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quanto vale uma vida

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Por óbvio, é imensurável o valor do dano moral para o caso de perda de um ente querido. Todavia, por decorrência legal, ela deve ser precificada em demandas judiciais.
 
O que ocorre é que somente quem perdeu seu pai, sua mãe, seu filho(a) ou seu companheiro(a) sabe a dor que sente e, precificar esta dor, é uma tarefa árdua e difícil para o julgador.
 
Os valores arbitrados em referidas situações variam de acordo com a Justiça que os julga, bem como pelas circunstâncias do caso.
 
O Tribunal Superior do Trabalho, responsável pelo julgamento em última instância de recursos por morte oriundos de contratos de trabalho regidos pela CLT, chegou a arbitrar indenização no importe de R$ 1.000.000,00 em julgamento de um empregado que foi diagnosticado com câncer de pulmão e veio a óbito, em razão da contato prolongado com amianto (RR-92840-68.2007.5.02.0045).
 
Já o STJ, responsável por julgar em última instância recursos que versem sobre lei federal ou divergência jurisprudencial, no ano de 2.015, determinou que fossem pagos 150 salários mínimos a cada um dos pais que perdeu seu filho de 17 anos, atropelado por um ônibus, além de 50 salários mínimos a cada um dos 06 irmãos da vítima, alcançando uma indenização total de R$ 472.800,00 (REsp 1.354.384).
 
No julgamento do caso supra, o Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, assentou:
“A indenização por danos morais em casos de morte da vítima vem sendo arbitrada por esta corte entre 300 e 500 salários mínimos, com o que se deve reputar como ínfimo o montante global de R$ 55 mil, equivalente a 100 salários mínimos vigentes à época do fato”.
Certo é que os valores arbitrados variam de acordo com cada caso concreto e tudo vai depender das provas produzidas no processo, em especial, as demonstrações da culpa pelo ofensor e do dano experimentado.
 
Ainda, para a fixação do valor do dano, serão analisadas as circunstâncias do caso concreto, em especial a situação econômica do ofensor e do ofendido, bem como a extensão do dano (repercussão na vida da vítima).
 
Superadas estas considerações, chega-se à conclusão que não há no sistema jurídico atual um valor uniforme para o dano moral em caso de morte, devendo a vítima procurar seus direitos através de um advogado que esteja apto a lhe prestar um bom serviço, para que consiga êxito na demanda.
“A indenização por danos morais em casos de morte da vítima vem sendo arbitrada por esta corte entre 300 e 500 salários mínimos, com o que se deve reputar como ínfimo o montante global de R$ 55 mil, equivalente a 100 salários mínimos vigentes à época do fato”.
Pela nova lei, os juízes devem atribuir o valor da indenização de acordo com a gravidade da ofensa praticada (leve, média, grave ou gravíssima), estando vinculados aos limites mínimos e máximos definidos para cada caso, observado o teto de 50 vezes o salário base do ofendido para a ofensa gravíssima.
Dentre as inovações trazidas pela Reforma Trabalhista em 2017, uma das mais criticadas à época talvez tenha sido a do §1º do artigo 223-G da CLT, que estabeleceu valores limites para a fixação da indenização dos danos morais na Justiça do Trabalho, que até então se socorria dos critérios gerais definidos no Código Civil para os danos extrapatrimoniais. Pela nova lei, os juízes devem atribuir o valor da indenização de acordo com a gravidade da ofensa praticada (leve, média, grave ou gravíssima), estando vinculados aos limites mínimos e máximos definidos para cada caso, observado o teto de 50 vezes o salário base do ofendido para a ofensa gravíssima.
Não foram poucos os doutrinadores que se posicionaram contra o que chamaram de “tarifação” dos danos morais, afirmando que não se teria observado a noção constitucional de juízo de equidade, além da previsão ser incompatível com o princípio da proporcionalidade previsto no artigo 5.º, V e X da Constituição Federal. Adicionalmente, a vinculação à remuneração do ofendido atentaria contra o princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1.º, III da CF), promovendo injustificada discriminação dos trabalhadores com baixa remuneração. As críticas se estendiam a parte dos magistrados, que chegaram a aprovar o Enunciado 18 na II Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho promovida pela Anamatra, reconhecendo a inconstitucionalidade da nova lei.
A vida humana tem um valor relativo, e a sentença não tem nada a ver com alguma possível elucubração filosófica. É isso o que o advogado Kenneth Roy Feinberg comprova ao infundir em seus alunos, durante uma aula na faculdade de direito, uma dúvida envolta numa bruma de cinismo e indignação: quanto pagar por uma vida?
O personagem de Michael Keaton em “Quanto Vale?” (2021), um causídico famoso pelo rigor com que conduz os casos que defende, balança ao se deparar com o maior desafio da carreira: precisar o valor que cada família atingida pelos atentados terroristas às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, deve receber. Para tanto, chefia a comissão que desenvolve o Fundo de Compensação às Vítimas dos ataques, chancelado por uma lei do Congresso americano, a fim de dar algum alento aos parentes que perderam pessoas que amavam na ofensiva, o que também impediria a enxurrada de ações contra as duas companhias que tiveram aeronaves sequestradas pelos terroristas.
Por mais que Feinberg negue, a discussão filosófica pega na veia no filme da diretora Sara Colangelo. À luz do direito, a vida de uma faxineira e a de um CEO de multinacional não são a mesma coisa. Em caso de sinistros, que é como o ordenamento jurídico se refere a eventos inesperados, que não raro redundam em morte, há que se calcular as indenizações de acordo com algumas variáveis. A idade de cada vítima é uma; outra, se o morto sofria de alguma doença degenerativa ou terminal, o que, trocando em miúdos, significa que mais cedo ou mais tarde, a pessoa já iria morrer mesmo, o que joga o valor do ressarcimento ao rés do chão. Contudo, o fator que de fato interessa é o quão profícuo era o indivíduo, o quanto ganhava, o quanto ainda teria a receber se permanecesse no mesmo cargo pelo tempo equivalente ao intervalo até a aposentadoria. Na tentativa de reparar um mal, a lei às vezes se torna tão abjeta quanto ele.
Auxiliado por sua sócia, a advogada Camille Biros, de Amy Ryan, Feinberg administra a tempestade de conflitos entre os interesses das empresas aéreas, a letra fria dos preceitos legais e os familiares daqueles que tombaram nos atentados. A relação não é fácil, as reuniões são sempre tensas, e tudo tende a piorar com o envolvimento crescente de Charles Wolf, vivido por Stanley Tucci, empresário, músico e piloto nas horas vagas, cuja mulher, Katherine, fora incinerada pela onda de calor de mais de mil graus quando uma das torres é atingida. Visivelmente ultrajado pela proposta do grupo liderado pelo especialista em mediação de disputas, sentimento que faz questão que Feinberg conheça, Wolf cria o Fix the Fund, iniciativa que visa a sanar vícios processuais. A partir de então, “Quanto Vale?” se esmera em compreender as implicações práticas na vida de cada reclamante, todos com demandas tão íntimas quanto urgentes.
O filme adquire a natureza de documentário ao preterir o modelo de escolher um personagem que represente o mote central da história e dá voz a um elenco anônimo, que personifica casos reais envolvendo a relação dos autores das ações com a tragédia, esmiuçando o impacto da chegada da morte bárbara e sem prévio aviso para alguém tão próximo. O roteiro de Max Borenstein destaca as sequências em que pessoas comuns expõem seus dramas e suas inquietações, quase didaticamente. Como proceder quando os requerentes são imigrantes sem visto? O que fazer se quem precisa de compensação é o parceiro homoafetivo de outro homem, quando a união civil entre pessoas do mesmo sexo não era reconhecida pelo estado de origem de nenhum dos dois?
Descrevendo um cenário pouco promissor para a empreitada de Feinberg, que precisava registrar 80% dos quase seis mil
elegíveis a alguma indenização até 3 de dezembro de 2003, 26 meses depois dos atentados, a narrativa se vê tomada por uma reviravolta algo artificial, graças à adesão retardatária de Wolf, que teria passado a concordar com o fundo concebido nos moldes propostos pelo advogado porque os dois haviam tido, enfim, uma conversa definitiva e o empresário enxergara em Feinberg um homem bem-intencionado. A trama derrapa um pouco nesse particular, em especial da perspectiva fática, restando tudo nebuloso demais. Nunca se vai saber exatamente o que de tão importante Wolf e Feinberg conversaram — não pelo filme de Colangelo, pelo menos —, uma vez que a sequência no teatro, quando os personagens de Tucci e Keaton se encontram, não dá a entender que tenha se passado nada de mais naquela ocasião.
O trunfo maior de “Quanto Vale?” é conseguir partilhar o enredo por uma quantidade incomum de atores coadjuvantes, em que a ênfase em personagens que geralmente passariam batidos, como a mulher e o irmão de Nick, um agente do Corpo de Bombeiros de Nova York morto numa das operações de rescaldo, interpretados por Laura Benanti e Chris Tardio, chegam à hora exata e chacoalham um pouco mais as convicções do experimentado Feinberg.
Ao fim de quase duas horas, “Quanto Vale?” não consegue responder à pergunta que o próprio título do filme traz, mas nem precisa. Depois de certa idade, todos sabemos o que pensam juízes, congressistas, conhecemos o mundo. Não chegamos a conhecer a vida, mas percebemo-la o suficiente para saber que a lei iguala as pessoas, mas há aqueles que são mais iguais que os outros. O que nunca se deve fazer é se conformar, e nisso “Quanto Vale?” é determinante.
Ao longo dos últimos 20 anos, vimos uma infinidade de filmes sobre a tragédia do 11 de Setembro. São produções que abordaram o ataque terrorista ao World Trade Center, suas causas, o que aconteceu naquele dia, o momento da queda e até mesmo os impactos da sociedade americana a partir dali. Por ser um dos eventos mais marcantes do século, é natural que seja revisitado de diferentes formas. E, mesmo assim, Quanto Vale? encontra uma forma de contar essa história de uma forma um tanto quanto inesperada.
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O longa protagonizado por Michael Keaton retrata o impacto do atentado na vida das famílias das vítimas sob uma perspectiva mais econômica, usando como gancho a indenização que o governo dos EUA pagou como forma de compensar as perdas e ajudar quem ficou a recomeçar. Mas existe um valor que seja suficiente para pagar a ausência de alguém que se foi de forma tão traumática assim? Como precificar a vida humana?
Essa é a grande questão que o filme carrega já em seu título e que serve de justificativa para contar tanto as histórias de quem se foi naquela fatídica terça-feira quanto a situação de quem ficou. Para isso, a trama acompanha a saga de Ken Feinberg (Keaton), um advogado especializado em acordos indenizatórios que se voluntaria para comandar a equipe que vai definir o valor pago às famílias.
É aí que a pergunta passa a fazer sentido, já que logo de cara fica claro que as vidas perdidas têm valores diferentes. A vida de um executivo vale mais do que a de um zelador, sendo que ambos foram vítimas das mesmas circunstâncias? Como explicar isso para quem ficou e luta para recomeçar?
Para chegar a uma resposta, Ken e sua equipe montam uma fórmula matemática. E é aí que entra a figura de Charles Wolf (Stanley Tucci), um líder comunitário que inicia um movimento para questionar os critérios usados para a composição desse fundo e que se levanta, principalmente, para lembrar a todos que as pessoas não são números, mas indivíduos com rostos, nomes e histórias únicos que não cabem em uma equação.
O despertar da humanidade
Esse é o grande mérito de Quanto Vale?, que consegue partir de uma situação extremamente burocrática e criar uma história em torno capaz de destacar aquilo que há de mais impactante no pós-11 de Setembro: as feridas que ficaram abertas na sociedade americana. Não se trata apenas de contar a história das vítimas, mas de mostrar como as suas famílias tiveram lutar para provar que quem se foi não era apenas um dado em uma planilha.
Isso acontece principalmente a partir da jornada de transformação pela qual o personagem de Keaton passa. Ele é construído inicialmente como o clássico advogado sem alma que o cinema adora retratar e que, apesar de ter se comovido com a tragédia dos atentados, acredita que sempre é possível chegar a um valor que vai deixar as partes contentes e resolver o problema.
Tanto que, para ele, o desafio é justamente fazer com que as pessoas aceitem o fundo e não a discussão sobre o que é ou não justo — a ponto de ele não se incomodar com o fato de a família de um executivo receber US$ 14 milhões de indenização enquanto a de um faxineiro ficar com apenas US$ 300 mil. 
Para isso, Ken Feinberg é retratado como alguém completamente sem tato — de forma até um bem irreal em alguns momentos — e que não esconde o seu desconforto ao ter que lidar com aquelas pessoas cujo futuro está na ponta de sua caneta. Para ele, tudo se resume a uma equação, sem se dar conta que essa matemática ofusca toda a humanidade por trás de um evento dessa magnitude.
Assim, a partir de seu confronto com a realidade, vemos sua transformação, que passa a ser também a mudança da lógica do próprio fundo. Não se trata mais apenas do que diz a letra fria da lei e os números de uma equação. Cada indivíduo é único e, por isso, as variáveis são infinitas — e é aí que vemos os dramas individuais de quem ficou e as particularidades envolvidas.
O curioso, no entanto, é que parece que Quanto Vale? tem medo de se aprofundar de fato nessas histórias e acaba passando por elas apenas de forma quase superficial para mostrar o quanto elas mexeram com o personagem de Michael Keaton. Em uma trama que se propõe a mostrar o lado humano por trás dos números de uma tragédia, o roteiro é muito comedido na hora de aprofundar essas situações. 
Tanto que é difícil até mesmo pontuar qual foi o momento de virada, quando Feinberg deixa de ser o advogado que vê pessoas como dígitos e encara essas individualidades. Por um lado, isso deixa a história mais crível. Por outro, a impressão que fica é que o filme dá um tempo muito maior de tela aos jogos de poder e influência de advogados e governo que querem pagar mais aos mais ricos do que realmente desenvolvendo e aprofundando a situação das pessoas.
Passando pano
Isso tudo faz com que, apesar de discursar sobre o lado humano da situação, o filme escancare muito mais a frieza da realpolitik dos escritórios governamentais e de advocacia em situações como essa. Por mais que seja muito bonita a transformação do protagonista, o que está por trás de toda essa ação é o que mais chama a atenção — e em como Quanto Vale? parece não se importar com isso.
Ao construir essa imagem do advogado pragmático, o longa apresenta que o fundo não foi criado como uma forma benevolente para ajudar as pessoas, mas para evitar ações judiciais por parte das famílias contra as companhias aéreas, o que poderia quebrá-las e afetar a economia do país. Nesse ponto, eles deixam claro que algumas vidas valem mais do que outras e que não há como comparar um executivo de uma multinacional com um entregador que morreu ali por acaso. A tal equação nasce dessa distinção.
Só que essa é uma discussão que é rapidamente deixada de lado pelo longa, como se ele aceitasse que as coisas são assim mesmo. Tanto que em momento algum ele questiona essa lógica, mudando o foco para a tensão e discussão sobre a justiça dos pagamentos indenizatórios aos mais ricos que querem ganhar ainda mais.
Isso torna tudo bem contraditório, uma vez que o roteiro responde a pergunta do título com um sonoro “depende”, deixando claro que uma vida vale
mais do que a outra — o que vai na contramão da jornada bonitinha apresentada pelo personagem de Keaton e que faz com que toda a questão da humanidade por trás dos números vá só até a página dois.

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