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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 1 BIOMECÂNICA DO TRAUMA ........................................................................ 4 1.1 A dinamicidade da biomecânica do trauma .................................................... 4 1.2 Princípios básicos e sua aplicação ................................................................. 8 1.3 A regra dos três Ss na avaliação do trauma: scene, security e situation ........ 8 1.4 Eventos de colisão .......................................................................................... 9 1.5 Matriz de Haddon ......................................................................................... 10 1.6 A abordagem sistêmica da Matriz de Haddon .............................................. 11 2 CLASSIFICAÇÃO DOS TRAUMAS .............................................................. 13 2.1 Trauma aberto (penetrante) .......................................................................... 13 2.2 Trauma fechado (contuso) ............................................................................ 15 3 ATENDIMENTO NO TRAUMA ..................................................................... 17 3.1 Sistematização no atendimento ao trauma ................................................... 20 3.2 Avaliação primária no trauma ....................................................................... 20 3.3 Alteração no protocolo – Emprego do X (XABCDE do trauma) .................... 21 3.4 Significado das Letras XABCDE ................................................................... 21 3.5 Avaliação secundária no trauma................................................................... 25 3.6 Abordagem geral para o atendimento do trauma ......................................... 26 4 PRIMEIROS SOCORROS ............................................................................ 28 4.1 Atendimento de enfermagem ....................................................................... 29 4.2 Avaliação do estado geral da vítima – abordagens ...................................... 29 4.2.1 Avaliação das vias aéreas superiores .......................................................... 29 4.2.2 Avaliação do aparelho circulatório ................................................................ 33 4.2.3 Avaliação do nível de consciência ................................................................ 36 4.2.4 Avaliação de hemorragias ............................................................................ 36 5 TRAUMA CRANIOCEFÁLICO ...................................................................... 37 5.1 Classificação do TCE ................................................................................... 38 5.2 Características e cuidados do TCE por faixa etária ...................................... 39 6 TRAUMA DE TÓRAX ................................................................................... 40 6.1 Classificação e exame físico ........................................................................ 41 7 AFOGAMENTO ............................................................................................ 41 7.1 Classificação ................................................................................................ 43 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 45 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 BIOMECÂNICA DO TRAUMA A abordagem à vítima na avaliação da cinemática do trauma em qualquer situação de incidente provocado por eventos adversos é primordial para o estabelecimento e a manutenção da saúde e a prevenção de agravos. Os profissionais da saúde envolvidos em cenas de emergência devem ser diferenciados e precisam estar preparados para avaliar todos os contextos, pois a situação pode mudar rapidamente, havendo risco à equipe que presta o socorro e/ou agravamento da situação das vítimas. Vejamos as principais definições e abordagens dos traumas e sua cinemática, aprender sobre os mecanismos de pré-colisão, colisão e pós-colisão e saber identificar e diferenciar a ocorrência de traumas abertos e traumas fechados. (ZAVAGLIA, 2019). 1.1 A dinamicidade da biomecânica do trauma O trauma é definido como um conjunto de alterações funcionais e anatômicas, podendo ser local ou geral, sendo provocado por mecanismos violentos. Ele pode ocorrer em todos os contextos sociais e culturais e com todas as faixas etárias, representando grandes gastos, diretos e indiretos, para a saúde pública. O Brasil compartilha de altos índices de eventos traumáticos, tendo em vista a urbanização desordenada e a distribuição não igualitária de renda, o que acarreta um alarmante aumento do número de acidentes de trânsito e de trabalho, bem como da violência urbana. (ZAVAGLIA, 2019). A desordem econômica surge a partir de situações de trauma, trazendo prejuízos ao país com gastos médicos, internações hospitalares prolongadas e reabilitação e reintrodução do acidentado à sociedade. Esses prejuízos são observados devido à perda da capacidade e da força de trabalho do indivíduo acometido na maioria das vezes em sua idade mais produtiva, assim como gastos previdenciários e desestruturação de famílias devido à diminuição da capacidade socioeconômica ou ao óbito precoce. O trauma se inicia com a transferência de energia cinética para um corpo por intermédio de uma força externa, que pode ser de natureza contusa ou penetrante. 5 Além desta, existe a energia térmica em forma de agentes químicos (p.ex., calor ou frio), que são frequentemente observados em situações de guerra e conflitos. A cinemática do trauma estuda essa transferência de energia, buscando o entendimento de que o mecanismo de lesão reduz a possibilidade de o socorrista não reconhecer uma lesão grave, o que possibilita o desenvolvimento de mecanismos de proteção. Para o entendimento da biomecânica do trauma, que é o ramo que estuda o movimento dos objetos, é necessário conhecer desde os princípios físicos até a dinâmica dos acidentes, como, por exemplo, a Lei da conservação de energia, a Lei da inércia, a Lei da ação e reação, a energia cinética e a troca de energia. A Lei da conservação determina que a quantidade de energia não pode ser criada nem destruída, apenas transformada. Dessa forma, quando um veículo está em movimento, ele tem uma quantidade de energia cinética. Ao parar, ao colidir com uma barreira, essa energia não desaparece, ela é transformada em outra forma de energia, produzindo danos estruturais no veículo e lesões nos ocupantes. Na Lei da inércia fica determinado que um corpo parado permanecerá parado e que um corpo em movimento permanecerá em movimento, a menos que uma força externa atue sobre eles. (ZAVAGLIA, 2019). EXEMPLO: Quando um veículo está em movimento, ele irá parar ao se colidircom um poste, pois uma força externa está atuando sobre ele, mas tudo que está no interior do veículo continuará em movimento até colidir com algum objeto, ou seja, até que uma força externa encerre o movimento. A energia cinética é aquela inerente ao movimento dos corpos, a qual constitui a função da massa e da velocidade do corpo. Energia cinética é igual à metade da massa, multiplicada pela velocidade ao quadrado. Dessa forma, é possível concluir que a velocidade é mais determinante no aumento da energia cinética do que na massa. Na Lei da ação e reação fica determinado que toda ação corresponde a uma reação de mesma força, intensidade e direção, porém, no sentido contrário, a força que um veículo aplica sobre um muro ao colidir é aplicada sobre o veículo em mesma proporção, intensidade e direção. 6 Na troca de energia, a maneira como um corpo troca a energia com o agressor é o fator determinante do mecanismo do trauma e na suposição de potenciais lesões apresentadas pela vítima. A troca de energia está relacionada à densidade e à superfície. Em relação à densidade, pode-se perceber uma maior lesão ao direcionar um soco contra um muro de concreto do que contra um travesseiro, o que mostra que a mesma quantidade de energia produz resultados diferentes. Por outro lado, a pressão exercida sobre uma superfície é inversamente proporcional à área, assim sendo, quanto menor a área, maior o efeito da troca de energia. Em um trauma causado por uma raquete, a troca de energia não será suficiente para romper os tecidos e penetrar o corpo, diferentemente de um trauma penetrante por arma branca, por exemplo. A biomecânica do trauma, também conhecida como cinemática do trauma, trata da avaliação de uma vítima de trauma e se inicia na fase pré-hospitalar, antes mesmo de sua visualização. Na avaliação da cinemática, devem ser observadas as circunstâncias e a ocorrência do evento, o tipo de colisão automobilística (frontal, lateral ou traseira), o nível de deformidade do veículo, a altura das ocorrências de queda, a velocidade em que se encontravam os corpos, o calibre e o tipo de arma de fogo, o tipo de arma penetrante e tantas outras informações para que seja possível estabelecer a relação entre os fatos e as possíveis lesões a serem encontradas nas vítimas. O local da cena da ocorrência do evento faz parte da mecânica do trauma, na medida em que os danos externos e internos constatados representam informações valiosas, que geram suposições para possíveis lesões a serem identificadas nas vítimas. Deve-se conhecer a história do evento, pois um histórico completo e preciso, quando corretamente interpretado, pode indicar diversas lesões a serem encontradas. (ZAVAGLIA, 2019). ATENÇÃO: Lesões potencialmente letais podem não ser visíveis em um primeiro momento, mas a capacidade de prever lesões em um local de sinistro é uma importante habilidade do profissional atuante nessa área, e isto requer estudo, experiência, prática e atenção do socorrista. 7 Apesar de existir diversos mecanismos de lesões, as que acontecem pelo movimento são as mais comuns e ocorrem por duas maneiras de transferir energia: o movimento da vítima e o movimento dos objetos que atuam sobre ela. As lesões decorrentes de aceleração ou desaceleração são ocasionadas por transferência de energia, a qual é necessária para movimentar um corpo, seja para atuar sobre um que está em repouso ou para pará-lo quando esse corpo estiver em movimento. Porém, a quantidade de energia aplicada, como e com qual velocidade e em que parte do corpo é que irão determinar a seriedade das possíveis lesões encontradas. É a energia cinética que anima um corpo em movimento, e esta é denominada pela seguinte equação: = 1 2 A análise dessa equação de energia cinética deixa claro que o fator velocidade é mais relevante que a quantidade de massa de um corpo, pois, ao dobrar a velocidade de massa de um automóvel, também será dobrada a energia cinética; por outro lado, ao dobrar a velocidade, haverá o quádruplo de energia. O coeficiente entre a absorção de energia proveniente do choque se dá por intermédio da razão entre a velocidade da desaceleração causada pelo choque e a força da gravidade, o que afeta o peso dos corpos, tanto para o veículo, como para as pessoas que se encontram no seu interior. Ao realizar a análise da cinemática do trauma, é necessário desenvolver uma construção mental sobre como ocorreu o acidente, quais forças foram envolvidas e como elas foram aplicadas sobre a vítima. Ao examinar o paciente, é importante buscar evidências de lesões de dentro para fora do corpo, levando em consideração a energia envolvida. É necessário suspeitar de lesões internas, mesmo que a vítima não apresente, naquele momento, qualquer sinal ou sintoma. A capacidade de avaliação do socorrista nesse momento o manterá preparado para o tratamento de lesões não aparentes na cinemática inicial. (ZAVAGLIA, 2019). Depois de compreender os princípios básicos da biomecânica do trauma, para que seja possível replicá-los, algumas perguntas mentais devem ser desenvolvidas no sinistro: 8 • O que aconteceu? • Que tipo de energia foi aplicada? • Qual parte do corpo afetada e em que direção esta força atuou? • Quando de força foi envolvida no trauma (velocidade, massa, peso)? 1.2 Princípios básicos e sua aplicação As lesões causadas pelo movimento são responsáveis por grande parte das mortes ocasionadas por trauma no país. É importante descrever os possíveis mecanismos encontrados, principalmente se a vítima está com os sinais vitais normais e não apresenta lesões anatômicas percebidas na primeira avaliação realizada. Os três mecanismos básicos de lesões causadas por movimento são: 1. Desaceleração horizontal repentina; 2. Desaceleração vertical repentina; 3. Penetração de projétil. O fator mais importante para determinar a seriedade das lesões é a velocidade. A rápida desaceleração de uma colisão frontal ocasionará a projeção do tronco e da cabeça contra o painel do veículo, ou contra o joelho da vítima. As lesões mais comuns podem ser traumas faciais, traumatismos cranioencefálicos e cervicais e lesões internas de abdome e coluna lombar devido à excessiva compressão na cintura. A força e a velocidade podem ser estabelecidas por intermédio de um exame visual dos danos causados nos veículos. Quando um veículo colide com uma barreira fixa e ocorre uma parada abrupta, os ocupantes continuam em movimento até colidirem com alguma superfície interna do carro, podendo ser ejetados e colidirem com algum objeto exterior. As lesões dependerão do lugar ocupado pela vítima no interior do veículo e contra quais objetos eles se chocaram. (ZAVAGLIA, 2019). 1.3 A regra dos três Ss na avaliação do trauma: scene, security e situation Na fase da avaliação da cena do acidente (scene), o socorrista deve desenvolver um planejamento mental antes de chegar efetivamente à emergência. O 9 responsável pela realização do chamado deve repassar à equipe de socorristas o máximo de informações possível, as quais devem ser coletadas junto ao solicitante da ocorrência. No local, o socorrista deve realizar uma ampla avaliação do cenário a partir dos relatos das vítimas e testemunhas, bem como analisar tudo à sua volta, percebendo os potenciais riscos que o local oferece ao atendimento. Essa avaliação deve ser constantemente realizada, a fim de eliminar ameaças e riscos que o evento possa oferecer, favorecendo o atendimento qualificado às vítimas. A segunda fase é a de segurança (security), na qual o principal fator a ser observado no deslocamento até a ocorrência é a segurança da equipe que presta o atendimento. Tentativas de resgate só devem ser efetuadas quando todos integrantes da equipe estiverem fazendo uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) quea cinemática exige. Devem ser levados em consideração o trânsito local e a utilização de dispositivos de sinalização, bem como a manutenção segura do local do acidente. É a velocidade da via que estabelecerá a distância mais segura para realização do isolamento. A terceira fase é a da avaliação da situação (situation), na qual, após a análise de segurança e das vítimas no cenário, deve-se procurar descobrir o que ocorreu e os motivos do acidente e buscar informações sobre as vítimas, como o número de pessoas envolvidas, idade, sexo, etc., bem como se será necessário solicitar apoio de outras viaturas ou equipamentos diferenciados e para onde serão encaminhadas as vítimas. (ZAVAGLIA, 2019). 1.4 Eventos de colisão O processo de avaliação da cinemática do trauma é entendido como a avaliação da cena do acidente e irá determinar as forças que estiveram envolvidas e os possíveis movimentos durante a ocorrência do incidente para aferir as lesões associadas ao trauma. A divisão do evento traumático ocorre em três momentos: 1. Pré-colisão; 2. Colisão; 10 3. Pós-colisão. Os eventos que antecedem o acidente determinam a pré-colisão. Essa fase está relacionada à prevenção de acidentes e ao reconhecimento de medidas que podem minimizar ou evitar danos causados pelos acidentes. A fase de colisão é o momento do impacto de um objeto em movimento contra um segundo objeto. Essa fase pode ser subdividida em outras três fases: 1. Colisão entre objetos; 2. Colisão entre o objeto e o corpo; 3. Colisão entre os órgãos e o próprio corpo humano. As transferências de energia ocorrem no momento do impacto, ou seja, na fase de colisão, ocasionando os movimentos e os danos dos envolvidos no acidente. A fase de pós-colisão é caracterizada pelo momento do atendimento ao paciente, sendo todas as informações coletadas das fases de pré-colisão e colisão importantes. Essa avaliação permite ao socorrista maximizar o campo de visão e a suspeição de prováveis lesões à vítima, oportunizando o atendimento adequado e de qualidade. 1.5 Matriz de Haddon Matriz de Haddon foi desenvolvida por Willian Haddon, sendo esta uma matriz de identificação de fatores de risco pré-colisão, durante a colisão e pós--colisão, relacionando a vítima, o veículo e o ambiente. Essa matriz permite que cada fase da colisão seja analisada sistematicamente por meio dos fatores: homem, veículo, via e ambiente (Imagem a seguir) (HADDON JR, 1980). Trata-se de uma ferramenta de análise que contribui para a identificação de todos os fatores associados a uma colisão. Esses fatores são identificados e analisados para que possam ser tomadas as medidas adequadas a serem aplicadas em um curto período e em longo prazo. Na fase de pré-colisão, são tomadas todas as medidas cabíveis com a finalidade de prevenir a ocorrência do sinistro. Na colisão, o foco está na prevenção da ocorrência da lesão ou que ao menos seja possível minimizar a sua severidade. A 11 pós-colisão consiste em todas as atividades que possam reduzir os resultados adversos ao evento após sua ocorrência. (ZAVAGLIA, 2019). (ZAVAGLIA, 2019, p. 38). 1.6 A abordagem sistêmica da Matriz de Haddon A abordagem sistêmica, com base nas ideias de Haddon, busca identificar as principais fontes de erro que contribuem para os eventos e que resultam em lesões graves ou até mesmo em óbito. A ideia principal é considerar não somente os fatores subjacentes, mas o papel das diferentes instituições envolvidas em ações preventivas. 12 Por meio dessa abordagem, surgem oportunidades de ações preventivas e adoção de medidas apropriadas na prevenção de sinistros, porém, obter conhecimento sobre os fatores que geram riscos à vida requer a análise da cadeia de eventos que levam a essas lesões e uma abordagem multidisciplinar. É possível, portanto, elencar os principais fatores de risco de lesões causadas pelo trânsito. (ZAVAGLIA, 2019). 1. Fatores que influenciam a pré-colisão: • Fatores econômicos, como a exclusão social; • Fatores demográficos, como sexo e idade; • Planejamento do uso das vias, como as distâncias percorridas pela população; • Combinação do tráfego em alta velocidade com usuários vulneráveis em vias; • Atenção escassa dos órgãos responsáveis sobre os limites de velocidade. 2. Fatores que influenciam a colisão: • Velocidade acima dos limites permitidos; • Utilização de álcool, drogas e medicamentos depressores; • Cansaço; • Ser jovem e do sexo masculino; • Usuários vulneráveis em vias urbanas e residenciais. 3. Fatores que influenciam a pós-colisão: • Intolerância humana; • Velocidade excessiva; • Não uso de dispositivos de segurança, como cinto, airbags e capacetes para motocicletas; • Objetos fixos à margem de rodovias; • Álcool, drogas e medicamentos depressores. PARA COMPLEMENTAR: A utilização desse tipo de abordagem visa a modificar um modelo simplificado de ações de segurança para uma abordagem sistêmica, o que requer grande esforço com a finalidade de adquirir conhecimento da natureza das colisões. 13 2 CLASSIFICAÇÃO DOS TRAUMAS As lesões traumáticas podem ser classificadas em traumas abertos ou penetrantes e traumas fechados ou contusos. 2.1 Trauma aberto (penetrante) No trauma aberto, são produzidas cavidades permanentes devido à passagem de um objeto pelo corpo. Essa cavitação é resultante da troca de energia entre o objeto penetrante e o movimento dos tecidos. A extensão da cavitação é proporcional à superfície da área do ponto do impacto, à densidade dos tecidos atingidos e à velocidade do objeto no momento do impacto. As principais causas de traumas abertos são as ocasionadas pelos projéteis em ferimentos por arma de fogo ou por armas brancas. Quando um objeto penetrante se depara com um obstáculo, há a troca de energia entre eles. Quando isso ocorre em uma área pequena, ela exerce uma tensão superficial e penetra o tecido. Essa troca de energia resulta na cavitação ou penetração. A extensão das lesões depende do objeto causador da cavitação e da área atingida, podendo ser classificada conforme os níveis de energia. Baixa energia: corresponde à utilização de armas brancas e objetos lançados manualmente. Normalmente, causa lesões cortantes superficiais, estando associada a poucas lesões secundárias. Se o trajeto dentro do corpo puder ser predeterminado, é possível supor a maioria das lesões. Alguns dados são essenciais para a determinação das lesões, como o sexo do agressor, por exemplo, haja vista que agressores masculinos produzem lesões acima da lesão de entrada, enquanto as femininas produzem lesões abaixo. Devem ser considerados também a posição da vítima e do agressor, o tipo de arma utilizada e a maneira de movimentação do objeto. Média energia: corresponde à utilização de revólveres e alguns tipos de rifle. Alta energia: lesões por rifles de caça e militares. A diferença entre os mecanismos de média e alta energia é o tamanho da cavitação produzida, que pode ser temporária ou permanente. Alguns tipos de armas porem causar, além de lesões no trajeto do projétil, lesões no entorno. A distância do 14 disparo é um fator importante, pois, quanto maior a distância, menor será a velocidade do projétil, o que diminui necessariamente as lesões. A determinação dos orifícios de entrada e saída de um ferimento de arma de fogo é extremamente importante para o socorrista, já que dois orifícios podem indicar dois ferimentos separados ou ferimentos de entrada e saída do mesmo projétil, modificando a abordagem de acordo com as possíveis estruturas anatômicas afetadas. Os orifícios de entrada normalmente têm formato oval e são circundados por uma área enegrecida devido à abrasão do tecido. A distância do disparo pode modificar esses aspectos, pois, se ocorrer muitopróximo ou em contato com a pele, gases são compelidos no tecido subcutâneo, causando visíveis queimaduras. Por outro lado, nas lesões causadas por uma maior distância, é possível observar pontilhamentos devido às partículas de pólvora. Os ferimentos de saída têm aspecto estrelado, sem as demais alterações mencionadas. As explosões são outro tipo de evento que pode ocasionar lesões penetrantes por terem a capacidade de causar tanto ferimentos contusos como penetrantes. As explosões podem causar três tipos de lesões: lesões primárias, secundárias e terciárias. 1. Lesões primárias: Resultantes de ondas de pressão, elas têm maior capacidade lesiva em órgãos que contêm gás. As lesões mais comuns são ruptura timpânica, contusões, edemas e pneumotórax. 2. Lesões secundárias: Resultantes de objetos arremessados a uma determinada distância, atingindo a população ao redor, como em uso de granadas. 3. Lesões terciárias: Decorre do lançamento do corpo da vítima contra um anteparo ou solo. Tobase (2017, p. 48) explica o trauma penetrante ou aberto: Facilmente identificável, evidenciado pela presença de lesão que, em geral, estabelece a comunicação entre os meios externo e interno, originando uma cavidade temporária ou permanente que afasta os tecidos da posição original. O risco de infecção é maior e, às vezes, exige antibioticoterapia e profilaxia com imunobiológicos. A comunicação entre órgãos e cavidades com o meio externo promove o desequilíbrio das pressões internas e intracavitárias, influencia no posicionamento e/ou funcionamento dos órgãos afetados e requer intervenções imediatas para a prevenção de alterações sistêmicas. 15 2.2 Trauma fechado (contuso) Traumas fechados são aqueles em que a força aplicada não ocasiona lesões penetrantes, uma vez que resulta em fraturas, lacerações e outros ferimentos externos, como cisalhamentos, pressões semelhantes a lesões causadas por explosões e lesões de golpe e contragolpe. Esse tipo de trauma é resultante do processo de desaceleração rápido e intenso ou do impacto do corpo contra uma determinada superfície. Na sua maioria, são ocasionados por acidentes automobilísticos, traumas esportivos, quedas e agressões. Os órgãos humanos têm estruturas de fixação próprias de acordo com a característica de cada um. As lesões por desaceleração ocorrem quando existe uma parada súbita do corpo, mas os órgãos continuam seu deslocamento, o que pode romper as estruturas de fixação ou os próprios órgãos. A seguir serão descritos os tipos de traumas contusos. A colisão frontal é uma colisão contra um objeto que se encontra à frente do veículo, reduzindo subitamente sua velocidade. Se o ocupante do veículo não estiver devidamente contido, ele continuará se movimentando para frente até que um objeto reduza sua velocidade ou cause sua ejeção do veículo. Pode ocorrer também a rotação anterior do tronco contra a coluna do volante ou o painel do carro, ocasionando lesões cranianas devido ao choque contra o para-brisas. Algumas lesões comuns na colisão frontal são: fratura/luxação de tornozelo, luxação de joelho, fratura de fêmur, luxação de acetábulo, trauma torácico e traumatismo cranioencefálico. Colisão lateral é o impacto lateral em um veículo, capaz de ocasionar, ao ocupante, uma aceleração que o afasta do ponto de impacto (aceleração oposta à desaceleração). Muitas lesões são semelhantes ao impacto frontal, mas concomitantes à compressão do tronco e da pelve. Nesse tipo de colisão, podem ocorrer lesões intra-hepáticas, fratura de coluna cervical, fraturas anatômicas no lado atingido e traumatismos cranioencefálicos. A colisão na traseira tem atividade biomecânica diferenciada, pois ocorre normalmente quando o veículo está parado. Os ocupantes são lançados para frente à medida que absorvem a energia direcionada. O tronco dos ocupantes pode sofrer 16 aceleração para frente, o que pode causar hiperextensão cervical e o mecanismo de chicote. No capotamento, durante a ocorrência do sinistro, o ocupante que não estiver contido pode se chocar contra qualquer parte do interior do veículo. As lesões devem ser supostas a partir dos pontos de impacto observados na pele. Esse tipo de colisão consiste em lesões mais graves devido aos violentos e múltiplos deslocamentos. A avaliação da vítima de ejeção deve se basear na possibilidade de lesões ocultas, pois a probabilidade de lesões graves aumenta exponencialmente após a ejeção e posterior ao impacto. As lesões por dispositivos de contenção tendem a ser significativamente reduzidas devido à utilização de dispositivos de segurança, como cintos de segurança e airbags. Estes, quando utilizados de forma incorreta, podem ser responsáveis por lesões de coluna lombar, intra-abdominais e torácicas, como pneumotórax hipertensivo ou simples, rotura do parênquima pulmonar e rompimento hepatoesplênico. No atropelamento, as lesões são resultantes das três fases de impacto. O primeiro ocorre pelo trauma contra o para-choque, geralmente atingindo membros inferiores, o segundo acontece no impacto contra o capô e o para-brisas, podendo atingir o crânio e o tórax, e o terceiro ocorre no impacto com o solo, geralmente afetando cabeça, membros superiores, coluna vertebral e vísceras. As lesões resultantes de colisão com motocicleta são semelhantes aos demais tipos de colisão, porém, o condutor não tem proteções adicionais com esse tipo de veículo, estando suscetível a fraturas de membros inferiores e traumatismos torácicos e cranioencefálicos. Deve ser considerada a maneira de ocorrência do impacto, seja frontal, lateral ou derrapagem, sendo que as lesões podem ocasionar desde simples ferimentos abrasivos até o óbito. Em quedas podem ocorrer múltiplos impactos e lesões, sendo assim, na análise do trauma, devem ser avaliadas a altura da queda (quanto maior a altura, maior a chance de lesão em função da velocidade que a vítima atinge o solo), a compressibilidade da superfície de queda (quanto maior a compressibilidade, maior a capacidade de deformação) e a parte do corpo que sofreu o primeiro impacto, pois isto permite a determinação de algumas lesões, como impacto de membros inferiores ou superiores e lesões cranianas e cervicais. (ZAVAGLIA, 2019). 17 Tobase (2017, p. 48) explica o trauma fechado: Originado por impacto direto em determinada região. A energia é propagada no interior do corpo humano, provocando danos internos nem sempre evidentes, como compressão, cisalhamento, rompimento de órgãos e vísceras. Esse tipo de trauma requer muita atenção e avaliação criteriosa, pois a ausência de lesões externas dificulta a identificação rápida e imediata. Por isso, não dispensa a suspeição de lesões e hemorragias internas. 3 ATENDIMENTO NO TRAUMA Trauma é definido pela National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT) como “um evento nocivo que advém da liberação de formas específicas de energia ou de barreiras físicas ao fluxo normal de energia”. Insta salientar que a exposição aos diferentes tipos de energia – mecânica, química, térmica, elétrica ou por irradiação – é decorrente de ação intencional ou não intencional. No meio internacional e nacional, o trauma corresponde à terceira causa de morte, superado pelas doenças cardiovasculares e neoplasias. Devido a esse contexto, o Ministério da Saúde organizou a Linha de Cuidado ao Trauma na Rede de Atenção às Urgências e Emergências no Sistema Único de Saúde com o objetivo de minimizar a morbimortalidade pelo trauma, através de ações de vigilância, prevenção e promoção da saúde, com acesso humanizado, hierarquizado, estruturado, referenciado e integral ao paciente, desde a ocorrência do evento até a fase de reabilitação. As mais elevadas taxas de morbimortalidade ocasionadas pelo trauma estão associadas ao perfil dos atingidos, em sua maioria do sexo masculino e defaixa etária condizente à fase economicamente produtiva da vida. Isso causa um elevado custo em assistência e reabilitação e gera sérios danos sociais, muitas vezes irreversíveis, com o relevante impacto na diminuição do número de anos de vida potencial perdida, ocasionando alto ônus global. A fragilidade das vítimas de trauma, principalmente em regiões mais industrializadas, está vinculada a padrões socioculturais e comportamentais que expõem essas pessoas a acidentes, agressões e eventos também associados ao abuso de substâncias como álcool e drogas. A mais frequente causa de morte e invalidez na infância é o trauma, superando até mesmo as principais doenças em crianças. 18 Nas crianças, geralmente as menores, a cabeça é relativamente maior em relação ao corpo o que acarreta em um maior risco de lesão craniana no caso de trauma, assim como a manifestação à perda volêmica pode ser tardia, não ocorrendo alterações imediatas dos sinais vitais. Portanto, o indicador da pressão arterial não é efetivo para avaliar a resposta cardiovascular, diferentemente da perfusão cutânea, na avaliação do tempo de enchimento capilar. O trauma se apresenta como a sétima maior causa de morte nos idosos, sendo antecedido por: • Doenças cardíacas; • Neoplasias; • Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); • Acidente vascular cerebral (AVC); • Diabetes; e • Pneumonia. Ainda que os idosos possuam uma chance menor de sofrerem um trauma, em comparação aos adultos jovens e crianças, o óbito em idosos possui elevados índices, geralmente, por causa da gravidade das lesões, características fisiológicas no envelhecimento, comorbidades, uso de muitos medicamentos para o tratamento de doenças crônicas e falta de compreensão quanto às necessidades e especificidades de grande parte dos profissionais que os atendem. De acordo com o Injury Severity Score (ISS) o risco de mortalidade é mais elevado para o homem idoso em relação à mulher idosa. O envelhecimento reduz a reserva fisiológica do idoso, influenciando na lentidão da progressão, da evolução e prognóstico do quadro. No atendimento a vítima do sexo feminino, é preciso que se considere uma provável gravidez. Deve-se então analisar aspectos próprios. (Exemplo: data da última menstruação e resultados de exames laboratoriais, que auxiliam na avaliação.) Nas gestantes, o trauma resulta na atenção às duas vidas, no binômio mãe- filho. Porém, existe a tendência de priorizar a condição materna, até mesmo para garantir a sobrevivência da criança, de acordo com a situação. A variação da posição do útero nas diferentes idades gestacionais ocasiona mudanças na compressão de órgãos. O aumento uterino gera morosidade no esvaziamento gástrico, risco de refluxo e broncoaspiração. A compressão do 19 diafragma complica o posicionamento corporal e causa hiperventilação. O aumento do volume circulante e a anemia fisiológica retardam as manifestações na hipovolemia. O trauma é considerado uma doença e apresenta distribuição específica, possuindo três picos distintos, em relação à mortalidade. Primeiro período As mortes imediatas se sucedem logo após o trauma, com reduzidas possibilidades de intervenção, por graves lesões cerebrais, medulares ou de grandes vasos. Segundo período As mortes, em minutos ou horas após o trauma, são frequentemente causadas por lesões e hematomas cranianos, rupturas de vísceras e hemorragia significativa. Nesse período, a atenção ao atendimento se traduz em importantes resultados na sobrevivência do indivíduo. Terceiro período As mortes tardias podem ocorrer após dias ou semanas, em consequência de infecções e falência de órgãos. Nessa distribuição, desde o início, a atenção qualificada influência nos bons resultados e maiores chances de sobrevivência, posteriormente. Nesse diapasão, o trauma como doença é suscetível de prevenção, evitando mortes principalmente no primeiro período, sendo alvo de atenção dos órgãos de Saúde Pública, em perspectiva educativa. De acordo com a Matriz de Haddon, muitos aspectos contribuem com o estudo do mecanismo de trauma para estabelecer medidas preventivas nas fases pré-evento, durante o evento e pós-evento. Estratégias ativas e passivas, relacionadas às ações educativas em saúde, adoção de dispositivos legais na área da segurança e medidas de engenharia – na concepção de produtos e atenção ao meio ambiente –, colaboram para a redução do trauma por acidentes de trânsito, consumo de álcool e drogas, violência interpessoal, entre outros. (TOBASE, 2017). 20 3.1 Sistematização no atendimento ao trauma Antes de se iniciar o atendimento, é indispensável a análise das condições da segurança no local, do profissional, do paciente e demais presentes. O respeito as normas de biossegurança, precauções-padrão e prevenção de riscos ocupacionais são medidas integrantes do rol de ações no ambiente de trabalho. No âmbito extra-hospitalar, os profissionais começam a assistência, de caráter temporário, na área do serviço de atendimento móvel. Empenham-se na redução da permanência na cena da ocorrência, porque os cuidados prestados no estabelecimento hospitalar possuem influência direta na elevação das chances e qualidade na sobrevida. No atendimento hospitalar, a organização antecipada da área de recepção desse paciente é indispensável, com equipe profissional, materiais e equipamentos prontamente disponíveis para o atendimento rápido e eficiente. Tanto para o atendimento pré-hospitalar quanto hospitalar, os protocolos norteadores das ações são fundamentais na padronização da assistência, das intervenções e do tratamento, implicando na redução do tempo, do custo e maior efetividade no cuidado. (TOBASE, 2017). Atenção: Nesses cenários, equipes treinadas e capacitadas são fundamentais. A integração dos profissionais de ambos os serviços (pré-hospitalar e hospitalar) deve servir ao benefício do paciente e à continuidade da assistência. 3.2 Avaliação primária no trauma As características do paciente são estabelecidas de acordo com a avaliação inicial e as prioridades, o mecanismo do trauma, as lesões apresentadas e a análise dos relatos e dos parâmetros vitais. A avaliação primária no trauma deve observar à sequência de ações para detectar os fatores de risco à vida, que, após avaliação da responsividade, é realizada na sequência A, B, C, D, E. Na avaliação primária, as lesões constatadas devem ser prontamente tratadas, com vistas a prevenir complicações e eludir a morte instantânea ou tardia. 21 Consequentemente, esse trabalho requer uma equipe mínima, com profissionais capacitados para assumir funções desde a liderança do atendimento até o manejo da via respiratória e desempenho de ações necessárias à assistência, de modo organizado e planejado, buscando os melhores resultados. Essa eficiência favorece a qualidade do atendimento e a redução de danos. (TOBASE, 2017). 3.3 Alteração no protocolo – Emprego do X (XABCDE do trauma) Em 2018 o protocolo passou por alteração, na 9ª edição do PHTLS, Pré- Hospital Trauma Life Support, sendo acrescentada a letra X ao mnemônico. Com a alteração, passou a ser chamado de XABCDE do trauma, dessa forma, o x representa hemorragia exsanguinante, ou seja, hemorragia externa grave, o Atendimento Pré- hospitalar passa então a ter como prioridade no protocolo, as grandes hemorragias externas, antes mesmo do controle cervical ou da abertura das vias aéreas (SIMÕES, 2012). O atendimento inicial prestado as vítimas de politraumas conforme referem o autor acima deve ser padronizado, portanto, para que sejam definidas prioridades na abordagem de traumas, faz-se necessário, seguir o protocolo XABCDE, que constitui uma forma rápida e fácil de memorizar todos os passos que devem ser seguidos com o paciente politraumatizado (RODRIGUES; SANTANA; GALVÃO, 2017). O principalobjetivo do protocolo é reduzir os índices de mortalidade e morbidade em vítimas de qualquer tipo de trauma, através da identificação de lesões, potencialmente fatais ao indivíduo, sendo aplicado a todas as vítimas em estado crítico, independentemente da idade (SANAR, 20020). Condutas de segurança na fase pré-hospitalar: Condutas de segurança devem ser adotadas antes de iniciar a abordagem às vítimas de traumas, a fim de salvaguardar a vida da equipe, um exemplo disso é a sinalização da cena em que irão atuar, avaliação da segurança dessa cena, uso de PI’s, entre outros. 3.4 Significado das Letras XABCDE (X) - Exsanguinação 22 De acordo com PHTLS, 2018 apud SANAR, 2020, a hemorragia externa grave deve ser contida mesmo antes do manejo das vias aéreas, pois, apesar de epidemiologicamente, a obstrução de vias aéreas ser responsável pelos óbitos em um curto período de tempo, são as hemorragias graves, as maiores causas de mortes, em casos de traumas. A (Airway) - Vias aéreas e proteção da coluna vertebral Na opinião de Rodrigues, Santana e Galvão (2017) a obstrução das vias aéreas, ocasionadas por traumas, são responsáveis por 66-85% das mortes evitáveis, no atendimento pré-hospitalar, na avaliação das vias aéreas, é fundamental a técnica correta, para sua manutenção. Utiliza-se assim das seguintes técnicas: “chin lift” (elevação do queixo), uso de aspirador de ponta rígida, “jaw thrust” (anteriorização da mandíbula), cânula orofaríngea (Guedel). A proteção da coluna cervical também é objetivo no A do referido protocolo, a equipe socorrista, diante de uma vítima em estado consciente, deve aproxima-se da mesma, sempre pele frente, evitando assim, que ela realize movimentos com a cabeça para os lados, durante a abordagem, evitando lesões medulares, toda a coluna deve ser imobilizada, utilizando uma prancha rígida, e em vítimas que apresentam traumatismos multisistêmicos, a equipe deve sempre considerar uma lesão da coluna cervical (GIANOTTO-OLIVEIRA, 2015). B (Breathing) - Boa Ventilação e Respiração A análise do padrão respiratório da vítima deve ser realizada de forma detalhada e, para que seja possível, é necessário expor o tórax do paciente para realizar a inspeção, palpação, ausculta e percussão, os parâmetros analisados nessa fase são: frequência respiratória, movimentos torácicos, presença de cianose, desvio de traqueia e observação da musculatura acessória (SANAR, 2020). C (Circulation) - Circulação com Controle de Hemorragias A circulação e a pesquisa por hemorragia são os principais parâmetros de análise nesta fase do protocolo e, como já mencionado, a hemorragia é a principal 23 causa de morte em casos de trauma. O procedimento de imediato a ser adotado é o estancamento da mesma, por meio de compressão direta no foco (SANAR, 2020). A diferença entre o “X” e o “C” é que o X faz referência a hemorragias externas, ou seja, grandes hemorragias. Já o “C” refere-se a hemorragias internas, sendo preciso e fundamental averiguar a perda de volume sanguíneo não visível, avaliando os principais pontos de hemorragia interna no trauma, sendo eles pelve, abdome e membros inferiores, e avaliar os sinais clínicos dessa hemorragia como, tempo de enchimento capilar lentificado, pele fria e pegajosa e nível e qualidade de consciência comprometidos (GIANOTTO-OLIVEIRA, 2015). A solução isotônica de escolha para reposição volêmica é o Soro Ringer com Lactato, entretanto, soluções cristaloides não repõem hemácias e deste modo, não recupera a capacidade de carrear O2 ou as plaquetas necessárias no processo de coagulação e controle de hemorragias (SANAR, 2020). D (Disability) - Disfunção Neurológica Nessa fase do protocolo, o profissional vai analisar o nível de consciência da vítima, bem como o tamanho e reatividade das pupilas, presença de hérnia cerebral, sinais de lateralização e o nível de lesão medular (RODRIGUES; SANTANA; GALVÃO, 2017, p. 1). 24 O principal objetivo é minimizar as chances de lesão secundária, pela manutenção da perfusão adequada do tecido cerebral, é fundamental aplicar a escala de goma de Glasgow atualizada (SANAR, 2020). Fonte: portalenf.com E (Exposure) - Exposição Total do Paciente Ao realizar a exposição do paciente, o profissional deve considerar o controle da hipotermia, na fase “” do protocolo, realiza-se a análise da extensão das lesões, com controle do ambiente, a fim de prevenir a hipotermia, devem ser analisados sinais de trauma, sangramento, manchas na pele, etc, o socorrista deve se atentar à parte do corpo que não está exposta, a qual pode esconder a lesão mais grave que acomete o paciente (SANAR, 2020). 25 3.5 Avaliação secundária no trauma A avaliação secundária deve ser feita após as medidas de controle e estabilização inicial, Tobase (2017) aduz que nessa avaliação se efetua: • Exame físico cefalopodal • Entrevista para coleta de informações específicas e dados sobre a sequência dos acontecimentos, obtidos rapidamente com a vítima, familiares e/ou testemunhas por meio do método mnemônico SAMPLA: ➢ S – sintomas: “O que está sentindo; tem dor, dificuldade para respirar, dormência?” ➢ A – alergias: “Tem alergia a algum medicamento ou substância?” ➢ M – medicamentos: “Faz uso de algum medicamento?” ➢ P – passado médico: “Tem alguma doença? Cirurgias pregressas? Gravidez?” ➢ L – líquidos e alimentos ingeridos: “m qual horário se alimentou pela última vez?” ➢ A – ambiente e acontecimentos do evento: “Lembra-se do que aconteceu?” • Exame neurológico e aplicação da escala de coma de Glasgow • Aferição dos sinais vitais e monitoramento • Avaliação da gravidade do trauma: existem diversos métodos de medida; no atendimento pré-hospitalar (APH), pode ser estimada com a escala revisada do trauma (revised trauma score, RTS), por ser rápida e de fácil aplicação. De acordo com a Tabela a seguir, a soma dos três parâmetros resulta no escore do RTS, cuja pontuação varia de 0 a 12. Funcionando da seguinte forma: • Quanto maior o valor, menor a gravidade; • Quanto menor, maior a gravidade do trauma. Porém, o autor ainda ressalta que essa avaliação pode ser prejudicada pela utilização de dispositivos de via respiratória, como intubação traqueal, ou se o paciente estiver sob ação de substâncias, como álcool, drogas ilícitas ou medicamentos. 26 Escala revisada do trauma (RTS). Parâmetros Variação dos valores Escore Frequência respiratória (rpm) > 29 4 10 a 29 3 6 a 9 2 1 a 5 1 0 0 Pressão arterial sistólica (mmHg) > 89 4 76 a 89 3 50 a 75 2 1 a 49 1 0 0 Escala de coma de Glasgow 13 a 15 4 9 a 12 3 6 a 8 2 4 a 5 1 < 4 0 (TOBASE, 2017, p. 50) Atenção: A avaliação contínua assegura a atenção permanente ao estado do paciente e suas possíveis alterações. O trabalho em grupo permite ações simultâneas, reduzindo o tempo das intervenções, para garantir uma assistência segura e de qualidade. 3.6 Abordagem geral para o atendimento do trauma 1. Iniciar a abordagem posicionando-se na frente da pessoa, quando possível. 2. Promover a estabilização manual da cabeça, mantida alinhada em posição neutra. 3. Realizar a avaliação primária na sequência X, A, B, C, D, E e avaliação secundária. 27 4. Selecionar e fixar o colar cervical adequado, mantendo a estabilização manual da cabeça. 5. Movimentar o indivíduo em bloco ou abordá-lo em pé e posicionar a prancha rígida. 6. Imobilizar a cabeça com protetores laterais, alinhada em posição neutra. 7. Fixar o tronco, braços e pernas na prancha rígida, imobilizando na altura do tórax, quadril e abaixo dos joelhos. 8. Transportar a prancha de maneira segura; em quatro pessoas, se possível. 9. Manter reavaliação contínua. Antes de fixar o colar cervical é necessária a avaliação da área do pescoço e da clavícula, porque ele seapoia sobre a região esternal, clavículas, trapézios e coluna torácica. Nesse ensejo, também é essencial a verificação da existência de lesões nessas áreas e retirar adornos, como correntes e brincos grandes. Na hipótese de fratura de clavícula ou inviabilidade de colocar o colar cervical, a estabilização da cabeça deve ser mantida de forma manual, sem o auxílio do dispositivo. A utilização do dispositivo adequado restringe os movimentos da cabeça e da coluna cervical, mas não a restringe totalmente. Portanto, deve haver uma estabilização lateral adicional, manual ou com imobilizador lateral de cabeça, também é essencial a observação contínua. Quando utilizado, deve-se evitar que o colar cervical fique apertado, pois há o risco de compressão das veias do pescoço e aumento da pressão intracraniana. O paciente pode necessitar de algumas adaptações de acordo com suas características ou variações anatômicas individuais, ao ser posicionado na prancha rígida, para uma efetiva mobilização segura. Em crianças, poderá ser utilizado um apoio tipo coxim, sob os ombros até a região do quadril, para diminuir a possibilidade de flexão do pescoço e da região cervical, devido ao tamanho e desproporção da cabeça em relação ao corpo. Em um adulto ou idoso com curvatura anormal da coluna (cifose) ou obesos, colocar o apoio sob a cabeça para manter posição neutra. A indicação para retirada do colar cervical e da prancha rígida depende da avaliação do paciente e dos resultados dos exames radiológicos. É necessário 28 ponderar a confiabilidade dos relatos e das queixas, principalmente se o indivíduo apresentar alteração do nível de consciência, do comportamento ou se estiver sob efeito de substâncias, como álcool e drogas. Segundo o PHTLS/2011, a rapidez na avaliação do paciente é essencial, uma vez que a prancha rígida deve ser retirada em, no máximo, 2 h, devido aos riscos de formação de lesão por pressão, dor e desconforto no posicionamento, com prejuízo na estabilização do quadro geral. Por isso, enfatiza-se que, em situações de transporte prolongado, a prancha deve ser adequadamente acolchoada para minimizar os danos e sofrimentos decorrentes da longa permanência no equipamento. Em contrapartida, também segundo o PHTLS/2011, após a realização de exame físico cuidadoso e detalhado e do raciocínio clínico baseado na análise da cinemática e biomecânica do trauma, conforme a situação, a imobilização da coluna nem sempre é necessária, mesmo no ambiente extra-hospitalar. Se for o caso, a prancha rígida pode ser utilizada apenas para facilitar o transporte do paciente, não especificamente para imobilizá-lo. A imobilização sem indicações de lesão também tem consequências, como aumento do esforço respiratório, isquemia cutânea e dor. (TOBASE, 2017). 4 PRIMEIROS SOCORROS São procedimentos de urgência, iniciais, prestados a vítimas que sofreram algum tipo de acidente. Esses procedimentos podem ser realizados por indivíduo apto para tal, desde que tenha noção de primeiros socorros, esteja seguro daquilo que está fazendo e, principalmente, sinta-se preparado para a tarefa. Veremos em detalhes alguns conceitos e manobras típicas de um socorrista, uma vez que o objetivo principal e primordial dos primeiros socorros é preservar a vida da vítima, mediante cuidados que preservem as lesões apresentadas. O socorrista precisa ter iniciativa, liderança, capacidade de pensar e agir rápido, destreza, habilidade de analisar e avaliar o que ocorreu com facilidade, priorizar os atendimentos às vítimas. (SANTOS, 2018). 29 4.1 Atendimento de enfermagem É a realização dos cuidados de enfermagem, e envolve a capacidade técnica que o profissional de enfermagem adquire durante sua formação, nos diferentes meios do ambiente hospitalar. O profissional de enfermagem que deseja atuar em áreas de emergência, resgate, pré-atendimento hospitalar, salas de emergência, pronto- socorro e, enfim, em todas as áreas desse tipo de atendimento, deve possuir controle emocional e habilidade para agir diante de situações desesperadoras, lançando mão de raciocínio lógico e rápido. (SANTOS, 2018). 4.2 Avaliação do estado geral da vítima – abordagens A avaliação do estado geral da vítima consiste em duas abordagens. A primeira é a abordagem primária, que está diretamente ligada à necessidade de manter as vias aéreas do paciente livres; a segunda é a abordagem secundária, que está diretamente ligada à necessidade de se manter a vítima estabelecida. (SANTOS, 2018). 4.2.1 Avaliação das vias aéreas superiores Verificar respiração: • Averiguar se a vítima está respirando. • Observar o tórax em movimento. • Procurar contar a respiração, valores entre 14 e 20 mrpm são considerados normais. • Se houver obstrução das vias aéreas, procure avaliar o que causou a obstrução. Passe o dedo por dentro da boca da vítima para desobstruir a passagem do ar; se o resultado for negativo, proceder a outras manobras, como: a. Manobra de Heimlich: também conhecida como “manobra do impacto abdominal”. 30 Colocar a vítima em pé, posicionada de costas à sua frente, e a apoie sobre o seu abdome. Fechar os dedos das mãos uns contra os outros sobre o abdome da vítima. Pressionar o abdome do paciente com as mãos, dando “golpes”, isto é, aplicando pressão contra o abdome, de baixo para cima. Fazer até dez “golpes” (veja a ilustração a seguir). Se o resultado ainda for negativo, prosseguir com outra manobra A manobra de Heimlich pode também ser feita com a vítima deitada, comprimindo- se o seu abdome para cima, (Enfermeiros são os profissionais responsáveis pelos primeiros atendimentos ao paciente). No caso de o paciente ser uma criança, posicione-a sobre os seus joelhos, com a cabeça fletida para baixo. Em seguida, com as mãos fechadas “em concha”, dê- lhe “palmadas”, de baixo para cima. Não aplique muita força no atendimento a crianças. (SANTOS, 2018) 31 (SANTOS, 2018, P. 228). b. Respiração artificial: Ser rápido, seguro e manter-se calmo. Retirar objetos que possam obstruir a passagem do ar. 32 Deitar a vítima e afrouxar suas roupas. Hiperestender o pescoço da vítima para cima e para trás, com uma das mãos apoiada na “testa” e a outra empurrando o “queixo” para cima. Utilizar dois dedos da mão que está na testa para fechar as narinas da vítima, evitando assim que o ar saia durante a realização da manobra; com a outra mão, mantenha o pescoço hiperestendido. Colocar sua boca de modo a cobrir a boca da vítima por completo, e assopre com força. Verificar se houve movimento do tórax; em caso negativo, repetir o procedimento. Afastar os dedos que comprimem a narina para que o ar saia. Repetir a manobra por até 15 vezes por minuto. Se o resultado não for satisfatório, observe as pupilas da vítima. Se o cérebro passar por um período de 3 a 6 minutos sem oxigênio pode haver morte cerebral, e as pupilas estarão dilatadas, já em estado midriático. Procurar socorro imediato, mesmo que a vítima tenha voltado a respirar já na primeira manobra realizada. É importante fazer alguns exames de avaliação médica, para saber se houve algum outro tipo de comprometimento. (SANTOS, 2018) 33 4.2.2 Avaliação do aparelho circulatório Verificar pulso: • Verificar o pulso na artéria radial ou na artéria carótida. (Verificação de pulso arterial radial. SANTOS, 2018, P. 229). . • Localizar a artéria radial na face interna do pulso da vítima; não se deve utilizar o polegar, pois você pode “confundir” o seu próprio pulso com o pulso da vítima. • Localizar a artéria radial na face interna do pulso da vítima; não se deve utilizar o polegar, pois você pode “confundir” o seu próprio pulso com o pulso da vítima. 34 (Verificação de pulso naartéria carótida. SANTOS, 2018, P. 230). • Localizar a artéria carótida na região do pescoço, logo abaixo do queixo, onde fica o “pomo de Adão”, e deslizar o dedo para uma das laterais; a carótida está localizada nessa região. • Não havendo localização do pulso, verificar rapidamente se há batimentos cardíacos; se ocorrer cianose de lábios e extremidades, proceda então à manobra de ressuscitação cardíaca, obedecendo os passos da tabela a seguir: b. Manter a vítima deitada em local duro e reto. c. Entrelaçar suas mãos uma sobre a outra, com os dedos retos. 35 d. Localizar logo abaixo dos mamilos do paciente, na região central do tórax, o “esterno”; é nesse local que a massagem deverá ser feita. e. Dobrar os dedos da mão que está em cima contra os dedos da mão de baixo, e com a parte inicial da palma da mão comprimir a região do esterno contra o tórax. Fazer até 30 compressões para duas ventilações (30:2) no adulto e 15 compressões para duas ventilações na criança (15:2), em um média de oito a dez por minuto. O número de compressões pode variar de acordo com os protocolos existentes. Há protocolos que falam em 30, 60, 85 ou 100, variando entre oito e 15 por minuto, sempre se alternando com duas ou três respirações artificiais, conforme a American Heart Association (AHA). f. Durante a manobra, permaneça ajoelhado na lateral da vítima com os braços estendidos, do contrário o procedimento não surtirá o efeito desejado. • A massagem cardíaca e a respiratória podem ser feitas juntamente se houver parada cardiorrespiratória. A sequência é a mesma, mas se você estiver sozinho pode fazer 15 massagens cardíacas e duas respirações boca a boca, ou optar por fazer cinco ciclos de 30 compressões e cinco respirações, verificando o pulso a cada ciclo; se estiver com outra pessoa, o ideal são cinco massagens cardíacas para uma respiração boca a boca. 36 (Ressuscitação cardiopulmonar. SANTOS, 2018, P. 231). 4.2.3 Avaliação do nível de consciência Se a vítima não sofreu nenhuma parada respiratória ou cardíaca, basta conversar com ela e fazer perguntas que a localizem no tempo e espaço para determinar seu nível de consciência. Também é interessante procurar saber o que aconteceu e observar sinais de desconforto, ansiedade, agitação, tipo de respiração e queixas de dor na região cranioencefálica e coluna cervical. (SANTOS, 2018) 4.2.4 Avaliação de hemorragias Avalie sinais de hemorragia • Verificar se a vítima possui sangramento, qual o tipo de sangramento e o tipo de ferimento. • Procurar acalmar o paciente, pois sangramentos são impressionantes, mas às vezes não se traduzem grandes ferimentos. 37 • Pressionar o local com um pano e mantê-lo coberto. • As orientações dadas anteriormente sobre cuidados com sangramentos e hemorragias encaixam-se também aqui. Algumas recomendações sobre torniquetes • Devem ser usados somente em sangramentos muito intensos, quando há amputação de membro e/ou esmagamento. • Utilizar tiras largas de tecido. • Fazer uma volta completa com o pano acima do local com sangramento e comprimir o local por até 10 minutos; em seguida, retirar o torniquete, aguardar restauração da circulação e repetir até que o sangramento cesse. • Verificar se não ocorre cianose de extremidades; caso ocorra, deve-se retirar o torniquete imediatamente. • Anotar em algum local o horário de aplicação do torniquete. 5 TRAUMA CRANIOCEFÁLICO O trauma cranioencefálico (TCE) é uma agressão que ocorre em curto espaço de tempo, às vezes segundos, mas que provoca consequências que podem estender- se por longos períodos ou mesmo por toda a vida, na pessoa acometida, em função do déficit – transitório ou permanente – das atividades físicas, cognitivas, emocionais, sociais ou profissionais e cujos efeitos reverberam também nos familiares e na sociedade. É altamente prevalente em homens jovens, com significativa morbimortalidade, o que justifica as ações preventivas desse agravo. Considerando que as políticas públicas e as medidas de prevenção são estabelecidas a partir das causas identificadas, exige-se a descrição correta da etiologia do TCE, por vezes prejudicada pela subnotificação, em geral por informação errônea. Tomemos como exemplo as quedas, frequentemente mencionadas como causa do trauma, mas que, em vários casos, são quedas de motocicletas, o que configura acidente de trânsito. Assim, a participação do profissional de saúde também é fundamental no delineamento do perfil epidemiológico real desse trauma. (TOBASE, 2017). 38 Entre as regiões topográficas do corpo humano, o segmento cefálico é a terceira região anatômica mais acometida em situações de trauma, sofrendo lesões estruturais diversas: • Lesões extracranianas são associadas a ferimentos do couro cabeludo, como os do tipo cortocontuso lacerações e requerem cuidado no controle do sangramento externo, uma vez que se trata de uma região bastante vascularizada. Já a coleção serossanguinolenta, localizada sob a aponeurose galeal, origina o hematoma subgaleal • Lesões cranianas, como as fraturas de crânio, acometem a caixa craniana, podendo ser do tipo linear, cominutiva, com ou sem afundamento; predispondo as estruturas internas ao risco de comprometimento, principalmente em caso de trauma com afundamento, presença de fístulas liquóricas e risco para infecções • Lesões intracranianas ocorrem no interior da caixa craniana, atingindo meninges, vasos e encéfalo; podem ser do tipo focal, como hematoma extradural, subdural e intraparenquimatoso; ou do tipo difusa, como concussão, lesão axonal difusa, edema e ingurgitação cerebral. 5.1 Classificação do TCE As fases do TCE compreendem: a fase aguda, do momento do trauma até a 1a semana; a fase subaguda, que se estende da 2a a 3a semana; e a fase crônica, que diz respeito ao período subsequente à 3a semana. Com base na escala de coma de Glasgow e alterações apresentadas, o TCE pode ser classificado, segundo a gravidade, em diferentes níveis: • Mínima: escala de coma de Glasgow = 15, sem perda de consciência ou amnésia • Leve: escala de coma de Glasgow = 14 ou 15, com amnésia transitória ou breve perda de consciência • Moderada: escala de coma de Glasgow = 9 a 13, ou perda de consciência superior a 5 min / ou déficit neurológico focal • Grave: escala de coma de Glasgow = 5 a 8 • Crítico: escala de coma de Glasgow = 3 a 4 39 5.2 Características e cuidados do TCE por faixa etária Considerando que o cérebro está contido na caixa craniana, a capacidade de expansão é limitada diante do efeito de massa decorrente do edema, com maior risco de elevação da pressão intracraniana e herniação uncal transtentorial. Por isso, detalhes aparentemente simples, como observação das pupilas e presença de anisocoria, controle dos sinais vitais e alteração do padrão respiratório e frequência cardíaca podem indicar anormalidade silenciosa, na tentativa de o cérebro buscar espaço para acomodação. A fase inicial do efeito de massa, seja por edema ou hemorragia, é assintomática, pois, com o aumento da pressão intracraniana, ocorre redução do volume de liquor e da circulação sanguínea no cérebro. Embora o prognóstico seja pior em adultos do que em crianças menores, quando estas – quanto mais tenra a idade – possuem fontanelas abertas, tendem a apresentar sequelas mais graves e permanentes, com acometimento da mobilidade, da fala e da capacidade de comunicação, riscos de infecção e manutenção da integridade da pele, pela propensão na formação de lesões por pressão. Ainda em relação ao trauma em crianças, a cabeça e pescoço são as áreas mais atingidas. Nos primeiros anos de vida, as quedas são frequentes e o TCE sobrevém pela desproporção da cabeça, maior em relação ao corpo e por menor habilidade motora, ainda imatura nessa fase, inclusive para perceber os riscos de exposição ao perigo.As lesões difusas são comuns pela desproporção entre a cabeça e o tronco, favorecendo o movimento pendular, além da imaturidade encefálica. Em menores de 3 anos, o TCE também pode indicar maus tratos, em caso de lesões por impacto ou decorrente de movimentos repetidos, ao sacudir a criança – caracterizando a síndrome do “bebê sacudido ou chacoalhado” (do inglês, shaken baby syndrome). Os movimentos violentos provocam rompimento das veias-pontes e hematoma no espaço subdural, hemorragia na retina e edema cerebral. Em geral, os meninos são os mais acometidos, por apresentarem mais cólicas e chorarem mais. Pais ou responsáveis são frequentemente apontados como agressores, indicando situações de desestruturação familiar associadas ao uso abusivo de substâncias ou álcool. A criança pode apresentar desde mudança no comportamento, no padrão alimentar e do sono, convulsão e paralisia, até alteração visual e cegueira, além de lesões no ombro, tórax e nas extremidades. 40 Em crianças maiores existe a necessidade de orientação para o uso de equipamentos e dispositivos de segurança na prática esportiva em atividades de lazer com bicicleta e patins, bem como o uso de cinto de segurança enquanto passageiro de veículo. Já no que se refere a idosos, com o avançar da idade verifica-se a diminuição da massa encefálica, o que favorece maior impacto do órgão contra a caixa craniana, agravando o quadro, mesmo quando, aparentemente, não sugestivo de grande impacto ou velocidade. Em função da ausência de manifestações clínicas correlatas, a formação de edema, o sangramento e o aumento da pressão intracraniana podem não ser identificados de imediato. O uso diário de medicamento anticoagulante ou antiagregante plaquetário pode agravar a hemorragia e é possível que a hipovolemia ocasione hipotensão e isquemia cerebral. (TOBASE, 2017). 6 TRAUMA DE TÓRAX O trauma torácico é considerado grave, pois essa região abriga os órgãos vitais, responsáveis pela manutenção da ventilação e circulação sanguínea. Por isso, o atendimento precoce é fator primordial na tentativa de evitar mortes prematuras. Em geral, as lesões que comprometem esses órgãos podem desencadear alterações da ventilação por diminuição do oxigênio tissular e aumento do gás carbônico, além de acarretar quadros mais graves com acidose e choque decorrente da hipoperfusão tecidual, caso as lesões não sejam reconhecidas e tratadas com eficácia. Consequentemente, o paciente pode necessitar de intervenções como intubação traqueal, punção e drenagem pleural, além de ventilação mecânica prolongada, que podem acarretar infecções respiratórias e complicações, responsáveis pelo alto índice de mortalidade. Assim, o principal objetivo no atendimento em trauma torácico é preservar a capacidade ventilatória dos pulmões, a função circulatória e prevenir a hipoxia. Na criança, o trauma torácico pode passar despercebido, pois o gradeado costal é bastante flexível, ocasionando menor lesão óssea e maior risco de lesão parenquimatosa, como contusão pulmonar, pneumotórax e hemotórax. Daí a importância da observação do padrão respiratório, bem como a valorização de sinais externos sugestivos de contusão torácica ou abrasão no tronco, pois, ainda que 41 aparentemente simples e discretos, são indícios importantes como fator de suspeição de trauma fechado. Por sua vez, o idoso apresenta enrijecimento do tórax, redução da força da musculatura torácica e consequente redução do volume pulmonar, necessitando de suporte ventilatório mais precocemente em relação aos mais jovens. Geralmente, diferentes comorbidades podem estar associadas e, além do trauma, apresentam, por exemplo, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Nessa condição, administrar baixo fluxo de O2, embora, nas situações de trauma, o fluxo recomendado seja mais elevado, entre 10 e 15ℓ/min. 6.1 Classificação e exame físico De acordo com TOBASE (2017) o trauma torácico pode ser classificado em duas categorias: • Aberto: pode ser causado por um objeto penetrante, sendo frequente em ferimento por projétil de arma de fogo ou arma branca, o que provoca a comunicação entre a cavidade torácica e o meio externo, permitindo a entrada e saída do ar e ocasionando pneumotórax, hemotórax, colabamento pulmonar e redução da capacidade ventilatória, além do risco de infecção. Como mecanismo de compensação, ocorre a taquipneia, que acarreta aumento do esforço respiratório, fadiga e insuficiência respiratória • Fechado: decorrente da aplicação de força externa por contusão, compromete os órgãos internos, não havendo ruptura da parede torácica. Dessa maneira, não ocorre a comunicação com o meio externo. 7 AFOGAMENTO Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, anualmente, cerca de 450.000 pessoas morrem por afogamento. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, esse número esteve em torno de 5,3 mil em 2014, correspondendo, inclusive, à segunda causa de morte na faixa etária entre 0 e 14 anos. Entretanto, o número real de afogamentos é extremamente maior, uma vez que 42 casos de desaparecimento não são registrados como óbito e, portanto, não fazem parte dessa estatística. É prevalente entre os homens, aumenta no verão e durante o período de férias, especialmente em atividades de recreação em balneários e praias. Contudo, observa-se também um número alto de ocorrências no ambiente familiar. Por ocorrer inesperadamente e muitas vezes ser presenciado pelos próprios familiares e pessoas nas proximidades, medidas simples de prevenção podem evitar o afogamento, por meio da educação da população, promovendo ambientes e atitudes seguras, conforme mostra o Quadro constante no item 7.1. Conforme a American Association (AHA, 2010), o afogamento é definido como um processo decorrente da aspiração de líquido, em situação de imersão ou submersão, e que resulta em insuficiência respiratória primária. Considerando que, na imersão, pelo menos a face e as vias respiratórias estão cobertas por água ou outro líquido e que, na submersão, todo o corpo está sob a água ou outro líquido, a vítima pode apresentar dificuldades ou impedimento na respiração, podendo evoluir para parada cardiorrespiratória (PCR) ou óbito. Os acidentes, por imersão ou submersão, podem ocorrer por: • Hidrocussão: quando a temperatura da água é superior ou inferior a 5°C em relação à temperatura corporal, pode causar alterações cardíacas, bradi ou taquiarritmia, síncope e PCR. Por isso, recomenda-se molhar os braços, a face e o pescoço antes de entrar na água • Água fria: a temperatura da água abaixo de 35°C causa hipotermia, PCR e até a morte • Afogamento: antes de submergir, a vítima apresenta sinal de pânico, fazendo movimentos com os braços para se manter na superfície e chamar a atenção. Quando submerge, provoca apneia voluntária, para não deglutir e aspirar. Com a deglutição e a aspiração de pequena quantidade de líquido, ocorre laringospasmo e fechamento da glote. O impedimento da passagem de ar causa hipoxia e perda da consciência, resultando na entrada de mais líquido no pulmão e PCR. As causas mais frequentes estão relacionadas a condições socioeconômicas e educativas, incapacidade de julgamento, despreparo, confiança indevida e irresponsabilidade dos pais perante as crianças e, principalmente, os adolescentes. O afogamento é considerado de causa primária quando o mecanismo é desencadeado 43 por imprudência, ou seja, pela não avaliação adequada do local antes de entrar na água, como ocorre com criança por descuido do responsável ou em tentativas de prestar socorro. Na causa secundária, o afogamento é decorrente de outro trauma, problema clínico – como desmaio –, síncope, problema cardíaco, respiratório, neurológico, uso de substâncias, entre outros. (TOBASE, 2017). 7.1 Classificação O afogamento é classificado por grau dedificuldade, de acordo com as alterações respiratórias, de acordo com a tabela a seguir. Conforme essa tabela, se a vítima resgatada não apresentar alterações respiratórias, investigar a causa do afogamento. Na ausência de antecedentes patológicos e de alterações clínicas, poderá ser liberada no local. Nos demais graus, todos deverão ser atendidos e encaminhados para hospitais de referência. Classificação e tratamento do afogamento por grau de dificuldade. Grau Sinais e sintomas Tratamento pré-hospitalar e hospitalar Resgate Sem sinais de dificuldade respiratória ou tosse Causa primária: avaliação e liberação no local da ocorrência; Causa secundária: avaliação médica; 1 Tosse, ausculta pulmonar normal Promover aquecimento, avaliação e liberação, conforme conduta do Suporte Avançado de Vida (SAV) 2 Tosse, ausculta pulmonar com estertores pulmonares Administrar 5 ℓ/O2/min, promover aquecimento Repouso de 6 a 24 h na unidade de emergência Exames: gasometria e radiografia 3 Edema agudo de pulmão sem hipotensão Administrar 15 ℓ/O2/min, intubação traqueal e ventilação mecânica, se necessário. Manter decúbito lateral direito elevado, acesso venoso/intraósseo, infusão de solução cristaloide aquecida (39°C) 44 4 Edema agudo de pulmão com hipotensão Administrar 15 ℓ/O2/min, providenciar intubação traqueal e ventilação mecânica (FiO2 100%, PEEP 5 a 10 cm) para promover shunt pulmonar; após redução do quadro de hipotensão, acesso venoso/intraósseo e infusão de solução cristaloide aquecida (39°C) 5 Parada respiratória (PR) Criança: 1 ventilação a cada 3 a 4 s Adulto: 1 ventilação a cada 5 a 6 s Puncionar acesso venoso ou intraósseo Após reversão da PR, proceder aos cuidados, conforme grau 4 6 Parada cardiorrespiratória (PCR) Manobras de reanimação cardiopulmonar até a chegada ao hospital, punção venosa e seguir algoritmo de PCR. Após reversão da PCR, proceder aos cuidados, conforme grau 4 45 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Santos, Nívea Cristina Moreira Urgência e emergência para enfermagem: do atendimento pré-hospitalar (APH) à sala de emergência / Nívea Cristina Moreira Santos. –-7. ed. --São Paulo : Érica, 2018. Moraes, Márcia Vilma Gonçalves de. Atendimento pré-hospitalar: treinamento da brigada de emergência do suporte básico ao avançado / Márcia Vilma Gonçalves de Moraes –1. ed. – São Paulo: Iátria, 2010. Santos, Nívea Cristina Moreira Enfermagem de pronto atendimento: urgência e emergência / Nívea Cristina Moreira Santos. -- 1. ed. -- São Paulo : Erica, 2014. Cuidado de enfermagem em emergência e traumas [recurso eletrônico] / Gabriela Oliveira Zavaglia... [et al.] ; [revisão técnica: Maria Augusta Moraes Soares]. – Porto Alegre: SAGAH, 2019. Tobase, Lucia Urgências e emergências em enfermagem / Lucia Tobase, Edenir Aparecida Sartorelli Tomazini. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2017. Aehlert B. Suporte Avançado de Vida em Pediatria – PALS. Emergências pediátricas: guia de estudo. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2014. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolos de Suporte Avançado de Vida, 2014 Brasil. Ministério da Saúde. Protocolos de Suporte Básico de Vida, 2014. Brasil. Portaria n. 1.365, de 8 de julho de 2013. Ministério da Saúde. Linha de Cuidado ao Trauma na Rede de Atenção às Urgências e Emergências. Colégio Americano dos Cirurgiões. Advanced Trauma Life Support (ATLS). Comitê de Trauma: suporte avançado de vida no trauma. Manual do curso de alunos. 9. ed. Chicago: Elsevier; 2012. Evans DC, Gerlach AT, Christy JM, Jarvis AM, Lindsey DE, Whitmill ML, et al. Pre- injury polypharmacy as predictor of outcomes in trauma patients. Int J Crit Illn Inj Sci. 2011;1(2):104-9. 46 National Association of Emergency Medical Technicians. American College of Surgeons. Committee on Trauma. Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado, PHTLS/NAEMT. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011. Society of Trauma Nurses. Advanced trauma care for nurses (ATCN): manual do curso de alunos. Lexington: STN; 2013. State of Ohio State Board of Emergency Medical Services Trauma Committee. Geriatric Trauma Task Force. Report and Recommendations. 2007. Yelon JA, Luchette FA. Geriatric trauma and critical care. New York: Springer; 2014.
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