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Guideline ESPEN em Nutrição Hospitalar Nutricionista R1 Cristine Molinari Brum Pesquisas sobre práticas dietoterápicas em hospitais revelaram que terapias dietéticas, tais como hipossódica, sem glúten ou com alteração de textura e/ou consistência estão associadas a menor consumo energético e aumento no risco de desnutrição. Este guideline tem como objetivo fornecer recomendações sobre dietoterapia, suas particularidades, indicações e prescrições, com o intuito de aumentar a segurança do paciente e diminuir o risco de desnutrição. E destina-se a hospitais, centros de reabilitação e instituições de longa permanência. Introdução ➔ Procedimentos padrão para os guidelines ESPEN. ➔ Seis médicos e cinco nutricionistas. ➔ PICO: problema - intervenções - comparação entre diferentes terapias - desfecho (outcome). ➔ Meta-análises, revisões sistemáticas e estudos originais. Pubmed e Cochrane. Metodologia Recomendações gerais ➔ A comida hospitalar e as dietas devem ser avaliadas realizando-se pesquisas com pacientes e equipe, no mínimo, uma vez ao ano. ➔ A alimentação deve ser oferecida em horário de acordo com a disponibilidade do paciente (considerando exames, procedimentos, cirurgias) e deve-se considerar as preferências individuais. ➔ A indicação de dieta deve ser individualizada e conforme protocolo. Dietoterapias específicas só devem ser usadas se for medicalmente indicadas. ➔ Dietas restritivas devem ser evitadas pois aumentam o risco de desnutrição. ➔ A cada 3-5 anos deve-se reavaliar as dietas fornecidas pelo hospital. ➔ Nutrição hospitalar deve ser checada, reavaliada e adaptada para cada paciente a cada 3 ou 5 dias, de acordo com o curso da doença, o consumo via oral e a aceitação do paciente. Composição nutricional das dietas ➔ Pacientes hospitalizados sem risco ou com baixo risco nutricional e que não necessitarem de dietoterapia específica, devem receber uma dieta padrão: 25kcal/kg/dia e 0,8 a 1,0g/kg/dia de proteína. As proporções devem ser: CHO 50-60%, LIP 30-35% e PTN 15-20%. ➔ Já os que estiverem com risco nutricional moderado ou alto devem receber uma dieta rica em proteínas: 30kcal/kg/dia e 1,2 a 1,5g/kg/dia de proteína. As proporções recomendadas são: CHO 45-50%, LIP 35-40% e PTN 20%. Exceções individuais ➔ Crenças religiosas e preferências devem ser consideradas. ➔ Dietas vegetarianas devem fornecer quantidades adequadas de proteínas e calorias. ➔ Dieta vegana não deve ser oferecida no hospital devido seu alto risco de deficiência de Fe, B12, vitamina D e cálcio, que aumenta as chances de fraturas e anemia. Inclusive, os pacientes veganos devem receber suplementação de vitamina B12. Dietoterapias ➔ Doença celíaca: dieta sem glúten. ➔ Síndrome do Intestino Irritável: dieta baixa em FODMAP (oligo-, di-, monossacarídeos e polióis fermentáveis) deve ser recomendada para melhorar os sintomas e aumentar qualidade de vida. ➔ Intolerância a lactose: dieta baixa em lactose (<12g por refeição). * Intolerância comprovada. ➔ Dieta hiperproteica: ● Doença hepática crônica (peso normal: 1,2g/kg/dia; desnutridos: 1,5g/kg/dia; sem reduzir nos casos de encefalopatia; e esteatose hepática: 1,2 a 1,5g/kg/dia); ● Polimórbidos (mínimo 1,0g/kg/dia); ● Câncer (mínimo 1,0g/kg/dia, preferencialmente 1,5g/kg); ● Idosos (mínimo 1,0g/kg/dia); ● Úlcera por Pressão (mínimo 1,0g/kg/dia, preferencialmente 1,5g/kg/dia; adultos em risco de UPP: 1,2-1,5g/kg/dia); ● Pancreatite crônica (quantidade não definida). ➔ Dieta hipocalórica devem ser evitadas pois aumentam o risco de desnutrição, mesmo em pacientes obesos. Quando utilizadas, deve ser por pouco tempo, e em casos específicos, como síndrome de realimentação, obesidade com resistência severa a insulina e em unidades de reabilitação para obesos. ➔ Nesses casos, a quantidade proteica não deve ser reduzida e deve ser de, pelo menos, 1,0g/kg/dia ou 1,0g/kg de peso ajustado/dia se o IMC for >30kg/m². ➔ Dieta hipoproteica não é recomendada. A quantidade proteica não deve ser restrita em pacientes cirróticos com encefalopatia, pois isso aumenta o catabolismo proteico. Quanto aos pacientes com doença renal crônica, a restrição proteica só deve acontecer se a causa da hospitalização for agudização da doença renal. ➔ Dieta com ajuste de lipídeos é recomendada para pacientes com ascite quilosa*, desordens na oxidação de ácidos graxos e linfangiectasia intestinal**. Deve ser baixa em TG de cadeia longa (<5% do total) e rica em TG de cadeia média (>20% do total). *acúmulo de linfa na cavidade abdominal. **obstrução ou malformação dos vasos linfáticos intramucosos do intestino delgado. ➔ Dieta neutropênica não deve ser utilizada. Estudos recentes observaram não haver diferença entre essa dieta e a dieta padrão (preparada de acordo com as Boas Práticas). ➔ Dietas baixas em fibras devem ser utilizadas apenas nos dias prévios a colonoscopias, com o objetivo de melhorar a limpeza do cólon e reduzir o desconforto dos pacientes. Dietas Hipossódicas ➔➔ No caso de insuficiência cardíaca crônica, insuficiência renal crônica e cirrose, a oferta de NaCl não deve ser menor do que 6g/dia. ➔ A restrição pode ativar o sistema renina-angiotensina-aldosterona e o sistema nervoso simpático, bem como aumentar os níveis de citocinas inflamatórias. ➔ Para hipertensão arterial ou insuficiência cardíaca aguda descompensada, o consumo de NaCl não deve ultrapassar 6g ao dia. ➔ Nos pacientes admitidos com insuficiência cardíaca aguda descompensada, a oferta de sódio não deve ser menor do que 120mmol/dia. Casos especiaias ➔ Pacientes diabéticos: ● DM1 e DM2 devem receber a dieta padrão; ● Pacientes em uso de insulinoterapia devem ser orientados quanto as quantidades de carboidrato que deve ser ingerida, considerando o controle glicêmico; ● Oferecer lanches contendo carboidratos e proteína; ● Evitar dietas baixas em CHO (<40%); ● Nos casos das complicações decorrentes da diabetes (neuropatia, gastroparesia, úlceras e amputações) o suporte nutricional deve ser individualizado. Modificação de texturas ➔ Idosos; ➔ Disfagia ou problemas de mastigação; ➔ Risco de disfagia (infarto, AVC, desordens neuromusculares, câncer de cabeça e pescoço, esclerose lateral amiotrófica, ataxia, esclerose múltipla e trauma cervical). Realimentar ➔ Pancreatite aguda e crônica: assim que clinicamente tolerado, independente da concentração das lipases séricas; deve ser baixa em gorduras; nos desnutridos, a dieta deve ser HCHP e divida em 5 a 6 pequenas refeições diariamente; evitar dietas muito ricas em fibras; restrições só devem ocorrer nos casos em que não for possível controlar a esteatorreia. ➔ Após cirurgias TGI (com exceção de cirurgias bariátricas): iniciar com 5 a 6 pequenas refeições diariamente; na maioria dos casos, a alimentação VO não deve ser interrompida; horas após a cirurgia deve-se introduzir líquidos claros. ➔ Após hemorragias TGI: assim que a alimentação estiver liberada, o paciente que teve hemorragia digestiva baixa deve receber uma dieta de acordo com seu estado nutricional; já os pacientes com hemorragias digestivas altas devem reiniciar sua alimentação com líquidos, e progredir a consistência em 24h. Guideline ESPEN em Nutrição Hospitalar Nutricionista R1 Cristine Molinari Brum cristinebrum@gmail.com
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