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1 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 Neuroanatomia Tratos medulares motores FUNÍCULO LATERAL • Trato corticoespinhal lateral: Principal trato motor (motricidade, força); • Trato rubroespinhal: sustentação axial e modulação dos movimentos das mãos (ajustes finos; ex. digitar). FUNÍCUL O ANTERIOR • Trato vestibuloespinhal: função vestibular (equilíbrio dinâmico e estático); • Trato tetoespinhal: ajuste de postura; • Trato reticuloespinhal: ajuste de postura. Tratos medulares sensitivos FUNÍCUL O POSTERIOR • Fascículo grácil: recebe informações do MMII; • Fascículo cuneiforme: recebe informações do MMSS. Ambos têm funções de sensibilidade vibratória, tato epicrítico (discrimina dois pontos), esterognosia e propriocepção consciente. FUNÍCUL O L ATERAL • Trato espinocerebelar posterior: propriocepção inconsciente; • Trato espinocerebelar anterior: propriocepção inconsciente; • Trato espinotalâmico lateral: dor e temperatura. FUNÍCUL O ANTERIOR ❖ Trato espinotalâmico anterior: Pressão e tato protopático (não discrimina dois pontos). Lembrar que: ‘‘anterior não leva dor’’ Distúrbios motores A função motora normal depende da: ❖ Transmissão de sinais do cérebro para o tronco cerebral OU ❖ Medula espinal por neurônios motores superiores (NMS) e deles para o músculo esquelético por neurônios motores inferiores (NMI). DIVISÃO DO SISTEMA MOTOR ▪ Planejadores: área motora suplementar e pré-motora (áreas associativas corticais → integram informações do ambiente com o desejo do indivíduo de realizar um ato); ▪ Ordenadores: cerebelo; ▪ Controladores: núcleos da base (velocidade do movimento); ▪ Efetores: trato corticoespinhal (efetor principal) → porção anterior da medula → sinapse com neurônio de 2ª ordem → contração muscular; ▪ Receptores: placa terminal motora (músculo). ESTRUTURAS ENVOLVIDAS NA REGULAÇÃO OU EXECUÇÃO DE ATIVIDADES MOTORAS ❖ Sistema piramidal: Fibras do NMS → descem córtex cerebral (homúnculo) pela cápsula interna → atravessam pirâmide medular → decussam → descem no trato corticoespinhal lateral do lado oposto ao de origem → sinapse com interneurônio + NMI da medula espinhal; ❖ Sistema extrapiramidal: Responsável pelo processo de preparação e modulação do movimento, bem como pelo tônus muscular, trocando sinais com o Neuropatias Periféricas 2 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 córtex piramidal e o córtex pré-motor extrapiramidal. Córtex cerebral (giro pré-central) -- recebe → informações -- sofrem modulações → cerebelo + área motora suplementar + núcleos da base -- corrigem → ato motor. ❖ Cerebelo: Coordena e modula as funções. Age de forma inconsciente. Faz coordenação motora, métrica motora (autorregulação motora), mantém o equilíbrio e aprendizado motor. ❖ Junção mioneural: Fibra que sai do corno anterior da medula e se liga a uma fibra muscular (esquelética, cardíaca ou lisa). As fibras motoras que formam os nervos cranianos e periféricos têm sua origem nos neurônios motores inferiores. Manifestações clínicas de déficit motor • Fraqueza (perda de força muscular), sensação de peso, rigidez, desajeitamento, distúrbio do controle muscular ou dificuldade na execução dos movimentos. OBSERVAÇÃO ❖ Fraqueza muscular: ocorre quando há lesão em regiões como NMS ou NMI, fibra muscular ou junção neuromuscular. ❖ Anormalidades sensoriais lateralizadas para o mesmo lado da fraqueza - lesão hemisférica. PODE SER ▪ Agudo: sugere causas vasculares (Ex. AVC, distúrbios tóxicos) ou distúrbios metabólicos. ▪ Subagudo (dias a semanas): Sugere processo neoplásico, infeccioso (HIV, poliomielite) ou inflamatório (Esclerose múltipla, mielite transversa). ▪ Crônico (meses ou anos): Base hereditária, degenerativa, endocrinológica ou neoplásica. EM RELAÇÃO À EVOLUÇÃO, PODEMOS PENSAR EM ▪ Progressão episódica: Origem vascular ou inflamatória. ▪ Progressão constante: Distúrbio neoplásico ou de condições degenerativas, como a doença de neurônio motor. ▪ Mudança rápida dos sintomas em curto tempo: Miastenia grave. DEVE-SE DEFINIR CLINICAMENTE A LOCALIZAÇÃO DA LESÃO MOTORA ▪ Distúrbio do neurônio superior: Classicamente os pacientes apresentam: Fraqueza ou paralisia, espasticidade, reflexos tendinosos aumentados, resposta extensora plantar (Babinski), Perda dos reflexos abdominais superficiais, atrofia muscular discreta (quando presente). ▪ Distúrbio do neurônio inferior: fraqueza ou paralisia (acometimento proximal); atrofia e fasciculações dos músculos envolvidos; hipotonia (flacidez); perda dos reflexos tendinosos quando os neurônios que os suprem estão afetados (hiporreflexia); reflexos abdominais e plantares normais ou perdidos (se neurônios que os suprem estejam diretamente envolvidos). ▪ Distúrbio cerebelares: Hipotonia; reflexos tendinosos deprimidos ou pendulares; ataxia (equilíbrio ou coordenação motora prejudicados); distúrbio da marcha; desequilíbrio postural; nistagmo (movim. involuntários dos olhos); disartria (falas irregulares e explosivas). ▪ Distúrbio da transmissão neuromuscular: Tônus muscular normal ou reduzido, reflexos tendinosos e superficiais normais ou deprimidos. Ausência de alterações sensoriais. Fraqueza: muitas vezes com distribuição irregular, não correspondendo a qualquer estrutura anatômica isolada. Costuma envolver os músculos cranianos e pode apresentar uma gravidade flutuante durante curtos períodos, particularmente em relação à atividade. ▪ Distúrbio muscular primário: Fraqueza (+ proximal) generalizada (causa não neuronal) associada a mialgia; ausência de atrofia muscular ou depressão dos reflexos tendinosos; reflexos abdominais e plantares normais; ausência de perda sensorial ou distúrbios esfincterianos. Distúrbios sensitivos A via sensorial entre os tecidos periféricos e o córtex cerebral envolve 3 neurônios e 2 sinapses centrais. Os neurônios sensoriais de primeira ordem têm corpos celulares nos gânglios radiculares dorsais. Enviam um processo periférico, que se encerra em uma terminação nervosa livre ou em 3 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 receptores sensoriais encapsulados, e um processo central, que entra na medula espinal. Os receptores sensoriais são específicos e podem ser: ❖ Terminações nervosas livres: Sensação da dor; ❖ Corpúsculos de Meissner: Tato epicrítico (discrimina dois pontos); ❖ Corpúsculos de Merkel: Tato protopático (não discrimina dois pontos); ❖ Células pilosas: captam estímulos vibráteis e táteis; ❖ Bulbos terminais de Krause: Sensação térmica de frio; ❖ Corpúsculos de Ruffini: Sensação térmica de calor. Neurônios sensoriais de primeira ordem fazem sinapse centralmente, em um lugar que depende do tipo de sensibilidade (tronco e membros ou face). • Tronco e membros: ❖ Fibras que medeiam sensibilidade tátil, pressão ou sensibilidade postural: sinapse com os núcleos grácil e cuneiforme. ❖ Fibras que medeiam a sensibilidade tátil, dolorosa e térmica: sinapse nos cornos posteriores da medula espinal, particularmente na substância gelatinosa. • Face: os neurônios dessa região possuem seus corpos celulares no gânglio trigeminal (gânglio de Gasser). ❖ Sensibilidade tátil e a pressão: sinapse no núcleo sensorial principal do nervo trigêmeo (V); ❖ Dor e temperatura: sinapse no núcleo espinal do nervo trigêmeo (V). Neurônios de segunda ordem: têm os corpos celulares nos núcleos grácil e cuneiforme, cruzam a linha média e sobem no lemnisco medial. ❖ Fibras que medeiam o tato: trafegam para cima no trato espinotalâmico anterior. Neurônios sensoriais de segunda ordem dos membros e do tronco: se unem no tronco cerebral às fibras provenientes da face. ❖ Sensibilidade tátil ea pressão: núcleo sensorial do nervo trigêmeo (V); ❖ Sensibilidade dolorosa e térmica da face: núcleo espinal do nervo trigêmeo (V), pelo trato trigeminotalâmico, para o tálamo ipsilateral. Neurônios sensoriais de terceira ordem: Projetam-se do tálamo para o córtex cerebral ipsilateral. Manifestações clínicas sensoriais • Distúrbios sensoriais podem consistir em: perda da sensibilidade, sensações anormais e dor. • Parestesia: Sensações espontâneas anormais, como queimação, formigamento, alfinetadas e agulhadas. • Disestesia: qualquer sensação desagradável produzida por um estímulo que, normalmente, é doloroso. • Dormência: Sensação de peso, fraqueza ou amortecimento na parte do corpo afetada, podendo, algumas vezes, significar qualquer comprometimento sensorial. • Dor: Característica importante de certas neuropatias, em especial quando fibras pequenas dentro dos nervos estão afetadas. Polineuropatias associadas com dor importante incluem aquelas relacionadas a DM, alcoolismo, amiloidose, artrite reumatoide, Aids, assim como neuropatia sensorial hereditária dominante e neuropatia sensorial paraneoplásica. • Alterações sensoriais distais nos membros → lesão do nervo periférico; • Doenças de células do corno anterior e de junções neuromusculares ou doenças musculares NÃO são acompanhadas por alterações na sensibilidade. A localização dos sintomas do paciente pode predizer topografia da lesão sensitiva: • Quando acomete todos os membros: Sugerem uma neuropatia periférica, lesão medular ou do tronco cerebral, ou distúrbio metabólico como a síndrome de hiperventilação. • Quando acomete um membro inteiro ou um lado do corpo: Sugere lesão central (cerebral ou medular). Uma lesão hemisférica ou do tronco cerebral pode levar a sintomas sensoriais lateralizados, mas a face costuma estar afetada. Outros sintomas e sinais: afasia, apraxia e defeitos de campos visuais com doença hemisférica ou disartria, fraqueza, vertigem, diplopia, desequilíbrio e ataxia com distúrbios do tronco cerebral. • Parte de um membro ou uma região discreta do tronco: Indica uma lesão de nervo ou raiz nervosa, dependendo da distribuição precisa do 4 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 comprometimento. Em uma lesão radicular, os sintomas podem estar relacionados aos movimentos do pescoço ou das costas, e a dor é significativa. A evolução dos sintomas também é de grande valor: • Sintomas de desenvolvimento agudo (poucos dias): Em geral está relacionada a um processo inflamatório, como na síndrome de Guillain-Barré. • Sintomas transitórios intermitentes ou repetitivos: podem representar convulsões sensoriais, fenômenos isquêmicos ou distúrbios metabólicos, como os que acompanham uma hiperventilação. • Sintomas intermitentes localizados: Podem sugerir o diagnóstico ou um fator precipitante exógeno. Por exemplo, a dor e as parestesias da síndrome do túnel do carpo (compressão do nervo mediano junto ao punho) ocorrem à noite e costumam acordar o paciente. Deve-se lembrar também de questionar a história ocupacional desse paciente pois toxinas industriais (chumbo, tálio) podem levar a neuropatia periférica; trabalho manual repetitivo pode dar a síndrome do carpo; trabalho relacionado a pressão palmar como com britadeira pode levar a lesão de ramo palmar profundo do nervo ulnar. OBS: A mononeuropatia, às vezes, é a primeira manifestação clínica de uma polineuropatia ocupacional Questionar antecedentes patológicos e médicos, ver distúrbios metabólicos (DM, doença hepática, mixedema), neoplasias (pode levar a uma polineuropatia sensorial ou sensorimotora não metastática ou a uma síndrome de Lambert-Eaton, um distúrbio da transmissão neuromuscular), inflamatórios (artrite reumatóide, poliartrite nodosa, LES) e infeccioso (AIDs - polineuropatia primariamente sensorial, simétrica e distal). Questionar medicações e uso de álcool, que também pode fazer neuropatia periférica. Os fármacos: ▪ Neuropatia sensorial: Cloranfenicol, Cisplatina; ▪ Neuropatia predominantemente sensorial: Etambutol, Hidralazina, Metronidazol; ▪ Neuropatia mista sensorial e motora: Amiodarona, Cloroquina, Isoniazida. Exame sensorial Várias modalidades são testadas, e a distribuição de qualquer anormalidade é representada com referência especial ao território normal de raízes nervosas e nervos periféricos. EXAME DA SENSIBILIDADE SUPERFICIAL Subjetivo. Resposta à estímulos (táteis, dolorosos e vibratórios) e delimita a área da perda (profunda ou superficial). ❖ Dolorosa: pesquisa com alfinetes descartáveis; ❖ Tátil: pesquisa com chumaço de algodão; ❖ Térmica: água gelada e morna colocadas em áreas diferentes do corpo. EXAME DA SENSIBILIDADE PROFUNDA ❖ Cinético-postural: verifica-se se o paciente tem noção da posição dos segmentos em relação ao próprio corpo. Parte da pesquisa é feita durante os testes de coordenação (paciente de olho fechado). ❖ Localização ou discriminação: solicita ao paciente que indique o local exato do ponto estimulado ou pela pesquisa de grafestesia (reconhecimento pelo paciente de letras ou números desenhados em sua pele) ou da discriminação de 2 pontos (se não houver diferença, lesão central). Capacidade de reconhecer objetos ou formas pelo tato. ❖ Vibratória: avaliada com um diapasão (128 Hz) em vibração, colocado sobre uma proeminência óssea; pede-se ao paciente que indique se sente a vibração mais do que uma simples pressão. Muitos indivíduos mais idosos e sadios têm comprometimento da sensibilidade vibratória abaixo dos joelhos. Síndromes sensitivas Lesões de nervos periféricos MONONEUROPATIA ❖ Lesão de um único nervo periférico. A perda sensorial geralmente é menor do que aquela prevista por razões anatômicas, em decorrência da sobreposição de nervos adjacentes. ❖ Dependendo do tipo de lesão, as fibras dentro de um nervo sensorial podem ser afetadas de forma diferente. 5 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 ❖ Pode se desenvolver no período neonatal (durante o DNPM ou decorrente do parto) ou mais tardiamente (compressão ou lesão). ❖ Lesões compressivas, por exemplo, tendem a afetar preferencialmente as fibras grandes responsáveis pelo toque. ❖ Pode ser de início agudo (origem traumática ou isquêmica), gradual (compressiva, traumática), simples (1 único nervo periférico) ou múltipla (vários nervos individuais, assimétrico e não contíguos). POLINEUROPATIA ❖ As polineuropatias periféricas podem levar a um déficit motor ou sensorial, ou a ambos; ❖ A perda sensorial em geral é simétrica e maior distalmente do que proximalmente, perda sensorial em meia e em luva ou neuropatia comprimento- dependente. ❖ A perda terá progredido quase até os joelhos antes que as mãos comecem a ser afetadas. Pode estar acompanhada de déficit motor e alterações dos reflexos. ❖ Pode ser de início agudo (processo inflamatório, infeccioso, distúrbios metabólicos e substâncias tóxicas), crônico de evolução gradual (causas hereditárias, metabólicas ou inflamatórias), de grandes fibras (causado por uremia, toxinas, déficit de vitamina B12) ou pequenas fibras (amiloidose, DM) ❖ DM, amiloidose e alguns outros distúrbios metabólicos (ex: doença de Tangier, distúrbio recessivo caracterizado pela ausência quase total de lipoproteínas de alta densidade) envolvem preferencialmente as fibras nervosas responsáveis pela sensibilidade térmica e dolorosa; em uma neuropatia sensorial pura de fibras pequenas, os reflexos tendinosos não estão afetados e não ocorre déficit motor. ❖ A polineuropatia, segundo estudo histopatológico ou pelo eletrodiagnóstico, pode ser dividida em: uma neuropatia axonal (maioria dos casos), quando o axônio é o principal alvo patológico,ocorrendo desnervação, especialmente distal, nas extremidades, mas a velocidade de condução nervosa máxima está normal ou apenas levemente diminuída; Ou pode ser uma neuropatia desmielinizantes (Mielopatias), quando envolvem a bainha de mielina ao redor do axônio ou uma neuronopatias, que afetam principalmente os corpos celulares de nervos no corno anterior da medula espinal ou gânglio de raiz dorsal. Aqui a eletromiografia costuma mostrar pouca ou nenhuma evidência de denervação, mas existe bloqueio da condução ou diminuição acentuada da velocidade máxima de condução nos nervos afetados. Lesões radiculares • Comprometimento da sensibilidade cutânea com padrão segmentar. • Em decorrência da sobreposição, em geral não ocorre perda de sensibilidade, a não ser que estejam afetadas duas ou mais raízes adjacentes. • A dor é uma característica bem evidente em pacientes com lesões radiculares compressivas. • As radiculopatias são distinguidas das neuropatias periféricas pela distribuição dos déficits motores ou sensoriais. • A presença de dor na nuca ou nas costas, que irradia para as extremidades em uma distribuição radicular, também é sugestiva de uma lesão radicular. • Dependendo do nível afetado, pode haver perda dos reflexos tendinosos: ❖ C5-C6 bicipital e braquiorradial ❖ C7-C8 tricipital ❖ L3-L4 patelar ❖ S1 tendão do calcâneo • Quando existe envolvimento das raízes anteriores, pode haver fraqueza e atrofia muscular. • OBS. existem áreas fisiológicas de sensibilidade diminuída, a saber: a área junto à margem costal, sobre as mamas e virilha, e isso não deve ser considerado anormal. LESÃO MEDULAR CENTRAL 6 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 • Normalmente é bilateral e simétrica (mas pode ser assimétrica) e envolve somente as fibras dos segmentos envolvidos, faz perda da sensibilidade dolorosa e térmica, poupando as outras modalidades, decorrente da interrupção de fibras que cruzam de um lado da medula para o trato espinotalâmico do outro lado. • O envolvimento das células do corno anterior causa fraqueza em neurônio motor inferior. • Estes déficits estão restritos aos dermátomos e músculos inervados pelos segmentos medulares envolvidos. • Lesões mais extensas: também pode fazer distúrbios da sensibilidade tátil, vibratória, de pressão e posição articular (envolvimento das colunas posteriores), fraqueza no NMI, déficits piramidais (envolvimento do trato corticospinal, afetando principalmente os braços) • Algumas causas: Siringomielia pós traumatismo e tumores medulares. LESÃO MEDULAR ANTERIOR • Sensibilidade dolorosa e térmica comprometida abaixo do nível da lesão, que envolve o trato espinotalâmico lateral. • Fraqueza e paralisia dos músculos supridos pelos segmentos medulares envolvidos (lesão dos neurônios motores do corno anterior). • Quando a lesão é extensa pode afetar os tratos corticospinais laterais levando ao déficit piramidal abaixo da lesão. • Existe uma preservação relativa da função da coluna posterior. • Ex: Mielopatias isquêmicas, causadas pela oclusão da artéria espinal anterior. LESÃO MEDULAR ANTEROLATERAL • Podem causar um comprometimento contralateral da sensibilidade térmica e dolorosa nos segmentos abaixo do nível da lesão. • Lesões intrínsecas (intramedulares) da medula espinal muitas vezes poupam as fibras sacrais, enquanto lesões extramedulares, que comprimem a medula, tendem a envolver essas fibras, assim como as que se originam de níveis mais rostrais. LESÃO MEDULAR POSTERIOR • O paciente pode se queixar de uma sensação de aperto ou semelhante a uma faixa nas regiões que correspondem ao nível do envolvimento medular e, algumas vezes, também existem queixas de parestesias (semelhantes a choques elétricos), que se irradiam para baixo nas extremidades durante a flexão do pescoço (sinal de Lhermitte). • Existe perda da sensibilidade vibratória e posicional das articulações abaixo do nível da lesão, com preservação das demais modalidades sensitivas. Lesões do tronco cerebral • Distúrbios sensitivos + déficit motor + sinais cerebelares + paralisias de nervos cranianos. • O paciente apresentará um défict sensorial cruzado: lesões no trato espinotalâmico dorsolateral (envolvimento do núcleo espinal do trigêmeo) e na ponte. Perda da sensibilidade dolorosa e térmica na hemiface ipsilateral à lesão e hemicorpo contralateral. • No tronco cerebral superior, o trato espinotalâmico e o lemnisco medial trafegam em conjunto, de modo que uma única lesão pode causar a perda de toda a sensibilidade superficial e profunda no lado contralateral do corpo. Lesões talâmicas • Podem levar à perda ou ao comprometimento de todas as formas de sensibilidade no lado contralateral do corpo, e isto pode ter uma distribuição que difere da área com envolvimento sintomático. • A dor espontânea, que algumas vezes pode ter uma qualidade especialmente desagradável, pode ocorrer no lado afetado. Os pacientes podem descrevê-la como queimação dilacerante, semelhante a facadas, mas muitas vezes têm dificuldade para caracterizá-la. 7 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 • Qualquer forma de estimulação cutânea pode levar a sensações dolorosas ou desagradáveis. Lesões do córtex sensorial • Compromete a função de discriminação sensitiva no lado oposto do corpo. • Pode ter heminegligência, déficit de propriocepção consciente, do tato epicrítico e protopático. • São mais evidentes nas mãos do que nos troncos ou nas porções proximais dos membros. Investigação diagnóstica • A clínica é muito importante! Tem que fazer a pesquisa de reflexos para verificar se esses reflexos estão ausentes ou exacerbados, para direcionar pra ver onde vou investigar mais. ❖ Reflexos ausentes: investigar mais eletroneuromiografia, exames laboratoriais. ❖ Reflexos exacerbados: pensar mais na parte de medula, solicitar exame de imagem; pode fazer mielografia, tomografia, ressonância (melhor do que a TC). Laboratorial • Busca a confirmação diagnóstica ou a revelação da causa subjacente; • Hemograma, VSH, Ureia e creatinina, Glicemia de jejum, Vitamina B12, Proteína sérica, Eletroforese de proteínas e imunoeletroforese, Função hepática e tireóidea. • Podem ser solicitados testes sorológicos para sífilis (FTA ou MHA-TP), Fator reumatoide, anticorpo antinuclear, raio X de tórax. • Dependendo das circunstâncias clínicas podem ser necessários testes sorológicos para doença de Lyme, hepatite, infecção por HIV ou anticorpos paraneoplásicos. • Quando existe suspeita de causas tóxicas, pode ser necessária coleta de urina de 24 horas, seguida de análise para metais pesados; fragmentos de cabelos ou unhas podem ser analisados para arsênico. • O exame de uma amostra de urina fresca para porfobilinogênio e ácido d-aminolevulínico é necessário na suspeita de porfiria. • Eletromiografia: Importante para saber o mecanismo da lesão. Se tem uma degeneração axonal ou uma alteração desmielinizante. Na Neuropatia periférica haverá alteração neste exame. • Análise do líquor: Quando pensa em alteração medular é importante, mas pode pedir também nas polineuropatias. Inclusive ajuda no diagnóstico, pode ver alterações de proteínas do líquido, como na Síndrome de Guillain-Barré. Exames de imagem • Lesão medular: RNM vai trazer mais informações que a eletroneuromiografia. Tratamento do paciente com neuropatia • Tratamento específico da doença. • Suporte ventilatório: A função respiratória deve ser cuidadosamente monitorada, em especial na síndrome de Guillain-Barré, na polineuropatia inflamatória desmielinizante aguda e na neuropatia diftérica. • Prevenção de traumatismos: trauma pode levar à neuropatia.• Alívio da dor: Duloxetina ou venlafaxina (inibidoras seletivas da recaptação de serotonina e noradrenalina), pregabalina, gabapentina. Para dor lacinante: fenitoína, carbamazepina ou mexiletina; dor constante, em queimação: amitriptilina. 8 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 Introdução • Polineuropatia inflamatória/idiopática aguda ou subaguda que acomete as raízes e os nervos periféricos, podendo seguir doença infecciosa leve (mecanismo autoimune pós-infeccioso), inoculações ou procedimentos cirúrgicos, podendo também ocorrer sem precipitantes evidentes. Na maioria das vezes do tipo desmielinizante, podendo ser axonal (neuronal) ou ambas. • Caracterizada clinicamente por um déficit motor progressivo, em geral ascendente, de instalação aguda acompanhada de arreflexia (ausência de reflexos musculotendinosos), com ou sem alteração sensitiva, com recuperação precoce e espontânea. • Sinais e sintomas param de progredir em cerca de quatro semanas de doença. • O distúrbio é autolimitante, e a melhora ocorre durante semanas ou meses após o início do quadro. ❖ 70% dos pacientes se recuperam completamente; ❖ 25% permanecem com déficits neurológicos mínimos; ❖ 5% morrem, geralmente como resultado de insuficiência respiratória. • Principal patologia que cursa com polineuropatia periférica. • Foi reconhecida uma forma neuronal e desmielinizante, com características clínicas e eletrofisiológicas diferentes. • Sob a denominação SGB, inclui-se formas distintas da doença. Formas com quadro de déficit motor predominante: ❖ Polirradiculoneurite aguda inflamatória desmielinizante (AIDP); ❖ Neuropatia aguda axonal sensitivo-motora (AMSAN); ❖ Neuropatia aguda axonal motora (AMAN). • Além dessas formas, são descritas outras variantes com outro quadro clínico predominante: ❖ Síndrome de Miller-Fisher; ❖ Neuropatia aguda pandisautonômica. • Não existe uma causa definida, acredita-se que possua um fundo imunológico. mas parece que depende da imunidade humoral (50% dos casos podem ser detectados autoanticorpos anti-GM1 - glicofosfolipídeo 1). É secundária a uma agressão imunológica do sistema nervoso periférico, e a natureza dos antígenos que desencadeiam a resposta inflamatória permanece desconhecida. Os autoanticorpos contra esses antígenos atuam bloqueando a condução nervosa. Como ocorre a agressão neuronal: Infecção → gatilho → sistema imune é ativado → destruição da bainha de mielina → lesão do axônio do neurônio → morte do neurônio. Epidemiologia Causa mais frequente de fraqueza generalizada de instalação aguda não-traumática. Incidência anual de 1 a 2 em 100.000 habitantes. Ocorre em todas as faixas etárias, com idade média de 40 anos. Há um ligeiro predomínio do sexo masculino em relação ao sexo feminino. Fatores predisponentes • Em aproximadamente dois terços dos casos, a SGB é antecedida por eventos que precedem de 1 a 3 semanas o desenvolvimento da paralisia aguda ascendente. ➢ Em 27% dos casos: não se observa nenhum evento anterior; ➢ Em 49% dos casos: é precedida por infecção de vias aéreas superiores; ➢ Em 10% dos casos: há um quadro de diarreia antes (classicamente pelo Campylobacter jejuni); ➢ 3%: precedida de mal-estar; ➢ 2%: de pneumonia. Outros fatores relacionados: procedimentos cirúrgicos, doenças exantemáticas agudas, infecções virais (Citomegalovírus, HIV, Epstein-Barr, hepatite, Zika), infecção bacteriana aguda, LES, micoplasma, doença de Lyme, sarcoidose e linfoma de Hodgkin. Síndrome de Guillain-Barré (SGB) 9 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 Quadro clínico ▪ Os pacientes geralmente apresentam infecção respiratória ou gastrintestinal aguda com duração de poucos dias. ▪ Após 1 a 3 semanas desse quadro, desenvolve-se um quadro de “paralisia ascendente”, ou seja, inicialmente os membros inferiores são envolvidos e, após alguns dias, os membros superiores. ▪ Embora descrita como paralisia ascendente, a fraqueza em geral acomete tanto músculos proximais como distais do mesmo membro. ▪ Instalação descendente, com início nos membros superiores; face também pode ocorrer. ▪ 50% dos pacientes têm envolvimento dos nervos cranianos, principalmente da mímica facial. ▪ Cerca de um terço dos pacientes pode evoluir até insuficiência respiratória, necessitando ventilação mecânica. ▪ A fraqueza muscular é relativamente simétrica, acompanhada de arreflexia, que é um sinal precoce na evolução da doença. ▪ Embora os sintomas sejam predominantemente motores, o paciente, em geral, tem discreta alteração sensitiva, que pode inaugurar o quadro na AIDP e AMSAN. Em contraste, distúrbios sensitivos são frequentes nos pacientes com AMAN. ▪ Cerca de metade dos pacientes tem disfunção autonômica, com flutuação da pressão arterial, arritmia cardíaca, disfunção gastrintestinal, retenção urinária e edema pulmonar neurogênico. ▪ O grau máximo de incapacidade ocorre geralmente entre 1 e 4 semanas. Mais de 50% dos pacientes atingem o grau máximo de incapacidade em duas semanas, 80% em três semanas. ▪ Progressão do déficit motor em mais de um membro e arreflexia ou hiporreflexia são necessários para o diagnóstico. ▪ Os pacientes costumam apresentar fraqueza ascendente simétrica, em geral começando nas pernas, que frequentemente está mais acentuada proximal do que distalmente e, algumas vezes, é tão grave que apresenta risco para a vida, principalmente se os músculos respiratórios ou a deglutição estiverem envolvidos. ▪ Outros sinais que apoiam o diagnóstico são progressão do quadro em até quatro semanas, déficit motor simétrico, sinais sensitivos, acometimento de nervos cranianos, principalmente do nervo facial e disfunção autonômica. ▪ A atrofia muscular se desenvolve caso tenha ocorrido degeneração axonal. ▪ Pode haver acentuada disfunção autonômica (disautonomia), com taquicardia, irregularidades cardíacas, labilidade da pressão arterial, sudorese comprometida, distúrbio da função pulmonar, distúrbios esfincterianos, íleo paralítico e outras anormalidades. ▪ Geralmente a sensibilidade térmica e dolorosa estão preservadas, mas não a proprioceptiva e a vibratória. Na maioria das vezes, não há distúrbio vesical nem nível sensitivo. Estes últimos achados sugerem síndrome de compressão medular ou mielite transversa. ▪ Em geral, após seis meses de evolução da doença, 85% dos pacientes já voltaram a deambular, entretanto somente 15% dos pacientes ficam sem nenhum déficit residual e, apesar do avanço da terapêutica de suporte e imunomoduladora, a taxa de mortalidade permanece entre 3 e 8% (por falência respiratória com e sem sepse, embolia pulmonar e disautonomia). ▪ Cerca de 65% dos pacientes persistem com sintomas e sinais menores, como pé caído ou parestesias distais, que não impedem as atividades diárias. Déficit motor permanente, em geral acometendo os membros inferiores ou perda sensitiva, ocorre em 5 a 10% dos casos. Apresentação clínica: paralisia flácida → ascendente → arreflexia. Diagnóstico • Dado principalmente pelo quadro clínico, às vezes necessitando da exclusão de uma síndrome medular pelo exame de imagem. • Critérios diagnósticos da SGB clássica: ❖ Déficit simétrico em todos os membros, com fraqueza muscular progressiva ascendente; * O caráter descendente do déficit motor é visto nas variantes da SGB que iniciam manifestações pelos nervos cranianos. O pico do déficit costuma ocorrer em 2 semanas; 10 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 ❖ Parestesias nos pés e nas mãos; ❖ Arreflexia ou hiporreflexia em todos os membros, por 1 semana; ❖ Progressão: dura de vários dias a até 4 semanas; ❖ LCR: dissociaçãoproteico-citológica pode ser normal até a 1ª semana, quando a concentração proteica começa a se elevar. O pico ocorre em 3 ou 4 semanas. Na maioria dos casos, a celularidade é normal. Pleocitose pode ocorrer, entretanto, quando acima de 10 células/mm3, deve-se considerar associação de outras doenças (HIV, citomegalovírus, doença de Lyme, lúpus eritematoso sistêmico, doença de Hodgkin, entre outras); ❖ ENMG com evidências de desmielinização: ↓ velocidade de condução, dispersão temporal do potencial de ação, prolongamento da latência da onda F. São os achados laboratoriais mais sensíveis e específicos da SGB. Elas ocorrem primeiro e mais frequentemente que a elevação da proteinorraquia. Na primeira semana, entretanto, o estudo da condução nervosa geralmente mostra alterações mínimas. Exames complementares • EXAME DO LÍQUOR: Após uma semana de evolução, observa-se no líquido cefalorraquidiano um aumento da concentração de proteína com celularidade normal (dissociação albuminocitológica), que atinge seu máximo entre a quarta e sexta semana. A elevação do nível de proteinorraquia resulta provavelmente da quebra de barreira hemato-liquórica. Edema endoneural tem sido descrito no nervo e nas raízes nervosas, em consequência, há difusão de fluido proteico pela barreira hemato-liquórica. • ELETRONEUROMIOGRAFIA: Realiza o diagnóstico eletrofisiológico. O exame revela uma acentuada diminuição da velocidade de condução motora e sensorial ou denervação evidente e perda axonal. As alterações de condução nervosa que refletem desmielinização são os achados laboratoriais mais sensíveis e específicos da SGB. Pode não haver alterações à ENMG no início da doença, mas isso não exclui o diagnóstico de SGB; • Após 2 a 4 semanas, observam-se sinais de desnervação nos músculos acometidos, indicando um certo grau de degeneração axonal secundária. • Os critérios eletroneurofisiológicos para o diagnóstico de desmielinização na SGB não são tão úteis na forma aguda, pois demoram um período para se estabelecerem, e é necessário um diagnóstico precoce da doença para seu tratamento. Tratamento É dividido em terapia de suporte e específico. TERAPIA DE SUPORTE ❖ Fisioterapia adequada e monitoração da evolução da doença para um comprometimento respiratório, sintomas bulbares e instabilidade autonômica. ❖ Progressiva fraqueza dos músculos flexores do pescoço tem uma forte correlação com o desenvolvimento de falência respiratória. A capacidade vital forçada deve ser monitorada, sendo que valores abaixo de 15 a 20 mL/kg requerem entubação endotraqueal. ❖ Medidas preventivas para trombose venosa profunda e embolia pulmonar também devem ser consideradas. ❖ A monitoração das funções do sistema nervoso autonômo é essencial, especialmente em pacientes com déficit motor importante, com avaliação da flutuação da pressão arterial, arritmias cardíacas, edema pulmonar neurogênico, pseudo- obstrução gastrintestinal e retenção urinária. TRATAMENTO ESPECÍFICO ❖ Visa acelerar o processo de recuperação, diminuindo as complicações associadas à fase 11 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 aguda e os déficits neurológicos residuais em longo prazo. ❖ Modalidades disponíveis: ➢ Plasmaférese: Foi o primeiro tratamento comprovadamente considerado eficaz na SGB. Parece reduzir o tempo necessário para a recuperação e pode diminuir a probabilidade de déficits neurológicos residuais. ▪ É indicada aos pacientes com déficit motor predominante. É considerada uma terapêutica segura, apesar da presença de uma disfunção autonômica em muitos pacientes, o que pode dificultar sua realização. ▪ O maior problema na realização da plasmaférese é o acesso venoso. ▪ A falta de cuidados adequados com o cateter pode levar a um quadro de sepse, e frequentes sessões de plasmaférese podem causar anemia, plaquetopenia e depleção de fatores de coagulação. ➢ Imunoglobulina: endovenosa na dose de 2 g/kg dividida em 5 dias. ▪ A resposta a essa terapêutica mostrou-se igualmente eficaz à plasmaférese. ▪ Possíveis mecanismos do efeito benéfico são bloqueio dos receptores das células T, bloqueio dos receptores Fc nos macrófagos e ativação anti-idiotípica. ▪ Os efeitos colaterais que podem ocorrer são febre, mialgia, hipertensão, náuseas, vômitos, cefaléia, neutropenia e meningite asséptica. ❖ OBS. Embora muitos casos de SGB sejam devido a uma desmielinização segmentar inflamatória e os corticosteróides sejam os mais eficazes anti- inflamatórios conhecidos, até agora não se encontrou seu efeito benéfico na SGB além de seu efeito imunossupressor. ❖ Resultados esperados com o tratamento: 80% de recuperação total do quadro e mortalidade de 5%. ❖ Apenas a plasmaférese ou a imunoglobulina intravenosa têm se mostrado eficazes para o tratamento da SGB: podem diminuir a produção de autoanticorpos e aumentar a solubilização e remoção de complexos imunes. Ambas demonstraram reduzir o tempo de recuperação em até 50%. Neuroesquistossomose + SBG • Patogênese: deposição dos ovos do parasita no SNC produz obstrução vascular por formação de granulomas e acentuada reação inflamatória que acompanha a mielite necrotizante. A formação de granulomas é determinada por reação imunitária do tipo hipersensibilidade tardia, enquanto a reação inflamatória depende de resposta imunológica com formação de anticorpos. A intensidade das lesões produzidas pelo parasita depende do grau de infestação e da resposta imunológica do hospedeiro. Por isso, as pessoas infestadas, que não são residentes em áreas endêmicas, estão mais propensas a desenvolver as formas ectópicas e as mais graves. • Os ovos podem atingir o SNC. Os vermes migram para os vasos que nutrem as células do sistema nervoso e aí depositam os ovos. A lesão mais frequente na esquistossomose mansônica é a mielite transversa. • Acometimento do sistema nervoso pelo Schistosoma mansoni: pode ocorrer tanto no encéfalo quanto na medula e, por vezes, lesões múltiplas comprometem ambas as estruturas ao mesmo tempo. • Envolvimento medular: mais frequente, especialmente ao nível das regiões torácica baixa, lombossacra e cauda equina. • Exteriorização clínica da NE medular apresenta- se basicamente sob três formas: ❖ Mielítica: mais frequente, com quadro típico de mielite transversa; 12 Beatriz Machado de Almeida Neuropatias Periféricas – Caso 8 ❖ Granulomatosa ou tumoral: sintomatologia própria de compressão medular; ❖ Radicular: síndrome da cauda equina, síndrome de Guillain-Barré (polirradicular); • As manifestações clínicas nos pacientes são pobres, mas casos de epilepsia, acidente vascular cerebral e tumores cerebrais já foram descritos na literatura. O diagnóstico e o tratamento, nesses casos, são geralmente cirúrgicos.
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