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Psicologia Histórico-Cultural EAD 5

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Teorias Histórico-Críticas 
em Psicologia
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dr.ª Beatriz Borges Brambilla
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Psicologia Sócio-Histórica
Psicologia Sócio-Histórica
• Discutir a noção de sujeito e a Psicologia em movimento de Silvia Lane;
• Aprofundar conceitualmente as categorias do psiquismo e do método como instrumentos 
analíticos para Psicologia Sócio-Histórica;
• Debater a noção de dimensão subjetiva dos fenômenos sociais como ferramenta de análi-
se psicológica;
• Compreender a inserção da Psicologia nas Políticas Públicas a partir do movimento de com-
promisso social da Psicologia Sócio-Histórica.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• Introdução;
• Silvia Lane: Vida e Obra;
• Uma Psicologia Sócio-Histórica;
• A Psicologia Social Comunitária;
• Psicologia Sócio-Histórica: Uma Nova Visão de Sujeito para a Psicologia;
• A Pesquisa em Psicologia Sócio-Histórica;
• Psicologia Sócio-Histórica: Categorias e Conceitos;
• Psicologia Sócio-Histórica e o Sofrimento Ético-Político;
• Dimensão Subjetiva dos Fenômenos Sociais.
UNIDADE Psicologia Sócio-Histórica
Introdução
A Psicologia Sócio-Histórica é uma abordagem teórica em Psicologia Social, brasi-
leira. Fundamentada no Materialismo Histórico-Dialético, como método e perspectiva 
ontológica, tem em seu cerne uma importante significação em relação à concepção de 
sujeito e da análise da dimensão subjetiva da realidade e dos fenômenos sociais.
Com base na Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski, Luria e Leontiev, vem ganhan-
do forma a partir das análises e ações advindas do pensamento de Silvia Lane e de um 
conjunto de pesquisadoras e pesquisadores que deram seguimento aos estudos em Psico-
logia Sócio-Histórica.
Nesta unidade, veremos aspectos históricos, principais fundamentos e conceitos da 
abordagem, como: 
• Silvia Lane – vida e obra;
• A pesquisa em Psicologia Sócio-Histórica;
• Categorias e conceitos: atividade, consciência, mediação, totalidade, identidade em 
metamorfose, sentidos e significados, afetividade e emoções;
• Sofrimento ético-político;
• Dimensão subjetiva dos fenômenos sociais.
Boa leitura!
Silvia Lane: Vida e Obra
“Toda Psicologia é Psicologia Social”.
A afirmação citada anteriormente foi uma das afirmações da autora mais significati-
vas para o desenvolvimento da Psicologia Sócio-Histórica. 
Silvia Tatiana Maurer Lane nasceu em São Paulo, em uma família de origem suíço-
-alemã (por parte do pai) e eslava (por parte da mãe). A convivência com o pai, professor 
universitário, e o tio, especializado em filologia, parece ter despertado nela o gosto pelo 
trabalho intelectual. A convivência com a mãe, marcada pela experiência da 1ª Guerra 
Mundial, na Lituânia, deve ter legado à filha o horror à violência. Formou-se em Filosofia 
na Universidade de São Paulo (USP).
Seu contato inicial com a Psicologia foi por intermédio de Anita Cabral, que lhe ensi-
nou as primeiras lições psicológicas, através da leitura de Koffka. Na Faculdade, entre 
1952 e 1956, envolveu-se nas atividades do Centro Acadêmico; foi nessa época que a 
questão da linguagem passou a preocupá-la, especialmente as diferenças no significado 
das palavras para grupos sociais diversos, tema que escolheu para desenvolver em sua 
Tese de Doutorado, defendida em 1972, sob a orientação de Aniela Ginsberg.
Em 1955, obteve bolsa de estudos para estudar Psicologia durante um ano no 
 Wellesley College, nos Estados Unidos, onde conheceu o trabalho de Solomon Asch 
8
9
(importante psicólogo social estadunidense). Após obter o bacharelado e a licenciatura 
em Filosofia, em 1956, foi assistente de pesquisa da Divisão Educacional do Centro 
 Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo, entre 1956 e 1960, chegando a ocu-
par o cargo de diretora da Divisão no período 1959-1960.
Iniciou a carreira docente, em 1957, como professora de Psicologia Geral na Escola 
de Enfermagem da Cruz Vermelha de São Paulo e, em 1965, a convite de Maria do 
Carmo Guedes, tornou-se professora de Psicologia Social e da Personalidade na Pontifí-
cia Universidade Católica de São Paulo. Após a defesa da Tese de Doutorado, em 1972, 
criou o Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social na mesma universidade, o 
 segundo Programa de Pós-Graduação em Psicologia a ser estabelecido no Brasil, e 
iniciou a trajetória de pesquisadora na área, orientando dezenas de dissertações de Mes-
trado e teses de Doutorado. A partir dessa época, participou ativamente da ALAPSO 
(Associação Latino-Americana de Psicologia Social), cuja diretoria integrou entre 1977 
e 1980, e da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP).
Foi no congresso da SIP, em 1979, em meio às discussões sobre a chamada “crise” 
da Psicologia, em especial da Psicologia Latino-Americana, considerada pouco relevante 
na solução dos problemas sociais e políticos em que se debatia a região, que foi aprovada 
recomendação sugerindo a criação de associações nacionais de Psicologia Social, visando 
focalizar a realidade de cada país e incentivar o intercâmbio de pesquisadores e estudiosos. 
Silvia propôs a criação de uma Associação Brasileira de Psicologia Social, a ABRAPSO, 
durante a 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em 
julho de 1980, e foi sua primeira Presidente. A ABRAPSO passou a ser, a partir dessa 
época, o principal fórum de discussão e divulgação da pesquisa em Psicologia Social 
feita no Brasil, voltada para o conhecimento das condições psicossociais da população 
brasileira e para o debate sobre as práticas transformadoras de que Silvia era uma das 
principais incentivadoras.
Também nessa época, ela iniciou as publicações que a tornaram internacionalmente 
reconhecida por sua proposta original para uma agenda para a Psicologia Social latino-
-americana e brasileira, ao mesmo tempo crítica, teoricamente bem fundamentada e 
voltada para a práxis transformadora. A primeira dessas publicações foi a obra O que é 
Psicologia Social.
Esse pequeno trabalho despertou tanto interesse que, logo em seguida, Silvia orga-
niza, juntamente com o orientando e colega Wanderley Codo, a coletânea Psicologia 
Social: o Homem em Movimento. A coletânea tornou-se logo um best-seller, estando 
atualmente em sua 13ª edição, evidenciando sua receptividade no seio da comunidade 
dos psicólogos sociais brasileiros. A essas publicações seguiram-se muitas outras, em 
que Silvia aprofundou a perspectiva de análise proposta, sempre insistindo na necessi-
dade de ampliar o raio de visão do psicólogo, incorporando conhecimentos socioantro-
pológicos, e na metodologia ativa e participante.
Entre essas publicações, destacam-se Novas Veredas em Psicologia Social, orga-
nizado junto com Bader Sawaia; Arqueologia das Emoções, organizado junto com 
Yara Araújo; e os capítulos Histórico e Fundamentos da Psicologia Comunitária no 
Brasil, elaborados para a coletânea Psicologia Social Comunitária: Da solidariedade à 
9
UNIDADE Psicologia Sócio-Histórica
autonomia, e A Psicologia Social na América Latina: por uma ética do conhecimento, 
elaborado para a coletânea Paradigmas em Psicologia Social para a América Latina, 
organizada por Regina H. F. Campos e Pedrinho Guareschi. O texto sobre a Psicolo-
gia Comunitária foi escrito quando Silvia liderava o Grupo de Trabalho em Psicologia 
Comunitária da ANPEPP (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psi-
cologia). O capítulo sobre a Psicologia Social na América Latina revisita um tema caro 
a Silvia: os rumos da Psicologia Social em nosso subcontinente, e foi lido quando de 
sua participação no Colóquio Internacional: Paradigmas em Psicologia Social para a 
América Latina, realizado durante o Encontro Nacional da ABRAPSO em 1997, na 
Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. 
Nesse último texto, Silvia desenvolveu um tema que a preocupava especialmente nos 
últimos anos: a questão da ética do conhecimento. Em entrevista concedida à revista 
Psicologia eSociedade, em 1995, ela reafirmava a convicção sobre a necessidade de 
democratizar o saber em nossa sociedade profundamente desigual e excludente. Para 
ela, a aceitação das diferenças, a luta contra o preconceito e a discriminação dependiam 
dessa democratização, isto é, da presença do intelectual fora dos muros da academia, 
atuando e interagindo com os grupos sociais. E isso deveria ser feito abrindo esse es-
paço para todo mundo, para quem quiser aprender, e mais: fazendo o esforço de falar 
a linguagem de todo o mundo. Transmitir nosso saber numa linguagem do cotidiano é 
um desafio. Mas é uma briga entre o poder autoritário e o poder democrático. Acho que 
essa é a questão fundamental da academia, dizia ela (LANE, 1995, p. 09).
Nas palavras de Campos e Guedes (2006), Silvia era despojada e generosa, de extre-
ma sensibilidade em sua paixão pelo conhecimento, que ela queria transmitir a todos, 
pois, em sua visão, o que é bom deve ser de todos, sem discriminação. E desse modo se 
despediu de nós, deixando um legado de dignidade e de grande força intelectual.
No dia 29 de abril de 2006, faleceu, em São Paulo, Silvia Lane, pessoa de grande 
dignidade e delicadeza, responsável pela criação de uma verdadeira “escola” de Psico-
logia Social no Brasil, conhecida como “Psicologia Social Laneana”, ou “Escola de São 
Paulo” ou “Psicologia Sócio-Histórica”.
CRP SP – Projeto Diálogos 7 – Silvia Lane, disponível em: https://youtu.be/CItPIWoInM0
Uma Psicologia Sócio-Histórica
A década de 1970 foi, para a Psicologia, o principal momento para transformações 
teóricas, metodológicas e para o desenvolvimento da profissão, em especial, no Brasil. 
Do ponto de vista teórico, o que sobressaía ou era uma Psicologia de base psicanalí-
tica produzida na Europa, ou uma Psicologia de base comportamental produzida nos 
Estados Unidos. Essa polarização teórica sustentou o questionamento:
A Psicologia Social deve ser uma área de investigação ou um campo de atuação?
10
11
Foi com base nessa pergunta que Silvia Lane e demais psicólogas/os na América 
Latina afirmaram que a Psicologia é uma ciência e uma profissão, da práxis, do movi-
mento, atrelada à realidade e não apenas um conhecimento produzido experimental-
mente em laboratório de mensuração e classificação de comportamentos, reproduzindo 
a lógica do adequado e inadequado, reforçando padrões de normalidade, onde não há.
A situação social, política e econômica do país exigia compromisso social da Psico-
logia. Foi, portanto, a partir da necessidade de luta por condições dignas de vida da po-
pulação, por liberdades democráticas e o fim da ditadura civil-militar que um coletivo de 
psicólogas/os aliados a movimentos populares e sociais – em especial, às comunidades 
eclesiásticas de base, associações de bairro, movimentos de favelados, movimentos de 
alfabetização e movimentos antimanicomiais – iniciaram trabalhos psicossociais, bus-
cando melhores condições de vida da população.
Segundo Silvia Lane (2006), esse questionamento afetou principalmente a Univer-
sidade que, desde 1968, iniciou questionamentos sobre sua função social diante da 
repressão e violência: ou seja, o que significa ensinar, pesquisar e atuar com extensão 
num contexto tão adverso? Qual a função da Universidade? Para a autora, não era ad-
missível que a Universidade se mantivesse fechada numa “torre de marfim”. Foi, então, 
que as(os) professoras(es) da PUC-SP, do curso de formação profissional de psicóloga/o, 
passaram a questionar sua prática; e, nesse primeiro momento, sobre a crise da Psicolo-
gia como ciência e profissão e sobre o modelo de saúde, as contribuições do movimento 
antimanicomial e da antipsiquiatria abalaram conceitos e paradigmas centrados no sin-
toma e num modelo biomédico de atenção em saúde mental, e a ruptura fez com que 
se repensasse a questão da saúde mental e para uma possível ação preventiva junto à 
maioria da população pobre, oprimida e desatendida pelo Estado.
A Psicologia Social Comunitária 
Com um conjunto de ferramentas, técnicas e metodologias para o trabalho com gru-
pos, as/os psicólogas/os reposicionam o seu trabalho numa perspectiva ético-política de 
um saber construído coletivamente, dialógico e horizontal. A ação sempre se dá “COM”, 
não “de” e não “para”. Mas, com as comunidades, algumas áreas e problemas sociais 
foram amplamente enfatizados, como:
• O problema dos hospitais psiquiátricos e do manejo com a “doença mental”: 
Com a intenção de superar e extinguir os hospitais psiquiátricos, foram construídas 
alternativas para o cuidado em Saúde Mental, como a criação de centros comunitá-
rios, com equipe técnica – multiprofissional, dispositivos territoriais, de cuidado em 
liberdade – enfrentando a lógica da segregação e manicomialização, o que, após a 
Lei 10.216/2001, viria a institucionalizar-se nos Centros de Atenção Psicossocial, 
os CAPS;
• As ações de conscientização e cidadania: Junto ao Paulo Freire, iniciam-se práti-
cas de cidadania, que levam psicólogas e psicólogos a desenvolverem atividades em 
comunidades a partir da educação popular, tendo como meta a conscientização da 
população e a superação da condição alienada e desigual de vida;
11
UNIDADE Psicologia Sócio-Histórica
• Apoio à organização social e comunitária de trabalhadoras(es): Realização 
de ações de mediação/animação social, mobilizando grupos em torno de situa-
ções-problemas, visando à organização comunitária e de trabalhadoras(es). Para 
isso, realizando diagnóstico territorial e comunitário, levantamento dos principais 
problemas da comunidade e construção de estratégias para enfrentá-los, como 
mediadores(as), não lideranças do processo;
• Grupos de acolhimento e conscientização: A partir de metodologias grupais, 
construía-se a oferta de espaços coletivos de cuidado e organização de mulheres, 
crianças e adolescentes e de lideranças comunitárias.
Tais experiências ocorreram, contudo, ainda definidas pelas técnicas utilizadas e não 
pelo conhecimento que psicólogas(os) tem do psiquismo humano, do indivíduo como 
pessoa que se constrói na relação com os outros, no desenvolvimento de suas atividades, 
no movimento de sua consciência e na produção de sua identidade. E ainda uma visão 
fragmentada do indivíduo: aprendizagem, educação é um processo, terapia é outro, 
conscientização é outro ainda. Parece que o único ponto constante é a relação grupal, é 
no encontro com os outros semelhantes que descobrimos a realidade, que descobrimos 
a individualidade e a sociedade. As diferentes ideias são discutidas em torno de técnicas, 
ao invés de considerarem a natureza do psiquismo humano e a natureza do indivíduo 
que interage com outros.
Foi a partir de tal consideração que Lane iniciou com suas orientandas e orientandos 
um novo percurso teórico com a Psicologia Sócio-Histórica.
Psicologia Sócio-Histórica: Uma Nova 
Visão de Sujeito para a Psicologia 
Uma prática sem teoria torna-se um ativismo/assistencialismo. Reflexão apresentada 
por Paulo Freire (1968), que aponta para a necessidade de uma práxis, da articulação da 
teoria com a prática. Um projeto de prática comprometido com a realidade social exige 
uma teoria também comprometida.
Ana Bock (2004), importante psicóloga desta abordagem teórica, afirma que a Psi-
cologia Sócio-Histórica tem inerente a ela a possibilidade de crítica. Não apenas por 
uma intencionalidade de quem a produz, mas por seus fundamentos epistemológicos e 
teóricos. Retomamos, então, as bases, o marxismo, o materialismo histórico e dialético 
como filosofia, teoria e método.
Nesse sentido, concebe o sujeito como ativo, social e histórico.
Nessa perspectiva, há uma dimensão dialética, ou seja, um movimento complexo, 
em que, ao mesmo tempo, um conjunto de contradições sociais e históricas produz e é 
produzida. Ou seja, do ponto de vista da construção do sujeito, não se pode compreen-
dê-lo sem observar e entender a sociedade e vice-versa. A sociedade é entendida como 
produção histórica dos sujeitos que, por meio dotrabalho, produzem sua vida material. 
12
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Essa compreensão sobre a materialidade da vida social faz com que, inclusive, as ideias 
sejam compreendidas como representações da realidade material. E a história, como mo-
vimento contraditório constante do fazer humano, no qual, a partir da base material, deve 
ser compreendida toda a produção de ideias, inclusive a ciência e a Psicologia.
Diante dessa concepção de sujeito, há de se perguntar sobre a noção de fenômeno 
psicológico, concebendo-o como um fenômeno em constante transformação, que se 
desenvolve ao longo do tempo.
Para Bock (2004), diferentemente do que comumente se compreende fenômeno psico-
lógico, para a Psicologia Sócio-Histórica, não pertence à natureza humana, não preexiste 
ao sujeito, mas reflete a condição social, econômica e cultural em que vivem as pessoas.
Para a Sócio-Histórica, falar do fenômeno psicológico é obrigatoriamente falar da so-
ciedade. Falar da subjetividade humana é falar da objetividade onde vivem as pessoas.
Isso significa compreender “mundo interno” e “mundo externo” a partir de um movi-
mento e fenômeno único, no qual o sujeito atua e constrói ou modifica o mundo; assim 
constitui-se psicologicamente o sujeito.
Para isso, deve-se considerar que as capacidades humanas devem ser vistas como 
algo que surge após uma série de transformações qualitativas. Cada transformação cria 
condições para novas transformações, em um processo histórico, e não natural. O fenô-
meno psicológico deve ser entendido como construção no nível individual do mundo 
simbólico que é social. O fenômeno deve ser visto como subjetividade, concebida como 
algo que se constituiu na relação com o mundo material e social, mundo este que só 
existe pela atividade humana. Subjetividade e objetividade constituem uma à outra sem 
se confundirem. 
A linguagem é mediação para a internalização da objetividade, permitindo a cons-
trução de sentidos pessoais que constituem a subjetividade. O mundo psicológico é um 
mundo em relação dialética com o mundo social. 
Conhecer o fenômeno psicológico significa, logo, conhecer a expressão subjetiva de 
um mundo objetivo/coletivo, e conhecê-lo dessa forma significa retirá-lo de um campo 
abstrato e idealista e dar a ele uma base material vigorosa. Permite ainda que se superem 
definitivamente visões metafísicas do fenômeno psicológico que o conceberam como 
algo súbito, algo que surge no homem, ou melhor, algo que já estava lá, em estado em-
brionário, e que se atualiza com o amadurecimento humano.
O fenômeno psicológico, como qualquer fenômeno, não tem força motriz que lhe 
seja própria. É na relação com o mundo material e social que se desenvolvem as pos-
sibilidades humanas. Claro, há um corpo biológico que se instituiu como elemento 
básico da relação e é nele que se processará o que estamos chamando de fenômeno 
psicológico. Essa relação com o mundo, por meio da atividade dos sujeitos, torna-se 
essencial para que algo ocorra em nós.
13
UNIDADE Psicologia Sócio-Histórica
A Pesquisa em Psicologia Sócio-Histórica
Wanda Junqueira Aguiar (2001), importante psicóloga do grupo de Silvia Lane, em 
capítulo sobre pesquisa em Psicologia Sócio-Histórica, pergunta-se sobre o que pes-
quisamos. E considera nosso objeto de pesquisa, a subjetividade, perguntando: como 
investigá-la, como apreendê-la? De acordo com essas considerações, delineia-se não só 
nosso objeto, mas também nosso objetivo/tarefa, que consiste em compreender a gêne-
se da subjetividade; ou seja, o próprio processo de produção da subjetividade.
Para isso, devemos considerar que as palavras/signos são nossos pontos de partida 
para empreender a constituição da subjetividade, um ponto de partida entendido aqui 
como um momento do desenvolvimento teórico. Ao destacar a importância dos sig-
nos, devemos enfatizar que entendemos a linguagem ao mesmo tempo como mediação 
da subjetividade e como instrumento produzido social e historicamente, materializando 
 assim as significações construídas no processo social e histórico. 
A linguagem é instrumento fundamental no processo de mediação das relações so-
ciais, por meio do qual o sujeito se individualiza e se humaniza, apreende e materializa 
o mundo das significações que é construído no processo social e histórico. Para com-
preender a fala de alguém, não basta entender suas palavras; é preciso compreender 
seu pensamento (que é sempre emocionado), é preciso apreender o significado da fala. 
O significado é, sem dúvida, parte integrante da palavra, mas é simultaneamente ato 
do pensamento, é um e outro ao mesmo tempo, porque é a unidade do pensamento e 
da linguagem. Como apreender esse significado, esse algo que está para além da apa-
rência? Para apreender um processo interno, é necessário exteriorizá-lo, relacionando-o 
com alguma outra atividade exterior. Assim, apontamos a palavra com significado como 
nossa unidade de análise, uma vez que ela encerra as propriedades do pensamento, por 
se constituir numa mediação deste. 
Por meio da palavra, podemos apreender os aspectos cognitivos/afetivos/volitivos 
constitutivos da subjetividade, sem esquecer que tal subjetividade, portanto, são os senti-
dos produzidos pelos indivíduos, que são sociais e históricos. E aí está nosso grande de-
safio. Como apreender tais aspectos, como sair da aparência e apreender nosso objeto?
A fala (palavra com significado) do sujeito é fundamental como ponto de partida para 
nossa análise, mas não contém a totalidade. Precisamos ir em busca do processo, das 
determinações, da gênese, entendidos aqui como propriedades essenciais. Assim, a fala, 
construída na relação com a história e a cultura, e expressa pelo sujeito, corresponde à 
maneira como este é capaz de expressar ou codificar, nesse momento específico, as vi-
vências que se processam em sua subjetividade; cabe ao pesquisador o esforço analítico 
de ultrapassar essa aparência (essas formas de significação) e ir à busca das determina-
ções (históricas e sociais), que se configuram no plano do sujeito como motivações, ne-
cessidades, interesses (que são, portanto, individuais e históricos), para chegar ao sentido 
atribuído/constituído pelo sujeito.
Para isso, do ponto de vista metodológico, tem-se compreendido a pesquisa como 
instrumento de transformação social. Pesquisa-ação-participativa, em que a figura da 
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15
pessoa que pesquisa não atua como um agente externo ao processo, mas vivencia, ex-
perimenta, atua ativamente na construção do conhecimento, conhecimento que trans-
forma a realidade.
Pesquisa implicada, pesquisa-ação e pesquisa participante são horizontes de pes-
quisa em Psicologia Sócio-Histórica.
Psicologia Sócio-Histórica:
Categorias e Conceitos
Para a compreensão da subjetividade e a análise dos fenômenos sociais, são necessá-
rias categorias analíticas que possibilitem com rigor e método o aprofundamento teórico-
-metodológico estudado. Para isso, apresentamos algumas categorias do método centrais:
A totalidade, compreendida como a articulação dialética entre a parte e o todo, im-
plica uma complexidade em que cada fenômeno só pode vir a ser compreendido como 
um momento definido em relação a si e aos outros fenômenos, em que a mediação se 
revela como a expressão das relações concretas que se imbricam mutuamente num todo, 
e a contradição como a unidade de contrários, ou seja, o ser é e não é ao mesmo tempo 
e apresenta-se como motor do movimento do real.
• Mediação: indica que nada é isolado, que há uma conexão dialética de tudo que 
existe. É uma categoria ontológica – expressa uma característica do real – é recurso 
metodológico fundador que se opõe à mecanicidade, considerando que a realidade 
só pode ser apreendida por meio das mediações;
• Totalidade: implica na leitura da complexidade, em que cada fenômeno só pode 
vir a ser compreendido como um momento definido em relação a si e aos outros 
fenômenos. Não há possibilidade de compreensão de um fenômeno isolado (pois, a 
compreensão de um fenômeno isoladamenteproduzirá uma abstração). Totalidade 
é concreta. Pode ser compreendida no conjunto de suas mediações e determina-
ções contraditórias;
• Contradição: não é discurso contraditório, não tem certo e errado, uma verdade ape-
nas. A contradição dialética são duas forças presentes ao mesmo tempo e indissociáveis; 
• Historicidade: atos e acontecimentos sociais e pessoais que são produtos da ação 
dos sujeitos entre si no mundo. É o distinto da ordem natural – é a própria humani-
zação do sujeito. É categoria central para a compreensão do humano.
Categorias do Psiquismo
Categorias estão em mútua interdependência, umas imbricadas nas outras, assim 
como as mediações se interpenetram. Assim, apresentamos as mesmas em quadro sin-
tético, a seguir:
15
UNIDADE Psicologia Sócio-Histórica
Instrumento, emoção, linguagem e pensamento são mediações que levam à ação, 
portanto, somos as atividades que desenvolvemos, somos a consciência que re-
flete o mundo e somos afetividade que ama e odeia este mundo, e com essa baga-
gem (constituímos nossa identidade) nos identificamos e somos identificados por 
aqueles que nos cercam. 
• Atividade: Compreendida como trabalho, uma atividade que distingue o ser social 
do ser natural, isto é, define a especificidade do ser humano. Atividade subjetivada; 
• Consciência: Consciência constituída nas relações concretas. Racional como pri-
mazia do ser, não ser pensante. Consciência como produto social, material, não 
abstrata. Em cada momento histórico, as possibilidades de configuração do mundo 
subjetivo modificam-se conforme se alteram as relações sociais e as formas de pro-
dução da vida. “Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determi-
na a consciência” (MARX, 1846, p. 94);
“Isso significa que não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam 
e pensam nem daquilo que são nas palavras, no pensamento, na imagi-
nação e na representação de outrem para chegar aos homens em carne 
e osso: parte-se dos homens, da sua atividade real. É a partir do processo 
de vida real que se representa o desenvolvimento dos reflexos e das reper-
cussões ideológicas deste processo vital. Mesmo as fantasmagorias corres-
pondem, no cérebro humano, a sublimações necessariamente resultantes 
do processo da sua vida material que pode ser observado empiricamente 
e que repousa em bases materiais. Assim, a moral, a religião, a metafísica 
e qualquer outra ideologia, tal como as formas de consciência em lhes 
correspondem, perdem imediatamente toda a aparência de autonomia. 
Não têm história, não têm desenvolvimento: serão antes os homens que, 
desenvolvendo a sua produção material e as suas relações materiais, trans-
formam, com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os 
produtos desse pensamento.” (MARX, K. A ideologia alemã. p. 09)
• Personalidade (Leontiev) > Identidade (Lane): Textos soviéticos descreviam uma 
personalidade construída – após pesquisa do Prof. Antonio Ciampa (PUC SP) – 
começa-se a compreender identidade como fenômeno social como metamorfose 
do EU – decorrente das relações sociais vividas – a substituição do termo evita 
significados idealistas que o conceito carrega historicamente;
• Afetividade: natureza mediacional das emoções na constituição do psiquismo hu-
mano. Está presente nas ações, consciência e identidade do indivíduo. Ser humano 
pensa e sente simultaneamente. Tem caráter social. Natureza afetiva da experiência 
depende da qualidade da mediação vivenciada. Parte do sistema motivacional – 
volitivo – constituição de características próprias que identificam a individualidade;
• Linguagem: produto histórico – instrumento psicológico que media o pensamento – 
consciência. É o processo de apropriação das operações de palavras que são fixadas 
historicamente nas suas significações. Condição necessária e específica do desenvolvi-
mento do homem na sociedade. A relação da linguagem com o real neces sariamente 
sofre a mediação das posições sociais.
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Enquanto produto histórico traz representações, significados e valores existentes em 
um grupo social, e, como tal, é veículo de ideologia do grupo; enquanto para o in-
divíduo é também condição necessária para o desenvolvimento de seu pensamento ;
• Pensamento: É por meio das palavras que o ser humano pensa. Generalização e 
abstração só se dão pela linguagem ;
• Emoções: natureza social e caráter comunicativo, sempre “figura”. Paralisam, mas 
também desencadeiam pensamentos e ações. Constitui-se numa linguagem cujas men-
sagens podem desencadear o desenvolvimento das consciências, como fragmentá-la ;
• Inconsciente: constituído pelo processo de racionalização da cultura, configurado 
como uma experiência antagônica à consciência. 
Psicologia Sócio-Histórica e
o Sofrimento Ético-Político
Bader Burihan Sawaia revolucionou a Psicologia Sócio-Histórica. Filósofa, foi orien-
tanda da Prof.ª Silvia Lane, com quem também fundou o Programa de Pós-Graduação 
em Psicologia Social da PUC-SP e a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). 
Dedicada ao estudo das emoções e da desigualdade social, Sawaia (1999) inaugurou o 
conceito do sofrimento ético-político. 
Segundo a autora, a eleição do sofrimento ético-político se deu como possibilidade 
analítica da dialética exclusão-inclusão, compreendendo a necessidade da adoção de 
categorias mais profundas para compreensão das questões sociais. A autora deflagra 
uma tendência da época de estudos sobre a pobreza restritivos a uma perspectiva de 
subsistência, que negava a possibilidade de apreensão do sofrimento e das emoções de 
pessoas em situação de exclusão social. 
Sawaia afirma que perguntar por sofrimento e por felicidade a pessoas em situação de 
exclusão é superar a concepção de que a preocupação do pobre é unicamente a sobrevi-
vência e que não tem justificativa o trabalho com as emoções quando se passa fome. Para a 
autora, significa colocar no centro das reflexões sobre exclusão uma noção de humanidade.
Nessa perspectiva, sofrimento não é um sentimento isolado, individual, interno; mas 
um processo político advindo de vivências particulares relativas à desigualdade social.
Dimensão Subjetiva dos Fenômenos Sociais
Odair Furtado, outro orientando de Silvia Lane, professor do curso de Psicologia da 
PUC-SP, importante pesquisador da Psicologia Sócio-Histórica, em sua Tese de Dou-
torado, sistematizou a noção de dimensão subjetiva, a partir do surgimento da ideia de 
“consciência social” que, segundo Furtado (2002), é a combinação da base objetiva e 
subjetiva, a correlação de forças entre as classes sociais – inclusive determinando o pen-
samento ideológico de um período.
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UNIDADE Psicologia Sócio-Histórica
O autor descreve uma espécie de evolução da ideia de “consciência social”, compreen-
dendo-a como dimensão subjetiva da realidade, buscando a pluralidade das produções no 
campo social. São as dimensões da realidade subjetivada na ideologia, cultura, valores, 
crenças, representações sociais etc., determinadas pelas bases objetivas da sociedade.
A Psicologia Sócio-Histórica, apoiada na compreensão de que a consci-
ência se desenvolve na relação com as condições sociais de trabalho, a 
partir da efetiva atividade dos homens, coloca-se como um dos instru-
mentos para superação da consciência fragmentada analisando, a par-
tir de seu referencial, as condições concretas das relações de trabalho. 
 (FURTADO; SVARTMAN, 2009, p. 112)
Nos últimos anos, muitas pesquisas têm sido realizadas pelo coletivo de pesquisadoras 
e pesquisadores sobre a temática; em especial por Maria da Graça Marchina Gonçalves, 
também uma das orientandas de Silvia Lane, professora do curso de Psicologia da PUC-
-SP, que, em sua Tese de Doutorado, aprofunda a noção de dimensão subjetiva em seus 
estudos sobre Psicologia e Políticas Públicas.
Gonçalves e Bock (2009) desenvolvem a concepção de dimensão subjetiva, reme-
tendo à lógica das construções da subjetividade, que também, e ao mesmo tempo, são 
constitutivas dos fenômenosda realidade. São construções individuais e coletivas, que 
resultam em um produto, reconhecido como subjetivo. Trata-se da unidade de con-
trários, visto que os produtos subjetivos possuem caráter social, processual e dialético 
(como vimos nas categorias apresentadas anteriormente).
[...] a realidade é a expressão do campo de valores que a interpretam (suas 
bases subjetivas) e ao mesmo tempo o desenvolvimento concreto das for-
ças produtivas (suas bases objetivas). Há uma dinâmica histórica que co-
loca os planos subjetivos e objetivo em constante interação [..] o indivíduo 
é o sujeito singular dessa dinâmica e, assim como recebe prontos a base 
material (dada pela sua inserção de classe) e os valores (plano da sociali-
zação), também é agente ativo da transformação social, independente de 
ter ou não consciência do fato. (FURTADO, 2001, p. 91)
Essa concepção de ser social possibilita a construção de leituras dialéticas da reali-
dade, compreendendo o modo de produção capitalista como elemento fundamental da 
análise dos fenômenos sociais. Para isso, faz-se necessário buscar a dimensão subjetiva 
que subjaz ao metabolismo social, com enfoque na concepção de uma subjetividade 
processual, complexa e histórica. Identificando as bases materiais dos diferentes fenô-
menos sociais, manifestos no metabolismo social, mediando questionamentos quanto à 
constituição do fenômeno em questão.
Diante dessa concepção dialética, que busca superar as dicotomias tradicionalmente 
impostas no campo do pensamento social, a noção de dimensão subjetiva coloca-se 
como materialização da superação da dicotomia objetividade-subjetividade. Nessa pers-
pectiva, desigualdade social compreendida como expressão da questão social, carregada 
de materialidade e objetividade, também deve ser analisada sob o viés da dimensão sub-
jetiva, visto que também está posta nos sujeitos.
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Desigualdade produzida pela divisão da sociedade em classes, pela di-
visão desigual da riqueza produzida, pela determinação de lugares dife-
rentes a serem ocupados por diferentes grupos sociais na organização 
que define as formas de produção e distribuição de riquezas. (BOCK; 
GONÇALVES, 2009, p. 149)
Ainda segundo as autoras Bock e Gonçalves (2009), a produção subjetiva está articu-
lada às condições objetivas em que se dá e nas quais opera e resulta em produtos, tais 
como ideologia, reveladores desse processo. Tais processos e condições objetivas estão 
constituídos com base nas contradições, por isso a dimensão subjetiva do fenômeno 
social será também contraditória.
Compreender os fenômenos sociais, nessa perspectiva, significa reconhecer, tam-
bém, ao mesmo tempo, a presença de uma subjetividade processual, complexa e his-
tórica, afirmando a unidade dialética entre indivíduo-sociedade, identificando como o 
fenômeno social foi produzido na relação dinâmica entre suas múltiplas determinações. 
Identificar o processo de constituição de um fenômeno social começa por 
identificar sua produção social a partir da materialidade de suas manifes-
tações – identificando quais lugares concretos surge, qual sua posição na 
organização social da produção, na relação com diferentes grupos sociais 
definidos por essa organização material. E continua pela identificação 
dos vários níveis em que aparece e por meio dos quais vai tomando cor-
po – instituições, valores, mais ou menos estruturados e identificados. 
A análise deve ser das mediações que constituem o fenômeno social em 
 questão. (BOCK; GONÇALVES, 2009, p. 145)
É a partir desses pressupostos que se pretende compreender dialeticamente a dimen-
são subjetiva da desigualdade social, possibilitando a explicitação das contradições capi-
tal-trabalho, diante da dialética objetividade-subjetividade; reconhecendo, portanto, que a 
desigualdade social não se apresenta apenas na má distribuição da riqueza, mas também 
nas relações de sociabilidade e na subjetividade, “posta na presença dos sujeitos, presen-
ça essa que caracteriza e constitui o fenômeno” (BOCK; GONÇALVES, 2009, p. 149).
 Em Síntese
Psicologia Sócio-Histórica
• Concepção de ser humano: Trabalho é o conjunto de relações sociais como essência;
• Cultura
• Ativo: Pela sua atividade, os seres humanos modificam a realidade em função do 
desenvolvimento de suas necessidades. Assim, o ser humano constrói ao mesmo 
tempo a realidade;
• Social: Cada indivíduo aprende a ser um humano. O movimento da história só 
é, portanto, possível com a socialização, às novas gerações, das produções da 
cultura humana, processo de interação – mediação – educação;
• Histórico: Produto e produtor da história [...] avanço da história – descoberta da 
ferramenta e o desenvolvimento da linguagem.
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UNIDADE Psicologia Sócio-Histórica
O ser humano é profundamente distinto dos seus antepassados animais e que a 
hominização resultou da passagem à vida numa sociedade na base do trabalho; [...] 
diferentemente do desenvolvimento dos animais, estava e está submetido não às 
leis biológicas, mas a leis sócio-históricas;
• Fenômeno psicológico estudado pela Sócio-Histórica – não dicotomização: 
Dialética subjetividade-objetividade diante da totalidade. Realidade objetiva vivi-
da pelo individuo se torna subjetiva, a qual se objetivará por meio das ações.
Constitui-se no curso da experiência vivida.
São formas complexas em que o psiquismo se organiza e funciona nos indivíduos, 
cultural e historicamente constituídos e nos espaços sociais das suas práticas e mo-
dos de vida.
É simultaneamente individual-social / interno-externo.
Toda influência externa adquire sentido na ação a partir da forma em que é subje-
tivada pelo indivíduo e vice-versa;
• Metodologia de produção de conhecimento: Busca da apreensão do real para 
além da aparência – essência dos fenômenos – conexões significativas entre a par-
te e o todo (movimento do singular-particular-universal) – dialética – contradições 
e historicidade.
Analisadas a partir categorias do método e compreendidas por categorias do psiquismo.
Sujeito
singular
Particular
Mediação/Sociedade
Universal
Ser genérico
Figura 1
Ser humano: ativo, social e histórico
• Categorias fundamentais:
• Trabalho;
• Historicidade.
• Concepção materialista, histórica e dialética da sociedade, história e ser humano.
Como essas noções orientam a teoria psicológica sócio-histórica?
• Objeto: dialética subjetividade-objetividade;
• Âmbito individual da relação (ação representação) articula-se com o âmbito social 
(base material – superestrutura);
• As categorias da dialética orientam a compreensão dessa articulação: contradição, 
totalidade e mediação.
Categorias do psiquismo
• Delimitam os processos psíquicos;
• Processos que são mediados:
• Relações sociais (instituições, grupos, lugar social etc.);
• Linguagem (processo de significação);
• Pensamento (funções psíquicas superiores);
• Emoções.
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• Historicidade impõe considerar os conteúdos históricos desses processos 
• Ideologia como expressão simbólica desse conteúdo.
• Necessidade de desvendar os processos de alienação que fragmentam os processos 
psíquicos e psicológicos, separam atividade e consciência, cristalizam a identidade 
e reprimem as emoções.
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UNIDADE Psicologia Sócio-Histórica
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Silvia Lane – Estilo em Movimento – 01
https://youtu.be/csFfQhRsvzs
P.E.P.G Psicologia Social. Crise e Reformulação da Psicologia Social no Brasil – 3
https://youtu.be/OSUFnkfjuVI
CRP-12 Participação e Dimensão Subjetiva: A Psicologia tem muito a ver com isso!!!
https://youtu.be/Buo4nHxu1po
A Psicologia Social e o Social na Psicologia – História e Memória da Psicologia em SP – Leg. em port
https://youtu.be/jEMeV5r6eGw
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Referências
AGUIAR, W. M. J. A pesquisa em psicologia sócio-histórica: contribuições para o debate 
metodológico. Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia, v. 2, 
p. 129-140, 2001.
BOCK, A. B.; GONÇALVES, M.G. M.(orgs.) A dimensão subjetiva da realidade. São 
Paulo: Cortez, 2009.
 ________. A perspectiva histórica da subjetividade: uma exigência para la psicolo-
gia atual. Psicol. Am. Lat., México, n. 1, fev. 2004 .
CAMPOS, R. H. F.; GUEDES, M. C. Silvia Tatiana Maurer Lane (1933-2006) e a ética 
do conhecimento. Memorandum, 10, p. 157-161, 2006.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Fac símile digitalizado (Manuscritos). São Paulo: 
Instituto Paulo Freire, 1968.
FURTADO, O. As dimensões subjetivas da realidade. Uma discussão sobre a dicotomia 
entre a subjetividade e a objetividade do campo social. In: BOCK, A. M. B.; GONÇAL-
VES, M. G. M. A dimensão subjetiva da realidade: uma leitura sócio-histórica. São 
Paulo: Cortez, 2009.
 ________; SVARTMAN, B. P. Trabalho e alienação. In: BOCK, A. M. B.; GONÇAL-
VES, M. G. M. A dimensão subjetiva da realidade: uma leitura sócio-histórica. São 
Paulo: Cortez, 2009.
 ________; GONZÁLEZ REY, F. (orgs). Por uma epistemologia da subjetividade: um 
debate entre a teoria sócio-histórica e a teoria das representações sociais. São Paulo: 
Casa do Psicólogo, 2002.
LANE, S. T. M.; SAWAIA, B. B. (Orgs.). Novas veredas em Psicologia Social. São 
Paulo: EDUC; Brasiliense, 1995.
SAWAIA, B. B. O sofrimento ético-político como categoria de análise da dialética exclu-
são/inclusão. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade 
social, v. 2, p. 97-118, 1999.
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Outros materiais