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Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Doença do refluxo gastresofágico (DRGE) Cirurgia Anatomia esofágica Esôfago é um tubo muscular que funciona como um canal de passagem de alimentos e de líquidos advindos da orofaringe ao estômago Limites anatômicos o Inicia-se ao nível da 6ª vértebra cervical (posterior à cartilagem cricoide) o Esôfago passa por trás do arco aórtico e do brônquio principal esquerdo e penetra no abdome pelo hiato esofágico no diafragma o Termina na parte fúndica do estômago Junção esofagogástrica o Pessoas sem patologias: encontra-se em região intra-abdominal pela reflexão peritoneal no estômago e pelo ligamento frenoesofágico no esôfago Áreas de estreitamento esofágico o EES no nível da cartilagem cricoide (estreitamento farigoesofágico) o Terço médio do tórax – compressão pelo arco aórtico e pelo brônquio principal esquerdo o Hiato esofágico diafragmático – EEI ou estreitamento gastresofágico Irrigação arterial o Extremidade superior – artérias tireóideas inferiores (ramo do tronco tireocervical, advindo da artéria subclávia) o Porção torácica – artérias brônquicas (ramos da aorta e das artérias intercostais) e de ramos esofágicos diretos da aorta o Porções diafragmática e abdominal – artéria frênica inferior (primeira ramificação da aorta abdominal) e ramos esofágicos da artéria gástrica esquerda (ramo o tronco celíaco (alguns autores consideram este o primeiro ramo da aorta abdominal) Obs: ramos do tronco celíaco – artéria hepática comum, artérias gástricas E e D, artéria gastroduodenal e artéria esplênica Drenagem venosa o Complexa e variável o As veias mais importantes são as que drenam o esôfago inferior – ramos esofágicos da veia coronária, tributária da porta Fisiologia esofágica EES o Inervação motora diretamente do cérebro (núcleo ambíguo) o Mantém um estado continuo de contração, com uma pressão de repouso de 100mmHg (eixo AP) – impedindo a passagem de ar da faringe para o esôfago e o refluxo do conteúdo esofágico para a faringe o Na deglutição, o bolo alimentar é movido pela língua à faringe, que se contrai quando o EES – depois da passagem do bolo, o EES recupera seu tônus de repouso Corpo do esôfago Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB o Peristaltismo primário – onda iniciada pela deglutição e vai avançando distalmente em direção ao estômago o Peristaltismo secundário – estímulo local em qualquer ponto do corpo do esôfago que produz onda peristáltica – auxilia no esvaziamento esofágico quando a primeira onda não conseguiu esvaziar completamente o lúmen do órgão OU quando há refluxo gastresofágico EEI o Mede de 3 – 5cm o Pressão de repouso de 15 – 24mmHg o Durante a deglutição, ele relaxa (via VIP e NO) de 5 – 10s permitindo que o bolo alimentar penetre o estômago e, em seguida, recupera seu tônus de repouso o Relaxamento transitório do EEI Causa não conhecida Explica a pequena quantidade de refluxo gastresofágico fisiológico presente em qualquer idade Causa mais comum de DRGE (redução de comprimento e/ou da pressão do EEI) o Os pilares do hiato esofágico + ângulo de His também contribuem para a pressão de repouso do EEI Importante para proteção contra refluxo causado por aumentos repentinos da pressão intra-abdominal Tossir, flexão do corpo, gravidez, ascite, etc Essa ação é perdida quando há hérnia hiatal deslizante, uma vez que a JGE é deslocada acima do diafragma Doença do refluxo gastresofágico (DRGE) Introdução o Conceito Refluxo do conteúdo gástrico que causa sintomas e/ou complicações o Distúrbio gastrintestinal superior mais comum do mundo ocidental (75% das doenças esofágicas) Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB o Seus sintomas são mais comuns durante a gravidez, provavelmente devido a efeitos hormonais sobre o EEI e pelo aumento de pressão intra-abdominal o Obesidade x DRGE IMC apresenta um efeito direto sobre a gravidade do refluxo Fundamentos diagnósticos Pirose Regurgitação Hérnia de hiato na deglutição de Bário Esofagite na endoscopia Motilidade anormal do esôfago na manometria Exposição anormal esofágica no monitoramento do pH Patogênese o DRGE resulta de um fluxo retrógrado anormal do conteúdo gástrico para o esôfago, levando a sintomas e danos da mucosa Causas/ fatores facilitadores EEI defeituoso o Curto e/ou hipotenso Relaxamento transitório do EEI o Reflexo vasovagal anômalo Anormalidade de peristaltismo esofágico (40 – 60% dos pcts) Hérnia de hiato por deslizamento (fator facilitador para ocorrência do RGE) Bolsa ácida – sobrenadante na região cárdica Clínica o Sintomas Sintomas típicos Pirose e regurgitação Sintomas atípicos Tosse Sibilos Dor torácica Rouquidão (secundário à subida do ácido gástrico) Erosões dentárias (secundárias à subida do ácido gástrico) Sinais de alarme Caráter rapidamente progressivo da disfagia Perda ponderal SOF Anemia Obs: mecanismos para sintomas respiratórios no DRGE – (1) arco reflexo vagal, resultando em broncoconstrição e (2) microaspirações para o trato respiratório Diagnóstico o Clínico Pirose pelo menos 1x por semana por um período mínimo de 8 semanas A resposta à prova terapêutica (redução sintomática > 50% após uso de IBP por 1 – 2 semanas) é considerada o principal teste confirmatório o Deglutição de bário (Esofagograma – Seriografia esôfago-gastro-duodenal SEED) Fornece informações sobre Hérnia de hiato Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Estenose esofágica Não é usado para diagnóstico de DRGE o Endoscopia digestiva alta (EDA) 50% dos pacientes com refluxo anormal não apresentam esofagite à endoscopia Útil para o diagnóstico de complicações de DRGE Esofagite, esôfago de Barret (EB) ou estenose Indicações Presença de sinais de alarme Sintomas refratários ao tto História prolongada de pirose (> 5 – 10a) – maior risco de EB Idade > 45 – 55a Presença de náuseas e vômitos, história familiares de CA e sintomas intensos ou noturnos Classificação endoscópica para esofagite Grau 1 Hiperemia da mucosa sem ulceração Grau 2 Ulcerações lineares com tecido de granulação que sangra facilmente quando tocado Grau 3 Ulcerações coalescentes, deixando linhas de epitélio Grau 4 Estenose o Manometria esofáfgica Fornece informações sobre o EEI (pressão de repouso, comprimento e relaxamento) e qualidade do peristaltismo esofágico Essencial para colocação adequada do sensor de pH (5 cm acima da borda superior do EEI) o Monitoramento ambulatorial do pH (pHmetria) S e E de 92% Padrão-ouro para diagnóstico de DRGE ácido Como fazer? Suspender os medicamentos que afetam a produção de ácido pelas células parietais por 3 dias (bloqueadores H2 – cimetidina, ranitidina) e 14d (IBP – omeoprazol, pantoprazol, etc) antes do exame Colocar uma sonda de pH com dois sensores, localizados 5 e 20cm acima do EEI, permitindo a determinação da extensão do refluxo Os traçados são analisados em uma correlação temporal entre sintomas e episódios de refluxo Indicações Pacientes que não respondem ao tratamento clínico Pacientes que apresentam recidiva após interrupção do tratamento clínico Antes da cirurgia antirrefluxo Avaliação de sintomas clínicos atípicos Valores normais para monitoramento ambulatorial de 24h do pH (Índice DeMeester) Porcentagem do tempo total de pH < 4 4,5 Porcentagem do tempo em pé de pH < 4 8,4 Porcentagem de tempo deitado de pH < 4 3,5 Número de episódios de refluxo < 4 47 Número de episódios > 5 min 3,5 Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Episódio mais longo (minutos) 20 Pontuação composta 14,7 – diagnóstico estabelecido quando o valor está > 14,7 o Impedâncio-pHmetria Consegue avaliar outros tiposde refluxo não-ácidos Padrão-ouro para DRGE e para classificação de refratariedade Diagnóstico diferencial o Pirose pode ser o sintoma de apresentação de: SII, acalasia, colelitíase, DAC, transtornos psiquiátricos, gastroparesia, esofagite eosinofílica, esôfago hipersensível (a quantidade de ácido que reflui é capaz de causar sintomas, mas não preenche critérios para DRGE) Complicações Esofagite (+ comum) Estenose péptica (Rara) EB Displasia de alto grau (DAG) Adenocarcinoma (esofagite erosiva como fator de risco) Tosse crônica Asma PNM por aspiração Fibrose pulmonar Tratamento o MEV (mudanças no estilo de vida) – medidas antirrefluxo Elevação da cabeceira do leito (15 a 20cm) Reduzir ingestão de alimentos que relaxam o EEI ou que são diretamente irritantes para o esôfago – gorduras, cítricos, café, bebidas alcoólicas e gasosas, menta, hortelã, molho de tomate, chocolate, condimentos em excesso Evitar deitar após as refeições (esperar de 2 – 3h0 Evitar refeições copiosas Suspensão de fumo Evitar líquidos às refeições Evitar atitudes que aumentem a pressão intra-abdominal Redução de peso em obesos Evitar, se possível, drogas que relaxam o EEI – antagonistas de cálcio, nitratos, derivados de morfina, anticolinérgicos, progesterona, diazepam, barbitúricos e teofilina o Clínico Antiácidos (úteis para pcts com pirose leve e intermitente) Bloqueadores de H2 o Prescritos para pcts com sintomas leves ou com esofagite leve o Ranitidina 75 – 150mg 2x ao dia o Cimetidina 200 – 400mg 2x ao dia IBPs o Controle mais profundo da secreção ácida, com cicatrização da esofagite em 80 – 90% dos casos o Omeprazol ou pantoprazol ou esomeprazol 20- 40mg 1-2x ao dia (teste terapêutico por, no mínimo, 7 dias) o Efeitos adversos Interferência na absorção de cálcio Facilitação da infecção por C. difficile Retardo do esvaziamento gástrico Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Atividade cardíaca anormal por redução dos níveis de magnésio o Cirúrgico Qual o paciente ideal para essa cirurgia? RGE anormal no exame de monitoramento ambulatorial do pH + pirose controlada com IBPs Indicações Pacientes jovens que necessitem de tto crônico com IBPs Pacientes que persistem com regurgitação durante o tto Pacientes com sintomas respiratórios Pacientes com danos às pregas vocais Pacientes com EB Objetivo Restaurar a competência do EEI Qual o procedimento mais realizado? Fundoplicatura laparoscópica de Nissen (360°) o Aumenta a pressão de repouso e comprimento do EEI o Reduz o número de relaxamentos transitórios do EEI o Melhora a qualidade do peristaltismo esofágico