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Hemofilias l Ob�e��v�� 1- Revisar o processo de coagulação e de herança genética (tipos de hereditariedade); 2- Entender os tipos de hemofilia e sua fisiopatologia; 3- Estudar as manifestações clínicas da hemofilia; 4- Compreender o diagnóstico e tratamento da hemofilia. Pro���s� de Co�g��ação Figura 22.2 • Vias intrínseca e extrínseca de coagulação. As etapas finais nas duas vias são as mesmas. Os íons cálcio, os fatores V e X e os fosfolipídios das plaquetas se combinam para formar um ativador da protrombina que, em seguida, converte a molécula de protrombina em trombina. Essa interação provoca a conversão do fibrinogênio em fios de fibrina, que criam o coágulo insolúvel (PORTH, 2022). A formação do coágulo de fibrina no sítio de lesão endotelial representa processo crítico para a manutenção da integridade vascular. Os mecanismos envolvidos nesse processo, constituintes do sistema hemostático, devem ser regulados para simultaneamente, contrapor-se à perda excessiva de sangue e evitar a formação de trombos intravasculares, decorrentes de formação excessiva de fibrina. O equilíbrio funcional dos diferentes “setores” da hemostasia é garantido por uma variedade de mecanismos, envolvendo interações entre proteínas, respostas celulares complexas, e regulação de fluxosanguíneo. A hemostasia é um processo complexo e dinâmico, que compreende os mecanismos fisiológicos que mantêm a estabilidade do sistema circulatório, e é provocada por meio de diversos mecanismos (Oliveira et al., 2022): • Constrição vascular • Formação de tampão de plaquetas • Formação de coágulo sanguíneo, como resultado da coagulação do sangue, e • Eventual crescimento de tecido fibroso no coágulo, para o fechamento permanente do orifício do vaso. A hemostasia é composta por uma sequência de eventos. e é a tendência existente em alguns organismos para o equilíbrio e conservação de elementos fisiológicos e do metabolismo através de alguns mecanismos de regulação. É um processo bem regulado, complexo e de grande importância para evitar a perda sanguínea, e também para o início do reparo tecidual. Consiste no processo de regulação através do qual um organismo consegue manter o seu equilíbrio. Através desse mecanismo o sangue se mantém nos vasos sanguíneos e fluído, sem que haja hemorragia ou trombos (Oliveira et al., 2022). Formação do tampão plaquetário ocorre no local da lesão, a plaqueta entra em contato com o colágeno vascular e com o Fator de von Willembrand (FVW) promove a agregação das plaquetas. Nessa fase o início do tampão plaquetário é consolidado. A coagulação sanguínea consiste na conversão de uma proteína solúvel do plasma, o fibrinogênio, em um polímero insolúvel, a fibrina, por ação de uma enzima denominada trombina (Oliveira et al., 2022). Via Clássica da Coagulação (OLIVEIRA et al, 2022) Em 1964, Davie & Ratnoff propuseram a cascata de coagulação clássica, na qual a ativação inicial provoca uma reação em cadeia que é amplificada logaritmicamente. O processo de coagulação sanguínea é um evento que envolve uma série de fatores e garante que perdas sanguíneas consideráveis não ocorram, onde participam várias substâncias denominadas fatores de coagulação, é dividida em duas vias: uma via intrínseca, que inclui os seguintes fatores: XII, XI, IX, VIII, precalicreína, e cininogênio de alto peso molecular, e uma via extrínseca, que inclui o fator VII. A cascata da coagulação afirma que esse processo é possível por causa de eventos que ocorrem de maneira sequencial (Roberta et al, 2013). O diagnóstico de hemofilia foi possível em 1953 por Biggs, pois antes disso era realizado apenas com a história clínica do paciente. Pesquisas foram feitas por Biggs sobre Tromboplastina Parcial Ativada (TTPa) (Konkle et al., 2017). A cascata da coagulação é parte do processo hemostático. É um processo por etapas, resultando na conversão do fibrinogênio, que é uma proteína plasmática solúvel, em fibrina. As cadeias insolúveis de fibrina criam uma malha que consolida plaquetas e outros componentes do sangue até formar o coágulo (PORTH, 2022). Muitas substâncias que promovem a coagulação (pró-fatores de coagulação) ou a inibem (fatores anticoagulantes) controlam o processo. Cada um dos fatores de pró-coagulação ou de coagulação identificados por algarismos romanos executa uma etapa específica no processo de coagulação. A ativação de um fator de pró-coagulação ou proenzima é projetada para ativar o próximo fator na sequência (efeito cascata). Como a maioria dos fatores de pró-coagulação inativos se encontra no sangue o tempo todo, o processo de múltiplas etapas assegura que não ocorra um episódio massivo de coagulação intravascular. Isso também significa que há anormalidades no processo de coagulação quando um ou mais fatores são deficientes ou quando as condições conduzem à ativação inadequada de qualquer uma das etapas (PORTH, 2022). A maioria dos fatores de coagulação é composta por proteínas sintetizadas no fígado. Yasmin Ayana 야스민 아야나 A vitamina K é necessária para a síntese dos fatores II, VII, IX e X, protrombina e proteína C. Se houver deficiência de vitamina K ou insuficiência hepática de modo a não produzir quantidades suficientes de protrombina, desenvolve-se uma tendência ao sangramento.1 No processo de coagulação, o cálcio (fator IV) é necessário em todas as etapas, menos nas duas primeiras.1 Geralmente o organismo tem uma quantidade suficiente de cálcio para essas reações. A inativação dos íons cálcio impede a coagulação do sangue quando esse é removido do organismo. A adição de citrato ao sangue armazenado para fins de transfusão impede a coagulação por fazer a quelação do cálcio iônico. Outro agente quelante, o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), é frequentemente adicionado a amostras de sangue enviadas para laboratório de análises clínicas (PORTH, 2022). O processo de coagulação é resultante da ativação do que tem sido tradicionalmente chamado de vias intrínseca e extrínseca, ambas as quais formam o ativador de protrombina1,3,4 (Figura 22.2). A via intrínseca, que é um processo relativamente lento (pode provocar a coagulação em 1 a 6 min), inicia-se na prática, com a ativação do fator XII.1 A via extrínseca, que é um processo muito mais rápido (pode provocar a coagulação em 15 s), inicia-se a partir de um traumatismo vascular ou dos tecidos circundantes, assim como da liberação do fator tecidual ou tromboplastina tecidual, uma lipoproteína adesiva, encontrada nas células subendoteliais.1,3 É composta por fosfolipídios da membrana, juntamente com um complexo de lipoproteína que atua como enzima proteolítica.1 As etapas finais nas duas vias são iguais: a ativação do fator X e a conversão da protrombina em trombina. A trombina, em seguida, funciona como uma enzima para converter o fibrinogênio em fibrina, material que estabiliza o coágulo. As duas vias são necessárias ao processo normal de hemostasia e existem muitas inter-relações entre elas. Cada sistema é ativado quando o sangue deixa o compartimento vascular. O sistema intrínseco é ativado quando o sangue entra em contato com colágeno na parede de um vaso lesionado. O sistema extrínseco é ativado quando o sangue é exposto a extratos de tecidos. No entanto, o sangramento por causa de defeitos no sistema extrínseco geralmente não é tão grave como o que resulta de defeitos na via intrínseca (PORTH, 2022). A coagulação sanguínea é regulada pela ação de vários anticoagulantes naturais. A antitrombina III inativa fatores de coagulação e neutraliza a trombina, a última enzima na via de conversão de fibrinogênio em fibrina. Quando a antitrombina III forma um complexo com a heparina de ocorrência natural, sua ação é acelerada para inativar a trombina, o fator Xa e outros fatores de coagulação. Esse complexo de ativação proporciona uma proteção contra a formação descontrolada de trombos sobre a superfície endotelial (PORTH, 2022).1,5 A proteína C, uma proteína plasmática, atua como anticoagulante por meio da inativação dos fatores V e VIII. A proteína C ou antígenoPC (fator V de Leiden) é produzida no fígado e evita o desenvolvimento de trombose. A deficiência de proteína C é congênita em 35 a 58% dos casos, mas também pode ser adquirida quando se tem insuficiência hepática grave, deficiência de vitamina K ou quando há doença maligna.8 Esse distúrbio é um defeito hereditário no fator V e aumenta o risco de coagulação. É capaz de ser medido por um teste de resistência à proteína C, e a faixa normal deve variar entre 0,60 e 1,25 dos valores normais para o antígeno PC.8 Mulheres com fator V de Leiden, combinado com a influência pró-trombótica de uma gestação, correm alto risco de complicações obstétricas, como distúrbios de tromboembolia venosa (TEV), pré-eclâmpsia, perda fetal e descolamento prematuro da placenta (PORTH, 2022).6 A proteína S, outra proteína plasmática, acelera a ação da proteína C. Uma deficiência tanto da proteína C quanto da proteína S coloca a pessoa em risco de trombose. Deve ser realizado um teste de proteína S para determinar se a deficiência é hereditária ou adquirida, pois muitas vezes pessoas com doenças autoimunes estão em risco de deficiência de proteína S.4 O intervalo normal para o sexo feminino fica entre 0,50 e 1,20 da atividade normal e para os homens o intervalo vai de 0,60 a 1,30 (PORTH, 2022). A plasmina degrada a fibrina em subprodutos que atuam como anticoagulantes. Sugere-se que alguns desses anticoagulantes naturais possam desempenhar um papel na hemorragia que ocorre nos casos de coagulação intravascular disseminada (CID), (PORTH, 2022). Fármacos anticoagulantes, como varfarina e heparina, são usados para evitar doenças tromboembólicas (p. ex., trombose venosa profunda e embolia pulmonar). A varfarina atua diminuindo os níveis de protrombina e de outros fatores pró-coagulação. Ela altera a estrutura da molécula de vitamina K de maneira a reduzir sua capacidade de participação na síntese de fatores de coagulação dependentes de vitamina K no fígado. A varfarina é prontamente absorvida após administração oral. Seu efeito máximo leva de 36 a 72 h por causa das diferentes meias-vidas dos fatores de coagulação pré-formados que permanecem na corrente sanguínea. A heparina é naturalmente formada e liberada em pequenas quantidades pelos mastócitos no tecido conjuntivo que envolve os capilares. Preparações farmacológicas de heparina são extraídas de tecidos animais. A heparina se liga à antitrombina III, causando uma alteração em sua conformação que aumenta a capacidade da antitrombina III de inativar a trombina, fator Xa e outros fatores de coagulação. Ao promover a inativação dos fatores de coagulação, em última análise, a heparina suprime a formação de fibrina. A heparina é incapaz de atravessar as membranas do sistema digestório e deve ser administrada por via parenteral, geralmente por meio de infusão intravenosa. Têm sido desenvolvidas heparinas de baixo peso molecular que inibem a ativação do fator X, mas têm pouco efeito sobre a trombina e outros fatores de coagulação. As heparinas de baixo peso molecular são administradas por injeção subcutânea e requerem doses e acompanhamento menos frequente em comparação com a heparina padrão (não fracionada) (PORTH, 2022). A varfarina tem uma janela terapêutica estreita, com muitas complicações potenciais. Além disso, a pessoa precisa realizar frequentemente testes laboratoriais para verificar o tempo de protrombina e a razão normalizada internacional (RNI).8 Portanto, novos anticoagulantes orais (NOAC) foram desenvolvidos. O mecanismo de ação desses novos anticoagulantes é mais específico do que o dos antagonistas da vitamina K – os NOAC inibem o fator da coagulação IIa ou o fator Xa ativado. As vantagens dos NOAC incluem o rápido início de ação, um número menor de interações com alimentos e outros fármacos e o efeito anticoagulante mais previsível (PORTH, 2022).9 Retração do coágulo (PORTH, 2022) Normalmente a retração do coágulo ocorre 20 a 60 min após sua formação, contribuindo para a hemostasia ao retirar soro do coágulo e aproximar as bordas do vaso rompido.1 As plaquetas, pela ação de seus filamentos de actina e miosina, também contribuem para a retração do coágulo e a hemostasia. A retração do coágulo requer um grande número de plaquetas; uma falha na retração do coágulo indica uma baixa contagem de plaquetas (PORTH, 2022). Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml#fig22-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref1 Dissolução do coágulo (PORTH, 2022) A dissolução de um coágulo sanguíneo começa logo após sua formação. Isso possibilita que o fluxo sanguíneo seja restabelecido e que ocorra a reparação permanente do tecido. O processo pelo qual um coágulo sanguíneo se dissolve é chamado fibrinólise. Tal como acontece na formação do coágulo, sua dissolução requer uma sequência de etapas controladas por ativadores e inibidores. O plasminogênio, a proenzima do processo de fibrinólise, normalmente está no sangue em sua forma inativa. É convertido na forma ativa, a plasmina, por ativadores de plasminogênio formados no endotélio vascular, fígado e rins. A plasmina formada a partir do plasminogênio digere as cadeias de fibrina do coágulo e determinados fatores de coagulação, como fibrinogênio, fator V, fator VIII, protrombina e fator XII. A plasmina encontrada na corrente sanguínea é rapidamente inativada pelo inibidor α2 de plasmina, limitando o processo de fibrinólise ao sítio de coagulação e impede que aconteça em toda a circulação (PORTH, 2022).10 Dois ativadores de plasminogênio que ocorrem naturalmente são ativadores do plasminogênio do tipo tecidual e do tipo uroquinase. O fígado, o plasma e o endotélio vascular são as principais fontes de ativadores fisiológicos. Esses ativadores são liberados em resposta a uma série de estímulos, como substâncias vasoativas, oclusão venosa, temperatura corporal elevada e exercícios. Os ativadores são moléculas instáveis e rapidamente são inativados por inibidores sintetizados pelo endotélio e fígado. Por esse motivo, uma doença hepática crônica é capaz de causar alterações na atividade fibrinolítica. Um dos principaisinibidores, o inibidor 1 do ativador do plasminogênio, em altas concentrações tem sido associado ao desenvolvimento de trombose venosa profunda, doença arterial coronariana e infarto do miocárdio.1 Vários ativadores de plasminogênio tecidual (alteplase, reteplase, tenecteplase), produzidos por tecnologia de DNA recombinante, estão disponíveis para uso no tratamento do infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico isquêmico agudo e embolia pulmonar (PORTH, 2022). Hemostasia, que se refere à interrupção do fluxo sanguíneo, é dividida em três etapas (PORTH, 2022): 1.Vasoconstrição 2.Formação do tampão plaquetário 3.Desenvolvimento de um coágulo sanguíneo, como resultado do processo de coagulação. A retração do coágulo e a dissolução do coágulo também são importantes para a hemostasia. O processo envolve a interação de substratos, enzimas, cofatores de proteínas e íons cálcio encontrados na corrente sanguínea ou liberados pelas plaquetas e pelas células da parede vascular. Vasoconstrição (PORTH, 2022) A lesão de um vaso sanguíneo provoca a contração da musculatura lisa da parede vascular. Isso reduz instantaneamente o fluxo de sangue criado pela ruptura do vaso. Tanto reflexos nervosos locais quanto fatores humorais locais, como TXA2, que é liberado das plaquetas, contribuem para a vasoconstrição (PORTH, 2022). Formação do tampão plaquetário (PORTH, 2022) Segundos após a lesão vascular, o FvW, liberado pelo endotélio, se liga a receptores plaquetários, promovendo a adesão de plaquetas às fibras colágenas expostas (no detalhe). À medida que as plaquetas aderem às fibras de colágeno na parede dos vasos danificados, tornam-se ativadas e liberam ADP e TXA2. O ADP e o TXA2 atraem outras plaquetas, o que resulta em agregação plaquetária. Coagulação do sangue (PORTH, 2022) A coagulação sanguínea é um processo complexo que envolve a ativação sequencial de vários fatores existentes no sangue. Há duas vias de coagulação: (1) a via intrínseca, que começa na circulação e é iniciada por ativação do fator XII; e (2) a via extrínseca, que é ativada por uma lipoproteína celular chamada fator tecidual, que fica exposto quando os tecidos são lesionados. As duas vias conduzem a ativação do fator X, conversão de protrombina em trombina e conversão do fibrinogênio em fios insolúveis de fibrina que mantêm o coágulo unido. Além disso, ocorrem dois processos descritos a seguir, para viabilizar a dissolução do coágulo recém-formado. Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter22.xhtml?favre=brett#ref1 Retração do coágulo (PORTH, 2022) Em um intervalo de alguns minutos após a formação do coágulo, a actina e a miosina nas plaquetas presas ao coágulo começam a se contrair de modo semelhante a uma contração muscular. Como resultado, as cadeias de fibrina dos coágulos são puxadas em direção às plaquetas, espremendo assim o soro (plasma sem fibrinogênio) do coágulo e fazendo-o encolher. Dissolução do coágulo ou lise (PORTH, 2022) Após a formação do coágulo, segue-se a sua dissolução. Começa com a ativação de plasminogênio, um precursor inativo da plasmina, uma enzima proteolítica. Quando se forma um coágulo, grandes quantidades de plasminogênio são retidas no local. A liberação lenta de um ativador muito poderoso chamado ativador do plasminogênio tissular (t-PA) feita pelos tecidos lesionados e pelo endotélio vascular converte o plasminogênio em plasmina, que digere as cadeias de fibrina e dissolve o coágulo. A hemostasia é concebida para manter a integridade do compartimento vascular. O processo é dividido em três fases: vasoconstrição, que contrai o vaso e reduz o fluxo sanguíneo; adesão plaquetária e formação do tampão de plaquetas; e formação do coágulo de fibrina, que mantém unido o tampão de plaquetas. A retração do coágulo, que une as extremidades do vaso lesionado, e a dissolução, que envolve a ação da plasmina para dissolver o coágulo e tornar possível o restabelecimento do fluxo sanguíneo e a cicatrização do tecido, também são fases importantes no processo de hemostasia. A coagulação do sangue requer uma ativação sequencial de fatores de coagulação, cuidadosamente controlada por ativadores e inibidores (PORTH, 2022). Her��ça Genéti�� As doenças genéticas humanas podem ser classificadas, de modo amplo, em três categorias (KUMAR, 2016): • Doenças relacionadas a mutações em um único gene com amplos efeitos. Essas mutações causam a doença ou predispõem à doença e, com algumas exceções, como as hemoglobinopatias, tipicamente não estão presentes na população normal. Tais mutações e suas doenças associadas têm alta penetrância, significando que a presença da mutação associa-se com a doença em uma grande parte dos indivíduos. Como essas doenças são causadas por mutações em um único gene, elas geralmente obedecem ao padrão mendeliano clássico de herança e são também conhecidas como doenças mendelianas. Algumas exceções importantes a essa regra são discutidas adiante. O estudo dos genes individuais e das mutações com amplos efeitos tem sido extremamente instrutivo para a medicina, já que grande parte do conhecimento sobre muitos processos fisiológicos (p. ex., transporte de colesterol, secreção de cloreto) tem sido oriunda da análise das doenças monogênicas. Embora instrutivas, essas doenças são geralmente raras, a menos que elas sejam mantidas em uma população por significativas forças seletivas (p. ex., anemia falciforme em áreas onde a malária é endêmica, Cap. 14). • Doenças cromossômicas. Essas doenças surgem a partir de alterações estruturais ou numéricas nos cromossomos autossomos e sexuais. Como nas doenças monogênicas, são incomuns, mas associadas com alta penetrância. • Doenças multigênicas complexas. Essas doenças são muito mais comuns do que as doenças nas duas categorias previamente mencionadas. As doenças multigênicas complexas são causadas por interações entre múltiplas formas variantes de genes e fatores ambientais. Essas formas variantes de genes são comuns na população e são chamadas de polimorfismos. Cada forma variante de um gene confere um pequeno aumento no risco da doença, e a suscetibilidade individual de cada gene não é suficiente ou necessária para produzir a doença. A doença ocorre somente quando muitos desses polimorfismos estão presentes no indivíduo, daí o termo poligênico ou multigênico. Portanto, ao contrário dos genes mutantes, que são altamente penetrantes e originam as doenças mendelianas, cada polimorfismo tem um pequeno efeito e possui baixa penetrância. Como as interações ambientais são importantes na patogenia dessas doenças, elas também são chamadas de doenças multifatoriais. Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000143.xhtml#c0070 Estão presentes nessa categoria algumas das doenças mais comuns que afligem os seres humanos, como a aterosclerose, o diabetes melito, a hipertensão e as doenças autoimunes. Mesmo características normais, como altura e peso, são governadas por polimorfismos em vários genes. Padrões de Transmissão de Doenças Monogênicas (KUMAR, 2016) ● Desordens autossômicas dominantes são caracterizadas pela expressão no estado heterozigoto; elas afetam homens e mulheres igualmente, e ambos os sexos podem transmitir a desordem. ● Proteínas enzimáticas não são afetadas nas desordens autossômicas dominantes; ao contrário, receptores e proteínas estruturais são envolvidos. ● Doenças autossômicas recessivas ocorrem quando ambas as cópias de um gene estão mutadas; proteínas enzimáticas são frequentemente envolvidas. Homens e mulheres são igualmente afetados. ● Desordens ligadas ao X são transmitidas pelas fêmeas heterozigotas para os seus filhos, os quais manifestam a doença. As fêmeas carreadoras geralmente são protegidas por causa da inativação ao acaso de um cromossomo X. Imagem representativa do padrão deherança dominante. Imagem representativa do padrão de herança autossômico recessivo. Imagem representativa do padrão de herança ligada ao X. Yasmin Ayana 야스민 아야나 Resuminho Existem diferentes tipos de hereditariedade que podem ser observados na transmissão de características genéticas de uma geração para outra. Aqui estão alguns dos principais tipos de hereditariedade: 1. Herança autossômica dominante: Nesse tipo de herança, um único alelo dominante em um par de cromossomos autossômicos é suficiente para expressar a característica ou condição genética. Isso significa que, se um dos pais tiver o alelo dominante, há 50% de chance de que o filho também o tenha. Exemplos de doenças hereditárias autossômicas dominantes incluem a doença de Huntington e a neurofibromatose tipo 1. 2. Herança autossômica recessiva: Na herança autossômica recessiva, a característica ou condição genética só é expressa quando um indivíduo herda dois alelos recessivos para essa característica. Os pais podem ser portadores assintomáticos do alelo recessivo, mas quando ambos transmitem o alelo recessivo para o filho, a condição é manifestada. A fibrose cística e a doença falciforme são exemplos de doenças hereditárias autossômicas recessivas. 3. Herança ligada ao cromossomo X: Esse tipo de herança está associado aos genes localizados no cromossomo X. Como as mulheres têm dois cromossomos X, elas podem ser portadoras de um gene recessivo em um cromossomo X sem expressar a condição. No entanto, os homens têm apenas um cromossomo X, o que significa que se herdarem um gene recessivo ligado ao cromossomo X, eles manifestarão a condição. A hemofilia e a distrofia muscular de Duchenne são exemplos de condições hereditárias ligadas ao cromossomo X. 4. Herança ligada ao cromossomo Y: Esse tipo de herança ocorre quando um gene está localizado no cromossomo Y e é transmitido exclusivamente de pai para filho. Como apenas os homens têm o cromossomo Y, as características hereditárias ligadas ao cromossomo Y são exclusivamente masculinas. Um exemplo é a calvície masculina. 5. Herança mitocondrial: A herança mitocondrial envolve a transmissão de características genéticas através do DNA mitocondrial, que é passado de mãe para filho. Isso ocorre porque as mitocôndrias, que contêm seu próprio DNA, são herdadas principalmente do óvulo materno. Portanto, as características mitocondriais são transmitidas de uma mãe para todos os seus filhos. Exemplos de condições genéticas mitocondriais incluem a neuropatia óptica hereditária de Leber (LHON) e algumas formas de surdez. Esses são apenas alguns dos tipos mais comuns de hereditariedade, e a transmissão de características genéticas pode ser mais complexa em muitos casos, envolvendo a interação de múltiplos genes e fatores ambientais. (HOFFBRAND, 2018) Yasmin Ayana 야스민 아야나 Tip�� de Hem�fi��a A hemofilia, em seus subtipos A e B, é uma doença genética recessiva rara, ligada ao cromossomo X e, por isso, afeta quase especificamente o sexo masculino. Se trata de uma doença genético-hereditária que tem como principal característica o retardo no tempo de coagulação do sangue. É causada por uma anormalidade em algum dos 14 fatores de coagulação do sangue que não trabalha de maneira adequada pelas deficiências dos fatores VIII e IX de coagulação. Quando os genes que são responsáveis por codificar os fatores VIII ou IX da coagulação sofrem mudanças genéticas, a hemofilia obtida é de forma hereditária. A adquirida é desenvolvida por auto anticorpos que são associados à doenças autoimunes. Além disso, pode ser classificada a partir da quantidade dos fatores deficitários circulantes no plasma em três categorias: grave (menor do que 1%); moderada (de 1% a 5%) e leve (acima de 5%) (Oliveira et al., 2022). CAUSAS E FATORES DE RISCO (PORTO, 2022): •História familiar positiva em 70% dos casos •Os tipos A e B da hemofilia são hereditários como caráter recessivo ligado ao cromossomo X. Estima-se que a frequência da hemofilia é em cerca de um em cada 10.000 nascimentos. Em países em que as ferramentas de diagnóstico estão mais disponíveis é possível observar um grau elevado de incidência, por conta principalmente do diagnóstico. A incidência anual está estimada em 1/5000 portadores vivos do sexo masculino e a prevalência está estimada em 1/12000. A hemofilia afeta principalmente indivíduos do sexo masculino, mas as mulheres portadoras de mutações causadoras da doença podem também manifestar formas geralmente mais leves da doença. Essa doença acometeaproximadamente 400.000 pessoas no mundo, sendo a hemofilia A (80-85%) mais comum que a hemofilia B (Oliveira et al., 2022). Fis���a��l��i� da Hem�fi��a A hemofilia pode ser hereditária, congênita ou raramente adquirida. Na doença hereditária, há anormalidade ou deficiência do fator VIII (85% dos casos) ou do IX (15% dos casos), devido à alteração nos genes codificantes das proteínas que os constituem. Enquanto nomeia-se hemofilia, a doença que acomete o fator VIII é um dos distúrbios hemorrágicos hereditários mais comuns e pode apresentar-se sob graus variáveis de deficiência, resultando em tempo prolongado de coagulação sanguínea, a versão que afeta o fator IX é nomeada hemofilia B ou doença de Christmas. Também é importante ressaltar que o nível das hemorragias varia de acordo com o nível da deficiência genética (Oliveira et al., 2022). Como esses fatores são transmitidos por meio de traço recessivo ligado ao cromossomo X, a doença é quase exclusiva da população masculina. Contudo, mulheres homozigotas para o traço da doença também são acometidas. Além disso, heterozigotas que sofrem com as hemorragias também vêm sendo descritas na literatura, crê-se que por conta da inativação do cromossomo X normal na maioria das células (Oliveira et al., 2022). Na hemofilia A ocorre a deficiência do fator VIII (FVIII), e na hemofilia B, do fator IX (FIX). Ambas as doenças são de transmissão genética, ligadas ao cromossomo X, portanto, têm manifestações clínicas, na maioria dos casos, nos indivíduos do sexo masculino. Abaixo, a representação da hereditariedade da hemofilia através do quadro demonstrativo (Oliveira et al., 2022). A alteração acontece especificamente no braço longo do cromossomo X, sendo que na hemofilia A o gene comprometido, relacionado à síntese do fator VIII, está em Xq28 e é organizado em 26 éxons e, logo, 25 íntrons. Nesse tipo de hemofilia, 40% dos casos são provenientes de inversão do íntron 22. Já na hemofilia B, o gene comprometido, relacionado à síntese do fator IX, está em Xq27 e é organizado em 8 éxons e, logo, 7 íntrons (Oliveira et al., 2022). Já na versão adquirida, responsável por 30% dos casos, há a produção de anticorpos contra os fatores de coagulação, especialmente contra o fator VIII, são os chamados inibidores de coagulação. Diferentemente das hemofilias mais prevalentes, a hemofilia adquirida, por não ter caráter hereditário, costuma aparecer após a quarta década de vida dos pacientes, e não desde a infância, além de seguir proporções semelhantes em ambos os sexos (Oliveira et al., 2022). Man����tações Clíni��� da Hem�fi��a O quadro clínico da hemofilia A é caracterizado por sangramentos nas articulações (hemartroses), na pele, nos Yasmin Ayana 야스민 아야나 músculos, no trato gastrointestinal, no sistema nervoso central ou em qualquer outro local, afetado normalmente por traumatismos, baques, quedas, extrações dentárias e cirurgias. O quadro clínico diferenciado da Hemofilia B pode ser percebido pelas diferentes mutações, onde manifesta hemorragias, sinais e sintomas de hemofilia na infância, mas que na puberdade apresenta um regresso. Clinicamente, a hemofilia se manifesta por contusões, hemartroses (sangramentos intra-articulares), sangramento nos músculos, sangramentos espontâneos e sangramentos prolongados depois de cortes, sendo as hemofilias A e B indistinguíveis. O grau de deficiência do fator varia de acordo com a gravidade das manifestações hemorágicas nas hemofilias. São encontrados três graus de severidade da doença:grave, moderado e leve, os portadores de hemofilia severa possuem atividade coagulante de fator VIII ou IX abaixo de 1% do normal, os portadores de hemofilia moderadamente severa possuem atividade entre 1 a 5% do normal e os portadores de hemofilia leve possuem atividade entre 5 e 30% do normal. Estes dados refletem a existência de diferentes alelos anormais, capazes de manter níveis diferentes de atividade de fator VIII ou IX. Nos quadros graves e moderados, os sangramentos repetem-se espontaneamente. Em geral, são hemorragias intramusculares e intra-articulares que desgastam primeiro as cartilagens e depois provocam lesões ósseas. Os principais sintomas são dor forte, aumento da temperatura e restrição de movimento. As articulações mais comprometidas costumam ser joelho, tornozelo e cotovelo. Nos quadros leves, o sangramento ocorre em situações como cirurgias, extração de dentes e traumas (Oliveira et al., 2022). Manifestações Clínicas (Porto, 2022) •Sangramento nas articulações de sustentação do peso, principalmente joelhos e em músculos e tecidos moles. O sangramento pode ocorrer após traumatismo, nas formas leve e moderada ou de maneira espontânea na forma grave (Figura 424.1) Figura 424.1 Hemorragias de risco com localização em músculos ou em partes moles que podem evoluir para complicações graves (síndrome compartimental) e/ou perda de função do membro acometido. •Síndrome de compartimentalização e lesão nervosa isquêmica em consequência da formação de hematomas em espaços fechados •Sangramentos repetidos em uma articulação provocam sinovite crônica, fibrose e anquilose articular, artropatia hemofílica (Figura 424.2) Figura 424.2 Ressonância magnética de tornozelo mostrando destruição da articulação tibiotalar com focos de hemossiderina causados por sangramento de repetição (seta). •Outros locais de sangramento incluem os sistemas geniturinário e digestório •Hemorragia do sistema nervoso central, geralmente pós-traumática, porém pode ser espontânea. Complicações (PORTO, 2022) •Transfusões de sangue têm risco de transmissão de hepatite viral e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) •Os concentrados dos fatores VIII e IX derivados de plasma têm possibilidade de transmissão de agentes virais •Atualmente, a maior parte dos pacientes no Brasil, utiliza o concentrado de fator VIII recombinante para a hemofilia A. O Ministério da Saúde avalia a possibilidade de incorporação do concentrado de fator IX recombinante para a hemofilia B •Hemofilia A: 10 a 20% dos pacientes graves desenvolvem inibidores do fator VIII •Os inibidores do tipo I (pacientes com alta resposta) neutralizam rapidamente o fator VIII e impedem eficácia da terapia •Os inibidores do tipo II (pacientes com baixa resposta) ocorrem em baixos títulos e podem responder a doses de fator VIII maiores do que as normais •Hemofilia B: 1 a 5% dos pacientes graves desenvolvem inibidores do fator IX. Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter424.xhtml#fig424-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter424.xhtml#fig424-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter424.xhtml#fig424-2 Di�g�ós�i�� da Hem�fi��a Comprovação diagnóstica (PORTO, 2022): •Dados clínicos + exames hematológicos. Diagnóstico Diferencial (PORTO, 2022) •Doença de von Willebrand (DvW) (ver Capítulo 423, Doença de von Willebrand) •Deficiência de outros fatores da coagulação: afibrinogenemia, desfibrinogenemia, alterações fibrinolíticas e plaquetárias, inclusive por medicamentos. Exames Complementares (PORTO, 2022) •Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa): prolongado (este tempo é corrigido quando se mistura o plasma do paciente com plasma normal) •Contagem de plaquetas e tempo de protrombina (TP): normais •Fator VIII: diminuído nos casos da hemofilia A •Fator IX: diminuído nos casos da hemofiliaB. Diagnóstico Clínico (Oliveira et al., 2022) Clinicamente, as hemofilias A e B são literalmente semelhantes, o histórico familiar é importante e a intensidade dos sintomas varia de acordo com o grau de severidade da doença, conforme a classificação estabelecida pela International Society of Thrombosis and Haemostasis. Pacientes com a forma leve da doença sangram somente após grandes traumas ou cirurgias; aqueles com hemofilia moderada sangram após traumas médios ou cirurgias e os portadores de hemofilia severa podem sangrar espontaneamente (Zago, 2013). Diagnóstico Laboratorial (Oliveira et al., 2022) O diagnóstico laboratorial da hemofilia baseia-se no resultado de TTPA (tempo de tromboplastina parcial ativada) prolongado e deficiência de um dos fatores de coagulação. O TTPA valia as vias intrínseca e comum da cascata da coagulação (pré-calicreína, cininogênio de alto peso molecular, fatores XII, XI, IX, VIII, X, V, protrombina e fibrinogênio). O TTPA mostra-se mais sensível à deficiências dos fatores VIII e IX ou fatores da via comum. O coagulograma é um conjunto de exames que deve ser solicitado pelo médico ou dentista para verificar se a coagulação do paciente está normal, sendo fundamental em pré-operatórios. Os testes laboratoriais com resultados anormais são: tempo de coagulação (TC) aumentado, tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPA) aumentado, teste de geração da tromboplastina alterado, consumo de protrombina alterado com protrombina residual do soro aumentado, dosagem dos fatores VIII ou IX alterada com taxas variáveis (Zago, 2013). É realizado o diagnóstico nas famílias que possuem hemofilia na forma severa ou moderada e precisa ser iniciado pela determinação do sexo do feto. Para esse procedimento há disponível dois meios: um se dá através de uma ecografia após 11 semanas de gestação e o outro através da identificação de DNA livre do feto no sangue materno após 7 a 9 semanas, sendo que pela identificação do DNA pode-se confirmar o sexo do feto. Sendo do sexo feminino, a realização de mais exames não é indicada, sendo do sexo masculino, outros exames de genética molecular podem ser feitos, entre 9 e as 14 semanas em amostras de vilosidades coriônicas, outra alternativa, poderá realizar-se amniocentese entre as 15 e as 18 semanas de gestação (Costa, 2015). As novas técnicas que vem sendo desenvolvidas dentro do diagnóstico tem a função de realizar com maior especificidade funções como: análise dos genes F8 (HA) e F9 (HB), inserções e mutações conhecidas ou novas, quantificação do fator VIII. Esses resultados ao serem relacionados com quadro clínico do paciente e outros exames podem auxiliar posteriormente na melhor forma de tratamento e até mesmo ser utilizado como forma de evitar possíveis agravos na evolução da doença (Oliveira et al, 2022). Tra����n�o da Hem�fi��a O tratamento inclui (PORTO, 2022): Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter423.xhtml •Orientar o paciente e a família sobre cuidados a serem tomados •Evitar o uso de ácido acetilsalicílico e outros medicamentos que interfiram na coagulação (anti-inflamatórios não esteroides [AINEs], ácido mefenâmico, anticoagulantes e antiagregantes plaquetários) •Boa assistência dentária. No Quadro 424.1 é apresentado o tratamento das intercorrências hemorrágicas. Tratamento Medicamentoso (PORTO, 2022) •Hemofilia A: fator VIII recombinante para pacientes com hemofilia A •Hemofilia B: fator IX purificado com anticorpos monoclonais para pacientes com hemofilia B. O Ministério da Saúde estuda a incorporação do concentrado de fator IX recombinante para pacientes com hemofilia B •Ácido épsilon aminocaproico: pode ser utilizado em pequenos procedimentos dentários após uma única infusão do fator VIII ou IX. TERAPIA NÃO TRANSFUSIONAL DA HEMOFILIA DDAVP (1-Amino-8-D-arginina vasopressina) A DDAVP é um análogo sintético da vasopressina que produz elevações transitórias dos níveis do FVIII e do fator de von Willebrand (FvW), mas não do FIX, por um mecanismo que envolve aliberação desses fatores pelas células endoteliais. Os pacientes com hemofilia A leve ou moderada devem fazer um teste para determinar se irão responder à DDAVP antes de iniciar o tratamento. Quando administrada em doses de 0,3 μg/kg de peso corporal, por um período de 20 minutos, espera-se que a DDAVP eleve em 2 a 3 vezes os níveis de FVIII em comparação com os valores basais, alcançando um valor máximo entre 30 e 60 minutos depois da infusão. A DDAVP não aumenta os níveis do FVIII dos pacientes com hemofilia A grave, visto que não há reservas para sua liberação. A aplicação de doses repetidas da DDAVP causa taquifilaxia, visto que o mecanismo de ação envolve aumentar a liberação, e não a síntese. A aplicação de mais de três doses consecutivas torna-se ineficaz, e, se for necessário tratamento adicional, o FVIII deve ser administrado para conseguir a hemostasia (JAMESON, 2019). Agentes antifibrinolíticos Os sangramentos gengivais, gastrintestinais e durante procedimentos cirúrgicos da cavidade oral devem ser tratados com agentes antifibrinolíticos orais, inclusive o ácido ε-aminocaproico (EACA) ou o ácido tranexâmico, para controlar a hemostasia local. Dependendo da indicação clínica, a duração do tratamento é de 1 semana ou mais. O ácido tranexâmico é administrado em doses de 25 mg/kg 3 a 4 vezes ao dia. O tratamento com EACA consiste em uma dose de ataque de 200 mg/kg (máximo de 10 g), seguida de 100 mg/kg por dose (máximo de 30 g/dia) a cada 6 horas. Esses fármacos não estão indicados para controlar a hematúria, tendo em vista o risco de formação de trombos obstrutivos no lúmen das estruturas do trato urogenital (JAMESON, 2019). COMPLICAÇÕES Formação de inibidores Hoje, a produção de aloanticorpos contra o FVIII ou o FIX é a complicação principal do tratamento da hemofilia. A prevalência de inibidores do FVIII é estimada em cerca de 30% dos pacientes com hemofilia A grave e 10% entre aqueles com hemofilia A não grave. Os inibidores do FIX são detectados em apenas 3 a 5% de todos os pacientes com hemofilia B. O grupo de alto risco para a formação de inibidores inclui pacientes com deficiência grave (> 80% de todos os casos com inibidores), história familiar de inibidor, descendência africana, mutações do gene do FVIII ou do FIX, resultando em deleção de grandes regiões de codificação, ou rearranjos grosseiros de genes. Em geral, os inibidores são produzidos nos primeiros anos de vida (em média, 2 anos de idade) e depois de 10 dias de exposição cumulativa. Entretanto, a terapia de reposição intensiva, como aquela usada em cirurgia de grande porte, sangramento intracraniano ou traumatismo, aumenta o risco de formação de inibidores em pacientes de todas as idades, bem como a intensidade da gravidade clínica, exigindo monitoramento laboratorial rigoroso nas semanas seguintes (JAMESON, 2019). O diagnóstico clínico dos inibidores deve ser considerado quando os pacientes não respondem à reposição do fator em doses terapêuticas. Os inibidores aumentam a morbidade e a mortalidade associadas à hemofilia. Como a detecção precoce do inibidor é fundamental ao controle eficaz do sangramento ou à erradicação do anticorpo, a maioria dos centros especializados em hemofilia realiza uma triagem anual para inibidores. O exame laboratorial necessário para confirmar a presença de um inibidor é um TTPa com mistura (com plasma normal). Na maioria dos pacientes hemofílicos, uma mistura de 1:1 com plasma normal corrige completamente o TTPa. Nos pacientes com inibidores, o TTPa em uma mistura de 1:1 está anormalmente prolongado, uma vez que o inibidor neutraliza a atividade coagulante do FVIII presente no plasma normal. O ensaio de Bethesda baseia-se em um princípio semelhante e define a especificidade do inibidor e seu título. Os resultados são expressos em unidades Bethesda (UB), e 1 UB equivale à quantidade de Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527738903/epub/OEBPS/Text/chapter424.xhtml#qua424-1 anticorpo necessária para neutralizar 50% do FVIII ou do FIX presente no plasma normal depois de 2 horas de incubação a 37°C. Clinicamente, os pacientes com inibidores são classificados como respondedores baixos ou altos, e isso fornece orientação ao tratamento ideal. O tratamento dos pacientes com inibidores tem dois objetivos, que consistem em controlar os episódios hemorrágicos agudos e erradicar o inibidor. Para o controle dos episódios hemorrágicos, os baixos respondedores, aqueles com título < 5 UB, respondem bem às doses altas do FVIII humano ou suíno (50-100 U/kg), com aumento mínimo ou nulo dos títulos do inibidor. Entretanto, os pacientes altos respondedores, aqueles com título inicial do inibidor > 5 UB ou resposta anamnésica no título do anticorpo para > 5 UB, mesmo quando os títulos estão inicialmente baixos, não respondem aos concentrados de FVIII ou de FIX. Em pacientes com alta resposta, o controle dos episódios hemorrágicos pode ser obtido com o uso de concentrados enriquecidos com protrombina, FVII, FIX, FX (concentrados de complexo protrombínico [CCPs] ou CCPs ativados [CCPas]) e, mais recentemente, fator VII ativado (FVIIa), conhecidos como “agentes de bypass” (Fig. 112-1). Para pacientes com inibidores do FIX, podem ser administradas altas doses de FIX (<5 UB); entretanto, as reações alérgicas ou anafiláticas são comuns nos casos com inibidores do FIX, de modo que produtos de bypass devem ser utilizados para tratar ou prevenir o sangramento, bem como para os casos com altos títulos de inibidores. Para erradicação do anticorpo inibidor, a imunossupressão isoladamente não é eficaz. A estratégia mais efetiva consiste em indução de tolerância imune (ITI), com base na infusão diária da proteína deficiente até o desaparecimento do inibidor, o que normalmente exige períodos de > 1 ano, com índices de sucesso de cerca de 60%. O tratamento de pacientes com hemofilia A grave e com inibidores resistentes à ITI representa um desafio. Acreditava-se que o uso do anticorpo monoclonal anti-CD20 (rituximabe) combinado com a ITI fosse efetivo. Embora essa terapia possa reduzir os títulos de inibidores em alguns casos, a erradicação duradoura é incomum (JAMESON, 2019). Novas abordagens terapêuticas em desenvolvimento para a hemofilia Os estudos clínicos de fatores da coagulação de ação longa com meias-vidas prolongadas estão em fase final de teste, e esses produtos de nova geração (para o FVIII e o FIX) poderão facilitar a profilaxia, exigindo menos injeções para manter níveis circulantes acima de 1%. Na hemofilia A, o uso desses produtos reduziu a frequência de injeções de FVIII de 3 para 2 dias por semana, e, de maneira notável para a hemofilia B, a maioria dos pacientes só deverá necessitar de injeções do FIX de ação longa uma vez por semana (JAMESON, 2019). O uso de interleucina 11 recombinante em pacientes com hemofilia A leve ou moderada que não responderam à DDAVP foi testado em ensaios clínicos de fase inicial e pode constituir uma estratégia terapêutica alternativa para situações clínicas que exigem aumentos transitórios dos níveis de FVIII (JAMESON, 2019). Estão sendo realizados ensaios clínicos de terapia gênica para a hemofilia A e B utilizando vetores virais associados a adenovírus (Cap. 458), (JAMESON, 2019). DOENÇAS INFECCIOSAS A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) é a principal causa de morbidade e a segunda causa mais comum de morte entre os pacientes hemofílicos expostos aos concentrados mais antigos de fatores da coagulação. A maioria dos pacientes jovens tratados com hemocomponentes plasmáticos entre 1970 e 1985 adquiriu a infecção pelo HCV. Em 2006, foi estimado que > 80% dos pacientes com > 20 anos de idade eram positivos para anticorpo anti-HCV. A comorbidade da doença hepática subjacente dos pacientes com hemofilia fica evidente quando eles precisam realizar procedimentos invasivos, e, nesses casos, pode ser necessário corrigir as deficiências genética e adquirida (secundária à doença hepática). A infecção pelo HIV também se espalhou na população depacientes que utilizaram hemocomponentes plasmáticos há duas décadas. A coinfecção por HCV e HIV, presente em quase 50% dos pacientes hemofílicos, é um fator agravante da evolução da doença hepática. Na hemofilia, a resposta ao tratamento antiviral para infecção pelo HCV ocorre em < 30% dos pacientes, e esse índice é ainda menor entre os indivíduos coinfectados por HIV e HCV. O desenvolvimento de agentes antivirais de ação direta efetivos para o tratamento do HCV poderá modificar esse cenário. A doença hepática terminal levando ao transplante de fígado pode curar a hepatopatia e a hemofilia (JAMESON, 2019). PROBLEMAS CLÍNICOS EMERGENTES EM PACIENTES IDOSOS COM HEMOFILIA Tem havido uma contínua melhora no tratamento da hemofilia, dado o crescimento da população de adultos que vivem até depois da meia-idade nos países em desenvolvimento. A expectativa de vida de um paciente com hemofilia grave é apenas cerca de 10 anos mais curta que a da população masculina geral. Em pacientes com hemofilia leve ou moderada, a expectativa de vida aproxima-se daquela da população masculina sem coagulopatia. Os pacientes idosos com hemofilia apresentam problemas diferentes em comparação com a geração de pacientes mais jovens; têm artropatia mais grave e dor crônica devido ao tratamento subótimo, bem como taxas elevadas de infecções por HCV e/ou HIV (JAMESON, 2019). Os dados preliminares indicam que a taxa de mortalidade por doença arterial coronária é mais baixa em pacientes com hemofilia do que na população masculina geral. A hipocoagulabilidade subjacente provavelmente proporciona um efeito protetor contra a formação de trombos, porém não impede a aterogênese. À semelhança da população geral, esses pacientes são expostos a fatores de risco cardiovasculares, como idade, obesidade e tabagismo. Além disso, é comum a observação de falta de atividade física, hipertensão e doença renal crônica em pacientes com hemofilia. Nos pacientes portadores de HIV submetidos à terapia antirretroviral combinada, pode haver um aumento adicional no risco de doença cardiovascular. Por conseguinte, esses pacientes devem ser cuidadosamente Yasmin Ayana 야스민 아야나 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788580556346/epub/OEBPS/Text/chapter112.xhtml#fig112-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788580556346/epub/OEBPS/Text/chapter458.xhtml considerados para abordagens profiláticas e terapêuticas visando a minimizar o risco de doença cardiovascular (JAMESON, 2019). Deve-se evitar a terapia de reposição em excesso, e é prudente infundir lentamente os concentrados de fatores. A infusão contínua do fator de coagulação é preferível à administração intravenosa direta em pacientes com fatores de risco cardiovasculares submetidos a procedimentos invasivos. A abordagem de um evento isquêmico agudo e de revascularização coronária deve incluir a colaboração de hematologistas e internistas. O pressuposto inicial de que a hemofilia poderia proteger contra a doença vascular oclusiva pode mudar nessa população idosa. O câncer constitui uma causa comum de mortalidade em pacientes idosos com hemofilia, visto que apresentam risco de neoplasias malignas associadas ao HIV e ao HCV. O carcinoma hepatocelular (CHC) é o câncer de fígado primário mais prevalente e constitui uma causa comum de morte em pacientes HIV-negativos. As recomendações para triagem de câncer na população devem ser as mesmas para pacientes com hemofilia de idade equivalente. Entre aqueles com alto risco de HCV, recomenda-se uma ultrassonografia uma ou duas vezes por ano, bem como a determinação da α-fetoproteína para CHC. A triagem para neoplasias urogenitais na presença de hematúria ou de hematoquezia pode ser adiada, devido à doença hemorrágica subjacente, impedindo, assim, uma intervenção precoce. A interação multidisciplinar deve facilitar a tentativa de assegurar recomendações ótimas para a prevenção e o tratamento do câncer em pacientes com hemofilia (JAMESON, 2019). MANEJO DOS PORTADORES DE HEMOFILIA Em geral, considera-se fora de risco de sangramento portadores de hemofilia com níveis de fator em torno de 50%. Entretanto, foi relatada uma ampla gama de valores (22-116%), devido à inativação aleatória do cromossomo X (lionização). Por conseguinte, é importante medir o nível do fator nos portadores para identificar aqueles que apresentam risco de sangramento e otimizar a conduta tanto pré quanto pós-operatória. Durante a gravidez, os níveis de FVIII e FIX aumentam gradualmente até o parto. Os níveis de FVIII aumentam cerca de 2 a 3 vezes em comparação com mulheres não grávidas, ao passo que o aumento do FIX é menos pronunciado. Depois do parto, observa-se uma rápida queda das elevações dos níveis de fatores da coagulação maternos induzidas pela gravidez. Isso representa um risco iminente de sangramento, que pode ser evitado pela infusão de concentrado de fatores até níveis de 50 a 70% por 3 dias para parto vaginal e por até 5 dias para cesariana. Nos casos leves, recomenda-se o uso de DDAVP e/ou agentes antifibrinolíticos (JAMESON, 2019). Referências Bibliográficas Hoffbrand, A., V. e P. A. H. Moss. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2018. Jameson, J., L. et al. Medicina interna de Harrison - 2 volumes. Disponível em: Minha Biblioteca, (20th edição). Grupo A, 2019. Kumar, Vinay, et al. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Grupo GEN, 2016. Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Grupo GEN, 2021. Oliveira et al. Hemofilia: Fisiopatologia e Diagnóstico. Research, Society and Development, v. 11, n. 12, 2022. Porto, Celmo, C. e Arnaldo Lemos Porto. Clínica Médica na Prática Diária. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. Roberta Truzzi COLOMBO, Gerson. Hemofilias: Fisiopatologia, Diagnóstico e Tratamento. Faculdade Ingá – Uningá. Rev. Saúde Pública. v. 25, Nº 3, 2013. Yasmin Ayana 야스민 아야나
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