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Leucemias l Ob�e��v�� 1- Revisar a proliferação neoplásica dos leucócitos; 2- Classificar os tipos de leucemia (linfóide e mielóide); 3- Estudar as manifestações clínicas e o diagnóstico da leucemia. Pro����ração Ne�p�ási��: le��óci��� O desenvolvimento dos leucócitos começa com as células-tronco linfoides e mieloides da medula óssea. As linhagens celulares de monócitos e granulócitos derivam de células-tronco mieloides e os linfócitos de células-tronco linfoides. As células precursoras imaturas para cada uma das linhagens celulares são denominadas blastos. Os blastos passam por etapas sequenciais de maturação antes de se tornarem granulócitos, monócitos e linfócitos maduros. Os nomes desses estágios de desenvolvimento são frequentemente utilizados para descrever as alterações de células sanguíneas nos distúrbios hematopoéticos (PORTH, 2022). O sistema linfático consiste em uma rede de vasos linfáticos, linfonodos e tecidos, em que os linfócitos B e T completam o processo de diferenciação. Os linfonodos, que são o local de onde se originam muitos linfomas, exibem um córtex exterior ou superficial e uma medula interna.4 O córtex contém domínios bem definidos de células B e células T. O córtex dependente de células B consiste em dois tipos de folículos: folículos imunologicamente inativos, chamados folículos primários, e folículos ativos que contêm centros germinativos, chamados folículos secundários. A maioria das células T está contida no paracórtex, a área entre córtices medular e superficial (PORTH, 2022). resuminho As neoplasias dos leucócitos referem-se a cânceres do sangue que afetam os leucócitos ou glóbulos brancos. Essas neoplasias são mais comumente conhecidas como leucemias. Existem vários tipos de leucemias, que podem ser classificadas em duas categorias principais: 1. Leucemias agudas: Nesses casos, as células leucêmicas não amadurecem completamente e se acumulam rapidamente na medula óssea, prejudicando a produção de células sanguíneas normais. Os tipos mais comuns de leucemia aguda incluem: - Leucemia mieloide aguda (LMA) - Leucemia linfoblástica aguda (LLA) 2. Leucemias crônicas: Nesses casos, as células leucêmicas têm um período de maturação mais longo, mas ainda são anormais e se proliferam de forma descontrolada. Os tipos mais comuns de leucemia crônica incluem: - Leucemia mieloide crônica (LMC) - Leucemia linfocítica crônica (LLC) Além desses principais tipos de leucemia, existem outras formas menos comuns, como leucemia de células pilosas, leucemia de células T do adulto e leucemia de células NK. As neoplasias dos leucócitos resultam em uma produção excessiva e acumulação de células leucêmicas anormais, que podem invadir a medula óssea, o sangue circulante e outros tecidos do corpo. Isso pode levar a sintomas como fadiga, fraqueza, anemia, infecções frequentes, sangramentos anormais, febre, perda de peso e aumento dos linfonodos, baço ou fígado. O diagnóstico das neoplasias dos leucócitos geralmente envolve exames de sangue, como hemograma completo, análise citogenética e biópsia da medula óssea. O tratamento varia de acordo com o tipo e estágio da leucemia, mas pode incluir quimioterapia, radioterapia, terapia direcionada, imunoterapia ou transplante de células-tronco hematopoéticas. O acompanhamento médico adequado e o tratamento especializado são essenciais para o manejo das neoplasias dos leucócitos. Cada caso é único, e é importante consultar um médico hematologista/oncologista para obter informações precisas e um plano de tratamento personalizado. A leucemia mieloide aguda (LMA) é uma neoplasia caracterizada por infiltração do sangue, da medula óssea e de outros tecidos por células proliferativas indiferenciadas e clonais do sistema hematopoiético. Essas leucemias compreendem um espectro de neoplasias malignas que, quando não tratadas, são uniformemente fatais. Em 2016, o número estimado de novos casos de LMA nos Estados Unidos alcançou 19.950, representando cerca de 1,2% de todos os casos de câncer. A LMA é a leucemia aguda mais comum em pacientes idosos, com idade mediana de 67 anos por ocasião do diagnóstico. A sobrevida em longo prazo é infrequente; dados de registro dos Estados Unidos relatam que apenas 27% dos pacientes sobrevivem 5 anos (JAMESON, 2019). As causas exatas das neoplasias dos leucócitos ainda não são completamente compreendidas, mas existem alguns fatores de risco que podem aumentar a probabilidade de uma pessoa desenvolver essas doenças. Alguns desses fatores incluem: 1. Fatores genéticos: alterações genéticas adquiridas ou herdadas podem contribuir para o desenvolvimento de neoplasias dos leucócitos. 2. Exposição a produtos químicos: a exposição a certos produtos químicos, como pesticidas e solventes, pode aumentar o risco de desenvolver neoplasias dos leucócitos. 3. Radiação ionizante: a exposição à radiação ionizante, como a terapia de radiação para outros tipos de câncer ou a exposição a desastres nucleares, pode aumentar o risco de desenvolver neoplasias dos leucócitos. Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref4 4. Infecções virais: algumas infecções virais, como o vírus da leucemia de células T humanas (HTLV-1) e o vírus Epstein-Barr (EBV), podem aumentar o risco de desenvolver neoplasias dos leucócitos. 5. Outros fatores: outros fatores, como tabagismo, obesidade, idade avançada e história familiar de neoplasias dos leucócitos, também podem aumentar o risco de desenvolver essas doenças. É importante lembrar que nem todas as pessoas expostas a esses fatores de risco desenvolvem neoplasias dos leucócitos e que muitas pessoas com essas doenças não apresentam nenhum fator de risco conhecido. Tip�� de le����i�: li��óid� e mi��óid� As leucemias são neoplasias malignas de células originalmente derivadas de células precursoras hematopoéticas. As leucemias se caracterizam pela substituição difusa da medula óssea por células neoplásicas imaturas em proliferação desregulada. Na maioria dos casos, as células leucêmicas entram na corrente sanguínea, onde podem ser observadas em grande número. O termo leucemia foi utilizado pela primeira vez por Virchow para descrever uma inversão da razão habitual entre hemácias e leucócitos. As células leucêmicas também podem infiltrar o fígado, o baço, os linfonodos e outros tecidos por todo o organismo, causando aumento desses órgãos (PORTH, 2022). Nos EUA, em 2017, foram diagnosticados aproximadamente 62.130 novos casos de leucemia e esperava-se que aproximadamente 24.500 pessoas morressem da doença.19 A leucemia é a causa mais comum de câncer em crianças e adolescentes. É responsável por 29% dos cânceres na infância. Embora comumente seja considerada uma doença da infância, a leucemia é diagnosticada 10 vezes mais frequentemente em adultos do que em crianças (PORTH, 2022). As leucemias são comumente classificadas de acordo com o tipo predominante de células (i. e., linfocítica ou mieloide) e se a condição é aguda ou crônica. Leucemias bifenotípicas demonstram características tanto de linhagens linfoides quanto mieloides. Um sistema de classificação rudimentar, o chamado FAB (French-American-British Cooperative Group), ainda está sendo utilizado e divide a leucemia em quatro tipos: leucemia linfocítica (linfoblástica) aguda (LLA), leucemia linfocítica crônica (LLC), leucemia mieloide aguda (mieloblásticas) (LMA) e leucemia mieloide crônica (LMC). Entretanto, novos sistemas de classificação, com múltiplos subtipos que diferenciam diversas características e empregam perfis de expressão gênica, estão sendo utilizados clinicamente para o diagnóstico e tratamento de casos de leucemia.30 As leucemias linfocíticas envolvem linfócitos imaturos e seus progenitores que se originam na medula óssea, mas se infiltram no baço, linfonodos, sistema nervoso central e outros tecidos. As leucemias mieloides envolvem as células-tronco mieloides pluripotentes da medula óssea e interferem na maturação de todas as células sanguíneas,incluindo granulócitos, hemácias e trombócitos. (PORTH, 2022). Etiologia e Biologia Molecular (PORTH, 2022) As causas da leucemia são em grande parte desconhecidas. A incidência de leucemia entre pessoas que foram expostas a altos níveis de radiação é extraordinariamente alta. Um aumento da incidência de leucemia também está associado à exposição ao benzeno, muitas toxinas desconhecidas, fármacos, produtos químicos e gases. A leucemia pode ocorrer como um segundo câncer após quimioterapia agressiva de outros tipos de câncer, como linfoma de Hodgkin. A existência de predisposição genética para o desenvolvimento de leucemia aguda é sugerida por maior incidência da doença entre inúmeras doenças congênitas, incluindo síndrome de Down, neurofibromatose e anemia de Fanconi. Há também numerosos relatos de casos de leucemia aguda ocorrendo em uma mesma família. A biologia molecular da leucemia aponta que o evento ou eventos causadores de distúrbios exercem seus efeitos por meio da desregulação dos genes que normalmente regulam o desenvolvimento e a homeostasia das células sanguíneas.5 Estudos citogenéticos têm demonstrado que há alterações cromossômicas recorrentes em mais da metade de todos os casos de leucemia. Mais comumente, são alterações estruturais classificadas como translocações, representadas como t(8;21), em que uma parte do cromossomo (p. ex., 8) passa a se localizar em outro cromossomo (p. ex., 21) e vice-versa; inversões, representadas como inv(16), em que parte de um cromossomo (p. ex., 16) está invertida e agora em ordem inversa, mas ainda ligada ao cromossomo original; e deleções, representadas como del(7), ou –7, em que parte de um cromossomo (p. ex., 7) se perdeu. Ruptura ou desregulação dos genes e produtos de genes específicos ocorridos nos locais dessas aberrações cromossômicas contribui para o desenvolvimento de leucemia.29 Em muitos casos, foi constatado que esses genes e seus produtos estavam direta ou indiretamente envolvidos no desenvolvimento normal ou na manutenção do sistema hematopoético. Assim, parece que a leucemia é o resultado, pelo menos parcialmente, de distúrbios na atividade de genes que normalmente regulam o desenvolvimento de células sanguíneas. A Figura 24.11 compara um esfregaço de sangue normal com um de paciente leucêmico. Avanços na biologia molecular em relação à leucemia estão começando a oferecer uma compreensão mais completa da complexidade molecular da doença para fins de diagnóstico, classificação, tratamento e acompanhamento dos desfechos clínicos. Figura 24.11 • Leucemia. A. Sangue normal com neutrófilos e linfócitos normais. B. Sangue de pessoa com leucemia; ilustra numerosos leucócitos anormais. Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref19 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref30 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref29 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml#fig24-11 Uma das translocações mais estudadas é o cromossomo Philadelphia, que foi a primeira anomalia cromossômica identificada no câncer. A translocação do cromossomo Philadelphia, t(9; 22), representa uma translocação recíproca entre o braço longo do cromossomo 22 e o braço longo do cromossomo 9.4 Durante a translocação, uma grande parte do 22q é translocada para 9q, e uma parte menor de 9q é deslocada para 22q (Figura 24.12). A porção de 9q que é translocada contém ABL, um proto-oncogene que é o homólogo celular do vírus de leucemia murina de Abelson. O gene ABL é recebido em um local específico no 22q, chamado BCR (breakpoint cluster region). O gene de fusão BCR-ABL resultante codifica uma nova proteína que difere daquela do gene ABL normal, na medida em que apresenta atividade de tirosinoquinase (uma atividade característica de genes transformantes).4 A existência da tirosinoquinase produzida pelo gene de fusão possibilita que células afetadas ignorem os sinais regulados que controlam o crescimento normal e a diferenciação celular e, em vez disso, sofrem uma transformação maligna para se tornarem células leucêmicas. A translocação do cromossomo Philadelphia é encontrada em mais de 90% das pessoas com LMC e em algumas pessoas com leucemia aguda. O desenvolvimento de inibidores da tirosinoquinase tem contribuído para uma abordagem orientada para o tratamento de leucemias que exibem translocação do cromossomo Philadelphia. Figura 24.12 • Cromossomo Philadelphia (Ph), que é formado por quebras nas extremidades dos braços longos dos cromossomos 9 e 22, tornando possível que o proto-oncogene ABL no cromossomo 9 seja translocado para a região breakpoint cluster region (BCR) no cromossomo 22. O resultado é um novo gene de fusão que codifica a proteína BCR-ABL, que presumivelmente está envolvida na patogênese da LMC. As leucemias agudas são cânceres de células progenitoras hema-topoéticas.4 Geralmente têm manifestação súbita, com sinais e sintomas relacionados com a função da medula óssea (Tabela 24.1). Há dois tipos de leucemia aguda: leucemia linfocítica aguda e leucemia mieloide aguda. A LLA acomete com mais frequência crianças, sendo responsável por três de cada quatro casos de leucemia infantil. No entanto, cerca de um terço dos casos de LLA se manifesta em adultos, e a maioria das mortes pela doença ocorre em pacientes adultos (cerca de quatro em cada cinco). Nos EUA, estava previsto o surgimento de mais de 5.970 novos casos de LLA em adultos para 2017.19 Além disso, mais de 1.400 casos de LLA resultarão em óbito.31 A LMA é principalmente uma doença de idosos, mas também pode se manifestar em crianças e jovens adultos.19 Em crianças e adolescentes, a LMA é responsável por um em cada quatro casos de leucemia. A American Cancer Society prevê que haverá 21.380 novos casos de LMA, com aproximadamente 10.590 óbitos em 2017 (PORTH, 2022). Tabela 24.1 Manifestações clínicas da leucemia e suas bases patológicas.* *As manifestações variam com o tipo de leucemia. LLA engloba um grupo de neoplasias compostas por precursores de linfócitos B (pré-B) ou T (pré-T), denominados linfoblastos (Figura 24.13). Aproximadamente 90% das pessoas com LLA apresentam alterações numéricas e estruturais nos cromossomos de suas células leucêmicas. Isso inclui hiperploidia (i. e., mais de 50 cromossomos), poliploidia (i. e., três ou mais conjuntos de cromossomos) e translocação e deleção cromossômica. Muitas dessas aberrações cromossômicas acabam desregulando a expressão e a função de fatores de transcrição necessários para o desenvolvimento de células hematopoéticas normais (PORTH, 2022). Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml#fig24-12 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml#tab24-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref19 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref31 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref19 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml#fig24-13 Figura 24.13 • Leucemia linfoblástica aguda. Os linfoblastos no sangue periférico têm núcleos irregulares e endentados com cromatina nuclear delicada, nucléolos visíveis e quantidade variável de citoplasmaagranular. As LMA são um grupo diverso de neoplasias que afetam as células precursoras mieloides na medula óssea.4 A maioria está associada a alterações genéticas adquiridas que inibem a diferenciação mieloide terminal. Como resultado, os elementos normais de medula são substituídos por acúmulo de blastos, relativamente indiferenciados, com resultante supressão das células progenitoras restantes, anemia, neutropenia e trombocitopenia. Anormalidades cromossômicas específicas, incluindo translocações, podem ser observadas em um grande número de casos de LMA. Um subtipo de LMA, a leucemia pró-mielocítica aguda, que representa 10% dos casos de adultos com LMA, está associada à translocação cromossômica t(15;17).32 Essa translocação produz um gene de fusão que codifica para uma porção do fator de transcrição, o ácido retinoico receptor-A (RARa), fundida com uma porção de outra proteína, PML. Essa alteração no receptor do ácido retinoico produz um bloco de diferenciação que pode ser superado com doses farmacológicas de ácido retinoico (PORTH, 2022). Em contraste com as leucemias agudas, as leucemias crônicas são neoplasias malignas que envolvem a proliferação de células mieloides e linfoides com diferenciação mais completa. Tal como acontece com a leucemia aguda, existem dois tipos principais de leucemia crônica: leucemia linfocítica crônica (LLC) e leucemia mieloide crônica (LMC). A LLC foi responsável por cerca de 20.110 novos casos e 4.600 mortes nos EUA em 2017 (ACA). É principalmente uma doença de adultos mais velhos. A média de idade no momento do diagnóstico é de aproximadamente 72 anos. Quase não é observada em pessoas com menos de 40 anos de idade e é extremamente rara em crianças.19,35 A LMC é responsável por cerca de 8.950 novos casos e 1.080 mortes em 2011 nos EUA.19 Tal como acontece com a LLC, é predominantemente uma doença de idosos, com idade média de 67 anos no momento do diagnóstico (PORTH, 2022). A LLC, uma malignidade clonal dos linfócitos B, é a forma mais comum de leucemia em adultos no mundo ocidental. No passado, a LLC era vista como uma doença homogênea de células B imaturas, imunoincompetentes e minimamente autorrenováveis, que se acumulavam devido a falhas de mecanismos apoptóticos. Algumas pessoas com leucemia linfocítica crônica sobrevivem por muitos anos sem tratamento e, por fim, sucumbem a doenças não relacionadas, enquanto outros têm uma doença rapidamente fatal, apesar da terapêutica agressiva. Imunofenotipagem confirma o diagnóstico de LLC. Alguns marcadores de linfócitos B são pesquisados para elucidar o diagnóstico diferencial, juntamente de aberrações genômicas específicas da LLC. O número de alterações genômicas aumenta com a evolução da doença.33 Os sinais e os sintomas clínicos da LLC estão fortemente relacionados com a infiltração progressiva da medula óssea e dos tecidos linfoides por linfócitos neoplásicos e com defeitos imunológicos secundários. Pessoas com a forma de evolução arrastada de LLC são, com frequência, assintomáticas no momento do diagnóstico; e linfocitose é observada em um hemograma completo obtido por outra causa, não relacionada. À medida que a doença progride, os linfonodos aumentam gradualmente de tamanho e novos linfonodos são envolvidos, por vezes, em áreas pouco usuais, como couro cabeludo, órbitas, faringe, pleura, sistema digestório, fígado, próstata e gônadas. Pessoas com a forma agressiva de leucemia linfocítica crônica apresentam deterioração clínica rápida, caracterizada por linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, febre, dor abdominal, perda de peso, anemia progressiva e trombocitopenia, com rápido aumento da contagem de linfócitos. Hipogamaglobulinemia é comum em casos de LLC, especialmente em pessoas com doença avançada. O aumento da suscetibilidade à infecção reflete a incapacidade de produzir anticorpos específicos e ativação anormal do complemento. Os microrganismos infecciosos mais comuns são aqueles que exigem opsonização para serem destruídos, como Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus e Haemophilus influenzae. A principal característica diagnóstica de LLC é o achado de linfocitose isolada. A contagem geralmente é superior a 20.000/μℓ, e pode se elevar para várias centenas de milhares. Geralmente, 75 a 98% são linfócitos. O hematócrito e a contagem de plaquetas são, geralmente, normais na apresentação. Estudos citogenéticos têm condições de fornecer informação prognóstica.33,34 O achado de deleção do cromossomo 17p ou 11q é um indicador de mau prognóstico.33 O tratamento de LLC geralmente depende da existência de indicadores de prognóstico.33 Pessoas com LLC de evolução arrastada ou de baixo risco geralmente não precisam de tratamento específico por muitos anos após o diagnóstico e acabam morrendo de causas aparentemente não relacionadas. É importante assegurar ao paciente com essa doença a possibilidade de ter uma vida normal por muitos anos. Muitas pessoas com doença de risco intermediário também permanecem estáveis por muitos anos, enquanto outras desenvolvem complicações e necessitam de tratamento em alguns meses. A maioria das pessoas com alto risco de LLC requer tratamento no momento do diagnóstico. Complicações como anemia hemolítica autoimune ou trombocitopenia podem exigir tratamento com corticosteroides ou a realização de esplenectomia. Em pessoas mais jovens com doença agressiva, um transplante ablativo alogênico (destruição de células da medula óssea por irradiação ou quimioterapia) ou um transplante de células-tronco não mieloablativo são opções de tratamento. Em um tipo de transplante não mieloablativo, a meta é a supressão da medula óssea; a destruição das células leucêmicas por linfócitos do doador, conhecida como efeito “enxerto-versus-leucemia”; e a recuperação de medula com células do doador. Leucemia mieloide crônica. É uma doença das células progenitoras hematopoéticas pluripotentes. É caracterizada por proliferação excessiva de granulócitos, precursores eritroides e megacariócitos da medula óssea. As células da leucemia mieloide crônica (LMC) apresentam uma anomalia citogenética específica, o cromossomo Philadelphia descrito anteriormente.4 Acredita-se, em geral, que a LMC se desenvolve quando uma única célula-tronco hematopoética pluripotente adquire um cromossomo Philadelphia. Embora a LMC tenha origem nas células-tronco pluripotentes, os precursores de granulócitos permanecem o tipo de célula leucêmica dominante. O curso clínico da LMC é comumente dividido em três fases: 1.Fase crônica da duração variável 2.Fase acelerada curta 3.Fase terminal de crise blástica. Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref32 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref19 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref35 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref19 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref33 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref33 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref34 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref33 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref33 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref4 O início da fase crônica é geralmente lento, com sinais/sintomas inespecíficos como fraqueza e perda de peso. A descoberta laboratorial mais característica no momento da apresentação é leucocitose com granulócitos imaturos no sangueperiférico. Desenvolve-se anemia e, por fim, trombocitopenia. A anemia causa fraqueza, cansaço e dispneia aos esforços. Frequentemente, existe esplenomegalia no momento do diagnóstico; hepatomegalia é menos comum e linfadenopatia é relativamente incomum. A fase acelerada de LMC é caracterizada por esplenomegalia e sinais/sintomas progressivos. A esplenomegalia muitas vezes provoca sensação de plenitude e desconforto abdominais. O aumento da contagem de basófilos e de células mais imaturas no sangue ou na medula óssea confirma a transformação para a fase acelerada. Durante essa fase, surgem sinais/sintomas constitucionais, como febre baixa, sudorese noturna, dor óssea e perda de peso devido a rápida proliferação e hipermetabolismo das células leucêmicas. Sangramento e equimoses ocorrem por causa das plaquetas disfuncionais. Geralmente, a fase de aceleração é de curta duração (6 a 12 meses). A fase blástica terminal da LMC representa a evolução para leucemia aguda, e é caracterizada por aumento na circulação sanguínea do número de precursores mieloides, especialmente blastos. Os sinais/sintomas constitucionais se tornam mais proeminentes durante esse período, e a esplenomegalia pode se acentuar significativamente. Infiltrados isolados de células leucêmicas podem envolver a pele, os linfonodos, os ossos e o sistema nervoso central. Quando a contagem de blastos está muito elevada (> 100.000/μℓ), podem ocorrer sinais/sintomas de leucostase. Uma característica diagnóstica de LMC é a contagem elevada de leucócitos (leucocitose), com contagens medianas de 150.000/μℓ no momento do diagnóstico, embora em alguns casos o aumento seja modesto. A principal característica da doença é a existência do produto gênico BCR-ABL, que pode ser detectado no sangue periférico. A melhor maneira de detecção é por meio da reação em cadeia de polimerase (PCR), que suplantou a citogenética na identificação do cromossomo Philadelphia. O exame da medula óssea geralmente não é necessário para o estabelecimento do diagnóstico, mas é útil para o prognóstico e a detecção de anomalias cromossômicas adicionais. As metas do tratamento para LMC incluem alcançar uma resposta hematológica caracterizada por hemogramas normalizados; resposta citogenética demonstrada pela redução ou eliminação do cromossomo Philadelphia da medula óssea; e resposta molecular confirmada pela eliminação da proteína de fusão BCR-ABL.40 O único tratamento curativo disponível para LMC é o transplante alogênico de medula óssea ou transplante de células-tronco. Na maioria dos centros médicos especializados, estão disponíveis transplantes mieloablativos plenos para crianças e adultos com menos de 60 anos de idade que tenham irmão doador HLA-compatível ou um doador não parente com compatibilidade molecular. Transplantes não mieloablativos ou “minitransplantes” estão disponíveis para pessoas com menos de 70 anos de idade com irmão HLA-compatível ou doador não parente HLA-compatível. Man����tações Clíni��� da Le�c��i� Leucemias Agudas (PORTH, 2022) Embora LLA e LMA sejam doenças distintas, tipicamente têm manifestações clínicas semelhantes. Ambas se caracterizam por aparecimento abrupto de sinais/sintomas, incluindo fadiga resultante de anemia; febre baixa, sudorese noturna e perda de peso pela rápida proliferação e hipermetabolismo das células leucêmicas; sangramento devido à redução na contagem de plaquetas; e dor óssea espontânea e à palpação causada pela expansão da medula óssea.32-34 O processo infeccioso é resultante da neutropenia, com o risco de infecção aumentando rapidamente à medida que a contagem de neutrófilos cai abaixo de 500/μℓ. Ocorrem linfadenopatia generalizada, esplenomegalia e hepatomegalia causadas por infiltração de células leucêmicas em todos os casos de leucemia aguda, porém são mais comuns na LLA. Além das manifestações comuns de leucemia aguda (i. e., a fadiga, perda de peso, febre, equimose), a infiltração de células malignas na pele, gengivas e outros tecidos moles é particularmente comum na forma monocítica de LMA. As células leucêmicas também conseguem atravessar a barreira hematencefálica e se abrigar no SNC. O envolvimento do SNC é mais comum em LLA do que em LMA, e é mais comum em crianças do que adultos. Sinais e sintomas de envolvimento do SNC incluem paralisia de nervos cranianos, cefaleia, náuseas, vômitos, papiledema e, ocasionalmente, convulsões e coma. Leucostase é uma condição em que a contagem de blastos na circulação sanguínea é acentuadamente elevada (em geral 100.000/μℓ). O elevado número de blastos leucêmicos circulantes aumenta a viscosidade do sangue e predispõe ao desenvolvimento de embolia leucoblástica, com obstrução de pequenos vasos sanguíneos na circulação pulmonar e cerebral. A oclusão de vasos pulmonares conduz a ruptura do vaso e infiltração do tecido pulmonar, resultando em falta de ar súbita e dispneia progressiva. A leucostase cerebral acarreta cefaleia difusa e letargia, que podem progredir para confusão mental e coma. Uma vez identificada a leucostase, deve ser administrado tratamento imediato e efetivo para diminuir a contagem de blastos rapidamente. Faz-se inicialmente aférese para remover o excesso de células blásticas, seguida por quimioterapia para interromper a produção de células leucêmicas na medula óssea. Hiperuricemia resulta do aumento da proliferação ou da degradação de nucleotídios da purina (i. e., um dos componentes dos ácidos nucleicos) secundário à morte de células leucêmicas resultante da quimioterapia. Pode aumentar antes e durante o tratamento. Geralmente é administrada terapia profilática com rasburicase, uma versão recombinante da enzima urato oxidase, para prevenção de complicações renais secundárias à cristalização de ácido úrico no filtrado urinário.34 Leucemias Crônicas (PORTH, 2022) As leucemias crônicas são um grupo de cânceres do sangue caracterizados por uma proliferação lenta e acumulação de células leucêmicas anormais na medula óssea, no sangue periférico e, eventualmente, em outros tecidos do corpo. As leucemias compreendem um grupo de doenças malignas dos glóbulos brancos que tem início nas células-tronco da medula óssea. Podem ser agudas ou crônicas e compreendem vários tipos: Leucemia linfoblástica aguda (LLA), Leucemia mieloide aguda (LMA), Leucemia promielocítica aguda (LPA), Leucemia linfocítica crônica (LFC), Leucemia mielocítica crônica (LMC), (PORTO, 2022). Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref40 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref32 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref34 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref34 Leucemias Linfoide Aguda (PORTO, 2022) Neoplasia que se origina da proliferação clonal de precursores linfoides, sendo a doença maligna mais comum da infância, com incidência anual entre 1 e 4,75 casos por 100 mil habitantes. Cerca de 75% dos casos ocorrem em crianças com menos de 6 anos. A leucemia linfoblástica aguda (LLA) pode ser classificada em LLA B ou LLA T, dependendo do tipo de linfoblasto de origem. O principal achado histopatológico é a infiltração da medula óssea por células jovens de origem linfoide, que resulta na substituição de células saudáveis por doentes, o que prejudica a hematopoese normal. Causas e fatores de risco Na maior parte dos casos a causa é desconhecida, porém existe uma incidência aumentada em pessoas com síndrome de Down e outras anomalias genéticas. Manifestações clínicas A proliferação dos linfoblastos com infiltração da medula óssea provoca o subdesenvolvimento das outras séries hematopoéticas, ocasionando manifestações clínicas de citopenias. As células leucêmicas podem infiltrar diferentes órgãos e manifestar-se por: •Anemia: palidez, astenia, dispneia •Plaquetopenia: equimoses espontâneas, púrpuras, sangramentogengival •Neutropenia: febre, infecções em boca, garganta, vias respiratórias e região perianal •Linfadenomegalias, hepatomegalia e esplenomegalia •Dor óssea e artralgia •Infiltração do sistema nervoso central (SNC): paralisia de pares cranianos, cefaleia, diplopia, embaçamento visual •Infiltração do testículo: aumento do volume testicular, edema, dor •Massa mediastinal: dispneia, síndrome da veia cava superior; mais comum na LLA T. A Figura 426.1 mostra a proliferação dos linfoblastos, com infiltração medular. Figura 426.1 Leucemia linfoblástica aguda. A. Linfoblastos infiltrando a medula óssea. B. Massa mediastinal. C. Linfadenomegalia cervical. Leucemia Mieloide Aguda (PORTO, 2022) A LMA é uma neoplasia caracterizada pela proliferação de células imaturas, os mieloblastos, na medula óssea. Trata-se de uma ruptura da hematopoese normal por alterações recorrentes genéticas, que promovem no precursor mieloide parada de maturação, manutenção do ciclo celular e resistência à apoptose. A doença atinge cerca de 4 em cada 100 mil habitantes ao ano nos EUA, sendo o tipo de leucemia aguda mais comum em adultos. Causas e fatores de risco •A patogênese da LMA é desconhecida, mas na maioria dos casos existem anormalidades cromossômicas •Fatores ambientais, ocupacionais e genéticos têm um importante papel no seu desenvolvimento, como: exposição à radiação ionizante, benzeno, agentes citotóxicos; síndromes mielodisplásicas e mieloproliferativas; aplasia de Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter426.xhtml#fig426-1 medula óssea, anemia de Fanconi; síndrome de Down; uso prévio de quimioterapia. Manifestações clínicas O quadro clínico do paciente com LMA é secundário à infiltração da medula óssea e, consequentemente, à deficiência na produção das células sanguíneas, acarretando sintomas de citopenias. As células da leucemia também podem infiltrar outros órgãos, ocasionando diferentes distúrbios orgânicos. As manifestações clínicas mais comuns são: •Anemia: palidez, astenia, dispneia •Plaquetopenia: equimoses espontâneas, púrpuras, sangramento gengival •Neutropenia: febre, infecções em boca, garganta, vias respiratórias e região perianal •Linfadenomegalias (mais comum na LLA), hepatomegalia e esplenomegalia •Infiltração gengival, de pele, órbita (sarcoma granulocítico) •Coagulação intravascular (CIV) disseminada (mais comum na promielocítica) •Infiltração do SNC: paralisia de pares cranianos, cefaleia, diplopia, embaçamento visual •Síndrome de leucostase: taquidispneia, hipoxemia, confusão mental. Na Figura 426.2 são apresentadas algumas manifestações clínicas da LMA. Figura 426.2 A. Infiltração leucêmica em gengiva. B. Blastos mieloides no sangue periférico com bastões de Auer. C. Candidíase oral. D. Infiltrado pulmonar intersticial na síndrome de leucostase. Leucemias Linfoide Crônica (PORTO, 2022) A LLC é a forma crônica mais frequente, sendo mais comum em homens, quase sempre idosos. Rara antes dos 45 anos. Abrange o grupo das doenças linfoproliferativas, e o clone neoplásico é um linfócito B maduro que se acumula lentamente devido a mecanismo defeituoso de apoptose. Além da medula e do sangue periférico, as células tendem a infiltrar linfonodos, fígado e baço. Causas e fatores de risco •A maioria dos casos tem etiologia desconhecida. Contudo, história familiar de LLC representa fator de risco, uma vez que é encontrada em até 10% dos pacientes •Exposição ao benzeno e derivados, agentes químicos e radiação são fatores predisponentes. Manifestações clínicas •A LLC é uma doença indolente, e a maioria dos pacientes é assintomática, com o diagnóstico feito por um hemograma com linfocitose, solicitado por diferentes motivos •Dentre os sintomas no momento do diagnóstico (15% dos casos), encontra-se linfonodomegalia em uma ou mais cadeias, aqueles constitucionais, como fadiga e emagrecimento •Hepatomegalia e esplenomegalia são comuns •Com a progressão da doença, frequentemente observa-se piora dos parâmetros hematológicos, com anemia e plaquetopenia. Leucemia Mieloide Crônica (PORTO, 2022) Neoplasia mieloproliferativa com incidência de 1 a 2 casos por 100 mil adultos, sendo responsável por aproximadamente 15% das leucemias diagnosticadas nessa faixa etária. A idade média de diagnóstico está entre a quinta e a sexta décadas de vida. Caracteriza-se pela presença do cromossomo Philadelphia (Ph), resultado de uma translocação recíproca entre o braço longo do cromossomo 9 e o braço curto do cromossomo 22. Causas e fatores de risco Radiação ionizante é o único fator de risco que se relaciona com o desenvolvimento da LMC. Manifestações clínicas Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter426.xhtml#fig426-2 •Têm relação com a fase da doença, podendo ser classificada em fase crônica (FC), fase acelerada (FA) ou crise blástica (CB) •50% dos pacientes com LMC são assintomáticos e diagnosticados durante exame físico de rotina ou em avaliação laboratorial •A maioria dos pacientes (90 a 95%) é identificada na fase crônica •A esplenomegalia é o sinal mais comum, detectado em 40 a 50% dos casos, e pode gerar dor em hipocôndrio esquerdo •A hepatomegalia é menos comum e ocorre em menos de 10% dos casos •Sintomas leucostáticos (dispneia, sonolência, confusão mental) são incomuns na FC, apesar da contagem de leucócitos exceder 100 mil •Fadiga, perda ponderal, saciedade precoce, plenitude pós-prandial e dor em hipocôndrio esquerdo são decorrentes de anemia e esplenomegalia •Sangramento (raro) em virtude da contagem de plaquetas baixa ou disfunção plaquetária •Trombose (rara) decorrente de trombocitose ou leucocitose acentuada •Hemorragia retiniana e hemorragia digestiva alta (rara) •Linfadenopatias ou infiltração da pele são raras e, quando ocorrem, indicam LMC Ph negativo ou FA ou CB •Cefaleia, dor óssea, artralgias, dor por infarto esplênico e febre são mais frequentes nas transformações para FA e CB da LMC. Di�g�ós�i�� da Le�c��i� Leucemias Agudas (PORTH, 2022) O diagnóstico definitivo de leucemia aguda se baseia em estudos do sangue e da medula óssea. É necessária a demonstração da existência de células leucêmicas no sangue periférico, medula óssea ou tecido extramedular. Os achados laboratoriais revelam leucócitos imaturos (blastos) na circulação e na medula óssea, onde podem constituir de 60 a 100% das células. À medida que essas células proliferam e começam a se acumular na medula óssea, dá-se a supressão do desenvolvimento de outras linhagens de células sanguíneas na medula óssea. Consequentemente, desaparecem células mieloides maduras, como hemácias, leucócitos e plaquetas. Quase sempre há anemia, e a contagem de plaquetas está reduzida. Deve ser realizada imunofenotipagem para determinar o subtipo de linhagem da leucemia.30 A biopsia de medula óssea pode ser usada para determinar as características moleculares da leucemia, o grau de envolvimento da medula óssea e a morfologia e histologia da doença. Os estudos citogenéticos, usados para determinar anormalidades cromossômicas, são um dos mais poderosos indicadores de prognóstico na leucemia aguda. Determinadas anormalidades cromossômicas respondem mais favoravelmente a certos tipos de tratamento e têm um prognóstico melhor do que outras. O estadiamento da LLA inclui punção lombar para avaliar o envolvimento do SNC. Exames de imagem, que incluem TC do tórax, do abdome e da pelve, também podem ser obtidos para identificar locais adicionais de comprometimento. Tratamento A abordagem da LLA e da LMA tem várias fases e inclui terapia de indução, para provocar remissão; terapia de intensificação, para produzir redução adicional na quantidade de células leucêmicas depois de alcançada a remissão; e terapia de manutenção, para manter a remissão. A meta da terapia de indução é a produção de resposta significativa da medula óssea, com destruição das células leucêmicas progenitoras, acompanhada pelarecuperação da medula óssea normal. A probabilidade de alcançar remissão depende de vários fatores, incluindo idade, tipo de leucemia e estágio da doença no momento da apresentação. Desses fatores, a idade é provavelmente a variável prognóstica mais significativa. Necrose massiva de células malignas pode ocorrer durante a fase inicial da quimioterapia. Esse fenômeno, conhecido como síndrome de lise tumoral, pode resultar em transtornos metabólicos potencialmente fatais, incluindo hiperpotassemia, hiperfosfatemia, hiperuricemia, hipomagnesemia, hipocalcemia e acidose, com possibilidade de causar insuficiência renal aguda. Utiliza-se hidratação profilática agressiva com soluções alcalinas e administração de rasburicase para reduzir os níveis de ácido úrico e contrabalançar esses efeitos. Como na LLA, o tratamento de LMA consiste em várias fases. O tratamento geralmente contempla indução, seguida por consolidação intensiva. A indução consiste em quimioterapia intensiva para conseguir aplasia da medula óssea. Durante esse período, muitas vezes são necessárias transfusões de suporte e tratamento com agentes antimicrobianos. Pode ser considerado um transplante de medula óssea ou de células-tronco para pessoas com LLA e LMA que não respondem a outras formas de tratamento.33-34 Devido ao risco de complicações, o transplante de medula óssea geralmente não é recomendado para pessoas com mais de 50 a 55 anos de idade. Leucemias Linfoide Aguda (PORTO, 2022) O diagnóstico de LLA é confirmado pela análise da medula óssea, sendo o material aspirado submetido a uma série de exames. Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref30 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref33 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter24.xhtml?favre=brett#ref34 Os exames complementares são fundamentais para avaliação do paciente e das complicações. Os principais incluem: •Hemograma completo: anemia, trombocitopenia, leucocitose ou leucopenia •Desidrogenase láctica (DHL): frequentemente elevada pelo alto turnover celular •Ácido úrico: pode estar elevado pelo alto turnover celular •Funções renal e hepática: podem estar alteradas •Coagulograma: podem ocorrer distúrbios de coagulação •Punção lombar e análise liquórica: avalia infiltração de blastos no sistema nervoso central •Radiografia de tórax: massa mediastinal (principalmente na LLA T). O diagnóstico diferencial da LLA deve considerar outras doenças que também acometam a medula óssea, como: •Leucemia mieloide aguda (LMA) •Leucemia de células pilosas •Leucemia prolinfocítica •Aplasia de medula •Linfoma com infiltração medular. TRATAMENTO •A LLA é uma doença curável, principalmente em crianças, nas quais a taxa de cura pode alcançar 80%. Nos adultos, a taxa de sucesso é menor, em torno de 50% •O tratamento, com base em poliquimioterapia, dura em média 1 ano e meio a 2 anos e é organizado em indução, consolidação, reindução e manutenção •A radioterapia é utilizada, principalmente, nos casos em que o SNC esteja infiltrado, em algumas situações especiais e no transplante alogênico de medula óssea. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO •O protocolo são combinações de prednisona/dexametasona, asparaginase, vincristina; daunorrubicina, ciclofosfamida, metotrexato; citarabina, etoposídeo, mercaptopurina •Pacientes com LLA Philadelphia recebem, além da quimioterapia, uma medicação específica para tratar as células com t(9;22), um inibidor de tirosinoquinase (ITK) – o imatinibe (Glivec®) ou o dasatinibe (Sprycel®) •O rearranjo BCR/ABL sempre foi considerado um fator de mau prognóstico, porém, após a introdução dos ITK o curso da doença tem se tornado mais favorável •É importante lembrar que esses pacientes têm risco aumentado de infiltração de SNC, portanto, mesmo os que não tenham o SNC acometido devem ser submetidos à quimioterapia intratecal profilática durante todo o tratamento. TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA O transplante alogênico de medula óssea tem importante papel no tratamento das leucemias agudas. De maneira geral, os pacientes devem ser encaminhados a transplante nos seguintes casos: pacientes que não obtiveram boas resposta ao longo do tratamento (doença residual mínima positiva), recidiva de doença, após segunda remissão, LLA t(9;22). MEDIDAS DE SUPORTE As principais medidas são: •Suporte transfusional •Profilaxia da síndrome de lise tumoral no início do tratamento: alopurinol, rasburicase •Profilaxia contra pneumocistose: sulfametoxazol-trimetoprima •Profilaxia contra herpes-vírus simples e varicela-zóster: aciclovir •Profilaxia antifúngica durante a neutropenia: fluconazol, voriconazol, posaconazol •Antibioticoterapia via intravenosa com cobertura para pseudômonas na neutropenia febril, que é uma emergência médica. Yasmin Ayana 야스민 아야나 COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO A longo prazo, o paciente que recebe quimioterapia para LLA pode apresentar complicações inerentes ao tratamento, como: •Esterilidade; pode-se tentar congelar espermatozoides e óvulos antes do início do tratamento •Insuficiência cardíaca: alguns medicamentos são cardiotóxicos, principalmente os antracíclicos (doxorrubicina e epirrubicina) •Déficit de crescimento em crianças •Segunda neoplasia, como mielodisplasia e LMA. Leucemia Mieloide Aguda (PORTO, 2022) Diagnóstico •Aspirado de medula óssea, citoquímica, imunofenotipagem. Nos casos de LMA, o mielograma apresenta mais de 20% de blastos com características mieloides (os blastos mieloides são maiores que os linfoides e podem conter grânulos e bastonetes de Auer). Exames complementares Os exames básicos são: •Hemograma completo: anemia, trombocitopenia, leucocitose ou leucopenia •Desidrogenase láctica (DHL): frequentemente elevada devido ao alto turnover celular •Ácido úrico: frequentemente aumentada pelo elevado turnover celular •Funções renal e hepática: podem estar alteradas •Coagulograma: podem ocorrer distúrbios de coagulação, principalmente na LMA M3 (promielocítica) •Punção liquórica: apenas em situações específicas na LMA, sobretudo na presença de sintomas neurológicos (inclusive cefaleia). Não é um exame realizado rotineiramente. Classificação •A LMA pode ser classificada de diferentes maneiras, de acordo com suas características morfológicas, citogenéticas e moleculares •A FAB (French-American-British) foi por muitos anos a única classificação morfológica disponível para a LMA (Quadro 426.1). Atualmente, as classificações mais importantes são as genéticas, visto que elas têm implicação no prognóstico e no tratamento •Com o perfil citogenético e molecular é possível definir três grupos de risco, segundo a ELN (European Leukemia Net): favorável, intermediário e desfavorável (Quadro 426.2). Leucemias Linfoide Crônica (PORTO, 2022) Comprovação diagnóstica •Linfocitose (> 5.000/mm3) + imunofenotipagem típica. Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter426.xhtml#qua426-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter426.xhtml#qua426-2 Diagnóstico diferencial •Linfocitoses reativas (p. ex., infecções virais e após esplenectomia) •Linfocitoses clonais (doenças linfoproliferativas: tricoleucemia, linfomas e leucemias). Exames complementares •Hemograma: linfocitose é a principal característica da doença (> 5.000/mm3) •Os linfócitos patológicos têm morfologia normal e podem parecer “amassados” (smudge cells) •Anemia normocítica e normocrômica em até 20% dos pacientes •Plaquetopenia em 10% •Anemia hemolítica com teste de Coombs direto positivo, fato que pode ocorrer em algum momento da doença •Hipoglobulinemia •Imunofenotipagem: a LLC tem um padrão característico, representado pela marcação de CD19, CD20, CD5 e CD23, que é o principal meio para diferenciá-la de outras doenças linfoproliferativas •Estudo citogenético (cariótipo ou hibridizaçãofluorescente in situ [FISH]) e molecular assumiu maior importância nos últimos anos, uma vez que a identificação da deleção do braço curto do cromossomo 17 (del17 p) ou mutação do p53 tem impacto direto no tratamento. Tratamento Os pacientes assintomáticos devem ser monitorados, iniciando-se o tratamento nas seguintes situações: •Linfonodomegalia > 10 cm ou com aumento progressivo, causando sintomas •Hepatomegalia/esplenomegalia com aumento progressivo ou causando sintomas •Anemia (Hb < 11 g/dℓ) ou plaquetopenia < 100.000/mm3 •Citopenias imunomediadas refratárias a corticoterapia •Linfocitose > 300.000/mm3 ou aumento > 50% em 2 meses. Os escores prognósticos mais bem estabelecidos na LLC são o RAI e o Binet, que utilizam como parâmetros linfocitose, hepatoesplenomegalia, adenomegalias e citopenias (Quadro 426.3). Leucemia Mieloide Crônica (PORTO, 2022) Diagnóstico •Leucocitose persistente inexplicada associada a trombocitose + anormalidade cromossômica Ph em exame de citogenética ou anormalidades moleculares relacionadas com Ph, BCR/ABL por FISH ou por estudos moleculares. Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter426.xhtml#qua426-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter426.xhtml#qua426-3 Diagnóstico diferencial •Reações leucemoides: leucometria geralmente > 50.000, presença de vacuolização granulocítica tóxica, corpúsculos de Döhle nos granulócitos (RER com ribossomo), ausência de basofilia e níveis de fosfatase alcalina leucocitária normal ou elevada •Outras doenças mieloproliferativas ou mielodisplásicas: mielofibrose, policitemia vera, trombocitemia essencial, leucemia mielomonocítica crônica Exames complementares •Hemograma: leucocitose pronunciada constituída de neutrófilos polimorfonucleares maduros, mielócitos ou metamielócitos. Na fase crônica, observa-se menos de 5% de mieloblastos no sangue periférico •Mielograma: medula óssea hipercelular com aumento da relação mieloide/eritroide •Fosfatase alcalina de neutrófilos: diminuída; ausente em 5 a 10% dos casos •Ácido úrico: aumentado •Cariótipo: translocação BCR/ABL (t9; 22 ou cromossomo pH) em 95% dos pacientes •FISH: detecta a translocação BCR/ABL com sonda molecular marcada com anticorpo fluorescente •Reação em cadeia da polimerase (PCR): detecção e quantificação do transcrito BCR/ABL. É útil no diagnóstico e no monitoramento terapêutico. Complicações •Transformação em leucemia aguda •Infarto esplênico. Evolução e prognóstico •Desde a introdução do imatinibe, a mortalidade anual da LMC reduziu de 10 a 20% para 1 a 2% •Sobrevida média de mais de 5 anos após o diagnóstico de 12 a 18 meses depois do início da fase acelerada, e, de 3 meses, após o aparecimento da crise blástica •Fatores de pior prognóstico: idade avançada, hepatomegalia, esplenomegalia volumosa, hiperplaquetemia, hiperleucocitose, evidência de blastos ou quantidade elevada de eosinófilos ou basófilos, aumento de células imaturas na medula óssea de evolução clonal. Referências Bibliográficas Jameson, J., L. et al. Medicina interna de Harrison - 2 volumes. Disponível em: Minha Biblioteca, (20th edição). Grupo A, 2019. Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Grupo GEN, 2021. Porto, Celmo, C. e Arnaldo Lemos Porto. Clínica Médica na Prática Diária. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. Yasmin Ayana 야스민 아야나
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