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Prévia do material em texto

2016
Teoria da HisTória 
e HisToriografia
Prof. Paulo Cesar dos Santos
Prof.a Graciela Márcia Fochi
Prof. Thiago Rodrigo da Silva
Copyright © UNIASSELVI 2016
Elaboração:
Prof. Paulo Cesar dos Santos
Prof.a Graciela Márcia Fochi
Prof. Thiago Rodrigo da Silva
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
907
S237h Santos, Paulo Cesar dos
 Teoria da história e historiografia/ Paulo Cesar dos Santos; Graciela 
Márcia Fochi; Thiago Rodrigo da Silva. Indaial : UNIASSELVI, 2016.
 209 p. : il.
 
 ISBN 978-85-7830-952-7
 
 1. História – Estudo e Ensino. 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
III
apresenTação
Caro acadêmico! Bem-vindo ao Livro Didático da disciplina Teoria 
da História e Historiografia! A intenção deste livro é apresentar o processo 
pelo qual a história se constituiu como uma disciplina no campo das ciências 
humanas. Deste modo, iremos expor (em uma perspectiva cronológica e 
contextualizada) as principais teorias e escolas historiográficas dos últimos 
quatrocentos anos. Para tanto, iremos relacionar os principais estudiosos, 
como eles definiram e conceituaram a história. Também veremos a relação 
da história com outras ciências. 
Na Unidade 1 serão apresentadas questões concernentes à teoria da 
história. Polêmicas como objetividade, verdade e método serão abordadas. 
Também os principais teóricos da historiografia, da época iluminista até 
o final do século XIX serão contemplados. Assim, veremos a relação de 
alguns pensadores com o desenvolvimento da história enquanto campo do 
conhecimento. Entre eles, Descartes, Vico, Kant, Hegel, Marx, Comte e Ranke.
Na Unidade 2 será discutida a produção historiográfica do século 
XIX e como esta se relacionou com o conhecimento histórico do século XX. 
Em especial, foram contemplados os intelectuais e as escolas teóricas. Os 
intelectuais relacionados foram: Michele, Droysen, Buckhard, Weber, Walter 
Benjamim e Michel Foucault. Entre as escolas de pensamento histórico, estão 
relacionadas a Escola dos Annales, a Escola de Frankfurt, a Escola Marxista 
Inglesa, a Historiografia Latino-americana, a Micro-História, a História 
Ambiental e a História do Tempo Presente. 
Na Unidade 3 será abordada a historiografia brasileira. Assim serão 
relacionados os historiadores dos períodos colonial, imperial e republicano. 
As influências teóricas e as diversas gerações de historiadores brasileiros 
serão trabalhadas. Intelectuais como Varnhagen, Capistrano de Abreu, Sérgio 
Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Gilberto Freire, além de pesquisadores 
contemporâneos, terão sua produção acadêmica apresentada e analisada. 
Um detalhe importante: procure ter em mãos e não hesite em 
consultar dicionários toda vez que surgirem expressões e conceitos de 
outras áreas, que ainda lhe são estranhos, como do campo da ciência e da 
filosofia. Retome os conteúdos já abordados nas disciplinas de Introdução 
ao Conhecimento Histórico, Metodologia do Ensino da História, História 
Moderna e História Contemporânea. 
Votos de uma jornada construtiva e satisfatória de conhecimentos!
Os autores
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA .....................................................1
TÓPICO 1 – TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS............3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 APRESENTAÇÃO E DEFINIÇÃO DE CONCEITOS ......................................................................4
2.1 CIÊNCIA .............................................................................................................................................4
2.2 TEORIA ...............................................................................................................................................5
2.3 PARADIGMA .....................................................................................................................................6
2.4 MÉTODO ............................................................................................................................................7
2.5 DISCURSO ..........................................................................................................................................8
2.6 HISTORIOGRAFIA ...........................................................................................................................8
2.7 EPISTEMOLOGIA .............................................................................................................................9
2.8 RAZÃO ................................................................................................................................................9
2.9 IDEOLOGIA ..................................................................................................................................... 10
2.10 DIALÉTICA .................................................................................................................................... 10
2.11 PROGRESSO ................................................................................................................................... 11
3 O CONTEXTO HISTÓRICO E INTELECTUAL DO ILUMINISMO......................................... 12
3.1 O EXEMPLO DE GIAMBATTISTA VICO .................................................................................... 14
4 O IDEALISMO ALEMÃO: AS PERSPECTIVAS DE KANT E HEGEL SOBRE A HISTÓRIA ....18
4.1 O EXEMPLO DE KANT .................................................................................................................. 18
4.1.1 A ideia de história cosmopolita ............................................................................................ 19
4.2 O PENSMENTO HEGELIANO: ESPÍRITO E RAZÃO NA HISTÓRIA .................................. 20
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 23
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 28
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................29
TÓPICO 2 – O PENSAMENTO SÓCIO-HISTÓRICO DO SÉCULO XVIII E XIX ..................... 31
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31
2 O POSITIVISMO COMTEANO: A FÍSICA SOCIAL E A HISTÓRIA ENQUANTO 
 CIÊNCIA DO PASSADO .................................................................................................................... 32
3 O MATERIALISMO HISTÓRICO .................................................................................................... 34
4 O MATERIALISMO DIALÉTICO ..................................................................................................... 38
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 41
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42
TÓPICO 3 – O HISTORICISMO DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX ......................... 45
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 45
2 A HISTÓRIA, AS FONTES E A ESCRITA ....................................................................................... 45
3 O EXEMPLO DE LEOPOLD VON RANKE (1795-1888) ............................................................... 47
4 O PROBLEMA DA OBJETIVIDADE NA CIÊNCIA E NA HISTÓRIA ..................................... 49
5 A PROBLEMÁTICA DA VERDADE NA HISTÓRIA ................................................................... 53
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 56
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 60
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 61
sumário
VIII
UNIDADE 2 – O PENSAMENTO HISTÓRICO A PARTIR DO SÉCULO XIX .......................... 63
TÓPICO 1 – A TRADIÇÃO HISTORIOGRÁFICA NO SÉCULO XIX: ALGUNS EXEMPLOS ........65
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65
2 SÉCULO XIX: QUAL HISTÓRIA? .................................................................................................... 66
3 JULES MICHELET ................................................................................................................................ 66
4 FUSTEL DE COULANGES ................................................................................................................. 68
5 JOHANN GUSTAV DROYSEN ......................................................................................................... 68
6 JACOB BUCKHARDT ......................................................................................................................... 69
7 MAX WEBER ......................................................................................................................................... 70
8 FRIEDRICH NIETZSCHE ................................................................................................................... 71
9 CHARLES-VICTOR LANGLOIS (1863- 1929) E CHARLES SEIGNOBOS (1854- 1942) ......... 72
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 74
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 75
TÓPICO 2 – A HISTORIOGRAFIA DO SÉCULO XX .................................................................... 77
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77
2 A ESCOLA DE FRANKFURT ............................................................................................................. 77
3 THEODOR ADORNO (1903-1969) .................................................................................................... 78
4 WALTER BENJAMIN (1892-1940) ...................................................................................................... 79
5 A NOVA ESQUERDA INGLESA ...................................................................................................... 82
5.1 A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DOS MARXISTAS INGLESES NA SEGUNDA 
METADE DO SÉCULO XX ............................................................................................................. 83
6 A HISTORIOGRAFIA LATINO-AMERICANA ............................................................................ 85
7 A TRADIÇÃO DOS ANNALES ......................................................................................................... 87
7.1 PRIMEIRA FASE DA ESCOLA DOS ANNALES (1929-1945) ................................................... 89
7.2 SEGUNDA FASE DA ESCOLA DOS ANNALES (1945-1968) .................................................. 91
7.3 TERCEIRA FASE DA ESCOLA DOS ANNALES (PÓS 1968...): NOVOS MÉTODOS, 
OBJETOS E ABORDAGENS ........................................................................................................... 93
8 O CASO DE MICHEL FOUCAULT .................................................................................................. 96
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 99
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................105
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................107
TÓPICO 3 – AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DO SÉCULO XXI ................................................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL ...................................................................................................110
3 A MICRO-HISTÓRIA ........................................................................................................................111
3.1 O MÉTODO INDICIÁRIO DE GINZBURG ..............................................................................112
4 HISTÓRIA E SABER LOCAL ...........................................................................................................114
5 LINGUÍSTICA E NARRATIVA .......................................................................................................114
6 A HISTÓRIA AMBIENTAL ..............................................................................................................117
7 A HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE ..........................................................................................118
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................120
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................123
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................129
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................130
UNIDADE 3 – A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA .....................................................................131
TÓPICO 1 – HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA: DO IHGB À GERAÇÃO DE 1930 ...............133
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133IX
2 O PERÍODO ANTERIOR AO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
 BRASILEIRO (IHGB) .........................................................................................................................133
3 O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO .................................................135
4 A GERAÇÃO DOS ANOS 1930 E SEUS DESDOBRAMENTOS ..............................................141
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................148
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................149
TÓPICO 2 – A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA DURANTE A GUERRA FRIA ..................151
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................151
2 OS ENSAÍSTAS DA REALIDADE HISTÓRICA BRASILEIRA ...............................................152
3 A PRODUÇÃO UNIVERSITÁRIA DE HISTÓRIA DO BRASIL, A FORMAÇÃO DE 
 CENTROS DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HISTÓRICA ..............................................155
4 OS PRINCIPAIS DEBATES ACADÊMICOS ................................................................................158
5 OS BRASILIANISTAS .......................................................................................................................161
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................165
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................166
TÓPICO 3 – A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA .................................167
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167
2 NOVOS ESTUDOS, NOVAS INSTITUIÇÕES, NOVOS TEMAS: O CONTEXTO DAS 
 TRANSFORMAÇÕES HISTORIOGRÁFICAS DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS .............168
3 HISTÓRIA ATLÂNTICA/ HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO/ BRASIL COLONIAL
 E IMPERIAL .........................................................................................................................................170
4 NOVA HISTÓRIA CULTURAL, GÊNERO, NOVA HISTÓRIA SOCIAL E 
 HISTÓRIA AMBIENTAL: OS NOVOS TEMAS DA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA 
 CONTEMPORÂNEA .........................................................................................................................173
5 OS DEBATES SOBRE O GOLPE MILITAR DE 1964 ..................................................................181
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................184
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................191
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................192
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................193
X
1
UNIDADE 1
TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• definir, contextualizar e problematizar os principais conceitos que são 
solicitados nos estudos dos temas de teoria da história e historiografia;
• apresentar os principais autores, teorias e paradigmas científicos da 
História que compõem a matriz do pensamento da sociedade ocidental 
moderna, e da influência que exerceram no pensamento científico e 
histórico das gerações posteriores;
• abordar os fundamentos do pensamento iluminista, cartesiano, hegeliano, 
positivista, marxista e historicista nos aspectos teóricos e metodológicos, 
contextualizando o momento histórico em que foram formulados;
• estudar e contextualizar a matriz de pensamento marxista, as categorias 
do materialismo histórico e dialético e suas implicações na análise e na 
escrita da história.
• discutir e problematizar as questões de objetividade e verdade que 
perpassam as principais tradições do pensamento científico e a produção 
do conhecimento histórico.
Caro acadêmico! Esta unidade de estudos encontra-se dividida em três tópicos 
de conteúdos. Ao longo de cada um deles, você encontrará sugestões e dicas 
que visam potencializar os temas abordados e ao final de cada um, estão 
disponíveis resumos e autoatividades que visam fixar os temas estudados.
TÓPICO 1 – TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS 
 INICIAIS
TÓPICO 2 – O PENSAMENTO SÓCIO-HISTÓRICO DO SÉCULO XVIII E XIX
TÓPICO 3 – O HISTORICISMO DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA:
CONCEITOS INICIAIS
1 INTRODUÇÃO
As disciplinas, os textos, os artigos que se prepõem a analisar e discutir 
Teoria da História e Historiografia são em número muito inferior aos demais 
temas da História, como por exemplo, História Regional, História Antiga, História 
Medieval; assim como acabam sendo motivo de desinteresse e distanciamento 
por parte dos estudantes e profissionais da história.
Refletir sobre estas questões significa pensar sobre os aspectos que 
perpassam todo o processo de pesquisa, sistematização e comunicação da História. 
O historiador e o profissional da história consciente e comprometido com o fazer 
histórico não pode negligenciar tais aspectos, pois estará procedendo de forma 
superficial com o conhecimento que está elaborando e até com o conhecimento 
que se utiliza, cuja autoria não é sua.
Cardoso (1997) nos coloca a questão de que devemos estar despertos e atentos 
em meio ao contexto social, político, econômico e cultural no qual nos encontramos, 
pois este se apresenta tanto com ares de tradição sólida, como de renovação, se 
encontra em pleno devir e superação, tende a se tornar outro, ainda mais aberto 
e tolerante, porém ainda está sendo plasmado em meio a um modelo fortemente 
estruturado, hierarquizado e conservador; em outdoors esboçam-se tempos de 
mudança, mas as bases de realização prática encontram-se ainda sustentadas na 
antiga matriz ideológica do capitalismo, que impera pelo menos há três séculos. 
Rüsen (2009) discute que a Teoria da História conta com toda uma 
identidade construída, porém o desafio está em estabelecer as fronteiras entre 
a escrita da história (historiografia), o estudo crítico, fazer a história da história, 
pois a historiografia, mal consegue ser separada de seu objeto mais evidente que 
é a escrita da história.
A indecisão na forma de referir a atividade intelectual, o fazer/pesquisar 
escrever em História (historiografia, história da história, teoria da história) é 
resultado também da escassez de problematizações teóricas, fato que pode ser 
verificado com facilidade se tomados os temas anunciados nos encontros dos 
profissionais em história, nos títulos das dissertações e teses defendidas no 
interior das instituições de ensino de pós-graduação e nas linhas de pesquisas 
que são desenvolvidos pelas mesmas instituições. 
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
4
Trata-se de uma discussão e tema que requer aprofundamentos sobre 
os conceitos e concepções teóricas que pertencem à teoria do conhecimento, à 
história da filosofia e da ciência, e paradigmas científicos. Cientes disto, procurou-
se apresentar e definir os conceitos que vão ser mencionados com maior ênfase ao 
longo deste Livro Didático. 
Não perca de vista a ideia de recorrer e consultar um dicionário toda vez 
que surgirem conceitos e expressões que lhe parecem estranhos ou incertos dos 
significados que comportam. No sentido de lhe auxiliar, observeas sugestões de 
consulta a seguir:
DICAS
DICINÁRIO DE CONCEITOS HISTÓRICOS 
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São 
Paulo: Contexto, 2009.
Disponível em: <http://www.meuportalacademico.com.br/wp-content/uploads/2013/04/SIL-
VA-K-SILVA-M.-Dicion%C3%A1rio-de-conceitos-hist%C3%B3ricos.pdf>.
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA 
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
Disponível em: <http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/2011/11/Dicionario-de-Filoso-
fia-Nicola-ABBAGNANO.pdf>.
2 APRESENTAÇÃO E DEFINIÇÃO DE CONCEITOS
2.1 CIÊNCIA
Compreende o processo, o percurso metodológico, os princípios lógicos 
de investigação; tem por finalidade elaborar conhecimentos e/ou resolver os 
problemas que o próprio homem formula ou que se apresentam em uma dada 
realidade. Entre os principais métodos existe o da observação empírica, seja de 
seres ou fenômenos naturais ou de fatos e fenômenos sociais, cuja finalidade 
reside em promover o aprimoramento e melhoramento da vida e da humanidade. 
A ciência moderna se desenvolveu e consolidou ao longo dos séculos 
XVII, XVIII e XIX, tratou-se de um conhecimento obtido de forma natural, 
independente e desarticulado das dimensões sobrenaturais, mitológicas, mágicas 
e/fantásticas da realidade. É quando se acentua o distanciamento entre o campo 
da fé, do espiritual, do religioso, do sagrado e do eterno (poder invisível) e o 
campo do temporal, do método, do racional, do profano e do leigo (poder visível). 
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
5
A ciência acabou por se tornar em uma ideologia dominante – o 
cientificismo, uma forma de saber superior, criada pelo positivismo no século 
XIX. A ciência resumia-se na busca pela verdade a qualquer custo, almejava 
extrair todos os segredos que houvesse na natureza, e para tanto deveria proceder 
rigorosa observação empírica, lançando mão da imaginação, dos sentimentos 
e das emoções quando investigava tanto os seres da natureza como os fatos e 
acontecimentos humanos. 
Surgiram muitas críticas à ciência, entre elas estão as que foram proferidas 
por Nietzsche (1844-1900), quando afirmava que a ciência havia matado Deus. 
Outros estudiosos começam a perceber que a racionalização e o cientificismo não 
estavam dando conta de libertar o homem, pelo contrário, as forças produtivas do 
capitalismo, que eram justificadas e estimuladas pelo saber científico-tecnológico, 
favoreciam ainda mais a dominação predatória do homem sobre a natureza e do 
homem sobre o próprio homem. 
Para Max Weber (1983) a ciência não possui maior objetivo e sentido 
do que o de fazer surgir novas questões, novos problemas, ser ultrapassada e 
superada; que se trata de um fazer que jamais cessa e que não tem fim. Silva 
(2009) apresenta que a ciência data de aproximadamente 10 mil anos, que teria 
surgido no Oriente Médio, quando eram reunidos exemplares e conhecimentos 
sobre plantas, animais e tecnologias. 
No século XX, com as experiências das guerras mundiais, com o 
aprofundamento da fome e da miséria, da concentração da riqueza e aumento das 
desigualdades, dos conflitos étnico-raciais, os estudiosos passam a questionar os 
objetivos, os meios e os fins da ciência e do cientificismo descomprometido com 
a melhoria da vida humana. 
2.2 TEORIA
Pode ser considerado desde o ato de ‘tomada de consciência’, a formulação 
e organização do pensamento, a reflexão sobre a realidade, que almeja resultados 
práticos, a ação e a transformação da realidade. Somente adquire o status de 
teoria quando apresenta uma estrutura toda organizada de princípios, categorias, 
métodos, regras e leis que podem ser aplicados e verificados diante de fatos, 
fenômenos do mundo e da natureza. 
Kuhn (2000) afirma que as teorias não são eternas, possuem certo tempo 
de validade e que quando não dão conta de fornecer resultados e respostas 
satisfatórios diante dos problemas e fatos, fornecem as condições para que outras 
teorias sejam apresentadas em seu lugar:
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
6
A emergência de novas teorias é geralmente precedida por um período 
de insegurança profissional pronunciada, pois exige a destruição em 
larga escala de paradigmas e grandes alterações nos problemas e 
técnicas da ciência normal. Como seria de esperar, essa insegurança é 
gerada pelo fracasso constante dos quebra-cabeças da ciência normal 
em produzir resultados esperados. O fracasso das regras existentes é o 
prelúdio para a busca de novas regras. (KUHN, 2000, p. 95).
Silva (2009) apresenta que existem teorias em praticamente todas as áreas do 
conhecimento, apesar de serem mais usuais e empregadas nas ciências biológicas e 
exatas. Nas ciências humanas, as áreas do conhecimento que mais buscam formular 
teorias são as da economia, a sociologia, a antropologia e a linguística.
A peculiaridade dos fenômenos e fatos humanos (o homem, o homem 
no tempo) é que estes costumam ser atípicos, anárquicos, imprevisíveis e não 
ocorrem duas ou mais vezes, bem como é raro conseguir estabelecer semelhanças e 
repetições para com outros fatos e fenômenos ocorridos em outros locais, e por fim 
serem classificados numa teoria rigorosa e precisa. 
 Silva (2009) aborda que os historiadores atualmente são mais receosos 
em formular teorias do que em outras épocas (embora não dispensem conceitos, 
categorias e modelos explicativos em suas análises). A autora explica que 
durante o século XVIII e XIX, quando vigorava o historicismo, a escola metódica 
e o materialismo histórico, muitos historiadores se preocupavam com o 
estabelecimento de modelos que estruturavam as explicações da História, porém 
com os questionamentos e as crises que a ciência sofreu ao longo do século XX, 
em especial com a ascensão da Nova História, na segunda metade do século, 
a História foi se tornando cada vez menos teórica, ou seja, cada vez menos 
preocupada com os métodos, com categorias e explicações preestabelecidas para 
proceder análises de fatos e fenômenos.
2.3 PARADIGMA
Kuhn (2000) discute que um paradigma corresponde aos elementos 
que unem e aproximam membros de uma comunidade, e estes preparam um 
campo de atuação, iniciam e formam outras pessoas e estudantes para serem 
futuros membros da comunidade científica. Os paradigmas são compostos pelas 
realizações científicas que são reconhecidas universalmente, são responsáveis por 
legitimar a ciência feita e o conhecimento elaborado por um determinado grupo 
ou nicho/campo de pesquisa.
É comum ouvirmos falar fulano de tal é weberiano, ciclano é marxista, isso 
quer dizer que em suas atividades científicas e intelectuais apresentam estudos 
que possuem temas, recortes temporais, aplicam métodos e categorias de análises 
que pertencem originalmente aos paradigmas daqueles estudiosos. 
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
7
2.4 MÉTODO
Caminhos, procedimentos pelos quais se chega a um determinado 
resultado coerente; técnicas para realizar praticamente uma ação teórica; regras 
racionais que regulamentam, metodizam a pesquisa histórica no sentido de obter 
reconhecimento científico e teor de verdade.
Diehl (2001) apresenta que os procedimentos metodológicos utilizados no 
fazer histórico (fontes e narrativas) indicam os processos pelos quais o passado 
humano é contemporaneizado como história. 
Consiste no conjunto de elementos que compõe o percurso, as regras 
e o tratamento investigativo, analítico e crítico atribuídos ao passado (fatos e 
fenômenos humanos e sociais); uma vez coerentemente aplicados são responsáveis 
por conferir ao conhecimento unidade, inteligibilidade e teor científico. O método 
representa uma tentativa de destrinchar o passado dos interesses e visões/versões 
que o alteram, o distorcem e o corrompem da verdade e de como os fatos e 
fenômenos transcorreram. 
Existem inúmeros métodos que são utilizados pelos pesquisadores e 
estudiosos, cada paradigma estrutura-sede forma diferente e variável aos outros. 
Determinados estudiosos participaram como idealizadores ou como adeptos, 
observe a tabela a seguir: 
PARADIGMAS PRESSUPOSTOS REPRESENTANTES
POSITIVISMO
EMPIRISMO
MÉTODO INDUTIVO: 
O conhecimento é obtido com base nos fatos dados 
da experiência vivida no mundo (empirismo).
Tem como finalidade alcançar o formalismo lógico-
matemático e a aplicação prática dos conhecimentos 
obtidos. 
F. Bacon, T. Hobbes, J. 
Locke, Hume, A. Comte
FUNCIONALISMO
RAZÃO
MÉTODO DEDUTIVO: 
Dotado de uma unidade funcional e coerência 
interna. 
Os elementos culturais representam a ligação de 
necessidade entre o grupo humano e o meio físico 
(necessidades biológicas e os imperativos culturais).
Parte-se de uma teoria geral para explicar o caso 
particular.
R. Descartes, Spinoza, 
Leibniz
MATERIALISMO 
HISTÓRICO
METÓDO DIALÉTICO:
Considera relações concretas e materiais como 
suficientes para explicar os fenômenos mentais, 
sociais, históricos. 
Karl Marx, Friedrich 
Engels 
ESTRUTURALISMO
MÉTODO SISTÊMICO: Preocupa-se com aspectos 
quantitativos dos fenômenos e a inter-relação dos 
objetos que o compõe. 
As estruturas pressupõem relações, existem 
conexões entre as partes de um fenômeno. 
Saussure, Claude Levi-
Strauss, Jacques Lacan. 
QUADRO 1 - PRINCIPAIS PARADIGMAS DO CONHECIMENTO
FONTE: Os autores
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
8
Caro acadêmico!
Ao longo deste Livro Didático, os principais paradigmas do conhecimento serão retomados e 
discutidos no sentido de como foram introduzidos na escrita da história. Fique atento!
ATENCAO
2.5 DISCURSO
O discurso é composto pelo universo de experiências, referências e 
significados que compõem o imaginário de quem redige e narra o passado. 
Estes são oriundos das posições em que os indivíduos se encontram ou querem 
alcançar, aos grupos aos quais se encontram associados e filiados; aos ideais que 
defendem ou querem galgar para si e para os demais integrantes e apoiadores.
O discurso possui e fornece informações dos indivíduos que tanto 
abarcam a dimensão individual/particular como relações sociais e coletivas mais 
amplas. Um discurso, uma narrativa deve ser entendida como um ato político, 
no sentido de que almeja, objetiva, tem algo em vista. A finalidade de todo e 
qualquer discurso é transmitir uma ideologia, alcançar algum fim.
2.6 HISTORIOGRAFIA
Diz respeito às variáveis que perpassam a produção e sistematização do 
conhecimento histórico. Assemelha-se com as noções de “Filosofia da História”, 
‘História das Ideias’, ‘História da Intelectualidade’, ‘História da escrita da 
História’. O conhecimento histórico é tomado em perspectiva e no conjunto que o 
compõe; são feitos balanços, análises, comparações e sínteses.
Trata-se do estudo do processo de redação da História propriamente dito, 
onde se procura identificar de que forma os historiadores pesquisam, organizam 
e narram o conhecimento, os métodos que foram utilizados, os elementos 
discursivos, as categorias de análise e interpretação, o repertório conceitual, o 
sentido e o valor moral e ético que foi atribuído aos fatos e ações humanas.
 
Cada profissional da história acaba por fazer a sua escolha, por 
consequência os demais estudiosos que tomarão os escritos que este historiador 
produziu, tenderão a procurar identificar semelhanças, aproximações ou 
distanciamentos com relação a determinados paradigmas, tendências, escolas já 
conhecidas assim como reconhecer se tal escrito, estudo e tese foi responsável 
por formular e empreender alguma mudança ou revolução na forma de fazer/
escrever a história como até então havia sido feito.
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
9
DICAS
Ao longo deste Livro Didático serão apresentadas as principais escolas e 
tendências historiográficas (Historicismo, Escola Metódica, os Annales, Nova História Cultural, 
Micro-história, entre outras), que são reconhecidas no interior da produção do conhecimento 
histórico. Prossiga na leitura do Livro Didático!
2.7 EPISTEMOLOGIA
É um modo de tratar um problema nascido de um pressuposto filosófico 
específico no âmbito de determinada corrente filosófica. Estudo da natureza, 
das origens e da validade de um determinado conhecimento. Episteme significa 
também "lugar", local onde o homem se instala, para conhecer e agir de forma 
apropriada e de acordo com as regras estruturais daquela episteme. 
Na frase, ‘as ciências humanas são parte da episteme moderna’, significa 
dizer que as ciências humanas correspondem ao local de onde a sociedade 
moderna retirava suas referências teóricas; por outro lado, pode-se dizer que a 
teologia foi a episteme da Idade Média. Cada uma possui categorias, bases de 
referências e valores específicos para analisar e interpretar a realidade. Abbagnano 
(2007) explica que se trata de um modo de abordar um problema nascido de um 
pressuposto filosófico específico, no âmbito de determinada corrente filosófica, 
no interior de uma dada área do conhecimento.
2.8 RAZÃO
Abbagnano (2007) descreve que consiste na base de referenciais sob os 
quais é possível proceder a indagações e investigações. Trata-se de uma faculdade 
que é reconhecida no homem e não nas demais espécies e seres da natureza. 
Razão também comporta a ideia de justa medida, postura comedida, de 
uso de critérios e parâmetros racionais. É comumente empregada no sentido de 
designar a força que liberta dos preconceitos, dos mitos, das opiniões enraizadas, 
do mundo das aparências, permitindo estabelecer um critério universal ou comum 
para a conduta do homem em todos os campos. Também é colocada como ponto 
de referência e equilíbrio aos sentimentos desmedidos, às paixões, às emoções, 
aos instintos viscerais, aos modos rudes e aos apetites primitivos. 
Descartes (1979) identificou a razão ao bom senso e a definiu como sendo a 
capacidade de bem julgar e de distinguir o verdadeiro do falso; de ser um instrumento 
do conhecimento provável, e não apenas do conhecimento estabelecido. Para Hegel 
(1995) a razão é a identidade da autoconsciência, do pensamento, da realidade, das 
coisas e dos acontecimentos, como manifestação ou determinação.
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
10
2.9 IDEOLOGIA
Abbagnano (2007) descreve que o termo foi criado por Destut de Tracy, em 
1801, para designar "a análise das sensações e das ideias". Outros estudiosos defendem 
que consistiu na corrente filosófica que marcou a transição do empirismo iluminista 
para o espiritualismo tradicionalista que floresceu na primeira metade do séc. XIX. 
Napoleão empregou o termo para nomear os estudiosos que eram desfavoráveis 
ao seu governo, porém com um sentido depreciativo, querendo designá-los como 
pessoas sectárias, dogmáticas, sem senso político e distantes da realidade. 
A palavra ideologia é também empregada para designar qualquer espécie 
de análise filosófica, ou uma doutrina que possui validade objetiva e que é mantida 
em nome dos interesses de quem a utiliza e se vale dela. Em meados do séc. XIX, a 
última noção de ideologia passou a ser fundamental em meio ao paradigma marxista, 
quando foi utilizada na interpretação da luta dos trabalhadores operários contra a 
dominação dos proprietários capitalistas e da sociedade burguesa.
 
Segundo Marx (2010), os homens faziam a sua própria história, mas 
não a faziam segundo sua própria vontade; não a faziam sob circunstâncias 
de sua escolha, mas sob as circunstâncias que encontravam diante de si, que 
foram legadas e transmitidas pelo passado, impingidas e plasmadas pelas 
ideologias. Segundo Marx (2010) é também pelas formas ideológicas em que os 
homens tomam consciência da sua condição de vida e das contrariedades que se 
apresentam na vida material. Nesse sentido, pode-se entender ideologia como 
sendo toda crença que é usada para o controle dos comportamentos coletivos, 
entendendo-se o termo crença, em seu significado mais amplo, como noção de 
compromisso da conduta, que pode terou não validade objetiva. 
2.10 DIALÉTICA
Abbagnano (2007) discorre que a dialética pode ser compreendida como 
método da divisão entre bem e mal (platônica) e como síntese dos opostos 
(hegeliana). Levando em consideração estas duas definições pode-se pensar que 
a dialética é um processo em que há um adversário que é combatido ou uma tese 
que será refutada, existem dois protagonistas ou duas teses em debate, diálogo, 
conflito; ou então, que é um processo resultante de conflito ou de oposição entre 
dois princípios, dois momentos ou duas atividades quaisquer.
O conceito de dialética, como síntese dos opostos, defendida por Hegel, 
sugere que se pense que a resolução das contradições se move dialeticamente e, 
portanto, a filosofia hegeliana vê em toda parte a tríade de tese, antítese e síntese, nas 
quais a antítese representa a "negação", "o oposto", ou "o outro" da tese, e a síntese 
constitui a unidade e, ao mesmo tempo, a negociação, a certificação de ambas.
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
11
 Assim como as teorias generalizadoras e racionalistas, a dialética também 
acabou por sofrer críticas de que possuía a pretensão de ser mais uma fórmula e 
modelo ideal e totalizador, bem como foi indicada como responsável por justificar 
tudo o que aconteceu no passado e que se prevê ou se espera que aconteça no 
futuro, uma espécie de “aconteceu por que tinha que acontecer”, “é aceitável o 
mal em nome do bem”, “a escravidão em nome da liberdade”, e assim por diante.
2.11 PROGRESSO
Abbagnano (2007) descreve que consiste no raciocínio que os 
acontecimentos históricos se desenvolvem num sentido desejável, em que se 
dá o aperfeiçoamento crescente e que vai assim transcorrer rumo ao futuro. A 
principal implicação da noção de progresso na sociedade que é a percepção do 
‘curso dos eventos (naturais e históricos) como uma série unilinear’.
A noção de progresso é reconhecida como de autoria de Francis Bacon, 
que a apresentou na obra Novum Organum, publicada em 1620. Este conceito 
dominou as manifestações da cultura ocidental do séc. XIX e ainda continua 
sendo o pano de fundo de muitas concepções filosóficas e científicas. 
Por outro lado, a noção moderna de progresso reside na significação da 
concepção de tempo com uma dinâmica cumulativa, que desloca a centralidade do 
tempo cíclico à dinâmica temporal crescente e linear. O progresso é propriedade e 
forma, a do progredir, construir (typisch aufbauend) e em expansão contínua.
Progresso refere-se, também, à emancipação humana, a evolução do saber 
e da técnica, os desdobramentos cada vez mais complexos, em que impera a 
racionalidade cumulativa e progressiva, cada vez mais complexa. É acompanhado 
pelas noções de ‘secularização’, ou seja, explicações científicas que suplantam 
as tradições religiosas e a “divina providência”; e a noção de ‘estado laico’ que 
estabelece o fim da influência religiosa nas decisões políticas e vice-versa.
Tanto na história, na filosofia, na cultura e na sociedade, esta expressão 
encontra-se relacionada à visão de acúmulo e síntese do passado e como profecia 
realizável e triunfante no futuro, que interpreta a humanidade como uma grande 
estrutura, que ao longo das eras e épocas caminha arduamente e constantemente 
a um desenvolvimento glorioso, que conta com o campo técnico e científico como 
os principais motores propulsores. 
Da mesma forma como a ciência e a razão receberam fortes críticas dos 
estudiosos, a noção de progresso também passou por este processo, especialmente 
depois das duas grandes guerras mundiais do século XX, quando foram criados 
comitês de ética cujos estatutos solicitam zelo pela dignidade e preservação da 
vida, bem como antever riscos, custos e danos para com o meio ambiente e as 
pessoas participantes de projetos/pesquisas e obras tanto no ramo científico, 
da extração de matéria-prima da natureza, como em projetos de urbanização, 
construção de usinas, estradas e de obras em geral.
null
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
12
3 O CONTEXTO HISTÓRICO E INTELECTUAL DO ILUMINISMO
O Iluminismo, ou século das luzes ou da ilustração, foi um movimento 
intelectual e cultural do século XVIII, que almejava libertar o homem das 
crenças mitológicas e de toda herança dogmática da época medieval. Defendia 
os princípios da razão crítica, do progresso, da autonomia dos indivíduos e da 
liberdade de pensamento. O Iluminismo não foi uma invenção da sociedade de 
sua época propriamente dita, sustentava-se em bases teóricas que já haviam sido 
defendidas ainda na Antiguidade e também na época da Renascença, porém 
encontrou no século XVIII o melhor momento de alcance e amplitude. 
Abbagnano (2007) descreve que é possível entender o Iluminismo como 
uma linha filosófica que defende a razão como crítica e guia a todos os campos 
da experiência humana. Kant (1724-1804) defende que o Iluminismo contou com 
o empirismo como um grande aliado, ambos garantiram a abertura do domínio 
da ciência e, em geral, do conhecimento, que por sua vez favoreceu à crítica da 
razão, no sentido de que toda verdade poderia e deveria ser colocada à prova, e 
eventualmente modificada, corrigida ou abandonada.
 
Os fundamentos teóricos que favorecem a ancoragem do movimento do 
Iluminismo podem ser encontrados na física e sistematizados na obra de I. Newton 
(1643-1727) ‘Princípios matemáticos de filosofia natural, publicada em 1687, nas 
pesquisas de Boyle (1627-1691), que encaminham a química como ciência positiva; na 
obra de Buffon (1707-1788) e de outros naturalistas, que assinalam as ciências biológicas 
como responsáveis por explicar as etapas fundamentais de desenvolvimento. 
O empirismo foi o ponto de partida e o pressuposto da filosofia defendida 
como por exemplo de Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784) e D'Alembert 
(1717- 1783). A Enciclopédia continha o pensamento contrário aos privilégios que 
foram reclamados posteriormente na Revolução Francesa, defendia a felicidade 
ou o bem-estar do gênero humano, alcançados e desfrutados através de práticas 
tolerantes e com fé no progresso. Estas noções enfraqueceram a ideia de fatalidade 
histórica que impedia qualquer iniciativa de transformação da realidade. Segundo 
Abbagnano (2007), o princípio da tolerância religiosa não só exigia a convivência 
pacífica das várias tradições religiosas, como também impedia que a religião se 
tornasse um instrumento de governo.
Dosse (2003) apresenta em 1880 que a História ganha um estatuto próprio 
como disciplina e conhecimento científico, separada da literatura. Fochi (2015) 
apresenta que quando os primeiros diplomas em História foram emitidos, 
imediatamente foram fundadas as primeiras revistas de caráter erudito e científico. 
Os historiadores se preocupavam no sentido de promover uma acumulação 
volumosa de trabalhos científicos, os temas ganhavam uma abordagem linear 
e eram enriquecidos pelos conhecimentos de outras áreas como a antropologia, 
numismática, paleografia, epigrafia, diplomacia, entre outras. Rüsen (1997) 
explica que o Iluminismo deu o primeiro passo na direção dos procedimentos de 
crítica das fontes e da formulação de método histórico.
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
13
Entre os principais estudiosos pode-se relacionar Spinoza (1632-
1677), John Locke (1632-1704), Isaac Newton (1643-1727), Voltaire (1694-1778) 
Montesquieu (1689-1755). Segundo Ruanet (1987) o Iluminismo, oferecia 
inúmeras possibilidades ao homem de sua época, porém que com o passar dos 
tempos acabou por apresentar equívocos e erros: 
Ele acenou ao homem com a possibilidade de construir racionalmente 
o seu destino, livre da tirania e da superstição. Propôs ideais de paz e 
tolerância, que até hoje não se realizaram. Mostrou o caminho para que 
nos libertássemos do reino da necessidade, através do desenvolvimento 
das forças produtivas. Seu ideal de ciência era o de um saber posto a 
serviço do homem, e não o de um saber cego, seguindouma lógica 
desvinculada de fins humanos. Sua moral era livre e visava uma 
liberdade concreta, valorizando como nenhum outro período a vida das 
paixões e pregando uma ordem em que o cidadão não fosse oprimido 
pelo Estado, o fiel não fosse oprimido pela religião, e a mulher não 
fosse oprimida pelo homem. Sua doutrina dos direitos humanos era 
abstrata, mas por isso mesmo universal, transcendendo os limites do 
tempo e do espaço, suscetível de apropriações sempre novas, e gerando 
continuamente novos objetivos políticos. (RUANET, 1987, p. 26).
Isaac Newton, físico, matemático, filósofo e teólogo inglês ficou amplamente 
conhecido com os três volumes de ‘Princípios matemáticos da filosofia natural’, 
nos quais constam as famosas Leis de Newton, que compõem os princípios da 
mecânica e de todo o pensamento moderno. As leis de Newton contêm o princípio 
de ‘inércia’, em que todo corpo continua em seu estado (repouso ou movimento) 
a menos que seja forçado a mudar; o princípio de ‘dinâmica’ em que a mudança é 
proporcional à força atribuída; e o princípio de ‘ação e reação’ em que para toda 
ação há sempre uma reação oposta e em igual proporção.
Um século anterior ao florescimento do movimento do Iluminismo existia 
o movimento intelectual chamado de pensamento cartesiano. René Descartes 
(1596-1650) foi um dos principais ideólogos e propagadores das ideias iluministas. 
Escreveu a obra Discurso sobre o método, (Discurso sobre o método para bem 
conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência) publicada no ano de 1637, 
na qual consta a defesa da ideia de que para encontrar a verdade fazia-se necessário 
empreender os procedimentos científicos tais como: fragmentar, fracionar, romper 
em partes, reduzir, dividir: quebrar a integridade dos seres e das coisas; o que 
sustentaria basicamente todo sistema e paradigma chamado cartesiano. Este 
paradigma possuía forte relação com conhecimentos matemáticos e mecânicos, 
e buscava essencialmente obter certeza e eliminar qualquer resquício de dúvida 
tanto diante dos seres da natureza, fatos e fenômenos sociais.
Descartes buscava provar a existência do próprio eu (que duvida: portanto, 
é sujeito de algo); que se expressava na máxima Ego cogito ergo sum, "eu que penso, 
logo existo". Rejeitava as formas de conhecimento do mundo realizadas através 
dos sentidos, da intuição, da subjetividade e dos sentimentos, defendendo a razão 
e o pensamento como formas mais coerentes e significativas de conhecer.
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
14
Para tanto, como método para realizar esta tarefa, propôs que se faziam 
necessários os seguintes procedimentos:
• VERIFICAR: evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa 
estudada.
• ANALISAR: dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e 
estudar essas coisas mais simples. 
• SINTETIZAR: agrupar novamente as unidades estudadas em um todo 
verdadeiro.
• ENUMERAR: as conclusões e princípios utilizados, a fim de estabelecer 
coerência e ordem do pensamento.
Uma das críticas que foi feita ao método proposto por Descartes é a de que 
uma vez divididas e reagrupadas todas as partes de um animal, por exemplo, o 
custo inerente e imprescindível seria a vida daquele ser, ou seja, o reagrupamento 
não seria capaz de reverter o rompimento e a desintegração da vida que havia 
ocorrido em meio ao processo de investigação.
Na essência da filosofia de Descartes encontra-se a noção de ceticismo 
com relação ao conhecimento histórico. Descartes não identificava na História 
conhecimentos coerentes e com potencial de verdade, pois considerava a 
História (o estudo do passado) uma espécie de fuga da realidade; que um 
estudioso, uma vez mergulhado no passado, ficava estranho, indiferente ao 
momento presente, à realidade; e de que as narrativas históricas resultavam 
do conhecimento indireto do passado, e que eram exageradamente fantasiosas, 
lendárias e fabulosas, não dignas de confiança.
3.1 O EXEMPLO DE GIAMBATTISTA VICO
O homem é uma vontade, 
uma força e um conhecimento que tende para o infinito.
Giambattista Vico
Giambattista Vico (1668-1744), filólogo e historiador italiano, foi um pensador 
que se interessou por direito, poesia, história, mitologia e linguagem, as ‘novas 
ciências humanas’, como eram chamadas em sua época. Foi responsável pela escrita 
de ‘Ciência Nova’ publicada em 1725, que se tornou um clássico no campo da teoria 
da História, cujo valor e relevância somente foi reconhecida postumamente. 
A obra de Vico se encontra em contraponto à duas tradições, tanto 
a da época medieval como da época moderna, pois procura desvencilhar-se 
da tradição que atribuía à história uma finalidade teológica (época medieval), 
apresentava-se como um erudito antirracionalista, assistemático, cujos escritos 
eram de difícil leitura e interpretação, isto em pleno Iluminismo, época em que 
vigorava o modelo cartesiano. 
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
15
As principais críticas de Vico ao pensamento de seu tempo voltavam-se 
ao Iluminismo cartesiano, no ponto em que o homem não poderia conhecer o que 
não é fruto da própria criação, que só é possível conhecer com propriedade o que 
se fez e os seres da natureza não são obras humanas. Para Vico, a matemática, as 
artes, a história, os costumes e a cultura são conhecíveis; já os animais, as florestas, 
as aves, e demais seres da natureza constituem um conhecimento não verdadeiro. 
No que se refere em específico ao campo da história, Vico fez inúmeras 
contribuições. Vico defendia que o processo de realização do homem não se dava 
de forma linear e que não se encontrava em marcha constante e que partia do 
homem natural ao homem civilizado, do mitológico ao científico; mas que ocorria 
em uma relação de integração progressiva, cíclica, espiralada, helicoidal, da 
emoção à razão, da fantasia ao pensamento racional, conforme procura expressar 
a imagem da escada espiral a seguir:
FIGURA 1 - FOTO DE AFONSO MASEDA VARELA. MUSEUS DO VATICANO
FONTE: <http://www.minube.com.br/fotos/sitio-preferido/3405/7639507>.
Acesso em: 15 jan. 2016.
Caro acadêmico! Você deve se perguntar: – isso nada mais é que o sentido de 
evolução que o Iluminismo defendia? – Vamos com calma. É exatamente a partir deste ponto que 
se dá a grande ruptura que Vico apresentava em relação ao pensamento iluminista e evolucionista 
de seu tempo. Mas vamos ver com mais profundidade como Vico discorreu sobre tal teoria.
ATENCAO
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
16
Para Vico os homens, as nações e as civilizações passam por três fases, nas 
quais se destacam três linguagens, três tipos de governo e três jurisprudências. 
Observe o quadro síntese a seguir:
QUADRO 2 - A DIVISÃO/EVOLUÇÃO DA HISTÓRIA SEGUNDO VICO
FASE PREDOMÍNIO
FASE/ERA DOS DEUSES
DA INFÂNCIA, 
OU DOS SENTIDOS
(‘o imã ama o ferro, o sol é namorado da lua’)
Quando predominavam os governos mágicos e divinos, 
ou seja, teocráticos, ou repúblicas monásticas, geridas por 
autoridades paternas. 
Centrada em tradições religiosas surgem os primeiros 
códigos morais, os matrimônios solenes, as famílias; 
sepultam e cultuam seus mortos.
Na civilização grega, pode ser identificada com a época 
dos oráculos, das adivinhações entre os gregos. Júpiter foi 
o grande deus deste período, que se manifestava através 
de raios e trovões. 
O pensamento e linguagem são cifrados, esotéricos, 
figurativos, em versos, com acesso apenas à poetas 
teólogos, que decifravam as mensagens e os mistérios das 
coisas (coisas com alma, deuses).
Coisas inanimadas ganham vida e paixão; a fantasia e a 
fábula dão sentido ao mundo. 
FASE/ERA DOS HERÓIS
(‘tanto mais robusta a fantasia, tanto mais débil 
o raciocínio’)
Pode ser ilustrada com as experiências da Grécia narrada 
por Homero em Ilíada e Odisseia (Ulisses, Aquiles e Teseu) 
e a Roma dos reis (Rômulo).
Os heróis, homens fortes, semideuses, passam a ganhar 
importância diante dos desígnios dos deuses. Surgemas primeiras instituições políticas, os governos são 
aristocráticos, ocorre a construção das primeiras cidades. 
A estrutura social era mantida pela autoridade, sem 
negociação e/ou discussão, pois a vontade de Deus deveria 
ser atendida.
Diferenciam-se os grupos sociais dos patrícios e plebeus, 
que passam a se relacionar de forma hostil e conflituosa.
O pensamento e a linguagem são ao mesmo tempo 
poéticos, heroicos, herméticos e religiosos.
FASE/ERA DOS HOMENS
LEIS RACIONAIS E UNIVERSAIS
Corresponde à Grécia Clássica, à Roma Republicana e ao 
mundo moderno. Processo longo e trabalhoso. 
Predomínio do governo dos homens, repúblicas populares, 
porém de fortes conflitos e tensões entre os grupos sociais, 
que almejavam por igualdade. 
As distinções sociais são demarcadas pela capacidade de 
trabalho. 
Criam-se as condições favoráveis ao desenvolvimento da 
filosofia, centrada nas questões de verdade e justiça.
O reconhecimento dos direitos dos cidadãos fomenta 
a elaboração dos códigos civis, a polis grega e o fórum 
romano são os espaços primordiais destas realizações.
As leis como a do dever, da consciência e da razão ganham 
espaço e se tornam universais
O pensamento e a linguagem são populares, benignas, 
modestas, moderadas e de acesso a todos. Ocorre o 
declínio da fantasia e da imaginação. 
FONTE: Os autores
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
17
Vico compreendia que quando uma nação chega ao seu momento de 
maior expressão na fase/era racional, concreta, lógico-demonstrativa, ocorre 
uma espécie de retorno ao estágio mitológico, da fantasia, da magia e da lenda; 
segundo ele as fases/eras vão e vem, retornam, recorrem, recomeçam. Veja como 
procura explicar Reis (2001, p. 12).
Ela avança para a racionalidade, recusando a irrazão (corsi) e, depois, 
retorna à irracionalidade (ricorsi), para novamente avançar, em um 
nível acima, em uma razão equilibrada, que integra a razão em si a 
irrazão (corsi), para recair no irracionalismo. 
Vico não pode ser taxado como um relativista, de que compreendia cada 
época como fase/era de forma particular e que possuía importância e relevância 
indiferente uma da outra, pois aponta costumes e leis que foram elaborados ainda 
em momentos primitivos, e que significam melhoramentos e desenvolvimentos 
como verdades universais e que ocorreram em todas as civilizações, tais como o 
sepultamento dos mortos, o casamento ritualístico e as tradições religiosas. 
Outra preocupação de Vico em Ciência Nova foi o de demostrar que o 
direito natural nasceu em todos os povos, mesmo que estes tivessem contato 
entre si, ou seja, pode-se deduzir que para Vico, as atividades humanas possuem 
um fundo comum e que é recorrente a todo gênero humano, o que depois mais 
tarde foi estudado e aprofundado por Carl Jung (1875-1961) e compreendido 
como ‘inconsciente coletivo’.
Vico defendia que a maior criação do homem é a sua própria história, que 
esta não significa somente uma necessidade política ou econômica, mas o registro 
da necessidade que o próprio homem tem de se expressar. Com isto Vico pretendia 
colocar a História em grau de hierarquia maior do que as ciências naturais. Para 
Vico o conhecimento histórico deveria ser compreensivo, e promover ao ser 
humano, em sua diversidade, uma autoconsciência de sua própria vida. Estes 
argumentos foram utilizados posteriormente para justificar a ciência enquanto 
disciplina do conhecimento. 
Burke (1997) considera Vico ‘o homem do futuro que nasceu no passado’, 
pois anunciava reflexões que seriam contempladas posteriormente pelo 
historicismo, existencialismo, estruturalismo e na fenomenologia. 
UNI
CARO ESTUDANTE!
Inspiraram-se nos estudos de Vico estudiosos de diversas épocas. No século XIX, Goethe, 
Herder, Dilthey, Ranke, Victor Cousin, Michelet e Marx; no século XX Collingwood, Croce, 
Meinecke, Levi-Strauss, Piaget e os integrantes dos Annales, que serão abordados na 
continuidade deste Livro Didático.
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UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
18
4 O IDEALISMO ALEMÃO: AS PERSPECTIVAS DE KANT E HEGEL 
SOBRE A HISTÓRIA
4.1 O EXEMPLO DE KANT
Concordia discors.
Kant
Immanuel Kant (1724-1804) tem sua produção intelectual e filosófica 
denominada de filosofia crítica, idealismo transcendental, que tinha como 
finalidade estabelecer um método cognitivo e uma doutrina da experiência pelo 
uso da razão que suplantasse a metafísica racionalista dos séculos XVII e XVIII, 
que ele chamava de sono dogmático. 
Kant foi leitor de Isaac Newton (1643-1727), John Locke (1632-1704), Gottfried 
Wilhelm Leibniz (1646-1716) e David Hume (1711-1776). A principal questão de Kant 
foi: com que direito e entre quais limites a razão pode formular juízos sintéticos a 
priori sobre dados do sentido? Pergunta que procurou responder na obra ‘Crítica da 
razão pura’, escrita entre os anos de 1781 e 1787.
As contribuições de Kant à História estão no sentido de favorecerem a 
compreensão da ideia de progresso da humanidade na sua dimensão cultural. 
Para Kant os homens possuem planos e objetivos diversos, que almejam por 
desenvolvimento, e que se movem numa dinâmica do pior ao melhor, e que deve 
ser percebida e buscada ao longo de toda a experiência humana e não localizada 
em experiências individuais.
 
Segundo Kant, o fator responsável por colocar em movimento tal dinâmica 
residia nos desejos antagônicos do homem em sociedade, o que favorecia o 
desenvolvimento e a manifestação dos talentos individuais, bem como promovia a 
diferenciação e o acúmulo de cultura. 
Bodei (2001, p. 46) afirma que no entendimento de Kant: 
é com a busca do ganho e com a avareza que nasce o comércio e, por 
conseguinte, a benéfica troca entre os homens; é pela vaidade de serem 
recordados, de deixar o próprio nome, que as pessoas realizam atos 
de beneficência e fazem erguer hospitais ou asilos; é pela inquietação 
e pela violência de homens sempre prontos a combaterem-se, que as 
civilizações entram em contato. 
Neste raciocínio, tanto leis, instituições e estruturas coletivas eram o 
resultado materializado do operar de bilhões de homens, mesmo vivendo em 
tempos e lugares diferentes. 
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
19
Segundo Kant (2001), a História avançava por que existe uma espécie 
de competição benéfica entre indivíduos e estes para se realizarem como 
pretendem são dependentes uns dos outros. Para Kant (2001) a civilização é o 
resultado do ondular de homens comedidos na discórdia pela concórdia e por 
serem concordes na discórdia. 
 
Para explicar este processo, Kant faz analogia entre o homem e uma 
planta, ao ponto que se não tivéssemos outros indivíduos que concorrem pelos 
mesmos bens que nós e se fizéssemos somente o que mais nos agrada, seríamos 
como uma árvore, que se expande de forma horizontal e tranquila. Mas como 
somos ameaçados pelos próprios semelhantes e podemos perder para estes os 
bens que possuímos e almejamos, nos expandimos para o alto e de forma vertical; 
competimos, nos qualificamos para obter e conservar tais bens. 
UNI
Caro acadêmico! Percebe-se aqui a prefiguração da dialética que foi discutida e 
aprofundada posteriormente por Hegel e Marx.
Nos estudos de Kant percebe-se o forte afastamento da noção de que a 
providência divina representava um fator determinante da História, a ampla 
defesa da ideia de racionalidade e de télos (fim/alvo) e de progresso, que se há 
passos contínuos, conduziriam a humanidade à emancipação plena. A história, 
guiada pela razão, seria a fonte maior a partir da qual se alcançaria a liberdade e 
a perfeição humana. Estas intenções contagiariam a humanidade e se realizariam 
em escala universal. A ideia de uma história universal se realizaria na conjugação 
das forças do homem de posse e uso da razão apoiado nas disposições da natureza. 
4.1.1 A ideia de história cosmopolita
Para Kant o fim supremo da natureza seria um ordenamento cosmopolita, 
em uma federação dospovos na qual cada Estado seria tutelado por uma 
organização maior. Dosse (2003) descreve que quando Kant trata de uma História 
cosmopolita, refere-se a um sistema de ordenamento semelhante aos dos corpos 
celestes. Para assegurar uma sociedade reguladora, o homem encontraria no 
direito formas de conter as alterações e distorções do uso da liberdade. 
Raulet (apud Dosse, 2003) apresenta que Kant é contrário à ideia 
cosmopolita que negligencia o que é oriundo das peculiaridades antropológicas 
dos povos e das culturas, ou dos impactos da absorção de um Estado por outro e 
contra toda fusão orgânica dos Estados-nações que, enquanto realidade jurídicas 
e territoriais, possuem e impõem uma identidade própria. 
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
20
Dosse (2003) apresenta que a concepção de história de Kant é teleológica, 
que atribui à espécie humana a primordialidade diante dos outros seres da natureza, 
pois estes são dotados de liberdade e razão. O ser humano em Kant seria o cidadão 
responsável e principal protagonista da História. Bodei (2001) descreve que, para 
Kant, a Historiografia constitui um conhecimento que fornece elementos à decifração 
de nós mesmos, e em especial que dá significado e inteireza à nós mesmos.
4.2 O PENSMENTO HEGELIANO: ESPÍRITO E RAZÃO NA 
HISTÓRIA
Georg W. Friedrich Hegel (1770-1831) foi influenciado pelas obras 
de Heráclito (353 a.C-475 a.C), Espinoza (1632-1677), Kant (1724-1804) e Rousseau 
(1712-1778), assim como pela Revolução Francesa e Napoleão Bonaparte. Dedicou-
se aos estudos do Idealismo Absoluto, procurou investigar a relação entre mente 
e natureza, sujeito e objeto do conhecimento, para tanto, empreendeu estudos em 
história, arte, religião e filosofia.
Com a obra “Fenomenologia do espírito” pretendeu mostrar que a 
ideia não é seguir o acumular do desenvolvimento histórico da humanidade na 
dimensão do tempo, mas de colher os momentos estratégicos, de vicissitudes e 
ideais que são responsáveis por conferir desenvolvimento ao espírito. Para Hegel 
o desenvolvimento da realidade passa por três momentos fundamentais: o da 
ideia, o da natureza e o do espírito. 
O espírito é o absoluto, o complemento de todas as coisas, o ponto extremo 
de síntese para a qual tende toda filosofia, ciência, religião e cultura. O espírito não 
é transcendente em relação ao mundo, mas constitui seu complemento interno e 
sua essência que é a liberdade. Para Hegel o espírito subjetivo e o espírito objetivo 
são a via pela qual se vai elaborando o espírito absoluto, cujas formas são a arte, 
religião e filosofia.
 
Hegel apresenta também a unidade dos opostos, como princípio fundador 
de uma nova lógica, no sentido de que esta é imanente, de modo que aquilo que 
é real deve ser caracterizado pela unidade dos opostos. Nesse momento, Hegel 
se aproxima do que defendia anteriormente Vico quando apresentava as fases/
eras humanas como um tecer espiralado. Para Hegel o espírito absoluto e o fio 
formam a espiral, e que cada anel do espiral é uma determinação do espírito 
absoluto, que segue, avançando de um anel a outro, configurando assim uma 
espécie de progresso, e destes ao todo.
Bodei (2001) apresenta que para Hegel a História deveria ser olhada na 
perspectiva de buscar a razão, a finalidade, o objetivo “eu” se encontrava por traz 
das ações humanas, pois defendia que a História não se explicava pelas intenções 
conscientes dos homens, mas sim pelas suas paixões e pelos interesses individuais. 
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
21
Para Hegel as paixões são o verdadeiro motor da História, elas realizam 
a si mesmas e os seus fins segundo as suas finalidades naturais e fazem surgir o 
edifício da sociedade humana. Hegel não foi tão idealista em defender que somente 
a consciência/razão é a condutora da História. Segundo Hegel, o ordenamento do 
mundo é constituído pelo ‘ingrediente’, o das paixões e o outro pelo ‘momento 
racional’, mas para Hegel o elemento ativo é dado pelas paixões.
Para Hegel o ‘Espírito’ é nós mesmos, ou os indivíduos, ou os povos;
e ‘Razão’ é o sentido.
Para Hegel o homem se apresenta como um animal que não tem uma natureza 
determinada, mas que se forma incessantemente. Seguindo este raciocínio, a História 
do passado não é capaz de ensinar alguma coisa de útil ao momento presente; o que 
coloca Hegel distante da doutrina historia magistra vitae que foi proposta desde os 
historiadores da época antiga como Heródoto, Tucídides e Cícero. 
A história apresenta uma racionalidade própria, mas não deve apresentar 
uma tendência na direção de um telos (fim, alvo) específico. Para Hegel os ‘meios’ 
são mais importantes que os ‘fins’; ou seja, o navio, o automóvel e o trem são 
mais importantes do que alcançar e chegar do outro lado do oceano, na cidade, e 
qualquer destino traçado. Uma vez que se conta com tais recursos, pode-se trilhar 
novos caminhos, percorrer outras distâncias, chegar a diferentes lugares. 
Bodei (2001) aborda que os instrumentos inventados pelo homem 
(conceitos, ideias, máquinas, tecnologias) e que são transmitidos de geração a 
geração são indispensáveis e primordiais. Segundo ele, nós usamos as nossas 
energias, nossas paixões, para dominar outras energias, na direção dos objetivos 
por nós mesmos almejados. O homem se apropria dos meios e os submete à 
sua finalidade, que são diferentes em cada homem e fornecem diferenciação e 
contraste diante dos demais homens. 
A grande tese de Hegel reside na defesa de que o finalismo ad usum hominis 
(para uso humano) não existe na natureza e, que quando existe na história, não 
é por virtude da divina providência, mas unicamente pelos feitos das ações 
humanas. E o fato de propor a relação de prioridade dos meios diante dos fins 
distanciava-se do pensamento que havia sido proposto desde Maquiavel (1469-
1527), Voltaire (1694-1778) até Herder (1744-1803).
Para Hegel a racionalidade está por trás de tudo no mundo e a filosofia 
tem o poder de compreender a racionalidade da história. O pensamento capta 
a racionalidade da história. Mas Hegel substitui a história linear do progresso 
por uma filosofia da contradição, da dialética. O percurso dialético que resulta 
disso pressupõe uma visão unitária e uma síntese do espírito por meio de suas 
múltiplas concretizações. 
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
22
No pensamento de Hegel, o espírito do mundo está na preparação de 
um desenvolvimento cuja efetividade escapa aos atores, conforme Dosse (2003, 
p. 236) procura explicar que “todo momento histórico é atravessado por uma 
contradição interna que lhe dá seu caráter singular, ao mesmo tempo que o 
prepara para ultrapassar para um novo momento”. Pode-se pensar que se trata 
de um momento ideal e revolucionário que fornece as condições de superação 
das condições anteriores.
Hegel nos adverte que cada ator acredita realizar unicamente as suas paixões, 
quando que na verdade, só está cumprindo um destino que está inserido em um 
vasto contexto. Por conseguinte, os indivíduos não conseguem evitar que aconteça 
o que deve, tende a acontecer; seja o mal, seja uma guerra, pois impera a razão que é 
almejada e desejada por um todo, pelo conjunto, por uma nação, um Estado.
Nesse raciocínio, o autor explana a ideia de Hegel (1995) de particularidade 
nos termos de que o Espírito particular de um povo pode declinar, desaparecer, 
mas ele forma e registra uma etapa na marcha geral do Espírito do Mundo e isso 
não pode desaparecer. Em Hegel (1995), a partir da ideia de que cada ator acredita 
realizar suas paixões quando, na verdade, ele só cumpre, apesar dele, um destino 
mais vasto que o engloba, procura explicar que os indivíduos desaparecem diante da 
substância do conjunto e este conjunto forma os indivíduos dos quais ele necessita. 
Os indivíduos não conseguem impedir que aconteça o que deve acontecer. 
Veja o teor de importância que Hegel (1995, p. 31) atribui à razão no curso 
da história:
O único pensamento queconsigo traz a filosofia é o simples pensamento 
da razão, de que governa o mundo, de que, portanto, também a história 
universal transcorreu de modo racional. Esta convicção e discernimento 
é um pressuposto relativamente à história como tal. Na filosofia, 
porém, isto não é pressuposto algum; demostra-se nela, mediante o 
conhecimento especulativo, que a razão [...], a substância, como poder 
infinito, é para si mesma a matéria infinita de toda a vida natural e 
espiritual e, como forma infinita, a atuação deste seu conteúdo. 
Dosse (2003) discute que o horizonte de percepção de Hegel sobre a realização 
do Espírito não foi o de uma história linear do progresso, mas que se dava pelos 
caminhos da contradição. Para Hegel todo momento histórico é atravessado por 
uma ‘contradição interna’ que lhe fornece as condições para ultrapassar e adentrar 
em um novo momento, o que ele denominou como ‘motor da história’. 
A noção de Espírito explicada por Hegel no século XVIII pode ser verificada no 
século XX por meio da ideologia nazista, que surgiu após a Primeira Guerra Mundial. Acabou 
por fazer com que os indivíduos, cidadãos alemães, fossem unânimes em apoiar as razões 
do governo de Hitler em submeter a população judaica ao holocausto.
ATENCAO
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
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O OLHAR DE HEGEL SOBRE A HISTÓRIA E SEUS HERÓIS
Agemir Bavaresco
Entrevista concedida à Márcia Junges e Ricardo Machado, do Instituto 
Humanistas da Unissinos On Line (IHU On Line). 
 
IHU On-Line - Quem eram os heróis na História segundo Hegel?
Agemir Bavaresco - A figura do herói aparece ao longo de toda a trajetória 
intelectual de Hegel. Ele apresenta muitas figuras de heróis que atravessam a 
história, desde a antiga Grécia (heróis na cultura) até a modernidade (heróis na 
moral e na política). Para compreender quem são os heróis, é preciso levar em 
conta a teoria da ação que justifica o agir do herói na história. Na Fenomenologia 
do Espírito (Petrópolis: Editora Vozes, 1992), Hegel usa, ao menos 12 vezes, 
explicitamente, a palavra herói vinculada às figuras da consciência, agindo na 
cultura e na política. Aqui, nós encontramos uma das chaves da teoria da ação, 
pois se trata de um silogismo formado pelo fim, meio e objeto, expressando-
se como interesse, meio e circunstâncias. Ele descreve a consciência ativa, por 
exemplo, na figura do herói moderno, que se especializa em atividades como 
comércio, artesanato etc., constituindo a esfera da sociedade civil em formação. 
Os indivíduos como heróis modernos tendem a se fixar em sua tarefa privada, 
trabalhando de forma isolada. Porém, o conceito de individualidade contém a 
reflexividade relacional, tornando a ação universal. Ou seja, o indivíduo descobre 
o público no seu agir privado, isto é, ele, pouco a pouco, universaliza-se na ação 
pública. O sujeito burguês é reconhecido como singular na esfera da sociedade 
e na intimidade familiar e, ao mesmo tempo, é reconhecido como universal na 
esfera pública. Este duplo reconhecimento é a identidade entre o Eu e o Nós que 
é realizado no sujeito burguês. Então, os heróis, para Hegel, são aquelas figuras 
históricas, tanto individuais como coletivas, que são capazes de articular a 
dimensão privada com a pública, ou seja, a ação que realiza os interesses privados 
conduz a ampliar a participação nos interesses sociais e públicos. 
IHU On-Line - Qual é a fundamentação filosófica e quais as influências da 
ideia de herói nesse autor?
Agemir Bavaresco - Na Filosofia do Direito, Hegel usa sete vezes, 
explicitamente, o termo herói, que está vinculado à figura dos grandes homens ou 
indivíduos. O herói e o grande homem, em sentido amplo, têm sua fundamentação 
no agir inserido em mediações históricas constituídas pelas estruturas da liberdade, 
ou seja, a pessoa de direito, o sujeito moral e o cidadão membro da sociedade civil e 
do Estado. Os direitos do indivíduo são afirmados no interior de uma comunidade 
ética em que a liberdade pessoal e pública é garantida num sentido político-
pedagógico: “Faze-o cidadão de um Estado no qual as leis são boas”, afirma Hegel 
LEITURA COMPLEMENTAR
UNIDADE 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
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em Princípios da Filosofia do Direito (HEGEL, G. W. F. Filosofia do Direito. Trad. 
Paulo Meneses e outros. São Paulo: UNISINOS/UNICAP/LOYOLA, 2010). Esta é a 
resposta de um pitagórico a um pai que lhe pergunta qual é a melhor maneira de 
educar seu filho. Esta resposta mostra que o indivíduo é mediatizado pelo Estado, 
num processo pedagógico em que ele se torna um cidadão. 
 
Para que ocorra uma mudança essencial na história não é suficiente apenas 
a boa vontade ou as boas ideias, mas a ação. “O que o sujeito é, é a série de suas 
ações”, afirma Hegel na Filosofia do Direito. A essência do homem não está apenas 
no seu interior, mas se exterioriza. A história não é um processo anônimo que 
sucede sem os indivíduos acima deles ou reduzindo-os a meros instrumentos da 
astúcia da razão. O processo da história existe apenas através da mediação das 
ações dos indivíduos. São esses os fundadores do Estado, isto é, os heróis que 
fundam os Estados na história. Ora, são os indivíduos ou os heróis que podem 
instituir, mediante seu agir, um Estado ou mudar a Constituição de um Estado em 
direção à liberdade. Por isso, Hegel coloca a fundamentação da ideia de herói na 
ação, tanto no começo do Estado como nas permanentes mediações dos grandes 
homens individuais ou coletivos em nível do direito, da moralidade e da eticidade. 
IHU On-Line - Como pode ser compreendida a ideia de herói em Hegel a 
partir do autodesenvolvimento do Espírito e a situação histórica?
Agemir Bavaresco - Cabe afirmar, inicialmente, que, para Hegel, o 
critério determinante para avaliar o progresso ou a evolução da história é o grau 
de consciência da liberdade que os povos alcançam em seu desenvolvimento. 
Trata-se de uma concepção teleológica da história que encontramos também em 
Kant, isto é, há um fio condutor nas ações humanas que conduz a um progresso 
contínuo da humanidade a fim de realizar suas disposições naturais racionais, 
como se a espécie seguisse um propósito da natureza. 
Para Hegel, esse propósito da natureza implica a ideia da astúcia da razão, 
pois é a razão que governa a história. Os indivíduos realizam seus interesses 
movidos por paixões particulares, porém, eles são aliados do universal, pois 
o resultado da atividade particular efetiva o universal. Ou seja, na ação de um 
indivíduo, o interesse particular e universal é inseparável do histórico universal. 
O indivíduo que se expõe aos perigos gerados por sua ação e se desgasta nos 
conflitos de oposição, enquanto agente privado, nele, a astúcia da razão está 
realizando a ideia universal de liberdade. Então, a astúcia da razão permite que 
as paixões individuais atuem por si mesmas, experimentando perdas e danos, 
avanços e recuos; porém, nessa luta e nessas perdas, tem-se como resultado algo 
positivo, isto é, a razão afirmativa. Este é o fenômeno da progressiva consciência 
da liberdade e que justifica as ações dos grandes homens não só de imediato, 
mas em toda a história da humanidade. Por isso, o progresso na consciência da 
liberdade torna-se o critério e o tribunal da história para avaliar quem é, ou não 
é, um “grande homem”. Pois um herói permite o progresso na consciência da 
liberdade, enquanto o anti-herói permite a recaída na barbárie. Então, o herói é 
aquele que, em seu tempo, participa do desenvolvimento do Espírito, ou seja, da 
consciência histórica como realização da liberdade. 
TÓPICO 1 | TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: CONCEITOS INICIAIS
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IHU On-Line - De que forma pode-se compreender o Espírito do mundo 
como a moral do herói, e a situação privada como a moral da vítima?
Agemir Bavaresco - A famosa frase “ninguém é herói para seu criado-de-
quarto”, que, segundo os intérpretes, é atribuída a Napoleão, mostra o homem 
privado na sua singularidade da necessidade

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