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DESCRIÇÃO A norma penal, suas espécies, características, fontes, formas de interpretação e sua aplicabilidade no tempo e espaço. PROPÓSITO Compreender as características da lei penal, para obter conhecimento sobre o que lhes constitui e sobre a forma como devem ser interpretadas e quando (tempo) e onde (espaço) são aplicáveis é fundamental para atuar no sistema de justiça criminal e, especialmente, para resolver situações de conflitos entre normas. PREPARAÇÃO Antes de iniciar a leitura deste conteúdo, tenha em mãos a Constituição, o Código Penal (CP) e Leis Penais extravagantes indicadas, tais como: Lei 7.716/89, Lei 9.455/97, Lei 11.346/06, Lei 13.964/2019 e Decreto 56.435/65. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer as características gerais das normas penais, suas espécies, fontes e técnicas de interpretação e integração MÓDULO 2 Identificar a aplicabilidade no tempo da lei penal e os princípios regentes MÓDULO 3 Definir a aplicação da lei penal no espaço INTRODUÇÃO Neste material, estudaremos a norma penal, que é o objeto de estudo próprio da dogmática das ciências criminais. Vamos conhecer suas características, espécies, fontes, refletir sobre como são estruturadas e debater o que rege a sua aplicabilidade no tempo e espaço. Considerando o caráter essencial dessas matérias, justamente porque as leis penais são nosso centro de estudo em Direito Penal, é que refutamos ser ainda mais importante dispensar especial atenção a essas lições. MÓDULO 1 Reconhecer as características gerais das normas penais, suas espécies, fontes e técnicas de interpretação e integração CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Em todo estudo das disciplinas que são dogmáticas, torna-se fundamental conhecer seu objeto por excelência: as normas. Logicamente, no caso das ciências criminais, nossa atenção deverá se concentrar sobre as normas de conteúdo jurídico-penal, que são nossa fonte formal imediata. Lembrando que, como somente as leis podem criar crimes e cominar penas, dado o princípio da reserva legal (inciso XXXIX do art. 5º da Constituição Federal e o art. 1º do Código Penal), são as leis penais que representam o limite básico de atuação do Estado no que concerne ao exercício do seu poder punitivo. Quer dizer, por mais reprovável que seja, socialmente, uma conduta, se não houver uma lei proibindo-a, não caberá qualquer responsabilização penal caso seja praticada. Por isso, podemos dizer que as leis penais ditarão como várias outras matérias serão recebidas em nosso curso de Direito Penal, em que vamos nos dedicar a refletir sobre o que cada elemento que nela esteja contido significa. Dito isso, passamos para a explicação por partes do nosso conteúdo: Apresentando as espécies de norma penal Depois, as suas características e fontes Exporemos as técnicas de interpretação e integração ESPÉCIES DE NORMAS PENAIS Há três espécies de normas penais: Incriminadoras Permissivas Explicativas NORMAS PENAIS INCRIMINADORAS As normas penais incriminadoras criam crimes, ou seja, definem as infrações penais, e cominam as respectivas penas. Elas estão previstas na parte especial do Código Penal e na legislação extravagante e, por serem as normas por excelência em nosso campo, também são chamadas de normas penais em sentido estrito, proibitivas ou mandamentais. Elas necessariamente são estruturadas em duas partes: a do preceito primário e do preceito secundário. No preceito primário de uma norma penal incriminadora, o legislador prevê aquilo o que chamamos de conduta típica, detalhando os elementos necessários para que uma conduta seja considerada criminosa. Ali encontraremos cada um dos requisitos para que um fato possa ser considerado crime, como no caso do crime de lesão corporal, que prevê “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem” (CÓDIGO PENAL, art. 129). No preceito secundário, encontraremos a consequência da prática da conduta descrita no preceito primário (conduta típica) , isto é, qual a sanção penal aplicável caso os elementos do preceito anterior sejam demonstrados. No mesmo exemplo citado, do crime de lesão corporal, temos a seguinte redação “Pena - detenção, de três meses a um ano” (CÓDIGO PENAL, art. 129). Assim, em síntese, uma pessoa, ao praticar a conduta descrita no preceito primário de um crime, previsto no Código Penal ou na legislação especial, terá como consequência a aplicação da pena também nele prevista, em seu preceito secundário. E é desse total (preceito primário + secundário) que se constitui a norma penal incriminadora em sua plenitude. NORMAS PENAIS PERMISSIVAS Voltando às espécies de norma penais, além das incriminadoras, podemos ter também as normas penais permissivas. Elas têm o condão de afastar o caráter criminoso de uma conduta que poderia ter a aparência de infração penal. Imagine que uma pessoa tenha agredido fisicamente outra. Nesse caso, realmente ela pareceria ter “ofendido a integridade corporal ou a saúde de outrem” e, portanto, violado o art. 129 do Código Penal que mencionamos antes. Foto: Shutterstock.com Foto: Shutterstock.com Mas imagine que essa agressão tenha se dado em legítima defesa; ou então a pessoa estava sendo irresistivelmente coagida a fazê-lo. Pense na hipótese de que uma terceira pessoa lhe estivesse ameaçando de morte. Ela não deixaria de ter ofendido a integridade de outra pessoa, fato incontestável, mas o fizera de modo “justificável”, certo? Foi pensando nesse conjunto de hipóteses que o legislador criou as normas penais permissivas, que têm o potencial de transformar uma suposta infração penal, satisfeitas as suas próprias condições, em uma conduta “permitida”. As normas penais permissivas se subdividem em duas subespécies: justificantes e exculpantes, diferenciando-se em relação ao momento em que incidem. COMENTÁRIO Você provavelmente ainda não conhece essa condição, mas vamos adiantar que, para que uma conduta seja considerada criminosa, ela precisa ser típica, antijurídica e culpável (fique tranquilo pois oportunamente você estudará cada um desses elementos). São três fases de análise de um fato e todas elas devem estar satisfeitas para que impliquem na resposta criminal. Sem detalhar cada uma delas, o que nos importa aqui dizer é que: As normas penais permissivas justificantes são as que afastam a ilicitude (antijuridicidade) da conduta do agente, incidindo na segunda fase mencionada. São exemplos aquelas previstas nos arts. 23, 24 e 25 do Código Penal, como no caso que citamos, que opera a legítima defesa. Já as normas penais permissivas exculpantes destinam-se a eliminar a culpabilidade (terceira fase) isentando o agente de pena, como nos casos dos arts. 26, caput, e 28, §1º, do Código Penal. Ambas, justificantes e exculpantes, têm o condão de sobrepor-se à proibição a ponto de excluir a possibilidade da resposta criminal pela prática de uma conduta, já que embora típica, estaria justificada por uma causa de exclusão ou isenção de responsabilidade. NORMAS PENAIS EXPLICATIVAS São as normas penais explicativas, também chamadas de complementares, que esclarecem o conteúdo de outras normas ou limitam o âmbito de sua aplicação. Vamos a um exemplo: você já deve ter ouvido falar do crime de violação de domicílio, que está previsto no art. 150 do Código Penal sob as seguintes condições: “Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.” (grifo nosso). Foto: Shutterstock.com MAS SERÁ QUE A ENTRADA EM QUALQUER PROPRIEDADE PRIVADA CONSTITUI ESSE CRIME? RESPOSTA Na verdade, não, posto que o legislador expressamente limitou-se aos casos, para fins de configuração deste ilícito, da entrada em casa. QUAL SERIA, ENTÃO, A DEFINIÇÃO DESSE ELEMENTO PARA QUE SE POSSA ENSEJAR A RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL? USAMOS QUE TIPO DE CRITÉRIO DE DEFINIÇÃO? PODEMOS IMPORTAR, SIMPLESMENTE, ALGUM CONCEITO DE OUTRA ÁREA, COMO DO DOMICÍLIOCIVIL? RESPOSTA Não, jamais olvidem do princípio da legalidade. Então, no caso específico desse crime, o legislador mesmo decidiu, nos §§4º e 5º do art. 150 do Código Penal, esclarecer o que está e o que não está contido no significado daquela palavra: §4º - A EXPRESSÃO "CASA" COMPREENDE: I - QUALQUER COMPARTIMENTO HABITADO; II - APOSENTO OCUPADO DE HABITAÇÃO COLETIVA; III - COMPARTIMENTO NÃO ABERTO AO PÚBLICO, ONDE ALGUÉM EXERCE PROFISSÃO OU ATIVIDADE. §5º - NÃO SE COMPREENDEM NA EXPRESSÃO "CASA": I - HOSPEDARIA, ESTALAGEM OU QUALQUER OUTRA HABITAÇÃO COLETIVA, ENQUANTO ABERTA, SALVO A RESTRIÇÃO DO N.º II DO PARÁGRAFO ANTERIOR; II - TAVERNA, CASA DE JOGO E OUTRAS DO MESMO GÊNERO. É por isso que esses parágrafos podem ser considerados como normas penais explicativas. E já tome nota, há alguns casos em que isso pode ser feito até mesmo por um outro ato, que não legislativo. EXEMPLO É quando atos normativos do executivo assumem o condão de definir o sentido de uma expressão empregada como elemento de um crime. Em suma, portanto, há três espécies de normas penais: incriminadoras, permissivas (exculpantes ou justificantes) ou explicativas. Todas elas são marcadas pelas características básicas de toda norma penal, que passamos a expor em seguida. CARACTERÍSTICAS Normas penais são marcadas por algumas características que neste módulo apenas mencionaremos, mas que voltarão a ser trabalhadas ao longo deste conteúdo. Elas são caracterizadas pela exclusividade, já que, como visto, só a lei pode criar crimes e cominar penas (princípio da reserva legal). Além disso, têm como marca a anterioridade, dado que a lei penal deve ser anterior ao fato que se pretende punir – conforme veremos no módulo Lei penal no tempo –, e, ainda, a impessoalidade, pois projeta seus efeitos para fatos futuros, podendo, em regra, atingir qualquer pessoa que venha a praticá-los – como veremos no tópico Lei penal e os sujeitos. Correlata a essa, e quase que com ela confundindo- se, está a generalidade, pelo fato de dirigir-se indistintamente a todas as pessoas. Por fim, normas penais são caracterizadas pela imperatividade, uma vez que o seu descumprimento tem como efeito a aplicação de uma sanção legalmente prevista (preceito secundário). Conhecidas, então, estrutura, espécies e características das leis penais, podemos passar para o tópico seguinte, em que descobriremos quais as fontes das normas. AS NORMAS PENAIS A especialista Luciana Fernandes aprofundará, no vídeo a seguir, o conceito das espécies de normas penais e suas características. FONTES Ao estudar as fontes das normas penais, queremos descobrir de onde emanam. Por isso, passamos a investigar que sujeitos foram responsáveis pela sua previsão (fontes materiais) e quais as suas referências de conhecimento (fontes formais) . Começando pelo segundo item, que dá conhecimento às normas, a primeira fonte formal imediata é a própria lei penal, aí incluídas as normas que estão no Código Penal e na legislação extravagante. Isso decorre, como você já sabe, do princípio da legalidade (art. 5º, inciso II e XXXIX), dado que apenas a lei pode criar infrações penais. Embora pareça redundante, é necessário frisar o papel dessa fonte, já que o legislador, ao criar uma norma, irá voltar-se a todo arcabouço de leis penais pré-existentes para dali poder responder a perguntas como: “Essa conduta já foi criminalizada?” “A pena cominada é proporcional a outra conduta parecida?” “É razoável a incriminação, considerando o estágio de proteção do bem jurídico afetado?” Foto: Shutterstock.com Assim é que determinamos como o próprio estado jurídico normativo impacta – e por isso serve como fonte – na atividade criativa das leis penais. Também como espécie de fonte formal, temos a Constituição. Em um Estado Democrático de Direito, a Carta Constitucional impõe que, tanto a redação (forma e conceitos trazidos pelas leis jurídico-penais) quanto a interpretação estejam em harmonia com a sistemática constitucional. A matriz que emerge da Constituição é limite e possibilidade de existência de qualquer norma penal, emplacando o fato de que todo dispositivo que violá-la estará sujeito à revisão (controle de constitucionalidade) pelos nossos Tribunais. Por isso, é sem dúvida nenhuma uma das suas principais e mais importantes fontes. Foto: Shutterstock.com Foto: Shutterstock.com Um exemplo prático emana do art. 5º, XLII, da CRFB/88, que dispõe: “A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”. A Lei 7.716/89, nesse sentido, surgiu em decorrência desse mandado constitucional, sendo aí atravessada em sua totalidade pelo comando constitucional. Outros exemplos de fontes formais imediatas são os tratados e convenções internacionais de direitos humanos, que impõem disciplinas e inspiram formas de interpretação das normas penais. Foto: Shutterstock.com Veja o seguinte exemplo: em razão dos diversos tratados de vedação à tortura que o Brasil se tornou signatário, tais como a Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes (1984), temos não só um dispositivo constitucional que veda o seu emprego (art. 5º, III, CRFB/88), como também uma lei penal que prevê as diversas formas de responsabilização criminal que qualquer prática nesse sentido estará sujeita (Lei 9.455/97). Outro exemplo de fonte formal são os complementos normativos, que apontam o sentido de um conceito trazido por uma norma penal. Agora você já sabe que aqui estamos falando de uma norma penal explicativa e estará lembrado que o complemento pode advir de outra esfera de poder, funcionando muitas vezes como requisito fundamental para a implementação de um tipo. Foto: Shutterstock.com É o caso da Portaria 344 da Anvisa, que tem sido atualizada constantemente e cumpre o papel de informar o que são drogas, para fins de aplicação da Lei 11.346/06 – conhecida como Lei de drogas. Outras espécies dessas fontes são: JURISPRUDÊNCIA Jurisprudência como conjunto de entendimentos dos Tribunais, informando a forma como dispositivos são aplicados ao longo do tempo. PRINCÍPIOS Estes serão estudados à frente. Alguns autores os classificam como fontes formais mediatas. COMENTÁRIO Produções teóricas sobre a nossa disciplina, constantes de livros, artigos científicos, entre outros, são referidos comumente como “doutrina” e são fonte das normas, agora classificadas como formal mediata. Outra espécie de fonte são os costumes, como normas de comportamento culturalmente localizadas e que irão impactar diretamente no que se refere a consideração de determinadas práticas como criminosas. Foto: Shutterstock.com É o caso do adultério, por exemplo, que foi crime previsto até 2005 e, na prática, apenas atingia a mulheres. Ao longo do tempo, e da revisão sobre como o machismo informava esse crime, essa deixou de ser uma prática afeta a responsabilidade criminal. ATENÇÃO Mas vejam o seguinte: um costume jamais poderá substituir a lei penal para criminalizar, por si só, condutas. Não se esqueça que, nesse caso, apenas a lei pode fazê-lo. Agora que já conhecemos o que pode inspirar seu conteúdo, podemos discorrer sobre o órgão produtor das normas penais, também nomeadas como fontes de produção ou substanciais. No caso do Direito Penal, segundo o art. 22, I, da CRFB/88, a fonte material é a União. Sendo assim, anote esta característica da lei penal brasileira: ela é sempre Federal. Isso nos difere de outros países que contemplam a possibilidade de estados terem autonomia para disporem livremente sobre crimes, como nos EUA. O constituinte brasileiro trouxe apenas uma hipótese excepcional, no parágrafo único daquele dispositivo, permitindo que, através de lei complementar que autorize, estados-membros legislem sobre questões específicas. Mas veja: essa é uma disposição que jamais, em toda nossa história, foi efetivada. Agora que já sabemos como a norma penal se apresenta e oque lhe informa, passamos a um último momento, em que vamos pensar sobre quais as técnicas de interpretação e integração que a ela são aplicáveis. INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL Começaremos este tópico com um exercício de imaginação. Imagine que você se depare, estudando esta disciplina, com uma norma penal que possui um termo bastante amplo em sua redação. Você fica se perguntando sobre a imensidade de fatos que estariam contemplados por ela, mas incerto sobre o que efetivamente deveria ser considerado uma lesão “criminosa”. Imagine, ainda, que em um mesmo título, no qual há vários crimes protegendo um mesmo bem, o legislador tenha silenciado sobre uma conduta que em outros dispositivos houvera criminalizado. Como você deve, então, proceder à sua interpretação? E como integrá-la ao ordenamento? É isso que estudaremos nos dois momentos seguintes. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL Quando falamos de interpretação da norma penal estamos nos referindo ao estudo dos instrumentos que podem auxiliar na determinação do significado de uma expressão ou de uma palavra, servindo para delimitar o alcance da lei. E veja como isto é fulcral para a implementação de um sistema de garantias no campo das ciências criminais, já que o Direito Penal deve ser regido pela taxatividade da norma penal. Há algumas espécies de interpretação possíveis, e que vamos apresentar explicando os grupos em que estão contidas. Em primeiro lugar, a interpretação pode ser classificada em função da origem, isto é, do órgão/entidade que a interpreta. Nesse caso, podemos estar diante de uma interpretação autêntica (ou legislativa), quando a própria lei trouxer a forma “correta” de interpretação – como explicamos com o §4º do art. 129 ou, para trazer um outro exemplo de interpretação autêntica, o do art. 327, ambos do Código Penal. A interpretação autêntica pode ser subdividida quanto ao momento, caso em que pode ser nomeada como contextual, quando o dispositivo surge com a própria lei penal que o constitui; ou posterior, quando o objeto da interpretação for incorporado ao ordenamento em momento que precede a edição da norma que demanda ser interpretada. Um segundo caso de interpretação quanto à origem é a doutrinária, aqui sendo responsável por determinar o sentido da norma àquelas pessoas que sejam teóricas, estudiosas do Direito Penal. Nós mesmos estamos fazendo isso, constantemente, neste material. O terceiro e último caso é o da interpretação jurisprudencial (ou judicial), que nos fala sobre o papel que os Tribunais têm de dar um significado às leis, função que cada vez mais vem sendo protagonizada pelas nossas cortes. Então, veja, quando não sabemos como interpretar um termo de um dispositivo penal, podemos pesquisar como juízes vêm entendendo o caso. OUTRO EXEMPLO DE INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA Há todo um título de crimes no nosso Código Penal que demandam uma qualidade específica de seus autores: que sejam funcionários públicos. Mas o que significa essa qualidade? A própria lei definiu, explicando quem pode ser agente de todas as infrações daquele grupo, conforme encontramos no artigo 327 do Código Penal. São inúmeros os exemplos possíveis de serem mencionados, e um deles está na ADPF 442, caso em que o STF vem julgando se as hipóteses de crime de aborto são ou não constitucionais; e, se forem, se deve- se considerar outros casos, além das disposições já incluídas no Código Penal, como exceções descriminantes. Foto: Shutterstock.com Outro exemplo está nas Súmulas, que nada mais são que entendimentos consolidados pelos nossos Tribunais que ganham a forma de um enunciado. Quanto ao modo, a interpretação pode ser: Gramatical ou literal, quando considerar o sentido expresso, explícito, dos termos contidos na norma penal, uma função muito basilar ao amparo do princípio da legalidade. Teleológica, quando a interpretação buscar considerar a vontade da lei, ou seja, quando se investigar qual seria o próprio fundamento de existência da norma e assim o seu sentido. Uma observação importa aqui: vontade da lei não se confunde, necessariamente, com a vontade do legislador que lhe propôs (voluntas legislatoris). Histórico, quando se perquire o contexto histórico em que esteve inscrita a lei, de modo a compreender o que interpelava a sociedade no momento da sua edição. Sistemática (ou sistêmica), em que se considera a lei como parte de um coletivo, demandando que a lei esteja, com o conjunto de disposições ao qual faz parte (sistema), em coesão e coerência. Progressiva (adaptativa), quando se observa o contexto atual da aplicação da lei, que muitas vezes transcende ao de sua edição, e se demanda que os elementos nela contidos possam fazer sentido na contemporaneidade. Outro grupo de classificação das interpretações é quanto ao resultado: Havendo a interpretação restritiva, quando se reduz o alcance da norma, através de um entendimento mais limitado dos seus termos. Ou extensiva, quando se entende cabível ampliar o alcance dos seus termos, assim atribuindo um maior espectro de incidência à lei. É preciso mencionar que, em virtude do princípio da legalidade, essa última é, em regra, descabida para as normas penais incriminadoras, sobretudo quando implicarem em um prejuízo à pessoa acusada. Por fim, vale mencionar a interpretação conforme a Constituição, método a partir do qual se verifica a compatibilidade da lei penal com a sistemática da Constituição. Essa é talvez uma das técnicas mais importantes para a implementação de um sistema jurídico-penal democrático, já que afere a sintonia de uma lei com a Carta Constitucional (GRECO, 2017, p. 121). INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL Os casos que visitamos nos itens anteriores, referentes às modalidades de interpretação, falam de hipóteses em que há uma norma e uma dúvida quanto ao sentido de um termo constante de seu conteúdo. Diferente é a hipótese em que não há uma lei propriamente aplicável a um caso concreto, havendo um “vazio legislativo”, também chamado de “lacuna legislativa”, em que se demanda criar uma norma a partir de outra. RELEMBRANDO Nas disciplinas introdutórias ao estudo das ciências jurídicas em geral, aprendemos que a analogia é a forma como se resolve essas questões, implicando na necessidade de se socorrer de um outro dispositivo, existente e referente a uma situação similar, tornando-o aplicável ao caso sem socorro. Como voltaremos a expor no tópico sobre princípios deste conteúdo, a analogia é, em regra, vedada no campo das ciências criminais em virtude do princípio da reserva legal que tanto temos citado. No entanto, trata-se de uma garantia da pessoa e, por isso, quando a analogia for a ela favorável (analogia in bonam partem) , ela torna-se possível. Com isso, queremos dizer: jamais será empregada a analogia, por exemplo, para incriminar condutas (analogia in malam partem) que não tenham sido explicitamente consideradas como criminosas, caso em que incorreria em prejuízo para a pessoa socorrida pelo princípio da legalidade; porém, caso haja uma dúvida quanto ao espectro de incidência, vamos supor, de uma excludente de ilicitude ou de culpabilidade, que citamos anteriormente no material, há a anulação da responsabilização, então pode ser empregada a analogia. Por exemplo, existe uma causa de exclusão da responsabilidade para os crimes patrimoniais não violentos em nosso Código Penal, constantes do art. 181, I, e 183, para os “cônjuges” (referente a pessoas que sejam civilmente casadas). Estaria o “companheiro” (referente a situação de fato da união estável) também abrangido pelo dispositivo, podendo beneficiar-se do dispositivo para eximir-se da resposta penal, supridas as demais condições legais? A lei silencia sobre o caso do “companheiro”, tratando-se de uma lacuna, que demanda o exercício da “integração” (não interpretação). E, veja, a analogia, aqui, se empregada, seria em benefício à pessoa acusada (in bonan partem). Por isso é, sim, possível fazer essa aproximação. Uma últimaressalva deve ser feita neste tópico: Analogia, que descrevemos anteriormente, não se confunde com interpretação analógica. Nessa última, há uma norma, redigida em termos genéricos, que indicam que situações similares à algumas que estejam na mesma linha de inscrição que as demais antecedentes podem ser abrangidas pela norma penal. EXEMPLO Uma das hipóteses de homicídio qualificado é quando o assassinato ocorre por meio de “outro meio que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido” (art. 121, §2º, IV, CP). A “emboscada, dissimulação e a traição”, que vêm antes nesse mesmo inciso, são fórmulas casuísticas que demonstram ataques que são dirigidos quando a vítima não espera ser surpreendida. O “outro recurso”, assim, é uma cláusula genérica que, pela interpretação analógica, precisa se inscrever na lógica dos anteriores expressamente previstos. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (DPE/SE - 2012 – QUESTÃO ADAPTADA) COM BASE NA INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL, ASSINALE A OPÇÃO CORRETA. A) O método filológico, literal, ou gramatical consiste na reconstrução do pensamento legislativo por meio das palavras da lei, em suas conexões linguísticas e estilísticas. B) A interpretação teleológica busca a vontade do legislador, a chamada voluntas legislatoris, e não a vontade da lei, denominada voluntas legis. C) O fenômeno denominado de interpretação evolutiva ocorre em caso de lacuna de lei. D) A interpretação conforme a constituição é sugerida, porém não é uma necessidade no campo criminal. E) Na interpretação sistemática, se investiga o contexto histórico em que a legislação surgiu. 2. (DPE/MA - 2011 – QUESTÃO ADAPTADA) NO QUE DIZ RESPEITO ÀS FONTES DO DIREITO PENAL BRASILEIRO, ASSINALE A OPÇÃO CORRETA. A) O complemento da norma penal pode ser considerado como norma penal incriminadora. B) A analogia, método pelo qual se aplica a lei de algum caso semelhante ao que estiver sendo analisado, é classificada como fonte formal mediata do Direito Penal. C) As fontes materiais revelam o direito; as formais são as de onde emanam as normas, que, no ordenamento jurídico brasileiro, referem-se ao Estado. D) Tratados e convenções internacionais não são fontes do direito penal. E) As fontes de cognição classificam-se em imediatas (representadas pelas leis) e mediatas (representadas pelos costumes e princípios gerais do direito). GABARITO 1. (DPE/SE - 2012 – Questão adaptada) Com base na interpretação da lei penal, assinale a opção correta. A alternativa "A " está correta. A interpretação gramatical é definida nos exatos termos da afirmativa. A interpretação teleológica não perquire a vontade das instâncias redatoras da lei, e sim dela mesma, considerando-se como fruto da vontade popular e não individual de seu redator. A interpretação evolutiva ocorre em caso de divergência de conteúdo contido em uma norma, situação em que não se fala em uma lacuna legislativa a demandar as técnicas de integração, motivo que a torna incorreta. Por fim, sabe-se que a interpretação constitucional é central ao nosso ordenamento e que a definição da última alternativa, em verdade, refere-se à interpretação histórica. 2. (DPE/MA - 2011 – Questão adaptada) No que diz respeito às fontes do Direito Penal brasileiro, assinale a opção correta. A alternativa "E " está correta. Quanto à letra A, trata-se de norma penal explicativa. A analogia não é fonte do Direito Penal, dado que, pelo princípio da legalidade, apenas a lei penal deve criminalizar condutas. A alternativa C apresenta os conceitos invertidos. A letra D está incorreta, já que são essas fontes importantíssimas, ganhando bastante projeção no contexto atual. O gabarito, então está na alternativa E, sendo essa a definição que trouxemos para as fontes. MÓDULO 2 Identificar a aplicabilidade no tempo da lei penal e os princípios regentes PRINCÍPIOS Até o presente momento, estivemos nos referindo ao princípio da legalidade penal, previsto no inciso XXXIX do art. 5º da CRFB/88 e art. 1º do Código Penal, na sua acepção mais geral, isto é, a de que “não se fala na existência de crime se não houver uma lei definindo-o como tal” (GRECO, 2017, p. 174). Esse princípio atribui segurança jurídica à nossa sociedade, assentando que ninguém será responsabilizado criminalmente se não houver uma previsão legal criando um tipo incriminador. Mas como esse preceito impacta de maneira mais direta na estrutura da lei penal e como ele pode nos ajudar a resolver situações que envolvam conflitos de normas penais no tempo? É para refletir sobre essas questões que vamos apresentar o conteúdo mais completo deste princípio. A legalidade tem quatro efeitos imediatos, dois inclusive já tratados neste módulo. São eles: A proibição da criação de crimes e penas pelos costumes; A proibição do emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas. Ambos decorrem da regra referida em latim como nullum crimen nulla poena sine lege scripta, que nos informa que não há crime sem uma lei escrita. Além disso, o princípio da legalidade também impõe que as leis penais precisam ser certas, ou seja, precisam ser redigidas de forma clara e precisa (nullum crimen nulla poena sine lege certa). Assim, como terceiro efeito, proíbe incriminações vagas e indeterminadas, tornando impositiva a obrigação da norma penal ser taxativa. O último efeito é o que mais importa para este módulo, versando sobre a proibição da retroatividade da lei penal mais gravosa (nullum crimen nulla poena sine lege praevia). Aqui, falamos que a lei penal precisa preexistir para que possa surtir os seus efeitos criminalizantes. Nessa acepção, o princípio da legalidade dá ensejo a um outro, o da irretroatividade da lei penal, que está em íntima relação com aquilo que sustenta o primeiro, a proteção que cada indivíduo deve ter contra os arbítrios do poder punitivo do Estado. Trata-se aqui do corolário do princípio da anterioridade da lei penal, que nos informa que a norma penal só tem aplicabilidade em um caso concreto na hipótese em que esteja em vigor quando da prática da conduta. COMENTÁRIO Nós falaremos um pouco mais sobre isso no próximo tópico, mas já perceba o enorme problema que teríamos caso fosse possível que a burocracia estatal pudesse arbitrariamente criar um tipo penal ou uma espécie de sanção casuisticamente a fim de submeter ao poder estatal uma determinada pessoa de modo distinto. Aí reside o potencial garantidor desta disciplina e o nosso interesse em vê-la sempre prestigiada. Esse assunto nos leva a tematizar um outro conjunto de casos, regidos pelo conhecido princípio da retroatividade da lei mais benigna. Imagine o seguinte caso: Foto: Shutterstock.com Uma pessoa, na data X praticou uma determinada conduta que era tipificada – e por isso considerada criminosa –, até então, pela L1. Foto: Shutterstock.com Ao longo do processamento da ação penal, a L1 foi revogada pela L2, que passou a descriminalizar – isto é, considerar irrelevante penalmente aquilo que antes era considerado crime – a conduta praticada. Foto: Shutterstock.com Na data da sentença, a magistrada do caso, então, depara-se com este conflito (aparente) de normas. QUAL LEI DEVE ELA ESCOLHER? L1, QUE REGIA A PRÁTICA QUANDO DA CONDUTA OU A L2, QUE REGIA O FATO QUANDO DO JULGAMENTO E TORNAVA IMPOSSÍVEL A RESPOSTA PENAL? RESPOSTA Essa matéria, conhecida como conflito de direito intertemporal, é regulada pelo inciso XL do art. 5º da CRFB/88, assim redigido: “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Esse princípio nos ensina uma técnica fundamental: para saber a norma aplicável, no conflito entre mais de uma possivelmente incidente, deve-se investigar qual a mais favorável para o réu. A lei penal que trouxer um benefício, seja ele qual for, para a pessoa acusada, sempre será aplicável: Tanto em termos retroativos, atingindo condutas que antes eram regidas por outra lei, mas quando da decisão emergente outra norma. Quanto ultrativos, quando estiverem vigor quando da prática, mas na aplicação já tiver sido revogada. É assim que podemos resolver o exemplo descrito: a L2 é a norma a ser aplicada, dado que a descriminalização sempre beneficia o réu, já que o isenta da resposta penal. Agora, imagine que fosse o contrário: que a L1, lei da época da conduta, não considerasse um fato criminoso, mas que por qualquer motivo foi levado à conhecimento do judiciário que, quando da decisão, depara-se com a L2 que considera a prática criminosa. Nesse caso, falamos em ultratividade da lei mais benéfica, dado que a lei anterior se prolonga para ser aplicável em data posterior à sua superação. Foto: Shutterstock.com ATENÇÃO Atenção ao que dissemos no parágrafo anterior. Falamos de uma lei que verse sobre qualquer benefício, sendo esse o caso de ser retro e ultrativa. Isso pode ocorrer quando houver: ABOLITIO CRIMINIS Que é a retirada de um crime do ordenamento, importando em uma causa extintiva da punibilidade. LEX MITIOR (NOVATIO LEGIS IN MELLIUS) Que é aquela que favorece o agente de alguma maneira, por exemplo, que reduz a pena mínima de um crime ou o tempo para concessão de um benefício. Nesses casos, a lei será retroativa e ultrativa, ou seja, sempre que estiver em debate em um conflito aparente de norma, deverá ser escolhida. O avesso delas é, respectivamente, a novatio legis incriminadora, quando há tipificação de um comportamento que até então não era crime, e a lex gravior (novatio legis in pejus), quando prejudica de alguma maneira o réu. EXEMPLO Criando uma causa de agravamento de pena ou dificultando a obtenção de um benefício. Essas duas últimas hipóteses (norma incriminadora e norma que prejudica) são aplicáveis apenas a fatos posteriores à entrada em vigor que não sejam impactados pela ultratividade da lei mais branda, sendo então irretroativas e não tendo efeitos de ultratividade. Essas duas hipóteses são explicitamente tratadas pelo Código Penal, que detalha o conteúdo da norma constitucional, prevendo que: ART. 2º - NINGUÉM PODE SER PUNIDO POR FATO QUE LEI POSTERIOR DEIXA DE CONSIDERAR CRIME, CESSANDO EM VIRTUDE DELA A EXECUÇÃO E OS EFEITOS PENAIS DA SENTENÇA CONDENATÓRIA. PARÁGRAFO ÚNICO - A LEI POSTERIOR, QUE DE QUALQUER MODO FAVORECER O AGENTE, APLICA-SE AOS FATOS ANTERIORES, AINDA QUE DECIDIDOS POR SENTENÇA CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO. Em suma, podemos dizer que: A retroatividade da lei penal mais benéfica é uma consequência da ponderação entre a segurança jurídica, quebra da coisa julgada e o direito à liberdade. A irretroatividade da lei mais gravosa é o seu avesso. Através dela, a lei revogada regula fatos ocorridos durante a sua vigência. A lei posterior retroage e alcança fatos anteriores à sua entrada em vigor, quando em benefício do acusado. E mais: a aplicabilidade da lei mais benéfica pode acontecer a qualquer tempo, mesmo que um caso tenha transitado em julgado, ou seja, que não caiba mais nenhum recurso da decisão que aplicou a lei mais gravosa. Nessa hipótese, é o juiz da execução penal (que funciona depois que a pena de uma condenação se torna definitiva) quem será responsável por fazer incidir a norma mais favorável, como nos informa a Súmula 611 do STF: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna”. Essas questões, que estão aqui apresentadas de modo sistematizado, podem ser difíceis de serem aferidas em um caso concreto, especialmente quando em parte um dispositivo legal for benéfico e em parte prejudicial. Então, imagine que: Uma lei (L1) preveja um crime com pena mínima de X anos, sem mencionar qualquer caso de diminuição da sanção. Uma lei posterior (L2) preveja para o mesmo crime pena mínima de X+2 anos, inovando ao criar uma causa de diminuição de até 2/3 da pena. Haja a possibilidade do conflito, quer dizer, conduta praticada durante a vigência da L1 e sentenciamento durante a L2. Seria possível a combinação das leis penais para fazer incidir a pena mínima da L1 com a causa de diminuição da L2? Pense na resposta antes de prosseguir. O caso apresentado é exatamente o que aconteceu entre duas leis de drogas brasileiras, a Lei 6.368/76 e a atual Lei 11.343/06, no que concerne ao crime de tráfico de drogas. A pena mínima, na Lei 6.368/76, para esse crime, era de 03 anos (enquanto a atual é de 05 anos), mas a Lei 11.343/06 prevê no §4º do art. 33 uma causa de diminuição que pode reduzir em até 2/3 a pena aplicada. Convidado a manifestar-se sobre o tema, o STF determinou que a combinação não seria possível, já que a ultratividade ou retroatividade deveria ser sempre “em bloco”, sob pena de constituir atividade legiferante. A Corte disse que aplicar parcialmente as disposições implicaria na criação de um novo dispositivo legal pelo judiciário, formado pelos dois fragmentos, implicando em atividade legislativa e, assim, violando a separação dos poderes. Espelhando essa tese, o STJ editou a Súmula 501, segundo a qual: É CABÍVEL A APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEI N. 11.343/2006, DESDE QUE O RESULTADO DA INCIDÊNCIA DAS SUAS DISPOSIÇÕES, NA ÍNTEGRA, SEJA MAIS FAVORÁVEL AO RÉU DO QUE O ADVINDO DA APLICAÇÃO DA LEI N. 6.368/1976, SENDO VEDADA A COMBINAÇÃO DE LEIS. Restou consolidado o entendimento da impossibilidade de combinação de leis, construindo o conteúdo do princípio da ponderação unitária usado por muitos Tribunais. De forma pragmática, a tese diz que deve ser a lei analisada caso a caso na sua inteireza, para que seja possível determinar se beneficia ou não o agente. Esse entendimento segue sendo debatido, com a possibilidade da combinação sendo alegada por diversos defensores, inclusive para casos envolvendo outras leis que não as de drogas. Aqueles que o defendem sustentam que a retroatividade da lei mais benéfica, que é direito constitucional, não foi limitada pelo constituinte. Isso resta claro na redação do mencionado inciso XL do art. 5º da CRFB/88, que não traz nenhuma limitação para a retroatividade da lei que atenua a resposta penal nos casos de conflito de direito intertemporal. A defesa é de que, se o Constituinte tivesse a intenção de excepcionalizar o princípio, teria expressamente previsto cláusula tal como “com exceção às hipóteses de combinação das leis”. Não o tendo feito, há que se interpretar o dispositivo em sua máxima efetividade, pelo que não haveria óbice para a combinação. Trata-se, portanto, de matéria ainda em disputa e que convidamos você a posicionar- se, principalmente tomando em conta o papel de um Direito Penal constitucional para a concretização do Estado Democrático de Direito. VIGÊNCIA, VALIDADE, ATIVIDADE E EXTRATIVIDADE DA LEI PENAL Se alguns dos exemplos que apresentamos anteriormente tiverem ficado um pouco confusos, convidamos você a, antes de revisar a matéria, prosseguir com a leitura, já que dois temas que apresentaremos com mais calma neste e o próximo tópico são fulcrais para entender a matéria completamente. Aqui, vamos lembrar-lhe que uma lei pode ter sido “promulgada”, mas não estar em “vigor”, caso em que não se insere nos debates de conflito aparente de normas referidos, sendo a vigência da lei o primeiro requisito para o conflito de normas no tempo. No próximo tópico, vamos expor o termo inicial a partir do qual analisa-se qual legislação pode ser aplicável a um caso, sendo o momento da atividade criminosa o segundo requisito de avaliação. Então, vamos começar com o seguinte debate: Quais leis são elegíveis para serem aplicadas em um caso? Basta que estejam sancionadas? Todos os casos que tratamos como solucionáveis pela irretroatividade da lei penal prejudicial são hipóteses que colocam em choque duas leis em vigor e plenamente válidas. Mas o que seriam essas características? Uma lei penal formalmente editada pelo Estado, redigida e aprovada pelo Legislativo e Executivo é considerada como promulgada após a assinatura do texto legal na fase final da aprovação legislativa (promulgação).Em regra, essa lei passa por um período de vacância (vacatio legis) , para que a sociedade dela tome conhecimento, e só com o seu transcurso é que poderá ser considerada em vigor (vigência) . EXEMPLO A Lei 13.964/2019, conhecida como “Pacote Anticrime”, aprovada pelo Congresso Nacional, foi sancionada pelo Presidente da República, em 24 de dezembro de 2019, data da sua promulgação. No entanto, ficou em vacância e só em 23 de janeiro de 2020 é que passou a estar em vigor. Então todas as disposições do Pacote só passaram a ser aplicadas livremente ou submetidas ao exame do conflito aparente de normas após esta data de 2020. O marco, portanto, para a cobrança da obediência à lei penal é, em tese, a data de sua vigência. Todos os casos que estamos avaliando demandam leis que já estejam em vigor quando da prática. Não obstante, a sua vigência não é suficiente, já que ela pode ser sempre questionada quanto a sua compatibilidade com o texto constitucional, o que chamamos de aferição de sua validade. Muitas vezes, assim, entendendo que um dispositivo em vigor é inconstitucional, se interrompe a sua aplicabilidade definitiva ou temporariamente. EXEMPLO É o caso do chamado “juiz de garantias” (art. 3º da lei 13.964/19, que acrescentou os artigos 3º-A a 3º-F ao Código de Processo Penal, que estava em vigor quando foi levado para avaliação do Supremo através da ADI (Arguição Direta de Inconstitucionalidade) de nº 6.298. Nesse julgamento, o STF suspendeu a sua aplicabilidade, debruçando-se sobre a validade dessa norma, adiando (suspenção liminar) a implementação dessas disposições em virtude de “impactarem na organização judiciária”. Outras disposições dessa mesma lei vêm sendo questionadas ainda na sua validade, e em breve assistiremos a Corte falar sobre a compatibilidade ou não de outros artigos. Então, uma lei que estivesse suspensa, que tivesse sido entendida como inconstitucional, por exemplo, sendo inválida, não é elegível para o conflito de leis. ATENÇÃO É importante dizer que esse exame de validade feito pelos Tribunais, ou até juízes de 1ª instância, não tem o condão de revogar a lei penal. Conforme o último princípio de que falaremos, o da continuidade das leis, a norma jurídico-penal só pode ser revogada por outra lei, formalmente falando. Uma decisão judicial pode – e deve, considerando a eficácia plena da Constituição – afastar uma norma quando não for compatível com nosso sistema de garantias constitucionais, mas isso implica na retirada da sua eficácia, não em uma revogação. Portanto, neste estágio, podemos dizer que todas as leis em vigor e válidas são aplicáveis nos termos da extratividade da lei penal mais benéfica que versamos no tópico anterior. Precisamos, ainda, mencionar que as leis penais também podem ser classificadas como excepcionais e temporárias. LEIS PENAIS EXCEPCIONAIS São aquelas que são criadas para serem válidas apenas em um determinado contexto pré-estabelecido, como ocorreu conosco com a chamada Lei da Copa. LEIS PENAIS TEMPORÁRIAS Essas estão já limitadas quanto à vigência na sua redação, que prevê que a partir de um determinado dia não terão mais vigor. Embora já tenham sido questionadas quanto à sua constitucionalidade, há muito entende-se que, resguardadas pela proporcionalidade, são constitucionais. ATENÇÃO Vale notar que, em matéria penal, ambas também são regidas pela extratividade da lei penal mais benéfica, impondo dizer que se aplicam aos fatos cometidos em sua vigência, mesmo que, quando da aplicação, já não estejam mais em vigor (art. 3º do CP). Agora que você já sabe quais leis são elegíveis para a solução dos casos de direito intertemporal, como prometemos, vamos falar sobre o termo inicial para aferir as leis em vigor que tratam sobre um determinado contexto de ilícito penal. Trata-se aqui do tópico “tempo do crime”, cuja relevância está independentemente dos casos em que haja conflito. VIGÊNCIA, VALIDADE, ATIVIDADE E EXTRATIVIDADE DA LEI PENAL Vamos acompanhar quais são as características de cada um desses termos? TEMPO DO CRIME Neste tópico, vamos de forma bastante pragmática responder à questão: “Como sabemos qual é o tempo da infração penal?” ESTIVEMOS MENCIONANDO NESTE MATERIAL O TERMO MOMENTO DA ATIVIDADE OU PRÁTICA DO CRIME, MAS O QUE ISSO SIGNIFICA? RESPOSTA Segundo o art. 4º do Código Penal, dentre as diversas teorias aplicáveis, nossa legislação adotou a chamada teoria da atividade. Com isso, o legislador nos informa que não importa o momento em que o resultado de um crime tenha se dado, caso ocorra em momento diverso do momento da conduta. Para determinação do tempo do crime, é necessário perceber o período da prática da ação/omissão. Vejamos como isso se aplica em um exemplo prático. Você deve saber que a responsabilização difere entre pessoas jovens (crianças e adolescentes) e pessoas adultas, já que as primeiras atendem ao ECA e as segundas ao CP/legislação extravagante. Imagine que uma pessoa tenha desferido um golpe (atividade) contra outra na véspera (T1) do seu aniversário de 18 anos, mas a vítima só morrera (resultado) após passar por diversos procedimentos médicos, dias depois de alcançada a chamada “maioridade penal (T2) ”. Foto: Shutterstock.com QUAL SERIA O TEMPO DO CRIME NESSE CASO, T1 OU T2? E QUAL A RESPOSTA A SEU PRINCIPAL EFEITO: APLICAMOS, ENFIM, O CP OU O ECA? RESPOSTA Segundo o critério da atividade, o que importa é o momento da conduta, a que nos referimos como teoria da atividade. Desprezamos para essa finalidade o momento do resultado. Portanto, nesse caso, torna-se aplicável todo o sistema do Direito Penal juvenil, tornando-se impossível a responsabilização nos termos do CP. Agora, vamos voltar para nossos casos de sucessão de leis penais no tempo. Quando nos referimos a duas leis aplicáveis, sempre falamos que uma lei estava regendo o caso, porque em vigor quando da atividade, e outra porque estava em vigor quando da decisão. EXEMPLO Quando um juiz, anos depois do crime, sentencia a ação penal. Foto: Shutterstock.com Então, imagine que houvesse existido uma lei (L1) que entrou em vigor em 2015 e que atribuía como pena para um crime “reclusão de 1 a 4 anos”. Foto: Shutterstock.com Suponha que em 2020 entra em vigor uma legislação (L2), que tenha modificado apenas o preceito secundário do crime da L1, alterando a sanção para “reclusão de 3 a 7 anos”. Foto: Shutterstock.com A descrição da conduta não foi, nesse exemplo, alterada de qualquer forma (quer dizer, não houve abolitio ou novatio criminis). Foto: Shutterstock.com Imagine, então, que a pessoa tenha cometido o crime descrito nas Leis em 2019, isto é, na vigência da L1. Porém, o julgamento do fato tenha acontecido apenas em 2021, na vigência da L2. QUAL PENA DEVERIA SER CONSIDERADA PELO MAGISTRADO? RESPOSTA Como aprendemos com o tópico anterior, trata-se de um caso de novatio criminis in pejus, por isso a L1 é que será aplicada, considerando a sua extratividade, nos termos do art. 2º do CP. Uma última hipótese deve ser trabalhada por nós. Embora pareça simples, há alguns casos específicos em que definir o momento da “atividade” criminosa é um tanto mais complexo, como nos chamados crimes permanentes e continuados. Esses conceitos serão mais bem trabalhados em outro módulo, quando estudaremos as espécies de crime, mas vamos fazer uma breve introdução apenas para que fique claro o ponto. Na continuidade delitiva, há uma pluralidade de crimes que por ficção jurídica são tratados como se um só fossem, por razão de equidade (art. 71 do CP). Suponha aqui, como ilustração, que uma pessoa pratique, toda sexta-feira, um furto na mesma esquina de uma rua em um centro urbano. Suponha também que isso aconteça de modo ininterrupto, por dois meses seguidos, praticando o agente o fato de forma idêntica em todas as ocasiões. Nessa hipótese, o legislador escolheu tratar o contexto como de cometimento de um só crime repetidamente, e não de diversos crimes, alterandoa forma como a resposta penal deve se dar. Mas quando será que consideramos a atividade? Naquela primeira conduta ou na última, dois meses após? Já os crimes permanentes são os em que a execução se prolonga no tempo por vontade do agente. Pense no crime de sequestro (art. 148 do CP), por exemplo. A cada segundo que a vítima fica segregada de sua liberdade, está-se praticando o crime. Qual seria o momento da atividade, quando a vítima foi capturada ou quando foi encontrado o agente, o que pode ocorrer em tempos diversos? Vamos supor que em qualquer um desses casos haja, entre a primeira conduta e a última, uma sucessão de leis no tempo. Como determinar a legislação aplicável? O STF também foi chamado a falar sobre o assunto, tendo editado a Súmula 711, que responde à questão da seguinte forma: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Há que se considerar, assim, para fins de determinação do tempo do crime, para ambas as situações, o momento em que cessou a continuidade ou permanência do crime. Esse será sempre o termo inicial em que avaliaremos o que regulava, à época, aquela prática. Vimos neste tópico, assim, a regência do chamado tempo do crime, disciplina que é fundamental para todos aqueles que querem atuar na área criminal. Antes de falarmos sobre o “espaço” do crime, vamos fazer dois exercícios para treinar o assunto. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (MPE/RJ - 2016) EM RELAÇÃO À TEORIA DA NORMA PENAL, NO QUE CONCERNE À APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO, AO TEMPO DO CRIME E AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) Considera-se cometido o crime tanto no momento da ação ou omissão, como no do implemento do resultado. B) A existência da norma penal em branco viola o princípio da legalidade. C) Os institutos da lei excepcional e temporária, previstos no artigo 3º do Código Penal, não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988. D) O instituto da abolitio criminis aplica-se apenas aos fatos criminosos anteriormente consolidados que ainda não tenham sido alcançados por uma sentença penal condenatória transitada em julgado. E) Nas situações de crime continuado e crime permanente, a aplicação de lei mais gravosa que tenha entrado em vigor na constância da continuidade ou da permanência não viola o princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. 2. QUANTO À TEMÁTICA DA LEI PENAL NO TEMPO, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA. A) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. B) A extratividade da lei penal mais benéfica restringe-se aos casos da abolitio criminis. C) A lex gravior é aquela que, de alguma forma, beneficia o réu, sendo imediatamente aplicável quando da decisão em uma ação penal. D) A Lex mitior é aquela que, necessariamente, deixa de considerar como fato criminoso uma conduta que anteriormente o fosse. E) Privilegiando-se o princípio da retroatividade mais benéfica, o STF, em entendimento sumulado, permitiu a combinação de leis para os casos em que duas normas em sucessão representem uma melhora na condição da resposta criminal por uma infração penalmente relevante. GABARITO 1. (MPE/RJ - 2016) Em relação à teoria da norma penal, no que concerne à aplicação da lei penal no tempo e no espaço, ao tempo do crime e ao princípio da legalidade, é correto afirmar que: A alternativa "E " está correta. Nesta questão, o candidato deveria reproduzir o inteiro teor da Súmula 711 do STF, que assenta que o momento da atividade do crime, nos casos de crimes continuados e permanentes, é do momento do cessar da continuidade/permanência. Assim, mesmo que nesse tempo haja uma lei penal mais gravosa, entende a Corte que tal não viola o princípio da anterioridade da lei e da vedação da retroatividade da lei penal mais gravosa. Lembrando que o momento do crime é o da conduta (ação ou omissão), independente do resultado; e que a norma mais favorável se aplica mesmo a casos transitados em julgado, o que responde as alternativas A e D. A norma penal em branco é a norma que demanda uma lei penal explicativa e foi considerada constitucional, tais como as leis penais excepcionais e temporárias pelas nossas Cortes, o que justifica as demais alternativas. 2. Quanto à temática da lei penal no tempo, marque a alternativa correta. A alternativa "A " está correta. A extratividade da lei penal aplica-se aos casos de abolitio criminis (descriminalização de um fato) ou lex mitior (quando qualquer circunstância amenize a situação da pessoa acusada). Trata-se de direito constitucional com sede no art. 5º e reproduzido no CP, no art. 2º. O STF, na Súmula 501, vedou a possibilidade da combinação das leis, prestigiando o princípio da ponderação unitária. A tese vem sendo criticada, embora assente o entendimento da Corte sobre a matéria. MÓDULO 3 Definir a aplicação da lei penal no espaço PRINCÍPIOS Quando falamos sobre o espaço do crime, debatemos qual ambiente consideramos enquanto lugar da infração penal, inclusive para determinar qual é a legislação aplicável em caso de dúvida. Então, voltando para os exemplos de conflito de normas... Imagem: Shutterstock.com Imagine que uma pessoa tenha postado, no Brasil, uma carta-bomba para um desafeto seu na Argentina. Foto: Shutterstock.com O objeto teria surtido efeito, provocando lesões graves na vítima, apenas na cidade de Buenos Aires, na Argentina, sendo aí portanto o lugar do resultado. Foto: Shutterstock.com Agora, suponha que a autora do crime seja brasileira e a vítima seja chilena. Qual lei penal é aplicável: brasileira, argentina ou chilena? É para refletir sobre esses casos que falaremos sobre extraterritorialidade do crime e sobre a relação entre norma jurídico-penal e pessoas. Antes de entrarmos nos princípios reitores da disciplina, precisamos saber como o legislador decidiu definir o que determinaria o “lugar do crime”. Diferentemente do que aprendemos no item sobre tempo do crime, aqui optou-se por uma teoria chamada mista, também conhecida como teoria da ubiquidade, conforme preceitua o art. 6º do Código Penal: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. Se no tempo do crime o que importa é o momento da atividade (teoria da atividade) , e não do resultado (teoria do resultado) , para definirmos qual o espaço do ilícito penal podemos considerar tanto o lugar da atividade (ação ou omissão) , quanto o resultado (produzido ou onde deveria ser produzido) . Então, no exemplo que formulamos, da carta-bomba, a lei penal brasileira já seria aplicável. E se fosse o contrário também, ou seja, se a carta tivesse sido postada na Argentina e aberta apenas no Brasil, sendo aqui o lugar do resultado. O princípio fundamental regente do assunto “lei penal no espaço” é o da territorialidade mitigada, cujo conteúdo está inscrito no art. 5º do Código Penal, segundo o qual: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”. Isso implica em dizer que a lei penal será aplicada em todo território nacional, entendido como espaço em que o Estado exerce a sua soberania política, compreendido por sua base geográfica, o espaço aéreo e o mar territorial. Foto: Shutterstock.com Mas veja que pontuamos que o princípio é adotado de forma mitigada, sendo também referido como princípio da territorialidade temperada. Isso porque o legislador previu que o Brasil pode abrir mão da aplicação de sua legislação, em virtude de convenções, tratados e regras de direito internacional. As exceções, portanto, atribuem-lhe essa característica moderada. O próprio artigo também define por extensão outros espaços que serão considerados território e que, porisso, caso neles seja praticado um ilícito penal, atrairão a lei nacional. São eles: §1º - PARA OS EFEITOS PENAIS, CONSIDERAM-SE COMO EXTENSÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL AS EMBARCAÇÕES E AERONAVES BRASILEIRAS, DE NATUREZA PÚBLICA OU A SERVIÇO DO GOVERNO BRASILEIRO ONDE QUER QUE SE ENCONTREM, BEM COMO AS AERONAVES E AS EMBARCAÇÕES BRASILEIRAS, MERCANTES OU DE PROPRIEDADE PRIVADA, QUE SE ACHEM, RESPECTIVAMENTE, NO ESPAÇO AÉREO CORRESPONDENTE OU EM ALTO-MAR. §2º - É TAMBÉM APLICÁVEL A LEI BRASILEIRA AOS CRIMES PRATICADOS A BORDO DE AERONAVES OU EMBARCAÇÕES ESTRANGEIRAS DE PROPRIEDADE PRIVADA, ACHANDO-SE AQUELAS EM POUSO NO TERRITÓRIO NACIONAL OU EM VOO NO ESPAÇO AÉREO CORRESPONDENTE, E ESTAS EM PORTO OU MAR TERRITORIAL DO BRASIL. De forma esquematizada, podemos dizer que: Navios ou aeronaves públicas ou à serviço do governo são consideradas território, não importando o lugar onde estejam. Se privados, quando em alto-mar ou nesse espaço (onde nenhum país é soberano), seguem a lei da bandeira. Se privados, em território brasileiro, serão assim considerados. Assim, podemos dizer que territorialidade é a regra apriorística que temos para determinar o lugar do crime. Mas, como veremos no tópico seguinte de forma mais esmiuçada, em algumas hipóteses o Estado opta pela extraterritorialidade, casos que são justificados por demais princípios regentes. São hipóteses em que, mesmo não sendo o crime praticado em território brasileiro, a norma nacional terá incidência. PRINCÍPIO DA DEFESA OU PROTEÇÃO O princípio da defesa ou proteção informa que, por ser o Estado titular de um determinado bem considerado fundamental, mesmo quando a prática transcender seus limites de espaço brasileiro, caberá aplicação da nossa lei penal (art. 7º, I do CP). PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE Por sua vez, o princípio da nacionalidade, também referido como da personalidade, ensina que, quando for um nacional brasileiro envolvido, como vítima ou autor do fato, pode o Estado exigir a aplicação da sua lei, independentemente do local da atividade ou resultado. Isso porque é quanto a essa norma que a pessoa está sujeita, enquanto parte da nossa sociedade (art. 7º, II, b e §3º do CP). PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE O princípio da universalidade (justiça universal ou cosmopolita) denota que todos os Estados podem punir os autores de determinados crimes que se encontrem em seus territórios, de acordo com as convenções ou tratados internacionais, independentemente da nacionalidade do agente, do local do crime ou do bem jurídico atingido (art. 7º, II, a, CP). PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO Já o princípio da representação (ou bandeira ou pavilhão ou de substituição) explicita um critério subsidiário para solução dos casos em que não se saiba qual legislação aplicar, devendo-se optar pela lei do Estado que registrou uma determinada embarcação ou aeronave, o que se conhece como “bandeira” (art. 7º, II, c, CP). PRINCÍPIO DO DOMICÍLIO Por fim, temos o princípio do domicílio, que assenta que o autor do crime deve ser julgado pela lei do país onde for domiciliado, independentemente de sua nacionalidade (Art. 7º, I, d, CP). Vamos estudar cada um desses casos detalhadamente no item seguinte, mas agora já sabemos o que justifica a opção do legislador. TERRITORIALIDADE E EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL Como mencionamos, a regra que temos para a determinação do lugar em que se aplica a lei penal brasileira é a da territorialidade mitigada. Segundo essa, haverá aplicação da lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional ao crime cometido no território nacional. Como território nacional, vimos, tanto o seu conceito, importado do direito internacional público, quanto também os critérios de extensão, que estão no art. 5º §§2º e 3º, cuja explicação remetemos o leitor ao item anterior. Temos interesse aqui de focar nos casos de extraterritorialidade, isto é, de aplicação da lei brasileira às infrações penais cometidas além de nossas fronteiras. Há duas espécies de extraterritorialidade, a incondicionada e a condicionada. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA Nesta espécie, basta a situação fática para aplicação da lei penal. Por exemplo: crime contra a vida praticado contra o presidente da República ou crime de genocídio praticado por brasileiro. Vejamos a íntegra: Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de território, de município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA Na extraterritorialidade condicionada, o legislador impõe uma série de requisitos para a incidência da norma penal nacional. Esses são cumulativos, têm natureza de “condições objetivas de punibilidade” e estão previstos no art. 7º, §2º, “a”, “b”, “c”, “d”, “e” e §3º. Já os casos que dão ensejo a essa modalidade de extraterritorialidade estão no Art. 7º, II e art. 7º, §3º. Um exemplo: crime praticado por brasileiro fora do território nacional, mas desde que este entre no Brasil + desde que no país da prática também o fato seja considerado criminoso + este seja um dos casos em que está autorizada a extradição + não ter sido absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena + não haver qualquer causa de extinção de punibilidade. São os casos e as condições: Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. §1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. §2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. §3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do ministro da justiça. O texto legal é inteligível por si só, por isso sugerimos que leiam com cuidado cada uma das hipóteses e não se esqueçam que as condições são cumulativas. ATENÇÃO Essas regras referem-se à prática de crimes. É inaplicável o princípio da extraterritorialidade às contravenções penais, havendo, aliás, proibição expressa na lei especial (art. 2º da Lei 3.688/41). Por fim, vale fazer algumas notas gerais sobre o assunto. 1 2 1 Uma pena cumprida no estrangeiro, nos termos do art. 8º do CP, pode atenuar a “imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”. Aqui, o assunto impacta na determinação da quantidade de pena. 2 Uma sentença estrangeira, nas hipóteses do art. 9º precisa ser homologada para produzir efeitos jurídicos no Brasil: Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II- sujeitá-lo a medida de segurança; Parágrafo único - A homologação depende a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do ministro da Justiça. Para terminar este tópico, então, vamos solucionar os casos com atenção às pessoas, ensinando como normas de Direito Público podem afetar as disposições que trouxemos até aqui. Essas são hipóteses em que, mesmo que, em tese, a pessoa deva responder frente à lei brasileira, haverá um impacto na própria possibilidade ou processamento da responsabilização criminal. TERRITORIALIDADE E EXTRATERRITORALIDADE DA LEI PENAL No vídeo a seguir, acompanharemos as considerações do especialista acerca do assunto. LEI PENAL E PESSOAS Vimos nos itens anteriores quais os sistemas de determinação da legislação aplicáveis em um caso concreto, determinados pela territorialidade mitigada e pelos casos específicos de extraterritorialidade. O que nos resta falar é como condições de determinadas pessoas podem alterar essa dinâmica, por implicar em normas de direito público que demandam afastamento ou suspensão da lei penal. Esse assunto nos faz refletir sobre as hipóteses em que a igualdade, prevista no art. 5°, caput, e inc. I, da CRFB/88, é sopesada, formulando o grande gênero das imunidades. A primeira espécie de imunidade que trataremos é a imunidade diplomática, que é prerrogativa de direito internacional público, prevista na Convenção de Viena, e incorporada em nossa legislação nos termos do art. 31 e seguintes do Decreto 56.435/65: O AGENTE DIPLOMÁTICO GOZARÁ DE IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO PENAL DO ESTADO ACREDITADO. GOZARÁ TAMBÉM DA IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO CIVIL E ADMINISTRATIVA, A NÃO SER QUE SE TRATE DE: A) UMA AÇÃO REAL SOBRE IMÓVEL PRIVADO SITUADO NO TERRITÓRIO DO ESTADO ACREDITADO, SALVO SE O AGENTE DIPLOMÁTICO O POSSUIR POR CONTA DO ESTADO ACREDITADO PARA OS FINS DA MISSÃO; B) UMA AÇÃO SUCESSÓRIA NA QUAL O AGENTE DIPLOMÁTICO FIGURE, A TÍTULO PRIVADO E NÃO EM NOME DO ESTADO, COMO EXECUTOR TESTAMENTÁRIO, ADMINISTRADOR, HERDEIRO OU LEGATÁRIO; C) UMA AÇÃO REFERENTE A QUALQUER PROFISSÃO LIBERAL OU ATIVIDADE COMERCIAL EXERCIDA PELO AGENTE DIPLOMÁTICO NO ESTADO ACREDITADO FORA DE SUAS FUNÇÕES OFICIAIS. 2. O AGENTE DIPLOMÁTICO NÃO É OBRIGADO A PRESTAR DEPOIMENTO COMO TESTEMUNHA. 3. O AGENTE DIPLOMÁTICO NÃO ESTÁ SUJEITO A NENHUMA MEDIDA DE EXECUÇÃO A NÃO SER NOS CASOS PREVISTOS NAS ALÍNEAS "A", "B" E "C" DO PARÁGRAFO 1 DESTE ARTIGO E DESDE QUE A EXECUÇÃO POSSA REALIZAR-SE SEM AFETAR A INVIOLABILIDADE DE SUA PESSOA OU RESIDÊNCIA. 4. A IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO DE UM AGENTE DIPLOMÁTICO NO ESTADO ACREDITADO NÃO O ISENTA DA JURISDIÇÃO DO ESTADO ACREDITANTE. Podemos dizer que os diplomatas têm imunidade de jurisdição penal e ficam sujeitos à jurisdição do Estado que representam, caso em que a atribuição da diplomacia constitui causa pessoal de exclusão de pena irrenunciável – salvo pelo próprio Estado acreditante, segundo art. 32 daquele diploma legal. Por isso, o agente diplomático não pode também ser objeto de detenção ou prisão (art. 29 do Decreto 56.435/65). Essas imunidades se estendem a todos os agentes diplomáticos e funcionários das organizações internacionais em serviço, incluindo os seus familiares – e excluindo os seus empregados particulares. A segunda espécie é a imunidade parlamentar, que decorre da função pública exercida pelo sujeito, “assegurando a liberdade necessária para o exercício do mandato” (CUNHA, 2016, p. 129). Ela se subdivide em duas sessões. IMUNIDADE MATERIAL A primeira é a imunidade material (real, imunidade parlamentar absoluta, indenidade), prevista na Constituição, segundo art. 53: “Os deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Trata-se de uma imunidade absoluta e que demanda a demonstração da conexão entre as palavras e/ou opiniões proferidas com o exercício do cargo. Isso implica na necessidade, sempre, de se ponderar se um discurso feito por um parlamentar subjazia ao mandato, ao cargo em exercício, ou lhe extrapolava, sendo que apenas no primeiro caso haverá a imunidade. IMUNIDADE FORMAL A segunda subespécie é a imunidade formal, que se refere aos casos que serão aprendidos em Processo Penal, que determinam os Tribunais que serão competentes para julgar-lhes, quando integrarem uma ação penal, e demais regras de processamento a que estão sujeitos. Por exemplo, segundo art. 53, §1º da CRFB/RR: “Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”. Além disso, quanto à prisão, esses, nos termos do §2º, ficam Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. Outras regras de processamento estão previstas ao longo desse artigo, como nos §§3º-5º, e todas são aplicáveis da diplomação até o fim do mandato. Com cada uma delas vocês provavelmente terão contato em Direito Processual Penal. Aqui, o que desejamos é que vocês tomem notícia. Por fim, vale anotar que, caso o parlamentar esteja licenciado, não a manterá e, conforme o §8º do referido dispositivo constitucional, elas subsistem mesmo em estado de sítio, demandando, para que sejam suspensas, aprovação após votação da Casa respectiva por 2/3. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (VUNESP – MPE/SP - 2010) CONSIDERE QUE UM INDIVÍDUO DE NACIONALIDADE CHILENA, EM TERRITÓRIO ARGENTINO, CONTAMINE A ÁGUA POTÁVEL QUE SERÁ UTILIZADA PARA DISTRIBUIÇÃO NO BRASIL E PARAGUAI. CONSIDERE, AINDA, QUE NESSE ÚLTIMO PAÍS, EM RAZÃO DA CONTAMINAÇÃO, OCORRE A MORTE DE UM CIDADÃO PARAGUAIO, SENDO QUE NO BRASIL É VITIMADO, APENAS, UM EQUATORIANO. DE ACORDO COM A REGRA DO ART. 6.º, DO NOSSO CÓDIGO PENAL ("LUGAR DO CRIME"), CONSIDERA-SE O CRIME PRATICADO: A) Na Argentina, apenas. B) No Brasil e no Paraguai, apenas. C) No Chile e na Argentina, apenas. D) Na Argentina, no Brasil e no Paraguai, apenas. E) No Chile, na Argentina, no Paraguai, no Brasil e no Equador. 2. SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A NORMA PENAL E AS PESSOAS, É POSSÍVEL DIZER: A) Somente mediante expressa manifestação pode o agente diplomático renunciar à imunidade diplomática, porquanto o instituto constitui causa pessoal de exclusão da pena. B) O diplomata poderá ser preso em hipótese de flagrante delito. C) São extensíveis aos agentes consulares as imunidades diplomáticas. D) A imunidade parlamentar material pressupõe elo entre o mandato parlamentar e o que foi veiculado, isentando deputados e senadores da responsabilidade criminal por palavras, votos e opiniões. E) As imunidades parlamentares relativas ao foro se estendem da posse até o fim do mandato. GABARITO 1. (VUNESP – MPE/SP - 2010) Considere que um indivíduo de nacionalidade chilena, em território argentino, contamine a água potável que será utilizada para distribuição no Brasil e Paraguai. Considere, ainda, que nesse último país, em razão da contaminação, ocorre a morte de um cidadão paraguaio, sendo que no Brasil é vitimado, apenas, um equatoriano. De acordo com a regra do art. 6.º, do nosso Código Penal ("lugar do crime"), considera-se o crime praticado: A alternativa "D " está correta. Conforme o art. 6º do Código Penal, a teoria que foi adotada em relação ao lugar do crime foi a da ubiquidade. Por isso, conforme a nossa legislação, o crime poderia ensejar a responsabilização na Argentina (onde foi praticado), no Paraguai e no Brasil (onde o resultado ocorreu). 2. Sobre a relação entre a norma penal e as pessoas, é possível dizer: A alternativa "D " está correta. As imunidades diplomáticas não podem ser renunciadas pelo próprio agente, demandando iniciativa do Estadoacreditante, motivo pelo que a alternativa A está incorreta. Elas impõem que diplomatas não serão detidos ou presos, mesmo em caso de flagrante, mas não são extensíveis aos cônsules (B e C). As imunidades parlamentares justificam-se enquanto durar o mandato, já que se referem à própria garantia da função, sendo que por esse motivo a alternativa E está incorreta. A alternativa D, que é o gabarito, fala sobre a imunidade material, que demanda a relação comprovada entre o discurso e o exercício da função para isentar a responsabilidade criminal por palavras e votos. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste conteúdo estudamos a norma penal, compreendendo suas características, princípios regentes e procedimentos de interpretação e integração. Debatemos, ainda, questões referentes a “quando” (tempo do crime) e “onde” (espaço do crime) podemos aplicar o conjunto de normas jurídico-penais brasileiras. Mais do que solucionar casos de conflitos aparentes, esperamos que você possa ter agora uma boa dimensão daquela que é a nossa principal fonte – a lei penal – e possa, a partir de então, estar preparado para os nossos próximos ciclos, em que estudaremos cada um de seus estratos. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BITENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal 1: Parte Geral. São Paulo: Saraiva Jur, 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. 1984. Consultado na internet em: 22 abr. 2021. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Aprova o Regulamento Técnico sobre Substâncias e Medicamentos Sujeitos a Controle Especial. In: Portaria nº 344. Brasília: Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 1998. CIRINO DOS SANTOS, J. Direito Penal: Parte Geral. Curitiba: Conceito Editorial, 2014. CUNHA, R. S. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Salvador: JusPodivm, 2016. DELMANTO, E. D. et al. Código Penal Comentado. São Paulo: Saraiva, 2017. GRECO, R. Curso de Direito Penal: Parte Geral — Volume I. Niterói: Impetus, 2017. PEREIRA, J. R. G. Interpretação Constitucional e Direitos Fundamentais. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. ZAFFARONI, E. R. et al. Direito Penal Brasileiro — Volume I. Rio de janeiro: Revan, 2003. ZAFFARONI, E. R. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Ediar, 2002. EXPLORE+ Ouça o podcast da plataforma Vire a Chave, do IBCCRIM. Para debater as origens das imunidades diplomáticas, consulte: NEDER, G.; CERQUEIRA FILHO, G. Cultura Jurídica, Cultura Religiosa no Brasil e Criminologia & Poder Político. In: Diálogos-Revista do Departamento de História e do Programa de Pós- Graduação em História, v. 11, n. 3, p. 19-37, 2007. Para uma visão mais crítica sobre o princípio da legalidade, consulte: DUARTE, E. P. Direito Penal, Criminologia e Racismo. In: Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 135, p. 17-48, 2017. Conheça também a forma como institutos da dogmática penal podem ser interpelados de forma crítica: DE ANDRADE, V. R. P. Flagrando a Ambiguidade da Dogmática Penal com a Lupa Criminológica: que Garantismo É Possível do Compasso Criminologia–Penalismo Crítico?. In: Sequência: Estudos Jurídicos e Políticos, v. 30, n. 59, p. 161-192, 2009. Na página da internet do Empório do Direito você pode ler o artigo de opinião Supremo Ativismo como Contrapoder Desconstituinte: O Caso do Foro “Privilegiado”, dos professores Enzo Bello e Lucas Pontes. CONTEUDISTA Luciana Costa Fernandes CURRÍCULO LATTES
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