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ERGONOMIA AULA 1 – INTRODUÇÃO À ERGONOMIA A “Ergonomia”, que durante muitas décadas, foi discutida muito timidamente dentro dos contextos produtivos, sendo uma das primeiras contribuições apresentadas somente em meados do século XIX. Entretanto, sempre existiram diversas razões para se aplicar a Ergonomia nos ambientes de trabalho. O conceito passou a ganhar mais destaque na Administração Científica, iniciada por Frederick Taylor (1903), na qual foi aplicada com certas limitações nos ambientes de fabricação. Provavelmente, uma das causas disso seja explicada pelo desconhecimento da sua importância, ou mesmo pela própria evolução do conceito que passou a ser compreendido e aplicado somente no século XXI. SURGIMENTO DA ERGONOMIA Discussões como essas motivaram o surgimento de uma área do conhecimento – a Ergonomia – voltada para a saúde, segurança e bem-estar do indivíduo enquanto realiza alguma atividade produtiva. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA No Renascimento, Leonardo da Vinci estudou o corpo humano e seus movimentos como pode ser notado no manuscrito “Homem de Vitrúvio” (figura 1). O célebre filósofo continuou contribuindo ainda mais através da aplicação de princípios da biomecânica nas suas criações. Segundo Jastrzebowski (1857) a Ergonomia como uma ciência do trabalho requer que entendamos a atividade humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação. Esta ciência do trabalho portanto significava a ciência do esforço, jogo, pensamento e devoção. KARWOWSKY (1991) assim descreve o texto pioneiro: “A partir de que Wojciech Jastrzebowski da Polônia (1857) definiu ergonomia juntando dois termos gregos ergon = trabalho e nomos = leis naturais, os pesquisadores têm procurado estabelecer as leis fundamentais baseadas nas quais esta disciplina em desenvolvimento pode ser classificada como uma ciência”. Século 18 – Revolução Industrial e Nascimento e Evolução da Ergonomia As condições nos chãos-de-fábrica não eram seguras e adequadas para os trabalhadores. Os ambientes eram mal iluminados (figura 3), haviam crianças desempenhando tarefas e ausência de sistemas de proteção em máquinas para evitar acidentes no trabalho. Isto implicada em riscos eminentes durante o trabalho e a submissão a ambientes muitas vezes insalubres ou perigosos. ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA – 1903 Na Passagem para o século XX, com o crescimento das empresas industriais, houve a necessidade de novos métodos para administrar essa nova realidade organizacional. Surge, então, o movimento que ficou conhecido como Administração Científica. O nome Administração Científica está relacionado à tentativa de aplicação dos métodos da ciência aos problemas da administração, com enfoque sobre o alcance da eficiência. O movimento foi responsável por provocar uma grande revolução no pensamento administrativo no mundo industrial. O pioneiro do movimento, Frederick Winslow Taylor (figura 6) lançou um livro intitulado "Administração Científica", cuja obra reunia uma série de conhecimentos que buscava a melhor maneira de se executar um determinado trabalho, com todo o seu conjunto de tarefas. Um fato marcante da contribuição dada por Taylor foi considerar um aumento e redução do tamanho e peso de uma pá de carvão, até que a melhor relação entre ambos fosse alcançada. Isto implicou em um aumento três vezes maior sobre a quantidade de carvão que cada trabalhador podia carregar em um dia. No trabalho feito dentro de uma fábrica de bombas hidráulicas, foram destacados alguns problemas: · A administração não compreendia que tinha que assumir responsabilidades com o trabalhador; · Falta de incentivos para melhorar a performance do trabalhador; · Empregados não cumpriam suas responsabilidades; · Decisões eram tomadas pelo palpite e intuição; · Não havia integração entre os departamentos da empresa; · Os trabalhadores realizavam tarefas para as quais não tinham aptidão; · Cargas de trabalho elevadas para os trabalhadores. Taylor então propôs organizar melhor o contexto produtivo Para tanto, propôs: · Padronizar método, máquinas e ferramentas. · Reduzir custos de produção. · Estimular os trabalhadores com premiações em caso de aumento de produtividade na operação. Taylor concentrou seu argumento na busca pela otimização do trabalho, que envolvia realizar as tarefas de uma maneira mais racional e com a máxima economia de esforço físico. Faltava pensar o trabalho do ponto de vista do trabalhador. Algo que era discutido por quem defendia a aplicação da Ergonomia. Taylor foi duramente criticado pela sociedade, pois entendia que o mesmo cultivava a mentalidade do Homo economicus, ou seja, explorar o trabalhador para extrair do mesmo o máximo de retorno possível para o sistema produtivo, desconsiderando as suas limitações físicas, ambientais e psicológicas. PRINCIPAIS PENSADORES Nas contribuições do polonês WOJCIECH Jastrzebowski (1857), o termo “Ergonomia” foi utilizado pela primeira vez. Murrel, K.F. (1965): A Ergonomia deve ser definida como o estudo científico das relações entre o homem e o seu ambiente. Grandjean, E (1968): A Ergonomia é uma ciência interdisciplinar. Ela compreende a fisiologia e a psicologia do trabalho, bem como a antropologia e a sociedade no trabalho. O objetivo prático da ergonomia é a adaptação do posto de trabalho, dos instrumentos, das máquinas, dos horários, do meio as exigências humanas. Montmollin, M (1971): A Ergonomia é a tecnologia das comunicações homem - máquina. Leplat, J (1972): A Ergonomia é uma tecnologia e não uma ciência, cujo objeto é a organização dos sistemas homens – máquinas. Wisner (1972): A Ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessário a concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto e eficácia. Ergonomia na visão de Meister (1998) é a ciência que objetiva adaptar o trabalho ao trabalhador e o produto ao usuário. Ergonomia na primeira metade do século XX A virada do século XIX para o século XX caracterizou-se pela passagem do fisiologista ao engenheiro como o principal agente ergonômico. A proposta de Frederick Winslow Taylor, com a Administração Científica, não se limitava somente a um projeto organizacional inovador. O estudo sobre as pás – de capacidade maior para o manuseio do carvão, material mais leve, e de menor capacidade para o minério, material mais pesado é um dos primeiros trabalhos empíricos de Ergonomia. DEFINIÇÕES PARA ERGONOMIA – VISÃO SIMPLIFICADA A Ergonomia é uma área que aborda questões sobre a vida laboral moderna, e também tem como objetivo a prevenção dos acidentes laborais e a criação de locais adequados de trabalho. DEFINIÇÃO PARA ERGONOMIA SEGUNDO A Associação Internacional de Ergonomia (IEA) Em agosto de 2000, a IEA adotou uma definição oficial que serve de referência para os estudiosos e profissionais que atuam na área de conhecimento da Ergonomia. A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema. Conceituação segundo a Organização Mundial do Trabalho (OIT) Em 1960, a OIT definiu ergonomia como a "aplicação das ciências biológicas conjuntamente com as ciências da engenharia para lograr o ótimo ajustamento do ser humano ao seu trabalho, e assegurar, simultaneamente, eficiência e bem-estar” (MIRANDA, 1980). Conceituação segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) Em 1972, Singleton, em uma publicação na OMS, definiu ergonomia como "uma tecnologia da concepção do trabalho baseada nas ciências da biologia humana". APLICAÇÃO DO CONCEITO DE ERGONOMIA O conceito de Ergonomia se aplica à qualidade de adaptação de uma máquina ao seu operador, proporcionando um eficaz manuseio e evitando um esforço extremo do trabalhador na execução do trabalho. Conceituações Atuais de Ergonomia É um estudo da adaptação dosinstrumentos, condições e ambiente de trabalho às capacidades psicofisiológicas do homem, possibilitando o entendimento do sistema homem-máquina-ambiente de trabalho, visando a uma melhor adequação do trabalho ao homem. Ciência que estuda a relação entre o homem e o trabalho que executa, através de uma integração perfeita entre as condições de trabalho, as suas capacidades e limitações físicas e psicológicas, procurando alcançar a eficiência de um sistema produtivo. A Ergonomia consiste em um estudo cientifico multidisciplinar que tem como função principal adequar o posto de trabalho ao ser-humano, desenvolvendo métodos para melhorar a relação homem maquina, encontrando formas seguras para a sua operação, otimizando o bem estar, para assim manter a saúde física e mental do trabalhador, e a produtividade da empresa em questão. O PAPEL DOS ERGONOMISTAS Os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas. CAMPO DE ATUAÇÃO DOS ERGONOMISTAS · Engenharia de Projeto de Produtos; · Projeto de Fábrica e Layout; · Empresas – adequações ergonômicas; · Biomecânica; · Engenharia de Segurança; · Adequações legais; · Educação; · Entre outros. AULA 2 – CARÁTER INTERDISCIPLINAR DA ERGONOMIA A Ergonomia é uma das ciências que têm contribuído bastante dentro de ambientes de trabalho. Por outro lado, existem ciências que também estão diretamente relacionadas com alguns dos seus princípios. Segundo Grandjean (1968), a Ergonomia preventiva está relacionada com a estratégia organizacional. Este autor sustenta que ela é uma ciência interdisciplinar. Ela compreende a fisiologia e a psicologia do trabalho, bem como a antropometria é a sociedade no trabalho. A Ergonomia utiliza conhecimentos relevantes de outras áreas do conhecimento humano. O foco da Ergonomia recai em ambientes de trabalho, procurando mantê-los ou deixá-los salubres. É comum a falta de conhecimento por parte dos trabalhadores em relação aos seus direitos na área de saúde e segurança do trabalho. Todo o trabalho deve possui boa iluminação e temperatura adequada, intervalos para pausas e adaptar o mobiliário às atividades, conforme a Norma Regulamentadora 17 (NR17) do Ministério do Trabalho e Emprego. A não observância dos empregadores para estas questões leva a um dos principais índices de afastamento laboral trabalho. Entre as consequências, podem ser destacadas as lombalgias em diferentes partes do corpo de um trabalhador. ÁREAS CIENTÍFICAS E ERGONOMIA Entre os exemplos de áreas científicas que abastecem a Ergonomia de princípios básicos estão: · Antropometria · Biomecânica · Fisiologia · Psicologia · Toxicologia · Engenharia · Desenho Industrial · Área de Produção · Entre outras áreas. Antropometria: É um ramo da antropologia que estuda as medidas e dimensões das diversas partes do corpo humano. Está relacionada com os estudos da antropologia física ou biológica, que se ocupa em analisar os aspectos genéticos e biológicos do ser humano e compará-los entre si. Utiliza modelos bidimensionais para testar dimensionamentos de postos de trabalhos. Biomecânica: Na visão de MCGINNIS (2015), é o estudo das forças e dos seus efeitos sobre os seres vivos. É o estudo da mecânica dos organismos vivos. Fisiologia: Estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios. Psicologia: É uma ciência que estuda o comportamento humano e animal e os processo mentais (razão, sentimentos, pensamentos e atitudes). Toxicologia: É a área da medicina que estuda a composição química e os efeitos das substâncias tóxicas e dos venenos, bem como o diagnóstico e o tratamento das intoxicações e dos envenenamentos. Engenharia: Conjunto de técnicas e métodos para aplicar o conhecimento técnico e científico na planificação, criação e manutenção deestruturas, máquinas e sistemas para benefício do ser humano. Desenho Industrial: O desenho industrial é a disciplina orientada para a criação e o desenvolvimento dos produtos industriais, que podem ser produzidos em série e em grande escala. Área de Produção: É responsável por desenvolver produtos ou serviços a partir de insumos (materiais, informações, consumidores) através de um sistema lógico criado racionalmente para realizar essa transformação. A Ergonomia pode ser amplamente aplicada em uma área de produção, beneficiando trabalhadores. Caráter Interdisciplinar da Ergonomia - Domínios da ergonomia e norma iso INTRODUÇÃO A Ergonomia é uma ciência que se preocupa com uma série de aspectos que estão presentes em situações de trabalho e que podem interferir direta ou indiretamente na maneira como um indivíduo pode realizar a sua função. Pode-se afirmar que a Ergonomia estuda a adaptação do meio envolvente à dimensão e capacidades humanas, de maneira que máquinas, equipamentos e utensílios sejam utilizados com o máximo de segurança, conforto e eficácia. Toda esta preocupação sobre as situações de trabalho, na verdade, possui um foco voltado para o alcance de melhorias sobre processos produtivos, consequentemente buscando indicadores compatíveis com os interesses da administração de quem planeja e controla um dado sistema produtivo. O esforço para se aplicar corretamente a Ergonomia visa aumentar a produtividade de operação, da área, da empresa na qual estão inseridos trabalhadores. Além disso, exatamente por existir seres humanos em ambientes produtivos, a Ergonomia procura humanizar as relações de trabalho com o intuito também de atingir um bem-estar ou qualidade de vida no trabalho. Reconhece-se que praticamente todas as rotinas de trabalhos sofrem influência de vários fatores (físicos, organizacionais e cognitivos) em maior ou em menor escala. Cada um desses fatores podem provocar impacto sobre um trabalhador. Domínios da Ergonomia segundo a ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia) Segundo a ABERGO, a ergonomia pode ser dividida em três domínios. A saber: 1)Ergonomia Física. 2) Ergonomia Cognitiva. 3) Ergonomia Organizacional ERGONOMIA FÍSICA Este domínio da Ergonomia encontra-se relacionado com as características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação à atividade física. Essencialmente, lida com as respostas do corpo humano a carga física e psicológica, como por exemplo: homem fazendo força para levantar um objeto. São contemplados os seguintes conteúdos: · posturas no trabalho, · manuseio de materiais, · movimentos repetitivos, · distúrbios músculo esqueléticos relacionados ao trabalho, · projetos de posto de trabalho, · segurança em ambientes de trabalhos, · saúde. ERGONOMIA COGNITIVA Em Engenharia de Métodos (área do conhecimento que estuda os melhores métodos de produção, dos processos, das ferramentas, do equipamento e das competências para produzir um produto) é comum considerar a importância da Ergonomia Cognitiva, ou seja, de processos mentais. Os processos mentais são inerentes aos seres humanos (Figura 4), que estão normalmente presentes em ambientes de trabalho, tais como: · a percepção, · a memória, · o raciocínio e · a resposta motora que possuem correspondência com estímulos e com as interações entre seres humanos. Tais temas consideram normalmente: · o estudo da carga de trabalho, · a tomada de decisão por parte da chefia responsável pela tarefa, a interação homem-computador, · o entendimento do método de trabalho, · o estresse, · o treinamento e · a capacitação de seres humanos nas mais diversas funções que realizam dentro de um sistema produtivo. ERGONOMIA ORGANIZACIONAL É comum relacionar a Ergonomia com elementos que estão associados com a otimização de sistemas sócio-técnicos, incluindo pessoas como partes inerentes do sistema, o conhecimento de como o sistema deve ser usado, suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Estes sistemas são regidos pelas organizações epodem ser afetados por escolhas, leis ou políticas regulamentadoras, independente de onde estejam localizadas no mundo. Sendo assim, os principais temas tratados nesta área de estudo são os seguintes: · projetos de postos de trabalho; · gestão da qualidade; · comunicação; · trabalho em equipe; · cultura organizacional; · entre outros. ERGONOMIA E EDUCAÇÃO O entendimento de um trabalho passa possivelmente por um diálogo junto ao trabalhador, ou seja, é fundamental que haja comunicação (figura 6). É necessário entender a natureza de sua tarefa, bem como os métodos empregados para a sua realização. A atividade de trabalho corresponde ao trabalho que é executado por um indivíduo inserido no contexto produtivo aonde ele procura cumprir através de suas tarefas. Segundo ABRAHÃO (1993), é o resultado das definições impostas pela empresa com relação à sua tarefa e das características pessoais, experiência e treinamento dado ao trabalhador. Desde o momento em que se decide pelo uso de conceitos e métodos presentes na análise ergonômica da atividade sobre a concepção dos procedimentos operacionais e instruções de trabalho facilita, pode-se dizer que se reduz a lacuna existente entre o trabalho que ocorre na prática e o que é discutido na teoria ou durante o seu planejamento. Na análise das atividades e da situação de trabalho cabe ao ergonomista, ou relator da atividade, descrever o do trabalho em sua totalidade, observando comportamentos e conversando com os trabalhadores antes e após o exercício de suas funções. Ergonomia e NORMA ISO 9001 A International Organization for Standardization (ISO) tem como objetivo a aprovação de normas internacionais em todos os campos técnicos, a saber: · normas técnicas; · classificações de países; · normas de procedimentos e processos, e etc. No Brasil, a ISO é representada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). As empresas buscam se diferenciarem no mercado, junto aos seus clientes, através da certificação de seus sistemas. E quando trabalham no sentido de atenderem, por exemplo: a versão mais atual norma ISO 9001 (2015), é possível notar que os trabalhadores atuem mais motivados quando mudanças são alcançadas em virtude da busca pela certificação. A norma ISO 9001 (2015) considera uma série de elementos importantes para a Ergonomia, tais como: · a preocupação com as condições de trabalho, · aspectos motivacionais, · entre outros. Recentemente, diversas Normas de Ergonomia tem sido aprovadas: - ABNT NBR ISO 11228-3:2014: Movimentação de cargas leves em alta frequência de repetição; - ABNT ISO/TR 16982:2014: Ergonomia da interação humano-sistema /Métodos de usabilidade que apoiam o projeto centrado no usuário; - ABNT NBR ISO 9241-143:2014: Ergonomia da interação humano-sistema; - ABNT NBR ISO 11226:2013: Ergonomia — Avaliação de posturas estáticas de trabalho. AULA 3 – NORMA REGULAMENTADORA 17 INTRODUÇÃO Compreender as muitas situações que acontecem diariamente dentro das rotinas de trabalho em organizações produtivas de bens ou de serviços não é uma tarefa considerada tão simples. Aliás, muito pelo contrário. Representa um grande desafio para qualquer gestor responsável pelas operações que requerem diversos recursos de produção. Por exemplo: aqueles que estão presentes em um chão de fábrica executando tarefas produtivas em uma indústria. E quando o foco recai, sobretudo, em relação aos recursos humanos, pode-se dizer que a necessidade se torna ainda maior em identificar e corrigir qualquer fator que interfira no bom andamento do trabalho. Surge, então, a figura do profissional “ergonomista” que possui a responsabilidade de corresponder ao que as legislações trabalhistas ou normas regulamentadoras em segurança e medicina do trabalho que preconizam e definem como requisitos ideais para que o trabalho ocorra de maneira segura, confortável e eficiente. NORMASREGULAMENTORAS ESEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO As Normas Regulamentadoras (NR), relativas à segurança e saúde do trabalho, devem ser respeitadas tanto por empresas privadas e públicas, quanto pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Foram criadas na década de 1970. O Brasil era considerado o primeiro no ranking mundial de acidentes de trabalho. Buscava-se a melhoria das condições de trabalho na indústria. São também conhecidas como “NR’s”. Regulamentam e fornecem orientações sobre procedimentos obrigatórios relacionados à medicina e segurança no trabalho. Desenvolvem direitos e obrigações que deve ser respeitados pelos trabalhadores e pelos seus contratantes. Existem trinta e seis NR’s relativas à segurança e medicina do trabalho. Cabe à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) aplicar as penalidades cabíveis por descumprimento dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho. As penalidades são aplicadas sob a forma de auto de infração, podendo resultar em multas, embargos ou interdições total e parcial da empresa autuada. OBRIGAÇÕES DA EMPRESA O empregador possui inúmeras responsabilidades, dentre as quais deve: · cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho; · informar aos trabalhadores sobre os riscos profissionais que possam originar-se nos locais de trabalho. OBRIGAÇÕES DO TRABALHADOR: · utilizar o EPI fornecido pelo empregador. · realizar os exames médicos previstos nas Normas Regulamentadoras. Nota: Constitui-se ato faltoso a recusa injustificada do empregado no caso de descumprimento das obrigações anteriores. NORMAS REGULAMENTADORAS EO CONTEXTO DE TRABALHO No Brasil, as Normas Regulamentadoras regulamentam e fornecem um conjunto de orientações sobre procedimentos obrigatórios relacionados à segurança e medicina do trabalho, que em muitos ambientes organizacionais são facilmente identificadas através de simbologia própria. Essas normas são citadas no Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Foram aprovadas pela Portaria n.°3.214, 8 de junho de 1978 e são de observância obrigatória para todas as empresas brasileiras regidas pela CLT. Além disso, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) é o órgão do Governo responsável pela edição das NR’s, além de periodicamente revisá-las. A Ergonomia possui relação com todas as normas. SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO E CLT No Capítulo V da CLT (artigos 154 a 201), referente à segurança e medicina do trabalho, tem-se a possibilidade de consultar informações pertinentes à inspeção prévia, embargo ou interdição, órgãos de segurança e medicina, equipamentos de proteção individual, medidas preventivas, edificações, iluminação, conforto térmico, atividades insalubres e perigosas, entre outros pontos. SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO E EMPRESA Uma empresa possui poder de expedir instruções gerais a seus empregados quanto às precauções a serem tomadas para evitar acidentes e doenças laborais. Ainda com o propósito de resguardar a saúde do trabalhador, é obrigatório o exame médico na admissão, durante o contrato de trabalho, bem como por ocasião de sua interrupção (artigo 158 da CLT). Normas Regulamentadoras. Nr-17. Devido à grande relevância associada ao entendimento das Normas Regulamentadoras, esta aula cita as 36 NR’s e realiza algumas considerações a respeito da NR 17 - Ergonomia. As Normas Regulamentadoras relativas à segurança e medicina do trabalho são as seguintes: · NR 01 - Disposições Gerais · NR 02 - Inspeção Prévia · NR 03 - Embargo ou Interdição · NR 04 - Serviços Especializados em Eng. de Segurança. · NR 05 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. · NR 06 - Equipamentos de Proteção Individual – EPI · NR 07 - Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional · NR 08 – Edificações · NR 09 - Programas de Prevenção de Riscos Ambientais · NR 10 - Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade · NR 11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseiode Materiais · NR 12 - Máquinas e Equipamentos · NR 13 - Caldeiras e Vasos de Pressão · NR 14 - Fornos · NR 15 - Atividades e Operações Insalubres · NR 16 - Atividades e Operações Perigosas · NR 17 - Ergonomia · NR 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção · NR 19 - Explosivos · NR 20 - Líquidos Combustíveis e Inflamáveis · NR 21 - Trabalho a Céu Aberto · NR 22 - Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração · NR 23 - Proteção Contra Incêndios · NR 24 - Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho · NR 25 - Resíduos Industriais · NR 26 - Sinalização de Segurança · NR 27 - Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no MTB (Revogada pela Portaria GM n.º 262/2008) · NR 28 - Fiscalização e Penalidades · NR 29 - Segurança e Saúde no Trabalho Portuário · NR 30 - Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário · NR 31 - Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura · NR 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde · NR 33 - Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados · NR 34 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e Reparação Naval · NR 35 - Trabalho em Altura · NR 36 - Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados NORMA REGULAMENTADORA Nr 17 – Ergonomia A NR 17 – Ergonomia visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Tal norma inclui diversos aspectos, entre os quais alguns deles relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. Logo, o empregador tem a responsabilidade de empreender uma análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, de acordo com que foi estabelecido nesta Norma Regulamentador. Sobre o transporte de cargas: · Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga. · Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança. · Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que utilizarão para salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes. · Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o transporte manual de cargas, o peso máximo destas deverá ser inferior àquele admitido para os homens, para não comprometer a sua saúde ou a sua segurança. · O trabalho de levantamento de material feito com equipamento mecânico de ação manual deverá ser executado de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua segurança. Sobre o mobiliário dos postos de trabalho: · Necessidade de planejamento ou adaptação para o trabalho que for executado na posição sentada. · Necessidade de condições de boa postura, visualização e de operação para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé. · Além de atender a requisitos mínimos, tais como: · altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento; · área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador; · características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação adequados dos segmentos corporais. · Para trabalho que necessite também da utilização dos pés, além dos requisitos estabelecidos anteriormente, deve-se ter os pedais e demais comandos para acionamento pelos pés com posicionamento e dimensões que possibilitem fácil alcance, bem como ângulos adequados entre as diversas partes do corpo do trabalhador, em função das características e peculiaridades do trabalho a ser executado. · Nos postos de trabalho, os assentos utilizados devem atender aos seguintes requisitos de conforto: · altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; · características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; · borda frontal arredondada; · encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar. Sobre os equipamentos dos postos de trabalho: · Devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. · Atividades que envolvam leitura de documentos para digitação devem: · evitar movimentação frequente do pescoço e fadiga visual; · ser utilizado documento de fácil legibilidade sempre que possível, sendo vedada a utilização do papel brilhante, ou de qualquer outro tipo que provoque ofuscamento. · Os equipamentos utilizados no processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo devem observar o seguinte: · ajuste da tela do equipamento à iluminação do ambiente (contra reflexos) e ter corretos ângulos de visibilidade; · o teclado deve ser independente e ter mobilidade, permitindo ajustá-lo de acordo com as tarefas a serem executadas; · a tela, o teclado e o suporte para documentos devem ser colocados de maneira que as distâncias olho-tela, olho- teclado e olho-documento sejam aproximadamente iguais; · estar em superfícies de trabalho com altura ajustável. Condições ambientais de trabalho: · estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. · onde são exigidas solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle, laboratórios, escritórios, análise de projetos, dentre outros, são recomendadas: · níveis de ruído conforme NBR 10152 (INMETRO), · índice de temperatura efetiva entre 20oC e 23oC; · velocidade do ar não superior a 0,75m/s; · umidade relativa do ar não inferior a 40%. · iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. · níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de trabalho são os valores de iluminâncias estabelecidos na NBR 5413, norma brasileira registrada no INMETRO. Organização do trabalho: · atividades com sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte: · todo sistema de avaliação de desempenho para efeito de remuneração e vantagens deve levar em consideração a saúde dos trabalhadores; · devem ser incluídas pausas para descanso; · quando do retorno do trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno gradativo aos níveis de produção vigentes na época anterior ao afastamento. AULA 4 – ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Entre outras atribuições, a Ergonomia consiste no conjunto de disciplinas que estuda a organização do trabalho aonde está presente interações entre seres humanos e máquinas. A organização do trabalho corresponde à divisão das tarefas e dos trabalhadores. A Ergonomia contribui para que o trabalho seja realizado corretamente quando é feita a distribuição da carga de trabalho a cada colaborador. Isto se traduz no grau de satisfação por parte do trabalhador. DEFINIÇÃO DE TRABALHO O trabalho pode ser definido como qualquer atividade física ou intelectual, desempenhado por ser humano, que tem como finalidade fazer, transformar ou obter algo. NORMAS DE PRODUÇÃO São todas as normas que o trabalhador deve seguir para realizar a tarefa. MODO OPERATÓRIO Refere-se à forma como as atividades ou operações devem ser executadas para se atingir o resultado final planejado. Uma análise ergonômica pode evidenciaros vários modos operatórios possíveis (prescritos e reais), desde os mais confortáveis até os menos confortáveis. Neste caso, modificações podem ser recomendadas em relação aos meios e equipamentos para que possam melhorar o conforto e a segurança do trabalhador no ambiente de trabalho. SITUAÇÃO DE TRABALHO É um sistema complexo que compreende as entradas (ex.: exigências técnicas, ambientais e organizacionais de trabalho), a forma como o trabalhador se comporta diante do seu trabalho e as saídas (ex.: resultados do trabalho em termos de produção e saúde). Determinam os comportamentos do homem no trabalho, caracterizadas nas atividades em termos de informações e ações. NR 17 - Ergonomia aplicada à Organização do Trabalho A organização do trabalho deve ser adequada às características psicofisiológicas de cada um dos indivíduos presentes em ambientes de trabalho e à natureza do trabalho a ser executado. A organização do trabalho, para efeito desta NR 17 – Ergonomia, deve levar em consideração, no mínimo: · as normas de produção; · o modo operatório; · a exigência de tempo; · o ritmo de trabalho; · o conteúdo das tarefas; · entre outros. As mudanças nos sistemas produtivos e organização do trabalho estão fortemente ligadas às transformações na relação do homem e o seu trabalho. Diante destes aspectos, verifica-se a importância do conhecimento sobre a instalação gradual de modelos de produção (exemplo: Manufatura Enxuta) no Brasil e a sua relação com a Ergonomia, visando garantir a manutenção da saúde do trabalhador e obter ganhos na produtividade. LIMITAÇÃO DA NR 17 – ERGONOMIA A NR-17, como todas as normas regulamentadoras, não consegue apresentar soluções para todas as situações encontradas que são vista no dia a dia das organizações. Deve-se tomá-la somente como uma referência. A solução dos problemas virá com o esforço conjunto de todos que atuam dentro do ambiente de trabalho. ANÁLISES DOS POSTOS DE TRABALHO Com o propósito de contribuir para a organização do trabalho, pode-se empreender uma análise de postos de trabalhos. Analisar postos de trabalho significa realizar um estudo de uma parte do sistema onde o trabalhador atua. Assim, faz-se uma análise da tarefa, da postura e dos movimentos executados pelo trabalhador, bem como de exigências físicas e psicológicas. No dimensionamento do posto de trabalho, devem ser avaliadas as exigências a que está submetido o trabalhador (visuais, articulares, circulatórias, antropométricas, etc.) e as exigências que estão relacionadas com a tarefa, ao material e à organização da empresa. Exemplos de exigências a se serem analisadas em um posto de trabalho: Os produtos ergonômicos contribuem também para a minimização de doenças, prevenir erros ou de riscos de acidentes. Ex.: Equipamento de Proteção Individual (EPI). Vide na Figura 3 alguns tipos de EPI’s. EXEMPLOS DE PRODUTOS ERGONÔMICOS Mouse Pad , Protetor Auditivo, Braço Ergonômico para Monitor, Luvas de segurança, Protetor de ombro ergonômico, Protetor Lombar Ergonômico, tapete ergonômico, Banco semi-sentado, apoio para teclado, Apoiadores para antebraços e Mobiliário Ergonômico. AULA 5 – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (LAUDO Ergonômico E SISTEMA HOMEM-MÁQUINA) INTRODUÇÃO à Análise Ergonômica do Trabalho (AET) A metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) atua no sentido de compreender como um trabalhador se comporta em relação a sua tarefa. A AET é um método de ação para a transformação das situações de trabalho. E permite que se discutam alternativas para solucionar problemas existentes no ambiente de trabalho e que podem interferir na saúde e na segurança dos recursos humanos presentes no mesmo. Tendo como objetivo rastrear, observar, avaliar e analisar as relações existentes entre demandas de doenças, acidentes e produtividade com as condições de trabalho, com as interfaces, com os sistemas e com a organização do trabalho. Segundo WISNER (Figura 1), a característica essencial da AET é ser destinada a "examinar a complexidade, sem colocar em prova um modelo escolhido a priori“. A AET busca, essencialmente, o enfrentamento das situações de trabalho geradoras de Lesões por Esforços Repetitivos ou de Distúrbios Ósteo-Musculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT). LAUDO ERGONÔMICO O Laudo Ergonômico é geralmente um documento emitido como resposta à algumas ou diversas das questões ergonômicas relativas à uma condição específica de trabalho em um determinado posto de trabalho. O laudo é parte integrante do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Tem como objetivo principal a inserção e a adequação das características psicofisiológicas dos trabalhadores a fim de adequá-los ao máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente em suas atividades, presentes nos processos que participam, como também em seus locais de trabalho. O Laudo Ergonômico procura apontar esforços desnecessários feitos pelos trabalhadores (manuseio de cargas e etc.), falhas de postura, movimentos com grande número de repetições, entre outros pontos. A responsabilidade pelo laudo é daquele que possui a habilitação para a função, ou seja, pode ser um Engenheiro de Segurança do Trabalho que é o profissional que possui habilitação na área de segurança do trabalho e é credenciado junto ao CREA (Conselho Regional de Engenharia), ou um fisioterapeuta com especialização e conhecimento em Ergonomia, ou ainda, um outro profissional que tenha a especialização, a habilitação e a capacitação para fazer essa análise técnica. EXEMPLO DE AVALIAÇÃO DO LAUDO ERGONÔMICO Em um primeiro momento, um profissional com perfil técnico citado anteriormente, realiza uma coleta de dados e de informações dentro da empresa analisada, procurando relatar as condições de iluminação, mobília, temperatura, nível de ruído, ventilação, entre outros fatores que podem provocar danos à saúde e segurança do trabalhador. Assim, em um Laudo Ergonômico, podem constar: · Identificação e descrição de processos utilizados no desenvolvimento das atividades; · Informações sobre mobiliário e equipamentos; · Dados sobre as condições ambientais; · Avaliações qualitativa e quantitativa dos riscos; · Propostas que recomendam a melhoria das condições dos postos de trabalho. LAUDO ERGONÔMICO – VALIDAÇÃO No que se refere a sua validação, o Laudo Ergonômico deve ser elaborado toda vez que houver uma necessidade de se ter um levantamento de informações para avaliação do desempenho e ajustes necessários no local de trabalho. É comum ser validado uma vez por ano. Em caso de ocorrência de mudanças no ambiente de trabalho, que apresenta algumas das causas descritas anteriormente, um Laudo Ergonômico deve ser elaborado. Sistema Homem-Máquina É combinação operativa entre homem(ns) e máquina(s), que se complementam para executar uma determinada função, partindo de estímulos de entrada dentro das condições de um dado ambiente. Comunicação e Acidente de Trabalho (CAT) Após sofrer um acidente de trabalho, o trabalhador deve ser encaminhado a um médico e avisar a empresa, o mais brevemente possível, sobre o fato ocorrido. O empregador deverá informar à Previdência Social, por meio da Comunicação e Acidente de Trabalho (CAT), todos os acidentes ocorridos com seus empregados, mesmo que não haja afastamento das atividades. Caracterização do Acidente de trabalho De acordo com o que dispõe a Instrução Normativa INSS 31/2008, o acidente do trabalho será caracterizado tecnicamente pela perícia médica do INSS, mediante a identificação do nexo entre o trabalho e o agravo. Considera-se epidemiologicamente estabelecido o nexo técnico entre o trabalho e o agravo, sempre que se verificar a existência de associação entre a atividade econômica da empresa relacionada na Classificação Internacional de Doenças (CID). O agravo, para fins de caracterização técnica pela perícia médica do INSS, é a lesão, a doença, o transtorno de saúde, o distúrbio, a disfunção ou a síndrome de evolução aguda, subaguda ou crônica, de natureza clínica ou subclínica, inclusive morte, independentemente do tempo delatência. A perícia médica do INSS reconhece a incapacidade para o trabalho e o nexo entre o trabalho e o agravo. Em caso favorável ,serão devidas as prestações acidentárias a que o beneficiário tenha direito. Caso não ocorra o reconhecimento, fica resguardado o direito ao auxílio-doença. AULA 6 – CARACTERÍSTICAS HUMANAS E ERGONOMIA Apesar do corpo humano ser considerado uma das estruturas vivas mais fortes e resistentes do mundo, é preciso também reconhecer que existem limitações e que o mesmo sofre impactos de condições ambientais, sobretudo manifestadas em ambientes de trabalho. Os cientistas analisaram a maior coleção de fósseis humanos no planeta, que data de 430.000 anos, e descobriram que o corpo humano passou por estágios evolutivos até se encontrar na forma que possui atualmente. O primeiro estágio ocorreu quando os nossos ancestrais hominídeos começaram a migrar para fora da África. O segundo estágio foi a evolução dos neandertais. O terceiro estágio trouxe os humanos Atapuerca, que, finalmente, evoluíram para a nossa forma moderna, ou seja, o gênero Homo, cuja espécie Homo sapiens, aonde o corpo humano está hoje muito adaptado para enfrentar diversos tipos de situações no mundo. Entretanto, de atividade necessária para a sobrevivência, passou a ser visto como tortura e sofrimento. Na Antiguidade, gregos e romanos entendiam o trabalho como algo vil e execrável. Na Idade Média, trabalhar era um castigo, algo desprovido de prazer e valor. Hoje ele é visto como símbolo de status e realização pessoal. Segundo MELGAR (2002), “até a Revolução Industrial predomina um tipo de trabalho que variava entre a escravidão e a servidão, cuja condição social ínfima era condizente com o escasso ou quase nulo valor que se atribuía ao seu esforço”. Função Neuromuscular · Sistema Nervoso Central (SNC): Cérebro + Medula Espinhal · Sistema Nervoso Periférico (SNP): - Medula – músculo (nervos motores). - Pele, músculos, órgãos dos sentidos - medula, cérebro (nervos sensoriais). · Unidade motora: fibra nervosa + fibra muscular - Trabalho de precisão: de 3 a 6 fibras musculares. - Trabalho de força: em média até 100 fibras musculares. · Sistema muscular representa aproximadamente 40% do peso corporal. · Contração muscular é desencadeada pelo impulso nervoso. · Força muscular: - Depende da seção transversal do músculo. - Mulher normalmente possui 2/3 da força do homem. - Maior força no início da contração (maior comprimento). VISÃO A visão se dá através de uma reação química que induz uma variação de potencial elétrico das células cones e bastonetes, as quais estão ligadas a terminações nervosas. Via nervo óptico, elas transmitem energia até o cérebro. OUVIDO HUMANO A função do ouvido é captar e converter as ondas de pressão do ar em sinais elétricos, transmitidos ao cérebro para produzir sensações sonoras. · O ouvido externo atua na captação do som. · O ouvido médio realiza a transformação do som em vibrações mecânicas. · O ouvido interno faz a transformação do som em pressões hidráulicas, depois em sinais elétricos transmitidos ao cérebro. · Os limites de audibilidade dependem da combinação de frequência, intensidade e duração. Níveis de exposição sonora. Avaliação ergonômica No caso do Brasil, em setembro de 1990, a Lei nº 8.080/90 (18), a Lei Orgânica da Saúde, estabelece no seu Art. 5.º, inciso 3º.: Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta Lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores e que visa à recuperação e reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho. AULA 7 – ANTROPOMETRIA Até a década de 40, as medidas antropométricas visavam determinar apenas algumas grandezas médias da população, com pesos e estaturas. Passou-se a determinar as variações e os alcances dos movimentos. A partir da década de 40, passou-se a determinar as variações e os alcances dos movimentos. Havia a necessidade de dados antropométricos mais confiáveis para atender às necessidades de fábricas. Atualmente, existe o interesse em concentrar o estudo das diferenças entre grupos e a influência de certas variáveis como etnias, alimentação e saúde. Além disso, busca-se também a determinação de padrões mundiais de medidas antropométricas, tendo em vista que muitas empresas de negócios atuam em mercados no exterior e possuem mão de obra constituída por pessoas de diferentes nacionalidades. Medidas antropométricas servem também de referência para a produção de produtos "universais", adaptáveis aos usuários de diversas etnias. Fundamentalmente, a antropometria trata de medidas físicas do corpo humano (IIDA, 1990). Antropometria E SIGNIFICADO ANTRO = homem + METRO = medida Existe sempre a necessidade de medir o corpo humano antes de submetê-lo à qualquer atividade produtiva. A Antropometria estabelece padrões de medidas do homem que podem ser normalmente utilizadas em muitas aplicações. A Antropometria é o estudo da adaptação dos membros do corpo humano ao ambiente em sua volta. Segundo Sheldon (1940), existem três tipos biótipos básicos de corpo humano, cada um com certas características dominantes, que podem servir de referência para medições dentro de ambientes de trabalho. · Endomorfo: Compreende tipo de formas arredondadas, com grandes depósitos de gorduras. Tem a característica de uma pera (forma extrema). O abdômen é grande e cheio e o tórax parece ser relativamente pequeno. Braços e pernas são curtos e flácidos.Os ombros e a cabeça são arredondados. Os ossos são pequenos. A pele é macia. · Mesomorfo; O corpo tende a ser musculoso com formas angulosas. Apresenta cabeça em formato cúbico, maciça, ombros e peitos largos e abdômen pequeno. Possui pouca gordura subcutânea · Ectomorfo: O corpo e os membros são longos e finos, com um mínimo de gorduras e músculos. · Os ombros são largos, mas caídos. O pescoço é fino e comprido, o rosto é magro, queixo recuado e testa alta, o tórax e o abdômen são estreitos e finos. FORMAS INTERMEDIÁRIAS Na verdade, o que se observa com mais frequência na população são formas intermediárias, a saber: · Mesomorfo-endomórfica; · Endomorfo-ectomórfica; · Ectomorfo-mesomórfica. INFLUÊNCIAS Cabe destacar que a forma do corpo humano sofre influência de vários fatores, a saber: · Influência do Sexo (será detalhada na sequência); · Influência da Idade(será detalhada na sequência); · Etnia (proporções corporais, dimensões tamanho e feições); · Clima (no quente, pessoas tendem a ter corpos mais finos e membros superiores e inferiores mais alongados; no frio, pessoas tendem a ter corpos mais volumosos, com tronco maior e mais largo). · Outros. AULA 8 – QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Após anos de discussão sobre a verdadeira importância de considerar a Ergonomia dentro dos ambientes industriais, um fato sem dúvida alguma tem sido relacionado com um dos grandes resultados alcançados com a aplicação de todos os conhecimentos relacionados com esta área da ciência. Dentro das organizações de negócios e considerando os processos que precisam ser realizados rotineiramente, é muito comum que muitos questionamentos, envolvendo as condições de trabalho, sejam feitos tanto por parte dos responsáveis pelas decisões táticas (gestores do trabalho) quanto daqueles que estão na operação, realizando a própria tarefa (os trabalhadores). Qualidade de vida com a implantação da ergonomia A Ergonomia é a ciência que mais afeta de forma positiva a qualidade de vida dos trabalhadores. Quando se faz um levantamento de pontos críticos, que podem causar danos a saúde e segurança, e se avalia situações causadoras de dor, de desconforto, de fadiga e de afastamento, propondo-se correções imediatas, há uma melhora enorme na qualidade de vida dos trabalhadores. Couto (2007) considera que quando se pensa em qualidade de vida no trabalho, alguns ganhos diretos podem ser alcançados junto aos trabalhadores. A saber: · Tanto a dor quanto o desconforto podemser atenuados na realização do trabalho; · O trabalhador deixa o seu trabalho com cansaço normal de um jornada diária de trabalho; · Dentro de um revezamento correto de turnos, o sono do colaborador não será prejudicado e o seu repouso será respeitado; · Sua imagem corporal e aparência permanecem mantidas; · Tendência de queda na procura por tratamentos médicos e por medicamentos utilizados para tratamentos de transtornos músculo-esqueléticos crônicos e de distúrbios mentais; · Preserva-se a capacidade de trabalho do cidadão, o que é um dos aspectos mais importantes a serem mantidos quando se atinge a aposentadoria em idades mais avançadas; · A implementação de soluções ergonômicas são importantes para resolver alguns tipos de conflitos que existem entre quem planeja e executa o trabalho, bem como entre os próprios trabalhadores. Aspectos na Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) Dois aspectos principais merecem ser sublinhados na QVT: 1) Crescimento de erros e retrabalho. Em relação à saúde, por exemplo: aumento progressivo dos casos de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) e acidentes de trabalho. 2) O declínio do comprometimento organizacional dos trabalhadores (baixa motivação e comparecimento no trabalho). Existem dificuldades diversas (conceituais, metodológicas e éticas) de dirigentes, gestores e representantes sindicais para lidarem com as variáveis que comprometem a qualidade de vida dos trabalhadores nos ambientes organizacionais. A qualidade de vida dos trabalhadores nas situações de trabalho tem sido sempre um objeto de preocupação fortemente implícita em Ergonomia. Muitas empresas tem notado que seus trabalhadores perdem o interesse, se sentem desmotivados, para desempenharem as suas tarefas quando são acometidos por dores ou doenças ocupacionais ou quando as suas reivindicações por melhorias não são atendidas. Isto tem relação direta com o aumento do índice de absenteísmo no trabalho. A Ergonomia, cujos fundamentos sobre o funcionamento do ser humano se apoiam em conhecimentos oriundos da Psicologia e da Fisiologia Ocupacional, já tem relevante contribuição científica prestada para a melhoria dos ambientes de trabalho o que a credencia para uma intervenção qualificada, ao lado de outras ciências do trabalho, no campo da QVT. O movimento de QVT reivindica uma posição “humanista” no interior do modelo de gestão de qualidade de processos e produtos, que exerceu forte influência nas organizações, sobretudo, a partir dos anos 80 do século XX. Segundo Walton (1973), a busca pela Qualidade de Vida no Trabalho está associada a um conjunto de variáveis: · compensação justa e adequada; · condições melhores de trabalho; · uso e desenvolvimento de capacidades pelos recursos humanos; · chances reais de crescimento e percepção da sensação de segurança; · aumento da integração social na empresa; · equilíbrio entre o trabalho e o espaço total de vida; e · a relevância social do trabalho. Walton (1973) sustenta a ideia de um equilíbrio entre o trabalho e outras dimensões da vida, no qual as organizações têm um papel importante. Enfatiza a necessidade de um “casamento” entre a produtividade e os programas de QVT. O principal foco dos Programas de Qualidade de Vida no Trabalho é proporcionar bem-estar de seus trabalhadores através de práticas que ajudam a minimizar os impactos causados pelos ambientes de trabalho. Exemplos de Programas de Qualidade de Vida no Trabalho que têm sido adotados dentro das empresas: Programa de Condicionamento Físico, Programa de Segurança no Trabalho.