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Cinesioterapia Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Esp. Paula de França Carmo da Silva Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora • Conhecer os fundamentos que embasam o desenvolvimento e a aplicação dos exercí- cios terapêuticos; • Conhecer, entender e planejar as técnicas de exercícios aplicados aos distúrbios de equilí- brio e de coordenação motora ampla e fina; • Desenvolver as capacidades e as habilidades para avaliação e atuação terapêutica nos dis- túrbios e alterações de marcha; • Planejar exercícios adequados para cada caso com alteração de marcha. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Revisão de Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora; • Avaliação; • Cinesioterapia Aplicada aos Distúrbios de Equilíbrio e de Coordenação Motora Ampla e Fina; • Treinamento Proprioceptivo; • Marcha; • Ciclos da Marcha; • Avaliação da Marcha; • Exercícios Terapêuticos para Treino de Marcha. UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Revisão de Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Recordar os conceitos e ligação entre equilíbrio e coordenação motora traz senti- do e coerência no aprendizado e abordagem destes assuntos. É impossível abordar um destes assuntos na reabilitação sem fazer uma correlação com o outro ou ainda, aplicar a cinesioterapia se o paciente apresentar alteração em qualquer um destes assuntos, sem também reabilitar estes aspectos. A interdependência ou integração (Figura 1) destas abordagens nos traz uma abordagem de tratamento holística e ao mesmo tempo personalizada à cada caso. Figura 1 – Integração do equilíbrio, propriocepção e coordenação motora Fonte: Getty Images Equilíbrio O equilíbrio é mediado pelo órgão vestibular da orelha interna. Os receptores sensoriais encontram-se nos órgãos maculares e nos semi- circulares. O adequado estímulo aos órgãos do equilíbrio consiste em deflexão (desvio, en- curvamento) dos estereocílios e quiniocilios. A membrana otolítica desliza sobe o epitélio sensorial, através da ação da gravidade sobre os cristais de cálcio. Você Sabia? Os cristais de cálcio são responsáveis por transmitir a informação sobre a posição do crânio no espaço. Quando ocorre a aceleração de rotação de cabeça, os órgãos circulares e a endo- linfa promovem uma diferença de pressão em ambos lados da cúpula, promovendo seu desvio. São os órgãos semicirculares que transmitirão informações sobre a ace- leração espacial de rotação de crânio. O nervo vestibulococlear (VIII), realiza um estímulo sensorial que transmite para o tronco cerebral informações de receptores cervicais de posicionamento e de afe- rências somatossensorial. 8 9 O trato vestíbulo espinhal leva eferências para os núcleos dos músculos oculares, para os núcleos vestibulares contra laterais e outras regiões nucleares do tálamo e hipotálamo. Com isso, o sistema de equilíbrio nos mantém em pé, participa das condições para marcha e desempenha um papel fundamental para a motricidade de apoio. As informações do labirinto são levadas aos núcleos vestibulares, onde é realizada a coordenação geral do equilíbrio. Além do sistema vestibular, o sistema visual e proprioceptivo também é responsável pela manutenção do equilíbrio, sendo que o sistema muscular também desempenha um importante papel. Descompensação é o estado de alteração do equilíbrio corporal resultante de lesão unilateral abrupta do sistema vestibular. Esta ocasiona a crise labiríntica com sintomas e sinais auditivos e vestibulares, podendo ocorrer manifestações neurovege- tativas. A compensação é um mecanismo de recuperação funcional da perturbação do equilíbrio corporal causado por uma lesão vestibular. Os mecanismos de compensação procuram eliminar a assimetria entre o sistema vestibular direito e o esquerdo elaborando respostas vestíbulo oculomotoras e vestí- bulo espinhais destinadas a manter não só a estabilização da visão durante os movi- mentos cefálicos como também o adequado controle postural. Idade avançada, a permanência em imobilidade, privação sensório-motora, lesões do tronco cerebral e várias drogas como barbitúricos, ansiolíticos, anestésicos, ago- nistas de acetilcolina, podem retardar a compensação. Um corpo está em equilíbrio (estático) quando ele permanece em uma mesma posição no ambiente, sem movimento. O equilíbrio ocorre de acordo com a posi- ção em que ele se situa no ambiente, pela maneira como ele é fixado ou posto no ambiente, de modo a haver igualdade das forças que puxam sua massa para os lados, como o vento por exemplo, e a força que puxa o corpo para baixo, como a força da gravidade, conforme sua base e centro de gravidade. Falamos de equilíbrio estático, quando o indivíduo se encontra parado, falamos de equilíbrio dinâmico quando o indivíduo está em movimento. Figura 2 – Equilíbrio Estático Fonte: Getty Images 9 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Propriocepção A propriocepção (ou cinestesia), termo empregado por Sherrington, por volta de 1900, é definida como sendo qualquer informação postural e posicional, encami- nhada ao sistema nervoso central (SNC) pelos receptores encontrados em órgãos, músculos, tendões, ligamentos, articulações ou pele. Em outras palavras, é a consciência dos movimentos produzidos pelos nossos membros. É o termo que descreve a percepção do próprio corpo, e inclui a consci- ência da postura, do movimento, das partes do corpo e das mudanças no equilíbrio, além de englobar as sensações de movimento e de posição articular. Embora seja estudada há muito tempo, a propriocepção ainda é não é totalmente conhecida. É impossível falar em propriocepção sem falar em receptores sensoriais. Afinal de contas são eles que informam o nosso SNC sobre a posição articular e o nível de tensão muscular. Os receptores sensoriais fazem parte do sistema sensorial somático, responsável pelas diferentes experiências sensoriais captadas e interpretadas pelo nosso corpo. A função mais elementar dos receptores sensoriais é prover o SNC com informações sobre o estado interno de estruturas orgânicas e do ambiente externo. São eles que definem o que chamamos de sentidos (visão, audição, sensibilidade corporal, olfação, gustação). Porém, um único receptor não é capaz de identificar os diferentes estímu- los que nos bombardeiam a cada instante. Desta forma, contamos com diferentes tipos receptores sensoriais, cada um com características próprias que permitem que ele “sinta” diferentes estímulos. Podemos classificar os receptores sensoriais de acor- do com a sua função (mecanoceptores, termoceptores, fotoceptores, quimioceptores e nociceptores). O que é Propriocepção?, disponível em: https://youtu.be/zykIeARt9_I Coordenação Motora É a capacidade de executar movimentos regulares acurados e controlados. Os movi mentos coordenados se caracterizam por uma velocidade, distância, direção, ritmo e tensão muscular adequados. A coordenação de movimentos deve-se à inte- gração entre o comando central (cerebelo, gânglios basais, colunas dorsais propiciam informações ao córtex) e unidades motoras dos músculos e articulações. A coordenação motora pode ser classificada em ampla ou fina. • Coordenação motora ampla ou grossa: É a capacidade de usar de forma mais eficiente os músculos, resultando em uma ação global mais eficiente e econômi- ca. Este tipo de coordenação permite a criança ou adulto dominar o corpo no espaço, controlando os movimentos mais rudes. Ex: Andar, pular, rastejar, ficar de pé, correr etc.; 10 11 • Coordenação motora fina: É a capacidade de usar de forma eficiente e precisa os pequenos músculos, produzindo assim movimentos delicados e específicos. Este tipo de coordenação permite dominar o ambiente, propiciando manuseio dos objetos. Ex: empilhar, recortar, costurar, etc. Figura 3 – Coordenação Motora e equilíbrio – Associação de exercícios Fonte: Getty Images AvaliaçãoAvaliação de Equlíbrio O equilíbrio é avaliado com o paciente de pé. Quando há impossibilidade para ficar de pé, avaliar com o paciente sentado, ou a postura mais alta que ele assume com independência. Equilíbrio Estático • Sinal de Romberg: de pé, com olhos fechados, calcanhares juntos, antepés afastados em 30 graus, braços pendulares ao longo do corpo, manter postura um minuto; • Sinal de Romberg sensibilizado: Manobra de Jendrassik, mãos em oposição e cotovelos na horizontal; • Romberg-Barre: colocando-se um pé diante do outro, em linha reta, diminuin- do a base de sustentação; • Oscilar cabeça no plano horizontal, de olhos fechados: nos distúrbios do sistema proprioceptivo, não há lado preferencial para a queda. Nas cerebelopa- tias o paciente procura manter a base alargada (distasia), caindo ao aproximar os pés, mesmo de olhos abertos. Nas afecções vestibulares centrais, a queda ocorre geralmente para frente ou para trás (Romberg clássico); • Romberg vestibular: com acometimento labiríntico unilateral, há queda com lateralização para direita ou esquerda. Pede-se ao paciente para girar a cabeça 11 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora primeiro para a direita e depois para a esquerda para observar se há alteração na direção da queda, dependendo da posição do labirinto posterior. Equilíbrio Dinâmico • Andar ao longo de uma linha reta o Andar para os lados; • Andar para trás o Andar em círculos o Andar sobre os calcanhares o Andar nas pontas dos dedos; • Outros testes de avaliação do Equilíbrio: o Alcance Funcional (Functional Reach ou Anterior Functional Reach); Alcance Funcional Lateral (Lateral Reach ou Lateral Functional Reach); Apoio Unipodal (de Uemura) (Unipedal Stance Test) o Levantar e Andar Cronometrado (Timed Up and Go). Escalas de Avaliação de Equilíbrio • Escala de Equilíbrio de Berg (Berg Balance Scale) (validação em português); • Índice da Marcha Dinâmica (Dynamic Gait Index) (validação em português); • Escala de Tinetti (POMA – Performance Oriented Mobility Assessment) (vali- dação em português); • Alcance Funcional (Functional Reach). Exemplo de exercício dinâmico. Disponível em: https://bit.ly/33UYwjn Avaliação de Coordenação Motora A avaliação de coordenação motora, compõe testes de ligados ao equilíbrio e testes não ligados ao equilíbrio. A avaliação de coordenação motora vai depender da idade (em bebês e crianças avalia a coerência com as fases fisiológicas do desenvolvimento; em idosos avalia os impactos do envelhecimento), patologias neurológicas e distúrbios do equilíbrio que podem ou não estar associados. A avaliação envolverá ainda o desenvolvimento ou perda de habilidades mo- toras finas. Testes de Coordenação não Envolvendo o Equilíbrio Os testes são realizados com o paciente na posição sentado (quando avaliado membros superiores) ou deitado (para avaliação de membros inferiores): • Dedo ao nariz: paciente com o ombro em abdução de 900 e cotovelo estendido, pede-se para o mesmo levar a ponta do dedo indicador até a ponta de seu nariz; • Dedo ao dedo do terapeuta: o paciente e o terapeuta sentam-se um a frente do outro. O dedo indicador o terapeuta é mantido a frente do paciente, pede-se para o paciente que toque com a ponta de seu dedo indicador a ponta do dedo indicador do terapeuta; 12 13 • Dedo ao dedo: pede-se para o paciente aproximar, na linha média, os dedos indicadores das mãos opostas; • Alternância de nariz para dedo: o paciente toca alternadamente a ponta de seu nariz e a ponta do dedo do terapeuta com o dedo indicador; • Pronação/supinação: com os cotovelos flexionados em 900 e mantidos junto ao corpo, o paciente alternadamente vira as palmas da mão,uma para cima e outra para baixo; • Teste do rebote: o paciente é posicionado com o cotovelo em flexão. O tera- peuta aplica suficiente resistência manual para produzir uma contração isométri- ca do bíceps. A resistência é subitamente liberada. Em indivíduos normais, após a liberação da resistência, o movimento é freado; • Alternância calcanhar ao joelho, calcanhar à ponta do pé: em supino, pede ao paciente que toque alternadamente o joelho e o “dedão” do pé com o calca- nhar do membro oposto; • Desenhando um círculo: o paciente, na posição supino, tem que desenhar um círculo imaginário no ar com o membro superior ou com o membro inferior. Testes de Coordenação envolvendo Equilíbrio • A posição que o paciente irá adotar é em pé; • Passar de uma postura confortável, para pés unidos; • Com um pé diretamente diante do outro (dedo de um dos pés toca o calcanhar do outro pé); • Apoiar em somente um os pés; • Alternar entre a flexão de tronco e o retorno a posição ereta; • Andar ao longo de uma linha reta desenhada no chão; • Andar para os lados e para trás; • Marchar no lugar. Coordenação Motora – Brasil Escola, disponível em: https://youtu.be/jpFCfF1kmOM Cinesioterapia Aplicada aos Distúrbios de Equilíbrio e de Coordenação Motora Ampla e Fina O sinergismo das atividades que envolvam equilíbrio e coordenação motora, pode ser realizado em uma abordagem única/individual ou sinergicamente em um único exercício ou ainda, em uma sequência de exercícios. Isso será definido com base na avaliação de cada paciente. 13 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Cinesioterapia x Equilíbrio Para treinar o equilíbrio o paciente deve ser exposto a um movimento ou sequência de movimentos durante o qual é estimulado a manter a estabilidadecorporal. Fazer a atividade de forma lenta, procurando manter uma postura adequada e no grau má- ximo onde o equilíbrio é requerido “parar” e “equilibrar” durante alguns segundos. Exemplo de Treino de equilíbrio. Disponível em: https://bit.ly/3iysFZw Alguns exercícios facilitam a instigam o treino de equilíbrio: • Caminhar de diferentes formas (ponta, calcanhar), para diferentes direções (frente, lado, trás), percorrendo trajetos determinados, seguindo ou não linhas traçadas no chão, como também se desequilibrar em várias posições, leva o idoso a perceber seu centro de equilíbrio. E a ação de restabelecer o equilíbrio torna-se mais fácil quando solicitada.Movimento de desequilíbrio para frente e para trás (oscilar), ou equilibrar-se em um plano elevado exige que o paciente possua um bom domínio corporal. Pode-se utilizar como referência visual para o paciente. É necessário orientar as alterações do equilíbrio no movimento de sentar e levantar do chão, os apoios adequados e a maneira mais fácil e rápida para se ficar em pé sem tontura. Para aqueles com grandes dificuldades, utiliza-se um apoio como um banco, bar- ras ou o próprio terapeuta. Figura 4 – Treino de equilíbrio estático Fonte: Getty Images Cinesioterapia x Coordenação Motora Os exercícios de coordenação devem visar os padrões de movimentos da vida diária, não sendo necessários jogos de movimentos complexos, que causaria descon- forto pela dificuldade de execução. Opta-se, então, por movimentos coordenados de membros superiores e membros inferiores, como a marcha em diferentes formas e 14 15 ritmos, mão e mão, mão e pé, educando dessa forma a ação reflexa dos movimentos nas ações do dia a dia. O movimento coordenado complexo só será trabalhado quando o esquema cor- poral tiver sido adquirido através da educação das percepções. Marchar em diferentes formas, com joelhos altos ou pernas esticadas, para frente, para os lados e para trás, variando os movimentos dos braços, em um determinado ritmo ou livremente, é a ma- neira mais adequada de se desenvolverem os movimentos coordenados do paciente. Figura 5 – Coordenação Motora Ampla Fonte: Getty Images Movimentos de coordenação isolados – só os membros superiores ousó membros inferiores – devem ser explorados, estes movimentos isolados são excelentes treinos para as atividades de vida diária (AVDs) e para as atividades de vida prática (AVPs). Estas são exploradas diante da dificuldade ou da deficiência de cada paciente, estas serãoidentificadas na avaliação individual de cada caso. A coordenação motora fina é explorada na escrita, no colocar linha em uma agu- lha, no amarrar cadarços, abotoar roupas, entre outras atividades. O sinergismo de movimentos é que possibilita a correta execução da sequência de movimentos para a finalização do que se tem como intenção inicial. Figura 6 – Exemplo de treino de coordenação motora fina Fonte: Getty Images 15 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Treinamento Proprioceptivo Os proprioceptores são receptores que se localizam mais profundamente nos músculos, aponeuroses, tendões, ligamentos, articulações e no labirinto cuja função reflexa é locomotora ou postural. Podem gerar impulsos nervosos, conscientes ou inconscientes. Os primeiros atingem o córtex cerebral e permitem que, mesmo de olhos fechados, se tenha a percepção do próprio corpo, seus segmentos, da ativida- de muscular e do movimento das articulações. São responsáveis pelo sentido de po- sição e de movimento (cinestesia). Estes receptores desempenham, em simultâneo, a função de detectar todas as variações mecânicas e de enviar a informação recolhida ao sistema nervoso central. Para além dos proprioceptores, o aparelho vestibular e o sistema visual também fornecem importantes informações somatosensoriais. Pode-se dizer, portanto, que a propriocepção é responsável pelo envio constante de informação sobre eventuais deslocamentos de segmentos no espaço auxiliando-nos nas diversas tarefas motoras. Apropriadamente, os proprioceptores estão localizados nos músculos (fusos musculares), tendões (órgãos tendinosos de Golgi) e nas cápsulas articulares (corpúsculos de Ruffini e Pacini). A propriocepção, num sentido amplo, atua como atividade reflexa no caso de movimentos bruscos, inesperados ou simplesmente na mudança de direção de de- terminado movimento, ou seja, é um mecanismo que protege as articulações. Ela é efetiva devido à presença de receptores específicos que são sensíveis a alterações físicas, como variações na angulação de uma articulação, rotação da cabeça, tensão exercida sobre um músculo, e até mesmo o comprimento da fibra muscular. Alguns dos sensores, como já citados, responsáveis por tais sensações: • Órgãos tendinosos de Golgi, que são sensíveis à tração exercida nos tendões in- dicando a força que está sendo exercida sobre a musculatura, impedindo lesões; • Fuso muscular, que se divide em dois subtipos, fuso neuromuscular de bolsa, e de cadeia nuclear, sendo estes responsáveis pelo comprimento da fibra muscular no repouso (postura) e durante o movimento; • Sistema vestibular, localizado no ouvido junto à cóclea, é sensível a alterações angulares da cabeça. As alterações podem ser no sentido vertical (rotação ver- tical, deslocamento do queixo para cima e para baixo) ou horizontal (rotação horizontal ou lateral, deslocamento do queixo lateralmente, ou seja, direita e esquerda). Este sistema também atua na identificação da posição de todo o cor- po, permitindo que alguém saiba se está deitado, em pé ou em qualquer outro posicionamento espacial. Perturbações no sentido de equilíbrio podem levar a correções inadequadas, que em casos extremos podem impedir a manutenção da posição vertical, além de cau- sar vertigem e náusea. Após alguma lesão e/ou procedimentos cirúrgicos, essa in- formação é importantemente afetada. Nestes casos, haverá um déficit na capacidade proprioceptiva do indivíduo. Isto pode deixar a pessoa propensa a se lesionar nova- mente, ou diminuir a sua coordenação durante suas atividades. 16 17 Os exercícios de propriocepção são fundamentalmente importantes para manter normal a cinética e função das articulações. O treino proprioceptivo envolve ge- ralmente superfícies instáveis. Esta instabilidade fornece ao organismo constantes oportunidades para avaliar a sua orientação no espaço, desenvolvendo e treinando a consciência corporal. Uma melhora na reposta proprioceptiva proporciona ao corpo maior equilíbrio e estabilidade. Tipos de Exercícios Proprioceptivos • Exercícios de equilíbrio, em prancha com apoio bipodal ou unipodal (Com ou sem auxílio da visão); • Exercícios em pranchas de equilíbrio, cama elástica, balancim (Figura 6): • Exercícios de deslocamentos, estimulando as mudanças de direção; • Exercícios estimulando a atividade profissional ou esportiva; • Circuitos com diversos tipos de piso, direção, obstáculos. Figura 7 – Exemplo de instrumentos para exercícios proprioceptivos Fonte: MAYWORM, 2016 Figura 8 – Exercício proprioceptivo para mmss Fonte: Getty Images Em Síntese • Equilíbrio, coordenação motora e propriocepção não são dependentes mas... estão intimamente ligados; • O treinamento de um destes aspectos automaticamente influenciará no outro, não há como isolar apenas um destes para executar este treinamento; • A cinesioterapia torna-se imprescindível para melhora do quadro global do pacien- te que apresenta alteração em qualquer um destes temas abordado, mas... neste caso exercícios passivos não trarão benefícios. 17 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Marcha Locomoção bípede ou marcha é uma tarefa funcional que exige interações com- plexas e coordenação entre muitas das principais articulações do corpo, especial- mente da extremidade inferior. A deambulação ou marcha deve ser avaliada quanto a deslocamento linear, deslocamento rotacional (graus), passos, ciclo da marcha (apoio e balanço, comprimento do passo, comprimento da passada, largura e duração do passo) (Figura 9). Podemos dizer que marcha é o transporte seguro e eficiente no espaço terrestre é o mais comum de todos os movimentos humanos. O padrão de variabilidade de uma passada no dia-a-dia é moderadamente baixo; e ciclo da marcha é uma seqüência maravilhosamente orquestrada de eventos elétricos e mecânicos que culminam na propulsão coordenada do corpo através do espaço. Sob o ponto de vista da cinesiologia, a marcha é: uma seqüência de ações coordenadas dos segmentos articulares de membros superiores, inferiores e tronco, compondo um movimento altamente complexo. Vários mecanismos internos fun- cionais estão envolvidos e são de interesse para estudo, tais como: geração de forças musculares, interações articulares, estabilizações segmentares, entre outros. Sob o Ponto de vista biomecânico, a marcha é: dependente da interação dinâmica coordenada entre sistema motor e forças externas. É produto de movimentos coor- denados dos segmentos corporais gerados internamente (forças internas -muscular e articular) interagindo com as forças externas (inercial, gravitacional e friccional). Sob o ponto de vista da fisioterapia: O entendimento dos mecanismos dinâmicos e reflexos de geração e controle da marcha permite nos melhor avaliar e organizar programas de treinamento e reabilitação da marcha, um dos objetivos terapêuticos mais importantes. Figura 9 – Passo x Passada Fonte: Adaptado de SACCO et al., 2006 18 19 Ciclos da Marcha O ciclo da marcha é uma sequência de eventos que ocorre entre duas repetições consecutivas de qualquer um dos eventos da marcha. Por conveniência, é adotado como o início do ciclo o momento em que um pé tem contacto com o solo, geralmente através do calcanhar. Do mesmo modo, considera-se como origem o contato do pé direito, e o ciclo termina no apoio seguinte do pé. Por outro lado, o pé esquerdo experimenta a mesma série de eventos que o direito, deslocada no ciclo médio. Durante um ciclo completo da marcha, cada perna passa por uma fase de apoio, durante o qual o pé está em contacto com o solo, e por uma fase de balanço, em que o pé está no ar, ao mesmo tempo que avança em preparação para o próximo apoio. A fase de apoio começa com o contato inicial e termina com a decolagem do antepé. A fase de balanço é executada desde o momento da decolagem do antepé até o contacto seguinte com o solo. Em relação à duração do ciclo da marcha, a fase de apoio constitui, em condiçõesnormais, e para a velocidade de marcha normal para o sujeito, cerca de 60% do ciclo. Estágios da fase de apoio (Figura 10) • Contato Inicial: período de aceitação do peso corporal ou de descarregamento; • Resposta à Carga: pé plano c/ o solo; • Apoio Médio: suporte unipodal; • Apoio Terminal: transferência de peso; • Pré-Balanço: preparação p/ fase de balanço. Figura 10 – estágios fase de apoio Fonte: Adaptado de MAGEE, D. J., 2008 p. 943 A fase de balanço (Figura 11 – fase de oscilção) representa os 40% restantes. O mesmo se aplica ao membro contralateral: considera-se 50% do tempo, o que revela a existência de duas fases de apoio bipodal ou de duplo apoio, cada uma com 10% de duração. A duração relativa de cada uma dessas fases depende fortemente da velocidade do sujeito, aumento da proporção de oscilação durante o apoio de forma a aumentar a velocidade, gradualmente reduzindo os períodos de duplo apoio, que desaparecem na transição entre marcha e corrida (PERRY, 1992). 19 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Figura 11 – fase de balanço – oscilção Fonte: Adaptado de Perry, 1992 Subfases balanço da marcha (Figura 12) • Balanço Inicial: período caracterizado pelo pé elevado do solo, com flexão rápida do joelho e dorsiflexão do tornozelo; • Balanço Médio: MI em balanço encontra-se adjacente ao MI em sustentação; • Balanço Terminal: preparação para o contato inicial com o solo, com ativação de quadríceps e isquiotibiais. Figura 12 – Subfases balnaço da marcha Fonte: Adaptado de OATIS, 2014 p. 896 É chamado o período de apoio monopodal ao intervalo durante o qual apenas um membro está em contacto com o solo, enquanto o membro contralateral está na fase de balanço. O tempo de apoio modal esquerdo é igual ao tempo de oscilação direito. O tempo para apoiar um pé é igual à soma do tempo do apoio monopodal desse pé e aos dois tempos de apoio bipodal (Figura 13 – Ciclo da marcha humana: fases da marcha fase de apoio e seus componentes) 20 21 Figura 13 – Ciclo da marcha humana: fases da marcha, fases de apoio e seus componentes Fonte: Adaptado de PERRY, 1992 A distância medida entre dois apoios consecutivos do mesmo pé chama-se com- primento do passo. Já a distância medida na direção da progressão que separa o apoio inicial do pé direito do apoio inicial do pé esquerdo, é chamada o comprimento do passo esquerdo. Da mesma forma tem-se o comprimento do passo direito e a soma dos dois passos coincide com o comprimento do passo. O tempo do passo esquerdo é o tempo decorrido na consecução do passo esquerdo, ou seja, entre o contato inicial do pé direito e o contato inicial do pé esquerdo, e é igual à soma do tempo de balanço esquerdo e o tempo de duplo apoio imediatamente seguinte, que por sua vez corresponde à fase de descolagem do pé esquerdo. A sepa- ração lateral entre os apoios de ambos pés, geralmente medida entre os pontos médios dos calcanhares, é a largura do passo, largura de apoio ou base de apoio. O ângulo entre a linha média do pé e a direção da progressão é conhecido como ângulo de passo. A cadência é definida como o número de passos que são executados num inter- valo de tempo, sendo a sua unidade o passo por minuto. Expressa em passos por segundo, a cadência é duas vezes o inverso da duração do ciclo. A velocidade da marcha é a distância percorrida pelo corpo na unidade de tempo na direção considerada. A velocidade média pode ser calculada como o produto da cadência pelo comprimento do passo. Fases do Ciclo da Marcha O desenvolvimento do ciclo de marcha é marcado por uma série de eventos que permitem uma subdivisão mais fina, facilitando a sua descrição. Em condições nor- mais são produzidos para cada pé os seguintes eventos sucessivos: • O contato do calcanhar com solo; • Apoio completo da sola do pé; • Decolagem do calcanhar ou do retropé; • Decolagem dos dedos ou do antepé; • Oscilação do membro; • Contato seguinte do calcanhar. 21 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora No entanto, algumas das etapas anteriormente referidas podem não existir em certas alterações da marcha; por exemplo, o contato inicial pode não ser feito com o calcanhar, o membro oscilante pode arrastar-se no solo, etc. Neste caso, para executar a subdivisão apropriada, é preciso definir as fronteiras entre as diferentes subfases, que são: • Fase de recepção da carga; • Fase média de apoio; • Fase de decolagem; • Fase inicial de oscilação; • Fase final de oscilação. Dentro do período de apoio, a fase de receção de carga é executada entre o con- tato inicial e o contato total apoio do pé; em seguida, ocorre a fase média de apoio, até ao momento da decolagem do calcanhar; Finalmente, a fase de decolagem, até ao momento em que os dedos levantam-se acima do solo. Em termos de período de oscilação, a sua divisão é feita em dois intervalos de igual duração. Outra possível subdivisão e a mais difundida é a que considera o apoio composto de cinco períodos básicos e a oscilação constituída por outros três: Quadro 1 Fases de apoio • Fases do contato inicial (CI) – 0-2%; • Fase inicial de apoio e resposta à carga (AI) – 0-10%; • Fase média de apoio (AM) – 10-30%; • Fase final de apoio (AF) – 30-55%; • Fase prévia de oscilação (OP) – 50-60%. Fase de oscilação • Fase inicial de oscilação (OI) – 60-73%; • Fase média de oscilação (OM) – 73-87%; • Fase final de oscilação (OF) – 87-100%. Figura 14 – Largura da base, apoio dos pés Fonte: Adaptado de MAGEE, 2008 p. 945 22 23 Figura 15 – Desvio lateral pélvico Fonte: Adaptado de MAGEE, 2008 p. 946 Figura 16 – Rotação pélvica Fonte: Adaptado de MAGEE, 2008 p. 947 A fase de contato inicial (CI) dá-se com o contato do pé com o solo, sendo o seu principal objetivo o posicionamento do membro para iniciar o apoio. Em pessoas normais este contato ocorre através do calcanhar. A fase prévia de oscilação se dá com a propulsão do antepé, para o início da fase de oscilação em um dos membros e consequentemente fase de apoio inicial do outro membro. 23 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Quadro 2 – Parâmetros Normais da Marcha Largura da base • Largura Normal: 5 a 10 cm; • Base Larga: patologias cerebelares ou sensoriais; • Base Reduzida ou Cruzada: ↑ velocidade. Apoio dos pés (Figura 14) • Observada durante o apoio da marcha. Ângulo de Fick (os pododáctilos desviam lateralmente de 5º a 18º). Comprimento do Passo • Distância entre 2 pontos de contato sucessivos em pés opostos; • Normal: 35 a 41 cm; • Varia conforme: idade/gênero/altura/fadiga/dor/doenças. Comprimento da passada • Distância entre pontos sucessivos de contato pé-solo do mesmo pé; • Normal (Ciclo de Marcha): 70 a 82 cm. Desvio pélvico lateral (Figura 15) • Movimento de lado a lado da pelve na marcha; • Equilíbrio para MI de apoio; • Normal: 2,5 a 5 cm. Desvio pélvico vertical • Impede que o CG se mova mais de 5 cm; • Ponto alto: apoio médio; • Ponto baixo: contato inicial; • Altura ↑ na fase de balanço; • Varia conforme: idade/gênero/altura/fadiga/dor/doenças. Rotação pélvica (Figura 16) • Regula a velocidade da marcha; • Pelve roda em sentido contrário ao tórax; • Rotação Pélvica Total = 8º (4º em cada MI). Centro de gravidade • CG: 5 cm à frente da 2ª vértebra sacral; • Discretamente mais alta em homens; • Maior massa corporal na área dos ombros. Cadência • Normal: 90 a 120 passos/min; • Mulher ↑ em 6 a 9 passos/min; • Idade ↑: Cadência ↓. Quadro 3 – Padrão Normal de Marcha Cadeia Cinética Fechada Contato Inicial (Toque do Calcanhar) • Tronco: alinhado entre os membros inferiores; • Pelve: encontra-se nivelada; • Quadril: flexionado em 30º a 49º; • Joelho: discretamente flexionado ou estendido; • Tíbia: em rotação externa; • Tornozelo: a 90º com o pé; • Retropé: evertido. Resposta à Carga (Aceitação do Peso / Contato Total do Pé) • Tronco: alinhado com o MI de apoio; • Pelve: cai discretamente no MI em balanço; • Quadril: flexionado e posicionadoem RE movendo-se para extensão; • Joelho: flexionado em 15º a 25º; • Tíbia: em RI e começa a mover-se para frente; • Tornozelo: em flexão plantar; • Retropé: invertido. 24 25 Apoio Médio (Apoio sobre um Membro Inferior) • Tronco: alinhado com o MI de apoio; • Pelve: cai discretamente no MI em balanço; • Quadril: extensão máxima em 10º a 15º com RE; • Joelho: flexionado; • Tornozelo: bloqueado em 5º a 8º de dorsiflexão; • Retropé: invertido. Apoio Terminal • Tronco: alinhado sobre os membros inferiores; • Pelve: nivelada e rodada posteriormente; • Quadril: posição neutra; • Joelho: estendido; • Tíbia: em RE; • Tornozelo: em flexão plantar; • Antepé: passa de inversão para eversão. Pré-Balanço (Elevação dos Pododáctilos) • Tronco: ereto; • Pelve: rodada posteriormente; • Quadril: estendido e em discreta RI; • Joelho: flexiona em 30º a 35º; • Tornozelo: em flexão plantar; • Pé: entra em eversão para melhorar a base. Quadro 4 – Padrão Normal de Marcha Cadeia Cinética Aberta Balanço Inicial (Aceleração) • Tronco: alinhado com o MI em apoio; • Pelve: rodada internamente e inclina-se lateralmente para MI em balanço; • Quadril: flexão e RI; • Joelho: flexão; • Tornozelo: em flexão plantar. Balanço Médio • Tronco: alinhado com o MI em apoio; • Pelve: rodada internamente e inclina-se lateralmente para MI em balanço; • Quadril: flexão e RI; • Joelho: flexão. Balanço Terminal (Desaceleração) • Tronco: alinhado com o MI em apoio; • Pelve: rodada internamente e inclina-se lateralmente para MI em balanço; • Quadril: flexiona e roda internamente; • Joelho: atinge extensão máxima; • Tornozelo: flexiona dorsalmente; • Tornozelo: em posição plantígrada (90º). Marcha humana normal (ciclos e fases da marcha): https://youtu.be/Qjj84musSpk 25 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Figura 17 – Ciclo da marcha Fonte: Adaptado de MAGEE, 2008 p. 944 Revisão de Alterações da Marcha A todo e qualquer distúrbio da marcha, dá-se o nome de disbasia. A disbasia pode ser uni ou bilateral, e os tipos mais representativos são determinados a seguir. • Marcha helicópode, ceifante ou hemiplégica: ao deambular, o paciente man- tém o membro superior fletido em 90°C no cotovelo e em adução, e a mão fechada em leve pronação. O membro inferior do mesmo lado é espástico, e o joelho não flexiona. Devido a isso, a perna tem de se arrastar pelo chão, descrevendo um semicírculo quando o paciente troca o passo. Esse modo de caminhar lembra o movimento de uma foice em ação. Aparece nos pacientes que apresentam hemiplegia, cuja causa mais comum é acidente vascular cere- bral (AVC). Postura observada na hemiplegia; • Marcha anserina ou do pato: o paciente para deambular acentua a lordose lombar e vai inclinando o tronco ora para a direita, ora para a esquerda, alterna- damente, lembrando o andar de um pato. É encontrada em doenças musculares e traduz diminuição da força dos músculos pélvicos e das coxas; • Marcha parkinsoniana: o paciente anda em bloco, enrijecido, sem o movi- mento automático dos braços. A cabeça permanece inclinada para a frente, e os passos são curtos e rápidos, dando a impressão de que o paciente “corre atrás do seu centro de gravidade” e vai cair para a frente. Ocorre nos portadores da doença de Parkinson. Marcha cerebelar ou marcha do ébrio. Ao caminhar, o doente ziguezagueia como um bêbado. Esse tipo de marcha traduz incoordena- ção de movimentos em decorrência de acometimentos cerebelares; • Marcha tabética: para se locomover, o paciente mantém o olhar fixo no chão; os membros inferiores são levantados abrupta e explosiva e, ao serem recoloca- dos no chão, os calcanhares tocam o solo de modo bem pesado. Com os olhos fechados, a marcha apresenta acentuada piora, ou se torna impossível. Indica 26 27 perda da sensibilidade proprioceptiva por lesão do cordão posterior da medula. Aparece na tabes dorsalis (neurolues), na mielose funicular (mielopatia por defi- ciência de vitamina B 12, ácido fólico ou vitamina B6), mielopatia vacuolar (liga- da ao vírus HIV), mielopatia por deficiência de cobre após cirurgias bariátricas, nas compressões posteriores da medula (mielopatia cervical); • Marcha de pequenos passos: É caracterizada pelo fato de o paciente dar passos muito curtos e, ao caminhar, arrastar os pés como se estivesse dançando “mar- chinha’. Aparece na paralisia pseudobulbar e na atrofia cortical da senilidade; • Marcha vestibular: o paciente com lesão vestibular (labirinto) apresenta latero- pulsão quando anda; é como se fosse empurrado para o lado ao tentar mover-se em linha reta. Se o paciente for colocado em um ambiente amplo e lhe for soli- citado ir de frente e voltar de costas, com os olhos fechados, ele descreverá uma figura semelhante a uma estrela, daí ser denominada também marcha em estrela; • Marcha escarvante: quando o paciente apresenta paralisia do movimento de dorsiflexão, ao tentar caminhar, toca com a ponta do pé o solo e tropeça. Para evitar isso, levanta acentuadamente o membro inferior, o que lembra o “passo de ganso” dos soldados prussianos; • Marcha claudicante: ao deambular, o paciente manca para um dos lados. Ocorre na insuficiência arterial periférica e em lesões do aparelho locomotor e/ou, em lesões ortopédicas; • Marcha em tesoura ou espástica: os dois membros inferiores enrijecidos e espásticos permanecem semiflexionados, os pés se arrastam e as pernas se cru- zam uma na frente da outra quando o paciente tenta caminhar. O movimento dos membros inferiores lembra uma tesoura em funcionamento. Esse tipo de marcha é bastante frequente nas manifestações espásticas da paralisia cerebral. Análise de Marcha: Marchas Patológicas (Vídeo Aula). Disponível em: https://youtu.be/oQyxq3fH0Yk Avaliação da Marcha Análise do movimento é o conjunto de métodos e técnicas utilizados para análise quantitativa do movimento humano. A base científica da análise da marcha se baseia na mecânica de corpos rígidos. A marcha é avaliada de forma dinâmica. São avaliados o padrão da marcha (fase de apoio e fase de balanço) e parâmetros da marcha: largura da base, comprimento do passo, da passada, cadência etc. Devemos observar o movimento articular durante a marcha e a dissociação de cinturas. 27 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Há vários métodos para fazer exames clínicos da marcha, desde a observação clínica visual até análise computadorizada. A medição dos parâmetros por meio de análises computadorizadas é mais precisa do que os resultados das observações clínicas, sendo por essa razão bastante utilizada na avaliação e no planejamento de pacientes portadores desse tipo de padrões de marcha patológicos. Os tipos de análise da marcha em uso atualmente podem ser classificados em duas categorias amplas, cinemática e cinética. O estudo da cinemática está relacionado às características do movimento, a observação e a análise desse movimento a partir de uma perspectiva espacial e temporal e não tem referência a força que o ocasionam. Enquanto que, as análises cinéticas da marcha são utilizadas para determinar as forças envolvidas na marcha. Métodos de Avaliação da Marcha O termo análise da marcha tem se tornado comum, para descrever avaliações de formas de locomoção como o andar e o correr, que levam em consideração aspectos antropométricos, cinemáticos, cinéticos ou eletromiográficos. O método mais natural é a observação clínica. O conhecimento das característi- cas das fases da marcha permite analisar qualitativamente o padrão apresentado por um indivíduo. A análise observacional permite extrair a velocidade (cronometrando- -se o tempo para percorrer uma distância conhecida) e cadência (contando quantos passos são dados em uma unidade de tempo). O podograma (impressão da planta dos pés sobre uma esteira de papel) permite conhecer o comprimento do passo, da passada, e o padrão de apoio sobre os pés. O uso de eletrogoniômetros acoplados às articulações dá informaçõessobre os ân- gulos destas durante o movimento. Os modernos sistemas automáticos de rastreamento de movimento captam a imagem, transferem-na ao computador, e este se encarrega de extrair todos os da- dos cinemáticos. Biomecânica da Marcha: Análise da Marcha Normal (Aula completa). Disponível em: https://youtu.be/4BiRCzCKrd0 Marcha normal e patológica, disponível em: https://bit.ly/36FBjmp 28 29 Exercícios Terapêuticos para Treino de Marcha O treino de marcha define-se como um conjunto de atividades que visam a aqui- sição de competências para a deambulação, que incluem exercícios específicos em superfícies planas, instáveis ou escadas. O treino de marcha inclui atividades como: • Treino de equilíbrio: que tem como objetivo ajudar o corpo a manter o equilí- brio, numa posição estática ou dinâmica; • Treino da postura: intervenção concebida para melhorar o alinhamento e posi- ção do corpo em relação à gravidade, centro de massa e base de suporte; e uma aprendizagem motora – intervenção que proporciona práticas ou experiências capazes de mudar a capacidade de executar ações qualificadas. Para realizar o treino de marcha podem utilizar-se várias superfícies ou obstácu- los, sendo que a utilização de passadeira tem demonstrado resultados positivos. O treino de marcha exige a integração da coordenação motora, propriocepção e equilíbrio. Desta forma, temos que abranger diversos córtices sensoriais para essa completa integração. A marcha pode ser desenvolvida em treinos de solo, aquáticos e com auxílio de dispositivos auxiliares como por exemplo barra, andador, muletas ou bengalas. Em alguns casos, se faz necessário, o uso de órteses para facilitação e estabiliza- ção articular. A adequação ou aquisição de marcha é totalmente dependente da patologia, do estágio da patologia (principalmente em se tratando de patologias degenerativas, progressivas). Esta adequação também se faz necessária através da cinesioterapia nos casos de eventos ou patologias osteomioarticulares. As patologias neurológicas também requerem observações e exercícios para adequação da marcha. Este treino de marcha, compreende a integração dos seguintes itens: • Postura; • Equilíbrio e Estabilidade; • Agilidade; • Coordenação; • Velocidade; • Flexibilidade; • Força. 29 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora Desta forma é um treino recruta o sinergismo entre membros superiores, coluna e membros inferiores. • Treino de Marcha com Dupla Tarefa – Dicas de Exercícios – Rogério Souza. Disponível em: https://youtu.be/W7GuC4YOBeY • Conceito PNF: facilitação da marcha – Prof. Leandro Giacometti. Disponível em: https://youtu.be/i9rN8y4Ii_8 30 31 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Efecto de un programa de ejercicio físico sobre el riesgo de caídas, equilibrio y velocidad de la marcha en personas mayores con discapacidad intelectual MARTÍNEZ, A. D. et al. Efecto de un programa de ejercicio físico sobre el riesgo de caídas, equilibrio y velocidad de la marcha en personas mayores con discapacidad intelectual. Rehabilitación. Espanha: Elsevier, 2020. Cinesioterapia MAYWORM, S. H. Cinesioterapia. Rio de Janeiro: SESES, 2016. Fisioterapia Ortopédica: exame, avaliação e intervenção DUTTON, M. Fisioterapia Ortopédica: exame, avaliação e intervenção. 1. ed Porto Alegre: Artmed, 2006. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento O’SULLIVAN, S. B.; SCHIMITZ, T. J. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. 4. ed. São Paulo: Manole, 2004. Leitura Importância do treinamento da propriocepção e do controle motor na reabilitação após lesões musculoesqueléticas LEPORACE, G.; METSAVAHT, L.; SPOSITO, M. M. M. Importância do treinamento da propriocepção e do controle motor na reabilitação após lesões musculoesqueléticas. Revista Acta Fisiátrica, São Paulo, v.16, n. 3, p. 126-131, 2009; Sensitivity and specificity of different measures of adiposityto distinguish between low/high motor coordination LOPES, L. et al. Sensitivity and specificity of different measures of adiposityto distinguish between low/high motor coordination. J Pediatr, Rio de Janeiro, n. 91, p. 44-51, 2015. Análise de uma intervenção dirigida ao desenvolvimento da coordenação motora fina, global e do equilíbrio MARONESI, L. C. et al. Análise de uma intervenção dirigida ao desenvolvimento da coordenação motora fina, global e do equilíbrio. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 23, n. 2, p. 273-284, 2015. Análise da cinemática e dinâmica da marcha humana FERREIRA, A. R. S.; GOIS, J. A. M. Análise da cinemática e dinâmica da marcha humana. RMCT VOL. 35 Nº3. 2018. https://bit.ly/34AP9DR 31 UNIDADE Equilíbrio, Propriocepção e Coordenação Motora A velocidade da marcha e ocorrência de quedas em idosos longevos LENARDT, M. H.; SETOGUCHI, L. S.; BETIOLLI, S. E.; GARDEN, C. R. B.; SOUZA, J. A. V.; LOURENÇO, T. M. A velocidade da marcha e ocorrência de quedas em idosos longevos. REME – Rev Min Enferm.2019. https://bit.ly/34rq26o Bases Cinesiológicas, Biomecânicas e Avaliação da Marcha SACCO, I. C. N.; JOÃO, S. M. A. Bases Cinesiológicas, Biomecânicas e Avaliação da Marcha. In: JOÃO, S. M. A. (Org.). Métodos de avaliação cínica e funcional em fisioterapia. Guanabara Koogan, 2006. https://bit.ly/2SDGfQo 32 33 Referências HOUGLUM, P. A. Exercícios Terapêuticos para Lesões Musculoesqueléticas 3.ed. Barueri: Manole, 2015. KISNER, C.; COLBY, L. A. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 6.ed. São Paulo: Manole, 2016. (e-Book) LANCHA, A. H.; LANCHA, L. O. P. Avaliação e Prescrição de Exercícios Físi- cos: Normas e Diretrizes. Barueri: Manole, 2016. 33