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Gabriella Comerlatto – T3 Conceito • A epilepsia engloba diferentes condições que cursam com crises convulsivas recorrentes Crise convulsiva: ocorrência transitória de sinais / sintomas devido a atividade neuronal anormal excessiva ou síncrona no cérebro • Pode estar relacionada a uma lesão cerebral ou de forma idiopática, em pessoas geneticamente predispostas • A epilepsia pode começar em qualquer idade. Geralmente começa na infância ou em pessoas com mais de 60 anos • 1:20 crianças terão crises convulsivas - 1:200 terão epilepsia 30-40% - refratários a medicação • A avaliação por imagem tem importância prognóstica - a identificação de alteração estrutural indica pior prognóstico • A cirurgia é mais efetiva quando há alteração estrutural identificada na imagem Tomografia • Papel principal em situação de emergência: pode detectar a maioria dos tumores, sangramento intracraniano, AVCI, malformações vasculares, hidrocefalia, que requeiram tratamento imediato • É sensível para detecção de lesões calcificadas e lesões ósseas • Tem baixa sensibilidade para detectar pequenas lesões corticais • A porcentagem geral de sucesso da TC na detecção de lesões em epilepsias focais é baixa, aproximadamente 30% • Embora a TC possa ser uma boa indicação para crises de início recente em uma emergência, ela não substitui a RM na investigação da epilepsia Ressonância Magnética • Modalidade de escolha para avaliação de lesão estrutural • Identifica e caracteriza lesões causadoras de epilepsia, bem como avalia sua progressão • Auxilia no prognóstico e planejamento cirúrgico • Algumas formas de epilepsia não apresentam alterações estruturais na RM • Os pacientes com epilepsia devem realizar RM do Encéfalo 1. Com diagnóstico recente ou aqueles ainda não investigado 2. Epilepsia Refratária - candidatos a cirurgia Indicações de investigação com RM do Encéfalo • Início das convulsões antes de 1 ano de idade ou depois dos 20 anos • Evidência de crises focais na história, exame ou eletroencefalograma (EEG) • Déficit focal neurológico • Falha no controle de convulsões com droga antiepiléptica de primeira linha • Perda do controle das convulsões • Mudança no padrão de convulsão • Estado de mal epiléptico sem causa clara como a omissão de medicamentos Epilepsia e o papel da imagem Epilepsia e exames de imagem Causas comuns de epilepsia Convulsões e epilepsia • Esclerose mesial temporal • Hiperintensidade hipocampal • Malformações do desenvolvimento cortical • Displasia Cortical Focal • Polimicrogiria • Heterotopia • Esquizencefalia • Hemimegalencefalia • Cicatrizes corticais e gliais • Ulegiria • Cavernoma • Tumores associados à epilepsia • Ganglioglioma • DNET • Xantoastrocitoma pleomórfico • Hamartoma hipotalâmico • Encefalite de Rasmussen • Esclerose Tuberosa • Síndrome de Sturge-Weber Epilepsia temporal • Esclerose hipocampal (60-80% dos casos) de epilepsia do lobo temporal • Outras causas são tumores de baixo grau, hamartomas, anomalias de migração neuronal, malformações vasculares Esclerose mesial temporal • Causa mais comum de epilepsia • Redução volumétrica do hipocampo (perda neuronal) na porção interna do lobo temporal (mesial) • Etiologia desconhecida (multifatorial?) • 15% associada a displasia cortical RM • Não visualiza alterações em 10-20% com epilepsia temporal • 20-40% com epilepsia extratemporal • Informação clínica • Seleção adequada do protocolo de RM Achados Clínicos • Hipersinal T2 (gliose) no hipocampo • Atrofia e perda da estrutura morfológica do hipocampo • Hipersinal T2 na substância branca e redução volumétrica do lobo temporal anterior • Dilatação do corno temporal do ventrículo lateral adjacente Hipocampo • Situado no lobo temporal • Desempenha um papel no processamento de informações, no ciclo reprodutivo e está envolvido na doença de Alzheimer Imagem abaixo • Coronal T2 e FLAIR são as sequências mais sensíveis para detecção de Esclerose Mesial Temporal • As imagens coronais T2W (esquerda) e FLAIR mostram esclerose mesial temporal do lado direito • Observe a perda de volume, que indica atrofia e causa aumento secundário do corno temporal do ventrículo lateral • O sinal alto no hipocampo reflete gliose Imagem abaixo • Paciente de 35 anos com epilepsia refratária do lobo temporal • A RM mostra hiperintensidade sutil do hipocampo esquerdo no FLAIR axial (seta azul) e atrofia do hipocampo esquerdo na imagem coronal T2 (seta amarela) O paciente foi tratado com sucesso com amígdalo-hipocampectomia à esquerda Malformações do desenvolvimento cortical • Alterações da organização neuronal tardia • Causas esporádicas, infecciosas ou familiares • A maioria manifesta-se com epilepsia Displasia Cortical Focal Fases do desenvolvimento cortical • Proliferação neuronal • Migração neuronal • Organização cortical e migração tardia • Desorganização da formação cortical cerebral com neurônios displásicos e falha da migração dos neurônios • 5-25% das epilepsias focais • Causa mais comum de epilepsia refratária extra-temporal • História de epilepsia de difícil controle nos primeiros anos de vida sugere o diagnóstico de lesões displásticas • São caracterizadas por áreas de espessamento cortical, perda da interface da substância branca e cinzenta, atrofia focal e hipersinal em T2/FLAIR • Local mais comum: nos giros pré e pós-central Achados Radiológicos • Hipersinal T2 cortical / subcortical • Indefinição da interface branca-cinzenta • Espessamento cortical focal • Sinal transmanto - displasia cortical transmantal Giro pré-central • Córtex Motor - movimentos e habilidades voluntárias Giro pós-central • Córtex sensorial - recebe informações somática de proprioceptores (posição do corpo, pressão, dor temperatura) • As imagens mostram displasia cortical focal típica • Há espessamento cortical e borramento da junção da substância cinzenta/branca em T1 (esquerda) • A imagem FLAIR à direita mostra a hiperintensidade subcortical • Outro caso de displasia cortical focal • Observe o lobo temporal esquerdo hipoplásico com espessamento cortical (seta) e atrofia da substância branca Imagens axiais T1WI, T2WI e FLAIR • Menino de 15 anos com epilepsia • Notar espessamento e hiperintensidade da cortical do giro frontal superior esquerdo • As imagens FLAIR também mostram alto sinal na substância branca subcortical • Esses achados são típicos de displasia cortical focal Sinal Transmanto • Lesão caracterizada por hiperintensidade T2 estendendo-se da área subcortical até a margem do ventrículo • Este achado representa a migração neuronal interrompida • RM Encéfalo - Homem de 27 anos com epilepsia refratária do lobo occipital • Coronal FLAIR e Axial T2 mostram espessamento cortical hiperintenso e alto sinal no córtex e região subcortical • Notar hiperintensidade subcortical estendendo-se até o ventrículo direito indicando sinal transmanto (seta azul) Esquizencefalia • Caracteriza-se por uma fenda que conecta o ventrículo lateral com o espaço subaracnoide • A parede da fenda é revestida por córtex polimicrogírico Lábio aberto: separação das fendas Lábio fechado: as paredes das fendas estão apostas uma com a outra • Normalmente associadas a outras malformações corticais Imagem acima • RM cerebral - T1 (axial) e coronal • Fenda de lábio aberto à direita e de lábio fechado à esquerda (seta vermelha) • Observe o rastro de massa cinzenta no hemisfério esquerdo na imagem axial (seta) RM Axial T1 - Esquizencefalia bilateral Lábio fechado à direita e aberto à esquerda (setas). Ausência do septo pelúcido • RM Axial T2 - Esquizencefalia do hemisfério cerebral esquerdo • Ausência do septo pelúcido Polimicrogiria • Caracteriza-se por múltiplos pequenos giros, com padrão de sulcação desorganizado e aberrante • O córtex tem função normal • As áreas epileptogênicas são periféricas • Tratamento é cirúrgico Achados típicos • Parênquima envolvido é atrófico • Predileção pela fissura silviana • Podem existir veias displásicas dilatadas Imagem baixo • As imagens T1W mostramuma comparação entre laminação normal (esquerda) e polimicrogiria à direita (seta) • RM axial T2 - redução volumétrica e pequenos giros na região frontoparietal direita (seta) Hemimegalencefalia • Doença congênita rara da formação cortical • Aumento volumétrico do hemisfério cerebral, com hipertrofia hamartomatosa • Considerada uma forma hemisférica ou gigante de displasia cortical • Pode ocorrer de forma isolada ou sindrômica • A maioria das crianças afetadas morrem nos primeiros anos de vida • Na hemimegalencefalia é importante excluir anormalidades contralaterais, pois estas constituem uma contraindicação à hemisferectomia Achados típicos • Espessamento difuso do córtex (lisencefalia, paquigiria ou polimicrogiria) • Aumento do ventrículo lateral • Sulcos rasos • Aumento da calvária • Calcificação da substância cinzenta Imagem acima • Menina de 9 anos com epilepsia noturna refratária • Supercrescimento do hemisfério cerebral esquerdo • T1 mostra substância cinzenta heterotópica que reveste o ventrículo lateral esquerdo (seta azul) • Hemisfério esquerdo assimétrico, significativamente maior que o direito • Além disso, há uma perda sutil de diferenciação branco-cinzenta no lado esquerdo • Não há hemi-hipertrofia visível da face ou calvário • Espessamento predominantemente cortical com giros largos, sulcos rasos e borramento da junção branco-cinzenta direita • RM - T2 – Encéfalo • Aumento acentuado do hemisfério cerebral direito • A substância cinzenta está desorganizada e espessada, consistente com a parada da migração • O ventrículo lateral direito tem morfologia anormal e está aumentado • Há hiperintensidade difusa em T2 em toda a substância branca do hemisfério direito • A calota craniana direita está expandida Heterotopia • Resultante da interrupção da migração neuronal das margens ventriculares para o córtex • Os pacientes mais comumente apresentam convulsões parciais na segunda década de vida • Além disso, e dependendo da extensão, as crianças podem apresentar atraso no desenvolvimento ou deficiência intelectual Achados típicos • Focos nodulares de tecido cinzento, sem realce • Pode ser subependimário ou subcortical • Extensas regiões periventriculares e em menor grau subcorticais de heterotopia de substância cinzenta (setas) Cavernoma • Malformação cavernomatosa ou angioma cavernoso • Lesão vascular benigna de baixo fluxo, com tendência a sangramentos • Nódulos de tamanhos variados com produtos hemáticos em diferentes estágios evolutivos produzindo uma característica em “pipoca” • 50% não são vistos à TC nódulos densos +/- calcificações Imagem abaixo • RM - Axial Cérebro Cavernoma no giro pós-central em T1, T2WI e SWI • Observe a aparência da pipoca e o artefato “blooming” • RM - Axial T2 e T2* gradiente eco (direita) mostram vários cavernomas • Observe a aparência de pipoca com borda periférica de hemossiderina no T2 • As lesões são quase completamente pretas no T2*GE devido a artefatos • Os cinco pontos pretos no hemisfério cerebral esquerdo em T2* também são cavernomas e não são visíveis em T2WI. • TC (esquerda) e RM - Axial T2* gradiente eco (direita) mostram lesão nodular com edema adjacente • Na tomografia é possível caracterizar apenas uma lesão com sangue (hematoma) e o edema (área hipodensa periférica) • Na RM notamos lesão heterogênea com focos de hipossinal T2*, representando hemossiderina. Tumores associados a epilepsia • Todos os tumores cerebrais podem se manifestar com crises epilépticas • Alguns são frequentemente associados a epilepsia • Ganglioglioma • DNET • Xantoastrocitoma pleomórfico • Hamartoma hipotalâmico • 10-30% dos casos de epilepsia refratária ao tratamento apresentam tumor primário do SNC Características em comum • Localização cortical • Frequentes no lobo temporal • Relacionados a malformações do desenvolvimento • Comportamento benigno, crescimento lento, limites definidos, normalmente sem edema e com sinais de cronicidade (remodelamento ósseo) Ganglioglioma • Tumor incomum, que ocorre em crianças e adultos jovens • Frequentemente localizado no lobo temporal, associado a epilepsia do lobo temporal Achado típico • Cisto com nódulo mural sólido e focos de calcificação (50%) • Tem bom prognóstico pós-cirúrgico • Cisto grande com realce de tecido sólido mural DNET (tumor neuroepitelial disembrioplásico) • Acomete crianças e jovens adultos • 65% no lobo temporal Achados típicos • Giro “inchado” • Aparência cística bolhosa • 20-30% com realce pós-contraste • Associado a displasia cortical • Normalmente não causa outros sintomas além da epilepsia • Bom prognóstico Xantoastrocitoma pleomórfico • Tumor raro de criança e adulto jovem Achados típicos • Frequentemente cortical e no lobo temporal • Lesão com componente cístico e realce intenso pelo contraste • Raramente tem calcificação • Pode ter degeneração maligna em 20% • RM do encéfalo - Sequências T2 (esquerda) e Pós-Contraste • Lesão nodular com componente cístico, realce intenso pelo contraste e edema Hamartoma hipotalâmico • Lesão não neoplásica benigna • Visto em crianças com convulsões e puberdade precoce • Heterotopia de substância cinzenta Achados típicos • Espessamento nodular do túber cinéreo • Sem realce pelo contraste • Causa epilepsia de difícil controle • Crise gelástica (risos incontroláveis) mais característica • Deterioração cognitiva RM do encéfalo - Sagital. Espessamento nodular do túber cinério (seta azul). • Hipotálamo - região que concentra núcleos responsáveis por funções fisiológicas, comportamento emocional, temperatura, secreções hormonais… Doenças associadas a epilepsia Esclerose Tuberosa Facomatose • Doença neurocutânea (autossômica dominante) • Caracterizada pelo desenvolvimento de múltiplos tumores benignos e malignos • Classicamente apresenta uma tríade de características clínicas: retardo mental, epilepsia e adenoma sebáceo • Metade dos pacientes tem inteligência normal e um quarto não tem epilepsia. • Uma variedade de manifestações intracranianas da ET são conhecida Quatro anormalidades comuns do SNC são • Tubérculos corticais • Nódulos subependimários • Astrocitomas subependimários de células gigantes (SGCAs) • Anormalidades da substância branca • Com exceção dos SGCAs, essas anormalidades podem ser observadas em quase todos os pacientes Tuber Cortical • Anormalidades do desenvolvimento cortical • Neurônios dismórficos Relacionados a epilepsia, déficit cognitivo e distúrbio comportamental • Tubérculos corticais em uma mulher de 40 anos • Imagem de RM ponderada em T2 axial mostra tubérculos corticais como lesões hiperintensas (setas) • Áreas de hiperintensidade subcortical em paciente com esclerose tuberosa, compatível com tubérculos subcorticais • A imagem de RM de inversão-recuperação com atenuação de fluido axial também demonstra tubérculos corticais como focos hiperintensos (setas). Nódulos subependimários Nódulos hamartomatosos na superfície ventricular • 2 a 10 mm • TC pode visualizar, principalmente calcificado • Tubérculos calcificados subependimários em menino de 9 meses • A TC sem contraste demonstra claramente múltiplos tubérculos subependimários com calcificação bilateral ao longo das paredes dos ventrículos laterais • RM Encéfalo - T2 Tubérculos corticais / subcorticais (hipersinal subcorticais - setas azuis) • Nódulos subcorticais com hipossinal T2 nas superfícies ventriculares (setas vermelhas). • Astrocitomas subependimários de células gigantes • Origem provável nos nódulos subependimários • Comportamento benigno Localização típica: forame de Monro - complica com hidrocefalia obstrutiva • RM Axial T2 e T1 pós-contraste mostram astrocitoma de células gigantes ao nível do forame de Monro esquerdo causando hidrocefalia obstrutiva • Observe também o tubérculo cortical à esquerda Anormalidades da substância branca • Relacionadas aos tubérculos corticais - bandas radiais • Distúrbios de migração neuronal • Cistos na substância branca Raros - degeneração da SB ou espaçoperivascular alargado • TC e RM em paciente com Esclerose Tuberosa • Existem múltiplos nódulos corticais e subependimários • A TC mostra que a maioria das lesões são calcificadas. 2023.01