar entre 16 a 20 semanas (sem tratamento) Pode ser crônica (12%) e recorrente (80%) Pessoas com depressão frequentam mais os serviços de saúde (queixas gerais, podem ou não ser associadas aos sintomas depressivos). 30 – 60% dos casos não são detectados Médicos relatam falta de treinamento e tempo, além de descrença a efetividade do tratamento. (apenas 1/3 responde ao primeiro tratamento, muitos vao precisar de troca de medicamentos ou até mesmo potencialização do tratamento) Epidemiologia 5 a 10% dos pacientes atendidos na atenção primaria podem estar deprimidos. Prevalência na vida da depressão: 10 a 25% de mulheres e 5 a 12% em homens. Suicídio pode ocorrer em até 15% dos pacientes com depressão grave. Mais frequente em mulheres (2-3 vezes mais). Quatro episódios de depressão na vida é na mediana na população. Diagnostico Diagnostico pode ser difícil. É necessária uma remissão para se considerar como resposta. Quem já teve depressão tem um risco maior de ter outra crise. Diagnóstico clínico CID-10 Sintomas fundamentais: • humor deprimido (tristeza, irritabilidade) • Perda de interesse (pensamentos negativos) • Fadiga ou perda de energia Sintomas acessórios: • Diminuição da concentração e atenção • Redução da autoestima e autoconfiança • Ideias de culpa e inutilidade • Visões pessimistas do futuro • Sono perturbado • Apetite diminuído (não é de forma grave) Questões adaptadas para auxiliar o diagnóstico. • No último mês você sentiu-se para baixo, deprimido ou sem esperança? • No último mês você sentiu pouco interesseou prazer para fazer coisas? Escala de Goldberg (adaptada) 1. Você tem perdido interesse? 2. Você perdeu a confiança em si mesmo? 3. Você está sem esperança? Se sim, para qualquer pergunta, continue: 1. Você tem dificuldade para concentrar? 2. Você perdeu peso devido a pouco apetite? 3. Você tem acordado cedo? 4. Você sente-se mais devagar? 5. Você sente-se pior de manhã? Diagnostico diferencial Ficar atente as comorbidade clínicas. Ficar atenta a: álcool, maconha, fármacos; estímulos para síndromes depressivas. 5 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Cuidados assistenciais É fundamental o acesso ao tratamento para depressão. (facilitar esse acesso) Depressão causa mais prejuízo do que a angina, artrite, asma e diabetes. É equivalente em incapacitação as doenças isquêmicas cardíacas graves. 70% da morbimortalidade associada a depressão pode ser prevenida com tratamento Indivíduos com depressão precisam de acompanhamento, monitoramento, principalmente nas primeiras semanas. Verificar história de comorbidades Sinais de gravidade/alerta Tratamento: Caracterizar o quadro para melhor escolha do tratamento Fase aguda ou de manutenção? Verificar se o paciente tem um transtorno de humor bipolar Antidepressivos são efetivos e semelhantes na resposta , porém com variações das hipóteses de mecanismos de ação e efeitos colaterais Observar situações especiais: crianças, adolescentes, gestantes e idosos. Resposta inicial de 2-4 semanas, mas pode ocorrer benefício na primeira Dose de manutenção é a mesma do tratamento agudo Buscar a remissão completa Psicoterapia é muito importante no tratamento; suporte, ajuda, uma melhor resposta Avaliação com especialista Terapias não farmacológicas • Psicoeducação (plano terapêutico) (importante a adesão;) • Cuidar dos estressores recentes (afastar do trabalho) (normalmente se tiver paciente que não quiser cessar o trabalho; forma de prazer) • Reativar rede social • Atividade física (diminui os sintomas, as não trata) (propor, nunca obrigar) • Outras terapias (terapias em grupos...) • Evitar tratamentos ineficazes • Propor seguimento regular Terapia farmacológica Boa parte dos pacientes com depressão não recebem tratamento adequado. Verificar a posologia, o tempo de uso da medicação, a qualidade e adesão. (evitar doses excessivas) Efeitos adversos podem dificultar a adesão. Tricíclicos: • Mais baratos e mais disponíveis. • Amitriptilina (usa-se a noite, antes de dormir, pois há muitos efeitos adversos; boca seca; constipação intestinal) • Clomipramina; • Imipramina • Nortriptilina (mais indicado em idosos; mais bem tolerado) ISRS: • Citalopram • Escitalopram • Sertralina • Fluoxetina • Fluvoxamina • paroxetina ISRNaS: • Utilizados como uma segunda opção • Venlafaxina • Desvenlafaxina • Duloxetina Outros: • Trazodona • Mirtazapina • Tranilcipromina • Vortioxetina • Agomelatina • bupropiona 6 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Potencialização: • Lítio • Quetiapina • Aripiprazol • hormônio tireoidiano • buspirona • olanzapina • risperidona Quando referenciar Transtornos Ansiosos na APS Ansiedade como sintoma Pode ser definida como um estado de angústia , preocupação e/ou apreensão. Pode estar acompanhada de outras queixas mentais (pensamentos excessivos, medos intensos, insônia, irritabilidade) ou físicas (palpitações cardíacas, tremores, parestesias periféricas). Esses sintomas fazem parte do mecanismo fisiológico de “reação de luta ou fuga”, ou seja, em situação de ameaça tendemos a ficar ansiosos. Lembrar que: • A ansiedade pode ser sintoma de outros problemas de saúde mental (bullying, assédio moral, violência doméstica, disforia de gênero, transtorno bipolar etc.). • Também pode ser sintoma de problemas clínicos (hipertireoidismo, arritmia cardíaca etc.). • Os problemas de abuso de substâncias (álcool e drogas) também podem gerar sintomas de ansiedade e devem ser tratados. Ansiedade como transtorno • Porém quando a ansiedade se torna excessiva, a ponto de prejudicar o funcionamento da pessoa, seja no seu desempenho ocupacional, social ou biológico, teremos um Transtorno. Sinais e sintomas – Mentais • Preocupações excessivas • Dificuldade de concentração • Insônia • Irritabilidade • Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo) • Medo de perder o controle ou “enlouquecer” • Medo de morrer Físicos • Palpitações, coração acelerado, taquicardia. • Sudorese. • Tremores. • Sensação de falta de ar ou sufocamento. • Fadiga. • Tensão muscular. • Dor ou desconforto torácico. • Náusea ou desconforto abdominal. • Sensação de tontura , instabilidade, vertigem ou desmaio. • Calafrios ou ondas de calor. • Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). Na anamnese... Uma vez identificada a presença de ansiedade em uma pessoa, o primeiro a se fazer é definir o significado desse sintoma no contexto da pessoa que o apresentou. Buscar situações que podem estar associadas a etiologia da ansiedade, lembrando que geralmente são situações multifatoriais, com fatores biológicos e psicossociais. História médica prévia da pessoa, dados sobre história familiar de doenças mentais, hábitos de vida e uma revisão adequada de sistemas. Investigar o uso de estimulantes (p. ex. cafeína), medicamentos ou drogas ilícitas. 7 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Abordagem em 3 passos 1- Diferenciar ansiedade de inquietação/euforia/irritabilidade. 2- Avaliar repercussão da ansiedade na vida da pessoa: causa transtorno? 3- Esclarecer se a ansiedade é o problema principal ou é parte de um ou mais transtornos subjacentes. Perguntas que podem auxiliar no diagnóstico... • Apresenta episódios de crise ou ataque de ansiedade? (Pânico?) • Muita preocupação com tudo? (TAG?) • Desconforto perto de outras pessoas? (TAS?) • Pensamentos recorrentes e sonhos com situação traumática? (TEPT?) • Manias ou rituais motivados por pensamentos recorrentes ou intrusivos? (TOC?) • Tem tristeza, astenia ou perda de interesse? (Depressão?) Exame físico Em geral o exame físico revela pouco ou nenhuma alteração em pacientes fora da crise. Pacientes com TAG podem, eventualmente, apresentar taquicardia, elevação da PA, agitação, sudorese, dor no peito, tremores de extremidades. Pacientes em crise de pânico podem apresentar esses sintomas de forma mais intensa. Exames complementares Não há exames complementares diagnósticos para os transtornos de ansiedade ou transtorno relacionado a estresse ou trauma. Exames complementares podem ser usados para descartar doenças clínicas, se houver suspeita dessa etiologia na avaliação. Tratamento Orientação sobre o problema (psicoeducação)/apoio para o enfrentamento dos problemas vivenciados. Mudança de estilo de vida: atividade física, técnicas para redução do estresse (acupuntura, Mindfulness) Psicoterapia. Tratamento medicamentoso. A escolha da abordagem dependera de fatores como a gravidade do caso, disponibilidade de psicoterapia e preferência da pessoa. O SUS prevê que o tratamento desses transtornos seja estruturado principalmente na APS, com apoio de psicólogos e psiquiatras do NASF ou da rede de atenção psicossocial (através de matriciamento, ambulatório, CAPS etc.). Farmacológico 1ª escolha em geral são os Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina – ISRS e os Inibidores da receptação de Serotonina e norepinefrina – ISRSN. Anti depressivos Tricíclicos e os inibidores da monoamino-oxidase (IMAOs), são eficazes, mas causam muitos efeitos adversos, colocando-os em segundo plano. Benzodiazepínicos devem ser evitados sempre que possível também problemascomo dependência. Orientar os pacientes que os efeito terapêuticos desses medicamentos levam cerca de 4 semanas para surgimento. Após 6 a 18 meses de controle satisfatório de sintomas , o médico pode tentar reduzir gradualmente a dose do antidepressivo até sua retirada. Quando referenciar Casos de difícil diagnóstico. Casos com resposta pobre ao tratamento farmacológico inicial. Necessidade de psicoterapia estruturada, ou necessidades que fujam ao domínio técnico do médico da APS . 8 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Semana 3 Compreender a utilização de Psicofármacos na APS Antidepressivos: ISRS, IRSN, Triciclicos Antidepressivos • A teoria mais aceita para elucidar a etiologia do transtorno depressivo maior é a monoaminérgica. • Essa teoria sugere que a depressão está relacionada com uma deficiência na quantidade ou na função da serotonina (5-HT), noradrenalina (NA) e dopamina (DA) corticais e límbicas. • Assim, o mecanismo de ação básico destes fármacos é aumentar a biodisponibilidade de neurotransmissores na fenda sináptica, seja fornecendo uma dosagem exógena, seja impedindo a degradação do produto endógeno ou amplificando sua ação • O mecanismo mais comum consiste na inibição da atividade dos transportadores de serotonina (SERT) e de norepinefrina (NET) ou de ambos. Nesse caso estão incluídos os ISRSs e os IRSNs (por definição), bem como os ADTs. • Outro mecanismo que aumenta a disponibilidade de monoaminas é a inibição de sua degradação enzimática (pelos IMAOs). • Outras estratégias para aumentar o tônus monoaminérgico incluem a ligação a auto-receptores pré- sinápticos (mirtazapina) ou a receptores pós-sinápticos específicos (antagonistas dos receptores 5-HT2 e mirtazapina). • A disponibilidade aumentada de monoaminas para ligação na fenda sináptica resulta em uma cascata de eventos que aumentam a transcrição de algumas proteínas e a inibição de outras. • É a produção efetiva dessas substâncias que parece determinar os benefícios, bem como a toxicidade de determinado agente. Inibidores seletivos de recaptação de serotonina – ISRS • Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) representam uma classe quimicamente diversa de agentes cuja principal ação consiste na inibição do transportador de serotonina (SERT), o que gera acúmulo deste neurotransmissor na fenda sináptica, aumentando sua disponibilidade. • Na atualidade, há seis ISRSs que constituem os antidepressivos mais comuns de uso clínico, sendo considerados a primeira linha no tratamento da depressão dada à facilidade de seu uso, segurança em superdosagem, tolerabilidade relativa, custo (todos estão disponíveis em forma genérica) e amplo espectro de usos. • REPRESENTANTES: Fluoxetina, sertralina, Citalopram, paroxetina, Fluvoxamina e Escitalopram. 9 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Inibidores seletivos de recaptação de serotonina e noradrenalina – irsn (duais) • Como o próprio nome já diz, são fármacos que atuam na inibição da recaptação de serotonina-norepinefrina (IRSN, ou duais). • Todos os IRSNs ligam-se aos transportadores de serotonina (SERT) e de norepinefrina (NET), de forma reversível e com pouca afinidade. • REPRESENTANTES: Venlafaxina, desvenlafaxina, duloxetina. Antidepressivos Tricíclicos • Os antidepressivos tricíclicos (ADTs) eram a classe dominante de antidepressivos até a introdução dos ISRSs nas décadas de 1980 e 1990. Todos apresentam um núcleo iminodibenzil (tricíclico) em sua composição. • Os ADTs são usados principalmente na depressão que não responde aos antidepressivos de uso mais comum, como os ISRSs ou os IRSNs. • Sua perda de popularidade advém, em grande parte, de seu menor perfil de tolerabilidade em comparação com agentes mais recentes, da dificuldade de seu uso e de sua letalidade em superdosagem. REPRESENTANTES: Imipramina, amitriptilina, nortriptilina, clomipramina Inibidores da Monoaminoxidase (IMAO) • São a primeira classe de antidepressivos modernos, introduzidos na década de 1950; entretanto, na atualidade, são raramente prescritos na prática clínica, devido à sua toxicidade e interações alimentares e medicamentosas potencialmente letais. • Hoje, o uso fica restrito sobretudo no tratamento da depressão que não responde a outros antidepressivos mais toleráveis. • REPRESENTANTES: fenelzina, isocarboxazida, tranilcipromina, selegilina e moclobemida. 10 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Erros mais frequentes • Tratar indivíduos com TAB apenas com antidepressivos. • Prescrever doses inadequadas para o uso proposto (geralmente subdoses). • Associar ou trocar antidepressivos quando ainda há possibilidade de ajuste de dose. • Não investigar efeitos colaterais. • Não acompanhar função hepática durante o tratamento. • Prescrever indiscriminadamente antidepressivos duais mais modernos como primeira escolha de tratamento. Estabilizadores de humor 11 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Erros mais frequentes • Não dosar a litemia. • Não acompanhar função renal e tireoidiana nos pacientes em uso de Litio. • Associar Valproato e Lamotrigina. • Não fazer reposição de ácido fólico para pacientes em uso de antiepilépticos. Antipsicóticos • Auxiliam no controle de sintomas na esquizofrenia e outras psicoses, na agitação psicomotora, agressividade, alguns sintomas das demências, na potencialização de efeitos antidepressivos e ansiolíticos, abuso de fármacos. • Atuam no bloqueio de receptores dopaminérgicos tipo 2, levando a redução dos sintomas positivos da esquizofrenia, como os delírios e alucinações, mas podem levar a efeitos colaterais do tipo parkinsonismo, hiperprolactinemia, galactorreia e amenorreia. • Divididos em 2 grupos: • Típicos : mais antigos, mais associados a efeitos extrapiramidais. Podem ser incisivos: maior bloqueio de D2, menor ação anti-histamínica e menor bloqueio alfa adrenérgico. Ou sedativos: com maior ação anti- histamínica e bloqueadora alfa adrenérgica. • Atípicos: além do bloqueio de D2, podem antagonizar os receptores de serotonina tipo 2. Causam menos sintomas extrapiramidais, porém estão associados a ganho de peso e síndrome metabólica. • Sempre introduzido em baixa dose, com aumento progressivo, baseado em tolerância e efeitos colaterais. • Após inicio ou ajuste da dose deve-se aguardar melhora clinica entre 2 a 6 semanas, e a dose deve ser mantidada por pelo menos 2 anos, em caso de surto único. • O Biperideno, anticolinérgico com ação periférica e central, e o mais usado para melhora de sintomas extrapiramidais. 12 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 13 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Erros mais frequentes • Não fazer controle de síndrome metabólica ao usar antipsicóticos. • Retirar precocemente o medicamento após surto psicótico. • Não suspender o antipsicótico nos casos mais graves de parkinsonismo, impregnação pelo antipsicótico ou distonia aguda. • Medicar com antipsicótico de depósito pessoa que não fez uso do medicamento via oral. Benzodiazepínicos • Uso controverso na prática clínica: Muito úteis no controle de sintomas depressivos, maniformes, ansiosos e de abstinência em curto prazo. Porém apresenta risco de dependência e prejuízos cognitivos (principalmente de memória), se uso prolongado. Portanto: essa classe tem maior utilidade nos meses iniciais de tratamento e de ajuste de medicação, devendo ser retirado assim que possível. Variam em suas características quanto a sedação, potência e meia-vida. Devem ser evitados na gestação e lactação por seu efeito sedativo no rn e lactente, além de causar síndrome de abstinência após o nascimento. O Midazolam tem meia vida curta (2-7horas), com importante efeito hipnótico, com frequência associado a amnésia, sendo utilizado na indução anestésica.Erros mais frequentes • Não retirar os benzodiazepínicos após estabilização sintomática dos transtornos psiquiátricos e/ou correção dos fatores envolvidos na insônia. • Fazer reduções grandes ou frequentes na dose dos benzodiazepínicos. 14 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 • Prescrever uso crônico de benzodiazepínicos, em vez das alternativas com menor risco de dependência ou efeitos cognitivos. • Usar benzodiazepínicos em pessoas com AOS. Outros psicofármacos Quando referenciar • Gestantes com depressão, com ou sem sintomas psicóticos. • Pessoas com suspeita ou em fase aguda de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) • Dúvidas diagnósticas ou de manejo terapêutico . • Na presença de sintomas psicóticos e todos os casos de psicose que não estão estáveis ou que nunca foram avaliados pelo psiquiatra. • Mulheres em uso de antipsicótico, que engravidaram ou desejam engravidar. • Pessoas com indicação de introdução ou correção de dose do metilfenidato. • Pessoas com transtornos mentais graves. 15 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Semana 4 Conhecer aspectos referentes à Reforma Psiquiátrica A Reforma Psiquiátrica no Brasil teve como primeira fonte inspiradora as ideias e práticas do psiquiatra Franco Basaglia, que revolucionou, a partir da década de 1960, as abordagens e terapias no tratamento de pessoas com transtornos mentais nas cidades italianas de Trieste e Gorizia. Crítico da psiquiatria tradicional e da forma como operavam os hospícios, Basaglia revolucionou o tratamento psiquiátrico, desenvolvendo uma abordagem de reinserção territorial e cultural do paciente na comunidade. Isso em vez de isolá-lo num manicômio à base de fortes medicações, vigilância ininterrupta, choques elétricos e camisas de força. O aprofundamento de sua metodologia e o retorno à vida social conseguido com milhares de ex-internos em Trieste levou a prefeitura local, com o passar dos anos, a fechar o hospital psiquiátrico, optando gradualmente pela abertura de novos centros terapêuticos territoriais, como os concebidos por Basaglia. Devido aos resultados positivos que alcançou na Itália, a abordagem de Basaglia passou a ser recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a partir de 1973. A posição da OMS tornou o debate mundial e a discussão chegou ao Brasil. Em 1978, na Divisão Nacional de Saúde Mental (Dinsam), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, profissionais denunciaram as condições de profunda degradação humana em que operava a maioria dos hospitais psiquiátricos no país. A crise, em pleno regime militar, levou à demissão da maioria dos denunciantes. Em 1979, foi criado o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) e em 1987, o movimento antimanicomial, dando continuidade à luta pela nova psiquiatria. O projeto de reforma psiquiátrica foi apresentado em 1989 pelo então deputado Paulo Delgado (MG). Após 12 anos, o texto foi aprovado e sancionado como Lei nº 10.216/2001, ficando conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, Lei Antimanicomial e Lei Paulo Delgado. Lei 10.216, de 6 de abril de 2001 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Define os direitos da pessoa portadora de transtorno mental. A internação passa a ser um recurso somente após esgotadas outras medidas terapêuticas. O objetivo o tratamento em saúde mental passa a ser a reinserção social do paciente no seu meio. O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros. Ficou proibida a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares. A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Passam a ser considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. Internação voluntária: A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente e da involuntária por 16 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 solicitação da família ou, ambas, por determinação do médico responsável. A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários. Na prática, o que essa nova política significa? Desconstrução do aparato manicomial no Brasil, e de construção de estruturas substitutivas. A partir destes marcos (legais e práticos), passou-se a privilegiar a criação de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico, quais sejam: redes de atenção à saúde mental, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), leitos psiquiátricos em hospitais gerais, oficinas terapêuticas, residências terapêuticas, respeitando-se as particularidades e necessidades de cada local. Desinstitucionalização O termo desinstitucionalização significa deslocar o centro da atenção da instituição para a comunidade, distrito, território. Porém, na saúde mental, esse termo toma proporções mais amplas o que simplesmente deslocar o centro da atenção do hospício, do manicômio, para a comunidade Qual o papel da atenção primária na RAPS? As intervenções devem se dar a partir do contexto familiar e comunitário – a família e a comunidade devem ser parceiras no processo de cuidado. É fundamental a garantia de continuidade do cuidado pelas equipes de Saúde da Família, seguindo estratégias construídas de forma interdisciplinar. As redes sanitária e comunitária são importantes nas estratégias a serem pensadas para o trabalho conjunto entre saúde mental e equipes de Saúde da Família. O cuidado integral articula ações de prevenção, promoção, tratamento e reabilitação psicossocial. A educação permanente deve ser o dispositivo fundamental para a organização das ações de saúde mental na Atenção Primária. Semana 5 Sistematizar o conhecimento sobre desprescrição e polifarmácia na APS. Polimedicação No aspecto quantitativo, a polimedicação é definida como o emprego de cinco ou mais fármacos de uso crônico por um determinado paciente. Já no aspecto qualitativo, analisa-se o uso de ao menos um medicamento considerado inadequado. O envelhecimento da população associado ao aumento das doenças crônicas gera um incremento importante no número de adultos polimedicados. Consequências: • Diminui a adesão terapêutica. • Aumenta a incidência de efeitos adversos. • Aumenta a possibilidade de interações medicamentosas, com repercussão direta sobre o estado de saúde das pessoas. • Aumenta o risco de hospitalização. • Diminui a qualidade de vida. • Supõe maior morbimortalidade. Desprescrever? O que é? “Processo de identificar, reduzir e/ou interromper medicamentos considerados dispensáveis ou potencialmente inadequados para o paciente.” “processo de retirada de um medicamento inadequado, supervisionado por um profissional de 17 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 saúde, com o intuito de manejar a polimedicação e melhorar os resultados.” Quando se fala de desprescrição, se descreve um processo singular e contínuo (prescrição- desprescrição) quenecessariamente deve ser adaptado a cada pessoa e circunstância. O resultado final do processo será uma intervenção fundamentada que, levando em conta a situação vital e clínica do paciente, considere a indicação, a seleção, a dose, a substituição ou a eliminação de alguns fármacos, a adição de outros ou a seleção de medidas não farmacológicas. Processo de desprescrição centrado na pessoa: Propõe-se cinco etapas, a partir de pontos centrais no processo de desprescrição, buscando torná-lo mais prático e seguro para o prescritor e o paciente. 1º - Faça uma história abrangente de medicamentos: • Listar todos os medicamentos e uso: doses, frequência, duração, indicação, efeitos adversos ; • Investigar indicação de cada um deles; • Investigar possíveis efeitos colaterais; • Avaliar regularidade do uso; • Informar-se sobre as crenças do paciente. Atenção para fármacos não relatados/não considerados pelos pacientes (colírios, medicamentos de venda livre como polivitamínicos, fitoterápicos, indicados por amigos/parentes/cuidadores etc.), pois podem promover interações medicamentosas, efeitos adversos, e desencadear a chamada “cascata iatrogênica”. 2º - identifique medicamentos potencialmente inadequados: • Identificar os fármacos de alto risco. • Definir o balanço risco/benefício de cada fármaco. • considerar: necessidade, benefícios, efeitos adversos, interações, adesão, preferências do paciente, objetivos da atenção e expectativa de vida Antes de prescrever , considere os efeitos colaterais. Uma ferramenta para a boa prática é a prevenção quaternária, que dentre suas premissas propõe evitar a medicalização excessiva do paciente. 3º - Determine se há medicamentos que possam ser interrompidos e sua prioridade: • Valorização das evidências • Juízo de desprescrição: balançar benefícios, riscos, preferências e recursos. • Paciente clinicamente estável. • Retirada sequencial, sempre um fármaco por vez, se existe mais de um fármaco identificado. Nos idosos, podem ser considerados indicadores fortes da necessidade de retirada: quedas, alterações cognitivas, delirium, paliação. Priorizar segundo as preferências do paciente Considerando os idosos, existe consenso sobre as classes de drogas mais indicadas para desprescrição: benzodiazepínicos, antipsicóticos atípicos, estatinas, antidepressivos tricíclicos, IBPS, etc. 4º - Planeje e inicie a retirada: • Defina a menor dose efetiva do fármaco; • Explique ao paciente e/ou cuidador o plano de desprescrição; • Crie formas de contato para o caso de retorno de sintomas na ausência do medicamento; • Verifique dosagem e necessidade de ajustes a partir da função hepática e renal. Evitar efeitos adversos: síndromes de retirada e recorrência de sintomas. Retirar progressivamente a medicação. 5º - monitoramento, apoie e registre: • Monitore efeitos adversos e retorno de sintomas; • Documente o processo de desprescrição e seus resultados; • Quando possível, ofereça tratamentos não farmacológicos; • Esteja atento se a medicação em descontinuação necessita de redução lenta. 18 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Prognóstico e possíveis complicações Síndrome de retirada: Frequente em fármacos que agem sobre o sistema nervoso central (SNC): inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS), benzodiazepínicos (síndrome de abstinência), levodopa (Síndrome neuroléptica maligna). Mas também em outras classes como os corticosteroides (Crise Addsoniana) Efeito rebote: Reaparecimento dos sintomas em intensidade maior à apresentada previamente pelo paciente, após a suspensão brusca do fármaco. Ex: betabloqueadores, IBPs, hipnóticos. Desmascaramento de interações: As interações farmacocinéticas devem ser levadas em conta no momento de retirar um fármaco. 1- Qual dos seguintes fatores se relaciona com maior probabilidade de êxito no processo de desprescrição? a. Ter tido uma experiência negativa ao deixar de tomar um medicamento. b. A fragmentação da assistência sanitária. c. A combinação, com o paciente, de um período de teste antes da retirada definitiva de um fármaco . d. A inércia sobreterapêutica . 2. Qual afirmativa, em relação às complicações que podem originar-se da desprescrição, é FALSA? a. Sempre se deve pesar os riscos envolvidos na desprescrição. b. Ao ocorrer um efeito rebote após a suspensão brusca de um medicamento, os sintomas podem ser, inclusive, mais fortes que os anteriormente apresentados pelo paciente. c. As interações farmacocinéticas não são relevantes no momento de retirada de um fármaco. d. A síndrome de retirada ocorre com mais frequência ao se retirarem fármacos que atuam no sistema nervoso central. 19 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Semana 6 Refletir acerca da abordagem à saúde mental de grupos vulneráveis O que é vulnerabilidade? “Vulnerabilidade” remete ao sentido de “fragilidade” Vulnerabilidade não pode ser confundida com incapacidade e os grupos vulneráveis não devem ser considerados como vítimas passivas de seu próprio destino. Alguns grupos da população são mais vulneráveis que outros e compartilham desafios comuns relacionados à sua posição social e econômica, apoio social e condições de vida, incluindo: • enfrentamento de estigma e discriminação; • vivência de situações de violência e abuso; • restrição ao exercício de direitos civis e políticos; • exclusão de participação na sociedade; • acesso reduzido aos serviços de saúde e educação; • exclusão de oportunidades de geração de rendas e trabalho Nesta perspectiva, quais seriam os grupos mais vulneráveis para a saúde mental? • Crianças • Adolescentes • Idosos • Pessoas em situação de rua • Usuários de álcool e drogas Tipos : Vulnerabilidade individual O componente individual refere-se às informações que a pessoa tem sobre o problema e sua capacidade, de operá-los na construção de práticas protetoras integradas ao cotidiano. Além disso, inclui limitações pessoais para o alcance dessas medidas de autocuidado e proteção pessoal, além de comportamentos de risco para adoecimento. Ex: perda de funções cognitivas, diminuição da visão, audição, déficits motores, dependência física, financeira, doenças crônicas limitantes, dependência de álcool e drogas, promiscuidade, sexo desprotegido, ausência de cobertura vacinal, entre outros... Tipos : Vulnerabilidade social O componente social relaciona-se à obtenção de informações e ao poder de influir social e politicamente para alcançar livre expressão, segurança e proteção de si e de sua saúde. Inclui: falta de moradia e saneamento, desemprego, falta de renda, rede de apoio social deficiente, exposição a violência, difícil acesso aos serviços de saúde (estrada, transporte, distância, etc), entre outros. Tipos : Vulnerabilidade programática O componente programático está interligado à qualidade e ao funcionamento efetivo dos programas de controle e serviços, as redes assistenciais e políticas públicas. Como exemplo tem-se : rede de atenção a saúde desestruturada em qualquer dos pontos os níveis de atenção (UBS, ambulatórios, hospitais, serviço móvel de urência e emergência, etc.), falta de profissionais de saúde, ausência ou baixa oferta de serviços nos 3 níveis de atenção, dificuldade de acesso aos serviços, falta de medicação na Farmácia Básica, etc. Pessoas com transtornos mentais e usuários de drogas, enfrentam restrições ao exercício de seus direitos civis e políticos, deparam-se com dificuldades de acesso aos serviços de saúde, e enfrentam barreiras até desproporcionais de acesso à educação e oportunidades de trabalho. Somando-se a estes fatores, pessoas com transtornos mentais e usuários de drogas morrem prematuramente, se comparadas com a população em geral.Por outro lado, a vulnerabilidade também pode levar à deterioração da saúde mental. Estigma e discriminação geram baixa autoestima, diminuição da autoconfiança, motivação reduzida, e menos esperança no futuro. 20 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Resulta ainda em isolamento, considerado importante fator de risco para o surgimento dos transtornos mentais e uso de drogas. A saúde mental também é afetada quando são negados direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais. Semana 7 Refletir a respeito da saúde e espiritualidade. Religião X Religiosidade X Espiritualidade São a mesma coisa? Religião Sistema organizado de crenças, práticas e simbolismos que catalisam a aproximação da pessoa com o sagrado. Religiosidade O modo como um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião, perfazendo o aspecto da vivência pessoal. Pode ser: Organizacional ou extrínseca: participação na igreja, templo religioso ou grupos Não organizacional ou intrínseca: prece ou oração, leituras, meditação, ouvir músicas ou ver programas de televisão Espiritualidade Dimensão que aborda o aspecto existencial, destacando-se algumas definições: Busca pessoal para entender questões relacionadas ao fim da vida, ao seu sentido, as relações com o sagrado ou transcendente, que pode, ou não, levar ao desenvolvimento de práticas religiosas ou formação de comunidades religiosas. Aspecto dinâmico e intrínseco da humanidade, por meio do qual se busca e expressa o significado, o propósito e a transcendência. Também é o modo da pessoa expressar a conexão com o momento, com si próprio, com os outros, com a natureza e com o que é significativo ou sagrado. Dimensão em que obtemos significado, conexão, conforto e paz para as nossas vidas. Esse significado pode ser buscado não apenas na religião, como se pensa mais comumente, mas também na música, na arte, na natureza ou mesmo em valores e princípios pessoais ou científicos. Enfrentamento ou coping religioso-espiritual Coping é o modo como a pessoa lida com o estresse, ou seja, são as estratégias cognitivo-comportamentais utilizadas pela pessoa para manejar situações estressantes. Quando essa estratégia enfoca a religiosidade ou a espiritualidade, recebe o nome de coping religioso- espiritual (CRE). O CRE pode ser: Positivo: Quando a estratégia traz benefício à saúde e ao bem-estar da pessoa, devendo ser encorajado pelo profissional. Por exemplo: estímulo da fé, preces, perdão, contemplação, meditação e leitura de materiais espirituais. Negativo: Quando a estratégia traz sofrimento ou “dor espiritual”, o profissional tem o papel de dar suporte para a ressignificação ou o reenquadramento dos conflitos que levam a pessoa a adotar essa perspectiva. Por exemplo: sentimento de ser abandonado por Deus por não se curar; relacionar o adoecimento ao sentimento de punição divina (como um câncer) ou manter-se em uma relação promotora de sofrimento 21 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 devido a valores religiosos (como ao sofrer violência doméstica). Os conceitos de CRE são de forte aplicabilidade clínica por médicos de família e comunidade, pois permitem uma inclusão ampla das percepções religiosas e não religiosas que compõem a dimensão espiritual da pessoa, contribuindo para a abordagem integral. Dar ênfase ao conceito de espiritualidade, em vez de religiosidade, pode ajudar a temática a tornar-se mais acessível para profissionais e pacientes, uma vez que a espiritualidade é uma dimensão intrínseca ao ser humano, ao passo que o domínio religioso pode ou não ser significativo para a pessoa abordada. Nesse sentido, a abordagem da espiritualidade parece vir ao encontro da visão integral e singular que se busca na atenção primária à saúde (APS). Como abordar a espiritualidade na clinica Sob a ótica do método clínico centrado na pessoa (MCCP), as crenças e os valores espirituais interferem diretamente na experiência com a doença, trazendo impacto sobre o desfecho clínico de modo positivo (p.ex.,“adoecimento pode ser oportunidade de demonstrar a fé”) ou negativo (p. ex., “perda de fé com base no sentimento de abandono por Deus”), conforme a estratégia de coping (enfrentamento) utilizada pela pessoa. Desse modo, a abordagem da espiritualidade consiste em ferramenta do médico de família e comunidade para trabalhar o significado das vivências, as estratégias de coping, ou enfrentamento, o desenvolvimento da resiliência e o reenquadramento de situações disfuncionais vivenciadas. Independente de tantas evidências no campo da Religiosidade/Espiritualidade na saúde, muitos profissionais ainda têm dificuldade em inserir essa temática na prática clínica. O autoconhecimento sobre as emoções advindas da prática clínica, a necessidade de tomada de consciência do médico no exercício profissional, a sua postura de atenção plena e a sua vivência espiritual intrínseca podem ter impacto sobre a forma como o profissional maneja demandas espirituais trazidas pelo paciente, bem como sobre sua disponibilidade para fomentá-las e abordá-las. O médico necessita manter uma prática reflexiva sobre si mesmo e seus valores pessoais, de modo a respeitar as necessidades e as crenças das pessoas, sem impor seu ponto de vista. Instrumentos para obtenção da história ou anamnese espiritual 22 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 espiritualidade e MCCP 23 Gabi vieira MEDFipGbi 2023.1 Quando referenciar Quando há questões conflituosas específicas do campo do pensamento filosófico ou dogmático da religião. Quando surgem necessidades religiosas específicas, como preces ou rituais (p. ex., unção de um enfermo), é mais apropriado consultar um profissional treinado em cuidado espiritual, como um líder religioso ou um capelão. O suporte da equipe multiprofissional também é componente dessa rede de atenção, por exemplo, quando há envolvimento de saúde mental, necessidade de adaptação física para a prática religiosa ou necessidade de mobilização da rede de suporte social. Semana 8 Conhecer as práticas integrativas e complementares (PICs) São tratamentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para prevenir diversas doenças ou, em alguns casos, também podem ser usadas como tratamentos paliativos em algumas doenças crônicas. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, de forma integral e gratuita, 29 procedimentos de Práticas Integrativas e Complementares (PICS) à população.