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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE HISTÓRIA ÁREA DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA MARIANA RODRIGUES TAVARES A ACLAMAÇÃO DAS LETRAS: O Instituto Nacional do Livro e a pedagogia literária no Brasil do século XX NITERÓI 2020 2 MARIANA RODRIGUES TAVARES A ACLAMAÇÃO DAS LETRAS: O Instituto Nacional do Livro e a pedagogia literária no Brasil do século XX Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH- UFF), como requisito para a obtenção do Título de Doutora. Área de concentração: História Social Orientadora: Prof.ª Dr.ª Giselle Martins Venancio Niterói, Junho de 2020 3 T231a Tavares, Mariana Rodrigues A ACLAMAÇÃO DAS LETRAS: : O Instituto Nacional do Livro e a pedagogia literária no Brasil do século XX / Mariana Rodrigues Tavares ; Giselle Martins Venancio, orientadora. Niterói, 2020. 403 f. Tese (doutorado)-Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.22409/PPGH.2020.d.13548223745 1. Instituto Nacional do Livro. 2. História do Livro e da Leitura no Brasil. 3. Circulação impressa. 4. Coleções de livros. 5. Produção intelectual. I. Venancio, Giselle Martins, orientadora. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de História. III. Título. CDD - Ficha catalográfica automática - SDC/BCG Gerada com informações fornecidas pelo autor Bibliotecário responsável: Sandra Lopes Coelho - CRB7/3389 http://dx.doi.org/10.22409/PPGH.2020.d.13548223745 4 BANCA EXAMINADORA Aprovada em: _____ / _____ / _____. __________________________________________________________________ Professora Doutora Giselle Martins Venancio Universidade Federal Fluminense - Orientadora __________________________________________________________________ Professor Doutor Nuno Miguel Ribeiro de Medeiros Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa – Professor Arguidor __________________________________________________________________ Professora Doutora Maria de Fátima Nunes Universidade de Évora - Professora Arguidora Professor Doutor Paulo Elias Allane Franchetti Universidade Estadual de Campinas – Professor Arguidor Professora Doutora Eliana Regina de Freitas Dutra Universidade Federal de Minas Gerais – Professora Arguidora Professor Doutor Renato Franco Universidade Federal Fluminense/Editora da Universidade Federal Fluminense – Professor Arguidor NITERÓI, Junho de 2020 5 À Nadir pelo pretérito, À Jane pelo presente, À Victoria pelo futuro. 6 AGRADECIMENTOS Aos que me dão lugar no bonde E que conheço não sei de onde, Aos que me dizem terno adeus Sem que lhes saiba os nomes seus, Aos que me chamam de deputado Quando nem mesmo sou jurado, Aos que, de bons, se babam: mestre! Inda se escrevo o que não preste, Aos que me julgam primo-irmão Do rei da fava ou do hindustão, Aos que me pensam milionário Se pego aumento de salário — e aos que me negam cumprimento Sem o mais mínimo argumento, Aos que não sabem que eu existo, Até mesmo quando os assisto. Aos que me trancam sua cara De carinho alérgica e avara, Aos que me tacham de ultrabeócia A pretensão de vir da Escócia, Aos que vomitam (sic) meus poemas Nos mais simples vendo problemas, Aos que, sabendo-me mais pobre, Me negariam pano ou cobre — eu agradeço humildemente Gesto assim vário e divergente, Graças ao qual, em dois minutos, Tal como o fumo dos charutos, Já subo aos céus, já volvo ao chão, Pois tudo e nada nada são. (Obrigado, Carlos Drummond de Andrade). A trajetória acadêmica é absolutamente encantadora. Repleta de desafios, descobertas, inquietações. Ao terminar, é preciso, sobretudo, agradecer. A Deus, Pai, pelas oportunidades, pelas dores e pelas descobertas. À Maria de Nazaré, Mãe, que sempre me acolhe e me acolheu em todas as aflições. Aos bons espíritos que me sustentam em minhas crises e me amparam sempre que necessito. Gratidão profunda e sincera a minha melhor amiga e parceira: mamãe. Mãe, difícil encontrar as palavras certas para usá-las contigo. Você é meu exemplo, minha melhor escolha, meu esteio. Esta tese só é possível graças a sua força e a sua coragem de me estimularem a crescer. Obrigada ontem, hoje e sempre. Amo-te. 7 Aos meus avós Nadir e Waldemiro Rodrigues meu agradecimento por cuidarem de mim mesmo que distantes. Sei que acompanham cada passo, cada tropeço e torcem por cada vitória. Ao meu amor, Helberth Santos Fagundes. Obrigada por tornar a minha vida mais leve, mais amorosa e mais colorida. Você chegou para somar. Amo você e a família que estamos construindo. À minha amada família que representa o sustento das horas duras e me estimula a melhorar cada vez mais. Obrigada, em especial, a minha amiga, prima e companheira Neuza, a “Neuzinha”, que foi o suporte de dias complicados e o conforto ante o desespero. Aos amigos brasileiros que conheci em Portugal, deixo meu agradecimento maior. Vocês me acolheram e me sustentaram nas dificuldades. Minha gratidão a Thiago Aires Estrela e a Patrícia Otranto. À querida e amada família “Madeira”. Quantas histórias, lágrimas e preces! Obrigada por me acolherem, por me amarem e por me ensinarem o verdadeiro significado da palavra “cristão”. Esta tese só foi possível graças a todas vocês. Obrigada por aceitarem me conhecer, por compartilharem o amor, a amizade e, principalmente, o lar. Gratidão a minha irmã de muitas “existências”, Yasmin Rodrigues Madeira da Costa, com quem dividi aventuras, dores, problemas, choros e preces. Saudades. Torço por você a cada dia. Obrigada a tia Yasmin Madeira por me auxiliar sempre que preciso, por acreditar no meu trabalho e por abrir as portas do Grupo Espírita Eurípedes Barsanulpho – o recanto da prece. Não poderia deixar de render as mais doces palavras de agradecimento a minha querida e sempre orientadora, Giselle Venancio. São muitos anos, não? Muitas ideias, muitas pesquisas, muito aprendizado. Tornei-me melhor com você. Obrigada por todos os ensinamentos, por acreditar em mim e no meu trabalho. Sem dúvida, quero estender a nossa parceria e tê-la sempre próxima. Gratidão eterna. Gratidão aos mestres e mestras que cruzaram meus caminhos nesta longa jornada. Com cada um aprendi imensamente e todos fazem parte da construção deste trabalho. Agradeço profundamente aos professores e professoras Maria Verónica Secreto, Norberto Ferreras, Larissa Viana, Everardo Andrade, Viviana Gelado, Renato Franco, Paulo Franchetti, Eliana Dutra, Maria de Fátima Nunes, Débora Dias, João Luís Lisboa e Nuno Medeiros. Agradeço aos meus amigos e amigas, verdadeiros presentes trazidos pela Universidade Federal Fluminense. De modo especial aos que dividiram a caminhada da graduação e da pós- 8 graduação: Jaqueline Lopes, Leonardo Lourenço, Vanessa Bittencourt, Drielle Pereira e Fernanda Lemos. Além destes, agradeço profundamente a todo o grupo de estudos composto por André Furtado, Valério Negreiros, Everton Barbosa, o Ton, Roberta Ferreira, Nayara Galeno, Helonis Brandão, Lucas Cheibub, Miriam Marques, Tatiana Castro, Thiago Amaral, Sávio Vaz, Marco Antonio Serafim e Karen Souza. Aos servidores da Fundação Biblioteca Nacional por me receberem e acreditarem nas minhas pesquisas. Meu profundo agradecimento ao setor de Manuscritos, especialmente, a Luciane Medeiros, Daniele Simas, Priscila, Fred e Fernanda. Sem o empenho e a dedicação de cada um, esta tese não seria possível. A minha enorme gratidão por tornarem este trabalho realizável. Agradecimentoaos servidores da Biblioteca Nacional de Portugal, do Instituto Camões e do Arquivo Nacional Torre do Tombo que me auxiliaram em minhas pesquisas durante a estadia na linda cidade de Lisboa. Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), à Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ) e ao Programa de Pós- graduação de História Social da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF) pelo financiamento desta pesquisa através da bolsa de doutorado e da bolsa de doutorado sanduíche, respectivamente. À querida família da Casa de Caridade Terezinha de Jesus (CCTJ), os meus mais sinceros agradecimentos. Sem vocês, a minha caminhada seria tortuosa. Obrigada pelo aprendizado, pelo amor e por serem o “porto seguro” onde trato as minhas dores e aflições. O meu “muito obrigada” a toda equipe que me atende esteja neste ou em outros planos. Que Deus nos abençoe e permita que estejamos juntos sempre. Não poderia deixar de agradecer aos irmãos que tive a felicidade de (re)encontrar ao longo dessa jornada. A todos do Instituto Espírita Bezerra de Menezes (IEBM). Obrigada pela acolhida, pelo carinho e pelos ensinamentos. De modo especial, quero render a minha gratidão a Sra. Heloíza, ao Sr. Cadilhe e ao Sr. Fernando, pelas palavras de carinho, de amor e de paciência. Quero ainda agradecer a todos os bibliotecários, arquivistas e cientistas da informação que me auxiliaram nesta pesquisa. A minha gratidão a toda equipe da Fundação Biblioteca Nacional, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), do centro de memória da Academia 9 Brasileira de Letras (ABL), do Arquivo Nacional e de todas as outras instituições por onde pesquisei. Obrigada pela atenção, pela eficiência e pelo aprendizado. Por fim, mas não menos importante, meus agradecimentos ao corpo de funcionários da Universidade Federal Fluminense. Obrigada pelo carinho, pela ajuda e, especialmente, pela simpatia com que me receberam e recebem diariamente. Minha gratidão à equipe da limpeza e aos amigos da Biblioteca Central do Gragoatá: Thiago Assis, Maria Helena Xavier, Angela Insfrán, Anne Marie Lafosse, Marilea Barbosa, Victor Hugo Sales. A todos vocês, minha gratidão mais sincera e minha profunda amizade. Ao fim de tantos agradecimentos, acredito ter contemplado todos aqueles que marcaram verdadeiramente a minha vida. Novamente agradeço o amor e carinho sempre dispensados a mim. Guardo cada um de vocês no meu coração. 10 Ótimo! - exclamou Emília. - Serve. Escreva: Nasci no ano de... (três estrelinhas), na cidade de... (três estrelinhas), filha de gente desarranjada... - Por que tanta estrelinha? Será que quer ocultar a idade? - Não. Isso é apenas para atrapalhar os futuros historiadores, gente muito mexeriqueira (Emília – Monteiro Lobato, Memórias da Emília). Desconcertante e colossal, o arquivo atrai mesmo assim. Abre-se brutalmente para um mundo desconhecido em que os rejeitados, os miseráveis e os bandidos fazem a sua parte em uma sociedade vigorosa e instável. Sua leitura provoca de imediato um efeito de real que nenhum impresso, por mais original que seja, pode suscitar. (Arlette Farge, O sabor dos arquivos). 11 RESUMO A ACLAMAÇÃO DAS LETRAS: O Instituto Nacional do Livro e a pedagogia literária no Brasil do século XX Esta tese analisa a trajetória social do Instituto Nacional do Livro (1937-1990) destacando os seus processos de edição de livro, bem como as mediações intelectuais. Sendo assim, os objetivos desta pesquisa se dedicam a coletar as fontes que vinculam, direta ou indiretamente, as relações de circulação dos impressos do Instituto Nacional do Livro do Brasil (INL) ao longo de seus mais de cinquenta anos de existência. Com isso espera-se inventariar as coleções de obras do Instituto do Livro, além de se ter em nota as publicações que se intercambiaram entre o Brasil e outros países, assim como, se procura destacar as relações intelectuais existentes neste processo. Diante do obscurantismo que permeia a história social do Instituto Nacional do Livro e da própria falta de outras pesquisas historiográficas que se dediquem a este tema, o presente trabalho se apresenta como uma contribuição original acerca dos circuitos editoriais que permearam capítulos importantes da circulação dos impressos no Brasil. Foram utilizados alguns conceitos que podem auxiliar a identificar as práticas editoriais do Instituto Nacional do Livro. Por meio deles, verificaram-se as especificidades do Instituto através dos “pormenores” de suas edições. Deste modo, cabem discutir os conceitos de canonização e de vulgarização que estiveram presentes, não apenas, nas páginas dos primeiros impressos republicanos, mas principalmente nos prelos do Instituto Nacional do Livro. Pautado na divulgação de obras essenciais para a “cultura nacional”, o INL dedicou-se à publicação de autores clássicos lançados em suas coleções especiais como a “Biblioteca popular brasileira”, “Biblioteca de Divulgação Cultural”. Estas últimas são investigadas como fontes desta pesquisa. No cerne dessas edições, identifica-se um processo de canonização de autores representantes da história da literatura brasileira. Por fim, como principais resultados e conclusões, observa-se que para o caso particular do Instituto Nacional do Livro, as referidas publicações assinadas pelo órgão, acrescidas da seleção de seus mediadores, estiveram na esteira de um processo de educação literária da população e de monumentalização das obras nacionais, na medida em que agiam como produtores dos mecanismos de certa difusão literária. Palavras-chave: circulação impressa; livros; Instituto Nacional do Livro; Brasil; coleções. 12 ABSTRACT THE ACLAMATION OF LETTERS: The Instituto Nacional do Livro and literary pedagogy in Brazil in the 20th century This thesis analyzes the social trajectory of the Instituto Nacional do Livro (1937-1990), highlighting its book editing processes, as well as intellectual mediations. Thus, the objectives of this research are dedicated to collecting the sources that link, directly or indirectly, the circulation relations of the printed papers of the National Book Instituto do Livro (INL) throughout its more than fifty years of existence. In doing so, the thesis aims to catalog the collections of works of the Instituto do Livro, in addition to taking into account the publications that were exchanged between Brazil and other countries, as well as trying to highlight the intellectual relations existing in this process. In view of the obscurantism that permeates the social history of the National Book Institute and the very lack of other historiographical researches dedicated to this theme, the present work presents itself as a valuable contribution on the editorial circuits that permeated important chapters of the circulation of print in the Brazil. The methodological framework is the application of some concepts that can help to identify the editorial practices of the Instituto do Livro is used. About this, the specificities of the Instituto Nacional do Livro are seen through the “details” of its editions. In this way, it is necessary to discuss the concepts of canonization and vulgarization that were present, not only, in the pages of the first republican printed papers, but mainly in the press of the National Book Institute. Based on the dissemination of essential works for the “national culture”, INL dedicated itself to the publication of collections of classic authors launched in its special collections such as the “Biblioteca Popular Brasileira”, “Biblioteca de Divulgação Cultural”. The latter are used as sources for this research. Atthe heart of these editions, a process of canonization of authors representing the history of Brazilian literature is identified. Finally, as the main results and conclusions, it is observed that for the particular case of the Instituto Nacional do Livro, the aforementioned publications signed by the agency, plus the selection of its mediators, were part of a process of literary education of the population and the monumentalization of national works, insofar as they acted as producers of the mechanisms of a certain literary vulgarizaton. Keywords: printed circulation; books; Instituto Nacional do Livro; Brazil; colections. 13 RÉSUMÉ L'ACLAMATION DES LETTRES: L'Institut national du livre et la pédagogie littéraire au Brésil au XXe siècle Cette thèse analyse la trajectoire sociale de l'Institut national du livre (1937-1990), mettant en évidence ses processus d'édition de livres, ainsi que les médiations intellectuelles. Ainsi, les cibles de cette recherche sont dédiés à la collecte des sources qui relient, directement ou indirectement, les relations de circulation des imprimés de l'Institut National du Livre du Brésil (INL) tout au long de ses plus de cinquante ans d'existence. Avec cela, il est prévu d'inventorier les collections d'œuvres de l'Instituto do Livro, en plus de tenir compte les publications qui ont été échangées entre le Brésil et d'autres pays, ainsi que d'essayer de mettre en relief les relations intellectuelles existant dans ce processus. Compte tenu de l'obscurantisme qui imprègne l'histoire sociale de l’ Instituto Nacional do Livro et du manque même d'autres recherches historiographiques consacrées à ce thème, le présent ouvrage se présente comme une précieuse contribution sur les circuits éditoriaux qui ont imprégné des chapitres importants de la circulation de l'imprimé dans le Brésil. Par méthodologie, l'application de certains concepts qui peuvent aider à identifier les pratiques éditoriales du National Book Institute est utilisée. À ce sujet, les spécificités de l'Institut national du livre sont visibles à travers les «détails» de ses éditions. De cette façon, il faut discuter des concepts de canonisation et de vulgarisation qui étaient présents, non seulement dans les pages des premiers imprimés républicains, mais principalement dans la presse de l'Institut national du livre. S'appuyant sur la diffusion d'œuvres essentielles à la «culture nationale», l'INL s'est consacrée à la publication de collections d'auteurs classiques lancées dans ses collections spéciales telles que la «Bibliothèque populaire brésilienne», la «Bibliothèque de diffusion culturelle». Ces dernières sont utilisées comme sources pour cette recherche. Au cœur de ces éditions, un processus de canonisation des auteurs représentant l'histoire de la littérature brésilienne. Enfin, comme principaux résultats et conclusions, on observe que pour le cas particulier du National Book Institute, les publications susmentionnées signées par l'agence, ainsi que la sélection de ses médiateurs, étaient dans le sillage d'un processus d'enseignement littéraire de la population et de la monumentalisation des œuvres nationales, au fur et à mesure qu’elles agissaient comme les producteurs des mécanismes d'une certaine vulgarisation littéraire. Mots-clés: circulation imprimée; livres; Institut national du livre; Brésil; collections. 14 LISTA DE ABREVIATURAS Associação Brasileira de Imprensa – ABI Academia Brasileira de Letras – ABL Associação Brasileira de Tradutores – ABRATES Academia Paulista de Letras – APL Associação Nacional dos Professores Universitários de História - ANPUH Arquivo Nacional – AN Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro – APERJ Biblioteca Central do Gragoatá – BCG Biblioteca Nacional – BN Fundação Biblioteca Nacional – FBN Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles – BDB Biblioteca do Exército – BIBLIEX Centro Brasil Democrático – CEBRADE Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro – CDFB Comissão do Livro Técnico e Livro Didático – COLTED Campanha Nacional de Materiais de Ensino – CNME Companhia Editora Nacional - CEN Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas – CPDOC-FGV Conselho Federal de Cultura – CFC Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes Departamento Nacional do Café – DNC Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas – DLLLB Divisão de Cooperação Intelectual – DCI Faculdade Nacional de Filosofia – FNFi Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – Faperj Federação Internacional de Associações de Bibliotecários – IFLA Fundação Biblioteca Nacional – FBN 15 Fundação Casa de Rui Barbosa – FCRB Fundação Nacional do Material Escolar – FENAME Gustavo Capanema – GC História Geral da Civilização Brasileira – HGCB Instituto de aposentadoria de Pensões dos Comerciários - IAPC Instituto Superior de Bibliotecas e Arquivos - ISBA Instituto de Estudos Brasileiros – IEB Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul - IHGRGS Instituto Nacional do Livro – INL Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP Instituto Superior de Estudos Brasileiro – ISEB Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais – IPES Ministério da Cultura – MinC Ministério da Educação e Saúde do Brasil – MES Ministério da Educação/Projeto para treinamento intensivo de auxiliares de bibliotecas - MEC/PROTIAB Ministério da Educação/United States Agency for International Development - MEC/USAID Núcleo de Estudos Literários & Culturais – NELIC Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura – Unesco Organização das Nações Unidas – ONU Plano Nacional do Livro e da Leitura – PNLL Programa do Livro Didático – Ensino Fundamental – PLIDEF Programa do Livro Didático – Ensino Médio – PLIDEM Programa do Livro Didático – Ensino Superior – PLIDES Programa do Livro Didático – Ensino Supletivo – PLIDESU Programa do Livro Didático – Ensino de Computação – PLIDECOM Programa Especial de Melhoria do Ensino – PREMEN Programa Intensivo de Preparação para a Mão de Obra – PIPMO Programa Nacional do Livro Didático – PNLD Programa Nacional de Incentivo à Leitura – Proler Pós-graduação em História, Política e Bens culturais – PPHPBC 16 Secretariado de Propaganda Nacional – SPN Serviço Nacional de Informação – SNI Seção da Enciclopédia e do Dicionário – SED Serviço de Assistência Técnica Regional – SATR Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN Sindicato Nacional de Editores de Livros - SNEL Sindicato Nacional de Tradutores – SINTRA Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas – SNBP Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Universidade do Distrito Federal – UDF Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Universidade de São Paulo – USP 17 LISTAGENS Figura 1 – Exposição em homenagem a Castro Alves realizada pelo Instituto Nacional do Livro 20 Figura 2 – Exposição em homenagem a Machado de Assis realizada pelo Instituto Nacional do Livro 21 Figura 3 - Esquema pedagógico do Estado Novo 45 Figura 4 - Trio de ações norteadoras do Instituto Nacional do Livro 53 Figura 5 – Obras das coleções do INL (separadas por cor) 79 Figura 6 – Gráfico quantitativo de literatos publicados pela Revista do Livro – anos 1956- 1970 160 Figura 7 – Índice dos primeirosanos da Revista do Livro 163 Figura 8 – Temáticas e dados estatísticos de publicação na Revista do Livro 210 Quadro 1- Relações entre o INL e a educação 52 Quadro 2 – Ações do Instituto Nacional do Livro 54 Quadro 3 – Relações entre as fases do INL e as da Pedagogia brasileira 56 Quadro 4 - Coleções editadas pelo Instituto Nacional do Livro 64 Quadro 5 – Títulos, autores e temas da Biblioteca de Divulgação Cultural – INL 140 Quadro 6 – Quantidade de temas e respectivas obras 143 Quadro 7 – Quadro contendo os conteúdos biográficos dos autores da Biblioteca de Divulgação Cultural 147 Quadro 8 – Coleção de obras da Biblioteca Popular Brasileira no INL 156 Quadro 9 – Quadro contento o quantitativo de citações de literatos na Revista do Livro 161 Quadro 10 - Livros editados pelo Instituto Nacional do Livro e citados por José Honório Rodrigues 166 Gráfico 1 – Quantidade de obras das coleções do INL separadas por temas 71 Gráfico 2 - Temas e quantitativo das obras da Biblioteca de Divulgação Cultural 143 Tabela 1 – Tabulação ano 1981 110 18 SUMÁRIO INTRODUÇÃO – Arqueologia de uma pesquisa... 23 O Instituto Nacional do Livro, um órgão pela educação: o delinear de uma tese 27 PARTE I A Gênese literária da Nação Sociogênese do Instituto Nacional do Livro e de suas publicações Capítulo 1. O ÓRGÃO LITERÁRIO: O Instituto Nacional do Livro entre a pedagogia da nacionalidade e a retórica da educação 45 1.1.Objetivos do Instituto Nacional do Livro: leitores e livros 47 1.2.Leitores: as coleções e suas propostas editoriais 59 1.3.Livros e debates sobre o papel e os custos de produção 72 Capítulo 2. DESDITAS DE UM BRASIL INAPREENSÍVEL: os projetos da Enciclopédia brasileira e as ações da seção de bibliotecas no Instituto literário 82 2.1.Projetos iniciais de uma obra nacional 84 2.2.O decano do Modernismo e os esboços nacionais 89 2.3.Rascunhos de um gênero universitário 95 2.4.As “parcerias” do livro: o programa de coedições e a extinção de projetos nacionais 102 2.5.A edificação dos templos de leitura 107 PARTE II Formando bibliotecas extramuros O Instituto Nacional do Livro e a edição de coleções Capítulo 3: Compor coleções: a arte de “inventar” o Brasil por meio da Biblioteca de Divulgação Cultural 115 3.1.A Biblioteca, a coleção e as linhas de uma historicidade institucional 117 3.2.“Criticar” para educar: os livros da Biblioteca de Divulgação Cultural e a ação cultural dos críticos literários nacionais 122 Capítulo 4: Por uma biblioteca “histórica”: livros da Biblioteca popular brasileira 155 4.1.Publicar os clássicos, formar os cânones: o Instituto Nacional do Livro e o processo de consolidação pedagógica literária 155 4.2.A Revista do Livro e os processos de monumentalização literária 158 4.3.A pesquisa histórica, “a instrução aos jovens historiadores” e a dimensão do INL na ANPUH 164 4.4.Anais da ANPUH e o Instituto das fontes históricas 172 PARTE III REDES INTELECTUAIS E PONTES LIVRESCAS Intercâmbios culturais e práticas letradas 19 CAPÍTULO 5: Mediações livrescas: o Instituto Nacional do Livro e os percursos editoriais brasileiros em Portugal e na América Latina 177 5.1.Relações culturais oficiais entre o Estado Novo português e o Estado Novo varguista 178 5.2. Elos editoriais atlânticos... 183 5.3.Comemorações de uma década de Revolução 192 5.4.Encenações e teatralizações nacionais – práticas expositoras na América Latina das décadas de 1930-40 194 IV- CONSIDERAÇÕES FINAIS 205 Livros, ideias e intelectuais... 205 V- APÊNDICES 1- PUBLICAÇÕES GERAIS DO INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO 212 2- COLEÇÕES PUBLICADAS PELO INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO 242 3- OBRAS COEDITADAS PELO INL EM CONVÊNCIO COM EDITORAS PRIVADAS 254 4- COLEÇÕES COEDITADAS COM O INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO 334 5-LEGISLAÇÃO SOBRE OS PRÊMIOS LITERÁRIOS DO INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO 369 6 – QUADRO DE DIRETORES DO INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO (1937-1991) 376 VI- REFERÊNCIAS A) Documentais 377 B) Bibliográficas 378 20 Figura 1 – Exposição em homenagem a Castro Alves realizada pelo Instituto Nacional do Livro Fonte: Arquivo Nacional 21 Figura 2 – Exposição em homenagem a Machado de Assis realizada pelo Instituto Nacional do Livro Fonte: Arquivo Nacional 22 O livro e, mais latamente, o objecto publicado obedecem, nesta medida, a um jogo subtil e plástico, por vezes turbulento, de ligações, reciprocidades, posições e interesses, aspectos promotores de intervenção estratégica sobre o objecto textual a editar, quer do ponto de vista dos princípios, quer do ponto de vista do mercado de leitores. Editar o livro funciona, afinal como maneira não aleatória de recorte social das formas de representar as coisas e as ideias. O livro editado – e distribuído, e publicitado, e vendido e posto a circular – corresponde, por isso, ao resultado material (o objecto) e imaterial (a ideia acerca do próprio objecto) de modos de ver o mundo e de o formular. Editar livros é, neste sentido, oferecê-los à fruição – que pode passar pela leitura ou somente pela posse – a partir de premissas enunciativas. A introdução na análise de casos empíricos com figurinos concretos pode densificar, mas também perturbar e complexificar, essa mesma análise. Trata-se, porém, de um exercício essencial de ilustração e de teste à narrativa aparentemente escorreita da teorização (Nuno Medeiros, A Edição de Livros como formulação do mundo: ideias e casos, 2015). 23 INTRODUÇÃO Arqueologia de uma pesquisa... gênese real desta tese data de 2013. Naquele ano, eu finalizava as minhas investigações referentes às pesquisas que desenvolvia junto à bolsa de iniciação científica da graduação a respeito dos processos de monumentalização da historiografia brasileira, evidenciados a partir dos anos 1950. Os dois nomes principais investigados, em polos opostos, eram os de José Honório Rodrigues e o de Sérgio Buarque de Holanda. Cabia a mim a função de “perseguir1” José Honório nas lides do campo acadêmico, quando me deparei com o entrecruzamento da produção deste intelectual e as do Instituto Nacional do Livro (INL). Foram meses de leitura. Pouco se tinha produzido, escrito e mesmo falado a respeito desta “autarquia livresca”. Iniciei as buscas, fiz mapeamentos, levantamentos e, principalmente, teci diálogos com alguns dos funcionários da Fundação Biblioteca Nacional que conheciam a história e a trajetória de funcionamento do INL. Neste período, eu finalizava o curso de graduação em História e pretendia dar prosseguimento a minha trajetória acadêmica por meio do ingresso no curso de Mestrado. Enquanto desenvolvia minhas atividades de pesquisa, soube por uma funcionária que a documentação do Instituto Nacional do Livro estava depositada no prédio anexo da Biblioteca Nacional. Como se sabe, a história do INL está muito ligada à da Biblioteca Nacional, pois no momento de sua extinção, ocorrida em 1990, seu acervo foi incorporado a esta última instituição transformada, posteriormente, em Fundação Biblioteca Nacional (FBN). Diante de tamanha descoberta, logo me ocorreu realizaras solicitações de consultas, tendo por justificativa o início do curso de mestrado que começaria nos próximos meses. Para minha frustração, a chefia responsável da época disse-me ser impossível acessar tais documentos, uma vez que não dispunha de pessoal e tampouco poderia precisar a localização deles. No entanto, como a persistência pertence ao universo de todo cientista, procurei alternativas secundárias que incluíram o contato com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o extinto Ministério da Cultura, o Ministério da 1Esta expressão faz analogia ao artigo de Loïc Wacquant a respeito de Pierre Bourdieu. Para maiores detelhes ver: WACQUANT, Loïc. Seguindo Pierre Bourdieu no campo. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 26, p. 13-29, jun. 2006. Disponível: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n26/a03n26.pdf. Acesso em 22. Nov. 2018. A http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n26/a03n26.pdf 24 Fazenda do Rio de Janeiro e de Brasília, o Ministério do Planejamento, o Arquivo Nacional de Brasília e do Rio de Janeiro e, por fim, o contato com a Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Sistema Nacional de Informação e Governança do (extinto) Ministério da Cultura. Todos os esforços foram em vão, pois a chave para a solução do silenciamento que rondava o Instituto Nacional do Livro permanecia no prédio anexo da FBN. De 2013 até 2020, sete anos se passaram. Outras gestões administrativas assumiram os postos e novas frentes de trabalho puderam ser abertas. Somente a partir do ano de 2018 é que finalmente pude me deparar com o que de fato existia nos “porões” da Biblioteca Nacional. A FBN me autorizou a pesquisar as caixas depositadas no prédio anexo. Desde o mês de agosto de 2018, restando menos de dois anos para a finalização do curso de doutorado, momento em que as primeiras caixas chegaram, muitas descobertas foram feitas. Uma delas é que até então boa parte da documentação do Instituto Nacional do Livro se refere aos anos mais importantes da Instituição, isto é, aborda os arquivos correntes do instituto que antecederam a sua fusão em 1990 e que ficaram esquecidos. Além disso, em sua maioria, esta documentação abrange as ações de um órgão atento às dimensões educacionais, seja pelo sistema de coedições, ou mesmo, pelo estabelecimento de prêmios e dos assuntos que se referiam à gestão das bibliotecas públicas. Há muito ainda a ser analisado. O trabalho que se segue é o resultado de anos de pesquisa, executada desde a investigação realizada com a bolsa de iniciação científica, continuada no mestrado e no doutorado e aprofundada quando do acesso à documentação existente no prédio anexo da FBN e aos documentos existentes nos arquivos da Torre do Tombo e da Biblioteca Nacional de Portugal. Este último aspecto representou uma importante etapa desta pesquisa. Um capítulo fundamental da trajetória do Instituto Nacional do Livro está tracejado com as trocas livrescas entre Brasil e Portugal. Diante disto, fui contemplada com um período de pesquisa com duração de quatro meses em Lisboa. Inicialmente a proposta deste trabalho se propunha a tratar das aproximações entre Portugal e Brasil, da qual participaram inúmeras instituições de ambos os países e que contou com a participação de intelectuais portugueses e brasileiros. Com isso pretendia esquadrinhar estas relações intercambiais entre os dois países por meio da circulação dos livros e, especialmente, do diálogo que se estabeleceu entre o Instituto Nacional do Livro e os órgãos portugueses. Assim sendo, os objetivos da pesquisa destinavam-se a coletar as fontes que vincularam, direta ou indiretamente, as relações de 25 circulação dos impressos do Instituto Nacional do Livro do Brasil com o Estado português. Com isso esperava-se inventariar as coleções de obras que trafegavam entre os dois países entre os dois países, assim como, se procurava destacar outras relações intelectuais existentes entre Brasil e Portugal. Diante do silêncio que permeia a história social do Instituto Nacional do Livro e da própria falta de outras pesquisas historiográficas que se dediquem a este tema, o presente trabalho se apresentou como uma contribuição original acerca dos circuitos editoriais que permearam capítulos importantes da circulação dos impressos no Brasil. Por metodologia empregou-se o conceito de “circulação” dos impressos para se pensar o trânsito editorial Brasil-Portugal, pois se considerou bastante seguro supor que, ao longo do século XX, se manteve um desejo de permanência de uma comunidade cultural luso- brasileira, que esteve materializada, entre outras formas, na existência de publicações e coleções definidas como que direcionadas para portugueses e brasileiros. Sendo assim, tem-se o significado de circulação, segundo Márcia Abreu enquanto instrumento de formação de uma comunidade letrada transnacional, partilhando referências, leituras e modos de ver a literatura2. Desse modo, coube discutir os conceitos de canonização3 e de divulgação que estiveram presentes, não apenas, nas páginas dos primeiros impressos republicanos, mas principalmente nos prelos do Instituto Nacional do Livro. Tal como apresenta Moema Vergara (2008), ao discutir aspectos da Revista Brasileira4, as propostas de vulgarização 2A respeito do conceito de canonização é preciso considerar a pesquisa de Márcia Abreu sobre a circulação transatlântica dos impressos. Para maiores detalhes ver alguns de seus trabalhos: ABREU, Márcia; DEACTO, Marisa Midori (orgs.). A circulação transatlântica dos impressos: conexões. Campinas, SP: UNICAMP/IEL/Setor de Publicações, 2014; ABREU, Márcia; MITTMANN, Adiel. Ler o passado com ferramentas do futuro: uma análise digital de textos críticos do início do século XIX. ALEA |Rio de Janeiro|vol.19/3|p.651-667|set-dez.2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/alea/v19n3/1807-0299-alea- 19-03-651.pdf. Acesso em 04 mar.2020; ABREU, Márcia. Conectados pela ficção: circulação e leitura de romances entre a Europa e o Brasil. O eixo e a roda: v. 22, n. 1, 2013. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/5363/4769. Acesso em 04 mar. 2020. 3Sobre a discussão de canonização são válidas algumas referências, tais como: KOTHE, Flávio Rene. O cânone colonial: ensaio. Brasília. Ed: UnB, 1997; BAPTISTA, Abel Barros. O livro agreste. Campinas: Editora Unicamp, 2005; FURTADO, André Carlos. As edições do cânone. Da fase buarqueana na coleção História Geral da Civilização Brasileira (1960-1972). Niterói: Eduff, 2016. 4Revista Brasileira foi uma publicação mensal que remonta as origens de edição da antiga publicação Guanabara. Esta última foi editada até 1855. Neste mesmo ano, apareceu a Revista Brasileira. Nas palavras de Moema Vergara (2004), “Nessa fase, a revista ganhou o título de Revista Brasileira, Jornal de Ciências, Letras e Artes (1857-1861). A segunda fase ficou conhecida simplesmente como Revista Brasileira e, em seu conteúdo, nova fase uma predominância dos assuntos científicos. A maioria das colaborações versava sobre assuntos científicos diversos, apresentados em relatórios, comunicações, memórias, ensaios, assinados por nomes de projeção do meio científico brasileiro”. Ver maiores informações em: VERGARA, Moema. Ciência e literatura: a Revista Brasileira como espaço de vulgarização científica. Sociedade e Cultura, vol. 7, núm. 1, 2004, pp. 75- 88. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/703/70370106.pdf. Acesso em 06 mar.2020. http://www.scielo.br/pdf/alea/v19n3/1807-0299-alea-19-03-651.pdf http://www.scielo.br/pdf/alea/v19n3/1807-0299-alea-19-03-651.pdf http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/5363/4769 https://www.redalyc.org/pdf/703/70370106.pdf 26 postuladas tinham por propósito promover a educação científica e incentivar a produção nacional no terreno científiconão estando restrita à importação e à difusão de saberes de outros centros. De forma semelhante observa-se a própria função do Instituto Nacional do Livro. Pautado na divulgação de obras essenciais para a “cultura nacional”, o INL dedicou-se à publicação de coleções de autores ditos clássicos5, lançados em suas coleções especiais como a “Biblioteca popular brasileira”, “Biblioteca científica brasileira” etc. No cerne dessas questões investigadas, por meio, das publicações promovidas pelo INL através de suas coleções, identifica-se um processo de canonização de autores considerados representantes da história da literatura brasileira. Pelo conceito de cânone compreende-se um processo no qual atuam vários fatores, por meio dos quais agem relações com elementos de natureza político-institucional que carecem de instâncias decisivas para se constituir6. Essas referências teóricas são as que endossam a confecção desta tese de doutorado. Por meio delas, a proposta desta pesquisa se constitui e se reforça. Através das fontes elencadas, pode-se perceber a importância de se estudar a circulação dos impressos num momento em que o livro ocupou lugar de destaque nas iniciativas público e privadas, culminando em formulações de políticas culturais cristalizadas no Brasil por meio do Estado Novo. Conforme aponta Eliana Dutra7, a essência dessas práticas em torno do livro visou a uma pedagogia da nacionalidade e dedicaram-se à formação do leitor, utilizando-se de vários gêneros literários, diversas mídias e práticas culturais. No que concerne os intercâmbios entre Brasil-Portugal, participaram ativamente o Instituto Nacional do Livro e o Serviço Nacional de Informações (SNI). Assim, no âmbito do levantamento arquivístico realizado em Portugal foram analisados documentos do fundo Serviço Nacional de Informação (SNI), do Instituto Superior de Bibliotecas e Arquivos (ISBA) depositados no Arquivo Nacional Torre do Tombo, além de levantamento bibliográficos na Biblioteca Nacional de Portugal e no Instituto Camões. Os documentos 5Acerca da definição de clássico, ver: VIALA, Alain. Qu’est-ce qu’un classique? Bulletin des bibliothèques de France, Paris, t. 37, v. 1, 1992, p. 6-15. SERRY, Hervé. Constituer un catalogue littéraire. La place des traductions dans l’histoire des Éditions du Seuil. Actes de la recherche en sciences sociales, Paris, v. 144, 2002, p. 70-79. 6BAPTISTA, Abel Barros. O livro agreste: ensaio de literatura brasileira. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2005. 7DUTRA, Eliana de Freitas. Cultura. In: GOMES, Angela de Castro [coord.]. Olhando para dentro: 1930-1964, volume 4. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. Coleção História do Brasil Nação, vol.4, pp. 229-274. 27 investigados apontaram para as relações editoriais entre intelectuais do Instituto Nacional do Livro e o governo português, além das quais se verificou a presença e a atuação prioritária da editora “Livros do Brasil”, grupo editorial português que foi responsável pelas relações de mediação entre autores do Instituto Nacional do Livro e a disponibilização de obras e documentos portugueses para a redação de livros no Brasil, como é o caso do livro “A demanda do Santo Graal”, de autoria de Augusto Magne, analisado com atenção nesta tese. O Instituto Nacional do Livro, um órgão pela educação: o delinear de uma tese Historicizar a nossa relação com a leitura é uma forma de nos desembaraçarmos daquilo que a história pode nos impor como pressuposto inconsciente. [...] Se é verdade que o que eu digo da leitura é produto das circunstâncias nas quais tenho sido produzido enquanto leitor, o fato de tomar consciência disso é talvez a única chance de escapar ao efeito dessas circunstâncias. O que dá uma função epistemológica a toda reflexão histórica sobre a leitura. (Pierre Bourdieu)8. Foi um Instituto voltado para as questões educacionais. Publicou diversos autores, criou prêmios literários, estabeleceu um programa editorial de coedições, planejou obras de cunho nacional, isto é, muitos assuntos relativos ao universo dos livros e da leitura no Brasil passavam pelos prelos do Instituto Nacional do Livro. Isso evidenciado nas mais de cinco décadas que marcaram a trajetória da Instituição. Pode-se asseverar que o INL assegurou a chancela a muitos intelectuais representantes da cultura nacional. Este trabalho trata do Instituto Nacional do Livro, mas não apenas de sua trajetória. Busca conhecer, por meio das políticas públicas encetadas pelo órgão, o tempo de afirmação de uma retórica da educação e de uma pedagogia literária, dois conceitos que serão evidenciados por meio da investigação da difusão das publicações, do INL a exemplo, das Bibliotecas9. Isso implica compreender a posição ocupada pelo Instituto Nacional do Livro nas malhas sociais e culturais brasileiras ao longo do tempo e não apenas na conjuntura de sua emergência, durante o Estado Novo. 8CHARTIER, Roger (dir.). Práticas de leitura. Iniciativa de Alain Paire e tradução de Cristiane Nascimento. 2. Ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2001, p. 107-116. 9Sobre esta expressão é preciso tomar nota. O que trabalho nesta tese são as coleções de livros do Instituto Nacional do Livro que foram denominadas pela própria instituição como “Bibliotecas”. São exemplos as denominações: Biblioteca de divulgação cultural; Biblioteca do estudante; Biblioteca popular etc. Mais adiante nos capítulos as obras e a própria história destas coleções será tratada. 28 Uma das características mais marcantes do Instituto do Livro foi a de se voltar para os assuntos educacionais do país. Em diversos momentos políticos da história do Brasil, a função do INL foi a de atender aos princípios básicos do Plano Nacional de Educação criado em 1934, além de dotar as bibliotecas públicas com obras características do interesse nacional. Em paralelo aos intuitos educacionais, compunha-se uma pedagogia literária composta das obras básicas a respeito da cultura e voltada a “incorporá-la a milhões de brasileiros, ainda à margem dela” 10. Desde seus primórdios, o INL serviu ao objetivo de produzir livros voltados à escola ou aos estudantes, mesmo que não fosse uma produção propriamente didática. O objetivo do Instituto era o de contribuir para superar o atraso do Brasil em relação aos processos de expansão da leitura, que foram cuidadosamente tratados pelos intelectuais, a partir dos anos 30 do século XX. Assim, o INL produziu, ao longo dos anos, políticas de edições variadas que englobaram a produção de uma Enciclopédia Brasileira e de um Dicionário de Língua Nacional entre os anos de 1937-1973; coleções de livros que até o ano de 1945 compreenderam os títulos: coleção biblioteca popular; coleção obras raras; coleção obras completas dos grandes autores brasileiros; coleção do estudante; bibliografia brasileira; bibliografias especiais e biblioteconomia. Depois desta data, as coleções abrangeram novos títulos, no decorrer dos anos 1950-60, tais como: biblioteca científica brasileira; biblioteca de divulgação cultural; biblioteca popular brasileira; biblioteca do sesquicentenário; coleção cultura brasileira; coleção de traduções de grandes autores brasileiros; coleção de dicionários especializados; coleção documentos e obras completas de autores como, por exemplo, Saturnino Brito e Epitácio Pessoa. Nas décadas de 1970-80 a ação do INL pautou-se quase exclusivamente pelo programa de coedições e dos livros didáticos, encerrando assim, a própria história da Instituição, extinta no início de 1990. Pode-se afirmar que esse compromisso com a produção didática, tornou-se ainda mais relevante quando, em 1971, o Instituto Nacional do Livro recebeu, por decreto, a responsabilidade de assumir a direção e o controle do projeto do livro didático. A época, o Ministro da Educação era Jarbas Passarinho (1970/1974) e a direção do INL,esteve a cargo 10SANTOS, José Renato Pereira dos. Apresentação. In: MEYER, Augusto. Preto & Branco. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1956. 29 da escritora Maria Alice Barroso (1970/1974). Dentre as principais atividades realizadas nesta seara, a mais importante foi o programa de coedições de livros didáticos. Este projeto de edição nasceu no interior de uma atribuição mais geral estabelecida para o Instituto do Livro de desenvolver o Programa Nacional do Livro Didático; de definir as diretrizes para formulação do programa editorial e planos de ação do MEC; de autorizar a celebração de contratos, convênios e ajustes com entidades públicas e particulares e com autores, tradutores e editores, gráficos, distribuidores e livreiros11. Basicamente o Programa do Livro Didático desenvolveu-se a partir de 1971, por meio do PLIDEF – Programa do Livro Didático – Ensino Fundamental; PLIDEM – Programa do Livro Didático – Ensino Médio; PLIDES – Programa do Livro Didático – Ensino Superior; PLIDESU – Programa do Livro Didático – Ensino Supletivo e PLIDECOM – Programa do Livro Didático – Ensino de Computação. Todos estes programas foram criados em decorrência do decreto presidencial que pôs fim ao COLTED (Comissão do Livro Técnico e Livro Didático), ficando delegado ao INL a responsabilidade de desenvolver o programa antes atribuído à Comissão12. Sob a direção do INL, pretendia-se uma mudança gradativa da filosofia didática que norteava o Programa do Livro Didático, como aponta João Batista Araújo e Oliveira (1987). Assim sendo, previa-se o estabelecimento de critérios técnicos e pedagógicos para a seleção dos títulos coeditados que seguiriam o curso assim descrito: as editoras enviavam ao INL os livros editados; do INL saíam para o Departamento de Ensino Fundamental do MEC, local onde os títulos seriam selecionados; dali, o INL encaminhava a relação dos escolhidos às Secretarias de Educação dos estados que procediam a uma segunda análise daqueles que melhor se adaptassem ao trabalho; retornando ao INL procediam-se às normas das coedições13. Quando da saída de Maria Alice Barroso do Instituto, a partir de 1974, o programa do livro didático foi redefinido, após inúmeras polêmicas e propostas discutidas no Congresso. Desde esta época, o livro didático passou para a ser gerido pela Fundação Nacional do 11OLIVEIRA, João Batista Araújo e. A política do livro didático. São Paulo: Summus; Campinas: Ed. Da Universidade Estadual de Campinas, 1984. 12OLIVEIRA, 1987, p. 57-58. 13OLIVEIRA, 1987, p. 59. A respeito da questão do livro didático, ver a parceria MEC/USAID. Com a quebra das relações entre Brasil e Estados Unidos traduzida no fim do MEC/USAID, foi criado o Fundo do Livro Didático que previa a contribuição estadual de verbas para a edição dos livros. 30 Material Escolar (FENAME)14, determinação realizada com a promulgação do Decreto-lei nº 77.107, de 04 de fevereiro de 197615. Esta lei dispôs sobre a edição e distribuição de livros- textos transferindo-os para a FENAME. Assim procedendo, houve um convênio entre a FENAME e as Secretarias Estaduais de Educação, obrigando o governo central a distribuir um determinado montante de livros ao sistema de alunos carentes do antigo 1º grau, cabendo aos estados participarem da com uma contrapartida material e financeira16. Assim, a FENAME tornou-se o mais importante órgão de decisão das políticas do livro didático durante o período do regime civil-militar17, quando passou a coeditar com editoras privadas. Algum tempo depois, com a nova configuração, a partir dos anos 1980, das novas políticas educacionais para os livros didáticos, surgiriam novas editoras que se fortaleceriam com o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)18. Desse modo, para compreender estas e outras singularidades do estudo de uma Instituição dedicada ao livro e ao seu universo, é preciso pensar nas construções desse objeto sociológico, de suas condições materiais e as conformações cognitivas de possibilidade quando foi feita a pesquisa. Atualmente, trabalha-se com a ideia de que “editar é um ato de intervenção na construção da cultura e da ideia de cultura e na formação e transformação dos espaços”19. É um marco dos estudos acerca da história do livro e da leitura suas produções acadêmicas sistemáticas com o lançamento de L’Apparition du livre, de Lucien Febvre e Henri-Jean Martin, em 1957, na França, posteriormente traduzido para o português, em 1992. Esta é, reconhecidamente, a primeira contribuição para o programa de estudos sobre a história do livro. Mais tarde, foi no transcorrer na década de 1980, momento de consolidação da chamada História Cultural, que se consolidou um campo de especialização acadêmica nesta área. 14A Fundação Nacional do Material Escolar havia sido criada pelo decreto nº5.327 de 1967 em substituição à Campanha Nacional de Materiais de Ensino (CNME), fundada durante o governo Juscelino Kubitscheck que se responsabilizava, inicialmente, pelos estudantes carentes. 15Decreto-lei nº 77.107 de 04 de fevereiro de 1976. Dispõe sobre a edição e a distribuição de livros textos e dá outras providências. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-77107-4- fevereiro-1976-425615-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em 13 mar.2020. 16OLIVEIRA, 1987, p. 64. 17A expressão “civil-militar” é resultado das pesquisas recentes sobre a Ditadura Militar. Sobre este tema, ver: REIS, Daniel Aarão [coord.]. Modernização, Ditadura e Democracia. 1964-2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014 (História do Brasil Nação: 1808-2010; 5). 18FILGUEIRAS, Juliana Miranda. As políticas para o livro didático durante a ditadura militar: a COLTED e o FENAME. Hist. Educ. (online). Porto Alegre, v.19, n.45, Jan/abr., 2015, p.85-102. 19MEDEIROS, Nuno. O livro no Portugal contemporâneo. Lisboa: Outro Modo; Le Monde Diplomatique, 2018. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-77107-4-fevereiro-1976-425615-publicacaooriginal-1-pe.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-77107-4-fevereiro-1976-425615-publicacaooriginal-1-pe.html 31 Internacionalmente, as publicações de Roger Chartier20 e de Robert Darnton21 representam o corolário destas produções. Dentre os estudos sobre a história dos livros e suas edições, há de se incluir os nomes de Janice Radway22 e Karl Kaestle23, além de Simon Elliot24, Elizabeth Eisenstein25 para citar os casos de língua inglesa. É bem verdadeiro, que há de se ter em conta também a presença da produção portuguesa, não apenas, em razão das pontes atlânticas que interligam Brasil e Portugal há séculos, mas porque há de se destacar as pesquisas desenvolvidas por Diogo Ramada Curto26, João Luís Lisboa27 e Nuno Medeiros28. Na América Latina, o campo da história do livro se expandiu amplamente e é preciso citar os trabalhos desenvolvidos por Márcia Abreu, Nelson Schapochnik, Aníbal Bragança29, Gustavo Sorá, Jean Yves-Mollier, Gabriela Pellegrino, Graciela Batticuore, Renan Silva, 20São exemplos: CHARTIER, Roger. Por uma sociologia histórica das práticas culturais. In: __________. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1988, p. 13-28. CHARTIER, Roger. Introdução. Ler um texto que não existe. In:_____________. Cardenio entre Cervantes e Shakespeare: história de uma peça perdida. Tradução Edmir Missio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, p. 07-16. CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados, São Paulo, v.5, n.11, p. 173-191, 1991; CHARTIER, Roger. Defesa e ilustração da noção de representação. Fronteiras, Dourados/MS, v.13, n. 24, p. 15- 29, Jul./Dez. 2011; CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990. 21Como exemplo pode-se citar: DARNTON, Robert. O que a história do livro? Revisitado. ArtCultura, Uberlândia, v.10, n. 16, p. 155-169, jan.-jun. 2008. Disponível em: http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF16/R_Darnton.pdf. Acesso em 07. Out. 2018. DARNTON, Robert. O grande massacre de Gatos. Rio de Janeiro: Graal, 1986. DARNTON, Robert. “The revival of narrative: reflections on a new old History”. Past and Present, 85, 1979. DARNTON, Robert. Boemia literária e revolução: o submundo das letras no Antigo Regime. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. DARNTON, Robert. O Iluminismo como negócio: historia da publicação da “Enciclopédia” 1777- 1800. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 22RADWAY, Janice. A Feeling for Books. The book-of-the-Month Club, literary taste, and middle-class desire. Chapel Hill e Londres. University of North Carolina Press, 1997. 23KAESTLE, Karl; RADWAY, Janice. A framework for the history of publishing and reading in the United States, 1880-1940. In: _______________. A History of the Book in America, vol.4, Print in Motion. 24ELIOT, Simon. Very necessary but not quite sufficient: a personal view of quantitative analysis in book history. Book History, vol.5, p.283-293, 2002. 25EISENSTEIN, Elizabeth. Divine Art, Infernal Machine. The reception of printing in the West from first impressions to the sense of an ending. Filadélfia e Oxford: University of Pennsylvania Press, 2011. 26CURTO, Diogo Ramada. Cultura escrita séculos XV-XVIII. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2007; ________________. História política da cultura escrita. Lisboa: Verbo, 2015. 27Lisboa, João L. Ciência e Política. Ler nos finais do Antigo Regime. ed. 1, 1 vol.Lisboa: INIC, 1991. Lisboa, João L; Melo, Daniel. Passos decisivos duma empresa editorial. In: História e património da edição - a Romano Torres, ed. Daniel Melo. Lisboa / Famalicão: Húmus / CHAM, 2015, p. 31-48. 28MEDEIROS, Nuno. Edição e editores. O mundo do livro em Portugal, 1940-1970. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais (ICS), 2010. 29Para o caso brasileiro há as produções de Aníbal Bragança e Gustavo Sorá traduzidas nos seguintes trabalhos: BRAGANÇA, Aníbal. Antecedentes da instalação hipertardia da tipografia no Brasil (1747-1808). Floema (UESB), v. 5A, p. 115-137, 2009; BRAGANÇA, Aníbal. O papel e o pixel. Do impresso ao digital, José Afonso Furtado. Páginas a&b. Arquivos & Bibliotecas , v. 17, p. 99-101, 2006; BRAGANÇA, Aníbal. Livraria Ideal, do Cordel à Bibliofilia. 2. ed. São Paulo: Edusp; Com-Arte, 2009. v.1. 242p; BRAGANÇA, Aníbal. Rei do Livro: Francisco Alves na História do Livro e da Leitura no Brasil. São Paulo: EDUSP, 2016. Coleção Memória editorial. SORÁ, Gustavo. Traducir el Brasil. Uma antropologia de la circulación internacional de ideas. Libros del Zorzal, 2003. http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF16/R_Darnton.pdf 32 Tânia Bessone e Lúcia Bastos30, para citar alguns exemplos. Todos eles destacam o papel dos leitores, das práticas de leitura, da circulação dos textos, do desenvolvimento das práticas textuais no Brasil e na América Latina. No Brasil, a historiografia da edição tem a origem com a edição de O livro no Brasil (Sua história)31, pesquisa do bibliotecário Laurence Hallewell. Acrescem-se a esta, pesquisas acadêmicas desenvolvidas no seio da história intelectual e do livro nacional brasileiro que se desenvolveram nas últimas décadas, encampadas por inúmeros autores, entre os quais se podem citar os trabalhos dos autores acima32. No caso específico do Instituto Nacional do Livro há muito que se dizer. Frente às cinco décadas que marcam a história desta instituição, verifica-se a inexistência de estudos que o abordem enquanto um órgão inscrito no período do que conceituo por retórica da educação e tampouco há aqueles que dele se apropriem enquanto uma instância atenta à promoção de uma educação letrada da nação. Isto posto, o que se tem da produção acerca do Instituto do Livro está pautada pela produção de estudos que abordam, cada um deles, exclusivamente, aspectos pontuais do órgão, tais como: a questão do livro didático, as relações com as políticas públicas dos Estados ditatoriais, a edição da Enciclopédia Brasileira ou o conjunto de outros temas específicos referidos ao INL. Entretanto, mesmo entre as alternativas mais bem elaboradas que dominaram o debate acerca do órgão, não estão contempladas as mutações sofridas pela instituição, bem como, os estudos ignoram os quadros intelectuais que compuseram as “cadeiras” do INL e que estiveram em profundas relações com outras instituições, como a Academia Brasileira de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por exemplo, desconsiderando as decisões editoriais, as perspectivas 30Uma excelente demonstração dos estudos sobre História do Livro e da Leitura na América Latina que está corporificado na edição dos textos apresentados na obra Escrita, Edição e Leitura na América Latina que representa a compilação dos trabalhos discutidos no I Congresso Latino Americano da Sharp: A Cidade das Letras que se realizou no Rio de Janeiro, campus do Gragoatá da Universidade Federal Fluminense (Niterói), entre os dias 05 e 08 de novembro de 2013. Para maiores detalhes ver: SCHAPOCHNIK, Nelson; VENANCIO, Giselle Martins (orgs.). Escrita, edição e Leitura na América Latina. Niterói: PPGHistória-UFF, 2016. 31HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua História. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012. 32Os principais trabalhos dos autores citados e que são contributos para os estudos de História da Leitura são: ABREU, M. Introdução: literatura e história – presença, leitura e escrita de romances. In: ABREU, M. (Org.). Trajetórias do romance: circulação, leitura e escrita nos séculos XVIII e XIX. Campinas: Mercado de Letras/Fapesp, 2008. p. 11-19. ABREU, M. Nos primórdios d. p. 197-220. ABREU, M. Conectados pela ficção: circulação e leitura de romances entre a Europa e o Brasil. O Eixo e a Roda: revista de literatura brasileira, Belo Horizonte, p. 15-40, 2013a. ABREU, M. O gosto dos leitores – a recepção de romances como problema para a história literária. In: SALES, G. M. A. et al. Interpretação do texto, leitura do contexto. Rio de Janeiro: 7 Letras/Capes, 2013b. p. 167-187. ABREU, M. Uma comunidade letrada transnacional. In: ABREU, M.; MIDORI, M. (Org.). A circulação transnacional dos impressos: conexões. Campinas: Publiel, 2014; Abreu, M., & Schapochnik, N. (2005). Cultura letrada no Brasil: objetos e práticas. São Paulo, SP: Fapesp. 33 de concepção das obras e principalmente a intenção de condicionar a recepção dos textos publicados por meio da organização de coleções e bibliotecas extramuros33 para um público segmentado. Por isso, ainda que buscassem historiar cada época do Instituto Nacional do Livro sobre a qual se debruçavam, pouco fizeram, para compreendê-lo mais do que como um órgão reprodutor das determinações governamentais. Nesse sentido, não surpreende a inexistência de um trabalho que contemple as transformações do Instituto e os seus diferentes projetos, como é o objetivo desta tese. Assim, pode-se propor a organização da produção bibliográfica sobre o Instituto Nacional do Livro separando-a em temas principais, assim categorizados: a) aqueles que analisam a instituição em períodos ditatoriais; b) os que abordam os projetos da Enciclopédia Brasileira; c) os que tratam das políticas de edição e dos livros didáticos; d) os que se detêm na formação nacional brasileira e/ou nas suas relações com Portugal; e) e, por fim, aqueles que se atêm nas relações entre o Instituto e as editoras. No primeiro grupo, pode-se inserir a tese de Ricardo Oiticica, intitulada Instituto Nacional do Livro e as ditaduras: Academia Brasílica dos Rejeitados34 (1997) defendida no Departamento de Letras da PUC-RJ; o artigo de Andréa Lemos Xavier Galúcio cujo título é A política editorial do Instituto Nacional do Livro no regime militar (2011)35 e a obra Os cardeais da cultura nacional: o Conselho Federalde Cultura na Ditadura civil-militar (1967- 1975) (2012) de Tatyana Maia36. O escopo dos dois primeiros estudos centra-se numa discussão que se detém mais na questão da forma como o Instituto Nacional do Livro atuou enquanto uma instância reprodutora do Estado de exceção, com medidas que beneficiavam os autores e também os censuravam por meio de suas políticas públicas. À diferença dos dois anteriores a obra de Tatyana Maia se dedica a demonstrar a construção de uma rede de sociabilidade dos “homens da cultura”, isto é, intelectuais atuantes no Conselho Federal de Cultura e em outras instituições, tais como o Instituto Nacional do Livro. 33CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietudes. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2002. 34OITICICA, Ricardo. O Instituto Nacional do Livro e as ditaduras: Academia Brasílica dos Rejeitados. Tese de doutorado. Departamento de Letras. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 1997. 35GALÚCIO, Andréa Lemos Xavier. A política editorial do Instituto Nacional do Livro no regime militar. II Seminário Internacional de Políticas Culturais da Fundação Casa de Rui Barbosa, 2011. Disponível em:http://culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa/files/2011/11/Andrea-Lemos-Xavier- Gal%C3%BAcio.pdf. Acesso em 17 set.2018. 36MAIA, Tatyana de Amaral. Os cardeais da cultural nacional: o Conselho Federal de Cultura na ditadura civil- militar (1967-1975). Organização da coleção Lia Calabre. São Paulo: Itaú Cultural: Iluminuras, 2012. http://culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa/files/2011/11/Andrea-Lemos-Xavier-Gal%C3%BAcio.pdf http://culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa/files/2011/11/Andrea-Lemos-Xavier-Gal%C3%BAcio.pdf 34 No segundo conjunto das produções podem ser alocados os estudos que se detiveram no projeto da Enciclopédia Brasileira do Instituto Nacional do Livro. Neste escopo inserem- se, especialmente, duas produções, a saber, o artigo de Adriana Facina Gurgel do Amaral sob o título de Uma Enciclopédia à Brasileira: o projeto ilustrado de Mário de Andrade37 (1999); e a minha própria dissertação intitulada Um Brasil inapreensível: história dos projetos da Enciclopédia Brasileira do Instituto Nacional do Livro (2016)38. O texto de Adriana Facina se inscreve na recuperação do projeto de Mário de Andrade quando da transferência para a capital federal em finais dos anos 1930 e abrange os esboços do projeto da Enciclopédia. Distintamente, minha dissertação adota como fio condutor a trajetória histórica do Instituto do Livro, recuperando os diferentes planejamentos da Enciclopédia ao longo dos anos 1936 até 1973, período em que foi extinta, demonstrando com isso, a mudança de concepção dos planos e da própria atuação do INL. Com isso, minhas investigações “destronaram” o conhecimento relativamente consolidado segundo o qual o Instituto do Livro dispunha de recursos para seguir adiante com o projeto em curso da Enciclopédia Brasileira. No terceiro bloco das produções têm-se aquelas dedicadas à análise das políticas culturais do livro e da leitura, além das que se dedicam exclusivamente, às questões referentes ao livro didático. A respeito das políticas públicas para leitura inscreve-se o texto de Aníbal Bragança intitulado As políticas públicas para o livro e a leitura no Brasil: O Instituto Nacional do Livro (1937-1967) (2009)39. No que concerne às relações com livros didáticos, tem-se os textos de Erica da Silva Xavier e Maria de Fátima da Cunha cujo título é Entre a indústria editorial, a academia e o estado: o livro didático de história em questão (2012) e o de Tatiana Feitosa de Britto intitulado O Livro didático, o mercado editorial e os sistemas de apostilados (2011)40. Todos esses textos dedicam-se a tratar o Instituto do Livro, apenas pela ótica das políticas públicas ou do livro didático, minimizando as outras produções do mesmo órgão e tampouco contemplando as discussões remetentes a produção e a circulação intelectual. 37AMARAL, Adriana Facina Gurgel do. Uma Enciclopédia à Brasileira: o projeto ilustrado de Mário de Andrade. Estudos Históricos, 1999, v.24. 38TAVARES, Mariana Rodrigues. Um Brasil inapreensível: história dos projetos da Enciclopédia Brasileira do Instituto Nacional do Livro. Dissertação de Mestrado em História. Programa de Pós-graduação em História. Universidade Federal Fluminense. 2016. 39BRAGANÇA, Aníbal. As políticas públicas para o livro e a leitura no Brasil: O Instituto Nacional do Livro (1937-1967). Matrizes, ano 2, n.2, primeiro semestre de 2009. 40Sobre o artigo de Tatiana Brito é preciso considerar que o mesmo incorre no erro da data atribuída a criação do Instituto Nacional do Livro, demonstrando, com isso, mais uma vez a necessidade de se debruçar sobre a história desta instituição. 35 No quarto e penúltimo grupo temos o trabalho de Marcus Vinicius Correa Carvalho, intitulado O Instituto Nacional do Livro e os Modernistas: Questões para a História da Educação Brasileira41. Juntamente com esta publicação, pode-se ainda considerar os estudos de Ângela de Castro Gomes e Eliany Araújo. Na obra A República, a História e o IHGB42, Angela de Castro Gomes trata das instituições criadas pelo Estado Novo de Getúlio Vargas comparativamente com a estrutura política institucional de Portugal no mesmo período. Neste levantamento, insere brevemente o Instituto Nacional do Livro desde os seus primórdios, quando ainda tinha as feições do Instituto Cayrú. No entanto, a autora não tem o INL como seu objeto principal de análise. Numa vertente diferente, o trabalho A palavra e o silêncio: Biblioteca Pública e Estado Autoritário no Brasil43, de Eliany Alvarenga de Araújo, busca a compreensão da relação entre Estado autoritário e as bibliotecas públicas no Brasil, por meio da análise da documentação oficial produzida através das políticas culturais gestadas nos períodos do Estado Novo (1937-1945) e do governo militar (de 1964 a 1970). Também seu estudo não tinha como objeto o INL, embora se referisse a ele de modo tangencial como parte das instituições promotoras das políticas públicas de leitura. Há que se acrescerem outros três trabalhos que orbitam na temática das políticas governamentais para o estabelecimento das bibliotecas públicas. Seguindo a ordem cronológica de publicação, tem-se a dissertação de mestrado de Suely Braga da Silva (1992) intitulada O Instituto Nacional do Livro e a institucionalização de organismos culturais no Estado Novo (1937-1945): planos, ideais e realizações44. O propósito da pesquisa de Suely Braga centra-se na organização e na manutenção das bibliotecas públicas em território nacional, baseando-se nos registros destas instituições realizados pelo próprio Instituto Nacional do Livro. Há dimensões que a autora deixa lacunas, tais como: a edição de coleções, bibliografias e o projeto da Enciclopédia Brasileira do Instituto que, na época contemplada pela estudiosa, contou com um dos mais célebres planos, isto é, o de Mário de Andrade. Além do trabalho de Braga, há outros dois que merecem destaque. O primeiro é de autoria de Bárbara Júlia Menezello Leitão, Bibliotecas públicas, bibliotecários e censura na Era Vargas 41CARVALHO, Marcus Vinicius Corrêa. O Instituto Nacional do Livro e os Modernistas: Questões para a História da Educação Brasileira. Cadernos de História da Educação – v.11, n.2 – jul./dez.2012, pp.543-557. 42GOMES, Angela Maria de Castro. A República, a história e o IHGB. Belo Horizonte, MG: Argumentum, 2009. 43ARAÚJO, Eliany Alvarenga de. A palavra e o silêncio: biblioteca pública e estado autoritário no Brasil. João Pessoa: Editora Universitária, UFPB, 2002. 44SILVA, Suely Braga da. O Instituto Nacional do Livro e a institucionalização de organismos culturais no Estado Novo (1937-1945): planos, ideais e realizações. Rio de Janeiro, UFRJ/ECO/IBICT, 1992. Dissertaçãode mestrado. 36 e regime militar: uma reflexão45 (2011). Assim como o anterior, o foco da autora é a dimensão das bibliotecas e, por esse motivo, ela constrói a narrativa sobre o INL destacando apenas a perspectiva biblioteconômica, a saber, a da estruturação das bibliotecas. Por fim, insere-se a mais recente publicação. Sua autoria compete a Raquel Juliana Prado Leite de Sousa (2018) e seu artigo tem o título de Políticas públicas e o Instituto Nacional do Livro: análise exploratória à luz da História e Teoria da Educação brasileira46. Apesar de ser mais uma produção da Biblioteconomia, ao contrário dos anteriores, Raquel Sousa propõe uma analogia entre a História da Educação do Brasil e suas respectivas fases, comparando-as com a organização do Instituto Nacional do Livro, a qual ela atribui etapas correspondentes. Ainda que este último trabalho se assemelhe, em termos cronológicos e temáticos, com o que proponho, ele se diferencia no aspecto teórico, pois, o foco desta tese é a análise do que denomino por retórica da educação, conceito que será amplamente explorado mais adiante. Ainda podemos considerar aqueles estudos que se dedicaram a abordar temáticas próximas ao INL. Dentre estes, podemos citar a tese de Gisella Amorim Serrano, A política editorial do Acordo Cultural de 1941 e o Pan-Lusitanismo (1941-1949)47. Amorim Serrano detém-se na análise da política editorial firmada entre Brasil e Portugal no ano de 1941, por meio da investigação do Acordo Cultural estabelecido entre esses dois países. Ao tratar o Acordo entre o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), no Brasil, e o Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), em Portugal, a autora se refere às políticas empreendidas também pelo INL, cuja produção é analisada rapidamente tendo em vista que o seu objetivo centrava-se em outros temas. Além do trabalho Gisella Serrano, há o de Andrea Galúcio a respeito do papel das editoras Civilização Brasileira e Brasiliense48 durante o período da ditadura civil-militar e do processo de “censura” sofrido pelas respectivas casas editoriais no INL. Neste trabalho, a autora analisa mais amplamente o Instituto como censor do que como agente produtor de livros ou como vetor de políticas públicas de leitura. 45LEITÃO, Bárbara Júlia Menezello. Bibliotecas públicas, bibliotecários e censura na Era Vargas e regime militar: uma reflexão. Rio de Janeiro: Interciência; Niterói: Intertexto, 2011. 46SOUSA, Raquel Juliana Prado Leite de. Políticas de bibliotecas públicas e o Instituto Nacional do Livro: análise exploratória à luz da História e Teoria da Educação Brasileira. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 14, n. 3, set./dez. 2018. 47SERRANO, Gisella de Amorim. Caravelas de Papel: A política editorial do Acordo Cultural de 1941 e o pan- lusitanismo (1941-1949). Tese de doutorado, Belo Horizonte, UFMG, 2009. 48GALÚCIO, Andrea. O papel das editoras Civilização Brasileira e Brasiliense durante o processo de abertura política no Brasil (1979-1985). In: XI Encontro Regional de História, 2004, Rio de Janeiro. 37 No último conjunto dos estudos, é necessário inserir o trabalho de Leilah Santiago Bufrem (2001)49. Com o título Editoras universitárias no Brasil: uma crítica para a reformulação da prática, Leilah Bufrem propõe o resgate da história editorial no Brasil com ênfase na estruturação do mercado de editoras universitárias. Como um dos protagonistas do cenário editorial brasileiro do século XX, o INL é conceituado pela autora como “órgão cooperador da iniciativa privada”50. Ainda que a intenção não seja a de reduzir a atuação e o papel do órgão ao longo do século XX, Bufrem questiona certa falta de ação da instituição junto às editoras universitárias, esquecendo-se, talvez, de que o objetivo primordial do Instituto do Livro foi o de atender as demandas da educação geral da sociedade brasileira e não especificamente as do setor editorial privado. Embora todos os textos citados nos permitam conhecer grande parte da atuação do Instituto Nacional do Livro no Brasil, o fato deles não adotarem esta Instituição como seu foco central impossibilitou que se realizasse uma análise mais integral de suas políticas voltadas para a educação e o letramento. Além disso, todos esses estudos trataram o Instituto Nacional do Livro, sem abordar detidamente a Revista do Livro, periódico produzido pelo órgão com o objetivo de divulgar suas ações. Contudo, foi possível localizar duas teses que se dedicaram exclusivamente à Revista do Livro. A primeira delas é de autoria de Claudiner Buzinaro, da Faculdade de Ciências e Letras de Assis (UNESP) e se intitula Revista do Livro, porta voz do INL: memória e indexação de um periódico do século XX (2006)51. A tese de Buzinaro dedica-se a abordar a Revista do Livro a partir da ótica do contexto político e social do Instituto Nacional do Livro, atendo-se minuciosamente às edições deste periódico pelo INL, aos textos veiculados e, principalmente, aos processos arquivísticos de Indexação. Como conclusão e resultado deste trabalho, Buzinaro demonstra de que maneira foi realizada a organização da Revista do Livro. Entretanto, o autor não menciona duas das edições deste periódico publicadas nos anos de 1939-1940. A segunda tese é de autoria de Fernando Floriani Petry do Programa de Pós-graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) cujo título é Revista do 49BUFREM, Leilah Santiago. Editoras universitárias no Brasil: uma crítica para a reformulação da prática. São Paulo: Edusp: Com-arte; Curitiba: Editora da Universidade UFPR, 2001. 50BUFREM, p.55. 51BUZINARO, Claudiner. Revista do Livro, porta-voz do INL: memória e indexação de um periódico do século XX. Tese de doutorado. São Paulo: UNESP, 2006. 38 Livro: um projeto político, literário e cultural (2015)52. De forma semelhante ao anterior, o trabalho de Petry também faz uma longa apresentação dos contextos histórico-políticos da Revista do Livro e sua atribuição como periódico oficial do INL. A proposta do autor é também promover um auxílio ao procedimento de Indexação realizado pelo Núcleo de Estudos Literários & Culturais (NELIC) da UFSC53. Nesta tese, diferentemente dos trabalhos anteriormente citados, adota-se a linha da investigação sobre a história do livro e da edição como multifacetada e orientada para o caso empírico do Instituto Nacional do Livro. A principal percepção consiste em observar que a atividade editorial se inscreve, assim, como instrumento institucional de mediação entre autores e públicos (MEDEIROS, 2015)54. Nas palavras de Powell, citadas por Nuno Medeiros, “os editores decidem que tipos de livro serão oferecidos ao público e com quanto vigor serão comercializados. Ao fazê-lo, moldam a criação e a dispersão de ideias, do conhecimento científico e da cultura popular” (Powell, 1985, p.15-16) apud Medeiros, XXX). Desse modo, o ato de editar pode ser definido, como sugere Pierre Bourdieu, pelo “fazer passar do oficioso ao oficial”55. Pode-se afirmar então que os estudos sobre edição devem abordar um: “(...) espaço contingente e plural, aberto e situado historicamente, apreensível como processo sempre permeável à emergência de rupturas e recorrências, irisado por colorações e sutilezas, e onde se constrói a desnaturalização do livro e do ordenamento que por este se faz do mundo moderno” (Medeiros, XXX). Destarte, apesar de haver trabalhos que tangenciam a abordagem sobre o INL, não há nenhum que tenha as mesmas preocupações propostas por esta tese. Longe de pretender fixar linhas duras e centradas numa rigidez cronológica, esta pesquisa se concentra em apresentar a trajetória do Instituto Nacional do Livro por meio da historicização de suas práticas, a maioria delas, editoriais. Dentre essas, a presente tese se atém na análise mais detida de duas de suas Bibliotecas
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